O AGRONEGÓCIO DO FRANGO: UM ESTUDO SOBRE OS CONSUMIDORES DE CARNE DE FRANGO NO TRIÂNGULO MINEIRO CARLOS NEYMER F. NUNES1 ANTÔNIO MARIA GOMES DE CASTRO2 Resumo Este trabalho analisa as preferências do consumidor de carne de frango do Triângulo Mineiro, levando em consideração, os principais atributos que são considerados na hora de decidir sobre uma compra. Seu objetivo foi analisar as preferências do consumidor em relação à qualidade e preço na hora de decidir sobre a compra. Foi realizado um Survey com os consumidores por meio da aplicação de questionários no local de compra. Complementarmente, foi realizada uma pesquisa de dados bibliográficos, estatísticas do setor, consulta a revistas especializadas. A amostra utilizada selecionou os entrevistados por conveniência, até atingir o número definido na amostra. Os resultados mostraram as preferências do consumidor final pela aquisição de cortes, higiene nas instalações, a satisfação com o preço pago na loja, o produto fiscalizado, a conservação adequada, o uso de técnicas de rastreabilidade, a embalagem de qualidade e o maior consumo de carne branca, mostraram-se como os principais atributos de qualidade valorizados pelo consumidor. Conclui-se que o consumidor de frango do Triângulo Mineiro está mais exigente quanto aos atributos relacionados à qualidade e revelou-se mais bem informado, sugerindo os agentes produtivos a pensar estratégias que maximizem a sua satisfação. Palavras-chaves: Agronegócios, Qualidade, Cadeia Produtiva, Comportamento do Consumidor,Triângulo Mineiro. ABSTRACT A survey was set to explore the preferences of chicken consumers in the Triangulo Mineiro area. The consumers preferences are for acquiring special cutting, hygiene in the facilities, satisfaction with the price paid, inspected products, proper storage, the use of quality tracking techniques, better quality packing and a higher consumption of white meat.. It was concluded that the poultry consumers in the Triangulo Mineiro area are more demanding in relation to quality and have been better informed, leading poultry producers to improve their strategies to maintain streamline consumers’ satisfied. Keys Words: Agribusiness, quality, productive chain, consumer´s behavior, Triângulo Mineiro. 1 Prof. Msc.em Agronegócios, UFG – Universidade Federal de Goiás; Coordenador de Curso da Faculdade Projeção/DF, End. QS 402 conj. F Bl. B Apto.. 102 – Samambaia Norte – 72318-526; Tel/fax: (61) 3357-0678/8165-4247, [email protected] 2 Eng. Agrônomo, PhD em Systems Analisys and Simulation, The University of Reading, England. Pesquisador da EMBRAPA SEDE/DF, e-mail:[email protected] . 1. INTRODUÇÃO No Brasil, entre as diversas alternativas do complexo carnes, a produção de aves cresceu 223% nos últimos dez anos, apresentando grande contribuição para as exportações do Agronegócio, para a estabilização econômica e proporcionando um maior consumo de carne de frango pela população. Esta oportunidade tem sido aproveitada por muitos estados e regiões do País. Em Minas Gerais, o Agronegócio tem uma importância vital para a região do Triângulo Mineiro, que registrou taxas de crescimento de 20% em 2004, acima da média nacional. (PERFIL ECONÔMICO, 2006). Esta região é considerada rica e de grande fonte de geração de divisas, em diversos setores do Agronegócio. Na avicultura, concentra as principais agroindústrias do frango e apresenta uma produção de 85.449 t/ano de frangos abatidos. (MAPA, 2004). Todavia, a manutenção desse agronegócio depende do apoio dos consumidores locais e de outras regiões, para orientar as decisões de produção. São pouco conhecidas as preferências dos consumidores (ou seja , as suas demandas) em termos de qualidade do produto, forma de apresentação, embalagem, preços e características de sanidade dos pontos de venda, tanto no plano nacional, quanto regionalmente. Para suprir esta lacuna, foi desenvolvido um estudo sobre as preferências dos consumidores. O objetivo desta pesquisa foi identificar as preferências do consumidor final de carne de frango no Triângulo Mineiro, de forma a obter subsídios para orientar as estratégias de marketing dos atores da cadeia produtiva local. O problema mais relevante estudado nesta pesquisa foi saber se o consumidor está satisfeito com a carne de frango que compra e consome, principalmente, em relação a preço e qualidade. Os resultados obtidos com esta pesquisa forneceram informação sobre estas questões, importante tanto para a gestão das empresas componentes da cadeia produtiva na região quanto para pesquisadores e professores interessados no tema. 2. