do arquivo - Associação Brasileira de Horticultura

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Volume 25 número 2
abril-junho 2007
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
ISSN 0102-0536
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Programa de apoio a publicações científicas
Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
V.
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
1-3,
1961-1963,
Olericultura.
Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.
Editoração e arte/Composition
Luciano Mancuso da Cunha
Revisão de inglês/English revision
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Revisão de espanhol/Spanish revision
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Tiragem/printing copies
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134
Periodicidade até 1981: Anual.
de 1982 a 1998: Semestral
de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
ISSN 0102-0536
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de
Horticultura.
CDD 635.05
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Volume 25 número 2
abril-junho 2007
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO/CONTENT
* Artigos em inglês com resumo em português
Articles in English with an abstract in Portuguese
CARTA DO EDITOR / EDITOR'S LETTER
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PESQUISA / RESEARCH
Efeito do CO2 e etileno no período de dormência de minitubérculos de batata cv. Macaca
Effect of CO2 and ethylene on the dormancy period of potato cv. Macaca minitubers
DA Bisognin; M Benedetti; FB Segatto; LC Costa; CEL Ritter; A Brackmann
Seleção recorrente para produtividade e qualidade de frutos em abobrinha braquítica
Recurrent selection for fruit yield and quality in braquitic squash
AII Cardoso
Produção de tomate italiano (saladete) sob diferentes densidades de plantio e sistemas de poda visando ao consumo in natura1
Production of Italian tomato (saladete) in different plant densities and pruning systems aiming at in natura consumption
AQ Machado; MAR Alvarenga; CET Florentino
*Efeito da densidade de plantio sobre o rendimento de espigas verdes de cultivares de milho desenvolvidas em diferentes épocas
* Effect of planting density on green ear yield of maize cultivars bred in different periods
PSL e Silva; SR Duarte; FHT Oliveira; JCV Silva
Área foliar e número de flores de nastúrcio sob duas densidades de plantio
Leaf area and flower number of nasturtium in two plant densities
SJ Lopes; B Brum; VJ Santos; EFRQ Melo; OS Santos; MRM Couto;
Tomada de decisão de controle da traça-do-tomateiro através de armadilhas com feromônio sexual
Decision making for integrated pest management of the South American tomato pimworm based on sexual pheromone traps
SR Benvenga; OA Fernandes; S Gravena
Produção e qualidade de sementes e raízes de cenoura cultivada em solo com adubação orgânica e mineral
Production and quality of seeds and roots of carrot cultivated under organic and mineral fertilization
RLA Bruno; JS Viana; VF Silva; GB Bruno; MF Moura
Produção de biomassa e óleo essencial de elixir-paregórico em função do corte das inflorescências e épocas de colheita
Biomass and essential oil production of Ocimum sello i as affected by cutting of inflorescences and harvest times
LCB Costa; JEBP Pinto; SKV Bertolucci; MG Cardoso
Resposta do quiabeiro às doses de fósforo aplicadas em solo arenoso
Response of phosphorus levels on okra planted in sandy soil
AP Oliveira; CSM Dornelas; AU Alves; AU Alves; JA Silva; ANP Oliveira
Extratores aquosos para a caracterização química de substratos para plantas
Water extracts for the chemical characterization of plant substrates
MF Abreu; CA Abreu; I Sarzi; AL Padua Junior
Qualidade fisiológica de sementes de palmiteiro-vermelho em função da desidratação e do armazenamento
Physiological quality of Euterpe espiritosantensis seeds as affected by partial drying and storage
CC Martins; MLA Bovi; J Nakagawa
Produtividade biológica em sistemas consorciados de cenoura e alface avaliada através de indicadores agroeconômicos e métodos multicritério
Biological productivity in carrot and lettuce intercropping systems assessed by means of agroeconomic indicators and multicriteria methods
F Bezerra Neto; EG Gomes; AM Oliveira
Períodos de interferência de maria-pretinha sobre tomateiro industrial
Periods of nightshade interference in processing tomato
DD Hernandez; PLCA Alves; MCMD Pavani; MC Parreira
Metodologia para o teste de envelhecimento acelerado em sementes de ervilha
Accelerated aging test on pea seeds
WM Nascimento; RA Freitas; EML Gomes; AS Soares
Aspectos morfofisiológicos e conteúdo de óleo essencial de plantas de alfazema-do-Brasil em função de níveis de sombreamento
Morphophysiological aspects and essential oil content in Brazilian-lavender as affected by shadowing
JEBP Pinto; JCW Cardoso; EM Castro; SKV Bertolucci; LA Melo; S Dousseau
Germinação e vigor de sementes de cenoura sob condições de altas temperaturas
Carrot seed germination and vigor under high temperature conditions
RS Pereira; WM Nascimento; JV Vieira
Genótipos de batata com baixo teor de açúcares redutores
Potato genotypes with low reducing sugar content
AS Pereira; R Fritsche Neto; RS Silva; CI Bender; AP Schünemann; NML Ferri; JL Vendruscolo
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Rendimento da alface e atributos químicos de um Latossolo em função da aplicação de biofertilizantes de rochas com fósforo e potássio
Lettuce yield and chemical attributes of an Oxisol by application of biofertilizers from phosphate and potash rocks
RCM Lima; NP Stamford; CERS Santos; SHL Dias
224
Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva
Growth and essential oil content of mints at different potassium concentrations in the nutrient solution
TMB Garlet; OS Santos; SLP Medeiros; PA Manfron; DC Garcia; SS Sinchak
230
Produção do tomateiro em função dos sistemas de condução de plantas
Fruits production of tomatoes as a result of plant training systems
AF Wamser; S Mueller; WF Becker; JP Santos
238
PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE
Desempenho de cultivares de tomateiro para mesa em ambiente protegido
Performance of fresh market tomato cultivars under protected cultivation
R Gualberto; PSR Oliveira; AM Guimarães
Produtividade de cultivares de cebola em função do número de mudas por célula de bandeja e espaçamento entre covas
Yield of onion cultivars as a result of the number of seedlings per cell tray and within hole spacing
PF Vargas; LT Braz; A May
Desempenho de genótipos de coentro em Areia
Performance of coriander genotypes in the municipality of Areia
AP Oliveira; PCT Melo; LJG Wanderley Júnior; AU Alves; MF Moura; ANP Oliveira
Avaliação de substratos para produção de mudas de alface
Evaluation of substrates in the production of lettuce plantlets
PE Trani; DM Feltrin; CA Pott; M Schwingel
Características produtivas de genótipos de cebola no Vale do São Francisco
Yield characteristics of onion genotypes in the São Francisco River Valley
ND Costa; GM Resende; CAF Santos; WM Leite; JM Pinto
244
247
252
256
261
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMUNICATION
Produção e sabor dos frutos de tomateiro submetidos a poda apical e de cachos florais
Production and flavor of tomato fruits subjected to top-shoot and floral cluster pruning
MA Guimarães; DJH Silva; PCR Fontes; FRB Caliman; RA Loos; PC Stringheta
Densidade de plantas e métodos de colheita na multiplicação de batata-semente em vasos
Plant density and harvest methods for potato seed tuber multiplication in pots
RM Corrêa; JEBP Pinto; ÉS Reis; A B Monteiro; CABP Pinto; V Faquin
Classificação de tomate-cereja em função do tamanho e peso dos frutos
Grading of cherry tomatoes based on fruit size and weight
C Fernandes; JE Corá; LT Braz
Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de batatas
Process evaluation on potato packing lines
MD Ferreira; L H Netto
Influência da fase embrionária dos ovos da traça-das-crucíferas sobre fêmeas de Trichogramma pretiosum com diferentes idades
Influence of diamondback moth embrionary egg stage on Trichogramma pretiosum females with different ages
D Pratissoli; RA Polanczyk; CLT Pereira; ISA Furtado; JG Cocheto
Efeito de injúrias mecânicas na qualidade de abobrinhas armazenadas em condição ambiente
Effect of mechanical injuries on the quality of squash stored at room temperature
MFB Durigan; BH Mattiuz
Injúrias mecânicas e seus efeitos na qualidade de melancias armazenadas em condição ambiente
Effect of mechanical injuries on the quality of watermelon stored at room temperature
MFB Durigan; BH Mattiuz
Qualidade dos bulbos de cebola ‘Superex’ armazenados sob refrigeração, quando expostos à condição ambiente
Quality of onion bulbs cv. Superex stored under refrigeration, when exposed to environmental conditions
ACA Miguel; JF Durigan
Produção e qualidade de frutos de tomateiro cultivado em substrato com zeólita
Yield and fruit quality of tomato grown in substrate with zeolite
ACC Bernardi; CG Werneck; PG Haim; N Botrel; J Oiano-Neto; MBM Monte; MR Verruma-Bernardi
265
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306
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
carta do editor
Prezados,
Em suas mãos, o número 2 da nossa Horticultura Brasileira, trazendo uma bela imagem de
uma hortaliça que não chega a ser desconhecida dos brasileiros, embora seja de uso incomum no
Brasil: a alcachofra. Agradecemos às professoras Stella Maris García e Marta Susana Panelo,
da Faculdade de Ciências Agrárias UNR, esta, delegada da ABH na Argentina, pela sua contribuição.
Neste número temos algumas alterações na Comissão Editorial. Passamos a ter um novo
Editor Associado: o Dr. Paulo Espíndola Trani, que já participava da Comissão Editorial como
Editor Científico. O Dr. Paulo Trani, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, tem
destacada atuação na área de Adubação e Nutrição de Hortaliças. A Comissão Editorial passa a
contar também com um novo Editor Científico. Damos as boas-vindas ao Dr. Valter Rodrigues
Oliveira, melhorista da Embrapa Hortaliças, atualmente trabalhando com cebola e melão.
Horticultura Brasileira se sente honrada em poder contar com a competência de ambos.
Até o próximo número,
Comissão Editorial
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
137
pesquisa
BISOGNIN DA; BENEDETTI M; SEGATTO FB; COSTA LC; RITTER CEL; BRACKMANN A. 2007. Efeito do CO2 e etileno no período de dormência de
minitubérculos de batata cv. Macaca. Horticultura Brasileira 25: 138-142.
Efeito do CO2 e etileno no período de dormência de minitubérculos de
batata cv. Macaca
Dilson Antônio Bisognin; Marlova Benedetti; Fernanda Bastos Segatto; Liege Camargo da Costa; Carlos
Evandro Leite Ritter; Auri Brackmann
UFSM, Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito do CO2 e etileno no período de dormência de
minitubérculos de batata da cultivar Macaca produzidos em telado
durante duas safras. Imediatamente após a colheita, os minitubérculos
foram submetidos aos tratamentos de abafamento com etileno (1000
mL L-1) por 72 h; CO2 (20%) por 72 h; carbureto de cálcio (200 g m-3)
por 72 h; e 1-metilciclopropeno (1-MCP) (1mL L-1) por 24 h (apenas na safrinha); e imersão em solução de ethephon (840 mg L-1) por
5 s. A testemunha não recebeu nenhum tratamento. O delineamento
experimental foi um fatorial (safras x tratamentos) no inteiramente
casualizado, com quatro repetições de 15 minitubérculos. Em intervalos semanais foram avaliadas a respiração e a produção de etileno.
A cada 15 dias avaliou-se o número de brotos e a percentagem de
tubérculos brotados, calculando-se a área abaixo da curva de progressão. Os minitubérculos produzidos durante a safra, comparados
com os da safrinha, apresentaram menor período de dormência e
aumentaram a taxa respiratória durante o período de armazenamento,
claramente relacionados com a brotação dos minitubérculos. O CO2
e etileno não promoveram o encurtamento, enquanto que o 1-MCP
prolongou o período de dormência de minitubérculos de batata cv.
Macaca.
Effect of CO2 and ethylene on the dormancy period of potato
cv. Macaca minitubers
Palavras-chave: Solanum tuberosum, ethephon, 1-MCP, acetileno,
brotação.
Keywords: Solanum tuberosum, ethephon, 1-MCP, acetylene,
sprouting.
The effect of CO2 and ethylene treatments were evaluated on
the dormancy period of ‘Macaca’ minitubers produced in greenhouse
during two growing seasons. Minitubers were treated soon after
harvesting. The treatments were suffocation with ethylene (1000 mL
L-1) during 72 h; CO2 (20 %) during 72 h; calcium carburet (200 g
m-3) during 72 h; and 1-methylcyclopropene (1-MCP) (1 mL L-1)
during 24 h (only for second season); and immersion with 2-cloroetil
fosfonic acid (840 mg L-1) during 5 s. Control minitubers did not
receive any treatment. The experiment was a factorial (seasons x
treatments) in a randomized design, with four replications of 15
minitubers. Respiration and ethylene production were evaluated every
week. Sprout number and percentage of sprouted tubers were
evaluated every 15 days to obtain the area under progression curve.
Minitubers produced during the first season presented shorter
dormancy than those produced during the second season. First season
minitubers presented an increase in respiration rate during storage
that was clearly related to sprouting. CO2 and ethylene did not reduce,
while 1-MCP enhanced dormancy period of potato cv. Macaca
minitubers.
(Recebido para publicação em 21 de setembro de 2005; aceito em 17 de maio de 2007)
U
ma das hipóteses que explica a quebra de dormência de tubérculos de
batata (Solanum tuberosum) é o balanço entre inibidores (ácido abscísico) e
promotores (citocininas, auxinas,
giberelinas e etileno) de crescimento
(Suttle, 2004), sendo que a brotação
ocorre quando há um balanço favorável
dos promotores em relação aos
inibidores (Leclerc et al., 1995; Suttle,
2004). Este balanço entre inibidores e
promotores pode ser alterado através da
aplicação de produtos químicos que resultam na quebra de dormência, possibilitando uma rápida utilização da batata-semente em programas de multiplicação ou em procedimentos de testes
pós-colheita para detecção de doenças
138
(Coleman, 1987; Suttle, 2004). No entanto, a provável ocorrência de múltiplos reguladores de crescimento no controle de dormência de tubérculos dificulta o seu entendimento (Coleman et
al., 2001).
O etileno é um hormônio vegetal e
potente regulador de crescimento, com
papel ainda não totalmente esclarecido
na dormência de tubérculos de batata.
É possível que o tratamento com etileno
estimule a síntese de giberelinas e o
surgimento de enzimas requeridas para
o rompimento de dormência (Allam et
al., 1994). O etileno exerce um duplo efeito em tubérculos de batata diminuindo
marcadamente a duração da dormência,
mas inibe a elongação dos brotos durante
a exposição ao tratamento (Rylski et al.,
1974). Dependendo da concentração e
duração da exposição, o etileno exógeno
pode aumentar ou diminuir a brotação dos
tubérculos (Suttle, 1998).
O ethephon (ácido 2-cloroetil
fosfônico) quando aplicado na forma
aquosa sofre hidrólise espontânea liberando etileno (Reid, 1992). Quando aplicado em determinadas fases de desenvolvimento da planta, pode alterar os
processos fisiológicos e bioquímicos
(Seibert, 1997). A aspersão com 2% (v/
v) de ethephon prolongou a dormência
de tubérculos (Sukhova et al., 1993). O
ethephon na dose de 842 mg L-1 por 5 s
aumentou o número de hastes, flores e
plantas por parcela, que resultaram em
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Efeito do CO2 e etileno no período de dormência de minitubérculos de batata cv. Macaca
maior rendimento da cultivar Marijke,
na ordem de 33% em relação ao ácido
giberélico e 52% em relação ao
bissulfureto de carbono (Ayub et al.,
1999). O carbureto de cálcio quando em
contato com água ou até mesmo com a
umidade do ar atmosférico libera
acetileno. O acetileno é análogo ao
etileno e quando empregado em concentrações maiores do que o etileno pode
ocasionar efeito fisiológico similar nos
tecidos vegetais (Martins & Pereira,
1989). O 1-metilciclopropeno (1-MCP)
age ligando-se irreversivelmente ao receptor do etileno localizado na membrana celular, inibindo o estímulo fisiológico e as rotas de transdução de sinais
(Sisler, 1991), impedindo a ação do
etileno.
O abafamento temporário usualmente promove a brotação de tubérculos de
batata devido ao acúmulo de CO2, podendo ser usado conjuntamente com
outros promotores de brotação para
potencializar o efeito. O uso de ácido
giberélico associado ao abafamento por
72 h promoveu a quebra de dormência
de 95% dos tubérculos, independente da
concentração utilizada (Bisognin et al.,
1996). Portanto, existem evidências do
envolvimento do etileno e CO2 em alterar o período de dormência de tubérculos de batata.
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito do CO2 e etileno no período
de dormência de minitubérculos de batata da cultivar Macaca.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
telado e laboratórios de pós-colheita da
UFSM. Plântulas de batata da cultivar
Macaca foram micropropagadas in vitro,
adaptadas e transplantadas em canteiros
de telado coberto com polietileno durante a safra de 2001 (fotoperíodo e temperatura crescentes) e safrinha de 2003
(fotoperíodo e temperatura decrescentes). Aproximadamente 60 dias após o
transplante, os minitubérculos foram
colhidos, levados para o laboratório e
classificados. Os minitubérculos com
diâmetro entre 10 e 23 mm foram imediatamente tratados.
Os tratamentos foram abafamento
com etileno na concentração de 1000
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
mL L-1 por 72 h; CO2 na concentração
de 20% por 72 h; carbureto de cálcio na
concentração de 200 g m-3 por 72 h; e 1MCP (somente na safrinha) na concentração de 1 mL L-1 por 24 h; e imersão
em solução de ethephon (ácido 2cloroetil fosfônico) na dose de 840 mg
L-1 por 5 s. A testemunha não recebeu
nenhum tratamento. Durante o período
de aplicação dos tratamentos, as concentrações de etileno e CO2 foram determinadas e corrigidas diariamente de acordo com o respectivo tratamento.
Minicâmaras, hermeticamente fechadas
de 5 L de volume, foram utilizadas para
aplicar os tratamentos de abafamento.
Colocou-se 1 g de carbureto de cálcio
em placa de Petri pequena contendo 3
mL de água destilada para liberar
acetileno dentro da minicâmara, que foi
imediatamente fechada. A fonte de 1MCP foi o produto comercial
AgrofreshÒ (0,14%). O produto comercial foi solubilizado em 25 mL de água
a 60°C em um recipiente hermético e,
posteriormente, a solução foi transferida
para uma placa de Petri no interior da
minicâmara. Durante a aplicação dos
tratamentos e o período de
armazenamento (avaliação), os
minitubérculos permaneceram em câmara climatizada na temperatura de
20ºC e umidade relativa de aproximadamente 85%.
Semanalmente foi determinada a
produção de etileno, por cromatografia
gasosa, e percentagem de CO2 contida
na atmosfera do recipiente, através de
analisador de gases, conforme sugerido
por Brackmann et al. (2002). Foram realizadas contagens quinzenais do número de brotos por tubérculo (com pelo
menos 2 mm de comprimento), percentagem de tubérculos brotados (com pelo
menos um broto) e calculou-se as áreas
abaixo da curva de progressão (Bisognin
et al., 2002).
O delineamento experimental foi um
fatorial (safras x tratamentos) no experimento inteiramente casualizado, com
quatro repetições de 15 minitubérculos.
Os dados foram submetidos à análise da
variância e as médias comparadas pelo
teste de Duncan a 5% de probabilidade
de erro, com o auxílio do software científico – NTIA (Embrapa, 1997). Para a
análise estatística, os dados de contagem
foram transformados para raiz quadrada de (x + 0,5) e os de percentagem para
arco seno de raiz quadrada de (x/100).
O tratamento 1-MCP na safra foi considerado como perdido, sendo, portanto,
utilizado o quadro de análise de
variância com os efeitos parciais dos
fatores principais e da interação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o armazenamento, a respiração dos minitubérculos produzidos na
safra foi relativamente constante até 42
dias após a aplicação dos tratamentos.
A partir deste período, a taxa respiratória dos minitubérculos aumentou independente do tratamento, porém o tratamento com ethephon resultou numa redução a partir dos 49 dias de
armazenamento (Figura 1A). O etileno,
na mesma safra, apresentou dois picos
em todos os tratamentos, um aos 21 dias
e outro no final do armazenamento. Com
exceção do tratamento com ethephon, a
produção de etileno não foi suficiente
para ser detectada entre 28 e 49 dias de
armazenamento (Figura 1C).
A atividade respiratória dos
minitubérculos produzidos durante a
safrinha foi reduzindo até 56 dias de
armazenamento, seguido de estabilização, com exceção da testemunha, que
aumentou após 70 dias de
armazenamento (Figura 1B). Os
minitubérculos tratados com ethephon
produziram mais etileno do que os demais, durante todo o período de
armazenamento, apresentando um pico
aos 56 dias (Figura 1D). Os demais
minitubérculos praticamente não produziram etileno a partir dos 28 dias de
armazenamento, com exceção dos tratados com etileno, que aumentou a produção a partir dos 70 dias de
armazenamento.
A taxa respiratória, principalmente
dos minitubérculos produzidos na
safrinha, foi alta na colheita caindo até
56 dias após o armazenamento. Diferentemente, os minitubérculos produzidos
durante a safra apresentaram um aumento da taxa respiratória a partir dos 42
dias de armazenamento, podendo ser
resultado do início da brotação, como
foi observado por Wiltshire & Cobb
(1996). As taxas de produção de etileno
139
DA Bisognin et al.
Figura 1. Evolução da respiração (mL CO2 kg-1 h-1) e do etileno (µL C2H4 kg-1 h-1) em minitubérculos de batata da cultivar Macaca produzidos na safra (A e C) e safrinha (B e D). (Evolution of respiration (mL CO2 kg-1 h-1) and of ethylene (µL C2H4 kg-1 h-1) on minituber of potato,
cv. Macaca produced onfirst season (A and C) and second season (B and D)) Santa Maria, UFSM, 2003.
Barra vertical indica o desvio padrão médio.
também aumentam no momento do início da brotação dos tubérculos (Suttle,
2003), o que foi verificado nos
minitubérculos produzidos durante a
safra no final do período de
armazenamento. Como já verificado em
outros trabalhos (Rylski et al., 1974;
Suttle, 2003), os minitubérculos, principalmente da safrinha, produziram baixas concentrações de etileno durante o
armazenamento.
Houve interação significativa entre
safras e tratamentos somente para número de brotos por minitubérculo na
avaliação de final de armazenamento
(Tabelas 1 e 2). Os minitubérculos produzidos durante a safra apresentaram,
em média, uma maior área abaixo da
curva de progressão do número de brotos e da percentagem de minitubérculos
brotados durante o período de
armazenamento (Tabela 1). Os tratamentos com CO2, etileno, a fonte de
140
etileno (ethephon) e carbureto de cálcio
que libera acetileno (um análogo à ação
do etileno) não promoveram o aumento
do número de brotos por minitubérculo
ou da percentagem de minitubérculos
brotados em relação à testemunha. Discordando
de
Suttle
(2003),
minitubérculos tratados com 1-MCP
(inibidor da ação de etileno) apresentaram menor progressão do número de
brotos por minitubérculo e de percentagem de minitubérculos brotados, atuando como um anti-brotante de
minitubérculos de batata cv. Macaca.
Aos 56 dias (safra) e 84 dias
(safrinha) após a aplicação dos tratamentos, mesmo no final do período de
armazenamento, os tratamentos com
CO2, etileno, ethephon ou carbureto de
cálcio não promoveram aumento do número de brotos por minitubérculo e nem
da percentagem de minitubérculos brotados em relação à testemunha (Tabela 2).
A aplicação de 1-MCP em
minitubérculos produzidos na safrinha
reduziu o número de brotos por
minitubérculo em relação aos demais
minitubérculos tratados, discordando de
Suttle (2003). Praticamente 100% dos
minitubérculos produzidos durante a safra estavam brotados após 56 dias de
armazenamento. Após 84 dias de
armazenamento, não mais de 87% dos
minitubérculos produzidos durante a
safrinha estavam brotados, sendo que os
minitubérculos tratados com 1-MCP apresentaram a menor percentagem de
brotação (37%). Considerando que a quebra de dormência é normalmente definida como o número de dias desde a colheita até 80% dos tubérculos apresentarem
pelo menos um broto, os minitubérculos
de batata cv. Macaca, considerada de curta dormência, tratados com 1-MCP, ainda se apresentavam dormentes mesmo
após 84 dias de armazenamento.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Efeito do CO2 e etileno no período de dormência de minitubérculos de batata cv. Macaca
Não se observou encurtamento de
dormência de minitubérculos de batata
tratados com CO2 e etileno. Reust &
Gugerli (1984) verificaram que o enriquecimento da atmosfera com CO2 promoveu o encurtamento da dormência
dos tubérculos. De acordo com Rylski
et al. (1974) e Allam et al. (1994), o
etileno pode provocar um rápido incremento da atividade respiratória e acelerar a brotação de tubérculos de batata.
Se o etileno é um fator responsável por
reduzir o período de dormência, aumento na produção antes do inicio da
brotação deve ser esperado, o que foi
observado nos minitubérculos produzidos na safra em todos os tratamentos
(Figura 1C), aumento este também observado por Suttle (2003). Além disto,
aplicação de 1-MCP reduziu tanto o
número de brotos por minitubérculos
quanto a percentagem de minitubérculos
brotados, evidenciando o envolvimento
do etileno no processo de quebra de
dormência. O fato de que a aplicação
de etileno não reduziu o período de
dormência pode ser explicado pelo fato
de que os minitubérculos não tratados
já continham etileno endógeno suficiente. Os resultados conflitantes obtidos
com a aplicação de etileno foram
parcialmente esclarecidos por Rylski et
al. (1974). Estes autores demonstraram
que o etileno, em exposições curtas de
até 72 h, promove, e a aplicação contínua inibe a brotação dos tubérculos. Portanto, esses resultados sugerem que o
etileno está envolvido na quebra de
dormência ou associado ao crescimento inicial dos brotos. Como já comprovado para as giberelinas, o etileno altera a permeabilidade das membranas e
regula a mobilização de reservas, através de trocas na compartimentalização
intracelular (Coleman, 1987), necessária para o controle da utilização dos produtos armazenados e a manutenção da
dormência (Wiltshire & Cobb, 1996).
Além do etileno, existe a possibilidade do envolvimento de outros fatores
necessários para a máxima resposta de
quebra de dormência de tubérculos de
batata (Rylski et al., 1974). O final do
período de dormência também coincide com o aumento das giberelinas
endógenas (Ittersum & Scholte, 1993),
do ácido indol-3-acético e de citocininas
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Área abaixo da curva de progressão do número de brotos e da percentagem de
minitubérculos brotados de batata da cultivar Macaca em função do CO2 e etileno na safra
(56 dias de avaliação) e safrinha (84 dias de avaliação) (Área under the progression curve of
number of sprouts and percentage of sprouted minitubers of the potato cv. Macaca, depending
on CO2 and ethilene on the firsd season (56 days of evaluation) and second season (84 days
of evaluation)). Santa Maria, UFSM, 2003.
1
Ethephon é uma fonte, carbureto de cálcio libera acetileno que é um análogo e 1-MCP é um
inibidor da ação do etileno; 2Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de
probabilidade de erro; 3Valores médios desconsiderando o tratamento com 1-MCP, que foi
avaliado apenas na safrinha.
— Tratamento não avaliado.
Tabela 2. Número de brotos e percentagem de minitubérculos brotados de batata da cultivar
Macaca em função do CO2 e etileno aos 56 dias (safra) e 84 dias (safrinha) após a aplicação
dos tratamentos. (Sprouts number and percentage of sprouted minitubers of cv Macaca,
depending on CO2 and ethilene on the first season (56 days) and second season (84 days)
after treatment). Santa Maria, UFSM, 2003.
1
Ethephon é uma fonte, carbureto de cálcio libera acetileno que é um análogo e 1-MCP é um
inibidor da ação do etileno; 2Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de
probabilidade de erro. 3Valores médios desconsiderando o tratamento com 1-MCP, que foi
avaliado apenas na safrinha.
— Tratamento não avaliado.
(Sukhova et al., 1993), que são promotores do crescimento. O encurtamento
da dormência também pode estar associado ao aumento da concentração de
CO2 e da temperatura e a diminuição da
concentração de oxigênio nos tecidos
(Scholte, 1990). Aparentemente, a síntese e a ação do ácido abscísico são essenciais para o estabelecimento e a manutenção da dormência de tubérculos de
batata (Suttle & Hulstrand, 1994).
Apenas os minitubérculos produzidos durante a safra apresentaram um
aumento da taxa respiratória durante o
período de armazenamento e antecedeu
o segundo pico de concentração de
etileno. Estes aumentos foram claramente relacionados com a brotação dos
minitubérculos, pois tanto a progressão
do número de brotos quanto da percentagem de minitubérculos brotados foram
maiores na safra do que na safrinha.
141
DA Bisognin et al.
Além disto, os minitubérculos produzidos durante a safra tinham maior número de brotos e percentagem de
minitubérculos brotados aos 56 dias
comparados com os da safrinha aos 84
dias de armazenamento. Essas diferenças estão relacionadas com o nível de
dormência dos minitubérculos, que é
muito afetado pela temperatura no final
do período de crescimento. Tubérculos
produzidos em altas temperaturas, como
é o caso da safra, apresentam menor
dormência do que os produzidos em
baixas temperaturas (Beukema & Van
Der Zaag, 1979). Independente do nível de dormência, o tratamento dos
minitubérculos com CO2 e etileno não
promoveram o encurtamento de
dormência de minitubérculos de batata
cv. Macaca, mas o prolongamento da
dormência ocasionado pelo tratamento
com 1-MCP (inibidor da ação do
etileno) confirma que o etileno afeta a
promoção da quebra de dormência ou
no crescimento inicial dos brotos.
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
CARDOSO AII. 2007. Seleção recorrente para produtividade e qualidade de frutos em abobrinha braquítica. Horticultura Brasileira 25: 143-148.
Seleção recorrente para produtividade e qualidade de frutos em abobrinha braquítica
Antonio Ismael Inácio Cardoso
UNESP, FCA, Depto. Produção Vegetal, Horticultura, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Considerando-se que abobrinha (Cucurbita moschata) geralmente não apresenta perda de vigor pela endogamia, a seleção recorrente pode ser um método adequado para o melhoramento desta espécie. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da seleção recorrente em abobrinha, cultivar Piramoita, visando aumento de produtividade e melhoria da qualidade de frutos. Foram realizados três
ciclos de seleção recorrente a partir da cultivar Piramoita (população P0), com avaliação e seleção de progênies S1. Em todos os ciclos de seleção, os experimentos foram conduzidos em blocos ao
acaso, com parcelas de cinco plantas, tendo a cultivar Piramoita como
testemunha. O espaçamento foi de 2,0 x 1,0 m. Após cada ciclo de
seleção, as sementes remanescentes das progênies selecionadas foram empregadas no ciclo seguinte de recombinação, cada progênie
contribuindo em média com dez plantas tomadas ao acaso. As quatro
populações (P0, PI, PII e PIII) foram avaliadas em blocos ao acaso,
com oito repetições de cinco plantas por parcela. Foram avaliados
número e massa total e comercial (retos, com pescoço comprido e
sem defeitos aparentes) de frutos imaturos por planta e a proporção de
frutos comerciais. Foram realizadas as análises de variância e regressão. Foram observados aumentos de produção lineares significativos
ao longo dos ciclos de seleção. Na população PIII, os números de
frutos total (17) e comercial (11) por planta, assim como a massa total
(3,7) e comercial (2,6 kg planta-1), superaram a população inicial em
32, 63, 24 e 57%, respectivamente. Essas diferenças correspondem a
um aumento superior a 11 t ha-1 ou mais de 36.000 frutos ha-1 em
apenas três ciclos de seleção recorrente.
Recurrent selection for fruit yield and quality in braquitic
squash
Palavras-chave: Cucurbita moschata, melhoramento genético, produtividade, cucurbitáceas.
Since squash (Cucurbita moschata) usually does not have
inbreeding depression, recurrent selection may be an adequate
method for squash breeding. In this study the recurrent selection
efficiency was evaluated in squash, cultivar Piramoita, aiming to
improving fruit yield and quality. Three generations were produced
out of cultivar Piramoita (population P0), with evaluation and
selection of S1 progenies. In all selection cycles, experiments were
set up in randomized blocks design, with five plants per plot, with
cultivar Piramoita as control. Spacing was 2.0 x 1.0 m. After each
cycle, the remaining seeds of selected progenies were used in the
following cycle of recombination, and each progeny was represented,
on average, by ten random plants. The four populations (P0, PI, PII
and PIII) were evaluated in randomized blocks design, with eight
replicates and five-plant plots. Number and weight of total and
commercial (straight fruits, with long neck and without visible
defects) fruits per plant and the rate of commercial fruits were
evaluated. Variance and regression analysis was performed and
indicated a linear increase in yield due to selection cycles. In
population PIII, total (17) and commercial (11) fruit number plant-1,
and total (3.7) and commercial (2.6 kg) weight of fruits plant-1,
overcame initial population in 32; 63; 24, and 57%, respectively.
These differences correspond to an increase larger than 11 t ha-1 or
more than 36000 fruits ha-1 in only three recurrent selection cycles.
Keywords: Cucurbita moschata, plant breeding, yield, cucurbits.
(Recebido para publicação em 8 de julho de 2005; aceito em 2 de maio de 2007)
N
o melhoramento genético das espécies do gênero Cucurbita é possível a utilização da autofecundação,
pois, apesar das plantas serem alógamas,
praticamente não há perda de vigor devido à endogamia (Allard, 1971;
Whitaker & Robinson, 1986; Robinson,
1999). Por este motivo, a
autofecundação tem sido utilizada para
obtenção de linhagens em programas
visando o desenvolvimento de híbridos
F1 (Cardoso, 2001; Maluf, 2001).
O método genealógico é o mais
freqüentemente utilizado para obtenção
de parentais de híbridos em
Cucurbitáceas (Robinson, 1999). Apesar dos bons resultados a curto prazo, a
grande desvantagem deste método é a
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
fixação de genes muito prematuramente, muitos deles com pequeno efeito individual e insensíveis à seleção praticada. A evidência disponível indica que a
seleção durante a autofecundação não é
particularmente efetiva no aumento da
freqüência dos genes de pequeno efeito
desejáveis, especialmente os genes envolvidos no controle de características
com herança quantitativa (Allard, 1971).
Ao
contrário
do
método
genealógico, a seleção recorrente é uma
metodologia que permite obter ganhos
em características com herança quantitativa, resultando em uma nova população superior à original, tanto em média
como no desempenho dos melhores indivíduos (Fehr, 1987). Denomina-se
seleção recorrente todo o processo
cíclico de melhoramento. Na seleção
recorrente intrapopulacional melhora-se
o desempenho das populações de forma contínua e progressiva através do
aumento das freqüências dos alelos favoráveis dos caracteres sob seleção. A
variabilidade genética deve ser mantida
em níveis adequados para permitir o
melhoramento nos ciclos subsequentes.
Portanto, este esquema seletivo é utilizado para programas de melhoramento
delineados para médio e longo prazos
(Souza Jr, 2001).
Existem diversos relatos demonstrando a eficiência da seleção recorrente no melhoramento genético de espécies alógamas. Entretanto, são poucos
143
AII Cardoso
os relatos de utilização de seleção recorrente em Cucurbitáceas, predominando trabalhos com pepino (Cucumis
sativus L.). Nesta espécie, seleção recorrente com progênies de meios-irmãos
e S1 tem sido utilizada para aumento de
produtividade (Smith et al., 1978;
Lertrat & Lower, 1983, 1984; Wehner,
1989; Paiva, 1996; Cramer & Wehner,
1998a, b). Wehner & Cramer (1996a)
reportaram aumento de 37% em pepino
após dez ciclos de seleção recorrente.
Em outro trabalho, Wehner & Cramer
(1996b) obtiveram aumento de produtividade até 54% em uma população de
pepino após dez ciclos de seleção recorrente baseada em progênies de meiosirmãos, sendo os ganhos muito superiores quando a avaliação ocorreu no mesmo período de seleção (primavera) em
comparação com outro período (verão).
Strefeler & Wehner (1986) demonstraram que os ganhos com a seleção recorrente são maiores em populações com
base genética mais ampla. Isto foi observado por Niewnhuis & Lower (1988),
que obtiveram ganhos de produtividade
variando de 35 a 64% em três populações de pepino após três ciclos de seleção recorrente baseada em progênies S1,
sendo maiores os ganhos com as populações com base genética mais ampla.
No Brasil, há poucas cultivares de
C. moschata que se destinam ao consumo de frutos imaturos, sendo a cultivar
Menina Brasileira a mais tradicional. No
entanto, esta é uma cultivar tardia e com
ramas longas, característica que obriga
o seu cultivo com espaçamentos mais
amplos. A utilização de cultivares
braquíticas tem sido comum no melhoramento genético desta espécie desde o
lançamento da cultivar Piramoita, pois
possibilita o aumento do potencial produtivo por área. Nos últimos anos, têm
sido lançados os primeiros híbridos nacionais de abóbora e abobrinha
braquíticos em C. moschata.
Como a cultivar Piramoita é de
polinização aberta, deve conter grande
variabilidade genética para características relacionadas à produtividade e qualidade de frutos. Portanto, em tese é
possível obter, a partir desta cultivar,
uma nova cultivar com maior potencial
produtivo e mais uniforme. Considerando-se que as características relacionadas à produção geralmente são de baixa
144
herdabilidade, a seleção recorrente pode
ser uma metodologia adequada para se
obter ganhos significativos e consistentes ao longo das gerações.
Fundamentado nestes aspectos, foram realizados experimentos com o objetivo de avaliar a eficiência da seleção
recorrente por três ciclos em abobrinha,
cultivar Piramoita, visando aumento de
produtividade e melhoria da qualidade
de frutos.
MATERIAL E MÉTODOS
Todos os experimentos foram conduzidos em campo experimental da
UNESP, no município de São Manuel
(SP) (22°44’ S, 48°34’ W, 750 m de altitude), entre janeiro de 1999 e novembro de 2003. O clima local é do tipo
mesotérmico, Cwa, sub-tropical úmido,
com presença de estiagem no período
de inverno (Espíndola et al., 1973).
Durante os quase cinco anos de realização de experimentos, as temperaturas
máximas médias mensais variaram de
21,2oC (junho, 1999) a 31,6oC (outubro,
2002) e, as mínimas médias mensais, de
11,1oC (julho, 2000) a 20,3oC (fevereiro, 2001).
Em todos os ciclos de seleção, os
experimentos foram conduzidos em blocos ao acaso, com parcelas de cinco
plantas, tendo a cultivar Piramoita como
testemunha. O número de repetições foi
variável, sendo indicado em cada ciclo.
O espaçamento utilizado foi de 2,0 x 1,0
m. Após cada ciclo de seleção, as sementes remanescentes das progênies
selecionadas foram empregadas no ciclo seguinte de recombinação. Nos ciclos de recombinação, cada progênie
selecionada contribuiu em média com
dez plantas tomadas ao acaso na constituição da população seguinte, formada
pela mistura de sementes de todos os
frutos dessas plantas.