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA O Triângulo Mineiro destaca-se dentro da avicultura mineira como um dos maiores plantéis de aves do Estado com capacidade de ampliação. Para uma capacidade instalada de 12 milhões de aves/ano, são abatidas 7 milhões existindo um potencial de incremento de 5 milhões de aves/ano. (PMU, 2006). Estes dados sugerem que as agroindústrias regionais têm capacidade de ampliar o abate de aves em cerca de 40% da produção atual. Todavia, para alcançar este potencial falta ao setor produtivo da região um conhecimento mais detalhado sobre os hábitos e preferências do consumidor de carne de frango regional, que se constitui no mercado mais próximo da cadeia produtiva em questão. Entre as questões que podem ser elucidadas para orientar a cadeia produtiva sobre os hábitos e preferências do consumidor mineiro destacam-se: • Quais as preferências do consumidor do Triângulo Mineiro no consumo de carne de frango? • O consumidor está satisfeito com o produto que compra e consome? • Quais os tipos preferidos de apresentação do produto, como cortes, embalagens, formas de processamento? Estas questões ficaram evidentes após um levantamento preliminar de campo, realizado para orientar o presente plano de pesquisa, com os consumidores e os principais componentes da cadeia produtiva do frango de corte no Triângulo Mineiro. Constatouse que o setor carece de informações mais sistemáticas sobre os hábitos e preferências do consumidor final para orientar a gestão da produção da cadeia produtiva. 3. OBJETIVOS O estudo proposto orientou-se pelos seguintes objetivos: Objetivo Geral A partir da caracterização da cadeia produtiva de frango de corte no Triângulo Mineiro, analisar as preferências do consumidor/comprador de carne de frango avaliando a sua satisfação nos principais pontos varejistas da região. Objetivos Específicos • Avaliar a satisfação do consumidor/comprador no ponto de venda; • Avaliar a preferência do consumidor de carne de frango no Triângulo Mineiro no consumo de carne de frangoç • Avaliar quais os tipos preferidos de apresentação do produto, como cortes, embalagens, formas de processamento. 4. MARCO CONCEITUAL São relevantes para este artigo os seguintes conceitos: Teoria Geral dos Sistemas, conceito do agronegócio e de cadeia produtiva, mercado e segmentação e comportamento de compra do consumidor. 4.1 Teoria Geral de Sistemas A essência do pensamento sistêmico é a idéia de elementos que interagem e formam conjuntos para realizar objetivos [...]. A Teoria Geral dos Sistemas envolve duas idéias básicas: I.A realidade é feita de sistemas compostos de elementos interdependentes. II.Para compreender a realidade, é preciso analisar não apenas os elementos isolados, mas também suas inter-relações. (MAXIMIANO, 2004). De acordo com Bertalanffy (1977) a tecnologia e a sociedade tornaram-se tão complexas que as soluções tradicionais não são mais suficientes. É necessário utilizar abordagens de natureza holística ou sistêmica, generalista ou interdisciplinar. O ponto de partida para a análise sistêmica é o conceito de sistemas “[...] como um conjunto de partes ou elementos que formam um todo unitário ou complexo. O conjunto destas partes que interagem e funcionam como um todo é um sistema [...]”