Primeiro ciclo de seleção recorrente
A população inicialmente utilizada
foi a cultivar Piramoita. A partir da
autofecundação controlada de plantas
desta cultivar (janeiro a junho, 1999),
foram obtidas 74 progênies S1. As progênies foram divididas em seis experimentos, visando a estratificação da seleção. Os quatro primeiros experimentos tiveram três repetições e, os dois úl-
timos, apenas duas, devido ao pequeno
número de mudas obtidas em algumas
progênies. Os experimentos foram conduzidos de julho a novembro de 1999.
Foram selecionadas as quatorze progênies que apresentaram maior produção
total de frutos por planta e somente plantas braquíticas. As plantas componentes do novo ciclo de recombinação foram instaladas em campo isolado, onde
a polinização foi livre, realizada por insetos, obtendo-se após a colheita dos
frutos e mistura das sementes a população melhorada de primeiro ciclo de seleção recorrente (PI). Esta etapa foi realizada de fevereiro a maio de 2000.
Segundo ciclo de seleção recorrente
A partir da autofecundação controlada de plantas da população PI (maio a
outubro, 2000), foram obtidas 60 progênies S1, que foram divididas em cinco experimentos, com três repetições
cada, conduzidos simultaneamente, de
novembro de 2000 a fevereiro de 2001.
Foram selecionadas as dez progênies
que apresentaram maior número de frutos considerados comerciais (retos, pescoço comprido e sem defeitos aparentes). As plantas componentes do novo
ciclo de recombinação foram instaladas
em ambiente protegido. As polinizações
foram realizadas manualmente, procurando-se obter frutos de todos os cruzamentos possíveis entre as dez progênies.
Com a colheita dos frutos e mistura das
sementes, obteve-se a população melhorada de segundo ciclo de seleção recorrente (PII). Esta etapa foi realizada de
julho a novembro de 2001.
Terceiro ciclo de seleção recorrente
A partir da autofecundação controlada de plantas da população PII (novembro de 2001 a março de 2002), foram obtidas 77 progênies S1, que foram
divididas em sete experimentos, com
três repetições cada, conduzidos simultaneamente, de julho a novembro de
2002. Foram selecionadas as doze progênies que apresentaram maior número
de frutos considerados comerciais (retos, pescoço comprido e sem defeitos
aparentes). Como no ciclo anterior, as
plantas componentes do novo ciclo de
recombinação foram instaladas em ambiente protegido. As polinizações foram
realizadas manualmente, procurando-se
obter frutos de todos os cruzamentos
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Seleção recorrente para produtividade e qualidade de frutos em abobrinha braquítica
Tabela 1. Médias para número e produção total e comercial de frutos por planta e porcentagem de frutos comerciais de abobrinha, cultivar
Piramoita e progênies avaliadas e selecionadas em cada ciclo de seleção recorrente. (Means for total and commercial fruit number and yield
of zucchini, cultivar Piramoita and selected progenies), São Manuel, UNESP, 1999-2001.
1
Frutos retos, com pescoço comprido e sem defeitos aparentes (Straight fruits, with long neck and without visible defects); 2 FC = percentagem de frutos (número) comerciais (percent of number of commercial fruits); 3 O número entre parênteses indica o número de progênies
(Numbers between brackets indicate the number of progenies).
possíveis entre as doze progênies. Com
a colheita dos frutos e mistura das sementes, obteve-se a população melhorada de terceiro ciclo de seleção recorrente (PIII). Esta etapa foi realizada de
janeiro a junho de 2003.
Comparação das populações obtidas nos três ciclos de seleção recorrente
As quatro populações (P0, PI, PII,
PIII) foram avaliadas em delineamento
em blocos ao acaso, com oito repetições
e cinco plantas por parcela. O
espaçamento foi de 2,0 x 1,0 m. A adubação de plantio foi calculada para cada
m2 de canteiro, sendo utilizados 4 kg de
composto orgânico Biomixâ, 200 g de
adubo 4-14-8 e 20 g de nitrocálcio. A
cada sete dias, realizou-se uma adubação em cobertura com 5 g de sulfato de
amônia por planta. O experimento foi
irrigado por aspersão. Sempre que necessário, foi realizado o controle de
plantas daninhas com capinas manuais.
O controle fitossanitário foi realizado
com pulverização de produtos específicos, principalmente para o controle da
broca-dos-frutos, pulgões e oídio.
A semeadura foi realizada em 24 de
julho, com transplante em 14 de agosto
e colheitas de 30 de setembro a 11 de
novembro de 2003. Os frutos foram colhidos com aproximadamente 20 a 25
cm de comprimento, sendo realizadas
três colheitas por semana (mesmo critério adotado nos três ciclos de seleção
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
recorrente já descritos). Neste período as
temperaturas médias mensais foram crescentes, com média mensal da mínima de
12,0oC em agosto e média mensal da
máxima de 27,7oC em outubro de 2003.
Foram avaliados número e massa
total e comercial de frutos imaturos (retos, com pescoço comprido e sem defeitos aparentes) por planta e, a partir
destes, foi obtida a proporção de frutos
comerciais. Após realizar-se a análise de
variância, foi realizada análise de regressão visando estimar o ganho obtido com
cada ciclo de seleção recorrente para
aquelas características onde se obteve
valor do teste F significativo para tratamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação das progênies nos três
ciclos de seleção recorrente
Ao se comparar a média das 74 progênies avaliadas no primeiro ciclo, observou-se que os valores para todas as
características foram sempre inferiores
aos da cultivar Piramoita, da qual foram obtidas (Tabela 1), com reduções
médias por volta de 10%. Embora não
seja possível afirmar, essa redução pode
ser um indício de perda de vigor por
endogamia. Normalmente os autores
consideram que, em cucurbitáceas, não
acontece depressão por endogamia
(Allard, 1971; Whitaker & Robinson,
1986; Robinson & Decker-Walters,
1999). Entretanto, Borghi et al. (1973) e
Chekalina (1976) observaram-na para
várias características em Cucurbita pepo
e C. maxima. Também há relatos de redução na produção de frutos e na viabilidade do pólen em função da endogamia
em C. texana (Johannsson et al., 1998) e
redução na qualidade do pólen em C.
pepo (Stephenson et al., 2001).
Para a cultivar Piramoita, Gadum et
al. (2002) observaram redução da massa de frutos imaturos por planta após
quatro gerações sucessivas de
autofecundação, concluindo haver depressão por endogamia. Cardoso (2004)
avaliou a produção de frutos maduros e
de sementes nesta mesma cultivar em
populações com uma a quatro gerações
sucessivas de autofecundação e concluiu
que, com a endogamia, houve redução
na massa e no comprimento total dos
frutos, principalmente do pescoço. Portanto, esta parece ser a maior influência
da endogamia nesta cultivar: redução no
comprimento do pescoço, afetando o
comprimento final e a massa do fruto.
Isto explica o aparecimento de grande
número de progênies com frutos que
apresentavam pescoço mais curto que o
padrão da cultivar Piramoita nestes experimentos. A dificuldade foi avaliá-los
e diferenciá-los quando ainda no estádio
imaturo, abobrinha. Quando maduros, a
alteração é muito mais perceptível.
145
AII Cardoso
Figura 1. Número total (NrFrTot) e comercial (NrFrCom) de frutos planta-1 após diferentes
ciclos de seleção recorrente em abobrinha cultivar Piramoita - P0 (Total – NrFrTot, and
commercial – NrFrCom, number of fruits after different number of recurrent selection cycles
in squash, cultivar Piramoita – P0). São Manuel, UNESP, 2003.
Figura 2. Produção total (ProdTot) e comercial (ProdCom) de frutos planta-1 após diferentes
ciclos de seleção recorrente em abobrinha, cultivar Piramoita - P0 (Total – ProdTot, and
commercial – ProdCom, fruit yield plant-1 after different number of recurrent selection cycles
in squash, cultivar Piramoita – P0). São Manuel, UNESP, 2003.
Apesar desta provável endogamia,
foi possível selecionar 14 progênies
numericamente superiores à cultivar
Piramoita para número de frutos total
por planta. Nenhuma progênie foi estatisticamente superior à cultivar
Piramoita para a característica. As médias de produção das progênies
selecionadas foram superiores à testemunha (de 10 a 21%), exceto para a
porcentagem de frutos comerciais (Tabela 1). Este resultado mostra que, neste primeiro ciclo, em que a ênfase foi
dada ao número total de frutos por planta, o rigor na seleção de progênies para
qualidade de frutos foi insuficiente. Nos
ciclos seguintes de seleção, alterou-se o
146
critério de classificação de frutos comerciais, aumentando a exigência e deixando de considerar os frutos muito curtos
como comerciais.
No segundo ciclo de seleção os valores da média de todas as progênies
avaliadas foram novamente inferiores
aos da cultivar Piramoita (Tabela 1).
Entretanto, as médias das dez progênies
selecionadas foram superiores à testemunha (de 15 a 21%) para todas as características avaliadas, exceto massa
total de frutos (Tabela 1). Isto é reflexo
da ênfase em qualidade de frutos na seleção das progênies neste ciclo. Todas
as progênies selecionadas neste ciclo
foram superiores à cultivar Piramoita
para porcentagem de frutos comerciais,
o que não havia ocorrido no ciclo anterior.
Já no terceiro ciclo, notou-se que as
médias das doze progênies selecionadas
foram superiores à testemunha para todas as características (de 13 a 34%).
Porém, ao considerar-se a média de todas as progênies avaliadas, a maior diferença em favor da testemunha foi de
apenas 9% para produção total, em massa. Para as demais características, as diferenças praticamente inexistem (Tabela 1). Estes resultados podem ser considerados já como reflexo da seleção recorrente, pois, com este método de melhoramento, melhora-se a população,
bem como o desempenho médio das linhagens obtidas (Allard, 1971; Fehr,
1987).
Avaliação das populações obtidas
por seleção recorrente
Foram obtidos aumentos lineares
nos números total e comercial de frutos
por planta (Figura 1). A cada ciclo de
seleção obteve-se um incremento médio de 1,5 e 2,1 frutos total e comercial
por planta, respectivamente. Este resultado é bastante expressivo, pois obtevese aumento de aproximadamente 20%
de frutos comerciais a cada ciclo de seleção recorrente. Também foram obtidos aumentos lineares para a produção,
em massa, de frutos por planta (Figura
2). O aumento na percentagem de frutos comerciais também foi linear (Figura 3), com incremento médio de 5,7% a
cada ciclo de seleção.
Considerando-se a diferença de produção comercial entre a população PIII
e a população original (P0), foram obtidos aumentos de mais de 11 t ha-1 ou
mais de 36.000 frutos ha-1 em apenas três
ciclos de seleção recorrente. São ganhos altamente expressivos. Entretanto, deve-se destacar que estes valores foram obtidos nas mesmas condições de
cultivo em que foram realizadas as seleções de progênies. Em outras épocas
e/ou regiões estes ganhos comparativos
podem ser diferentes, conforme observado por Wehner & Cramer (1996a) em
pepino.
Para número de frutos total e comercial e produção total e comercial, em
massa, foram obtidos aumentos com a
população PIII, comparativamente à
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Seleção recorrente para produtividade e qualidade de frutos em abobrinha braquítica
população inicial, de 32; 63; 24 e 57%,
respectivamente. Estes valores são semelhantes aos relatados por Niewnhuis
& Lower (1988) que obtiveram ganhos
de produtividade variando de 35 a 64%
em três diferentes populações de pepino após três ciclos de seleção recorrente baseada em progênies S1, sendo maiores os ganhos com as populações com
base genética mais ampla. A população
inicial utilizada neste estudo, a cultivar
Piramoita, foi resultado de um programa de melhoramento que se iniciou com
o cruzamento de cultivares americanas
pertencentes a duas espécies: Cucurbita
pepo, cultivar Yankee Hybrid, e C.
moschata, do grupo Butternut, com
retrocruzamentos para esta segunda espécie, porém utilizando a cultivar Menina Brasileira, de origem brasileira
(Costa, 1974). Portanto, é de se esperar
que apresente grande variabilidade genética, favorecendo a obtenção de elevados ganhos nos primeiros ciclos de
seleção recorrente.
Os resultados obtidos confirmam que
a seleção recorrente é uma metodologia
que permite obter ganhos em características com herança quantitativa, resultando
em uma nova população superior à original (Allard, 1971; Fehr, 1987). Na seleção recorrente intrapopulacional melhora-se o desempenho das populações de
forma contínua e progressiva, através do
aumento das freqüências dos alelos favoráveis dos caracteres sob seleção. A variabilidade genética deve ser mantida em níveis adequados para permitir o melhoramento nos ciclos subsequentes (Souza
Junior, 2001). Neste estudo, cada população resultante sempre apresentou variabilidade suficiente para permitir novos ganhos para as características sob seleção.
Concluiu-se, portanto, que a seleção recorrente foi eficiente para melhorar a abobrinha, cultivar Piramoita, tanto para produção total como, principalmente, para
produção comercial.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece à FAPESP pela
concessão do auxílio à pesquisa.
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Figura 3. Percentagem de frutos comerciais (% FrCom) nas populações obtidas após diferentes ciclos de seleção recorrente em abobrinha, cultivar Piramoita - P0 (Percentage of
commercial fruits - % FRCom, after different number of recurrent selection cycles in squash,
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poda visando ao consumo in natura. Horticultura Brasileira 25: 149-153.
Produção de tomate italiano (saladete) sob diferentes densidades de
plantio e sistemas de poda visando ao consumo in natura1
Adriana Q Machado2; Marco Antônio R Alvarenga3; Carlos Eduardo T Florentino3
2
Univag Centro Universitário, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, 78118-000 Várzea Grande-MT; 3UFLA, Depto.Agricultura, C
Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Verificou-se o efeito de três espaçamentos entre plantas e três
sistemas de poda sobre a produção de frutos de tomateiro do tipo
italiano (saladete), visando ao consumo in natura. O delineamento
experimental foi blocos ao acaso, com três repetições. Os tratamentos foram dispostos em parcelas subdivididas, com os híbridos Heinz
9780 e Kátia alocados às parcelas e, um fatorial de três espaçamentos
entre plantas (20; 35 e 50 cm) e três números de cachos por planta
(2; 4 e 8), às subparcelas. As plantas foram conduzidas sem
tutoramento. Houve incremento da produção total e comercial com
a redução do espaçamento entre plantas e com o aumento do número de cachos por planta, com interação significativa entre essas duas
variáveis, que apresentaram produção total e comercial de 202,6 t
ha-1 e 165,9 t ha-1 respectivamente no espaçamento entre plantas de
20 cm e em plantas conduzidas com oito cachos. Apenas o híbrido
Kátia apresentou redução significativa do número de frutos por planta
quando o espaçamento entre plantas foi reduzido de 50 cm para 35
cm. Houve efeito depressivo da redução do espaçamento entre plantas no peso médio de frutos, a partir de 35 cm para o híbrido Heinz
9780 e, 20 cm, para o híbrido Kátia. Já a poda das plantas após o
segundo cacho elevou o peso médio dos frutos em 54% no híbrido
Heinz 9780 e 48,6% no híbrido Kátia, quando comparado ao tratamento com oito cachos por planta. Os resultados indicam a possibilidade de aumentar o peso médio de frutos de tomateiro com o emprego do espaçamento entre plantas de 50 cm para o híbrido Heinz
9780 e, 35 ou 50 cm, para o híbrido Kátia, e da poda apical após dois
ou quatro cachos. Os híbridos mostraram-se adequados para a produção de tomate destinado ao consumo in natura, por apresentarem
frutos com tamanho exigido por esse mercado.
Production of Italian tomato (saladete) in different plant
densities and pruning systems aiming at in natura consumption
This experiment was carried out to study the effect of three
spacings between plants and three pruning systems in the production
of tomatoes, Italian class (saladete), for in natura use. Statistical
procedure was based on randomized blocks with three replications,
in a factorial scheme. Hybrid cultivars Heinz 9780 and Katia were
planted in whole plots and the combination of three spacings between
plants (20; 35 and 50 cm) and three pruning systems resulting in 2;
4, and 8 fruit clusters per plant, were assigned to the subplots. Plants
grew without guiding. Total and commercial yield increased with
plant density and with the number of fruit clusters, with significant
interaction between these two variables. Total and marketable fruit
yield reached their peak (202,6 and 165,9 t ha-1, respectively) with
20-cm spacing between plants and eight clusters. Hybrid Katia
suffered a significant reduction in the number of fruits plant-1 when
spacing between plants was reduced from 50 to 35 cm. The average
weight of fruits was reduced when spacing between plants was bellow
35 cm for hybrid Heinz 9780 and bellow 20 cm for hybrid Katia,
and increased as a result of pruning of plants after second cluster in
54,0% for hybrid Keinz 9780 and 48,6% for hybrid Katia. The
average fruit weight can be increased with spacing between plants
of 50 cm for hybrid Heinz 9780, and 35 or 50 cm for hybrid Katia
and pruning after two or four fruit clusters. The hybrids performed
adequately considering production of tomato for in natura
consumption, with big enough fruits for market requirements.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill., espaçamento, número de cachos, peso médio de frutos.
Keywords: Lycopersicon esculentum Mill., plant spacing, number
of fruit clusters, average fruit weight.
(Recebido para publicação em 4 de outubro de 2005; aceito em 12 de maio de 2007)
E
m certas épocas do ano, alguns produtores têm comercializado tomates
industriais, oriundos de cultivares de crescimento determinado, para consumo in
natura. Algumas cultivares apresentam
frutos semelhantes aos do grupo Santa
Cruz e são indicadas para o mercado de
fruto fresco, tais como, IPA-3 (Wanderley
et al., 1980), UC-82 e Rio Grande (Pinto
& Casali, 1980) e o híbrido SM Plus F1
(Topseed, 1999). O potencial desses materiais para o mercado in natura foi rela-
1
tado por Grilli et al. (2000), que encontraram cultivares com produção de até 56,2%
de frutos das classes graúdo e médio, que
são os mais valorizados comercialmente.
Além disso, as cultivares de crescimento
determinado destacam-se pelo menor custo de produção em relação às cultivares
do grupo Santa Cruz, já que são
conduzidas sem tutoramento, necessitam
de menos desbrota, têm ciclo mais curto,
e, geralmente, apresentam maior rusticidade (Alvarenga, 2004).
O grupo de tomate Saladete, também
chamado de tomate italiano, é o mais
novo no mercado, apresentando dupla
aptidão, sendo recomendado para consumo in natura e processamento. Os frutos são alongados (7 a 10 cm), com diâmetro transversal reduzido (3 a 5 cm),
biloculares, polpa espessa, coloração
vermelha intensa, sendo muito firmes e
saborosos (Filgueira, 2003; Alvarenga,
2004). Há no mercado cultivares com
hábito de crescimento indeterminado e
Parte da dissertação apresentada à UFLA pelo primeiro autor para obtenção do grau de mestre em Agronomia/Fitotecnia.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
149
AQ Machado et al.
determinado, sendo esta última utilizada na indústria.
Como
são
cultivados
prioritariamente para produção de frutos para indústria, estudos relacionados
ao manejo e condução das plantas com
o intuito de alterar características de
qualidade aparente do fruto são raros em
cultivares de crescimento determinado.
Já em cultivares de hábito
indeterminado, há vários trabalhos que
relacionam alta densidade populacional
ao aumento na produção e redução no
peso médio dos frutos, como demonstrado por Streck et al. (1996), ao avaliarem populações de 20; 30 40 e 50.000
plantas ha-1. Os autores verificaram um
aumento na produtividade comercial de
frutos de tomate híbrido Monte Carlo,
com o aumento da densidade de plantas, no plantio de inverno-primavera,
com ponto de máxima eficiência técnica na densidade de 43.862 plantas ha-1.
Observaram também uma tendência de
diminuição do peso médio de frutos à
medida que aumentou a densidade de
plantas de 20 para 50.000 plantas ha-1.
Resultados semelhantes foram obtidos
por Camargos (1998), com o híbrido
Carmen, e Seleguini et al. (2002), com
o híbrido Duradoro, em que as produções total e comercial foram superiores
no espaçamento de 30 cm entre plantas
(33.333 plantas ha -1) comparado ao
espaçamento de 60 cm (16.666 plantas
ha-1). O aumento da população de plantas reduziu a produção de frutos grandes, elevou a produção de frutos médios
e pequenos e diminuiu o peso médio de
frutos grandes e médios. Streck et al.
(1998) avaliaram diferentes densidades
de plantio (20; 40; 80 e 100.000 plantas
ha-1) na produtividade comercial e peso
médio de frutos do híbrido Monte Carlo
e constataram que o aumento da densidade de plantas proporcionou aumento
na produtividade comercial, principalmente entre 20 e 80.000 plantas ha-1 e
redução do peso médio de frutos.
Outros trabalhos têm demonstrado
a contribuição da poda apical para o
aumento do peso médio de frutos. Dessa forma, Gusmão (1988) verificou para
a cultivar de tomate Santa Cruz Kada,
de crescimento indeterminado, que a
redução do número de cachos na planta, de oito para quatro, favoreceu o aumento do peso de frutos. Segundo o au150
tor, a poda apical acima do quarto cacho reduziu o número de drenos
reprodutivos e vegetativos, embora a
área foliar tenha mantido-se relativamente alta com o aumento no tamanho
das folhas, elevando o teor de assimilados disponíveis aos frutos. Resultados
semelhantes foram obtidos por
Poerschke et al. (1995), com o híbrido
Monte Carlo, que verificaram um maior
peso médio dos frutos comercializáveis
em plantas podadas para três cachos em
relação às plantas conduzidas com cinco e sete cachos. Por outro lado, o número de frutos comercializáveis foi crescente com o aumento do número de cachos por planta, não havendo diferença
quando conduzidas com cinco e sete
cachos.
Estudos relacionados a cultivares de
tomateiro de crescimento determinado,
no que diz respeito à relação entre poda
apical e densidade de plantio, visando
estabelecer o número de cachos que resulte em frutos maiores e população de
plantas adequada, tornam-se necessários
a fim de que se tenha uma idéia sobre a
possibilidade de utilização dessas cultivares para consumo in natura.
O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito de três espaçamentos entre
plantas e três sistemas de poda sobre a
produção de frutos de tomateiro do tipo
italiano (saladete), em duas cultivares
de crescimento determinado, visando ao
consumo in natura.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
campo, de 7 de maio a 18 de outubro de
2002, na UFLA, em Lavras-MG
(21º14’S, 45º00’W, 920 m de altitude).
Foram utilizados os híbridos de tomate
tipo italiano (saladete) Heinz 9780 e
Kátia, ambos de crescimento determinado. As mudas foram produzidas em
bandejas de polipropileno de 128 células contendo o substrado comercial
Plantmaxâ, sendo transplantadas para o
local definitivo 30 dias após a semeadura, no espaçamento de 80 cm entre
fileiras, sendo conduzidas sem
tutoramento (rasteiro). A adubação de
plantio consistiu na aplicação de 500 kg
ha-1 de P2O5, na forma de superfosfato
simples, dez dias antes do transplante.
Foi realizada adubação de cobertura,
com nitrogênio, potássio e cálcio, via
fertirrigação, três vezes por semana. A
adubação total de cobertura constou de
280 kg de N, 480 kg de K2O e 64 kg de
Ca por ha, nas formas de nitrato de potássio, nitrato de cálcio e uréia, sendo
distribuídas a partir do 11º dia após o
transplante, de acordo com a curva de
absorção de nutrientes pela cultura, da
seguinte forma: 7% da quantidade total
de N e K na 1a.e 2a.semanas, 10% na 3a.e
4a.semanas, 13% na 5a.e 6a.semanas, 20%
na 7 a. e 8 a. semanas, 25% na 9 a. e
10 a. semanas e 25% na 11 a , 12 a. e
13a.semanas. A cobertura com cálcio foi
dividida em 20% da dose total de Ca na
5 a. e 6 a. semanas, 35 % na 7 a , 8 a. e
9a.semanas, 45% na 10a, 11a, 12a.e 13a
semanas.
O delineamento experimental adotado foi blocos ao acaso, com três repetições. Os tratamentos foram dispostos em parcelas subdivididas, sendo as
parcelas representadas pelos híbridos
(Heinz 9780 e Kátia) e as subparcelas
pelo fatorial 3x3, sendo três
espaçamentos entre plantas (20; 35 e 50
cm) e três números de cachos por planta (2; 4 e 8 cachos). A parcela foi composta de duas fileiras simples de plantas, com 2,5 m de comprimento.
O controle de doenças e pragas foi
efetuado de acordo com as recomendações convencionais para a cultura, utilizando fungicidas e inseticidas. O controle de plantas daninhas foi realizado
manualmente e, as desbrotas, quando os
brotos apresentavam de 3 a 5 cm de
comprimento. A poda apical foi efetuada após o último cacho desejado. Nos
tratamentos com quatro cachos por planta, foram deixados dois cachos na haste
principal e dois cachos na haste correspondente à brotação axilar imediatamente abaixo do primeiro cacho, sendo
as demais brotações retiradas. Nos tratamentos com dois cachos, foram eliminadas todas as brotações laterais
surgidas. Os tratamentos com oito cachos corresponderam à ausência de poda
apical e desbrota, e ao desenvolvimento de todas as brotações axilares. A aplicação de água foi feita pelo sistema de
gotejamento, três vezes por semana, até
55 dias após o transplante e, após, diariamente até a colheita. Utilizou-se tubo
gotejador modelo Rain Bird, com perHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção de tomate italiano (saladete) sob diferentes densidades de plantio e sistemas de poda visando ao consumo in natura
Tabela 1. Produção total, produção comercial, número de frutos por planta e peso médio de frutos de tomateiro, em função do híbrido, do
espaçamento entre plantas e do número de cachos por planta (Total and marketable yield, number of fruits per plant and average weight of
fruits of tomato plants in response to hybrids, spacing between plants and number of fruit clusters per plant). Lavras, UFLA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra maiúscula ou minúscula nas colunas e de mesma letra minúscula entre parênteses nas linhas não diferem
entre si, teste de Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same letter, either small or capital, in the column, and the same small letter between
brackets in the row, did not differ from each other, Tukey´s test, p < 0.05); 1/Frutos comerciais: frutos com diâmetro transversal maior que 33
mm e sem defeitos (Marketable fruits: fruits with transverse diameter upper than 33mm and without defects); 2/ ESP: espaçamento entre
plantas (ESP: spacing between plants); 3/ NCP: número de cachos por planta (NCP: number of fruit clusters per plant).
furações a cada 33 cm e vazão média de
1,5 L hora-1.
Foram avaliadas as produções total
e comercial de frutos, número de frutos
por planta e peso médio dos frutos. Foram considerados comerciais os frutos
com diâmetro transversal maior que 33
mm e sem defeitos (sintomas de doenças, pragas, distúrbios fisiológicos e/ou
danos físicos). Os valores das características avaliadas foram submetidos à
análise de variância, utilizando o
aplicativo SISVAR (Ferreira, 2000). As
médias foram comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo dos fatores espaçamento entre plantas, número
de cachos por planta e das interações
espaçamento entre plantas x número de
cachos por planta, e espaçamento entre
plantas x híbrido sobre a produção total
de frutos.
Em ambos os híbridos houve incremento da produção total quando o
espaçamento entre plantas foi reduzido.
Plantas com oito cachos também apresentaram maior produção (Tabela 1). Esses
resultados concordam com os relatados
por outros autores (Belfort, 1979; Maschio
& Sousa, 1982; Campos et al., 1987;
Gusmão, 1988; Oliveira, 1993; Streck et
al., 1996; Camargos, 1998; Streck et al.,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 2. Produção total de frutos de tomateiro, em função da interação entre espaçamento
entre plantas e número de cachos por planta (Total yield of fruits in response to the spacing
between plants and the number of fruit clusters per plant). Lavras, UFLA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si, teste de Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same capital letter in the rows and
small letter in the columns did not differ from each other, Tukey’s test, p < 0.05); 1/ ESP:
espaçamento entre plantas (ESP: spacing between plants); 2/ NCP: número de cachos por
planta (NCP: number of fruit clusters per plant).
1998), que encontraram incremento na
produção total com o aumento da densidade de plantio e/ou do número de cachos
por planta, em cultivares de tomate de
crescimento indeterminado.
Analisando-se os resultados da
interação espaçamento entre plantas x
número de cachos por planta (Tabela 2),
verificou-se que o melhor resultado para
o plantio com 20 cm entre plantas e oito
cachos por planta, responsável pela
maior produção total de frutos por área
obtida neste trabalho (202,6 t ha-1). Neste sentido, a competição entre plantas
na maior densidade, e intraplantas, em
conseqüência do maior número de cachos por planta, parecem ser compensadas pelo maior número de plantas por
hectare, no primeiro caso, e pela maior
eficiência de cada planta quanto à produção de muitos frutos pequenos e pou-
co pesados, no segundo caso, oferecendo, portanto, rendimentos semelhantes
(Maschio & Sousa, 1982).
Houve efeito do híbrido, do
espaçamento entre plantas, do número
de cachos por planta e das interações
entre espaçamento entre plantas x híbrido, espaçamento entre plantas x número de cachos por planta sobre a produção de frutos comerciais. O híbrido
Heinz 9780 acusou maior produção comercial de frutos em relação ao híbrido
Kátia (Tabela 1), o que pode ser atribuído ao maior peso médio de seus frutos
(112,2 g), quando comparado ao peso
médio dos frutos do híbrido Kátia
(107,52 g).
Similarmente ao ocorrido com a produção total, houve um incremento na
produção comercial em função do aumento do número de cachos, bem como,
maior produção registrada no menor
espaçamento (Tabela 1), o que foi con151
AQ Machado et al.
Tabela 3. Produção comercial de frutos de tomateiro1, em função da interação entre espaçamento
entre plantas e número de cachos por planta (Marketable yield of tomato in response to the
spacing between plants and number of fruit clusters per plant). Lavras, UFLA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si, teste de Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same capital letter in the rows and
small letter in the columns did not differ from each other, Tukey’s test, p < 0.05); 1/Frutos
comerciais: frutos com diâmetro transversal maior que 33 mm e sem defeitos (Marketable
fruits: fruits with transversal diameter upper than 33 mm and without defects); 2/ ESP:
espaçamento entre plantas (ESP: spacing between plants); 3/ NCP: número de cachos por
planta (NCP: number of fruit clusters per plant).
Tabela 4. Número de frutos de tomateiro, em função da interação entre espaçamento entre
plantas e número de cachos por planta (Number of fruits per plant as a function of the interaction
between plant spacing and number of fruit clusters per plant). Lavras, UFLA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si, teste de Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same capital letter in the rows and
small letter in the columns did not differ from each other, Tukey’s test (p < 0.05); 2/ ESP:
espaçamento entre plantas (ESP: spacing between plants); 3/ NCP: número de cachos por
planta (NCP: number of fruit clusters per plant).
firmado pela interação significativa entre essas duas variáveis, com maior produção comercial no espaçamento de 20
cm entre plantas e oito cachos por planta (Tabela 3).
Estes resultados concordam com os
descritos por Maschio & Sousa (1982),
em que tanto a redução do espaçamento
como o maior número de cachos por
planta promoveram acréscimos elevados na produção comercial de frutos da
cultivar Kadá, de crescimento
indeterminado. Da mesma forma, Campos et al. (1987) constataram que a poda
para três cachos reduziu a produção comercial de frutos da cultivar São Sebastião, de crescimento indeterminado, enquanto a redução do espaçamento elevou a produção comercial. Poerschke et
al. (1995) reportaram, para o híbrido
Monte Carlo, de crescimento
indeterminado, que plantas conduzidas
com maior número de inflorescências,
independente do número de hastes, apresentam maior rendimento total de frutos
comercializáveis. E, finalmente,
152
Camargos et al. (2000) relataram maior
produção comercial de frutos da cultivar
Carmem, de crescimento indeterminado,
no espaçamento de 30 cm entre plantas e
sete cachos por planta.
Houve efeito significativo do
espaçamento entre plantas, número de
cachos por planta e da interação entre
espaçamento entre plantas x híbrido e
espaçamento entre plantas x número de
cachos por planta sobre o número de
frutos por planta.
Constatou-se redução significativa
do número de frutos por planta no híbrido Kátia (Tabela 1) quando se reduziu o espaçamento entre plantas de 50
cm para 35 cm, repetindo resultados
obtidos por outros autores (Austin &
Dunton Junior, 1970; Fery & Janick,
1970; Maschio & Sousa, 1982; Campos
et al., 1987). Esta queda na produção
individual das plantas, quando sujeitas
às maiores populações, é atribuída à
mudança na distribuição de assimilados
como resposta a uma competição que
se verifica na planta (competição
intraplanta), agravada pela competição
entre plantas (competição interplanta),
comprometendo o pegamento dos frutos ou reduzindo a produção de flores
por cacho (Austin & Dunton Junior,
1970). Não foi verificada alteração significativa no número de frutos em plantas do híbrido Heinz 9780, em relação
ao espaçamento entre plantas. A poda
das plantas após formação de dois ou
quatro cachos, resultou em redução significativa do número de frutos por planta, em ambos os híbridos (Tabela 1).
Resultados semelhantes foram obtidos
por Campos et al. (1987), Poerschke et
al. (1995) e Seleguini et al. (2002), em
cultivares de tomate de crescimento
indeterminado. De acordo com os resultados da interação entre espaçamento
entre plantas e número de cachos por
planta, um maior número de frutos foi
obtido em plantas com oito cachos no
espaçamento de 50 cm (Tabela 4).
Houve efeito significativo do híbrido, espaçamento entre plantas e número de cachos por planta sobre o peso
médio de frutos.
O peso médio dos frutos foi maior
no híbrido Heinz 9780 (112,2 g) comparado ao híbrido Kátia (107,5 g) (Tabela 1). Houve efeito depressivo da redução do espaçamento entre plantas no
peso médio de frutos, em ambos os híbridos (Tabela 1). O híbrido Heinz 9780
apresentou perda significativa no peso
médio de frutos a partir do espaçamento
35 cm, enquanto no híbrido Kátia esse
efeito se fez presente apenas no
espaçamento 20 cm (Tabela 1). Já a poda
das plantas após a emissão do segundo
cacho elevou o peso médio dos frutos
em 54% (132,4 g) no híbrido Heinz 9780
e 48,6% (126,7 g) no híbrido Kátia,
quando comparado ao tratamento com
oito cachos por planta (86,0 e 85,2 g,
respectivamente para os híbridos Heinz
9780 e Kátia). Efeito semelhante foi relatado por Campos et al. (1987), que
observaram aumento de até 17% no peso
médio de frutos da cultivar São Sebastião, de crescimento indeterminado, em
plantas podadas após a emissão do terceiro cacho de flores, quando comparada à ausência de poda, e por Poerschke
et al. (1995), que obtiveram frutos com
maior peso médio também em plantas
podadas após a terceira inflorescência
em relação às plantas conduzidas com
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção de tomate italiano (saladete) sob diferentes densidades de plantio e sistemas de poda visando ao consumo in natura
cinco e sete inflorescências. Como os
frutos são drenos metabólicos fortes, os
fotoassimilados foram translocados preferencialmente para esse órgão, promovendo o aumento de peso (Peluzio et al.,
1995). Além disso, a poda apical acima
do segundo cacho reduziu o número de
drenos vegetativos e reprodutivos, embora a área foliar tenha se mantido relativamente alta com o aumento no tamanho das folhas, elevando o teor de assimilados disponíveis por fruto (Veliath
& Ferguson, 1972; Gusmão, 1988).
De um modo geral, o peso médio dos
frutos obtido nesse trabalho está dentro
do padrão exigido pelo mercado de frutos in natura para cultivares do tipo Santa Cruz, que é de 80 a 200 g (Alvarenga,
2000). Os valores também concordam
com os relatados por Tivelli (1994), para
a cultivar Santa Clara, de crescimento
indeterminado, em que o peso médio dos
frutos variou de 54,6 a 131,1 g, sendo o
menor valor observado na classe pequeno e o maior na classe graúdo.
Os resultados indicam a possibilidade de aumentar o peso médio dos frutos
de tomateiro com o emprego do
espaçamento entre plantas de 50 cm para
o híbrido Heinz 9780, e 35 ou 50 cm
para o híbrido Kátia e da poda apical
após dois ou quatro cachos. Os híbridos
mostraram-se adequados para a produção de tomate destinado ao consumo in
natura, por apresentarem frutos com
tamanho exigido por esse mercado.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPEMIG
pelo financiamento parcial da pesquisa
e à Eagle Comércio de Sementes Ltda,
distribuidora dos híbridos de tomate
BHN Seed, pelas sementes cedidas.
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Effect of planting density on green ear yield of maize cultivars bred in
different periods
Paulo Sérgio L e Silva1*; Severino R Duarte1; Fábio Henrique T de Oliveira2; Júlio César do V Silva1
1
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; 2UFPB, CCA, Av. Aprígio Veloso, 882,
Bodocongó, 58397-000 Campina Grande-PB; *CNPq Fellowship (corresponding author) [email protected]; [email protected]
ABSTRACT
RESUMO
Corn cultivation in the Northeast region of Brazil is characterized
by a great diversity of production systems, ranging from large
companies (modern cultivars and relatively high planting densities)
to small farms (family agriculture, traditional cultivars, and low
planting densities). In the present work we evaluated the effects of
planting density (30; 40; 50; 60; or 70 thousand plants ha-1 - TPH)
on green ear yield of cultivars Centralmex (traditional) and AG 510
(hybrid). Different densities were achieved by maintaining 1.0 m
between rows and varying the spacing between pits, within the row.
Cultivars and planting densities were combined in a factorial scheme,
arranged in a random block design with four replicates and four 6 m
long row plots. The number of green ears increased with density in
both cultivars, but in a significantly more intense pace in cultivar
AG 510. Cultivar AG-510 (14.9 t ha-1 on average, maximum yield at
58 TPH) yielded significantly more unhusked green ears than cultivar
Centralmex (13.6 t ha-1 on average, maximum at 61 TPH). Marketable
green ear yield increased with density in both cultivars, but more
intensively in cultivar AG 510, which significantly out yielded
cultivar Centralmex from 43 TPH ahead. The difference between
cultivars at the planting density of 70 TPH was 14.4 t ha-1. There
was no response of cultivar Centralmex in number of marketable
husked green ears, while cultivar AG 510 increased yield with
planting density. The difference between both cultivars started being
significant at 38 TPH. Husked ear length decreased linearly and
similarly in both cultivars as planting density increased. Planting
density did not influence plant and ear height, and cultivar Centralmex
was superior in both characteristics at all planting densities. There
was no effect of cultivars on stalk diameter and root system biomass.
Both characteristics decreased linearly as planting density increased.
Efeito da densidade de plantio sobre o rendimento de espigas
verdes de cultivares de milho desenvolvidas em diferentes épocas
Keywords: Zea mays, green corn, plant populations, plant height,
root biomass.
O cultivo do milho na região Nordeste do Brasil é caracterizado
por uma grande diversidade de sistemas de produção, que variam de
grandes empresas (cultivares modernas e densidades de plantio relativamente elevadas) a pequenas propriedades (agricultura familiar, cultivares tradicionais e baixas densidades de plantio). O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da densidade de plantio (30; 40; 50; ou 70 mil plantas ha-1 - MPH) sobre o rendimento de
espigas verdes das cultivares Centralmex (tradicional) e AG 510
(híbrido). As diferentes densidades foram obtidas mantendo-se 1,0
m entre fileiras e variando-se o espaçamento entre covas na fileira.
As cultivares e densidades de plantio foram combinadas em um arranjo fatorial disposto no delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e parcelas com quatro fileiras de 6,0 m. O número de
espigas verdes aumentou com a densidade nas duas cultivares, mas
de maneira significativamente mais intensa na cultivar AG 510. A
cultivar AG 510 (com rendimento médio de 14,9 t ha-1 e rendimento
máximo na densidade de 58 MPH) produziu significativamente mais
espigas verdes despalhadas que a cultivar Centralmex (rendimento
médio de 13,6 t ha-1 e rendimento máximo na densidade de 61 MPH).
O rendimento de espigas verdes comercializáveis aumentou com a
densidade de plantio nas duas cultivares, mas mais intensamente na
cultivar AG 510, que superou significativamente a cultivar
Centralmex a partir da densidade de 43 MPH. A diferença entre cultivares na densidade de plantio de 70 MPH foi 14,4 t ha-1. Não houve alteração significativa no número de espigas despalhadas
comercializáveis na cultivar Centralmex. Porém, na cultivar AG 510,
essa característica aumentou com a densidade de plantio. A diferença entre as cultivares tornou-se significativa a partir de 38 MPH. O
comprimento da espiga despalhada diminuiu linearmente e de maneira similar em ambas as cultivares com o aumento da densidade
de plantio. A densidade de plantio não influenciou as alturas da planta
e de inserção da espiga, com superioridade da cultivar Centralmex
para essas características em todas as densidades de plantio. Não
existiu efeito de cultivares sobre o diâmetro do colmo e biomassa do
sistema radicular e ambas características diminuíram linearmente
com o aumento da densidade de plantio.
Palavras-chave: Zea mays, milho verde, populações de plantas, altura de planta, biomassa do sistema radicular.
(Recebido para publicação em 28 de novembro de 2005; aceito em 19 de abril de 2007)
I
n the Brazilian Northeast, corn (Zea
mays L.) is grown for green ear
production under dry land conditions or
as an irrigated crop. The grains in the
green ears are milky, having moisture
content between 70 and 80%. Green
154
corn is a highly appreciated product by
people in the Northeast, and is also used
in the preparation of typical regional
dishes. After the green ears are
harvested, the husks are used as a
feedstuff for cattle. The production of
green ears is interesting for several
reasons. The ears can be harvested in a
very short time (70 to 75 days), and up
to four annual crops can be obtained. If
the grower does not intend to sell green
ear corn, the dry grain can still be
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Effect of planting density on green ear yield of maize cultivars bred in different periods
utilized. The crop almost does not
present any disease or pest problems,
and green ear, grain, and husk prices
offer good compensation, especially
during the off season.
One of the characteristics of corn
cultivation in the region is the great
diversity of production systems. One
can find from large companies, which
adopt modern cultivars and relatively
high planting densities, to small farms,
where the practice of family agriculture
is the norm, with traditional cultivars
grown at low planting densities.
Therefore, interest exists in considering
both types of cultivars in studies
involving suitable cultural practices for
corn. Higher planting densities increase
plant sterility and the interval between
male and female blooms, and reduce the
number of grains per ear more
dramatically in older cultivars than in
more modern ones (Sangoi et al., 2002).
Some publications (Sangoi et al., 2002;
Widdicombe & Thelen, 2002) have
demonstrated the beneficial influence of
higher planting densities on dry corn
grain yield. With regard to green corn,
few papers (Silva et al., 2002, 2003)
have been found in the literature relating
to this subject. These papers have shown
that in common corn (Silva et al., 2003)
or sweet corn (Silva et al., 2002),
increases in green ear yield can be
obtained by raising planting density.
Planting density studies are also
interesting to corn researchers for at least
two reasons. Adequate planting densities
can contribute towards significant grain
yield increases for farmers (Cardwell,
1992). Secondly, because corn yield
response to density depends on genotypic
(Chandra & Gautan, 1997) and
environmental influences (Bondavalli et
al., 1970), and even negative responses
of the crop to a given factor can be
verified beyond certain limits.
The objective of the present work
was to evaluate the effects of planting
density on green ear yield and other
characteristics of two corn cultivars, one
representing traditional cultivars and,
the other, modern cultivars.
MATERIAL AND METHODS
The research was carried out in an
area of the experimental farm Rafael
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Fernandes, located 20 km from the
municipal seat of Mossoró, in the
Brazilian Northeastern State of Rio
Grande do Norte (5° 11' S latitude, 37°
20' W longitude, and 18 m elevation).
The analysis of a soil sample from the
experiment area, a Red Yellow Argisol
(RYA), indicated: pH = 6.8; Ca = 1.80
cmolc -1.dm-3; Mg = 0.40 cmolc dm-3; K
= 0.10 cmolc dm-3; Na = 0.01 cmolc dm3
; Al = 0.00 cmolc dm-3; P = 25mg dm-3;
Org. Matt. = 1.90 g kg-1. The soil was
plowed by two harrowings, and was
fertilized at sowing with 40 kg N
(ammonium sulfate), 60 kg P2O5 (single
superphosphate), and 40 kg K 2 O
(Potassium chloride) per hectare.
Seeding was performed on July 15th,
1999, and four seeds pit-1 were used. A
replanting operation was performed six
days after sowing to eliminate gaps of
about 3%. A thinning operation was
performed 26 days after sowing, leaving
the more vigorous plants in each pit.
Two cultivars (Centralmex and AG510) were submitted to densities of 30;
40; 50; 60; and 70 thousand plants ha-1.
Cultivar Centralmex is an openpollinated variety, with yellowish semident grains, and tall late-producing
plants. The original Centralmex is a
cultivar with dent yellow grains and
thick ears, in general showing 14 grain
rows (Paterniani et al., 1977). Cultivar
AG 510 is a modified triple hybrid with
semi flint orange grains, and tall plants
that produce earlier than Centralmex.
The different densities mentioned were
achieved by maintaining a constant
spacing between rows (1.0 m) and
varying the spacing between pits within
the same row. Cultivars and plant
populations were combined in a
complete factorial scheme, arranged in
a random block design with four
replicates. Each plot consisted of four
6.0 m long rows. The useful area was
considered as the space occupied by the
two central rows, with the elimination
of one pit at each end.
Pest control was performed by
means of two deltamethrin sprays (5.0
g ha-1 a.i.), at 23 and 29 days after
sowing. Weed control was achieved by
means of two hoeings, performed at 20
and 42 days after planting (DAP). Side
dressing applications were performed at
28 and 44 DAP with 40 kg N ha -1
(ammonium sulfate). Harvest was
performed in five steps, during the
period from 75 to 85 DAP. Soil tillage
was done with a tractor.
Green corn yield was evaluated by
the number and total weight of green
unhusked ears, and by the number and
weight of both marketable unhusked and
husked ears. Ears with a length equal to
or above 22 cm and without signs of
attack by pests were considered as
marketable unhusked ears. Ears with a
length equal to or above 17 cm,
displaying suitable grain set and health
for selling purposes were considered
marketable husked ears. After the green
corn was harvested, the following
characteristics were evaluated: plant and
ear height, stalk diameter, fresh and dry
matter weight of the above-ground part,
root system dry matter weight, and
marketable husked ear length. Except
for green corn yield (usable plants in the
plot), root system dry matter weight
(plants of four pits), and ear length (all
marketable husked ears), all other
characteristics were estimated based on
ten plants from the usable area of each
plot. The distance from ground level to
the insertion point of the highest leaf
blade was considered as plant height.
Ear height was considered as the
distance from ground level to the first
ear’s insertion node. Stalk diameter was
measured with a caliper rule below the
ear insertion node. The same ten plants
used to estimate plant height, ear height,
and stalk diameter, were weighed to
evaluate fresh matter weight. Next they
were ground in a forage chopper, and
after the ground material was
homogenized, a 500 g sample was
separated and taken to an oven until
constant weight was achieved, in order
to evaluate dry matter weight of the
above-ground part. In order to evaluate
root system dry matter weight, a 25-cmdeep cut was made in the soil, at each of
the four sides of each sampled pit; plants
were then pulled vertically. After being
washed, roots were ground and taken to
an oven until constant weight was
achieved. Analysis of variance for the
data was carried out using SAEG (SAEG,
1997), while a software by Jandel (1992)
was used in the regression analysis.
155
PSL Silva et al.
Table 1. Planting density effects on green ear yield and other characteristics of maize cultivars Centralmex (traditional) and AG 510
(modern) (Efeitos da densidade de plantio sobre o rendimento de espigas verdes e outras características das cultivares de milho Centralmex
(tradicional) e AG 510 (moderna)). Mossoró, UFERSA, 1999.
NS = non-significant (não significativo); * = Significant, t test, p < 0.05 (significativo, teste t, p < 0,05); ** = Significant, t test, p < 0.01
(significativo, teste t, p < 0,01).
RESULTS AND DISCUSSION
There were effects of cultivars (C),
planting density (D), and of the C x D
interaction on total number of green
ears. Although the responses of both
cultivars were linear and positive as
planting density increased, yield
increases were higher in cultivar AG 510
as planting density increased, which
explains the interaction. Considering
that the Tukey test value for testing
cultivars was 4.04 at 5% probability, it
can be deducted that cultivar AG-510
became superior to cultivar Centralmex
starting at a density of approximately 40
thousand plants ha-1 (Table 1). The total
number of green ears ha-1 of cultivar
Centralmex ranged 33,11 thousand (30
thousand plants ha-1) to 58,83 thousand
(70 thousand plants ha -1 ). The
corresponding values for cultivar
156
Centralmex were 35,02 and 69,46,
respectively.
There was an effect of cultivars (C)
and densities (D), but not of the C x D
interaction on total weight of unhusked
green ears (Table 1). Cultivar AG-510,
which produced 14.9 t ha-1 on average,
was superior to cultivar Centralmex
(13.6 t ha-1). Although no interaction
effect was verified, the maximum yield
for both cultivars would be obtained at
densities of 58 thousand and 61
thousand plants ha -1 , respectively.
Therefore, cultivar AG 510 supports
slightly higher planting densities than
the other cultivar, in relation to total
green ear weight.
An effect of cultivars x planting
densities interaction was verified on the
number of marketable unhusked ears
(Table 1). Both cultivars responded to
increased planting densities. However,
the exponents for d indicate that
increases in cultivar AG 510 were
superior to increases in Centralmex,
which explains why the interaction
occurred. Cultivar AG-510 was superior
to cultivar Centralmex at all planting
densities tested. The difference at the
planting density of 30 thousand plants
ha-1 was 651 kg ha-1, while at the planting
density of 70 thousand plants ha-1 the
difference was 14,4 t ha -1 ,
approximately. Despite this fact, the
difference between both cultivars only
became significant in the density of 43
thousand plants ha -1, approximately.
This can be inferred from the equations
presented (Table 1) and from the Tukey
test value (4,162 kg ha -1 ) in the
comparison between cultivars.
An effect of the cultivars x planting
densities interaction was also verified
for marketable unhusked green ear
weight (Table 1). In this case, cultivar
Centralmex did not respond with higher
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Effect of planting density on green ear yield of maize cultivars bred in different periods
yields to increased planting densities,
while the response of the other cultivar
was quadratic, with a maximum value
at the density of 58 thousand plants ha1
. Cultivar AG 510 was superior to
cultivar Centralmex at all planting
densities, but this superiority was only
significant between densities of
approximately 40 thousand plants ha-1
and 75 thousand plants ha-1, at which the
difference between yields in both
cultivars was higher than the value
calculated by Tukey test at 5%
probability (1,797 kg ha-1).
Effects of cultivars (C), planting
densities (D), and of the C x D
interaction were observed for number of
marketable husked green ears (Table 1).
There was no response of cultivar
Centralmex in relation to this trait, but
cultivar AG 510 showed an increased
yield as planting density increased. The
difference between both cultivars
became significant from 38 thousand
plants ha-1 (with a Tukey test value of
6,275 plants ha-1), approximately.
There was an effect of cultivars and
planting densities, but not of the C x D
interaction on husked green ear weight
(Table 1). Maximum yields in cultivars
AG 510 and Centralmex would be
obtained at densities of 52 thousand
plants ha-1 and 51 thousand plants ha-1,
respectively. Cultivar AG 510 was
superior to the other cultivar at all
planting densities (equations on Table
1) and by the Tukey test value (1,274
kg ha-1).
The effects of planting density on the
characteristics employed to evaluate
green corn yield observed in this work
were in agreement with those obtained
by other authors (Silva et al., 2003).
Husked ear length decreased linearly
and similarly in both cultivars as
planting density increased (Table 1), in
agreement with observations by other
authors (Bavec & Bavec, 2002). This
decrease is important because some
growers frequently wish to use higher
planting densities in order to obtain
greater forage yield, which attains high
prices during the off season. In fact,
increasing planting density also
increased fresh and dry biomass of the
above-ground part in a similar way in
both cultivars (Table 1). However,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
because husked ear length decreased as
a consequence of increased planting
densities, the decision to produce more
forage must be made cautiously, taking
into account at least the relative price
of green ears and husks. This is because
green ear length is one of the most
important characteristics in sales. It must
be pointed out that the adjusted fresh and
dry biomass equations (Table 1) indicate
that the increases in these characteristics
became progressively smaller as
planting density increased. This
tendency of reduction in biomass with
planting density increase is in good
agreement with results by other
researchers (Maddoni & Otegui, 2004).
Fresh and dry biomass of the aboveground part were greater in cultivar
Centralmex, i.e., in the more ancient
cultivar.
Planting density did not influence
plant height and ear height (Table 1).
Cultivar Centralmex was superior to the
other cultivar with regard to both
characteristics, at all planting densities.
Incidentally, this superiority of
Centralmex with regard to plant height
must have contributed to its fresh and
dry biomass superiority in the aboveground part (Table 1). As a result of
increased planting density, plant height
in corn may remain unchanged
(Bangarwa et al.; 1993) or may be
influenced either positively (Merotto
Junior et al.; 1997) or negatively (Silva
et al.; 2003). The discrepancies in
relation to planting density effects on
plant height are certainly due to the
different planting densities tested by
different authors, among other
environmental factors, but also resulted
from the characteristics of the evaluated
cultivars.
There was no effect of cultivars on
stalk diameter and root system biomass
(Table 1). Both characteristics decreased
linearly as planting density increased.
The number of tassel branches also
decreased in both cultivars. The number
of tassel branches in cultivar Centralmex
was higher than in the other cultivar at
all planting densities, but no interaction
effect was observed.
The planting density effects were
different, therefore, for the evaluated
characteristics (Table 1). At the range
of the studied densities, total green ear
yield increased as planting density
increased; however, in the case of
marketable green ears, these increments
were smaller or even absent (for some
characteristics in cultivar Centralmex),
or a yield decrease was verified after a
maximum value was reached. Similar
observations can be made for other plant
characteristics.
The negative effects of increasing
plant density (on stalk diameter and root
system dry biomass) or from an optimal
density (marketable unhusked ear
weight and number and weight of
marketable husked ears in cultivar AG
510) could be mainly due to a reduced
availability of nutrients and light, since
no competition for water was expected
to occur due to the use of irrigation.
However, other factors could be
involved. Soil water content is higher
in corn plots infested with weeds than
in plots that are kept weed-free (Thomas
& Allison, 1975). This could be a
suggestion that, in planting density
studies, the negative effects of increased
densities may not be caused only by
water availability, but also by a reduced
capacity of the root system in absorbing
water. It also suggests that, even in
irrigated crops, increased planting
densities could reduce yields by
reducing the root system’s capacity to
absorb water. As previously mentioned,
the increase in planting density reduced
the root system of both cultivars linearly
(Table 1). Similar reasoning as
suggested for water competition could
be applied to competition for nutrients
and light. In relation to light, the smaller
yields observed at higher densities could
be due to smaller photosynthetic rates,
caused by mutual shading, but also by a
smaller leaf area produced and/or by
accelerated leaf senescence. An
increased planting density increases
light attenuation in the corn canopy
(Borras et al., 2003), reduces leaf area
index (LAI) (Bavec & Bavec, 2002), and
increases leaf senescence (Borrás et al.,
2003). Last, it must be mentioned that
an increased planting density influences
the quality of the light that is received
by the leaves. Due to the fact that
absorption by green tissues is more intense
at wavelengths corresponding to blue (400
157
PSL Silva et al.
– 500 nm) and red (600 – 700nm), and
that reflection is more intense at the nearred region (700 – 800 nm), the red:nearred ratio that reaches the base of the plant
is reduced at high leaf area indices
(Holmes & Smith, 1977). Many species
present an increase in leaf senescence
under environments enriched with nearred radiation or with a low red:near-red
ratio (Borras et al., 2003).
Among the six characteristics used
to evaluate green corn yield, an
interaction effect between cultivars ×
planting densities occurred in four of
them (Table 1). A superiority of cultivar
AG 510, that is, of the cultivar
considered more modern, was observed
in relation to these four characteristics.
The superiority of current cultivars in
relation to older cultivars is attributed
(Sangoi et al., 2002) to three groups of
characteristics. First, a reduced
allocation of dry matter to tassels,
stimulating a more balanced allometric
relation between male and female
inflorescences. Second, a more compact
architecture, represented by smaller
plants and a greater number of erect
leaves, favoring an increase in solar
radiation interception. Third, a small ear
height/plant height ratio, to promote
higher resistance to lodging. As a matter
of fact, in the present work, cultivar
Centralmex, which is older and
generally less productive, showed larger
tassels than the other cultivar at all
planting densities (Table 1). The
competition effect for nutrients and
carbohydrates between ear and tassel
will be so much more severe as will the
environment’s adverse conditions
(Magalhães et al., 1993), and this
includes higher planting densities. In
addition, large tassels cause leaf
shading. In this work, leaf traits were
not evaluated, but cultivar Centralmex
also showed larger plants, which would
be less desirable also under higher
planting densities (Sangoi et al., 2002).
It is possible that another factor, related
to the genetic nature of the cultivars
evaluated, is involved in the superiority
of cultivar AG 510 in relation to cultivar
Centralmex. Evidence exists that from
the initial plantlet stages, corn plants
have the ability to detect neighboring
plantlets by means of red/near-red
158
signals, and can change their dry matter
allocation and morphology (Maddoni et
al., 2002). This means that hierarchies
are established early between plants,
indicating a distinct ability to capture
resources, originating from a differential
capacity to detect neighboring plants.
Within this context, dominant plants
seem to have an improved perception
of neighboring plants, which would help
them develop shading-avoidance
characteristics (as, for example, faster
growth and a more convenient leaf
orientation) sooner than dominated
plants (Maddoni & Otegui, 2004).
Maybe this competition process
between plants could be more intense
in cultivar Centralmex (which is
genetically less uniform, since it is a
free-pollination cultivar) than in cultivar
AG 510 (triple hybrid).
It can be therefore concluded that,
in both cultivars, increased planting
densities positively and similarly
influenced fresh and dry biomass in the
above-ground part of plants, as well as
total weight and marketable husked ear
weight. Increased planting densities had
a negative effect on husked green ear
length, stalk diameter, root system dry
biomass, and number of tassel branches,
but did not influence plant height and
ear height. The cultivars had different
behaviors as a response to increased
planting densities, with regard to total
number of ears, number and weight of
marketable unhusked ears, and number
of marketable husked ears. Cultivar AG
510 showed a better response than
cultivar Centralmex to planting density
increases, in relation to characteristics
used to evaluate green corn yield. The
cultivars did not differ with respect to
ear length, stalk diameter, and root
system biomass, but cultivar Centralmex
showed larger plants and tassels and
greater ear height.
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Área foliar e número de flores de nastúrcio sob duas densidades de plantio
Sidinei José Lopes1; Betânia Brum1,4; Valdecir José dos Santos1; Evanisa Fátima RQ Melo2; Osmar S dos
Santos1; Mara Rúbia M Couto3
1
UFSM, Depto.Fitotecnia, Av. Roraima, s/n, 97105-900 Santa Maria-RS; 2UPF, Campus I, BR 285, km 171, 99001-970 Passo Fundo-RS;
UFSM, Depto.Estatística; 4Bolsista FAPERGS; [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]
3
RESUMO
ABSTRACT
Estimou-se a área foliar do nastúrcio (Tropaeolum majus L.) por
métodos não destrutivos e determinou-se a variação temporal da área
foliar e do número de flores sob duas densidades de plantas em dois
experimentos, em estufa plástica, na UFSM. No primeiro experimento calculou-se a área foliar a partir da análise de 50 folhas, provenientes de dez plantas, através de imagens digitais, relacionandoa à estimativa da área foliar feita a partir de discos foliares.
Correlacionou-se também a área foliar à medida de quatro diagonais
das folhas: medida sobre a nervura principal, perpendicular à nervura
principal e duas medidas transversais à nervura principal. Obteve-se
coeficiente de determinação (r2) de 0,94 (p < 0,05) entre as medidas
obtidas através de discos foliares e de fotos digitais. A área foliar =
0,8906x2, em que x = medida sobre a nervura principal, apresentou
o maior coeficiente de determinação (r2 = 0,99; p<0,05), das quatro
diagonais testadas. No segundo experimento, foram utilizadas duas
densidades de plantio: 0,60 m entre plantas x 0,50 m entre linhas, e
0,30 x 0,25 m. De cada densidade, estimou-se a área foliar da planta
através da equação ajustada com a medida da diagonal principal de
todas as folhas maiores que 5 cm de quatro plantas, ajustando-se
modelos logísticos para a variação temporal da área foliar e do número de flores por planta (avaliado a partir de flores colhidas em 1
m2). A menor densidade de plantio proporcionou maior área foliar
por planta (6932 cm2), com máximo em 47 dias após o plantio (DAT)
e 695 graus-dia (GD), que a maior densidade (3129 cm2), que apresentou máximo 42 DAT e 622 GD. O florescimento ocorreu antes
das plantas atingirem o máximo de área foliar e a maior produção de
flores foi obtida na maior densidade de plantas.
Leaf area and flower number of nasturtium in two plant
densities
Palavras-chave: Tropaeolum majus, modelos de crescimento, densidade de plantas.
Two experiments were conducted in a plastic greenhouses in
Santa Maria, Rio Grande do Sul State, Brazil, to estimate the
nasturtium (Tropaeolum majus L.) leaf area through non destructive
methods, as well as to study the leaf area and flower number variation
in time, in two planting densities. In the first experiment, leaf area
was assessed using 50 leaves harvested out of ten plants through
digital image. This calculated value was then compared to leaf area
estimation obtained using leaf disks. In addition, leaf area was
correlated to the following leaf diagonals: main rib, perpendicular
to the main rib, and two transversal measures to the main rib. A
determination coefficient (r2) of 0,94 (p<0,05) was obtained for leaf
area calculated through digital images and leaf disks. The leaf area
formula 0,8906x2, where x corresponds to the measure on the main
rib, presented the largest determination coefficient (r2 = 0,99; p<0,05)
among the four tested diagonals. In the second experiment, two plant
densities were tested: 0.60 x 0.50 m and 0.30 x 0.25 respectively
between plants and rows. For each plant density, leaf area was
estimated using the equation adjusted for the length of the main rib.
Main rib was measured in all leaves larger than 5 cm of four plants.
Logistics models were adjusted for leaf area and flower number
variation in time. Flowers were harvested in 1 m2. The smallest plant
density provided a leaf area for plant (6932 cm2), with maximum at
47 days after transplanting (DAT) and 695 degree-day (GD), larger
than the largest density (3129 cm2), with maximum at 42 DAT and
622 GD. Blooming took place before plants reached the maximum
leaf area and the largest flower production was obtained in the largest
plant density.
Keywords: Tropaeolum majus, growth models, plant density.
(Recebido para publicação em 11 de novembro de 2005; aceito em 30 de abril de 2007)
O
nastúrcio (Tropaeolum majus L.),
planta da família Tropaeolaceae, é
uma trepadeira anual, herbácea, com
caule circular, folhas inteiras, peltadas,
alternas e verdes, e flores grandes e vistosas, variando do amarelo ao vermelho (Martins et al., 1994). As folhas e
flores têm sabor picante (compostos
sulfurados), sendo de uso ornamental,
alimentício e terapêutico. O nastúrcio é
utilizado como digestivo, depurativo e
cicatrizante, além de combater o
escorbuto, devido ao alto teor de vitamina C (Martins et al., 1994).
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
As comprovadas propriedades medicinais do nastúrcio têm despertado
enorme interesse em estudos na área
fitoquímica. No entanto, estudos sobre
aspectos agronômicos dessa planta são
escassos no Brasil, apesar do nastúrcio
ser uma excelente alternativa de cultivo
para pequenos produtores, visando suprir as necessidades de restaurantes e da
indústria farmacêutica. Em trabalhos
recentes, foram encontradas relações
importantes entre espaçamento e o crescimento de nastúrcio (Ferreira et al.,
2000; Ramos et al., 2003). O
espaçamento entre plantas afeta várias
características associadas à produtividade das culturas, incluindo a produção de
flores e a área foliar.
A área foliar é um dos parâmetros
mais importantes na avaliação do crescimento das plantas, pois sua determinação adequada durante o ciclo da cultura possibilita modelar o crescimento
e o desenvolvimento das plantas e, em
conseqüência, a produtividade e a produção total da cultura (Teruel, 1995).
Auxilia, ainda, na definição da época
ideal de semeadura e transplante, uma
159
SJ Lopes et al.
vez que, se não for considerada a intervenção de outros fatores, as culturas
devem ser semeadas de modo que os
valores máximos do índice de área foliar coincidam com a época de elevada
radiação, quando a fotossíntese líquida
será máxima (Galvani et al., 2000).
Entre os métodos para determinar a
área foliar, os não destrutivos permitem
a repetição das medidas durante o período de crescimento, reduzindo alguns
erros experimentais associados a procedimentos amostrais destrutivos
(Nesmith, 1992). Os destrutivos, muitas vezes, limitam a quantidade de efeitos de tratamentos a serem estudados em
um experimento, quando o número de
plantas é limitado. O uso de equações
de regressão para estimar a área foliar é
um método não destrutivo, simples, rápido, preciso e confiável. O procedimento usual deste método envolve medidas
do comprimento, largura e das áreas de
amostras de folhas e, em seguida, a obtenção dos coeficientes de regressão que
relacionam as medidas lineares com a
área da folha (Wiersma & Bailey, 1975).
Preciso e simples, este método matemático elimina a necessidade do uso de
medidores e reconstruções geométricas
e reduz o tempo para medições (Gamiely
et al., 1991).
O objetivo deste trabalho foi obter
equações que permitam estimar a área
foliar do nastúrcio por métodos não
destrutivos, além de determinar a variação temporal da área foliar e do número
de flores sob duas densidades de plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos dois experimentos, de março a dezembro de 2003, na
Universidade Federal de Santa Maria,
em Santa Maria (29º41’25" S, 53º48’42"
W, 95 m de altitude). Seu clima, de acordo com Köeppen, é do tipo Cfa, temperado chuvoso, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e subtropical do
ponto de vista térmico. A temperatura
média anual é de aproximadamente
19,3ºC e umidade relativa média do ar
de 78,4%. Julho é considerado o mês
mais frio, com valor médio das temperaturas mínimas de 9,3ºC e, janeiro, o
mês mais quente, com média das temperaturas máximas de 31,8ºC.
160
Os experimentos foram instalados
no interior de estufa plástica de 10 x 25
m, modelo túnel alto (Santos, 2000),
coberto com cloreto de polivinil (PVC)
plastificado com espessura de 0,2 mm,
aditivado contra os raios ultravioletas.
As mudas de nastúrcio foram produzidas no substrato comercial Plantmax,
em bandejas com 128 células, e também
em espuma fenólica, com uma semente
por cubo de 2 ´ 2 ´ 2 cm, colocados em
perfis de polipropileno por onde circulava a solução nutritiva recomendada
para alface (Castellane & Araújo, 1995),
diluída para 25%. A reposição de água
foi feita diariamente e, a correção do pH,
a cada dois dias, mantendo-o entre 5,5
e 6,5. Quando necessário elevar o pH,
utilizou-se hidróxido de sódio (NaOH
0,3N); para reduzi-lo, ácido sulfúrico
(H2SO4 10%). As mudas foram transplantadas com quatro a cinco folhas e altura
em torno de 10 cm para canteiros de 6,70
x 0,90 m, constituídos por calhetões de
fibrocimento de 0,40 m de profundidade. Os canteiros foram preenchidos com
mistura de substrato comercial Plantmax
e solo, na proporção de 1:1, e cobertos
com plástico dupla face, perfurados no
espaçamento utilizado para as plantas. A
irrigação foi realizada por gotejamento,
com a inserção de espaguetes perfurados
a cada 0,25 m, logo abaixo do plástico
dupla-face. Não foi utilizado nenhum
defensivo químico.
Durante os dois primeiros meses do
ciclo da cultura, utilizou-se a
fertirrigação com solução para alface
(Castellani & Araújo, 1995), diluída a
50%, e, após este período, foi utilizada
a solução uma vez por semana, mantendo-se a cultura em condição não
limitante de água. O primeiro experimento, realizado em março de 2003, foi
conduzido em canteiro (calhetão com
substrato) sob a estufa, até aproximadamente 45 dias de cultivo. Foram utilizadas 50 plantas, das quais foram
sorteadas dez, de onde foram retiradas
50 folhas de diferentes tamanhos. As 50
folhas foram fotografadas individualmente com máquina digital e, após, foi
determinada a área foliar pelo método
destrutivo, utilizando discos foliares. As
fotos foram processadas no programa
computacional Sigma Scan Pro v. 5.0,
Jandel Scientific, San Rafael, CA, para
a obtenção da área de cada folha. A área
foliar estimada a partir das imagens foi
então relacionada àquela determinada
pelos discos foliares, através do coeficiente de correlação de Pearson.
Para identificar a medida linear da
folha que melhor estima a área foliar,
utilizou-se a análise de regressão não
linear, em que a área das 50 folhas obtidas por foto digital foi considerada a
variável dependente e as medidas
diagonais da folha, mensuradas com régua milimetrada, as variáveis independentes. As medidas diagonais foram:
medida sobre a nervura principal (d1),
perpendicular à nervura principal (d2)
e duas transversais à nervura principal
(d3 e d4) (Figura 1). Diante das inúmeras funções ajustadas pelo programa
Table Curve, os critérios para escolha
das funções que melhor relacionam a
medida linear com a área foliar foram
menor número de parâmetros e maior
coeficiente de determinação.
Para caracterizar a variação temporal da área foliar e do número de flores
foi realizado um segundo experimento,
com a produção de mudas realizada em
maio de 2003. Foram utilizados quatro
canteiros, com as mesmas condições do
primeiro experimento, porém com duas
densidades de plantio: 0,60 m entre plantas com 0,50 m entre linhas e 0,30 m
entre plantas com 0,25 m entre linhas.
De cada densidade foram sorteadas e
marcadas quatro plantas, cujas folhas
maiores que 5 cm de diâmetro tiveram
a diagonal identificada no primeiro
experimento como melhor estimador da
área da folha mensurada com régua
milimetrada, uma vez por semana até o
início da produção de frutos. Com as temperaturas máximas e mínimas do ar do
período pós-transplante calculou-se a temperatura média e os graus-dias acumulados, que, uma vez relacionados à área foliar de cada densidade, permitiram desenvolver modelos de crescimento.
Durante o florescimento foram
marcadas aleatoriamente áreas de um
metro quadrado em cada densidade de
plantio, de onde as flores foram colhidas semanalmente, quantificando a sua
produção, bem como a variação temporal do florescimento nas duas densidades de plantio. Utilizou-se o programa
Table Curve 2D, Jandel Scientific, San
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Área foliar e número de flores de nastúrcio sob duas densidades de plantio
Tabela 1. Equações exponenciais relacionando a área foliar (Y), obtida por foto digital, com
quatro diagonais (di) medidas em amostras de 50 folhas de nastúrcio (Exponential equations
relating leaf area (Y), obtained by digital photos, with four diagonal measures (di) in samples
of 50 nasturtium leaves). Santa Maria, UFSM, 2005.
* Significativo, p < 0,05 (significant, p < 0,05).
Tabela 2. Modelos logísticos de variação temporal da área foliar (AF) estimada de nastúrcio,
em ambiente protegido, em função do número de dias após o transplante (DAT) e da soma
térmica (GD) (Logistic models of estimation of leaf area (LA) variation in time, in greehouse,
as function of number of days after the transplant (DAT) and thermal sum (GD)). Santa
Maria, UFSM, 2005.
* significativo, p < 0,05 (significant, p < 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1. Folha de nastúrcio com quatro
diagonais (d1, d2, d3 e d4) utilizadas como
variáveis independentes para estimar a área
foliar (Nasturtium leaf with the four diagonals
– d1, d2, d3, and d4 – used as independent
variables to estimate leaf area). Santa Maria,
UFSM, 2005.
Rafael, CA, para encontrar os modelos
que relacionam o número de flores ao
número de dias após o transplante, com
os mesmo critérios de ajuste adotados
no primeiro experimento. Além destes
critérios, os modelos ajustados entre
área foliar e soma térmica e área foliar
e dias após o transplante seguiram o
pressuposto de que a variação temporal
da área foliar deve apresentar um crescimento de forma sigmoidal.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Relacionando-se as medidas obtidas
pelo método destrutivo, por meio de discos foliares, com as medidas obtidas
pelas fotos digitais, obteve-se coeficiente de determinação (r2) de 0,94 (p<0,05),
sendo vantajosa a utilização das imagens
digitais pela rapidez, facilidade e por não
constituirem um método destrutivo.
Deve-se ressaltar que a utilização de discos foliares tem sido contestada para
mensuração de área foliar, pois na comparação com o método de referência LICOR, na cultura do cafeeiro, a utilização
de discos foi considerada menos precisa
e exata (Tavares Júnior et al., 2002).
Relacionando as medidas diagonais
da folha com as respectivas áreas
foliares obtidas pelas fotos digitais, obteve-se um modelo exponencial para
cada diagonal (d1, d2, d3 e d4) (Tabela
1), todos com bom ajuste (r2>0,99), indicando que todos os modelos podem
ser utilizados para estimativa da área
foliar do nastúrcio (Figura 1). Queiroga
et al. (2003), trabalhando com feijãode-vagem, também obtiveram melhor
ajuste (r2 = 0,98) e precisão para a estimativa da área foliar através de modelo
exponencial, utilizando como variável
independente a largura do folíolo central. Já para a espécie Tridax
procumbens, a função exponencial foi
a que menos explicou a relação entre a
área foliar e o produto do comprimento
pela largura da folha, com r2 de aproximadamente 0,80 (Bianco et al., 2004).
A precisão de equações para estimativa
de área foliar, dentre as várias possibilidades de combinações entre parâmetros
dimensionais e modelos de regressão,
relaciona-se não só com o formato da
folha, mas também com sua variação
durante o crescimento da planta. Vale
ressaltar que a variação da forma da folha é uma característica da espécie e está
associada às condições ambientais de
crescimento, como foi observado em
Lycopersicon esculentun (Dumas, 1990)
e Curcubita pepo L. (Silva et al., 1998).
Para a estimativa da variação temporal da área foliar em função de dias
após o transplante (DAT), utilizou-se a
equação ajustada para o diâmetro medido sobre a nervura principal (d1). Segundo os critérios pré-estabelecidos, ou
seja, menor número de parâmetros,
maior coeficiente de determinação e
crescimento de forma sigmoidal, ajustou-se o modelo logístico: Área Foliar
= 4*a*n/(1+n)2, em que: n = exp (-(DATb)/c). Os parâmetros “a” e “b” do modelo têm algumas interpretações biológicas associadas, em que o parâmetro
“a” representa o valor máximo esperado para a variável-resposta e, o “b”, é o
valor da variável independente correspondente ao máximo da variável resposta (Tabela 2).
Na menor densidade (0,60 x 0,50 m),
encontrou-se maior área foliar por planta
do que na maior densidade (0,30 x 0,25
m) (Figura 2a). A menor área foliar encontrada na maior densidade pode ser
explicada pela maior competição entre
plantas por luz, água e nutrientes, sendo que o máximo da área foliar ocorreu
aos 47 e 42 dias após o transplante
(DAT) para as densidades 0,60 x 0,50
m e 0,30 x 0,25 m, respectivamente. Os
resultados encontrados concordam com
Ferreira (2000) que, analisando características do crescimento de nastúrcio,
cultivar Jewel, sob os espaçamentos de
0,20; 0,30 e 0,40 m entre plantas e 0,60
m entre fileiras, encontrou maior área
foliar (15.000 cm2) para plantas culti161
SJ Lopes et al.
A
B
C
Figura 2. Variação temporal da área foliar e do número de flores de nastúrcio para duas
densidades de plantio: 0,60 x 0,50 m (D1) e 0,30 x 0,25 m (D2) (Leaf area and flower
number variation in time for two planting densities: 0,60 x 0,50 m (D1) and 0,30 x 0,25 m
(D2). Santa Maria, UFSM, 2005.
vadas no espaçamento de 0,30 m entre
plantas. No entanto, a autora observou
o máximo da área foliar 105 DAT.
O modelo de crescimento que estimou a área de folha por planta, para os
162
dois espaçamentos em função da variável independente graus-dia (GD), foi o
mesmo modelo da relação área foliar e
dias após o transplante (Figura 2b). A
soma térmica necessária para o nastúrcio
atingir o máximo crescimento
vegetativo variou de acordo com a densidade considerada, sendo que, na maior
densidade, as plantas atingiram a máxima área foliar (3129 cm2) com menor
soma térmica (622 GD) do que na menor densidade (695 GD), em que obteve uma área foliar máxima estimada de
6932 cm2. Segundo Lyra et al. (2003), o
empirismo, associado à variável independente DAT, limita a aplicação dos
resultados para condições ambientais
semelhantes. Dessa forma, a utilização
da soma térmica permite maior generalização dos resultados.
Relacionando-se o número de flores
produzidas do 42o.até 89o.DAT obtiveram-se equações lineares simples (Figura 2c). Na menor densidade (0,60 x
0,50 m), o florescimento teve início antes da planta atingir a área foliar máxima e, apesar da maior área foliar por
planta em relação à maior densidade
(0,30 x 0,25 m), o número de flores produzidas foi menor. O fato da produção
máxima de flores por área ter sido obtida na maior densidade de plantas indica
que a competição entre plantas existente não foi suficiente para reduzir o número de flores. Considerando-se que a
flor é o produto final desejado, é importante verificar que é possível produzir
maior quantidade de flores em menor
espaço, fato que está de acordo com a
necessidade de otimização de espaço
disponível em ambiente protegido.