. (MAXIMIANO, 2004:64). Um exemplo disto é o estoque de matérias-primas, que são apenas entes isolados, sem nenhuma relação entre si. Juntando-os por meio de um processo produtivo, ter-se-á um novo produto, com a combinação das partes formando um todo que atenderá determinada demanda. A análise de um sistema da cadeia produtiva proposta por Castro et al. (1995) inclui o conceito de sistemas, fronteiras da cadeia, hierarquia e modelagem de sistemas. Um sistema produtivo inicia-se com o estabelecimento de seus objetivos, seguida da definição de seus limites, subsistemas componentes e contexto externo. Ao definir limites e hierarquias, estabelecem-se as interações dos subsistemas componentes, mensuram-se suas entradas e saídas e respectivos desempenhos intermediários (subsistemas) e final (sistemas). (CASTRO et al., 1998). Esse é um conceito importante para analisar e entender o funcionamento de uma cadeia produtiva, identificando todos os seus elos, bem como os atores sociais envolvidos e as instituições que fazem parte do ambiente externo da cadeia e que influenciam a sua dinâmica. Cadeias produtivas é um tipo de sistema que representa o objeto desse estudo. Estudos de cadeias produtivas focalizam a seqüência de transformações por que passam os produtos intermediários, desde os insumos agrícolas até o processamento, chegando ao consumidor final em forma de produto acabado pronto para o consumo. Castro, Lima e Hoeflich (1999) definem fronteira de sistemas como sendo o espaço delimitado pelo pesquisador para separar determinado sistema de outros que não compõem o universo de estudo. Mourão Jr. (2005) cita que, em cada pesquisa, os limites de um sistema devem ser estabelecidos frente aos objetivos do estudo, com ganhos de qualidade nas informações e praticidade em termos de visualização dos componentes envolvidos. De acordo com Castro, Lima e Hoeflich (1999), do conceito de limite deriva outro conceito importante, que é o de hierarquia de sistemas, como um sistema dentro de um sistema maior. A Figura 4.1, adaptada de Castro et al. (1995), exemplifica essa concepção de hierarquia de sistemas aplicados à agricultura. Sistema Cadeia Produtiva Negócio Agrícola Sistema Natural Figura 4.1- Hierarquia de sistemas na Agricultura Fonte: Adaptado de CASTRO et al. (1995) A Figura 4.1 retrata o modelo de hierarquia entre sistemas. Um sistema produtivo é um subsistema da cadeia produtiva, que, por sua vez, é subsistema de um sistema maior chamado Negócio Agrícola. Deste modo, o sistema natural engloba todos os outros subsistemas (Negócio Agrícola, cadeia Produtiva e Sistema Produtivo). Por exemplo, a cadeia produtiva do frango de corte é um subsistema do próprio negócio agrícola de produtos da avicultura. 4.2 Mercado Dentre os inúmeros conceitos de marketing, pode-se estabelecer mercado dentro de uma visão social. Segundo Kotler (2000), “Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. (p.29). Quando se usa uma definição gerencial, marketing é descrito como “a arte de vender produtos”. Mas Kotler, 2000, p.30 apud Drucker (s/d) conceitua marketing como “ [...] a arte de tornar a venda supérflua [...]”. O ideal é que o marketing deixe o cliente pronto para comprar. A partir daí, basta tornar o produto ou serviço disponível. A AMA - American Marketing Association – (s/d) define “marketing como o processo de planejar e executar a concepção, a determinação do preço, a promoção e a distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Marketing também pode ser interpretado como um espaço físico onde compradores e vendedores se reúnem para trocar mercadorias. De um lado, as empresas vendedoras representam os diferentes setores, e, de outro, os compradores, também conhecidos como o mercado. Em agronegócios, mercado pode ser definido como “todas instituições nas quais bens e serviços, assim como os fatores de produção, são trocados livremente” (ARAÚJO, 2003, p. 120 apud TROSTER e MOCHÓN, 1994). Resumindo, marketing é visto como a arte e a ciência da escolha de mercados-alvo e da captação, manutenção e fidelização de clientes por meio da criação, da entrega e da comunicação de um valor superior para o cliente. 