Com relação ao número de dias até
o florescimento, Ferreira (2000) encontrou resultado semelhante utilizando o
nastúrcio, cultivar Jewel, onde o início
do florescimento ocorreu 45 DAT e, de
frutificação, 70 DAT. Já em trabalho
avaliando a produção de flores da cultivar Jewel sob populações de 80.000;
100.000 e 120.000 plantas ha-1 e arranjos de plantas em duas ou três fileiras
simples no canteiro (0,54 m entre duas
e 0,36 m entre três fileiras), a autora
observou que a produtividade de flores
(no.flores planta-1) não foi influenciada
por estes tratamentos. No entanto, houve incremento na produção da massa
seca de frutos na menor população e,
apesar da produtividade de flores ser
semelhante para as populações e arranjos estudados, a autora indicou o arranjo de plantas em duas fileiras como o
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
SJ Lopes et al.
mais adequado, com a finalidade de facilitar a operação de colheita para o agricultor. Ramos et al. (2003) também não encontraram influência do espaçamento no
número e massa seca de flores do nastúrcio
para os espaçamentos de 0,30 e 0,40 m
entre plantas e 0,36 m entre fileiras.
Os resultados apresentados neste trabalho permitem concluir que: as medidas
sobre a nervura principal, perpendicular à
nervura principal e as duas medidas transversais à nervura principal, podem ser utilizadas para estimativa da área foliar de
nastúrcio; quanto menor a densidade de
plantio maior é a área foliar por planta e
mais tempo a planta leva para atingir o
crescimento máximo; e, o florescimento
ocorre antes da planta atingir o máximo
da área foliar, enquanto que a maior produção de flores por área é obtida na maior
densidade de plantas, mesmo com menor
área foliar por planta.
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Tomada de decisão de controle da traça-do-tomateiro através de armadilhas com feromônio sexual
Sérgio Roberto Benvenga1; Odair Aparecido Fernandes2; Santin Gravena1
1
Gravena ManEcol Ltda, C. Postal 546, 14870-990 Jaboticabal-SP; 2UNESP, FCAV Depto. Fitossanidade, Rod. Prof. Paulo D. Castellane
km 5, 14884-900 Jaboticabal-SP; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Visou-se estabelecer a relação entre a infestação da traça-dotomateiro, Tuta absoluta, na planta e adultos capturados em armadilhas com feromônio sexual e a produtividade, para avaliar a influência da infestação na produção da cultura do tomate e aperfeiçoar a
tomada de decisão de controle pela densidade de adultos. Armadilhas com feromônio sexual foram instaladas e avaliadas duas vezes
por semana, em três áreas de cultivo comercial de tomateiro em São
Paulo (Mogi-Guaçu, Tambaú e Sorocaba), em sistema estaqueado,
divididas em áreas experimentais com cerca de 18.000 plantas cada
(1,5 ha). Nas mesmas datas foi avaliada a infestação de pragas nas
plantas, estendendo-se até o término da colheita. A produtividade
foi definida pelo total de caixas (24 kg) comercializadas/1.000 plantas. A relação entre a produção da cultura do tomate e a infestação
de T. absoluta na planta ou nas armadilhas com feromônio foi expressa por uma equação linear e negativa. A ocorrência de adultos
nas armadilhas e a infestação da praga em plantas foram relacionados significativamente com a redução da produtividade. O nível de
controle de T. absoluta através do monitoramento com feromônio
sexual foi de 45 ± 19,50 insetos/dia na armadilha.
Decision making for integrated pest management of the South
American tomato pinworm based on sexual pheromone traps
Palavras-chave: Tuta absoluta, Lycopersicon esculentum,
monitoramento, nível de controle.
Keywords: Tuta absoluta, Lycopersicon esculentum, monitoring,
action level.
The relationship between the productivity and the infestation of
Tuta absoluta on tomato plants and adults caught in sexual pheromone
traps was established to evaluate the effect of pest infestation on
yield losses as well as on adults’ density for decision-making
improvement. Sexual pheromone traps were installed in three
commercial fields of tomato in São Paulo State, Brazil (Mogi Guaçu,
Tambaú and Sorocaba counties) with experimental plots of 18,000
plants each (1.5 ha). The presence of insects in the traps as well as
the infestation on plants were evaluated twice a week on the same
dates. The evaluations took place until harvesting. The productivity
was expressed as marketable boxes of 24 kg/1000 plants. The
relationship between tomato production and pest infestation on plants
or pheromone traps was linear and negative. The adults’ occurrence
on traps and plant infestation showed an influence on yield losses.
The action level of T. absoluta with sexual pheromone traps was 45
± 19.50 insects daily.
(Recebido para publicação em 15 de janeiro de 2006; aceito em 2 de maio de 2007)
A
traça-do-tomateiro, Tuta absoluta
(Meyrick)
(Lepidoptera:
Gelechiidae), é um dos principais
lepidópteros-praga na cultura do tomate, devido ao potencial de infestação nas
folhas, ramos terminais e frutos, com
redução da produção destinada ao comércio e indústria (Haji et al., 1988).
Assim, além de afetar indiretamente a
produção pela redução de área foliar,
concorre diretamente para a redução de
produtividade por inutilizar os frutos
(Gravena, 1991; Picanço et al., 1997).
As infestações da traça-do-tomateiro
são mais intensas no período de
frutificação da cultura, pois as lagartas ao
permanecerem no interior dos frutos não
são afetadas pelas ações de controle. Com
isso, ocorre a emergência de adultos e a
reinfestação das partes vegetativas e
reprodutivas das plantas (Gravena, 1991).
O controle químico é a principal tática de manejo desta praga nas regiões
164
produtoras (Souza et al., 1992). As aplicações e as misturas de inseticidas na
cultura do tomate são programadas em
função do estágio fenológico favorável
ao ataque das pragas (Gravena &
Benvenga, 2003). Nos cultivos comerciais, em casos extremos, são realizadas até 36 aplicações de inseticidas durante o ciclo da cultura para o controle
de T. absoluta e de outros artrópodes
pragas (Souza et al., 1992).
O sistema preventivo de controle
fitossanitário, além de onerar o custo de
produção, aumenta os riscos de intoxicação dos aplicadores e de contaminação do meio ambiente. O consumidor
final também pode ser indiretamente
afetado pela depreciação da qualidade
nutricional do alimento, contendo resíduos acima dos limites toleráveis para
o consumo (Gravena, 1984). Além disso, a constante pressão de seleção
exercida pelos inseticidas tem favore-
cido o desenvolvimento de populações
de pragas resistentes (Omoto, 2000).
O manejo integrado de pragas apresenta como uma de suas bases a
amostragem de pragas pois, definindose as espécies e os respectivos índices
de infestação, torna-se possível uma
definição mais criteriosa das táticas de
controle. Gravena & Benvenga (2003)
sugerem que nos cultivos em sistema de
manejo integrado seja feita a
amostragem de ovos e lagartas da traça-do-tomateiro nas partes vegetativas
e reprodutivas das plantas.
Picanço et al. (1995) ressaltam a
importância da amostragem de ovos da
traça-do-tomateiro, pois a eficiência dos
inseticidas é maior antes da penetração
da praga no interior dos órgãos da planta. Gomide et al. (2001) comentam que
o monitoramento de ovos é vantajoso,
pois além de ser o primeiro indício da
presença da praga na planta, torna-se
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tomada de decisão de controle da traça-do-tomateiro através de armadilhas com feromônio sexual
possível o uso isolado de inseticidas biológicos visando o controle de lagartas
recém eclodidas ainda nesta fase de
maior vulnerabilidade.
A técnica de amostragem de pragas
na cultura do tomate já é consolidada na
pesquisa e está em desenvolvimento nos
cultivos comerciais. Entretanto, o nível
de detalhamento exigido para a
amostragem da traça-do-tomateiro em
plantas é o principal ítem que define o
rendimento do inspetor de pragas em
campo. Portanto, novas tecnologias devem ser pesquisadas, como a utilização
de armadilhas contendo o feromônio sintético para a amostragem do nível
populacional de insetos (Bento, 2000).
Esta estratégia visa estabelecer métodos
rápidos, práticos e confiáveis, valorizando sobremaneira o manejo integrado de
pragas. Na cultura do tomate as armadilhas podem ser empregadas para determinar a migração de adultos da traça-dotomateiro (Vilela et al., 1995; Eiras et al.,
1995; Vilela, 1997). A fase adulta é considerada como o primeiro indício da presença da praga na cultura, favorecendo a
ação dos inseticidas e dinamizando as
tomadas de decisão de controle.
Bento (2000) ressalta que os estudos
que correlacionam o número de insetos
capturados na armadilha e a infestação
da praga na planta são de grande valia
para que medidas de controle sejam tomadas, a fim de se evitar ou reduzir danos. Entretanto, para a traça-do-tomateiro os estudos com feromônio sexual concentraram-se apenas na avaliação de
atratividade de machos em condições de
cultivo protegido (Guedes et al., 1996) e
campo (Uchoa-Fernandes & Vilela,
1994; Gomide et al., 2001).
O presente trabalho teve por objetivo
estabelecer a relação entre a infestação da
traça-do-tomateiro, Tuta absoluta, na planta, bem como o número de adultos capturados em armadilhas contendo feromônio
sexual, com a produtividade. Esta estratégia permitirá avaliar a influência da
infestação na produção da cultura do tomate e aperfeiçoar a tomada de decisão
de controle pela densidade de adultos.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em três áreas
de cultivo comercial de tomate, em sisteHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
ma estaqueado de condução com fileiras
duplas, sendo divididas em áreas experimentais retangulares, com número aproximado de 18.000 plantas, equivalendo a
uma área de 1,5 ha, durante o ciclo de inverno do ano de 2002 (Tabela 1).
Para o monitoramento de adultos,
em cada área experimental, foram instaladas nos vértices opostos duas armadilhas do tipo Delta com septo de látex
impregnado com feromônio sexual
ISCAlureTUTA (ISCA Tecnologias
Ltda, Ijuí, RS). As armadilhas foram fixadas em haste de bambu de modo a
manter a altura cerca de vinte centímetros acima das plantas. Portanto, de acordo com o estágio fenológico, as armadilhas eram movidas verticalmente. Os
septos com o feromônio foram substituídos mensalmente e os fundos
descartáveis em intervalos quinzenais
após a instalação das armadilhas. Os
insetos capturados nas armadilhas foram
contados e retirados com o auxílio de
uma pinça em intervalos de três a cinco
dias.
O índice de infestação da traça-dotomateiro foi obtido em 60 plantas de
cada área experimental em avaliações
realizadas nas mesmas datas em que
houve verificação das armadilhas, sendo que foram amostrados 12 pontos de
cinco plantas consecutivas (Gravena,
1991). Os pontos foram escolhidos aleatoriamente. As folhas em desenvolvimento no ponteiro foram avaliadas visualmente para a detecção de ovos (Haji
et al., 1998; Gomide et al., 2001), além
do ramo apical para a detecção de lagartas (Espinosa, 1991). No terço mediano foi avaliada uma folha com sintoma de ataque para a detecção de lagartas vivas (Rego Filho, 1992; Moreira et
al., 1997; Gomide et al., 2001). As
pencas contendo frutos com diâmetro
médio de dois centímetros foram avaliadas para a detecção de ovos, sintomas de ataque e infestação por lagartas.
Todas as avaliações foram conduzidas
até a colheita.
Nas três localidades a colheita foi
realizada separadamente em cada área
experimental. A produtividade de cada
área foi expressa em caixas de 24 kg de
tomate comercial/1000 plantas cultivadas, desconsiderando-se a classificação
final.
Os dados de produtividade de cada
área experimental e os respectivos índices de infestação de T. absoluta no ponteiro, folha e fruto foram submetidos à
análise de regressão linear utilizandose o procedimento PROC REG (SAS
Institute, Cary, NC, USA). Os índices
de infestação nas partes vegetativas e
reprodutivas foram acumulados diariamente, para expressão simultânea da
intensidade e duração da infestação,
conforme a metodologia proposta por
Ruppel (1983). A terminologia de inseto-dia é recomendada para estudos de
manejo de pragas com controle químico, pois representa através de uma única equação a combinação entre a densidade de indivíduos remanescentes da
pulverização e o período em que ainda
permaneceram ativos.
Controle da população de
artrópodes pragas
Com a determinação dos índices de
infestação foi estabelecido o controle
químico nas áreas experimentais quando os índices médios atingiam 5% de
plantas com presença de ovos nos frutos ou 25% de plantas com ovos ou lagartas no ponteiro ou 25% de plantas
com lagartas nas folhas do terço mediano. Inseticidas de grupos químicos diferentes foram trocados a cada aplicação e preconizou-se a mistura de inseticidas (Omoto, 2000). Os princípios ativos utilizados foram: abamectin, alphacypermethrin, cartap, chlorfluazuron,
chlorfenapyr,
chlorpyrifos,
fenpropathrin, indoxacarb, lambdacyhalothrin,
lufenuron,
methoxifenozide,
spinosad
e
triflumuron.
O controle do complexo de vetores
constituído por tripes, Frankliniella spp.
(Thysanoptera: Thripidae), pulgão,
Myzus sp. (Hemiptera: Aphididae) e
mosca branca, Bemisia tabaci
Gennadius (Hemiptera: Aleyrodidae) foi
realizado quando a infestação atingia o
número médio de um inseto/planta
(Gravena, 1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relação entre a infestação na planta e a produtividade
As infestações da traça-do-tomateiro no ponteiro, folha e no fruto resulta165
SR Benvenga et al.
Tabela 1. Especificações das áreas experimentais em cultivos comerciais de tomate estaqueado sob o sistema de manejo integrado de pragas
(Details of the experimental áreas of staked tomato commercial crop , under the system of integrated pest management).
1
DAT: Dias após o transplantio das mudas (Days after transplanting); 2Em uma das áreas experimentais foram adicionadas duas armadilhas,
para adequar a relação armadilha:planta (In one of the áreas it was added two more traps, to adequate the relation trap:plant).
Tabela 2. Parâmetros da análise de regressão linear entre os tipos de infestação de Tuta absoluta acumulados diariamente e a produtividade
da cultura do tomate (Parameters of the linear regression analysis between the types of infestation of Tuta absoluta accumulated daily and
tomato yield). Jaboticabal, Gravena Man Ecol, 2002.
ram numa relação linear e negativa com
a produtividade da cultura do tomate nas
três áreas experimentais (Tabela 2). Segundo Haji et al. (1988), a infestação
da traça-do-tomateiro pode ser
verificada nas plantas durante todo o
ciclo de desenvolvimento, sendo mais
intensa no período de frutificação, devido à menor eficiência das ações de
controle sobre as lagartas no interior dos
frutos, concorrendo diretamente para a
redução da produtividade. Entretanto, a
infestação sobre as partes vegetativas
afeta indiretamente a produção pela redução de área foliar (Gravena, 1991).
Portanto, a contribuição deste trabalho
está relacionada ao detalhamento da
infestação de T. absoluta em ramos, folhas e frutos, respectivamente, e a influência sobre a produtividade da cultura do tomate.
166
Os parâmetros relacionados à
infestação da praga na folha, definidos
como sintoma-dia e lagarta-dia acumulados na folha, resultaram nos menores
coeficientes de determinação (Tabela 2).
Deste modo, indicaram que exercem
uma menor influência sobre a redução
de produtividade da cultura quando
comparado com a infestação no ponteiro e nos frutos. Como a avaliação da
infestação da traça-do-tomateiro foi realizada nas folhas do terço mediano, consideradas ideais segundo Rego Filho
(1992), Moreira et al. (1997) e Gomide
et al. (2001), os resultados obtidos na
análise de regressão linear podem ser
compreendidos considerando-se a atividade fotossintética destas folhas e o hábito de migração das lagartas. No terço
mediano, devido à alta concentração de
folhas, pode haver competição por
luminosidade e somente aquelas localizadas mais externamente à planta apresentam maior atividade fotossintética.
As folhas infestadas foram constatadas
mais internamente na planta devido, provavelmente, à menor ação do inseticida. Esta infestação não afetou expressivamente a fotossíntese e, conseqüentemente, a produtividade. Outro fator a ser
considerado é a movimentação de lagartas sobre as folhas após o segundo ínstar,
conforme mencionado por Haji et al.
(1988). Este comportamento pode estar
relacionado ao aumento de temperatura
no interior da mina exposta ao sol,
acúmulo de excrementos ou mesmo pela
depreciação do alimento (Torres et al.,
2001). Deste modo, mesmo sendo observadas nas folhas, devido ao comporHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tomada de decisão de controle da traça-do-tomateiro através de armadilhas com feromônio sexual
Figura 1. Regressão linear entre a ocorrência de adultos de Tuta absoluta, acumulados diariamente em armadilhas com feromônio e a
produtividade da cultura do tomate (Linear regression among the occurrence of Tuta absoluta adults, accumulated daily in traps with
pheromon and tomato yield).
tamento de migração das lagartas, algumas podem ter se dirigido para os frutos. A redução na produtividade causada pelas lagartas foi maior pelo dano
direto (perda de frutos), do que pela injúria causada às folhas (redução de área
foliar).
A baixa influência da infestação nas
folhas por lagartas de T. absoluta sobre
a produtividade da cultura do tomate
também foi ressaltada por Caffarini et
al. (1999) ao verificarem elevado índice de frutos infestados mesmo com baixo índice de área foliar danificada; concluíram que as folhas não devem ser
consideradas como indicadores do potencial de dano da praga.
A análise de regressão também foi
realizada entre a infestação da praga no
ponteiro, definidos como ovo-dia e lagarta-dia acumulados no ponteiro,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
apresentou coeficientes de determinação
superiores aos verificados para a
infestação na folha (Tabela 2). Esta
maior influência da infestação no ponteiro sobre a produtividade da cultura
pode ser justificada pelo modo de crescimento das plantas e hábito de
oviposição da praga. A traça-do-tomateiro realiza a oviposição nas folhas tenras (Vargas, 1970; Haji et al., 1998;
Gomide et al., 2001). O crescimento das
plantas de tomate ocorre por intermédio do lançamento de novas folhas no
ápice (Espinosa, 1991). Assim, no intervalo entre as pulverizações, essas folhas emitidas no ponteiro permanecem
suscetíveis ao ataque da praga. Considerando-se o período médio de incubação dos ovos de 4,5 dias (Marques &
Alves, 1996) e a ocorrência de gerações
superpostas da praga, ou seja, diariamente são depositados ovos nos tecidos
tenros, a eclosão de lagartas é permanente, favorecendo a penetração destas nos
ponteiros. Portanto, mesmo com um aumento na freqüência de pulverizações,
devido à localização dos ovos, a pilosidade
dos tecidos tenros e pouco conhecimento
do efeito ovicida dos inseticidas, a intensidade de ramos infestados é dependente
da qualidade de aplicação para que atinja
o alvo com eficácia.
Após a eclosão das lagartas e a penetração nos ramos ponteiros, a eficiência de controle dos inseticidas é severamente afetada (Picanço et al., 1995). Os
danos de T. absoluta, quando localizados no ramo ponteiro, resumem-se a
uma super-brotação (Gravena &
Benvenga, 2003), devido à perda da
dominância apical. Neste caso, o porte
das plantas é severamente afetado, resultando na redução da produção pelo
167
SR Benvenga et al.
menor número de pencas no dossel das
plantas.
Os maiores coeficientes de determinação foram verificados para os
parâmetros referentes à infestação no
fruto, considerando-se ovo-dia, sintomadia e lagarta-dia acumulados (Tabela 2).
Resultado semelhante foi obtido por
Picanço et al. (1997), em um experimento com a cultura do tomate no período
de junho a setembro, em que a traçado-tomateiro foi considerada como o
segundo fator mais importante para a
redução da produtividade. Neste caso,
a justificativa recai sobre o local de
infestação da praga pois, com a presença de ovos nos frutos, as lagartas penetram e causam dano direto. Conseqüentemente os frutos infestados perdem o
valor comercial para o mercado e indústria (Gravena, 1991), sendo descartados
durante o processo de colheita. Isso afeta
diretamente a produtividade da cultura.
A utilização dos parâmetros que consideraram os ovos da traça-do-tomateiro, definidos como ovo-dia acumulado
no ponteiro e ovo-dia acumulado no fruto, permitiu inferência da redução da
produtividade da cultura. Embora o ovo
não seja uma fase da praga que ocasiona dano direto, a amostragem dessa fase
e o controle das lagartas eclodidas permitiram a redução de possíveis prejuízos à produção. Com isso, a amostragem
de adultos com armadilhas de feromônio
pode permitir a identificação dos primeiros surtos populacionais de insetos
migrantes e facilitar a definição das táticas de controle para o favorecimento
do manejo de pragas nesta cultura, antes do início da oviposição.
Relação entre a densidade de adultos e produtividade
A influência da infestação de adultos de T. absoluta, definida pelo
parâmetro de inseto-dia acumulado na
armadilha com feromônio sobre a produtividade da cultura do tomate, foi expressa significativamente por uma equação linear e negativa (Figura 1).
Neste caso, como houve relação entre o parâmetro de inseto-dia acumulado na armadilha e a produtividade, é
possível estimar a redução de frutos
comercializados em função do número
de insetos capturados e definir um nível
de controle através da densidade de cap168
tura. Assim, considerando-se o período
de condução da cultura, definiu-se o
número mínimo de insetos tolerados
diariamente na armadilha para a obtenção da produtividade desejada. Estabelecendo-se uma produtividade média
esperada de 267 caixas de 24 kg/1.000
plantas, equivalente a 3.200 caixas/ha,
e um valor médio de comercialização
igual a R$ 10,07/caixa de 24 kg (taxa
de conversão: US$ 1 = R$ 2,50) ao longo dos meses do ano, com um custo de
R$ 6,22/caixa (Agrianual, 2002), temse uma receita positiva de R$ 3,85/caixa. Deste modo, com os valores de venda e custo de produção, o produtor deve
obter
um
volume
mínimo
comercializado de 191 caixas/1.000
plantas para garantir lucro estimado de
15%. Com este valor de produtividade
obteve-se o número de inseto-dia acumulado através da expressão y= - 0,002
x + 203,98 (Figura 1), sendo o total de
6.278 insetos. O período de condução
da cultura desde o transplantio até o término da colheita é, na maioria das regiões de cultivo, de aproximadamente
140 dias, de modo que diariamente seriam tolerados 45±19,50 insetos capturados/armadilha com feromônio sexual
para a obtenção dos referidos valores de
produtividade e lucratividade. Este valor é referencial, pois foram consideradas as médias ao longo do ano, embora
seja possível estabelecer níveis de controle a cada mês de cultivo em função
do valor de comercialização do produto
final. Além disso, foi considerada a
equação para as três áreas experimentais, como efeito de variabilidade de
parâmetros climáticos, níveis de
infestação e tecnologia de condução da
cultura. Assim, passa a ser referencial
aos pesquisadores prosseguirem com
estudos de correlação da T. absoluta em
outras regiões de cultivo para a validação dos resultados e também aos técnicos, no sentido de incentivar o manejo
integrado de pragas e racionalizar o uso
dos defensivos agrícolas na cultura do
tomate.
Através da amostragem da população de adultos de T. absoluta na armadilha com feromônio e a possibilidade
de estimar o índice de ponteiros e frutos com ovos em função da produtividade, poderão ser avaliadas maneiras
para a implementação do controle bio-
lógico artificial. Nestes casos seriam
programadas as liberações inundativas
de Trichogramma spp. (Hymenoptera:
Trichogrammatidae) em função da produtividade esperada para determinada
região e as densidades de adultos capturados em armadilhas com feromônio
e o número de ovos presentes nos ponteiros e frutos. Assim, estaria sendo estabelecido o número referencial de insetos nas armadilhas para a liberação do
inimigo natural como tática de controle
da praga. Todavia, pesquisas futuras
deverão ser conduzidas para validar a
utilização desta técnica visando utilização de parasitóides de ovos.
AGRADECIMENTOS
Ao Leandro Mafra (ISCA
Tecnologias Ltda) pela concessão das
armadilhas e septos de feromônio; ao
Douglas R. Bizari, Gislaine Manente
Martucci, José Luiz da Silva, Júlio César
Mássimo, Luís Carlos de Souza
Amorim, Nilton de Araújo Junior,
Renan Gravena, Willian Morais Char e
Zelinda Marconato Gravena (Gravena
ManEcol Ltda) pelo suporte técnico e
financiamento da pesquisa; ao José Nelson Mallmann, Valdecir Pereira e Alex
de Oliveira (Produtores) pela concessão
das áreas comerciais; à Andreza C. dos
Santos, Bibiane C. dos Santos, Edson
Godoy, Daiane de Oliveira e Viviane de
Oliveira Lima (Inspetores de pragas)
pelo auxílio nas avaliações.
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169
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adubação orgânica e mineral. Horticultura Brasileira 25: 170-174.
Produção e qualidade de sementes e raízes de cenoura cultivada em solo
com adubação orgânica e mineral
Riselane de Lucena Alcântara Bruno1; Jeandson Silva Viana2; Vicente Félix da Silva1; Genildo Bandeira
Bruno1; Mácio Farias de Moura2
UFPB, CCA, C. Postal 22, 58397-000 Areia–PB, 1Bolsista em produtividade em pesquisa CNPq; E-mail: 2Programa de Pós-graduação
em Agronomia; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A ausência de sementes orgânicas no mercado e a escassez de
informações sobre o assunto têm sido fortes empecilhos para a produção orgânica. Avaliou-se a eficiência da adubação verde (AV), do
composto orgânico (CO) e do biofertilizante (B) na produção da
cenoura e na qualidade das sementes, comparados à adubação convencional (AC-testemunha), nos tratamentos: 1) AC; 2) AV+B via
solo; 3) AV+B via planta; 4) CO+B via solo; 5) CO+B via planta; 6)
CO+AV+B via solo e 7) CO+AV+B via planta. Os maiores valores
morfológicos (altura, comprimento e diâmetro), de germinação e de
vigor foram proporcionados pelo tratamento 5, enquanto a produção e os sólidos solúveis totais alcançaram maiores gradientes nas
plantas cultivadas com o tratamento 4, superando os dados do tratamento 1. O tratamento 3 proporcionou produção de raízes com menor número de galhas de nematóide. As cenouras procedentes dos
tratamentos 2 e 6 foram classificadas em tamanho curto. A decomposição do AV, associado ao B via planta, pode ter proporcionado
maior resistência das cenouras aos nematóides e melhor classificação comercial. Os tratamentos orgânicos proporcionaram boa qualidade de raízes, sementes e maior produção.
Production and quality of seeds and roots of carrot cultivated
under organic and mineral fertilization
Palavras-chave: Daucus carota L., composto orgânico,
biofertilizante, adubação verde.
Keywords: Daucus carota L., organic compound, biofertilizer, green
fertilizer
The inexistence of organic seeds in the market and the absence
of information constitute a difficulty for the organic production. The
green fertilizer efficiency (GF) was evaluated, of organic compound
(OC), and biofertilizer (B) in carrot production and seeds quality,
compared to conventional fertilizer (CF-control), through the
treatments: 1) CF; 2, GF+B via soil; 3) GF+B via plant; 4) OC+B
via soil; 5) OC+B via plant; 6) OC+GF+B via soil and 7) OC+GF+B
via plant. Higher morphological values (height, length and diameter),
of germination and vigor were given by treatment 5, while production
and total soluble solids reached higher gradients when growing plants
with treatment 4, upper data of treatment 1. Treatment 3 resulted in
root production with lower number of branches nematode. Carrots
of preview treatments 2 and 6 were classified in a lower size.
Decomposition of GF, linked to B applied to the plant, may have
given a higher carrot resistance to nematodes and better commercial
classification. Organic treatments resulted in better roots and seed
quality and higher production.
(Recebido para publicação em 5 de março de 2006; aceito em 1 de junho de 2007)
A
avaliação da qualidade da cenoura é realizada, principalmente, através da sua aparência, sabor e valor nutritivo. Por essa razão, o agricultor realiza adubações minerais pesadas, procurando aumentar seu tamanho, sua produtividade; melhorar sua aparência e, assim, conseguir uma boa cotação de mercado. A adubação mineral é, em várias
situações, o insumo mais caro nos custos do sistema de produção de hortaliças. Os adubos orgânicos, por sua vez,
podem ser fontes mais baratas de nutrientes que as fontes minerais, especialmente nos locais onde sua obtenção é
facilitada (Rodrigues & Casali, 2000).
A adubação verde é uma técnica de
manejo de solo que consta do manuseio
de espécies, geralmente da família das
leguminosas, com raízes ramificadas,
profundas e com capacidade para associar-se às bactérias do gênero
170
Rhyzobium, promovendo a fixação biológica do nitrogênio. Essas plantas aumentam a atividade biológica do solo,
melhorando as propriedades físico-químicas do mesmo e algumas podem promover a redução da população de
nematóides, com reflexos na produtividade agrícola (Primavesi, 1992).
O biofertilizante, por sua vez, é resultante de resíduos orgânicos que passaram por processo de fermentação em
biodigestor, sendo o produto um adubo
(Oliveira et al., 1984). A adoção da adubação orgânica no cultivo de hortaliças
tem crescido nos últimos anos, devido,
principalmente, aos efeitos benéficos do
material orgânico sobre as propriedades
físicas e químicas do solo, pelo custo
elevado dos adubos minerais solúveis e
à propaganda realizada em torno da produção orgânica de alimentos (Santos et
al., 2001).
A produção de sementes de hortaliças de alta qualidade torna-se uma operação agrícola altamente especializada
e competitiva, exigindo muitos cuidados e condições especiais para serem
produzidas (Giaretta et al., 1984). A
adubação da cenoura pode influenciar
na formação de sementes mais vigorosas. As sementes orgânicas são produzidas com técnicas de cultivo sem uso
de agrotóxicos, sem adubos minerais
solúveis ou processados, não tratadas
com fungicidas sintéticos e fazendo uso
de germoplasma adaptado às condições
locais (Maluf, 2002). A ausência dessas
sementes no mercado tem sido forte
empecilho para a produção orgânica.
Pesquisas voltadas para a produção de
sementes orgânicas que atendam à demanda dos produtores orgânicos, são
muito escassas. Objetivou-se avaliar a
eficiência da adubação orgânica (adubo
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção e qualidade de sementes e raízes de cenoura cultivada em solo com adubação orgânica e mineral
verde, composto orgânico e
biofertilizante), em comparação com a
adubação convencional, sobre a produção e qualidade das raízes e sementes
de cenoura.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
CCA/UFPB em Areia-PB, micro-região
do Brejo Paraibano (altitude de 534 m),
de fevereiro/02 a maio/03, em duas fases distintas (vegetativa e reprodutiva).
Prévio à instalação da pesquisa, foi realizada a análise de solo para se determinar as características químicas antes e
posterior ao emprego dos tratamentos
(Tabela 1), seguindo metodologia da
Embrapa (1997). Realizou-se a análise
da Crotalaria juncea, do biofertilizante
e do composto orgânico, obtendo-se a
concentração do nitrogênio (1,85; 2,18
e 0,80%), fósforo (0,40; 0,44 e 0,80%)
e potássio (1,74; 3,43 e 0,42%), seguindo a metodologia sugerida por Tedesco
(1995).
A fase vegetativa foi realizada em
ambiente protegido, utilizando-se três
vasos (com capacidade unitária de 10
kg) por repetição e mantidas três plantas por vaso após o semeio da cenoura.
Nesta fase avaliou-se a altura de plantas (distância entre o ápice da folha da
planta e a base do colo da raiz); severidade de nematóides (atribuindo-se notas de zero a cinco para a severidade de
danos às raízes, de acordo com
metodologia de Mckinney (Chester,
1950)); classificação de raízes (comprimento, em curtas (10 a 11,99 cm), médias (12 a 16,99 cm) e longas (17 a 20
cm), conforme Freire et al. (1984));
comprimento de raízes (distância entre
o ápice da raiz e a base do colo da planta, em cm); diâmetro do colo das raízes
(secção transversal da raiz, em cm); produção total de raízes (kg); e sólidos solúveis totais com uso de refratômetro,
de acordo com a Association of Official
Analytical Chemistry (Association of
Official Analytical Chemistry, 1970).
O delineamento experimental foi o
inteiramente ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições. Foram empregados adubos orgânicos (composto
orgânico, crotalária e biofertilizante,
para os tratamentos orgânicos) e químiHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
cos (sulfato de amônio e cloreto de potássio, para o tratamento convencional).
Para a obtenção do composto orgânico
utilizaram-se esterco bovino (40%), folhas caídas ao solo (40%), silagem
(15%) e bagaço de cana (5%), sendo
distribuídos em camadas de 0,25 m, na
forma de pilha com altura de 1,80 m.
Foram realizadas as regas e
revolvimentos periódicos (15 dias), até
a completa formação do composto orgânico (120 dias), sendo posteriormente peneirado e submetido às análises de
nitrogênio, fósforo e potássio. O
biofertilizante utilizado correspondeu a
uma adaptação da receita completa de
Supermagro (1994) onde, em um recipiente de 50 L, colocou-se 10 kg de esterco fresco bovino, 25 L de água, 2 kg
de cinzas de padaria, 3 kg de MB4 (farinha de rocha moída), 1 kg de calcário, 6
L de leite e 1 L de melaço de cana-deaçúcar. O melaço e o MB4 foram aplicados em três etapas: 0,334 L e 1 kg,
respectivamente, a cada cinco dias. No
final das adições, completou-se o volume com água para 45 L, tampou-se e
deixou fermentar por 30 dias, sem agitação. Adaptou-se à tampa do recipiente uma mangueira, sendo a outra extremidade submersa em um recipiente com
água, para permitir a saída dos gases e
evitar a entrada de oxigênio, processando-se a obtenção do biofertilizante em
condição anaeróbica. A crotalária
(Crotalaria juncea L.) foi semeada 85
dias antes da cenoura. Aos 60 dias após
a semeadura, no momento da floração,
as plantas foram cortadas ao nível do
solo e distribuídas nos vasos, permanecendo em repouso durante 25 dias.
Os tratamentos constituíram-se de:
1) adubação convencional (AC, testemunha); 2) adubação verde mais
biofertilizante via solo (AV+B via solo);
3) adubação verde mais biofertilizante
via planta (AV+B via planta); 4) composto orgânico mais biofertilizante via
solo (CO+B via solo); 5) composto orgânico mais biofertilizante via planta
(CO+B via planta); 6) composto
o r g â n i c o + a d u b a ç ã o
verde+biofertilizante via solo
(CO+AV+B via solo) e 7) composto
o r g â n i c o + a d u b a ç ã o
verde+biofertilizante via planta
(CO+AV+B via planta).
No tratamento convencional, as doses de NK (nitrogênio e potássio) foram
aplicadas obedecendo à recomendação
de adubação do Laboratório de Química e Fertilidade do Solo do CCA/UFPB.
No plantio, 6,75 g de K2O/vaso, juntamente com 1,5 kg de esterco bovino/
vaso e, na cobertura, 25 g de N/vaso e
25 g de K2O/vaso.
Nos tratamentos com adubação verde (tratamentos 2, 3, 6 e 7), utilizou-se
a matéria verde da crotalária (108,3;
95,6; 76,6 e 65,4 g/vaso, respectivamente) que, adubada anteriormente com o
composto orgânico e o biofertilizante via
solo (à exceção do tratamento 3), foi
cortada e triturada, distribuindo-se sua
massa verde sobre a superfície do solo.
Para os tratamentos 3, 5 e 7, utilizaramse 5% do biofertilizante em pulverizações quinzenais, sobre a parte aérea da
cenoura e adubou-se com 625 g/vaso de
composto orgânico. Nos tratamentos 2,
4 e 6, foram aplicados 0,2 L/vaso de
biofertilizante incorporados ao solo, sendo o composto orgânico empregado nos
tratamentos 4 e 6 na dose de 150 g/vaso.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, por meio
do software SAEG 5.0.
Na fase reprodutiva utilizou-se o
delineamento inteiramente ao acaso, em
esquema fatorial (7x2), com sete tratamentos, duas ordens umbelíferas e quatro repetições. As raízes destinadas à
produção de sementes compreenderam
aquelas de melhor formação e mais vigorosas, procedentes de cada tratamento, verificadas na fase anterior. Estas
foram submetidas ao processo de
vernalização, que consistiu no acondicionamento em sacos plásticos e
armazenamento em geladeira, sob condições de umidade relativa alta (9095%) e temperatura baixa (-4oC), por
três meses, objetivando com isso, assegurar a indução floral (Viggiano, 1990).
As sementes colhidas das umbelas
de primeira e segunda ordem foram testadas em sua germinação, segundo recomendações das Regras para Análise
de Sementes (Brasil, 1992), semeandose 25 sementes em caixas gerbox, com
duas folhas de papel filtro (germibox),
colocadas em germinadores com temperaturas alternadas (20-30oC), e as ava171
RLA Bruno et al.
Tabela 1. Resultados da análise laboratorial de química e fertilidade do solo realizada antes (A) e depois (D) à fase reprodutiva (Results of
chemical analysis of the soil accomplished before (A) and after (D) reproductive phase). Areia, UFPB, 2002-2003.
Tabela 2. Altura de plantas, comprimento e diâmetro de raízes, severidade de nematóides, produção e sólidos solúveis totais (SST) da
cenoura, Daucus carota L., obtidos de diferentes tratamentos. (Plant height, length and diameter of roots, nematodes severity, production
and total soluble solids (SST) of carrot, Daucus carota L., obtained with different treatments). Areia, UFPB, 2002-2003.
Letras iguais não diferem entre si nos diferentes tratamentos, a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
liações realizadas aos 4 e 12 dias, determinando-se o número de plântulas normais; a primeira contagem de germinação foi realizada após o quarto dia de
implantação do teste de germinação; o
índice de velocidade de germinação foi
obtido pela contagem diária do número
de plântulas emergidas do 40 ao 120 dia,
segundo Popinigis (1985).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, e as médias
comparadas pelo Teste de Tukey, por
meio do software SAEG 5.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fase Vegetativa
Houve efeito significativo dos tratamentos sobre as variáveis estudadas,
e a análise de química de fertilidade do
solo (Tabela 1) quantificou maiores incrementos nos valores de pH, P, K, Ca,
Mg e matéria orgânica do solo, como
efeito residual da adubação com o tra172
tamento 5, em relação aos valores iniciais. O biofertilizante contribuiu com
maiores concentrações de N e K nos tecidos vegetais, enquanto o P foi encontrado em maior quantidade no composto orgânico.
O tratamento 5 resultou em maior
crescimento (30,8 cm) em comparação
às plantas cultivadas com o tratamento
3 (26,4 cm), não se verificando diferenças significativas entre as alturas de
plantas dos demais tratamentos, incluindo o convencional (Tabela 2). O maior
incremento na altura das plantas demonstra que a associação do composto
orgânico ao biofertilizante via planta
possibilitou uma maior disponibilidade
de nutrientes para o solo (Tabela 1) e às
plantas, e melhor condição de desenvolvimento no solo com pH 7,4, e elevada
saturação de bases (93%) quando comparado ao solo sob cultivo das plantas
com AV+B via planta (79%). Essa condição de solo pode ter favorecido maior
atividade microbiológica e decomposição do composto orgânico, que associado ao biofertilizante com maior teor de
N aplicado via foliar, proporcionou
maior crescimento das mesmas. Esses
valores de pH e saturação por bases estão acima das faixas de 5,7 a 6,8 e de 70
e 80%, respectivamente, recomendadas
por Filgueira (2003) para a cultura da
cenoura.
O maior comprimento de raiz (Tabela 2) foi obtido nas plantas adubadas
com o composto orgânico e
biofertilizante (tratamento 5), alcançando em média 13,5 cm, conferindo às
raízes classificação comercial tipo média. Conforme resultados da análise do
solo (Tabela 1), não houve impedimento químico (pH) para o desenvolvimento das raízes, observando-se valores próximos à neutralidade nos tratamentos 1;
2 e 3 e ligeiramente alcalinos para os
demais tratamentos. Segundo Ferraz
(1992), a adição de matéria orgânica ao
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção e qualidade de sementes e raízes de cenoura cultivada em solo com adubação orgânica e mineral
Tabela 3. Germinação e vigor (PC: primeira contagem e IVG: índice de velocidade de germinação) das sementes de cenoura, Daucus carota
L., obtidas de diferentes ordens umbelíferas e tratamentos (Germination and vigor (first counting and germination speed index) of the carrot
seeds, Daucus carota L., obtained of different umbels and treatments).Areia, UFPB, 2002-2003.
Letras iguais (minúsculas nas colunas) e (maiúsculas nas linhas) não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey; *PC:
primeira contagem e IVG: índice de velocidade de germinação.
solo favorece o desenvolvimento de
raízes das plantas. Foy et al. (1993) relataram que através do crescimento de
raízes de soja pode-se saber se o solo
está ou não ácido (pH) e se apresenta
alumínio tóxico.
Quanto ao comprimento, as raízes de
cenoura são classificadas em três grupos: curtas, médias e longas. As raízes
de cenoura obtidas dos tratamentos 2 e
6 foram classificadas em curtas (10 11,99 cm), enquanto as raízes dos demais tratamentos foram classificadas
como médias, não se obtendo no presente trabalho, cenouras com raízes longas. Siqueira et al. (2005), avaliando
raízes de cultivares de cenoura em sistema de produção orgânica obtiveram
raízes médias (12 - 17 cm e diâmetro de
2,5 a 3,0 cm).
Igualmente aos resultados anteriormente descritos, pode ser verificada a maior
expressão do diâmetro do colo (1,2 cm),
quando se empregou o tratamento 5, diferindo significativamente do tratamento 3,
ao substituir o composto orgânico pelo adubo verde houve menor desenvolvimento do
diâmetro do colo de cenoura (1,0 cm), significativamente semelhante ao emprego do
tratamento completo 6, quando se obteve
diâmetro de 1,13 cm. O emprego conjunto
do composto orgânico com o biofertilizante
via foliar favoreceu o crescimento
vegetativo (altura, comprimento e diâmetro). Resultados semelhantes foram observados por Deleito et al. (2005), ao estudarem a ação do biofertilizante sobre o desenvolvimento de mudas de pimentão, onde
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
destacaram que a aplicação foliar comparada à aplicação via substrato, proporcionou, para a maioria dos tratamentos, maiores comprimentos das hastes e raízes, e valores mais elevados de peso da matéria seca
da parte aérea e área foliar.
Registrou-se menor número de
galhas causadas por nematóides (menor
nota) quando se aplicou o adubo verde
associado ao biofertilizante, tanto via
planta (tratamento 3) quanto via solo
(tratamento 2), o qual mostra o efeito
da adubação verde com Crotalaria
juncea no controle de nematóides (Tabela 2). Esse resultado está de acordo
com Rossi (2002), ao afirmar que a ação
de controle de nematóides pode ocorrer
durante a decomposição da fitomassa
dos adubos verdes, que ocorre após a
incorporação. Este processo libera no
solo substâncias orgânicas tóxicas que
inativam os nematóides.
A maior produção total (495 g) foi
obtida com o tratamento 4, enquanto a
menor produção ocorreu nos tratamentos 1 (290 g); 5 (330 g) e 6 (290 g) (Tabela 2). A associação do composto orgânico no solo e do biofertilizante sobre as folhas da cenoura (tratamento 5)
não contribuiu para o maior peso das
raízes, ao contrário do que foi observado nas características morfológicas
(maiores altura de plantas, diâmetro do
colo e comprimento de raízes). Isso fica
evidente pelo incremento de elementos
nutricionais no solo (Tabela 1) e, possivelmente, pelo efeito fito-hormonal (Pinheiro & Barreto, 1996) e do N, oriun-
dos do biofertilizante sobre o crescimento da planta. Silva (2002), ao estudar o
efeito dos adubos verdes na produção
orgânica de brócolis em sistema plantio
direto, obteve maior produção com a
crotalária ou quando essa leguminosa foi
consorciada com o sorgo.
Para a qualidade das raízes destacouse a aplicação de biofertilizante via solo
no tratamento 6 seguido pelo tratamento 4 que produziram raízes com teor significativamente mais elevado de sólidos
solúveis totais (10,5 e 10,3 ºBrix, respectivamente) (Tabela 2). Provavelmente, a maior concentração de N e K na
composição do biofertilizante contribuiu
para o balanço nutricional das cenouras, quando este foi disponibilizado via
solo, e melhorou propriedades químicas
e, principalmente a matéria orgânica do
solo (Tabela 1). Esse resultado está de
acordo com Viana et al. (2002), ao observarem que frutos de tomate colhidos
e nutridos apenas com biofertilizante e
adubo verde, exibiram menores teores
de sólidos solúveis totais.
Fase Reprodutiva
Houve efeito significativo entre tratamentos e ordens, dentro das variáveis
estudadas. Nas condições climáticas do
local e na época em que o experimento
foi conduzido, houve necessidade do
tratamento de raízes em câmara fria
(frigorificação), para que as plantas iniciassem a fase reprodutiva. Os registros
de temperatura durante a época em que
o experimento foi conduzido (máxima
de 27 e mínima de 17ºC), demonstra173
RLA Bruno et al.
ram que não houve freqüência de temperaturas abaixo de 15ºC, nos meses de
cultivo, necessária para a indução floral
(Barbedo et al., 2000).
Na germinação de sementes colhidas
em umbelas primárias (Tabela 3), resultantes de cenouras cultivadas em diferentes tipos de adubação orgânica e convencional, não se constatou diferença significativa entre tipos de tratamentos orgânicos e convencional empregados. Porém, sementes procedentes de umbelas
secundárias, apenas aquelas oriundas de
plantas cultivadas na presença do composto orgânico mais biofertilizante via
solo (tratamento 4) apresentaram germinação inferior (56%), diferindo estatisticamente da germinação das sementes
colhidas nos demais tratamentos empregados. Ressalta-se, ainda, no mesmo tratamento, que as sementes colhidas em
umbelas de ordem primária apresentaram
maior germinação (92%) em relação às
secundárias (56%). Barbedo et al. (2000),
estudando o efeito de populações sobre
a qualidade da semente de cenoura, verificaram que sementes selecionadas de
umbelas primárias e secundárias apresentaram maior percentagem de germinação
(72%), que as obtidas em coletas generalizadas de umbelas.
O vigor das sementes de ordem primária, avaliado por meio de primeira
contagem de germinação (Tabela 3),
evidenciou diferenças significativas entre os tratamentos utilizados na produção de sementes, destacando-se aquelas produzidas sob adubação orgânica
do tratamento 5 com maior percentual
de germinação. Com relação à ordem
secundária, o tratamento 4 proporcionou
sementes menos vigorosas com menor
percentual de germinação no primeiro
dia de contagem, sendo estatisticamente diferente dos demais tratamentos. Os
maiores desempenhos morfológico e
produtivo (Tabela 2), efeito residual dos
nutrientes, pH, nível adequado de matéria orgânica (Tabela 1) e saturação de
bases contribuíram na formação de sementes mais vigorosas. Estes resultados
estão de acordo com Muniz & Porto
(1999), que, estudando as qualidades de
cenoura oriundas de umbelas primárias
e secundárias, e de diferentes lavouras,
determinaram que os testes de primeira
contagem e índice de velocidade de
emergência em campo foram mais sensíveis para detectar diferenças na qualidade de sementes de cenoura.
174
Dependendo da origem das sementes na umbela (Tabela 3), não houve influência no vigor quanto ao local de
colheita das sementes (umbelas de ordens primária e secundária), quando estas foram procedentes dos tratamentos
2; 4 e 5. Nos demais tratamentos, as
umbelas secundárias originaram sementes mais vigorosas.
O vigor das sementes de umbelas
primárias, obtido pelo índice de velocidade de germinação (Tabela 3), apresentou diferenças significativas para
aquelas plântulas oriundas de plantas
cultivadas sob o tratamento 5 com velocidades de germinação superiores aos
observados nos tratamentos 3 e 6. Sementes de ordem secundária foram
menos vigorosas (IVG), quando oriundas de plantas adubadas com o tratamento 4 e germinaram em maior velocidade quando colhidas de umbelas de
plantas adubadas com o tratamento 7.
Comparando as ordens umbelíferas,
apenas o tratamento 4 apresentou resultado estatístico diferente, com menor
velocidade de germinação nas sementes colhidas da ordem secundária. O
desempenho vegetativo alcançado nas
cenouras adubadas no tratamento 5 proporcionou sementes com maior potencial germinativo e vigor, independente
da ordem umbelífera colhida.
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
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das inflorescências e épocas de colheita. Horticultura Brasileira 25:175-179.
Produção de biomassa e óleo essencial de elixir-paregórico em função do
corte das inflorescências e épocas de colheita
Larissa CB Costa¹; José Eduardo BP Pinto²; Suzan KV Bertolucci²; Maria G Cardoso3
¹Universidade Estadual de Santa Cruz, Depto. Ciências Biológicas, 45662-000 Ilhéus-BA; ²UFLA, Depto.Agricultura, C. Postal 3037,
37200-000 Lavras-MG; 3UFLA, Depto.Química; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a produção de biomassa e óleo essencial de plantas
de elixir-paregórico (Ocimum selloi), em função do corte das
inflorescências e épocas de colheita. O experimento foi realizado
em campo, em blocos ao acaso, com os tratamentos dispostos em
fatorial 2 x 8, sendo dois sistemas de manejo (com e sem corte de
inflorescências) e oito épocas de colheita (45; 60; 75; 90; 105; 120;
135 e 150 dias após o transplante das mudas), com quatro repetições. Avaliaram-se as características altura de planta, massa seca de
caule (MSC), folhas (MSF) e inflorescências (MSI) e teor e rendimento de óleo essencial destilado de folhas. O corte das
inflorescências não afetou a altura das plantas. Plantas intactas apresentaram uma média de altura de 51,8 cm, enquanto aquelas que
tiveram suas inflorescências cortadas atingiram em média 53,2 cm
de altura. O crescimento das plantas apresentou resposta quadrática
em relação às épocas de colheita, com a altura máxima estimada de
65,9 cm, 139 dias após o transplante (DAT). As plantas cujas
inflorescências foram cortadas produziram maior MSC (51,8 g planta-1) e
MSF (27,9 g planta-1), em relação às plantas sem corte (MSC = 42,4;
MSF = 21,3 g planta-1) e, assim como MSI, apresentaram ajuste
quadrático para os dois sistemas de manejo, ao longo das épocas de
colheita. O teor de óleo essencial das folhas não foi afetado pelo
sistema de manejo, mas apresentou resposta quadrática às épocas de
colheita. Entretanto, o rendimento médio de óleo essencial das folhas das plantas cuja inflorescência foi cortada foi significativamente maior (1,60 g planta-1) do que nas plantas que não sofreram o
corte (1,18 g planta -1). Para as plantas que tiveram as suas
inflorescências cortadas, o rendimento de óleo máximo estimado
foi de 2,36 g planta-1, obtido 135 DAT, enquanto nas plantas que não
foram cortadas o rendimento de óleo máximo estimado foi de 1,65 g
planta-1, obtido 114 DAP.
Biomass and essential oil production of Ocimum selloi as
affected by cutting of inflorescences and harvest times
Biomass and essential oil production of Ocimum selloi were
evaluated, as a result of cutting of inflorescences and harvest times.
The experiment was conducted in the field, in randomized blocks,
with treatments distributed in a 2 x 8 factorial scheme, corresponding
to two management systems (with and without inflorescence cutting)
and eight harvest dates (45; 60; 75; 90; 105; 120; 135, and 150 days
after seedling transplant), with four replications. Plant height and
stems (SDW), leaves (LDW), and inflorescences dry weight (IDW),
as well as essential oil content and yield were evaluated. Inflorescence
cutting did not interfere with plant height. Intact plants were 51.8
cm tall in average, while those in which inflorescences were cut
reached 53.2 cm as average height. Harvest times induced a quadratic
plant growth, with the estimate of 65.9 cm as maximum height, to
be achieved 139 days after the transplant (DAT). Plants in which
inflorescences were cut produced larger SDW (51.8 g plant-1) and
LDW (27.9 g plant-1) than intact plants (SDW = 42.4; LDW = 21.3 g
plant -1) and, like IDW, SDW and LDW presented quadratic
adjustment for the two management systems during the harvesting
period. Essential oil content of dry leaves was not affected by
management systems, but presented a quadratic answer to harvest
times. Nevertheless, the average essential oil yield in plants in which
inflorescences were cut was significantly higher (1.60 g plant-1) than
in intact plants (1.18 g plant-1). Maximum essential oil yield estimated
for plants in which inflorescences were cut was 2.36 g plant-1, to be
obtained 135 DAT, while in intact plants, it was estimated to be 1.65
g plant-1, to be reached at 114 DAP.
Palavras-chave: Ocimum selloi, planta medicinal e aromática, época de colheita, sistema de manejo.
Keywords: Ocimum selloi, medicinal and aromatic plant, harvest
time, management system.
(Recebido para publicação em 31 de outubro de 2005; aceito em 18 de abril de 2007)
O
gênero Ocimum contém cerca de
30 espécies nativas dos trópicos e
subtrópicos, algumas delas também encontradas em regiões temperadas (Vieira
& Simon, 2000). Ocimum selloi Benth.
é um subarbusto perene, pertencente à
família Lamiaceae, nativo das regiões
sudeste e sul do Brasil (Lorenzi & Matos, 2002). Esta espécie conhecida popularmente como elixir-paregórico nos
estados da Bahia, Espírito Santo e Rio
de Janeiro, como alfavaquinha ou anis
em Minas Gerais e, como atroveran, em
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
São Paulo, tem largo uso popular, como
antidiarréico, antiespasmódico e
antiinflamatório (Lorenzi & Matos,
2002), além de ter comprovada atividade como repelente de insetos (Paula et
al., 2003). Estudos da composição química do óleo essencial vêm apresentando variações dos constituintes majoritários: metil chavicol, metil eugenol
(Martins, 1998) e trans-anetol com metil
chavicol (Moraes et al., 2002), o que
comprova a existência de diferentes
quimiotipos nesta espécie.
Pesquisas agronômicas direcionadas
ao estabelecimento de técnicas de cultivo organizado de plantas medicinais,
além de incrementarem o seu potencial
produtivo, tornam-se um instrumento
indireto, mas muito importante para a
preservação das nossas espécies nativas.
O interesse na domesticação de plantas
do gênero Ocimum é bastante recente e
tem sido direcionado principalmente às
pesquisas com germinação de sementes
(Moraes et al., 2003a, Fonseca et al.,
2003), produção de mudas (Santos Neto
175
LCB Costa et al.
Tabela 1. Altura de planta, massa seca do caule (MSC), folhas (MSF) e inflorescências
(MSI), teor e rendimento de óleo essencial destilado de folhas secas de elixir-paregórico,
com e sem corte de inflorescências, em função das épocas de colheita (Plant height, stem
(MSC), leaf (MSF), and inflorescence dry weight (MSI), essential oil content and distilled
essential oil yield from O. selloi dry leaves, with and without inflorescence cutting, as affected
by harvest times). Lavras, UFLA, 2005.
po de secagem (Carvalho et al., 2006).
Para a obtenção de drogas vegetais
de qualidade desejável, a produção de
plantas medicinais deve ser controlada
desde o seu plantio até a colheita
(Martins et al., 1995). Na obtenção da
matéria-prima, as técnicas de cultivo da
espécie selecionada devem atender ao
objetivo de aumentar a produção de biomassa por área, sem comprometer o
valor terapêutico da planta (Castro et al.,
2004). Neste aspecto, um fator crítico é
a definição da época ideal de colheita,
que deve proporcionar a coincidência
entre os momentos de maior concentração do fármaco e de maior biomassa
vegetal (Mattos, 1996). Para estabelecer o manejo adequado do elixirparegórico, torna-se necessário conhecer a sua fenologia (Shiroma et al.,
2003), bem como estudar o desenvolvimento de práticas culturais que possam
incrementar a produção de óleo. Em O.
basilicum o corte das inflorescências
pode estimular o crescimento e as ramificações laterais da planta (Simon,
2006), além de aumentar a concentração de óleo essencial nas folhas remanescentes (Hertwig, 1991).
De acordo com Mattos (1996), a
poda da florada de algumas plantas,
como o basilicão e a manjerona, é uma
prática freqüente em aromáticas com a
finalidade de exaltar a folhagem,
incrementar o aroma das folhas e aumentar o número de colheitas. Porém,
não se tem conhecimento do efeito desta prática sobre o elixir-paregórico.
Além disso, não há pesquisas que apontem o intervalo mais apropriado de colheita das folhas e indiquem o impacto
da poda da florada sobre o rendimento
de óleo essencial.
Esse trabalho objetivou avaliar a produção de biomassa e óleo essencial de
plantas de elixir-paregórico em função
do corte das inflorescências e épocas de
colheita.
MATERIAL E MÉTODOS
et al., 2001, Moraes et al., 2003b), adubação química (Rodrigues et al., 2003)
e orgânica das plantas (Chaves et al.,
176
2001), competição de cultivares
(Camêlo et al., 2005) e definição de
horário de colheita, temperatura e tem-
O experimento foi conduzido no
Horto de Plantas Medicinais da UFLA,
de dezembro de 2004 a maio de 2005.
O solo predominante na área é classificado como Latossolo Vermelho
Distroférrico, com topografia ondulada,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção de biomassa e óleo essencial de elixir-paregórico em função do corte das inflorescências e épocas de colheita
textura argilosa e boa drenagem. As
amostras de solo foram analisadas em
laboratório da UFLA, apresentando os
resultados: pH em água = 6,2; P e K (mg
dm-³) = 43,4 e 44; Ca2+, Mg2+, Al3+, H+Al
(cmolc dm-³) = 4,1; 0,9; 0,0; 3,2; saturação de bases (%) = 61,5; matéria orgânica (dag kg-1) = 3,8; Zn, Fe, Mn, Cu, B
e S (mg dm-³) = 22,6; 51,6; 51,8; 4,1;
0,2 e 25,5.
Sementes de elixir-paregórico (depósito herbário ESAL n° 7474) foram
plantadas em bandejas de poliestireno
expandido preenchido com substrato
comercial e mantidas em casa-de-vegetação, sob nebulização intermitente, por
60 dias. As mudas foram transplantadas
para o campo em 02/12/04. A área havia sido previamente arada e adubada
com 0,5 L de esterco de gado curtido
por cova, em espaçamento 1,0 x 1,0 m.
A análise do esterco bovino apresentou
os seguintes valores de macro e micronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e S (g kg-1)
= 5,0; 0,67; 24,98; 5,32; 4,06 e 0,51; B,
Cu, Fe, Mn e Zn (mg kg-1) = 18,33;
22,06; 12.052,99; 223,47 e 58,52). Foi
mantida irrigação diária, por aspersão,
até 31/03/05. Foram realizadas capinas
conforme a necessidade. O delineamento estatístico utilizado foi blocos ao acaso, em fatorial 2 x 8, sendo dois sistemas de manejo (com e sem corte das
inflorescências) e oito épocas de colheita (45; 60; 75; 90; 105; 120; 135 e 150
dias após o transplante das mudas), com
quatro repetições. Cada parcela foi composta por duas plantas, totalizando 128
plantas úteis, contornadas por uma linha de bordadura.
Nas avaliações, toda a parte aérea
das plantas foi colhida às 08 horas da
manhã (Carvalho et al., 2006), sendo o
corte feito rente ao solo. O material coletado foi conduzido imediatamente ao
laboratório da UFLA, onde cada planta foi separada em caule, folhas e
inflorescências, individualmente embaladas em sacos de papel kraft e secas
em estufa com circulação de ar forçada, a 35ºC, até peso constante. O corte
das inflorescências começou a ser realizado quando se confirmou visualmente o surgimento das primeiras gemas
floríferas, com cerca de 0,5 cm, o que
ocorreu em 10/02/05. Posteriormente,
o corte das inflorescências foi realizado semanalmente, independente do seu
tamanho. As características estudadas
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. (Continuação)
foram altura da planta (cm) e massa
seca (g) de caule, folhas e
inflorescências (nos tratamentos sem
corte).
Para a avaliação do teor e rendimento, o óleo essencial foi extraído, em quatro repetições, pelo processo de
hidrodestilação em aparelho de
Clevenger modificado, utilizando balões
de 1 L com 40 g de massa seca de folhas, em 500 mL de água destilada, por
90 minutos (Martins, 1996). Em seguida, realizou-se uma partição líquido-líquido, em funil de separação, onde foi
adicionado diclorometano ao hidrolato,
para a purificação do óleo. À fração orgânica obtida, adicionou-se sulfato de
magnésio anidro em excesso para retirar possíveis resíduos de umidade. Após
alguns minutos em repouso, a solução
foi filtrada e armazenada à temperatura
ambiente, em frascos escuros parcialmente tampados, até a completa evaporação do solvente. Determinou-se, então, o teor de óleo essencial através de
pesagem, avaliando-se o teor de óleo
essencial (g 100 g-1 MS) e o rendimento
de óleo essencial (g planta-1).
Os dados obtidos foram submetidos
à análise estatística por meio do software
SISVAR® (Ferreira, 2000), utilizando
comparação de médias através do teste
F a 5% de probabilidade para o corte e,
análise de regressão, para a época de
corte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Crescimento e produção de biomassa
O sistema de manejo de corte das
inflorescências não afetou a altura das
plantas. Plantas intactas apresentaram
uma média de 51,8 cm durante o período avaliado, enquanto aquelas que tiveram suas inflorescências cortadas atingiram 53,2 cm de altura, confirmando
resultados de Gonçalves (2001), que
obteve uma altura média de 50 cm em
plantas de elixir-paregórico cultivadas
sob radiação solar plena. O crescimento das plantas apresentou uma resposta
quadrática em relação às épocas de colheita, com a altura máxima estimada
de 65,9 cm, 139 dias após o transplante
(DAT) (Tabela 1). O crescimento mais
177
LCB Costa et al.
intenso ocorreu até 90 DAT, período que
coincidiu com o auge da floração (que
iniciou 75 DAT), diferentemente do que
foi observado por Shiroma et al. (2003),
que relatam que o crescimento ocorreu
de forma mais intensa da quarta à oitava semana após o transplante, período
imediatamente anterior à floração. Esta
diferença pode ter sido verificada em
virtude do local, época e forma de plantio. As diferentes condições climáticas,
fotoperíodo e a disponibilidade prolongada de nutrientes no perfil do solo no
cultivo a campo possivelmente contribuíram para o alongamento do ciclo
reprodutivo da planta.
O corte das inflorescências influenciou significativamente o rendimento de
massa seca de caule (MSC) e massa seca
de folhas (MSF), ao longo das épocas
de colheita (Tabela 1). As plantas cujas
inflorescências foram cortadas produziram maior quantidade média de MSC
(51,8 g planta-1) e MSF (27,9 g planta-1),
em relação às plantas sem corte, que
produziram 42,4 g planta-1 e 21,3 g planta-1, respectivamente, confirmando as
informações de Simon (2006) para
Ocimum basilicum. Comportamento
semelhante foi encontrado com
tanchagem (Plantago major L.), onde a
supressão das inflorescências proporcionou incrementos significativos para as
características de biomassa estudadas,
com exceção da altura da planta (Blanco,
1998).
A MSC apresentou um ajuste
quadrático para os dois sistemas de manejo, ao longo das épocas de colheita
(Tabela 1). A partir de 75 dias DAT, época de início da floração e conseqüentemente do corte das inflorescências as
plantas desprovidas de inflorescências
apresentaram maior acúmulo de MSC
do que as plantas que não sofreram o
corte, atingindo 26,5% a mais de massa
seca até o final do período estudado.
A MSF também apresentou uma resposta quadrática nos dois sistemas de
manejo, ao longo das épocas de colheita (Tabela 1). Nas plantas cujas
inflorescências foram cortadas, a produção máxima estimada de MSF (45,5
g planta-1) foi obtida 149 DAT, enquanto nas plantas que não tiveram as suas
inflorescências cortadas, a produção
máxima estimada foi menor (31,5 g
178
planta-1) e ocorreu mais cedo (115 DAT),
sendo seguida por um declínio. Esta diferença de comportamento pode ser
explicada pelo fato de que, com o
florescimento ocorre a translocação de
fotoassimilados das regiões de síntese
(folhas) para os locais onde serão consumidos, no caso as inflorescências e os
frutos em formação (Larcher, 2000),
enquanto
nas
plantas
cujas
inflorescências foram cortadas, os
fotossintatos foram direcionados para a
produção de mais folhas.
A formação de inflorescências pela
planta foi muito intensa e teve início 75
DAT. A matéria seca das inflorescências
(MSI) mostrou um ajuste quadrático
para as épocas de colheita (Tabela 1),
sendo que o período avaliado não foi
suficiente para determinar a sua produção máxima, considerando que o elixirparegórico é uma espécie perene
(Lorenzi & Matos, 2002). Ao final do
experimento notou-se que as plantas que
não tiveram suas inflorescências cortadas apresentaram um aspecto geral
senescente, com muitas folhas amareladas. Por outro lado, as plantas cujas
inflorescências foram cortadas apresentaram-se mais vigorosas e com folhas
de coloração verde mais intensa. Segundo Hertwig (1991), a supressão das flores evita o envelhecimento precoce das
plantas, porque elimina o dreno de
fotossimilados.
Produção de óleo essencial
O teor de óleo essencial das folhas
de elixir-paregórico não foi afetado pelo
sistema de manejo, mas apresentou uma
resposta quadrática às épocas de colheita, com produção máxima estimada de
2,93 g 100 g-1 MSF, 117 DAT, após o
qual tendeu a estabilizar (Tabela 1). A
variação do teor de óleo em função da
idade da planta parece ser um fator que
varia com a espécie, pois para Ocimum
gratissimum a maior produção de óleo
essencial, 1,25%, ocorreu com 83 dias
(Rocha et al., 2005), enquanto para
Cymbopogon citratus foi observado um
decréscimo gradual do teor de óleo com
a idade da planta (Leal et al., 2003). O
teor médio de óleo essencial de elixirparegórico obtido neste trabalho foi superior aos valores encontrados por Gonçalves (2001) e Martins (1996), possivelmente em virtude de diferenças entre os
materiais genéticos, época e local de cultivo e colheita, além do método de extração utilizando folhas frescas e outros
solventes orgânicos, como pentano e éter
dietílico, respectivamente.
A interação entre o corte e a época
de colheita teve efeito significativo sobre o rendimento de óleo essencial da
planta, resultando em ajustes
quadráticos (Tabela 1). A média de rendimento de óleo essencial obtido das
folhas das plantas cujas inflorescências
foram cortadas apresentou-se significativamente maior (1,60 g planta-1) do que
nas plantas que não sofreram o corte
(1,18 g planta-1). Para as plantas que tiveram as suas inflorescências cortadas
o rendimento de óleo máximo estimado
foi de 2,36 g planta-1, obtido 135 DAT,
enquanto nas plantas que não foram cortadas o rendimento de óleo máximo estimado foi de 1,65 g planta-1, obtido 114
DAP (Tabela 1). O corte das
inflorescências proporcionou um aumento médio de 26,25% no rendimento
de óleo essencial em relação às plantas
não cortadas.
Nas plantas em que se cortaram as
inflorescências semanalmente, aparentemente
a
translocação
dos
fotoassimilados ficou direcionada para
a produção de maior quantidade de massa foliar. Desta forma, apesar do corte
das inflorescências não ter apresentado
efeito sobre o teor de óleo essencial na
planta, verificou-se que o aumento do
rendimento de óleo ocorreu em função
do incremento de massa seca de folhas
de elixir-paregórico, como observado
em Cymbopogon citratus, onde apesar
do teor de óleo essencial ter diminuído
com a idade da planta, o rendimento final aumentou, compensado pela maior
quantidade da biomassa seca produzida
(Leal et al., 2003).
Em conclusão, o corte das
inflorescências de O. selloi não interfere na altura da planta e no teor de óleo
essencial, mas proporciona um aumento da produção de caules e folhas, bem
como, no rendimento final de óleo essencial. A época ideal de colheita ficou
em torno de 135 DAT para o manejo que
utilizou
corte
semanal
das
inflorescências e 114 DAT para o manejo que manteve as inflorescências
intactas.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção de biomassa e óleo essencial de elixir-paregórico em função do corte das inflorescências e épocas de colheita
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Resposta do quiabeiro às doses de fósforo aplicadas em solo arenoso
Ademar P. de Oliveira1; Carina Seixas M. Dornelas2; Adriana U. Alves2; Anarlete U. Alves3; Jandiê
Araújo da Silva2; Arnaldo Nonato P. de Oliveira3
UFPB, CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB 1Bolsista em produtividade em pesquisa CNPq; 2Programa de pós-graduação em
agronomia; 3Gaduação em agronomia; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito da adubação fosfatada no rendimento do
quiabeiro, cultivar Santa Cruz, em experimento com delineamento
experimental de blocos casualizados, com cinco tratamentos (0; 44;
88; 132 e 176 kg ha-1 de P), em quatro repetições. O número máximo de frutos por planta (43) foi obtido na dose máxima de 176 kg
ha-1 de P. A produtividade máxima estimada de frutos comerciais
(38,6 t ha-1) ocorreu com 139 kg ha-1 de P. A dose de P que proporcionou maior retorno econômico foi 137 kg ha-1, com produção de 38,3
t ha-1 de frutos comerciais, o que representa um incremento de 17,4
t ha-1 de frutos. A dose mais econômica representou 98% daquela
responsável pela máxima produção, o que pode indicar que o quiabeiro responde economicamente à adubação fosfatada no solo estudado e a dose de P responsável pela máxima produção comercial de
frutos foi relacionada com 40 mg dm-3 de P disponível no solo
(Mehlich 1). Da mesma forma, a dose responsável pelo maior retorno econômico foi associada com 38 mg de P dm-3.
Palavras-chave: Abelmoschus esculentus, adubação fosfatada,
Neossolo, retorno econômico.
Response of phosphorus levels on okra planted in sandy
soil
The influence of phosphorus fertilization on yield of okra, cv.
Santa Cruz was evaluated. The research was carried out in the
experimental design of randomized blocks, with five treatments (0;
44; 88; 132 and 176 kg ha-1 of P), and four replications. The maximum
number of fruits per plant (43) was obtained with the maximum
level of 176 kg ha-1 of P. The estimated maximum yield of commercial
fruits (38.6 t ha-1), was related to 139 kg ha-1 of P. The application of
137 kg ha-1 of P provided the highest economical income, yielding
38.3 t ha-1 of commercial fruits, with an increment of fruits of 17.4 t
ha-1. The most economic level represented 98% of that responsible
for the maximum yield, indicating that the okra responded
economically to the use of P in sandy soil and, of the P level
responsible for the maximum commercial yield of fruits were related
to 40 mg dm-3 of available P in soil (Mehlich 1), and the level
responsible for the highest economic income was related to 38 mg
dm-3.
Keywords: Abelmoschus esculentus, phosphated fertilization, Quartz
psamment, economic income.
(Recebido para publicação em 15 de dezembro de 2005; aceito em 12 de junho de 2007)
A
adubação mineral é uma das práticas que mais afeta a produção de
hortaliças, tanto sob o aspecto
tecnológico quanto econômico
(Filgueira, 2000). As doses de fertilizantes aplicadas no solo não devem ser
limitantes ao crescimento e à produtividade das culturas, no entanto, se em
excesso, poderão interferir na absorção
de outros nutrientes (Coutinho et
al.,1993).
O fósforo, geralmente, é um nutriente limitante da produção agrícola nos
solos tropicais e subtropicais, devido aos
seus baixos teores no solo, fato que implica na prática constante da adubação
fosfatada (Minhoni et al., 1991). O fósforo
atua
positivamente
no
florescimento e na frutificação das plantas, contribui para o bom desenvolvimento do sistema radicular e incrementa
a produção, melhorando a qualidade dos
produtos vegetais (Raij, 1991). Apesar
das plantas requererem menor quanti180
dade desse nutriente, em relação ao potássio e nitrogênio, as recomendações,
para a adubação das culturas indicam
quantidades de fósforo superiores às
daqueles nutrientes, devido ao seu baixo aproveitamento (5% a 20%), em decorrência do fenômeno da fixação, que
resulta na redução da disponibilidade em
solos tropicais (Alcarde et al., 1989;
Vale et al., 1993).
Em solos naturalmente bem supridos em fósforo, a sua adição não afeta a
produção nem a qualidade das hortaliças (Fontes & Wilcox, 1984). Contudo,
mesmo em solos já adubados anteriormente, em geral, a deficiência de fósforo poderá ocorrer, sendo possível obter
curva de respostas para as diferentes
classes de teores desse nutriente no solo
(Raij, 1991). Os solos, porém, diferem
quanto à imobilização dos fosfatos e as
condições que favorecem a intensidade
deste fenômeno são maior teor de argila e de óxidos de ferro e alumínio nessa
fração, e menor valor de pH (Raij, 1983).
Em condições de solos com pequena
CMAP (Capacidade Máxima de
Adsorção de P), como os arenosos, é
preciso maior valor do I (Fator Intensidade), ou seja, a concentração ótima
para atender à demanda da planta; bem
como para uma mesma quantidade de
fósforo colocada no solo, devem ser
encontrados valores do I bem maiores
nos solos arenosos (Novais & Smyth,
1999).
As culturas absorvem fósforo desde
os primeiros estádios de crescimento,
durante a germinação e a emergência e,
daí por diante, até a senescência. O fósforo é, reconhecidamente, um nutriente
relevante para a obtenção de produtividade elevada. Tem sido o
macronutriente que freqüentemente limita a produção, e apesar da pequena
exigência da cultura são obtidas respostas positivas à adubação fosfatada. Além
da pobreza dos solos brasileiros em fósHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Reposta do quiabeiro às doses de fósforo aplicadas em solo arenoso
foro disponível, é baixo o aproveitamento desse nutriente aplicado via adubação, pois sua retenção é elevada nos solos tropicais (Novais & Smith, 1999).
Embora o fósforo seja um dos nutrientes que proporcione maior resposta em termos de produção de frutos no
quiabeiro (Filgueira, 2000), pouco se
conhece, ainda, a respeito das quantidades a serem utilizadas, permitindo
rendimentos satisfatórios nessa cultura.
As recomendações do seu emprego para
essa hortaliça encontradas na literatura
variam de 96 kg ha-1 de P para a região
do Amazonas (Pimentel, 1985), até 152
kg ha-1 de P para solos de fertilidade
média ou baixa nas regiões Sul e Sudeste do país (Filgueira, 2000). Este trabalho teve como objetivo avaliar a reposta do quiabeiro às doses de fósforo
aplicadas em solo arenoso.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em área experimental da UFPB, em Areia, entre outubro de 2004 e fevereiro de 2005, em solo
NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico
Típico (Embrapa, 1999), textura areia
franca. As análises químicas e físicas da
camada de 0-20 cm, realizadas segundo
Embrapa (1997), resultaram em: pH = 6,4;
P = 11,24 mg dm-3; K = 217,25 mg dm-3;
Al+3 = 0,05 cmolc dm-3; Ca2+ = 4,95 cmolc
dm-3; Mg2+ = 2,5 cmolc dm-3; matéria orgânica = 24,93 g kg-1; areia grossa = 672
g kg-1; areia fina = 125 g kg-1; silte = 126 g
kg-1; argila = 77g kg-1 e densidade do solo
= 1,28 g cm-3. O preparo do solo foi realizado com aração e gradagem, em seguida
foram abertas as covas de plantio.
Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com cinco tratamentos (0; 44; 88; 132 e 136 kg
ha-1 de P) e quatro repetições. As parcelas mediram 20 m2, com 40 plantas espaçadas de 1,0 m entre fileiras e 0,50 m
entre plantas, sendo consideradas nas
avaliações as 20 plantas centrais, com
área útil de 10 m2. O plantio da cultura
foi realizado por meio de semeadura
direta, colocando-se quatro sementes
por cova da cultivar Santa Cruz. O desbaste foi feito quinze dias após a semeadura, deixando-se duas plantas por cova.
A adubação de plantio consistiu da
aplicação nas covas das doses de P2O5,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
utilizando-se como fonte o superfosfato
triplo e de 20 t ha-1 de esterco bovino. A
adubação de cobertura constou da aplicação de 120 kg ha-1 de N, utilizando-se
como fonte o sulfato de amônio e 40 kg
ha -1 de K, utilizando como fonte o
cloreto de potássio, parcelados em quantidade iguais, aos 30, 60 e 90 dias após
a semeadura.
Realizaram-se os tratos culturais
normais para a cultura, incluindo irrigação por aspersão, com turno de rega
de três vezes por semana, procurando
fornecer quantidade de água suficiente
para o bom desenvolvimento da cultura
nos períodos de ausência de precipitação; capinas com auxílio de enxadas
para manter a cultura sempre livre de
plantas invasoras, e pulverizações à base
de Benomyl (20 ml/20 L de H2 O), para
controlar a ocorrência de oídio (Erysiphe
polygoni).
As colheitas foram efetuadas a cada
dois dias, no período de 70 a 170 dias
após a semeadura, quando os frutos
apresentaram coloração verde intensa.
Os frutos colhidos foram transportados
para um galpão, com o objetivo de se
avaliar o número de frutos por planta e
sua produtividade comercial. Ao final
da colheita efetuou-se a amostragem do
solo (0 - 20 cm de profundidade), coletando-se dez amostras simples ao acaso
por parcela, as quais originaram uma
amostra composta para se determinar as
concentrações de P disponível pelo
extrator Mehlich 1, em função das suas
doses aplicadas.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e de regressão polinomial, utilizando-se o
“software” Saeg (2000). Na análise de
regressão, foram testados os modelos
linear, quadrático e cúbico, sendo selecionados para expressar o comportamento das doses de P sobre as características avaliadas, aquele que apresentou o maior valor para o coeficiente de
determinação (R2). Também foi determinada a dose P capaz de promover o
maior retorno econômico para a produção de frutos comerciais, conforme Raij
(1991). Os valores utilizados para as
variáveis frutos comerciais e P, vigentes em Areia-PB em janeiro de 2005
foram: R$ 0,50/kg de frutos e de R$
1,72/kg de P, ressaltando porém, que
essa relação de preço pode variar a cada
ano, conforme a demanda e oferta. No
entanto, a fim de atenuar os problemas
de variação cambial, trabalhou-se com
uma relação de troca ao invés de moeda
corrente (Natale et al., 1996), procurando-se assim dados mais estáveis. Portanto, a “moeda” utilizada nos cálculos,
foi o próprio fruto, considerando-se a
seguinte relação de equivalência: quilograma de P/kg de frutos igual a 3,5,
sendo a dose mais econômica calculada
com base na derivada da equação de
regressão entre a produções de frutos e
as doses de P por meio da relação de
dy/dx = a1 + 2a2 x. A doses mais econômica (x’ ) foi então calculada por:
a1 - relação de equivalência
x’ = —————————————
2 (-a2)
Onde x’ representa a dose econômica, a1 a taxa de incremento de produção e a2, o ponto de máxima produção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo (P<0,05)
das doses de P empregadas para todas
as características avaliadas.