4.3 Segmentação de Mercado Dentro do conceito de mercado, pode-se identificar subgrupos de pessoas ou organizações que compartilham uma ou mais características e que tenham as mesmas necessidades. Esse processo de identificação desses subgrupos é conhecido como ‘segmentação de mercado’. Para uma abordagem de segmentação de mercado, será utilizado o conceito de Castro et al. (1998), pelo qual a segmentação é a divisão do mercado em subconjuntos homogêneos, de forma que qualquer um deles pode ser selecionado como mercado-alvo. Lima et al. (2002) esclarecem que a segmentação não é nada mais do que a arte de subdividir os mercados, de acordo com uma série de variáveis ou critérios estabelecidos ‘a priori’, de maneira que se possam identificar subgrupos homogêneos dentro de um mercado analisado. Kotler (2000) complementa, quando declara que esses mercados subdivididos facilitam a identificação de nichos de mercado. A segmentação permite estabelecer estratégias de intervenção que sejam pertinentes às diversas necessidades, aspirações e demandas, uma vez que devem estar ajustadas às características dos produtos e serviços que são oferecidos a cada segmento. [...] Além do mais, com a segmentação, obtém-se maior compreensão do mercado em que se insere. (LIMA et al., 2002). Foi, também, utilizado o conceito de ·Kotler (2000), que define segmentação de mercado “como um grande grupo que é identificado a partir de suas preferências, poder de compra, localização geográfica, atitudes de compra e hábitos de consumo similares”. “Para se fazer uma boa segmentação, deve-se fazer a escolha de diversas variáveis ambientais. Entre as mais importantes, estão classe de renda, faixa etária, sexo, aspectos sócio-demográficos e grau de instrução”. Para este autor, o marketing de segmento oferece vários benefícios a mais. A empresa pode criar um produto ou serviço mais adequado e oferecê-lo a um preço apropriado ao público-alvo. (BRISOLA, 2004). 4.4 Características do Consumidor Outro aspecto em estudos de marketing a ser observado são as características dos consumidores. As pessoas não nascem consumidoras, mas aprende a sê-los por meio de desejos e necessidades que são aprendidas pela influência de fatores sociais e culturais, descritos a seguir, a partir de Kotler (2000): a. Fatores Culturais A cultura é o principal determinante do comportamento de compra. Na cultura, estão intrínsecos todos os valores, crenças e costumes de um povo. Assim, as estratégias de marketing deverão considerar os valores e costumes locais, para ser bem sucedida. b. Fatores Sociais As pessoas são fortemente influenciadas por fatores sociais, como grupos de referência, família, papéis sociais e status. Alguns grupos exercem ascendência direta, como família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, outros, indiretamente, como as associações, clubes de classe e organizações. Todos persuadem o indivíduo de alguma forma, seja como formadores de opinião, moda ou em termos de papéis e status. Cada um cumpre uma função dentro da sociedade. c. Fatores Pessoais As decisões do consumidor também são tomadas por influências pessoais, como idade e estágio do ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, estilo de vida, personalidade e auto-estima. Toda a família passa por um ciclo de vida, e cada um de seus membros é marcado por uma decisão de compra diferente. Por exemplo, a família com um filho pequeno terá parte de seu orçamento comprometida com a criação e educação de seu filho, e o comportamento dessa família irá mudar de acordo com as fases de seu ciclo de vida. d. Fatores psicológicos As escolhas de compra de uma pessoa são induzidas por quatro fatores psicológicos predominantes – motivação, percepção, aprendizagem, crenças/atitudes. As necessidades psicológicas são mais ligadas à sensação de auto-estima, reconhecimento, auto-realização, desenvolvimento e relações pessoais. São todas as necessidades secundárias do ser humano. Segundo a hierarquia das necessidades de Maslow, uma necessidade secundária somente é satisfeita após serem satisfeitas as necessidades primárias, as chamadas necessidades fisiológicas e de sobrevivência. Assim, as necessidades psicológicas são mais complexas e difíceis de resolver, por envolver questões do consciente humano. 4.5 O processo de decisão de compra O processo de decisão de compra começa quando o comprador reconhece um problema ou uma necessidade. O consumidor interessado em resolver um problema tende a buscar informações em vários tipos de fontes, como pessoas do seu convívio, fontes comerciais, públicas e experimentais. Após levantadas as possibilidades, o comprador passa para a avaliação das alternativas, processa informações de marca e faz um julgamento de valor. Conforme Kotler (2000), primeiro, o consumidor está tentando satisfazer a uma necessidade. Segundo, o consumidor está buscando certos benefícios da escolha do produto. Terceiro, o consumidor vê cada produto como um conjunto de atributos, com capacidade de satisfazer às suas necessidades. Por fim, o consumidor toma uma atitude e parte para a decisão de compra. Neste estágio, cria preferências entre as marcas do conjunto de escolhas e realiza a compra com base na marca, no fornecedor, na quantidade, no crédito e na condição de pagamento. Por exemplo, as compras de frango in natura envolvem menos decisões e riscos por serem compras diárias e que precisam estar à disposição do cliente no momento em que decide pelo produto. 4.6 Pós compra Segundo Kotler (2000), após a compra do produto, o consumidor experimenta algum nível de satisfação ou insatisfação. Este sentimento define se o cliente voltará ou não a comprar o produto e se ele falará favoravelmente ou não sobre o produto a outras pessoas. Talvez essa seja a fase mais importante para o fornecedor, porque é nessa fase que o cliente vai medir o nível de satisfação com o produto. Se o cliente ficar satisfeito, haverá uma probabilidade maior de ele voltar a comprar o produto. Mas, se o consumidor ficar insatisfeito, poderá abandonar ou devolver o produto, levando a empresa fornecedora a custos imprevisíveis, o que poderá custar a sua sobrevivência no mercado. 4.7 A escolha do produto A escolha do produto no segmento alimentar é feita, principalmente, por estímulos sensitivos (visuais, táteis, gustativos etc.), por isso, as empresas criam o chamado “efeito blocking“, pelo qual o supermercado cria uma “mancha” por meio de produtos com as mesmas cores na área de venda próxima aos produtos líderes, facilitando a visualização para o consumidor. Também existe o conceito de produto “líder” e produto “seguidor” aplicado ao efeito blocking, quando o consumidor em seu processo de escolha ao identificar produtos similares, preferirá as marcas líderes em detrimento às seguidoras. Karsaklian (2004) amplia o conceito, afirmando que os estímulos podem ser “ambíguos ou não”, representados pelos próprios produtos, as propagandas, os serviços, os preços etc., influenciando os segmentos do agronegócio, particularmente no elo entre o varejista e o consumidor final. De acordo com NEVES, 2003, p. 74 apud Mc Carthy e Perreaut, 1994, um modelo de comportamento de compra ajuda a interpretar e a integrar as descobertas atuais sobre o consumidor mediante processos de pesquisa de marketing. Para os estímulos de marketing existem as variáveis controláveis e as variáveis incontroláveis. As primeiras são influenciadas pela empresa e as outras não. O consumidor é o ponto focal para onde convergem todas as forças de mercado, por isso, são analisadas as suas características, como forma de entendimento do seu comportamento de compra. Em resumo, são muitas as variáveis que influenciam a decisão do comprador, a escolha do produto, a escolha da marca, a escolha do vendedor e todas estas exercem influência na hora do cliente comprar. Estudos de mercado auxiliam as empresas na adoção das melhores práticas para conquistar e manter clientes em um mercado cada dia mais competitivo. 5. METODOLOGIA A presente pesquisa é qualitativa e quantitativa, utilizando dados estatísticos para a compreensão das preferências do consumidor de carne de frango no Triângulo Mineiro. A metodologia foi elaborada fundamentada na técnica de Survey. Foi feito um levantamento de dados primários com aplicação de questionários aos consumidores finais em diversos pontos de venda da região, buscando uma síntese de suas preferências sobre o consumo de carne de frango no Triângulo Mineiro. O tipo de amostragem utilizado foi a não-probabilística, em que o pesquisador para simplificar o processo, escolheu os entrevistados por conveniência, a medida que os mesmos chegavam aos locais de compra do produto pesquisado, a carne de frango. 5.1 Survey Um survey, segundo Richardson (1999), “consiste em uma técnica de coleta de dados e informações de forma estruturada, com base estatística, na análise dos resultados [...]”