O número de frutos por planta aumentou de forma linear à medida que
as doses de P foram aumentadas. O valor mais elevado para o número de frutos por planta (43), no intervalo de estudo, foi obtido com a aplicação da dose
máxima de P (176 kg ha-1). (Figura 1).
Este resultado indica que o ponto de
máximo não foi atingido nas condições
do experimento. Em feijão-vagem, Oliveira et al. (2005) testando doses de P
variando de 0 a 176 kg ha-1 em solo arenoso com 11,06 mg dm-3 de P disponível, obtiveram número máximo de frutos na dose de 116 kg ha-1. Em pepino,
Silva et al. (2003) avaliando diferentes
fontes solúveis de fósforo na
fertirrigação por gotejamento, em solo
de textura média, verificaram elevação
do número de frutos por planta com aplicação de 262 kg ha-1 de P.
As médias da produtividade comercial de frutos se ajustaram ao modelo
quadrático de regressão (Figura 2), onde
pela derivada da equação, calculou-se a
181
AP Oliveira et al.
Figura 1. Número de frutos/planta de quiabeiro em função de doses de P. (Number of fruits
per plant of okra depending on P levels). Areia, CCA-UFPB, 2005.
Figura 2. Produtividade de frutos comerciais de quiabeiro em função de doses de P. (Yield
of commercial fruits of okra fertilized with P levels). Areia, CCA-UFPB, 2005.
dose de 139 kg ha-1 de P, como aquela
responsável pela produtividade máxima
estimada de 38,6 kg ha-1 de frutos. Esses resultados evidenciam uma adequada perspectiva de produção de frutos no
quiabeiro na microrregião de Areia, em
decorrência da produtividade máxima
de frutos comerciais ter se enquadrado
dentro da média nacional relatada por
Filgueira (2000), na faixa de 20 a 40 t
ha-1 de frutos comerciais.
A aplicação de doses adequadas de
P é eficiente para se aumentar a produção de frutos em hortaliças, porque seu
fornecimento às culturas oleráceas favorece o desenvolvimento do sistema
182
radicular e aumenta a absorção de água
e nutrientes, estimulando a floração e a
frutificação (Filgueira, 2000). Portanto,
durante o crescimento e desenvolvimento das plantas, a dose de P responsável
pela máxima produção comercial de frutos, supriu de forma equilibrada as necessidades do quiabeiro, em relação ao
referido nutriente. Dwivedi et al. (1993),
Faraq & Damrany (1994) e Anjum &
Amjad (1999), em solos de textura
média, estudando efeito de doses de P
entre 60 e 150 kg ha-1, obtiveram aumento de produtividade de frutos comerciais de quiabeiro com aplicação de 100
kg ha-1 de P. Silva et al. (2001), estu-
dando a resposta do tomateiro à doses
de P variando de 88 a 262 kg ha-1, em
solo com 22 g kg-1 de Areia e 24 g kg-1
de argila, obtiveram elevação na produtividade de frutos comerciais de tomate
em função do fornecimento de dose adequada de P (262 kg ha-1). Amjad et al.
(2002), avaliando as doses de 73; 87 e
104 kg ha-1 de P, em solo de textura
média, verificaram redução da produtividade de frutos de quiabeiro em doses
acima cima de 87 kg ha-1.
A dose de P capaz de proporcionar
maior retorno econômico para a produtividade de frutos, determinada pela fórmula: (250 - 3,5)/(2 x 0,09) foi de 137
kg ha-1, com produção de 8,3 t ha-1 de
frutos comerciais, o que representa um
incremento de 17,4 t ha-1 de frutos, em
relação à ausência do insumo. Essa dose
representou 98% daquela responsável
pela máxima produção indicando que o
quiabeiro responde economicamente ao
emprego de fósforo já que, conforme
Lobato (1982), a melhor eficiência econômica para esse nutriente encontra-se
entre 80 e 98% da produção máxima.
As doses de P obtidas para máxima
produtividade comercial de frutos e
maior
retorno
econômico
correlacionaram-se com 40 e 38 mg dm-3
de P disponível (Mehlich 1), respectivamente (Figura 3). Portanto, a probabilidade de ocorrência de resposta do
quiabeiro à adubação fosfatada, em solos semelhantes ao do presente estudo,
será minimizada quando o teor de P disponível for superior a 40 mg dm-3.
Independentemente do tipo de solo,
Pimentel (1985) recomenda para a fertilização do quiabeiro a aplicação de 88
kg ha-1 de P, para as condições da região
Norte. Blanco et al. (1997) recomendam
175 kg ha-1 para as condições do estado
de São Paulo e Filgueira (2000) recomenda 153 kg ha-1 para as condições das
regiões Sul e Sudeste. As doses responsáveis pela máxima produção de frutos
comerciais e eficiência econômica nas
condições de clima e solo do experimento, situam-se na faixa daquelas recomendadas pelos autores.
O baixo nível de P no solo, conforme Novais & Smyth (1999), pode ter
sido responsável pela resposta positiva
de todas as características avaliadas ao
emprego do P, indicando que nas conHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Reposta do quiabeiro às doses de fósforo aplicadas em solo arenoso
dições regionais de Areia, para o estabelecimento da cultura do quiabeiro em
Neossolo Regolítico Psamítico Típico,
textura franca, com características químicas semelhantes ao solo onde o trabalho foi conduzido, é recomendável a
aplicação de 137 kg ha-1 de P.
Considerando-se que o teor de fósforo disponível (extrator Mehlich 1) inicialmente foi interpretado como baixo,
os resultados obtidos refletem a importância da adubação fosfatada na cultura
do quiabeiro, com melhoria no rendimento de frutos.
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1
Instituto Agronômico, Centro P&D de Solos e Recursos Ambientais, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; 2Instituto Florestal, Seção
de Silvicultura; 3Aluno pós-graduação PG-IAC; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Substratos são materiais que apresentam as mais variadas origens e composições, podendo ser orgânicos, minerais ou sintéticos.
Avaliou-se métodos aquosos usando as proporções de 1:1,5; 1:2;
1:2’; 1:5; 1:5’ e 1:10 para a determinação de pH, CE, macro e micronutrientes em diferentes substratos comerciais e em componentes
de substratos tendo-se como referência os resultados obtidos com o
extrato de saturação. Foram utilizados nove substratos recomendados para as culturas de fumo, café, flores (2), florestais, citros e hortaliças (3) e onze componentes: casca de arroz carbonizada, turfa,
turfa fibrosa, vermiculita, perlita, casca de pinus compostada (2),
argila expandida, fibra de coco, cortiça e pó de xaxim. Foram determinados o pH, condutividade elétrica (EC), macronutrientes e micronutrientes. Os resultados obtidos com pH e EC apresentaram os
menores valores de coeficiente de variação (CV) e para os micronutrientes foram muito próximos aos limites de detecção do aparelho.
Os macronutrientes apresentaram coeficientes de variação entre 5,1%
e 47,2%. O método 1:2 apresentou capacidade extrativa de macro e
micronutrientes mais próxima daquela observada para o extrato de
saturação e todas as soluções aquosas foram eficientes em avaliar o
pH, CE e macronutrientes dos diversos componentes e substratos.
Water extracts for the chemical characterization of plant
substrates
Palavras-chave: substrato para plantas, análise química de substrato,
macronutrientes, micronutrientes.
Keywords: substrates for plants, chemical analysis of substrates,
macronutrients, micronutrients.
Substrates used to grow plants have different origins and
compositions and can be organic, mineral or synthetic materials. In
the present work the effect of different water extracts (1:1.5; 1:2;
1:2’; 1:5; 1:5’; and 1:10) was evaluated and compared to saturated
extracts for the determination of pH, electric conductivity, macro
and micronutrients in commercially available products and some of
their components. The results were compared to those with saturated
extracts. Nine substrates were evaluated, recommended for the
cultivation of tobacco, coffee, flowers (2), forestry species, citrus
and horticulture species (3), and eleven substrate components:
carbonized rice hulls, peat, fiber peat, vermiculite, perlite, Pinus bark
compost (2), expanded clay, coir (coconut fiber), cork and ‘xaxim’
or ‘samambaia-açu’ (Dicksonia sellowiana). Chemical analyses were
made in the substrate extract solutions for the determination of pH,
electrical conductivity (EC), and macronutrient and micronutrient
concentrations. The pH and EC data showed the lowest coefficients
of variation. The micronutrient concentrations in the water extracts
were very close to the equipment detection limits. The macronutrient
concentrations showed coefficients of variation ranging from 5.1%
to 47.2%. The method using the ratio 1:2 was better to obtain the
saturation extracts for either macro or micronutrients. In spite of
that, for all the other water extracts studied good results were obtained
in the evaluation of pH, CE and macronutrientes in the tested samples.
(Recebido para publicação em 7 de janeiro de 2006; aceito em 18 de abril de 2007)
T
oda atividade na produção de mudas e plantas envasadas, principalmente de flores e plantas ornamentais,
utiliza substratos. A demanda por
substrato para o mercado da floricultura está em torno de 30 mil t ou 60 mil
m3 mensais (Bataglia & Furlani, 2004).
O substrato pode ser formado de
matéria-prima de origem mineral, orgânica ou sintética, de um só material ou
mistura de diversos (Kanashiro, 1999).
Os materiais orgânicos mais usados
como substratos ou como componentes
para substratos são turfa, casca de árvore picada, fibra de coco e, os materiais
de origem mineral são vermiculita e
perlita (Kampf, 2000).
184
A caracterização física e química dos
substratos é necessária para a sua correta formulação e, também, para a recomendação e monitoramento das adubações nos sistemas de cultivo protegido.
Contudo, até o presente, não há um
método que seja totalmente aceito como
o melhor para caracterizar quimicamente os substratos, embora haja consenso
sobre quais análises necessitam ser feitas. Nos Estados Unidos há certa preferência pelo extrato de saturação, enquanto na Europa é mais comum o uso de
extração com água em volumes fixos de
1:1,5, 1:5 e 1:10 (Abreu et al., 2002).
Uma das grandes dificuldades em padronizar métodos está relacionada com
a diversidade de materiais empregados
como substratos para as plantas. Na
Europa, com exceção da turfa, a maior
parte dos materiais é praticamente inerte e, na maioria dos casos, os extratores
aquosos são eficientes. No Brasil, os
substratos utilizados em cultivos protegidos e semi protegidos são quase totalmente de origem orgânica, ou seja, materiais ativos. Esses materiais possuem
elevada capacidade de troca de cátions
(CTC), retendo os elementos para as
plantas e, às vezes, as soluções aquosas
não são tão eficientes. Santos (2005),
avaliando a disponibilidade de Cu pelos métodos extrato de saturação e 1:1,5,
observou que nenhum dos métodos
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Extratores aquosos para a caracterização química de substratos para plantas
apresentou correlação significativa entre Cu extraído da turfa, casca de pinus
e fibra de coco com o Cu na parte aérea
da rúcula.
Todos os métodos apresentam vantagens e limitações. Resultados obtidos
com o extrato de saturação são menos
reprodutíveis, por causa da dificuldade
de se identificar o ponto final de diluição do substrato que define a saturação.
A maior vantagem deste método esta no
fato de determinar os nutrientes prontamente disponíveis às plantas (Bunt,
1986).
Furlani et al. (2005), utilizando os
métodos aquosos 1:1,5; 1:2; 1:5 ; 1:10 e
a pasta de saturação incubados com fertilizantes minerais, concluíram que para
o pH os valores do coeficiente de variação foram baixos (CV = 6,8%).
De maneira geral, os resultados das
soluções aquosas são afetados proporcionalmente em função das diluições.
Furlani et al. (2005) obtiveram valores
de 4,4; 3,3 e 1,4 mmol L-1 para a determinação de amônio na fibra de coco
usando, respectivamente, os métodos
1:1,5; 1:2 e 1:5. Resultados semelhantes foram obtidos para o NO3- , P, K, Ca,
Mg e S. Outro aspecto importante é que
quanto menor a diluição, mais próximos
ficam os resultados daqueles obtidos
com o extrato de saturação. O teor de
Fe na fibra de coco extraído pela solução aquosa 1:1,5 foi de 4,2 mg L-1, próximo àquele obtido pelo extrato de saturação de 5,7 mg L-1 (Abreu et al.,
2004).
Na Holanda, tem-se adotado baixas
diluições (1:1,5) e a padronização da
umidade inicial, submetendo as amostras a uma pressão constante de 0,1 kg
cm-2 antes de se proceder à diluição das
amostras (Sonneveld et al., 1974;
Sonneveld, 1988). A indústria brasileira adota o extrato 1:2 para medir pH e
CE (Abreu et al., 2002). A metodologia
utilizando a proporção de 1:5 foi proposta pelo Comitê EUROPEÉN de
NORMALISATION (CEN, 2003), onde
a principal vantagem deste método é a
possibilidade de se analisar vários tipos
de substratos e componentes, tanto inertes como orgânicos.
No Brasil, ainda não há indicação do
método mais adequado e existem poucas informações e muita controvérsia.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Falta uma definição do melhor procedimento e a sua padronização por meio
de protocolos analíticos passíveis de uso
nos laboratórios do país. Assim, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi
escolhido pelo Ministério de Agricultura e Abastecimento para definir métodos eficientes em caracterizar quimicamente os substratos para as plantas e que
sejam facilmente adaptados às condições de rotina dos laboratórios das empresas produtoras de substratos para
plantas.
O objetivo deste trabalho foi avaliar
métodos aquosos usando as proporções
de 1:1,5; 1:2; 1:2’; 1:5; 1:5’ e 1:10 para
a determinação de pH, CE, macro e micronutrientes em substratos comerciais
produzidos e utilizados no Brasil e em
componentes de substratos tendo-se
como referência os resultados obtidos
com o extrato de saturação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
condições de laboratório usando
substratos comumente encontrados no
comércio e componentes de substratos
usualmente utilizados pelas empresas
produtoras de substratos, que apresentavam diferentes características químicas e físicas. No comércio, foram selecionados nove substratos recomendados
para as culturas de fumo, café, flores (2),
florestais, citros e hortaliças (3) e onze
componentes: casca de arroz carbonizada, turfa, turfa fibrosa, vermiculita,
perlita, casca de pinus compostada (2),
argila expandida, fibra de coco, cortiça
e pó de xaxim. Nesses materiais foram
avaliados os valores de pH, CE, macro
e micronutrientes, em triplicata, empregando os seguintes procedimentos:
Extrato de saturação (ES) - Baseado em Warncke (1986). Em aproximadamente 400 cm3 de material (sem tratamento prévio) foi adicionada água
deionizada até que a pasta apresentasse
aspecto brilhante ou quando o sulco feito
por uma espátula desaparecesse rapidamente. Após uma hora em repouso, foi
conferido o ponto de saturação, adicionando-se mais água ou substrato conforme a necessidade. Após uma hora e
meia de repouso, a pasta foi filtrada a
vácuo em funil de Büchner, aplicando-
se sucção até obter aproximadamente 25
mL de extrato.
Método 1:1,5 - Sugerido por
Sonneveld & Elderen (1994). Foi feito
o tratamento prévio da amostra, onde
cerca de 200 cm³ de material foram misturados com água deionizada até que,
apertando-se levemente nas mãos a água
escorresse por entre os dedos. Após esse
ajuste a amostra foi colocada em dois
anéis de 100 cm3 (correspondendo a 48
mm de diâmetro e 54 mm de altura), que
receberam uma pressão de 10 kPa (usando uma barra de ferro, correspondente
ao peso de 1,8 kg). Os anéis foram separados e o conteúdo do anel inferior
foi misturado com 150 mL de água
deionizada e a suspensão agitada por 30
minutos usando agitador horizontal e
posteriormente filtrada em papel de filtro, filtragem média (Nalgon 3550).
Método 1:2. Foram medidos 100
mL de substrato ou componente (sem
tratamento prévio) e adicionados a 200
mL de água. A suspensão foi agitada por
20 minutos a 220 rpm e filtrada em papel de filtro filtragem média (Nalgon
3550). Este método é rotineiramente
usado pelas empresas de substrato do
Brasil para determinação de pH e CE.
Método 1:2’ - Recomendado por
Sonneveld et al. (1990). O extrato foi
obtido pela adição da amostra de
substrato ou componente (sem tratamento prévio) em duas partes de água (200
mL) até alcançar o volume de 300 mL.
A suspensão foi agitada por 20 minutos
a 220 rpm e filtrada em papel de filtro,
filtragem média (Nalgon 3550).
Método 1:5 - O extrato foi obtido
pela adição da amostra de substrato ou
componente (sem tratamento prévio) em
cinco partes de água (250 mL) até alcançar o volume de 300 mL. A suspensão foi agitada por 20 minutos a 220 rpm
e filtrada em papel de fitro, filtragem
média (Nalgon 3550).
Método 1:5’ - Método oficial europeu (CEN, 2003). Neste método foram
medidos 50 mL de amostra de substrato
ou componente sem tratamento prévio
e adicionados a 250 mL de água. A suspensão foi agitada por 20 minutos a 220
rpm e filtrada em papel de filtro,
filtragem média (Nalgon 3550).
Método 1:10 - Procedimento empregado pela associação VDLUFA
185
MF Abreu et al.
Tabela 1. Coeficientes de correlação entre pH, CE, macro e micronutrientes determinados
pelo extrato de saturação (método de referência) e os demais métodos (Correlation coeficients
among pH, CE, macro and micronutrients obtained through the saturation method and other
ones). Campinas, IAC, 2005.
*Significativo 5% de probabilidade; **Significativo 1% de probabilidade (*Significant on
the level of 5% probability; **Significant on the level of 1% probability).
(Normas de Federação dos Institutos
para Pesquisas e Análises Agrícolas da
Alemanha) e empregado pela Universidade Federal do RS (Fermino, 1996). As
amostras de substratos ou componentes
foram destorroadas manualmente. Depois, determinou-se a porcentagem de
massa seca a 105ºC. As amostras foram
secas ou umedecidas (conforme o caso),
para ajustar a umidade a 50%. Para obtenção do extrato, pesaram-se 20 g de
material previamente tratado e adicionaram-se 200 mL de água. A suspensão
foi agitada por 3 horas e depois em repouso por 24 horas e filtrada em papel
de filtro, filtragem média (Nalgon
3550).
Com exceção do método da pasta de
saturação, cujo pH foi determinado diretamente na pasta, em todos os demais
procedimentos essa medida foi feita no
filtrado, usando um eletrodo combinado de vidro. A condutividade elétrica foi
medida à temperatura ambiente e o valor ajustado a 25ºC.
O nitrogênio foi destilado a partir da
mistura do extrato com MgO, para a
determinação da forma amoniacal e depois com a liga de Devarda, para a forma de nitrato, utilizando a titulação
potenciométrica com ácido sulfúrico
(Bremner & Keeney, 1966).
186
O potássio e sódio foram determinados por fotometria de chama e o fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, boro,
cobre, ferro, manganês e zinco por
espectrometria de emissão óptica em
plasma (ICP-OES).
O pH, CE e os teores de macro e
micronutrientes dos vinte materiais extraídos pelos métodos 1:1,5; 1:2; 1:2’;
1:5; 1:5’ e 1:10 foram correlacionados
com aqueles extraídos pelo extrato de
saturação, considerado padrão. A
reprodutibilidade de cada método foi
avaliada por meio do coeficiente de variação, considerando os 20 materiais,
cujas análises químicas foram repetidas
três vezes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios foram muito diferentes entre os métodos, indicando que
estes têm capacidades de extração diferentes (Tabela 1). Dentre os métodos
testados, o extrato de saturação e o 1:2’
foram os que obtiveram maior capacidade de extração. De maneira geral, o
extrato de saturação apresentou os maiores valores para os macronutrientes, enquanto que o 1:2’ extraiu maiores quantidades de micronutrientes. Os teores
muito próximos entre esses dois métodos devem-se ao fato da necessidade de
se adicionar grande quantidade de material ao volume de água estabelecido
de 200 mL. Como os materiais apresentaram grande capacidade de absorção de
água o ponto final ficou muito semelhante àquele obtido pelo extrato de saturação. Na Holanda, este método é
empregado para análise de solo em cultivo protegido (Sonneveld et al., 1990),
o qual apresenta características muito
diferentes dos materiais utilizados neste estudo.
No que se refere ao fator de diluição
entre os métodos, os resultados das soluções aquosas foram afetados proporcionalmente em função dessas diluições
(Tabela 1), com exceção do método 1:10
cujo procedimento é muito diferenciado dos demais. Usando os métodos
1:1,5, 1:2 e 1:5, o teor de Mg nos extratos aquosos foram de 26, 23 e 8 mg L-1 e
o de Fe de 2, 1,7 e 1,3 mg L-1, respectivamente. Resultados proporcionais em
função das diluições foram também obtidos por Furlani et al. (2005), que encontraram valores de 4,4, 3,3 e 1,4 mmol
L-1 para a determinação de amônio na
fibra de coco usando, respectivamente,
os métodos 1:1,5, 1:2 e 1:5. Por outro
lado, essa proporcionalidade do resultado em função da diluição contradiz o
existente na literatura internacional. À
medida que os extratos são mais diluídos, usando-se maiores volumes de água
em relação a um volume fixo de
substrato, os resultados não são afetados proporcionalmente (Johnson, 1980)
provavelmente, porque os materiais aqui
usados são bastante diferentes daqueles
usados em outros países.
Os teores médios de micronutrientes dos diversos substratos e componentes, com exceção do B e do Fe, foram
baixos (Tabela 1). Tal fato, deve-se aos
baixos teores de Cu, Mn e Zn nos materiais e/ou a baixa capacidade de extrativa
dos métodos. A baixa capacidade de
extração de Cu e Zn pode ser justificada
pelo fato desses formarem complexos
estáveis com ácidos fúlvicos e húmicos
da matéria orgânica (Stevenson, 1991).
Embora, o Fe e o Mn também possam
formar complexos com a matéria orgânica, esses são menos estáveis que aqueles formados por Cu e Zn (Irving &
Williams, 1948). Portanto, métodos que
empregam água como extrator não são
capazes de extrair os micronutrientes
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Extratores aquosos para a caracterização química de substratos para plantas
ligados aos complexos estáveis com a
matéria orgânica, apresentando, conseqüentemente, baixa capacidade
extrativa.
Por meio do coeficiente de correlação entre os resultados do extrato de
saturação e os demais métodos tem-se
uma idéia do comportamento desses
(Tabela 1). Em geral, os valores foram
significativos a 95%, sempre acima de
0,70, indicando que os métodos estudados apresentaram comportamento semelhante ao extrato de saturação, definido
como método de referência. Ainda nesta
tabela, verifica-se que os micronutrientes, principalmente o Fe e o Mn, apresentaram os menores coeficientes de correlação com o extrato de saturação.
Entre os métodos, os menores valores de correlação foram observados para
o método 1:10 (1). Provavelmente, devido ao fato do 1:10 apresentar algumas
etapas diferentes dos demais métodos,
como a padronização da umidade inicial da amostra de 50%, o tempo de agitação da suspensão de três horas e o tempo de repouso de 24 horas.
O coeficiente de variação e o desvio
padrão
podem
indicar
a
reprodutibilidade dos métodos. Essa
característica é de grande importância
para adoção de uma metodologia em
análise de rotina. A variabilidade entre
os resultados foi dependente do método
e da característica analisada (Tabela 1).
Dentre os procedimentos testados, a
pasta de saturação e o método 1:10 foram os que apresentaram os mais baixos coeficientes de variação, com valores máximos de 38,5% e 27,3%, respectivamente,
indicando
melhor
reprodutibilidade (Tabela 1). Por outro
lado, o método 1:1,5 foi o de menor
reprodutibilidade, com coeficiente de
variação muito alto, atingindo 2% a
86%. Os altos valores de coeficiente de
variação encontrados para o método
1:1,5 podem ser atribuídos à avaliação
empírica que se faz da umidade inicial
da amostra.
Dentre as características analisadas,
o pH foi o que apresentou o menor CV,
com uma amplitude de 1,0% a 2,5%,
seguindo-se da CE com CV de 5,2% a
10,1%. Esses valores podem ser considerados baixos devido à complexidade
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
dos materiais analisados. Por outro lado,
alguns elementos apresentaram altos
coeficientes de variação e amplitude de
variação, destacando-se os micronutrientes: B (8,9 a 31,9%); Cu (6,2 a
50,1%); Fe (19,2 a 86,3%), Mn (11,8 a
46,7%) e Zn (12,2 a 38,5%). As concentrações desses elementos nos diversos extratos estavam muito próximas ao
limite de detecção do equipamento utilizado (ICP-OES), levando a erros analíticos e contribuindo para a imprecisão
do método. Essa observação também foi
feita por Bucher & Schenk (2000) ao
avaliarem o teor de Cu em turfa adubada usando os métodos: água, acetato de
amônio, nitrato de amônio e cloreto de
cálcio. A baixa concentração de micronutrientes nos extratos aquosos deve-se,
provavelmente, ao baixo teor desses nos
substratos e nos componentes.
O método 1:2 foi o que apresentou
capacidade extrativa de macro e micronutrientes mais próxima daquela observada para o extrato de saturação. Todas
as soluções aquosas foram eficientes em
avaliar o pH, CE e macronutrientes dos
diversos componentes e substratos.
AGRADECIMENTOS
A FAPESP e PRODETAB pelo
apoio financeiro.
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Qualidade fisiológica de sementes de palmiteiro-vermelho em função da
desidratação e do armazenamento
Cibele C Martins1; Marilene LA Bovi2; João Nakagawa1
1
UNESP, FCA, Depto.Produção Vegetal, C Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; 2IAC, Centro de Horticultura, Unidade Plantas Tropicais,
C.Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Para algumas espécies com sementes recalcitrantes, como o palmito-vermelho (Euterpe espiritosantensis Fernandes), a secagem
parcial favorece a manutenção da viabilidade durante o
armazenamento. O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito da
desidratação e do armazenamento na germinação e vigor das sementes de palmito-vermelho. Dois lotes de sementes (L1 e L2) foram colocados para secar por 0; 20 e 40 horas (três sublotes) em
câmara seca e armazenados a 15oC em sacos plásticos fechados. Foi
realizado um ensaio em delineamento inteiramente casualizado para
cada lote de semente, com os tratamentos dispostos em fatorial 3 x 6
(L1) e 3 x 10 (L2), correspondendo a três tempos de secagem e seis
ou dez semanas de armazenamento. A qualidade das sementes foi
avaliada a cada seis semanas, durante 30 e 54 semanas para respectivamente L1 e L2, por meio do teor de água (U), porcentagem de
germinação (G) e vigor (primeira contagem e índice de velocidade
de germinação). O teor de água das sementes de ambos os lotes foi
em média de aproximadamente de 46; 40 e 36%, respectivamente,
para 0; 20 e 40 horas de secagem, sem alterações importantes em
função do período de armazenamento. Para sementes não-armazenadas, a secagem reduziu de modo significativo o vigor, mas não
comprometeu a germinação. O lote L1 apresentou sementes viáveis
em todos os sublotes até o final do armazenamento (G = 71; 61 e
45% para 0; 20 e 40 horas, respectivamente). As sementes do lote
L2 apresentaram perda total da viabilidade por volta da 30a.semana
apenas no sublote onde foram secas por 40 horas (U = 36%). Nos
demais sublotes, as sementes se mantiveram viáveis até 54 semanas
de armazenamento (G = 46%). A secagem parcial reduziu o vigor e
diminuiu a longevidade das sementes. Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que sementes de E. espiritosantensis devem
ser armazenadas sem secagem, com 45-46% de teor de água.
Physiological quality of Euterpe espiritosantensis seeds as
affected by partial drying and storage
Palavras-chave: Euterpe espiritosantensis Fernandes, sementes
recalcitrantes, germinação, vigor, palmeira.
Keywords: Euterpe espiritosantensis Fernandes, recalcitrant seeds,
germination, vigor, palm tree.
Euterpe espiritosantensis seeds are recalcitrant, presenting
sensibility to dehydration and difficulty for storage. In some species
with recalcitrant seeds, partial drying favors the maintenance of
viability during storage. The objective of this research was to study
the effects of partial drying and storage on germination and vigor of
E. espiritosantensis seeds. Two seed lots (L1 and L2) were dried for
0; 20, and 40 hours in a dry chamber and stored at 15oC in closed
plastic bags. An assay for each seed lot was carried out on a
completely randomized design, with treatments arranged in an 3 x 6
(L1) and 3 x 10 (L2) factorial scheme, corresponding to three seed
drying periods and six or ten weeks of storage. Seed quality was
evaluated every six weeks, during 30 and 54 weeks for L1 and L2,
respectively. Seed water content (U), percentage of germination (G)
and vigor (first counting of germination test and index germination
rate) were assessed. Water content during storage, were, in both lots,
on average 46; 40, and 36%, respectively, for 0; 20, and 40 hours of
drying, without important changes due to storage period. For nonstored seeds, drying reduced significantly vigor, but did not interfere
with germination. Seed lot L1 presented viable seeds in all sub lots
until the end of the storage period (G = 71, 61 and 45% for 0; 20 and
40 hours, respectively). Seeds on lot L2 lost viability completely in
the 30th week in the 40 hours of drying treatment (U=36%). Seeds in
other treatments remained viable up to 54 weeks of storage (G =
46%). Partial drying reduced vigor and decreased seed longevity.
Seeds from E. espiritosantensis can be stored without drying, with
45-46% of water content.
(Recebido para publicação em 3 de janeiro de 2006; aceito em 20 de abril de 2007)
O
palmito-vermelho (Euterpe
espiritosantensis Fernandes) é espécie nativa da Floresta Tropical Atlântica, cuja propagação dá-se exclusivamente por sementes. Formações florestais naturais dessa planta foram encontradas na região de Santa Teresa, no estado do Espírito Santo (Fernandes,
1989) e em Ituberá e Itabuna, no Estado
da Bahia (Bovi et al., 1987, 1994). A
crescente devastação do seu habitat, associada à derrubada de plantas para a
extração de palmito, tornam de interes188
se a produção de sementes e mudas dessa espécie para a recomposição da flora
nativa e, ainda, para pesquisas visando
à exploração comercial da espécie para
produção de palmito (olerícola não-convencional) ou como planta ornamental.
Sabe-se que as sementes do palmito-vermelho apresentam grande dificuldade em sua conservação, tendo sido
classificadas como recalcitrantes
(Martins et al., 1999a, 2000) devido à
sensibilidade à desidratação, às temperaturas subzero de armazenamento e à
curta longevidade. Deste modo, para
serem armazenadas, as sementes do gênero Euterpe necessitam ser acondicionadas em embalagens impermeáveis,
usualmente sacos plásticos, para evitar
a desidratação progressiva e a conseqüente perda de viabilidade, e mantidas
a temperaturas entre 5 e 20o C (Bovi et
al., 1987; Andrade, 1994; Nodari et al.,
1998; Martins et al., 2000; Nascimento, 2006). Porém, mesmo utilizando essas condições favoráveis de
armazenamento, observou-se que as seHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Qualidade fisiológica de sementes de palmiteiro-vermelho em função da desidratação e do armazenamento
mentes do palmito-vermelho apresentaram redução da viabilidade após um mês
(Martins et al., 2000).
Segundo Barbedo & Marcos Filho
(1998), a conservação de sementes recalcitrantes poderia ser favorecida por
métodos que propiciassem a paralização
ou a limitação, ao máximo possível, do
crescimento do eixo embrionário, mantendo-se a semente com fornecimento
de água suficiente para evitar sua desidratação abaixo do teor de água crítico.
Resultados de pesquisas com sementes
de cacau e seringueira, também recalcitrantes, indicam que a utilização de uma
técnica de secagem parcial das sementes favorece a manutenção da qualidade das mesmas durante o
armazenamento (Hor et al., 1984; Chin,
1994; Bilia, 1997; Gentil, 2003; Nascimento, 2006).
Diante do exposto, este trabalho visou verificar o efeito da secagem inicial
parcial e do tempo de armazenamento
sobre a germinação e o vigor das sementes de palmito-vermelho.
MATERIAL E MÉTODOS
Frutos maduros de palmiteiro-vermelho foram coletados manualmente, na
EE do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), localizada no município de
Ubatuba (SP) (23o06’S, 45o03’W, 6 m
acima do nível do mar), por dois anos
seguidos, formando dois lotes distintos.
O primeiro lote (L1) foi composto por
sementes colhidas de 19 plantas matrizes, em outubro de 1998 e, o segundo
lote (L2), por sementes coletadas de 17
plantas matrizes em agosto de 1999.
Imediatamente após a colheita, cada lote
foi transportado em embalagem de
polietileno até o Laboratório de Análise
de Sementes da UNESP, Campus de
Botucatu (SP), onde os frutos foram
despolpados por meio de fricção em
peneira de malha de aço, sob água corrente.
As sementes mal formadas,
danificadas ou abaixo do tamanho médio foram eliminadas. As sementes foram colocadas para secar por 0; 20 e 40
horas (três sublotes) em câmara seca
(temperatura de 22oC e umidade relativa de 38%), visando à obtenção de teores distintos de água nos três sublotes.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Teor de água em porcentagem de dois lotes de sementes de palmito-vermelho em
função de períodos de secagem e armazenamento (Water content, in percentage, of two seed
lots of Euterpe espiritosantensis as affected by drying period and storage). Botucatu, UNESP,
1998/2000.
Após a secagem, os três sublotes foram
armazenados no escuro e à 15oC, em
sacos plásticos (20mm de espessura)
fechados (Martins et al., 2000). As
amostras foram retiradas periodicamente para os testes, independentemente de
haver ou não sementes germinadas dentro da embalagem, assumindo-se que um
armazenamento eficiente seria capaz de
manter as sementes em condições de
originar plântulas normais quando colocadas em substrato e ambiente próprio
para a produção de mudas.
Durante o armazenamento foram
realizadas as seguintes determinações
em laboratório, a cada seis semanas, até
o término das sementes: teor de água:
avaliado pelo método da estufa a
105±3°C/24 horas (Brasil, 1992), utilizando-se quatro repetições de sete sementes inteiras; germinação: conduzido com quatro repetições de 20 sementes, mantidas nas temperaturas alternadas de 20-30C e luz (8h), em substrato
vermiculita, esterilizada (120°C/12 horas), usando caixas plásticas transparentes (11 x 11x 3,5cm) (Brasil, 1992;
Andrade et al., 1999). A contagem das
plântulas foi realizada semanalmente, do
sétimo ao 49o dia após a semeadura,
quando foram calculadas as porcentagens de germinação (plântulas normais);
primeira contagem da germinação:
realizada cinco dias após a semeadura,
contando-se o número de botões
germinativos emitidos; índice de velocidade de germinação (IVG): determinado por meio de adaptação do critério
estabelecido por Maguire (1962), contando-se semanalmente as sementes germinadas após a instalação do teste de
germinação.
A análise de variância foi realizada
separadamente para cada teste, em delineamento inteiramente casualizado, com
quatro repetições, em arranjo fatorial 3 x
6 para L1 e 3 x 10 para L2, onde os fatores corresponderam a três tempos de secagem e a seis ou dez períodos de
armazenamento, em semanas, que variaram em função da disponibilidade das
sementes. A comparação entre as médias
dos tratamentos foi efetuada por meio do
teste de Tukey. Os dados em porcentagem foram transformados em arc sen (x
/100)1/2, previamente à análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A secagem inicial das sementes e a
duração do armazenamento afetaram
significativamente todas as características estudadas, exceto o teor de água,
em ambos os lotes de sementes (Tabelas 1, 2 e 3).
A redução do teor de água das sementes, em relação ao teor inicial, foi
de aproximadamente 13,6% e 21,8%
para 20 e 40 horas de secagem, respectivamente (Tabela 1). O aumento do
tempo de secagem resultou em sementes com teor de água decrescentes em
ambos os lotes. Porém, o tempo de
armazenamento praticamente não alterou o teor de água das sementes no lote
1 e no sublote de sementes não-secadas
189
CC Martins et al.
(0 horas) no lote 2. Nos demais sublotes
do lote 2, observou-se um leve aumento do teor de água (Tabela 1). O aumento do teor de água destas sementes pode
estar relacionado a eventos metabólicos
que ocorrem durante o processo de deterioração e ao aumento da incidência
de microorganismos durante o
armazenamento de sementes recalcitrantes, como também foi constatado em
trabalhos com Ingá uruguensis Hook.
Et Arn., Araucária angustifolia (Bert.)
e Euterpe oleracea Mart. (Bilia et al.,
1998; Piriz et al., 2003; Nascimento,
2006). Vale lembrar que, devido à disponibilidade, as sementes do lote 2 foram avaliadas por um período maior de
armazenamento que as sementes do lote
1 (54 e 30 semanas, respectivamente),
havendo maior tempo para que as sementes ficassem expostas ao
microambiente criado dentro da embalagem plástica. De modo geral, as mé-
Tabela 2. Germinação em porcentagem de dois lotes de sementes de palmito-vermelho em
função de períodos de secagem e armazenamento (Germination, in percentage, of two seed
lots of Euterpe espiritosantensis as affected by drying period and storage). Botucatu, UNESP,
1998/2000.
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same small
letter in the column and capital letter in the row did not differ from each other, Tukey´s test,
p < 0.05). A análise foi realizada sobre dados transformados para arc sen (x /100)1/2 (Analysis
performed over data transformed to arc sen (x /100)1/2).
Tabela 3. Vigor de sementes de palmito-vermelho avaliado pelos testes de primeira contagem (PC) e índice de velocidade de germinação
(IVG) em dois lotes de sementes em função de períodos de secagem e armazenamento (Vigor of Euterpe espiritosantensis seeds evaluated
by first counting of germination (PC) and germination rate (IVG) in two seed lots as affected by drying period and storage). Botucatu,
UNESP, 1998/2000.
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si, pelo teste Tukey, p < 0,05
(Means followed by the same small letter in the column and capital letter in the row did not differ from each other, Tukey´s test, p < 0.05).
A análise foi realizada sobre dados transformados para arc sen (x /100)1/2 (Analysis performed over data transformed to arc sen (x /100)1/2).
190
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Qualidade fisiológica de sementes de palmiteiro-vermelho em função da desidratação e do armazenamento
dias de teor de água para ambos lotes
foram similares, com valores de 46; 40
e 36%, respectivamente, para 0; 20 e 40
horas de secagem (Tabela 1).