. Já Brisola (2004), define survey “como um levantamento de dados por amostragem, permitindo, portanto, uma generalização de um estudo para uma população mais ampla [...]”. Apresenta quatro escalas de respostas em um Survey: nominal, ordinal, intervalar e razão. Na escala nominal, “[...] os números ou símbolos são utilizados para identificar pessoas, objetos ou categorias”. (p. 83). Nesta pesquisa, foram empregados os modelos nominal e ordinal, em sua escala de respostas, além de questões abertas, para complementar as questões fechadas. Segundo Castro e Lima (2004) as técnicas para o desenvolvimento de um survey são: (1) definição da população a ser estudada; (2) definição do modo de coleta de dados; (3) definição do modelo de amostragem; (4) definição do formato das questões; e (5) estabelecimento do método de processamento dos dados, sendo este o modelo escolhido para o desenvolvimento da pesquisa. Para a definição do tamanho da população a ser estudada, foram utilizados os conceitos de Stevenson (1981) para uma população superior a 100.000 pessoas. A amostra da população de consumidores de carne de frango, definida para esta pesquisa, foi estabelecida de forma semelhante aos estudos de Brisola (2004). A fórmula (01) representa o tamanho da população para amostras infinitas, calculadas segundo os autores acima citados: nMáx = ( Zα/2 )2 2e (01) nMáx = ( 1,96 )2 2x0,05 nMáx = ( 1,96 )2 0,1 nMáx = (19,6)2 nMáx = 384,16 Sendo: nMax: o número máximo de indivíduos que garantem a margem de erro fixada; Zα/2: o correspondente ao quartil superior α/2 da distribuição normal padrão; e: o correspondente à margem de erro da estimação de p. Neste caso, para populações de tal natureza a recomendação de amostra representativa é de no mínimo 384 indivíduos, escolhidos ao acaso. Foram entrevistados 680 pessoas, nas principais cidades do Triângulo Mineiro, a saber: Uberlândia, Uberaba, Araguari e Tupaciguara, escolhidas pelo tamanho da população, localização estratégica e facilidade de acesso. A coleta de dados foi feita pela aplicação de questionários em locais escolhidos, selecionados a partir de variáveis renda e localização. Os questionários foram distribuídos em partes iguais em todas as regiões da cidade. Os consumidores foram entrevistados da mesma forma e receberam o mesmo tratamento. As entrevistas foram realizadas nos pontos-de-venda varejista escolhidos de acordo com a localização e freqüência de acesso à loja. As lojas, de maneira geral, eram de média superfície de 4 a 8 check-outs e os entrevistados respondiam a um questionário estruturado com questões abertas e fechadas. O informante era abordado na entrada da loja e convidado a participar da pesquisa. Esse tipo de amostragem é, também, conhecido por “conveniência”, já que a amostra da população não foi aleatoriamente escolhida. Para a fase de análise dos dados e resultados, preparou-se um banco de dados na plataforma windows e foram feitas a conversão e a leitura para uma planilha eletrônica com capacidade para gerar tabelas e gráficos utilizados na produção dos resultados. A partir dos resultados obtidos, foram gerados subsídios para a gestão da cadeia produtiva do frango de corte no triângulo mineiro e para o conhecimento das preferências do consumidor final de carne de frango nessa região. 5.2 Características do consumidor de carne de frango no Triângulo Mineiro Os dados coletados representavam dois tipos de consumidores (1) os que compram carne de frango e não consomem; (2) os que compram e consomem. Os dados mostraram que 18% eram da primeira categoria, enquanto que a maioria absoluta (82%) apresentou-se como consumidores e compradores. Em relação à variável sexo, apenas 8% dos respondentes eram homens, enquanto, as mulheres representaram 92% do público entrevistado, sugerindo a grande participação feminina nas compras de supermercado. Em relação a variável idade, houve concentração de entrevistados na faixa de 35 e 55 anos. De acordo com os dados de emprego do IBGE (2007) a grande maioria de pessoas nessa faixa de idade são economicamente ativas(57%), possuem renda e vão ao supermercado fazer compras. Com relação ao grau de instrução dos entrevistados, a maior concentração foi de pessoas com até o segundo grau. Em relação à renda, houve predomínio de pessoas com salários até R$ 1.000,00, cabendo estratégias de marketing específicas para este público. 6. RESULTADOS Os resultados identificam os principais atributos de compra de carne de frango, as preferências do consumidor pela forma de apresentação do produto, avaliação do consumidor quanto ao preço encontrado na loja e atributos de qualidade do produto. A Tabela 6.1 mostra a preferência do consumidor pela forma de apresentação do produto nos principais pontos de venda das cidades do Triângulo Mineiro. Tabela 6.1: Preferências do consumidor de carne de frango do Triângulo Mineiro sobre a apresentação do produto Freqüência Preferência do consumidor pela forma de Absoluta Relativa apresentação do produto o (%) (n ) Frango inteiro congelado 336 30% Coxa, sobre coxa e asa 268 24% Peito de frango desossado 163 Peito de frango com osso 156 Frango inteiro resfriado 135 Coração e miúdos 47 Outros 21 SOMA 1126 Fonte: Dados da Pesquisa Obs: A soma difere do número de indivíduos amostrados porque o respostas múltiplas. 14% 14% 12% 4% 2% 100% questionário admitia A maioria dos consumidores demonstrou preferência pelo frango inteiro congelado (30%) e coxa, sobre coxa e asa (24%). Peito de frango desossado (14%) e peito de frango com osso (14%) foram os tipos de cortes com preferência média, indicando que há espaço para agregação de valor por melhor apresentação do produto. Este resultado confirma a percepção de SCHIMIDT (2003) que sugere um avanço no crescimento de consumo de produtos processados e cortes especiais. Este cenário aponta para a substituição de produtos in natura para produtos elaborados a partir da agregação de valor, maior conveniência e praticidade exigidos pelo consumidor. Foi investigada as demandas do consumidor da região em relação a outras características do produto e do ponto de venda. Na tabela 6.2 apresentam-se as preferências do consumidor de carne de frango em termos dessas variáveis. Tabela 6.2: A demanda dos consumidores de carne de frango do Triângulo Mineiro em relação às características do produto e do ponto de venda. Freqüência Preferências dos Entrevistados Absoluta (no) Relativa (%) Higiene nas instalações 454 26,5% Baixo preço 337 20% Produto fiscalizado 320 18% Conservação adequada 259 15% Atendimento personalizado 113 7% Rapidez e segurança 106 6% Praticidade/comodidade 97 5,5% Outros 34 2% SOMA 1720 100% Fonte: Dados da Pesquisa Obs.: A soma difere do número de indivíduos amostrados porque o questionário admitia respostas múltiplas. Dentre os atributos mais importantes citados pelo consumidor, higiene nas instalações e preço baixo figuram no topo da lista, com respectivamente (27%) e (20%) aproximadamente, mostrando que são fatores preponderantes na decisão de compra do consumidor. Acrescentando a característica ‘produto fiscalizado’ (18%), obtêm-se mais de 50% da amostra indicando que os itens relacionados à diferenciação do produto são mais importantes que o preço do produto. Comparando este resultado a uma pesquisa semelhante de Megido e Xavier (1998) na cidade de São Paulo, sobre o que o consumidor mais valoriza em uma indústria de produto alimentar, os atributos mais citados foram: higiene, apresentação/embalagem e marca, guardando grande simetria com os resultados obtidos no presente estudo. Foi investigada a influência do preço do produto sobre a decisão de compra pelo consumidor. A tabela 6.3 apresenta a avaliação do consumidor quanto à percepção ao preço ofertado na loja. Tabela 6.3: Percepção do consumidor de frango do Triângulo Mineiro em relação ao preço do produto. Muito Apropriado Não apropriado Apropriado Avaliação do consumidor A* R* A* R* A* R* Frango inteiro congelado 32 44% 150 29,8% 93 32% Frango inteiro resfriado 10 14% 61 12% 26 9% Coxa, sobre coxa e asa 10 14% 114 23% 63 22% Coração e miúdos 1 1,5% 8 1,5 5 1,5% Peito de frango com osso 8 11% 49 9,7% 34 12% Peito de frango desossado 10 14% 114 23% 63 22% Outros 1 1,5% 5 1% 5 1,5% SOMA 72 100% 501 100% 290 100% Fonte: Dados da Pesquisa • A*: Freqüência Absoluta • R*: Freqüência Relativa Obs.: A soma difere do número de indivíduos amostrados porque o questionário admitia respostas múltiplas. A pesquisa apontou