Para sementes não-armazenadas (0
semanas de armazenamento), verificouse que a secagem reduziu de modo significativo o vigor mas não comprometeu a germinação (Tabelas 2 e 3). Para
as sementes do Lote L1, quando o vigor
foi avaliado através do Índice de Velocidade de Germinação (IVG), a redução foi tanto maior, quanto maior o período de dessecação, o que ratifica o
caráter recalcitrante de sementes dessa
espécie (Martins et al., 1999a). Em sementes recalcitrantes a água subcelular
está fortemente associada às superfícies macromoleculares assegurando, em
parte, a estabilidade de membranas e
macromoléculas. A perda de água estrutural durante o processo de secagem de
sementes recalcitrantes causaria a alteração de sistemas metabólicos e das
membranas celulares, resultando no início do processo de deterioração (Farrant
et al., 1988). Esse processo resulta inicialmente na redução de vários atributos de desempenho e vigor da semente
e, finalmente, na perda da capacidade
germinativa, como também verificado
em outros trabalhos envolvendo a secagem de sementes de Euterpe spp
(Andrade, 1994, Martins et al., 1999
acb, 2000; Nascimento, 2006).
Para ambos os lotes estudados foi
constatado efeito do armazenamento
sobre a germinação e sobre o índice de
velocidade de germinação, para sementes submetidas a todos os tempos de secagem (Tabelas 2 e 3), tendo-se observado redução na qualidade das sementes com o decorrer do tempo de
armazenamento. No entanto, para L1,
só houve diferença significativa em germinação em relação às sementes não
armazenadas para 30 semanas de
armazenamento, para todos os tempos
de secagem (Tabela 2). Para a primeira
contagem de germinação só foi observado efeito do armazenamento para sementes submetidas a 20 horas de secagem (Tabela 3). As sementes que não
foram submetidas à secagem mantiveram os resultados de primeira contagem
ao longo do período de armazenamento.
Já as sementes submetidas a 40 horas
de secagem apresentaram resultados
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
muito baixos para a primeira contagem
logo na primeira avaliação. Desta forma, a redução que porventura pudesse
ser causada pelo armazenamento não se
manifestou.
Para o lote 2, observou-se efeito
mais intenso da secagem sobre a qualidade das sementes armazenadas. A germinação das sementes submetidas à secagem por 0; 20 e 40 horas diferiu significativamente da germinação das sementes que não passaram por
armazenamento a partir de 42; 30 e 12
semanas, respectivamente, sendo sempre menor à medida em que o tempo de
armazenamento aumentou (Tabela 2).
Para a primeira contagem de germinação, as sementes armazenadas diferiram
significativamente daquelas que não
passaram por armazenamento com 54 e
a partir de 30 semanas de
armazenamento para sementes submetidas à secagem por 0 e 20 horas, respectivamente. Nas sementes submetidas
a 40 horas de secagem não foram observadas plântulas na data da primeira
contagem, independente do período de
armazenamento das sementes. Já o Índice de Velocidade de Germinação
(IVG) apresentou redução de forma
mais drástica quanto menor foi o teor
inicial de água nas sementes. Assim,
pode-se afirmar que a germinação e o
vigor de lotes de sementes de E.
espiritosantensis dependem do teor de
água inicial e do tempo de
armazenamento.
A longevidade dos lotes e sublotes
avaliados foi distinta (Tabela 2). Para o
lote 1 observou-se a presença de sementes com capacidade de germinar após os
tempos de secagem até 30 semanas de
armazenamento, período em que o estoque de sementes terminou (germinação de
71; 61 e 45%, respectivamente, para 0; 20
e 40 horas). O lote 2 apresentou perda total da viabilidade após a 30a semana somente para as sementes do sublote submetido a 40 horas de secagem (teor de
água de 36%), enquanto as sementes dos
demais sublotes mantiveram-se viáveis até
54 semanas de armazenamento (germinação igual a 46%).
Quanto ao efeito da secagem sobre
as sementes não armazenadas, Martins
et al. (1999a e 2000) verificaram que
sementes de E. espiritosantensis apresentam alta porcentagem de germinação
(90,0% a 87,5%) quando não desidratadas (teor de água de 46,6% a 51,4%).
Por outro lado, as sementes têm a viabilidade reduzida quando o teor de água
atinge valores abaixo desta faixa. No
entanto, no presente trabalho, as sementes de ambos os lotes, desidratadas até
35 e 36% de água, não apresentaram
danos de secagem avaliados pelo teste
de germinação, mas sim efeitos latentes, com o aumento do tempo de
armazenamento, mesmo em sementes
que mantiveram-se com teores de água
relativamente altos, de 45 a 46%. A existência de uma faixa, e não de um valor
único, para teores crítico e letal de água,
pode ser atribuída às sensibilidades diferenciadas na tolerância à perda de água
observadas dentro de uma mesma espécie, de acordo com o habitat de origem
e à diversidade genética. Este comportamento já havia sido verificado para
sementes recalcitrantes de E.
espiritosantensis (Martins et al.,1999a)
e de outras espécies de palmeiras, como
Elaeis guinensis (Ellis et. al., 1991),
Euterpe edulis e E. oleracea (Martins
et al.,1999bc) e Bactris gasipae Kunth.
(Bovi et al., 2004). Esses fatores podem
explicar, em parte, também, o comportamento diverso entre as sementes dos
lotes L1 e L2 no presente estudo, em
função da secagem. Outro fator que
merece maiores estudos é o efeito da
variação climática. Vale ressaltar que as
plantas matrizes colhidas produziram
sementes em épocas distintas: o lote L1
foi obtido na época das águas e, L2, na
estação seca.
Com base nos resultados obtidos
pode-se concluir que sementes de
palmiteiro-vermelho devem ser armazenadas sem secagem, com 45-46% de
teor de água.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos pelo financiamento
desta pesquisa através do projeto jovem
pesquisador da FAPESP.
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
BEZERRA NETO F; GOMES EG; OLIVEIRA AM. 2007. Produtividade biológica em sistemas consorciados de cenoura e alface avaliada através de
indicadores agroeconômicos e métodos multicritério. Horticultura Brasileira 25: 193-198.
Produtividade biológica em sistemas consorciados de cenoura e alface
avaliada através de indicadores agroeconômicos e métodos multicritério
Francisco Bezerra Neto¹; Eliane G. Gomes²; Antônio Marcos de Oliveira 1
¹UFERSA, Programa Pós-Graduação em Fitotecnia, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; ²Embrapa, SGE, Parque Estação Biológica,
Av. W3 Norte Final, 70770-901 Brasília-DF; *Bolsistas CNPq; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O experimento foi conduzido de maio a setembro de 2002, na
UFERSA, Mossoró-RN, para avaliar consórcios de cenoura e alface, através de critérios agronômicos, econômicos (rendimentos financeiros) e de eficiência produtiva (avaliada segundo modelos de
Análise de Envoltória de Dados - DEA). Para agregar a informação
de todos os critérios e identificar os melhores tratamentos, foram
utilizados os métodos multicritério ordinais de Borda, Condorcet e
Copeland. O delineamento experimental foi blocos casualizados, em
fatorial 3 (cultivo solteiro e consorciado, em faixas, com três fileiras
de cenoura e três de alface (3F) e quatro de cenoura e quatro de
alface (4F)) x 4 (cultivares de alface americana: Lucy Brown, Tainá,
Laurel e Mesa 659), com quatro repetições. Em cada bloco foi plantada a cenoura solteira. Avaliou-se o índice de uso eficiente da terra
(UET), o índice de lucratividade (IL) e a eficiência produtiva DEA.
Uma análise de variância univariada foi usada para avaliar estes indicadores, no esquema fatorial 2 x 4 + 1 (dois sistemas consorciados
em faixas, quatro cultivares de alface e cenoura solteira). Os UETs
dos sistemas consorciados foram significativamente superiores ao
UET do cultivo solteiro, com a vantagem dos sistemas consorciados
variando de 90 (cenoura + cultivar Tainá 4F) a 133% (cenoura +
cultivar Mesa 659 4F). Não se observou diferença significativa no
índice de lucratividade entre os cultivos solteiro e consorciado. Na
eficiência produtiva DEA foi observada interação significativa entre sistemas de cultivo e cultivares de alface. Os métodos multicritério
indicaram Cenoura + Mesa 659 (4F), Cenoura + Laurel (3F) e Cenoura + Mesa 659 (3F) como os melhores sistemas de cultivo. A
eficiência produtiva DEA e a ordenação dos métodos multicritério
foram mais eficientes na discriminação do desempenho dos sistemas de cultivo consorciados que os indicadores agroeconômicos.
Biological productivity in carrot and lettuce intercropping
systems assessed by means of agroeconomic indicators and
multicriteria methods
Palavras-chave: Daucus carota, Lactuca sativa, eficiência de sistemas consorciados, análise de envoltória de dados, métodos
multicritério ordinais.
Keywords: Daucus carota, Lactuca sativa, intercropping
efficiencies, Data Envelopment Analysis, ordinal multicriteria
methods.
The experiment was carried out from May to September 2002,
at the Federal University of the Semi-Arid Tropic in Mossoró-RN,
to evaluate the performance of carrot-lettuce intercropping systems
by means of agronomic criteria, economic (profit margin) indicators,
and yield efficiency (assessed through Data Envelopment Analysis
models - DEA). We also used the ordinal multicriteria methods of
Borda, Condorcet, and Copeland to aggregate information to all
criteria and to identify the best treatments. The experimental design
was randomized complete blocks, in a 3 (sole crop, three carrot rows
alternate with three lettuce rows – 3F, and four carrot rows alternate
with four lettuce rows – 4F) x 4 (crisp head lettuce cultivars: Lucy
Brown, Tainá, Laurel, and Mesa 659) factorial scheme, with four
replications. In each block, carrot was grown as sole crop.
Agroeconomic indicators, such as land equivalent ratio - LER - and
profit margin, yield efficiency of intercropping systems by DEA
models, were assessed. A univariate analysis of variance in a 2 x 4 +
1 factorial scheme (treatments from two intercropping systems versus
four crisp head lettuce cultivars, plus carrot in sole crop) was used
to assess all indicators. LER of intercropping systems were
significantly higher as compared to that of sole crop, with the
efficiency of intercropping systems varying from 90 (Carrot + Tainá
– 4F) to 133% (Carrot + Mesa 659 – 4F). There was no significant
difference in the profit margin between sole crop and intercropping
systems. A significant interaction was observed between cropping
systems and lettuce cultivars for yield efficiency by DEA. According
to the ranks of ordinal multicriteria methods, the best intercropping
systems were carrot + Mesa 659 (4F), carrot + Laurel (3R) and carrot
+ Mesa 659 (4R). The yield efficiency by DEA and the ordering of
ranks based on ordinal multicriteria methods were more efficient
than the agroeconomic indicators for discriminating the intercropping
systems performance.
(Recebido para publicação em 10 de outubro de 2005; aceito em 12 de abril de 2007)
D
eve-se reconhecer que na avaliação de experimentos consorciados
não há uma forma simples de análise estatística, que seja apropriada a todas as
formas de dados de consorciação. Mesmo para um simples conjunto de dados
experimentais será importante usar di-
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
ferentes formas de análise, devido ao
fato de as diferentes culturas componentes de um sistema consorciado terem
dados que podem ocorrer em diferentes
formas estruturais. Estas estruturas dos
dados são complexas, com diferentes
formas de informação sobre o rendimen-
to disponível para diferentes
subconjuntos de unidades experimentais
(Mead, 1990).
Um dos métodos de análise de dados é o de formar um índice de rendimento combinado para cada parcela
consorciada e então, analisar a variável
193
F Bezerra Neto et al.
resultante destes rendimentos combinados. O índice de uso eficiente da terra
(UET) tem sido utilizado neste tipo de
análise para medir a eficiência biológica de um sistema consorciado (Riley,
1984). Porém, os sistemas consorciados
devem ser julgados não só por meio de
indicadores agronômicos, como a UET,
mas também por indicadores econômicos, como rendas bruta e líquida e índice de lucratividade (Beltrão et al., 1984;
Anandajayasekeram, 1990). Uma alternativa para combinar os rendimentos
advindos de um experimento sobre
consorciação é considerar a produção
equivalente. Esta nova variável pode
basear-se em diversas características
como, por exemplo, quantidade total de
proteínas e valor econômico. Em Gomes
& Souza (2005), foi proposta uma nova
abordagem para agregar em um índice
unidimensional tratamentos em situação
experimental
com
resposta
multidimensional, como o caso de consórcios. Os autores usaram modelos de Análise de Envoltória de Dados (Data
Envelopment Analysis – DEA) para esse
fim, com o cálculo de uma medida que pode
ser chamada de “eficiência produtiva”.
Modelos DEA têm como objetivo
calcular a eficiência relativa de unidades produtivas, conhecidas na literatura
como unidades de tomada de decisão ou
DMUs (Decision Making Units). Usamse em sua formulação problemas de programação linear (PPLs) que otimizam
cada observação individual de modo a
estimar a fronteira eficiente, linear por
partes, composta das unidades que apresentam as melhores práticas dentro da
amostra em avaliação (unidades eficientes). A definição de eficiência é baseada na relação entre os resultados obtidos e os recursos empregados por cada
entidade em avaliação (DMU). A vantagem da técnica DEA frente a outros
modelos de produção é a possibilidade
de incorporar insumos (inputs) múltiplos
e produtos (outputs) múltiplos no cálculo de medida de eficiência única.
Ainda assim, os agrossistemas consorciados não podem ser avaliados adequadamente somente pelos critérios de
produção ou do valor econômico. Avaliar diferentes alternativas sob a ótica de
múltiplos critérios é um dos objetivos
dos métodos do Apoio Multicritério à
194
Decisão. Dentre esses métodos estão os
chamados métodos ordinais, considerados bastante intuitivos. Eles são ainda
pouco exigentes em termos
computacionais e em relação às informações necessárias por parte dos
decisores. Nessa classe de métodos estão os métodos de Borda, Condorcet e
Copeland (Barba-Romero & Pomerol,
1997).
O objetivo deste trabalho foi avaliar
consórcios de cenoura e alface, produzidos na região oeste do estado do Rio
Grande do Norte, através de critérios
agronômicos (métodos de UET), econômicos (rendimentos financeiros) e de
“eficiência produtiva” (avaliadas segundo modelos DEA). Para “agregar” a informação de todos os critérios e identificar os melhores tratamentos, foram
usados os métodos multicritério ordinais
de Borda, Condorcet e Copeland.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na horta da UFERSA, de junho a setembro de
2002, em solo classificado como
Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico
(Embrapa, 1999). As características do
solo da área experimental são: pH (água
1:2,5) = 7,55; Ca = 7,12 cmolc dm-3; Mg
= 4,02 cmolc dm-3; K = 0,60 cmolc dm-3;
Na = 0,25 cmolc dm-3; Al = 0,00 cmolc
dm-3 e P = 554 mg dm-3. O delineamento experimental utilizado foi blocos
casualizados completos, em esquema
fatorial 3 x 4, com quatro repetições. Os
tratamentos resultaram da combinação
de três sistemas de cultivos consorciados (solteiro, consorciado em faixas
com três fileiras de cenoura alternadas
com três fileiras de alface e consorciado em faixas com quatro fileiras de cenoura alternadas com quatro fileiras de
alface), com quatro cultivares de alface
tipo americana (Lucy Brown, Tainá,
Laurel e Mesa 659). Em cada bloco foi
plantada uma parcela com a cenoura
solteira.
Duas análises de variância
univariadas foram utilizadas: a primeira para avaliar as características da alface no esquema fatorial 3 x 4 (provenientes de três sistemas de cultivo e quatro cultivares de alface) e, a segunda,
para
avaliar
os
indicadores
agroeconômicos e as características da
cenoura no esquema fatorial 2 x 4 + 1
(provenientes da combinação de dois
sistemas consorciados em faixas com
quatro cultivares de alface, além da cenoura solteira). Neste artigo, o interesse foi analisar os indicadores de eficiência dos sistemas.
No cultivo solteiro da alface, as parcelas tinham uma área total de 1,20 m2
(1,00 x 1,20 m), com uma área útil de
0,48 m2 (0,60 x 0,80 m), contendo doze
plantas, no espaçamento de 0,20 x 0,20
m. No cultivo da cenoura a área útil foi
de 0,60 m2 (0,60 x 1,00 m), contendo
30 plantas, no espaçamento de 0,20 x
0,10 m. Nos sistemas consorciados, cada
parcela foi constituída de quatro faixas
alternadas com três e quatro fileiras cada
faixa. As parcelas com faixas de três fileiras tinham uma área total de 2,88 m2
(2,40 x 1,20 m) e uma área útil de 1,20
m2 (1,20 x 1,00 m), contendo 30 plantas
de alface e 60 de cenoura. Nas parcelas
com faixas de quatro fileiras, a área total de cada parcela foi de 3,84 m2, com
uma área útil de 1,60 m2 (1,60 x 1,00
m), contendo 40 plantas de alface e 80
plantas de cenoura. Nestes sistemas em
faixas, os espaçamentos da cenoura foram de 0,60 e 0,80 m entre faixas de três
e quatro fileiras, respectivamente e de
0,20 x 0,05 m entre fileiras e plantas. O
espaçamento entre faixas de alface foi
o mesmo da cenoura e o espaçamento
entre fileiras e plantas foi de 0,20 x 0,10
m. O espaçamento dentro das fileiras de
cada cultura no consórcio foi diferente
do cultivo solteiro, para que fosse
mantida constante a população em ambos os sistemas. A população recomendada para o cultivo solteiro da alface na
região é de 250.000 plantas ha-1 (Silva,
1999) e, no cultivo da cenoura, 500.000
plantas ha-1 (Siqueira, 1995), sem levar
em consideração os 30% de área de trânsito, composta de corredores e estradas.
Mas, para as características de massa
seca e produtividade das culturas foram
feitas as correções para 70% da área
plantada.
A cultivar de cenoura utilizada foi
Brasília, indicada para a região Nordeste (Vieira et al., 1983). As cultivares de
alface utilizadas foram do tipo americana (repolhuda crespa): Lucy Brown,
Tainá, Laurel e Mesa 659 (Sementes
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produtividade biológica em sistemas consorciados de cenoura e alface avaliada através de indicadores agroeconômicos e métodos multicritério
Sakama, 2002), que não chegam a formar cabeça nas condições de alta temperatura e luminosidade do Estado do
Rio Grande do Norte (Oliveira, 2004).
Nos canteiros de plantio foram realizadas adubações com 80 t ha-1 de esterco
de bovinos, com 30 kg ha-1 de nitrogênio e 30 kg ha-1 de K2O.
As cultivares de alface foram
semeadas em dois cultivos sucessivos,
em 20 de maio e 12 de julho de 2002,
em copos descartáveis de 150 mL, contendo como substrato uma mistura de
vermiculita e húmus, na proporção de
1:2. Foram semeadas três a cinco sementes por recipiente. Sete dias após a emergência (DAE) efetuou-se o primeiro
desbaste, deixando-se três plântulas por
recipiente; quinze DAE, o segundo desbaste, deixando-se apenas uma plântula
por recipiente. As mudas foram produzidas sob sombreamento, utilizando-se
uma estufa coberta com tela de nylon
de cor branca. A cenoura, cultura principal, foi semeada em 4 de junho de
2002. O primeiro desbaste foi realizado
23 dias após a semeadura (DAS), deixando-se três plântulas por cova, e, o
segundo, 35 DAS, deixando-se apenas
uma planta por cova.
Nas parcelas solteiras e consorciadas da cenoura form realizadas uma adubação nitrogenada em cobertura, 42
DAS, enquanto nas parcelas de alface,
tanto no primeiro como no segundo cultivo, efetuaram-se adubações foliares de
30 mL 20L-1 de água da formulação 14%
de N, 4% de P205, 6% de K20, 0,8% de
S, 1,5% de Mg, 2% de Zn, 1,5% de Mn,
0,1% de B e 0,05% de Mo, 28, 35 e 42
DAS. As mudas de alface do primeiro e
segundo cultivo foram transplantadas
para as faixas adjacentes à cenoura, 24
DAS, quando a cultura da cenoura encontrava-se com 7 e 62 dias da semeadura, respectivamente. Antes da instalação do experimento em campo, foi
realizada a solarização dos canteiros de
plantio, durante 60 dias, para evitar ou
reduzir a população de fitopatógenos do
solo que pudesse prejudicar a produtividade da cultura da cenoura. Durante a
condução do experimento foram
efetuadas capinas manuais e irrigação
pelo sistema de micro-aspersão.
A colheita das cultivares de alface
do primeiro cultivo foi realizada nos dias
8 e 9 de julho de 2002, estando a cenoura com aproximadamente 35 dias da semeadura e, a alface, com 49 e 50 dias
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
da semeadura. A colheita das cultivares
de alface do segundo cultivo foi realizada nos dias 27 e 28 de agosto de 2002,
estando a cenoura com aproximadamente 85 dias da semeadura e, a alface, com
47 e 48 dias da semeadura. A colheita
da cenoura foi realizada em 2 de setembro de 2002. As características avaliadas na cenoura e na alface foram produtividade comercial (obtida da massa
das raízes das plantas da parcela útil, livres de rachaduras, bifurcações,
nematóides e danos mecânicos, e expressa em t ha-1) e rendimento de folha
(avaliado através da massa fresca da
parte aérea de todas as plantas da parcela útil, expressa em t ha-1).
Indicadores agroeconômicos foram
utilizados para medir o desempenho dos
sistemas consorciados (Beltrão et al.,
1984). Entre estes estão o índice de uso
eficiente da terra (UET), renda bruta
(RB), renda líquida (RL) e índice de
lucratividade (IL). O índice UET é dado
pela expressão: (Icenoura/Scenoura) + (Ialface/
Salface), onde I e S representam as produtividades dos sistemas consorciado e
solteiro de cada cultura componente. É
definido como a área relativa de terra,
sob condições de plantio isolado, que é
requerida para proporcionar as produtividades alcançadas no consórcio. A renda bruta (RB) foi obtida multiplicandose a produtividade da cultura em cada
tratamento pelo valor do produto pago
ao produtor no mês de outubro de 2002,
que correspondeu a R$ 1,10 kg-1 para a
alface e, R$ 0,65 kg-1, para a cenoura. A
renda líquida (RL) foi calculada
subtraindo-se da renda bruta, os custos
de produção, provenientes de insumos
e serviços. Estes custos (C) foram calculados para cada tratamento, baseado
nos coeficientes de custo de insumos e
serviços utilizados em um hectare de cenoura e alface ao nível experimental.
Foram considerados os preços de
insumos e serviços vigentes no mês de
outubro de 2002, na cidade de Mossoró.
O índice de lucratividade (IL) foi obtido da relação entre a RL e RB e expresso em percentagem.
Além destes indicadores, utilizou-se
ainda a eficiência produtiva, calculada
com base na abordagem proposta por
Gomes & Souza (2005), que utiliza
modelos de Análise de Envoltória de
Dados (DEA) para gerar uma medida
univariada a partir de uma resposta
multivariada. Em modelagem DEA são
definidas as unidades a avaliar, as variáveis (insumos e produtos) e o modelo a ser usado. As unidades em avaliação foram os tratamentos, em um total
de 36 (provenientes da combinação de
dois sistemas de cultivo com quatro cultivares de alface, mais a cenoura solteira, todos com quatro repetições). Os produtos foram os valores ou quantidades
das variáveis respostas medidas em cada
tratamento, neste caso a produtividade
da cenoura, a produtividade da alface no
primeiro e no segundo cultivos e a renda líquida do sistema. Para avaliar o
desempenho de cada parcela, considerou-se que cada uma utilizou-se de um
único insumo com nível unitário (Lovell
& Pastor, 1999; De Koeijer et al., 2002;
Soares de Mello & Gomes, 2004; Gomes & Souza, 2005; Leta et al., 2005),
já que os outputs incorporam os possíveis inputs.
Neste artigo o modelo escolhido foi
o DEA CCR (Charnes et al., 1978), já
que não há evidências de diferenças de
escala significativas e as variáveis disponíveis são, tipicamente, valores ou
quantidades produzidas. Nesse modelo,
a eficiência relativa da DMU é definida
como a razão da soma ponderada das
componentes do vetor de produção pela
soma ponderada das componentes do
vetor de insumo usado no processo de
produção. Os pesos utilizados nas ponderações das componentes de insumos
e produtos (preços sombra) são distintos e são obtidos da solução dos PPLs
que atribuem a cada DMU os pesos que
maximizam a sua eficiência, ou seja, são
atribuídos da forma mais benevolente a
cada DMU.
Em (1) mostra-se a formulação
arquimediana do modelo DEA CCR clássico para o caso aqui estudado (Cooper
é o valor do
et al., 2000), na qual
output j,
, para o tratamento k,
; é o peso atribuído ao output
j, O é o tratamento em análise.
(1)
195
F Bezerra Neto et al.
Tabela 1. Índice de uso eficiente da terra (UET), índice de lucratividade (IL) e eficiência
produtiva (índice DEA), em função de sistemas de cultivo e de cultivares de alface americana (Land equivalent ratio (UET), profit margin (IL) and yield efficiency by DEA, as function
of cropping systems and crisp head lettuce cultivars). Mossoró, UFERSA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas ou maiúscula nas linhas não diferem entre si, teste de Tukey, p<0,05 (Means followed by the same small letter in the column
or capital letter in the line do not differ from each other, Tukey´s test, p<0,05).
*Significativamente diferente da média dos sistemas de cultivo consorciados em faixas
(Significantly different from the mean for the strip-intercropped systems); ns = Não significativo (Non-significant).
De posse dos valores de cada um
desses critérios, uma análise de
variância univariada foi utilizada nas
variáveis selecionadas. Adicionalmente, para avaliar os diferentes tratamentos segundo todos os critérios considerados, foram utilizados métodos
multicritério, que têm como objetivo
avaliar diferentes alternativas sob a ótica de múltiplos critérios (Barba-Romero
& Pomerol, 1997). A classe de métodos
utilizada foi a dos métodos ordinais,
considerados bastante intuitivos e pouco exigentes tanto em termos
computacionais, quanto em relação às
informações necessárias por parte dos
decisores; do decisor não são necessárias mais do que as pré-ordens relativas
a cada critério. Neste artigo foram usados os três métodos multicritério
ordinais referenciados na literatura, a
saber, métodos de Borda, de Condorcet
e de Copeland.
Para o uso do método de Borda, o
decisor deve ordenar as alternativas de
acordo com as suas preferências. A alternativa mais preferida recebe um ponto, a segunda dois pontos e assim sucessivamente. Os pontos atribuídos pelos decisores a cada alternativa são somados e a alternativa que tiver obtido a
menor pontuação é a escolhida. Todas
as alternativas são ordenadas por ordem
decrescente de pontuação, o que garante o respeito ao axioma da totalidade
196
(Arrow, 1951). No método de Condorcet
também se exige que cada decisor ordene todas as alternativas de acordo com
suas preferências. Porém, em vez de se
atribuir uma pontuação a cada alternativa, o método estabelece relações de
superação. Para cada par de alternativas verifica-se qual delas foi preferida
pela maioria dos decisores. O método
de Copeland é derivado do método de
Condorcet e consiste em calcular a soma
das vitórias menos as derrotas em uma
votação por maioria simples. As alternativas são então ordenadas pelo resultado dessa soma. Este método tem a
vantagem de fornecer uma ordenação
total. Apesar de originalmente os métodos ordinais terem sido propostos para
problemas multidecisor, foram aqui usados como multicritério. Isto significa
que não houve um decisor para ordenar
as alternativas: foi usada a ordenação de
cada critério na solução do algoritmo de
cada método.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve interação significativa
entre os sistemas de cultivo e cultivares
de alface, bem como efeito significativo destes fatores tratamentos no indicador biológico Uso Eficiente da Terra
(UET) e no indicador econômico Índice de Lucratividade (IL) (Tabela 1).
Porém, verificou-se que os UETs dos
diversos sistemas consorciados foram
significativamente superiores ao índice
do cultivo solteiro da cenoura (Tabela 1).
Isso indica que nos sistemas consorciados ocorreu melhor aproveitamento dos
recursos ambientais, quando comparados ao sistema solteiro. Segundo
Jagannath & Sunderaraj (1987), em
qualquer comparação de benefícios entre sistemas consorciados com áreas de
ocupação de terra diferentes, a vantagem da consorciação via UET, vem de
duas fontes diferentes, geralmente, confundidas: (a) fator terra (área ocupada
pelas culturas) e (b) fator biológico/
agronômico (advindo dos tratamentos
testados). Nos sistemas de cultivo associados testados, essa vantagem no UET
variou de 90% a 133% (Tabela 2) e
adveio do fator biológico/agronômico
decorrente da combinação dos sistemas
de cultivo e cultivares testadas, já que a
área ocupada por cada cultura nos sistemas foi a mesma.
Com relação ao índice de
lucratividade não se observou diferença significativa entre o cultivo solteiro
e o consorciado (Tabela 1). No entanto,
pode-se observar pelos valores médios
que as vantagens biológicas auferidas
nos fatores-tratamentos foram confirmadas em termos de lucratividade, que
variaram de cerca de 66% a 71% (Tabela 2). Segundo Beltrão et al. (1984), os
agrossistemas consorciados devem ser
julgados em relação ao monocultivo,
através de indicadores econômicos e
agronômicos. Por outro lado,
Anandajayasekeram (1990) relata que
indicadores econômicos podem guiar a
decisões e recomendações, bem como
seleção de tratamentos e níveis em estágio inicial de uma pesquisa em consórcio.
A eficiência produtiva foi calculada
segundo um modelo DEA, com uso do
software SIAD (Angulo Meza et al.,
2005). O modelo de input único e unitário aqui proposto (cujos aspectos teóricos são analisados em Lovell & Pastor, 1999) é equivalente ao modelo
multicritério aditivo, com a particularidade de que as próprias alternativas atribuem pesos a cada critério, ignorando
qualquer opinião de um eventual
decisor. Ou seja, DEA é usado como
ferramenta multicritério e não como
medida de eficiência clássica. Nesse
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produtividade biológica em sistemas consorciados de cenoura e alface avaliada através de indicadores agroeconômicos e métodos multicritério
caso, ao invés de um esquema de pesos
fixos para cada critério, este seria um
método com pesos variáveis, atribuídos
da forma mais benevolente a cada DMU.
O emprego de DEA no contexto
multicritério foi estudado, por exemplo,
em Stewart (1996), Farinaccio &
Ostanello (1999) e Soares de Mello et
al. (2002). Por outro lado, com o intuito
de reduzir a benevolência dos modelos
DEA clássicos, podem ser usados modelos DEA em que sejam incorporadas
opiniões subjetivas dos decisores ou
especialistas sobre importância das variáveis, por meio de restrições aos pesos, conforme apresentado em Allen et
al. (1997).
Interação significativa entre sistemas
de cultivo e cultivares de alface foi observada nas eficiências DEA (Tabela 1).
Desdobrando a interação sistema de
cultivo dentro de cada cultivar, observou-se que apenas o sistema consorciado em faixa de quatro fileiras de cenoura alternadas com quatro fileiras de alface teve eficiência produtiva significativamente superior a do sistema consorciado em faixa com três fileiras de cenoura alternadas com três fileiras de alface, dentro da cultivar Mesa 659. Por
outro lado, desdobrando a interação cultivares de alface dentro de cada sistema
de cultivo, observou-se que as cultivares de alface diferiram apenas dentro do
sistema consorciado em faixa de quatro
fileiras, com as cultivares Mesa 659 e
Laurel sobressaindo em relação às demais (Tabela 1). Esta interação entre os
fatores-tratamentos
aconteceu
presumivelmente porque na eficiência
produtiva foram considerados não só
aspectos de produtividade (vistos em
parte pela UET), mas também aspectos
econômicos, considerados em parte no
IL. Dessa forma, os resultados desse
modelo DEA trazem informações dos
dois critérios anteriores, que isoladamente não foram constatados, mas que
ao serem considerados conjuntamente
fizeram com que os efeitos da interação
fossem percebidos. Também foi observada uma eficiência produtiva significativamente superior nos sistemas consorciados em relação ao cultivo solteiro
(Tabela 1). Este resultado vem corroborar com a afirmativa principal de que os
sistemas consorciados têm sua produtividade biológica total superior à obtida
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 2. Índice de uso eficiente da terra, índice de lucratividade, eficiência produtiva por
DEA e ordenação obtida pelos métodos de Borda, Condorcet e Copeland, em sistemas consorciados de cenoura e alface americana, em dois sistemas de cultivo em faixas e de cenoura
solteira (Land equivalent ratio (UET), profit margin (IL), yield efficiency by DEA and ranks
obtained by Borda, Condorcet, and Copeland methods, in intercropping systems of carrot
and crisp head lettuce cultivars, in two strip-intercropping systems and carrot in sole crop).
Mossoró, UFERSA, 2002.
*3F = Sistema de cultivo em faixa com três fileiras de cenoura alternadas com três fileiras
de alface (Strip-intercropping system with three carrot rows alternated with three lettuce
rows); 26
4F = Sistema de cultivo em faixa com quatro fileiras de cenoura alternadas com quatro
fileiras de alface (Strip-intercropping system with four carrot rows alternated with four lettuce
rows); **Ciclo de intransitividade (Intransitivity cycle).
Figura 1. Ciclo de intransitividade obtido na solução do método de Condorcet (Intransitivity
cycle obtained by Condorcet method). Mossoró, UFERSA, 2002.
nos cultivos solteiro das culturas (Park
et al., 2002).
Pôde-se verificar que, apesar dos
métodos Borda, Condorcet e Copeland
ordenarem os sistemas de acordo com
seu próprio algoritmo, os três apresentaram resultados semelhantes quanto aos
melhores e piores sistemas de cultivo
(Tabela 2). Pelos resultados desses métodos, que consideraram em seus
algoritmos os três critérios (UET, IL e
eficiência DEA), os sistemas de cultivo
menos indicados são Cenoura + Tainá
(4F) e Cenoura + Lucy Brown (4F).
Sobressaíram-se como os melhores sistemas de cultivo Cenoura + Mesa 659
(4F), Cenoura + Laurel (3F) e Cenoura
+ Mesa 659 (3F). Apesar de originalmente os métodos ordinais terem sido
propostos para problemas multidecisor,
foram aqui usados como multicritério.
Isto significa que não houve um decisor
para ordenar as alternativas: foi usada a
ordenação de cada critério na solução
do algoritmo de cada método. Cabe destacar que o método de Condorcet, considerado mais justo que o de Borda, tem
a grande desvantagem de conduzir a situações de intransitividade, levando ao
célebre “paradoxo de Condorcet”. Este
ocorre quando A é preferível a B, B é
preferível a C e C é preferível a A. Na
solução do método de Condorcet para o
caso aqui em estudo, por meio de destilações ascendentes e descendentes, não
foi encontrada uma ordenação completa. Houve um empate e um ciclo de
intransitividade (Figura 1), impedindo
a hierarquização das alternativas constituintes do ciclo. Ressalta-se ainda que,
quando há ciclos de intransitividade, o
método de Copeland permite fazer a
197
F Bezerra Neto et al.
ordenação e mantém a classificação das
alternativas que não pertencem a nenhum ciclo de intransitividade. Entretanto, assim como o método de Borda,
o método de Copeland não respeita o
axioma da independência em relação a
alternativas irrelevantes de Arrow
(1951), o que reforça o fato de não existir método multicritério “perfeito”
(Arrow, 1951; Barba-Romero &
Pomerol, 1997).
Nesses resultados observa-se a importância de não considerar somente um
aspecto na avaliação de consórcios. De
fato, se fosse considerado somente o
critério UET, o melhor sistema seria
Cenoura + Mesa 659 (3F). Ao considerar somente o aspecto econômico (IL),
surge como melhor sistema Cenoura
Solteira seguido de Cenoura + Tainá
(3F). Ao avaliar o índice DEA, Cenoura + Mesa 659 (4F) apresenta o melhor
resultado. No geral, observou-se que o
sistema de cultivo a ser indicado ao produtor, é o sistema Cenoura + Mesa 659
(4F), com altos indicadores
agroeconômicos, maior eficiência produtiva DEA e melhores colocações nas
ordenações dos métodos multicritério.
Os indicadores de eficiência produtiva
e as ordenações foram mais eficazes na
discriminação tanto das melhores, como
das piores performances dos sistemas de
cultivos estudados, quando comparados
com os indicadores agroeconômicos.
Modelos DEA avançados podem ser
aplicados aos dados deste artigo. Por
exemplo, caso o especialista julgue que
as variáveis usadas no modelo DEA têm
importância diferenciada no cálculo da
medida de eficiência produtiva, esses
julgamentos podem ser inserido no modelo. No cálculo do índice DEA podese adicionar, por exemplo, a restrição de
que o output renda líquida tenha importância relativa maior que os outputs referentes às produtividades. Nesse caso,
conforme anteriormente mencionado,
devem ser usados modelos DEA com
restrições aos pesos, que permitem inserir julgamentos de valor sobre a importância das variáveis no modelo.
198
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Períodos de interferência de maria-pretinha sobre tomateiro industrial
Daniel D Hernandez; Pedro Luís CA Alves; Maria do Carmo MD Pavani; Mariana C Parreira
UNESP, FCAV, Depto.Biologia Aplicada à Agropecuária, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castelanne, s/n, 14884-900 Jaboticabal–SP;
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Determinou-se os efeitos da convivência com plantas de mariapretinha sobre a produtividade do tomateiro industrial, híbrido Heinz
9992, em um experimento com dois grupos de tratamentos: no primeiro, o tomate permaneceu livre da competição (60 mil plantas ha-1
de maria-pretinha) do transplantio até 15; 30; 45; 60; 75; 90; 105 e
120 dias (colheita); no segundo, a cultura permaneceu em competição com a maria-pretinha do transplantio até os mesmos períodos
citados. Utilizaram-se blocos casualizados, três repetições e parcelas de quatro linhas. Altura, área foliar e massa seca da parte aérea
da maria-pretinha foram obtidas a partir de amostras de dez plantas.
A área foliar das plantas de maria-pretinha cresceu até 75 dias de
convivência com as plantas de tomate (1.588 dm2 planta-1), a altura
até 60 dias de convivência (85 cm) e a massa seca da parte aérea até
120 dias de convivência (31,7 g planta-1). As produtividades mais
alta (108,6 t ha-1 ou 87,6% da produção total de frutos) e mais baixa
(14,2 t ha-1; 59,0%) de frutos maduros de tomate foram observadas
quando a convivência entre tomate e maria-pretinha ocorreu respectivamente apenas nos 15 primeiros dias e ao longo de todo o ciclo
do tomate. Nestes tratamentos, o peso médio de frutos maduros foi
de respectivamente 58,7 e 38,0 g. Verificou-se que cada cm2 de acréscimo em área foliar das plantas de maria-pretinha causou uma redução de 0,04 t ha-1 na produção de frutos maduros (PFM) (R2 = 0,90),
cada centímetro em altura da planta daninha reduziu 0,82 t ha-1 na
PFM (R2 = 0,78) e cada grama de acréscimo em massa seca de caules e folhas da planta daninha causou uma redução de 2,84 t ha-1
PFM (R2 = 0,97). O período anterior à interferência, considerandose a redução na produtividade do tomate em 5%, foi de 27 dias após
o transplantio (DAT) da cultura; o período total de prevenção à interferência foi de 46 DAT e, o período crítico de prevenção à interferência, de 27 a 46 DAT.