que a grande maioria dos pesquisados está satisfeita com o preço pago pelo tipo de corte de frango. Novamente, destaque para o frango inteiro congelado que mostrou maior aceitação pelo cliente, provavelmente por ser um produto mais barato comparado com outros tipos de cortes. Em relação ao preço do frango pago na loja, há uma tendência de elevação, principalmente, do frango in natura, em função do aumento dos preços dos insumos, especialmente, milho e soja que ocupam o maior percentual dos custos de matériasprimas e maior participação na dieta animal. Segundo dados da ACNIELSEN (2004), os aumentos dos custos de produção podem alcançar 35% provocando um aumento no preço final da carne de frango. Mesmo assim, os novos preços não devem mudar as tendências do mercado, que deposita grande expectativa na recuperação do poder de compra do consumidor de baixa renda e no incremento das exportações, que apontam para um crescimento de 3% em 2007. A participação do item ‘coração e miúdos’ foi a menor, sugerindo que o consumidor, ainda não aceitou este tipo de corte. Provavelmente, cabem as agroindústrias criarem atrativos mais interessantes para este segmento. A tabela 6.4 mostra a preferência dos entrevistados sobre outros atributos de qualidade e forma de apresentação do produto. Tabela 6.4: Atributos de qualidade Atributos de Qualidade Freqüência Absoluta (no) 277 170 154 134 111 107 97 26 22 1098 Relativa (%) 25% 15,5% 14% 12,5% 10% 9,7% 9% 2,3% 2% 100% Sem pele Origem conhecida Embalagem de qualidade Presença de pele Presença de informações na embalagem Marca Tipo de corte (peito, asa, coxa, sobre coxa, pé) Carne branca Outros SOMA Fonte: Dados da Pesquisa Obs.: A soma difere do número de indivíduos amostrados porque o questionário admitia respostas múltiplas. Os cortes sem pele (25%) foram os preferidos, seguidos por origem conhecida (16%), embalagem de qualidade (14%). Quanto à origem, percebe-se que há consumidores preocupados com sanidade e rastreabilidade dos produtos que consomem. Esta preocupação também se manifesta em relação à embalagem de qualidade, indicando que existem demandas quanto à segurança, praticidade e higiene. Estudos realizados por ACNIELSEN (2001) mostram que o consumidor está mais exigente quanto aos atributos relacionados à qualidade e menos leal a questões ligadas a marca, valorizando o binômio preço x qualidade. Também foram percebidos como importantes o preço, boas ofertas e variedade de produtos, além de presença de informações na embalagem. Estes dados confirmam os resultados obtidos na presente pesquisa, que também sinalizou para um cliente mais preocupado com preço e qualidade, mais bem informado sobre o produto (frango de corte) oferecido na loja, exigindo das agroindústrias estratégias específicas para o setor. 7.. CONCLUSÕES Os resultados da pesquisa indicam que os consumidores de carne de frango do Triângulo Mineiro estão mais exigentes e preocupados com questões como a higiene nas instalações, embalagens, rastreabilidade e baixos preços. Considerou-se como adequando o preço pago pelo produto na loja, mesmo se comparado a outras carnes, como a bovina. O consumidor pesquisado mostrou preferência pela diversificação de produtos, como o corte sem pele, cabendo a Agroindústria do frango, ampliar a oferta destes cortes oferecendo ao público um mix amplo de subprodutos do frango, como, cortes especiais, empanados, processados, lingüiças e salsicharia e outras opções de cortes variados. Aparentemente os consumidores estão satisfeitos com os produtos que compram e consomem e há espaço para mais desembolsos e para aumento da freqüência de consumo, caso, às agroindústrias consigam atrair segmentos de clientes mais exigentes por cortes especiais e variedade entre os cortes. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACNIELSEN. Marca não é importante para o consumidor. Disponível em http://www.aviculturaindustrial.com.br/site/dinamica.asp, 2001. ACNIELSEN. Marca não é importante para o consumidor. Disponível em http://www.aviculturaindustrial.com.br/site/dinamica.asp, 2004. ARAÚJO, M.J. Fundamentos do Agronegócio. São Paulo: Atlas, 2003, cap. 5. 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