Periods of nightshade interference in processing tomato
In order to evaluate the effects of nightshade coexistence on
processing tomato yield, hybrid Heinz 9992, an experiment was
carried out consisting of two sets of treatments: in the first set, the
crop was kept weed free (60 thousands plants ha-1) from transplanting
to 15; 30; 45; 60; 75; 90; 105 days and 120 (harvest) days after
transplanting (DAT); while in the second set, the crop was kept in
competition with the nightshade from transplanting until the same
DAT described for the set of treatments. A randomized block design
trial, with three replications and four-row plots was used. Height,
leaf area, and aerial part dry matter of nightshade was obtained out
of 10-plant samples. Nightshade leaf area increased until 75 days of
tomato coexistence (1,588 dm2 plant-1); height until 60 days of
coexistence (85 cm), and the leaf dry biomass until 120 days of
coexistence (31.7 g plant-1). The highest (108.6 tons ha-1 or 87.6 %
of total production) and lowest (14.2 tons ha-1 or 59%) ripe tomato
yields were observed when the coexistence between tomato and
nightshade occurred only in the first 15 days or in the whole crop
cycle, respectively. In these treatments, the average ripe fruit weights
were 58.7 and 38.0 g, respectively. Each cm2 of increase in the
nightshade leaf area caused a reduction of 0.04 tons ha-1 (R2 = 0.90)
on the ripe tomato yield; each cm of increase in the nightshade height
reduced the ripe tomato yield in 0.82 tons ha-1 (R2=0.78); and each
gram of increase in the nightshade aerial part dry matter reduced the
ripe tomato yield in 2.84 tons ha-1 (R2=0.97). The period before
interference, allowing up to 5% reduction in tomato yield, was 27
DAT; the total period for preventing interference was 46 DAT; and
the critical period for preventing interference was between 27 and
46 DAT.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Solanum americanum,
competição, coexistência lavoura-planta daninha.
Keywords: Lycopersicon esculentum, Solanum americanum, weed
competition, coexistence crop-weed.
(Recebido para publicação em 16 de novembro de 2005; aceito em 27 de abril de 2007)
A
interferência imposta pelas plantas daninhas é um dos fatores que
mais prejudicam a exploração agrícola.
As plantas daninhas reduzem a produtividade das lavouras pela ação
alelopática e pela competição por fatores de crescimento como água, nutrientes e luz. Além disso, dificultam a colheita e outras práticas culturais, além
de serem responsáveis por aumentar os
problemas fitossanitários.
Segundo Clark (1971), as espécies de
plantas daninhas que se desenvolvem na
mesma área da cultura influenciam o
grau de competição, pois as habilidades
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
competitivas variam com a espécie.
Quanto maior a semelhança fisiológica
entre duas espécies, mais intensa é a sua
competição pelos fatores que se encontram em quantidades limitadas no
ecossistema comum. O grau de interferência das plantas daninhas sobre culturas agrícolas é função de diversos fatores ligados à comunidade infestante e
à cultura, principalmente em decorrência do período de convivência de ambos (Bleasdale, 1960; Blanco, 1972;
Pitelli, 1985). De maneira geral, podese dizer que quanto maior for o período
de convivência múltipla entre a lavoura
e a comunidade infestante, maior será o
grau de interferência. No entanto, o grau
de interferência dependerá sobremaneira da época do ciclo da cultura em que
este período ocorrer (Pitelli, 1985).
O tomate é uma cultura de importância mundial, com o Brasil se destacando como um dos maiores produtores desta hortaliça, quando se trata de
produção destinada à indústria, com
aproximadamente 17 mil ha plantados
em 2004 e uma produção de cerca de
1.500.000 toneladas, ou seja, uma produtividade de 85 t ha -1 (Agrianual,
2005). No entanto, as informações so199
DD Hernandez et al.
bre a interferência de plantas daninhas
sobre a cultura são escassas. No caso do
tomate
rasteiro,
destinado
prioritariamente à indústria, a maria-pretinha (Solanum americanum) destacase como uma planta daninha altamente
prejudicial à cultura. Hernandez et al.
(2002), ao estudarem o efeito da densidade em monocultura e proporção de
plantas de tomate industrial e de mariapretinha em competição, observaram
que a planta daninha mostrou ser um
competidor muito agressivo e que, à
medida que se aumentava a densidade
da planta daninha, maiores foram as
perdas de produtividade do tomateiro.
Este trabalho foi desenvolvido com
o objetivo de determinar o período anterior à interferência (PAI), o período
total de prevenção da interferência
(PTPI) e o período crítico para prevenção da interferência (PCPI) de mariapretinha sobre o tomateiro, com vistas
ao estabelecimento de um programa de
manejo desta importante planta daninha
na cultura do tomate para indústria.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado e conduzido na Estação Experimental da
Unilever Bestfoods, Goiânia (GO). No
preparo do solo, antes do transplantio
das mudas de tomate e maria-pretinha,
foi realizada calagem com a incorporação de 4 t ha-1 de calcário dolomítico,
fosfatagem com 550 kg ha-1 de Yoorin
Master (S) e 475 kg ha-1 de cloreto de
potássio. A adubação de plantio foi realizada com o uso de 1,5 t ha-1 da fórmula 4-30-16, além da adubação de cobertura com 280 kg ha-1 da fórmula 18-027, 21 dias após o transplantio das mudas. O transplantio da mudas de tomate, cultivar Heinz 9992, se deu em 27/
05/03, no espaçamento de 1,30 m nas
entrelinhas e 0,25 m entre plantas, resultando em uma população de aproximadamente 30 mil plantas ha-1.
Com o intuito de estabelecer os períodos críticos de interferência da mariapretinha sobre o tomateiro sem a presença de outras espécies de plantas daninhas que pudessem comprometer os
resultados, realizou-se em prétransplantio das mudas de tomate a aplicação dos herbicidas trifluralina e
200
metribuzin, nas doses de 1200 g ia ha-1
e 480 g ia ha-1, respectivamente.
Os tratamentos experimentais foram
divididos em dois grupos. No primeiro,
o tomate permaneceu livre da interferência da maria-pretinha desde o plantio das mudas até diferentes períodos do
seu ciclo de desenvolvimento: 0-15, 030, 0-45, 0-60, 0-75, 0-90, 0-105 0-120
dias após o transplantio (colheita). Após
estes períodos, as mudas de maria-pretinha foram plantadas aleatoriamente
nas parcelas, em densidade equivalente
a 60.000 plantas ha-1, deixando-as crescer livremente. A densidade
populacional de infestação de mariapretinha foi determinada previamente
por meio de amostragens realizadas em
lavouras comerciais de tomate na região
de Patos de Minas, MG, seguindo o procedimento proposto por Matteucci &
Colma (1982). No segundo grupo de tratamentos, procedeu-se ao contrário. A
cultura permaneceu sob interferência da
população de maria-pretinha desde o
plantio das mudas até diferentes estádios do desenvolvimento (0; 30; 45; 60;
75; 90; 105 e 120 dias). Após estes períodos, as plantas de maria-pretinha foram removidas das parcelas com capina manual, o mesmo ocorrendo com
outras plantas daninhas que vieram a
germinar durante o ciclo da cultura. As
mudas de maria-pretinha e de tomate
foram produzidas em bandejas de
poliestireno expandido de 288 células.
Foi adotado o delineamento experimental em blocos casualizados, com três
repetições. As parcelas experimentais
foram compostas por quatro linhas de
plantio de tomate espaçadas em 1,30
metros, com cinco metros de comprimento, totalizando 26 m2, deixando as
duas linhas laterais como bordaduras. As
avaliações foram realizadas nas duas linhas centrais de cada parcela, o que representou uma área útil de 13 m2.
Nas parcelas destinadas à convivência inicial da cultura com a comunidade
infestante (tratamentos no mato), as
amostragens das plantas de maria-pretinha foram realizadas ao final do período estipulado. Para estas amostragens
foram coletadas dez plantas de mariapretinha por área útil de cada parcela.
Destas plantas, foram obtidas as alturas, áreas foliares (Li-Cor, mod. LI 2000
A) e massa seca da parte aérea e, em
seguida, suas respectivas médias.
A lavoura foi colhida manualmente
120 dias após o transplantio, sendo sua
produtividade
quantificada
e
extrapolada para toneladas por hectare.
Obteve-se as produtividades de frutos
maduros, frutos coloridos, frutos verdes
e frutos podres, perfazendo quatro características a serem consideradas separadamente. Foram ainda separadas
amostras de 50 frutos maduros por parcela para a obtenção do peso médio por
fruto. Os dados referentes à altura, área
foliar e massas secas acumuladas de folhas e caules das plantas de maria-pretinha, juntamente com os dados de produtividade do tomateiro, foram submetidos à análise de regressão pelo modelo sigmoidal de Boltzman e obedecem
à equação a seguir, sugerida por Kuva
et al. (2001):
, em que:
Y = produção de tomate em função
dos períodos de controle ou de convivência; x = limite superior do período
de controle ou convivência; A1 = produção máxima obtida nas parcelas
mantidas no limpo durante todo o ciclo;
A2 = produção mínima obtida nas parcelas mantidas com competição durante todo o ciclo; (A1 – A2) = perda de produção; x0 = limite superior do período
de controle ou de convivência, que
corresponde ao valor intermediário entre a produção máxima e mínima; dx =
parâmetro que indica a velocidade de
perda ou ganho de produção (tangente
a no ponto x 0 ). Foram ainda
estabelecidas correlações entre as características analisadas das plantas de
maria-pretinha e a produção de frutos
maduros de tomate.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área foliar das plantas de mariapretinha (Figura 1A) foi crescente até
75 dias de convivência com as plantas
de tomate, quando se estabilizou em torno de 1.588 dm2 planta-1. O crescimento em altura ocorreu até 60 dias de convivência, quando atingiu o ponto máximo, 85 cm (Figura 1B). Para a produHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Períodos de interferência de maria-pretinha sobre tomateiro industrial
ção de massa seca da parte aérea das
plantas de maria-pretinha (Figura 1C),
observou-se um acúmulo com o aumento do período de convivência, atingindo
o máximo com 120 dias de convivência
(31,7 g planta-1). Resultado semelhante
foi obtido por Salgado et al. (2002).
Neste trabalho, a massa seca da parte
aérea de plantas de uma comunidade
infestante da cultura do algodão também
aumentou até a obtenção da máxima acumulada 120 dias após a semeadura.
Kozlowski et al. (2002) estudaram o efeito de plantas daninhas sobre a cultura do
feijoeiro e também observaram aumento
de massa seca da parte aérea das plantas
infestantes com o aumento do período de
convivência com a cultura.
Observou-se que o aumento do período de convivência com a planta daninha diminuiu progressivamente a produção de frutos maduros do tomateiro
(Figura 2A). A maior produtividade de
frutos maduros foi observada no tratamento em que a convivência entre tomate e maria-pretinha ocorreu apenas
nos 15 primeiros dias do ciclo (108,6 t
ha-1 ou 87,6% da produção total de frutos). A menor produtividade também de
frutos maduros foi observada no tratamento cuja presença da maria-pretinha
se deu ao longo de todo o ciclo do tomate (14,2 t ha-1 ou 59,0% da produção
total de frutos), o que representa uma
redução de quase 87% em relação ao
tratamento com melhor produção. O
peso unitário de frutos maduros do tomateiro também diminuiu progressivamente com o aumento do período de
convivência entre a cultura e a planta
daninha (Figura 2B). Ao se comparar o
peso unitário de frutos de plantas de tomate que estiveram em convivência com
plantas de maria-pretinha apenas nos
primeiros 15 dias de seu ciclo ao peso
unitário de frutos de plantas que estiveram nesta convivência por todo o seu
ciclo, nota-se uma diminuição de 35%
(58,7 gramas contra 38,0 gramas, respectivamente), indicando que a redução
na produtividade do tomateiro também
foi uma consequência direta da diminuição no tamanho dos frutos. Soares et al.
(2003), estudando a interferência das
plantas daninhas em cebola, também
verificaram que o aumento do período
de convivência entre plantas daninhas e
cultura resultou em redução na produtiHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 1. Área foliar (dm2) (A), altura (cm) (B) e massa seca da parte aérea por planta (g)
(C) de maria-pretinha ao final dos períodos de convivência com o tomate (Leaf area (dm2)
(A), height (cm) (B), and aboveground plant dry matter (C) of nightshade in the end of the
coexistence period with tomato). Goiânia, UNESP-FCAV/Unilever, 2003.
201
DD Hernandez et al.
Figura 2. Produtividade (t ha-1) (A) e peso unitário (g fruto-1) (B) de frutos maduros de
tomate ao final dos períodos de convivência com a maria-pretinha (Yield (t ha-1) (A) and
fruit weight (g fruto-1) (B) of ripe tomato fruits in the end of the coexistence period with
nightshade). Goiânia, UNESP-FCAV/Unilever, 2003.
Tabela 1. Produtividade total e de frutos coloridos, verdes e podres do tomateiro e respectivas porcentagens em relação à produtividade total em função de diferentes períodos de
convivência com plantas de maria-pretinha (Total and discolored, green, and rotted tomato
fruit yield and respective percentage in relation to total yield as influenced by the coexistence
period with nightshade). Goiânia, UNESP-FCAV/Unilever, 2003.
202
vidade e no peso médio de bulbos (95 e
91%, respectivamente).
Para a produção total de frutos coloridos também observou-se melhor
produtividade para as plantas de tomate
nos tratamentos em que a presença da
maria-pretinha ocorreu por um período
mais curto (Tabela 1). Verificou-se atraso na maturação de frutos com o aumento do tempo de convivência entre o tomate e a maria-pretinha, conforme observado nos tratamentos em que o tomate a maria-pretinha conviveram por
105 e 120 dias. Nestes tratamentos têmse uma porcentagem de frutos coloridos
maior do que nos demais tratamentos,
11,1% e 10,4% em relação à produção
total de frutos, respectivamente. Verificou-se que as plantas do tratamento em
que a maria-pretinha e o tomate conviveram nos primeiros 75 dias produziram uma grande quantidade de frutos
verdes (22,4% da produção total de frutos deste tratamento). Tal fato pode ser
explicado por ser neste período que
ocorre o máximo de florescimento da
planta de tomate. Ao se eliminar as plantas de maria-pretinha, a cultura, que
possuía grande poder fisiológico para o
florescimento neste estádio fenológico,
restabeleceu um novo florescimento, o
que propiciou uma nova produção de
frutos, totalmente desigualados em
maturação com os demais tratamentos.
O aumento do período de convivência entre o tomate e a maria-pretinha
provocou também um aumento na quantidade de frutos podres (Tabela 1). Nos
tratamentos em que o tomate e a mariapretinha conviveram por 90, 105 e 120
dias do ciclo do tomateiro, 13,1, 15,5 e
21,4% da produção total de frutos eram,
respectivamente, frutos deteriorados.
Para a indústria, a qualificação dos frutos colhidos e enviados ao
processamento fabril é priorizada, com
frutos verdes e podres sendo totalmente
descartados. Com isso, verifica-se a
importância do controle das plantas de
maria-pretinha no momento adequado
no ciclo do tomateiro, o que, se não ocorrer, poderá ocasionar aumentos consideráveis da quantidade desses frutos
indesejáveis.
Pelos estudos de correlação entre as
características analisadas nas plantas de
maria-pretinha e a produção de frutos
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Períodos de interferência de maria-pretinha sobre tomateiro industrial
maduros do tomateiro (P), verificou-se
que cada cm2 de acréscimo em área foliar das plantas de maria-pretinha (AF),
em uma população de 60 mil plantas ha-1,
causou uma redução de 0,04 t ha-1 na
produção máxima de 103,9 t ha-1 de frutos maduros de tomate (P = 103,9 –
0,04AF; R2 = 0,90). Na correlação entre altura das plantas de maria-pretinha
(Alt) e produção de frutos maduros do
tomateiro (P), cada centímetro em altura da planta daninSha, na população de
60 mil plantas ha-1, reduziu 0,82 t ha-1
na produção máxima de 109,3 t ha-1 de
frutos maduros de tomate (P = 109,3 –
0,82Alt; R2 = 0,78). Verificou-se ainda
que, na correlação entre massa seca da
parte aérea das plantas de maria-pretinha (MS) e a produção de frutos maduros do tomateiro (P), cada grama de
acréscimo em massa seca de caules e
folhas da planta daninha, em uma população em 60 mil plantas ha-1, causou
uma redução de 2,84 t ha-1 na produção
máxima de 100,2 t ha-1 de frutos maduros de tomate (P = 100,2 – 2,84MS; R2
= 0,97). Entre os três coeficientes de
correlação, aquele relativo à massa seca
da parte aérea da maria-pretinha, por ser
maior, indicou ser esta a característica
que melhor expressa o efeito da mariapretinha e sobre a produtividade do tomate. Portanto, em uma avaliação visual, seria mais seguro determinar os
efeitos prejudiciais da presença das
plantas de maria-pretinha sobre o tomateiro pelo volume de caules e folhas da
planta daninha do que simplesmente
avaliar sua altura. Além disso, os coeficientes angulares obtidos nos estudos de
correlação demonstraram ser a massa
seca da parte aérea das plantas de mariapretinha a característica que reduziu de
forma mais acentuada a produtividade
do tomateiro.
Admitindo perda máxima de 5% em
relação à produtividade obtida na ausência total de plantas daninhas, pôde-se
observar (Figura 3; Tabela 2) que a produtividade de frutos maduros do tomateiro passou a ser afetada negativamente a partir de 27 dias de convivência (período anterior à interferência – PAI) (Figura 3). Por outro lado, foi necessário o
controle das plantas de maria-pretinha
por 46 dias para que a produção atingisse 95% da produtividade máxima (peHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 3. Produtividade relativa de frutos maduros de tomate em função dos períodos com
controle ou com convivência com maria-pretinha (Relative yield of ripe tomato as affected
by the control or the coexistence with nightshade). PAI – período anterior à interferência
(period before interference); PTPI – período total de prevenção à interferência (total period
for preventing interference); PCPI – período crítico de prevenção à interferência (critical
period for preventing interference). Goiânia, UNESP-FCAV/Unilever, 2003.
ríodo total de prevenção à interferência
– PTPI) (Figura 3). Assim, o controle
das plantas de maria-pretinha foi crítico no período compreendido entre 27 e
46 dias após o transplantio (período crítico de prevenção da interferência –
PCPI) (Figura 3). Bucklew et al. (2006),
estudando a interferência de Solanum
ptycanthum sobre o tomateiro, observaram que a produtividade da cultura diminuía à medida que a convivência com
a planta daninha era maior. Concluíram
ainda que no período compreendido
entre 28 e 50 dias após o transplantio
não deveria haver convivência entre as
duas espécies para que as perdas de produtividade da cultura não ultrapassassem 20%. Nascente et al. (2004) determinaram que o período crítico de
infestação de uma comunidade de plantas daninhas sobre plantas de tomate,
cultivar IPA-5, se dava entre o 33o.e 76
o.
dias após a implantação da cultura.
Estimou-se os valores do limite superior do PAI e do PTPI em função da
tolerância de redução de 2,5; 5 e 7,5%
na produtividade de frutos maduros do
tomateiro. Tolerando-se 7,5% de redu-
ção na produtividade, o PAI foi de zero
a 30 dias após o transplantio (DAT) e o
PTPI foi de zero a 36 DAT. Reduzindose os níveis de tolerância para 2,5%, o
PAI passou para 24 DAT e o PTPI para
53 DAT. Aceitando-se que a redução na
produtividade de frutos maduros de tomate passasse de 2,5 para 7,5% podem
ser acrescentados seis dias no período
de convivência. Por outro lado, para
aumentar a produtividade de 92,5 para
97,5%, foi necessário um acréscimo de
17 dias no período de controle. Isto
mostra o quão agressiva é a maria-pretinha sobre o tomateiro, principalmente
sobre sua produtividade final.
Nas situações em que o PCPI é muito longo, a principal medida de controle
para minimizar as perdas de produtividade é a utilização de herbicidas aplicados em área total, uma vez que o controle mecânico exigiria elevada frequência
de operações, o que aumentaria o custo
de produção, além de, no caso do tomate
industrial, aumentar os riscos da infecção por doenças bacterianas. O controle
da maria-pretinha deve ser realizado no
momento correto, ou seja, o mais próxi203
DD Hernandez et al.
mo possível do PAI. O controle antecipado acarretaria em um PCPI maior, o
que implicaria em maiores quantidades
de operações de controle, ou seja, maiores custos de produção. O controle atrasado provocaria redução de produtividade, além do que propiciaria um aumento
no ciclo da cultura, com conseqüente
heterogeneidade de maturação de frutos.
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
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Horticultura Brasileira 25:205-209.
Metodologia para o teste de envelhecimento acelerado em sementes de ervilha
Warley Marcos Nascimento; Raquel A de Freitas; Eliana Marília L Gomes; Aline S Soares
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A produção de ervilha no Brasil vem utilizando sementes produzidas no próprio país. O presente trabalho teve como objetivo verificar a eficiência do teste de envelhecimento acelerado para avaliar o vigor de sementes de ervilha. Foram utilizados dez lotes de
sementes de ervilha, sendo cinco da cultivar Axé (sementes rugosas,
indicada para produção de grãos verdes) e cinco da cultivar Mikado
(sementes lisas, indicada para produção de grãos secos). Para avaliar a qualidade fisiológica inicial dos lotes foram utilizados os testes de germinação, primeira contagem e emergência de plântulas em
campo. Determinou-se também o teor de água das sementes. O envelhecimento acelerado foi conduzido a 41°C por períodos de 24;
48 e 72 horas, com e sem uso de solução saturada de NaCl. O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado. O
teste de envelhecimento acelerado mostrou-se eficiente para avaliar
o vigor de sementes de ervilha. Quando conduzido sem o uso de
solução saturada com NaCl, verificou-se que o período de envelhecimento que permitiu melhor estratificação dos lotes de sementes
foi 72 horas. Porém, a porcentagem de germinação após esse período mesmo nos lotes de maior vigor (35% para a cultivar Axé e 38%
para a cultivar Mikado) foi muito baixa em relação às observadas
após apenas 24 horas, superior a 80% para ambas as cultivares. Quando conduzido com o uso de solução saturada de NaCl, o período de 48
horas, a 41°C, foi o mais adequado para a classificação dos lotes em
diferentes níveis de vigor. Nessas condições, os lotes de maior vigor
das cultivares Axé e Mikado apresentaram germinação superior a 68
e 79%, respectivamente. Os testes de germinação, primeira contagem
e emergência de plântulas em campo não apresentaram isoladamente
bom poder discriminatório da qualidade fisiológica inicial dos lotes
de sementes. Quando seus resultados foram tomados em conjunto,
porém, foi possível identificar os lotes de melhor qualidade.
Palavras chave: Pisum sativum, vigor, qualidade fisiológica, solução salina, germinação.
Accelerated aging test on pea seeds
Pea production in Brazil uses seeds produced in the country.
The objective of this study was to examine the efficiency of the
accelerated aging test for vigor evaluation of pea seeds. Five seed
lots of cultivar Axé (wrinkled seeds) and five seed lots of cultivar
Mikado (smooth seeds) were used. The initial quality of each seed
lot was evaluated by germination test, first counting, and seedling
emergence in the field. Seed moisture content was also assessed.
The accelerated aging test was set at 41ºC for periods of 24; 48; and
72 hours, with and without saturated NaCl solution. The experiment
was carried out in a completely randomized design. The accelerated
aging test was efficient for vigor evaluation of pea seeds, and the
period of 48 hours at 41ºC, using saturated NaCl solution was the
most adequate procedure to indicate vigor levels of pea seeds.
However, the seed germination after this period was very low when
compared to 24 hour-period (80%) for both cultivars, even in higher
vigor seed lots (35% for Axé and 38% for Mikado). In the saturated
NaCl solution, the period of 48 hours at 41ºC was the most adequate
for separate seeds through vigor levels. In these conditions, seed
lots of highest vigor showed germination of 68% and 79% for Axé
and Mikado, respectively. Results of the germination test, first
counting, and seedling emergence were not effective in discriminating
physiological seed quality when used individually. Nevertheless,
when results from these tests were used all together, it was possible
to identify the best seed lots.
Keywords: Pisum sativum, vigor, physiological quality, saline
solution, germination.
(Recebido para publicação em 26 de janeiro de 2006; aceito em 18 de junho de 2007)
A
ervilha é uma hortaliça de alto
valor nutritivo, com amplas alternativas de uso na alimentação. As cultivares utilizadas para produção de ervilha seca possuem sementes redondas e
lisas, podendo ser reidratadas para consumo imediato ou enlatadas. Dos grãos
secos pode ser obtida ainda a farinha de
ervilha, que tem emprego direto na fabricação de sopas instantâneas e na panificação (Pereira, 1989; Giordano,
1997). As cultivares utilizadas para produção de grãos verdes possuem, em geral, sementes rugosas e elevado teor de
açúcar (Vieira et al., 2001). Na forma
de grãos verdes, a ervilha pode ser
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
consumida in natura, bem como enlatada ou congelada imediatamente após
a colheita (Giordano, 1997). A ervilha
verde tem sido uma opção de produção
para atender às novas demandas do mercado, principalmente de produtos
supergelados.
A diferença básica entre as cultivares de sementes lisas e rugosas é sua composição química, principalmente no que
se refere aos teores de amido e açúcares.
Durante a maturação das sementes, ocorre inicialmente maior acúmulo de açúcares e menor síntese de amido; logo em
seguida, o conteúdo de açúcar cai bruscamente e o teor de amido aumenta. Em
cultivares de sementes lisas, o primeiro
estágio é bem mais curto; sendo que nas
sementes rugosas, o acúmulo de açúcar
é significante. Com a redução do teor de
açúcar durante a maturação, as sementes
das cultivares de ervilha-verde apresentam fenótipos caracterizados por
enrugamento (sementes rugosas). Estas
diferenças de composição química e forma das sementes podem influenciar a
qualidade fisiológica e sanitária das mesmas. Por exemplo, as sementes das cultivares de ervilha-verde, por possuírem
maior teor de açúcar, são mais suscetíveis ao ataque de fungos (Nascimento &
Cícero, 1991a, b).
205
WM Nascimento et al.
Em se tratando de cultivares de ervilha utilizadas para processamento industrial, onde a uniformidade das épocas e duração do florescimento e
maturação são necessárias para obtenção de produto adequado (Mullet &
Wilkinson, 1979), a utilização de testes
de vigor, capazes de detectar diferenças
significativas de qualidade fisiológica
entre lotes de germinação semelhante,
torna-se praticamente obrigatória no
programa de produção de sementes. Inúmeros estudos têm sido realizados no
desenvolvimento, adaptação e padronização dos testes para avaliação do vigor das sementes. Para ervilha, o teste
de condutividade elétrica tem apresentado bons resultados, tanto que é recomendado como teste de vigor para a espécie (Hampton & Tekrony, 1995). No
entanto, Marcos Filho (1999b) destaca
a importância da utilização de vários
testes para avaliação do vigor das sementes, uma vez que estas podem mostrar reações variáveis diante da exposição às diferentes situações específicas
de cada teste.
O envelhecimento acelerado como
teste de vigor tem sido um dos mais utilizado, com possibilidade de aplicação
para sementes de diversas culturas
(McDonald, 1995). Nesse teste, as sementes são submetidas à alta temperatura e umidade relativa elevada por período relativamente curto, sendo, em
seguida, colocadas para germinar. Lotes de sementes de alto vigor manterão
sua viabilidade quando submetidos a
essas condições, enquanto os de baixo
vigor terão sua viabilidade reduzida
(Association of Official Seed Analysts
- AOSA, 1983). O teste de envelhecimento acelerado foi originalmente desenvolvido para determinar o potencial
de armazenamento das sementes. No
entanto, além de estudos relacionandoo com o potencial de armazenamento
das sementes, também têm sido realizados trabalhos para verificar sua eficiência na avaliação do potencial de
emergência das plântulas em campo. Em
cebola, por exemplo, o envelhecimento
acelerado foi um dos testes que mais se
associou à emergência de plântulas em
campo e à obtenção de mudas vigorosas (Piana et al., 1995).
Embora o teste de envelhecimento
acelerado já tenha caminhado suficientemente em direção à padronização, para
206
muitas espécies, ainda há vários estudos em andamento com o objetivo de
aprimorar sua metodologia (Marcos Filho, 1999a). A padronização de um teste envolve a identificação de todas as
variáveis que influenciam significativamente os resultados e a incorporação de
práticas adequadas de controle. No teste de envelhecimento acelerado, as variáveis básicas são temperatura, umidade relativa do ar e período de duração
do mesmo. O teste pode ser conduzido
com temperaturas variando entre 41ºC
e 45ºC, sendo que mais recentemente a
maioria dos trabalhos indica o uso de
41ºC (Marcos Filho, 1999a). No entanto, Menezes & Nascimento (1988) constataram que a temperatura de 37ºC e o
período de 72 horas foram os mais eficientes para avaliação do vigor de sementes de ervilha. Caliari & Marcos
Filho (1990), por sua vez, verificaram
que o teste de envelhecimento acelerado conduzido à temperatura de 42ºC por
um período de 48 horas forneceu informações consistentes a respeito do vigor
dos lotes de sementes da mesma espécie. Nestes dois estudos, utilizaram apenas cultivares de sementes lisas.
Para a maioria das hortaliças, o teste de envelhecimento acelerado pode
apresentar certas limitações, como a
desuniformidade de absorção de água
entre as amostras, o que pode resultar
em deterioração diferenciada, comprometendo os resultados pós-envelhecimento. Visando minimizar esse problema, Jianhua & McDonald (1996) propuseram, durante a condução do teste, a
substituição de água por soluções
saturadas de sais. Com esse procedimento, há redução da umidade relativa do
ambiente, retardando assim a absorção
de água pelas sementes. Isto possibilita
ainda redução de infecção por microrganismos durante o teste, o que pode
mascarar os resultados.
Assim, o objetivo deste trabalho foi
verificar a eficiência do teste de envelhecimento acelerado, com e sem utilização de solução saturada de NaCl, na
determinação do potencial fisiológico de
sementes lisas e rugosas de ervilha.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida em laboratório da Embrapa Hortaliças em
Brasília, DF. Foram utilizadas as culti-
vares Axé (sementes rugosas) e Mikado
(sementes lisas). Estas são as principais
cultivares de ervilha no mercado, destinadas à indústria de grãos verdes e
reidratação, respectivamente. Foram
utilizados cinco lotes da cultivar Axé e
cinco da cultivar Mikado, produzidos
nos anos de 2000; 2001; 2003 e 2004,
para os quais foram feitas as seguintes
determinações:
- Teor de água: foi adotado o método da estufa a 105 ± 3ºC, durante 24
horas, utilizando-se duas subamostras
para cada lote (Brasil, 1992). Os resultados foram expressos em porcentagem
na base úmida;
- Germinação: conduzido conforme
a metodologia descrita nas Regras para
Análise de Sementes (Brasil, 1992);
- Primeira contagem: realizada conjuntamente com o teste de germinação,
contabilizando-se o número de plântulas
normais presentes no quinto dia após o
início do teste.
Já para o envelhecimento acelerado,
utilizou-se a metodologia proposta pela
AOSA (1983) e descrita por Marcos Filho (1999a). Foram distribuídas 250 sementes sobre tela de alumínio, fixada
em caixa plástica de germinação (11 x
11 x 3,5 cm), contendo no fundo 40 mL
de água destilada. As caixas contendo
as sementes foram fechadas e mantidas
a 41ºC, por 24; 48 e 72 horas. Ao término de cada período, as sementes foram
submetidas ao teste de germinação, sendo a avaliação da porcentagem de
plântulas normais realizada cinco dias
após a semeadura. Determinou-se também o teor de água atingido pelas sementes após os diferentes períodos de
envelhecimento,
visando
o
monitoramento dos resultados. O teste
de envelhecimento acelerado foi também realizado utilizando-se o procedimento proposto por Jianhua &
McDonald (1996), substituindo-se os 40
mL de água adicionados em cada compartimento individual por igual quantidade de solução saturada de NaCl (40g
de NaCl 100 mL-1 de água).
Foi avaliada ainda a emergência das
plântulas em campo. As sementes foram
semeadas na área experimental da
Embrapa Hortaliças e a avaliação foi
conduzida com quatro repetições de 50
sementes em linhas de 1,0 m de comHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Metodologia para o teste de envelhecimento acelerado em sementes de ervilha
primento, espaçadas de 0,2 m à profundidade média de 3,0 cm. A irrigação foi
feita sempre que necessário. A avaliação da porcentagem de emergência das
plântulas foi efetuada 15 dias após a
semeadura.
O experimento foi conduzido no
delineamento inteiramente casualizado,
com quatro repetições. Os dados foram
submetidos aos testes de normalidade e
de homogeneidade de variância, que
indicaram a não necessidade de transformação. Em seguida, foram submetidos à análise de variância, sendo a comparação de médias efetuada pelo teste
de Tukey, a 5% de probabilidade.
Tabela 1. Germinação, primeira contagem e emergência de plântulas em campo de sementes de
ervilha, cultivares Axé e Mikado. (Germination, first counting and seedling emergence in the
field percentage of pea seeds, cultivars Axé and Mikado). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se que a germinação dos
lotes de sementes da cultivar Axé foi
semelhante, exceto para o lote 4 (Tabela 1). Para a cultivar Mikado, os lotes 1
e 3 apresentaram germinação estatisticamente superior aos demais, apesar de
não diferirem estatisticamente do lote 4
(Tabela 1). O teste de primeira contagem não forneceu boa estratificação dos
lotes de sementes da cultivar Axé, porém, observou-se que confirmou os resultados da germinação, indicando o lote
4 como de padrão inferior (Tabela 1).
Para a cultivar Mikado, esse teste indicou o lote 5 como sendo de menor vigor (Tabela 1). Embora a primeira contagem do teste de germinação seja considerada um indicativo do vigor, sabese que durante o processo de deterioração das sementes, a redução na velocidade de germinação não está entre os
primeiros eventos relacionados no processo de deterioração (Delouche &
Baskin, 1973).
Os resultados obtidos no teste de
emergência das plântulas em campo indicaram que as sementes do lote 4 da
cultivar Axé apresentaram menor qualidade que as sementes do lote 3, não
diferindo estatisticamente dos demais
lotes (Tabela 1). Já para as sementes da
cultivar Mikado, os lotes 1 e 3 apresentaram o melhor desempenho (Tabela 1).
O teste de emergência de plântulas em
campo constitui parâmetro indicador da
eficiência dos testes para avaliação do
potencial fisiológico dos lotes de sementes (Marcos Filho, 1999b). No entanto,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, teste de Tukey, p ≤ 0,05
(Means followed by the same letter in the column did not differ from each other, Tukey’s
test, p ≤ 0.05).
Tabela 2. Teores de água obtidos antes e após os períodos de envelhecimento acelerado
tradicional (água) e com solução saturada de NaCl, a 41ºC, em sementes de ervilha, cultivares Axé e Mikado. (Seed moisture content obtained before and after the accelerated aging
test with water and NaCl saturated solution, at 41ºC, in pea seeds, cultivars Axé and Mikado).
Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005.
o poder de discriminação deste teste não
foi decisivo, principalmente para a cultivar Axé, em que somente os lotes 3 e
4 diferiram estatisticamente. Evidenciou-se, assim, a importância da utilização de vários testes para avaliação do
vigor das sementes.
As sementes de ervilha envelhecidas
pelo método tradicional (com água)
apresentaram acréscimos no teor de
água com o aumento do período de en-
velhecimento. Verificou-se que esse incremento foi mais acentuado no primeiro período de envelhecimento, ou seja,
após 24 horas (Tabela 2). A partir deste
período, o teor de água das sementes
continuou aumentando, porém em proporções inferiores, quando comparadas
ao primeiro período de envelhecimento, mostrando, portanto, que as sementes secas, por apresentarem baixo potencial mátrico, absorvem água rapi207
WM Nascimento et al.
Tabela 3. Porcentagem de plântulas normais obtida no teste de envelhecimento acelerado
tradicional (água) e com solução saturada de NaCl, a 41ºC, em sementes de ervilha, cultivares Axé e Mikado. (Normal seedlings percentage obtained after the accelerated aging test
with water and NaCl saturated solution, at 41ºC, in pea seeds, cultivars Axé and Mikado).
Brasília, Embrapa Hortaliças, 2006.
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, teste de Tukey, p ≤ 0,05
(Means followed by the same letter in the column did not differ from each other, Tukey’s
test, p ≤ 0.05).
damente quando colocadas em atmosfera
úmida (Bewley & Black, 1994). Verificou-se ainda que com a utilização de solução saturada de NaCl obteve-se valores
de teores de água inferiores aos observados para as sementes envelhecidas pelo
método tradicional (Tabela 2).
O envelhecimento acelerado pelo
método tradicional, por um período de
24 horas, não separou os lotes de sementes da cultivar Axé em níveis de vigor,
embora o mesmo período de envelhecimento tenha sido suficiente para indicar as sementes dos lotes 2 e 5 da cultivar Mikado como as de menor vigor
(Tabela 3). Quando o período de envelhecimento, ainda pelo método tradicional, foi estendido para 48 horas, passouse a observar diferenças de vigor entre
os lotes de sementes da cultivar Axé.
Nesta situação os lotes 2 e 5 da cultivar
Axé foram os de melhor desempenho
(Tabela 3). Já para a cultivar Mikado,
após 48 horas, observou-se maior vigor
das sementes nos lotes 1; 3 e 4. Empregando esse mesmo método e período de
envelhecimento, porém sob temperatura de 42ºC, na avaliação do potencial
fisiológico de sementes de ervilha,
Caliari & Marcos Filho (1990) verificaram que o teste de envelhecimento
208
acelerado forneceu informações consistentes quanto ao vigor dos lotes. Contudo, com o decorrer do armazenamento,
a separação dos lotes não se mostrou
eficiente, sugerindo certa severidade das
condições do teste.
Quando o período de envelhecimento passou a ser de 72 horas, conduzido
com água, as sementes dos lotes 5 e 3
da cultivar Axé foram as de desempenho superior (Tabela 3). Ainda no período de envelhecimento de 72 horas,
conduzido pelo método tradicional, confirmou-se para a cultivar Mikado, os
lotes 3 e 4 como os de melhor vigor e, o
lote 5, como o de menor vigor. Constata-se que o teste de envelhecimento acelerado, conduzido de forma tradicional,
a 41ºC por 72 horas, permitiu estratificar
os lotes de sementes das duas cultivares
estudadas em maior número de níveis
de vigor. No entanto, verificou-se que o
estresse a que as sementes foram submetidas reduziu acentuadamente a germinação obtida nesse procedimento.
Além disso, observou-se aumento no
coeficiente de variação à medida que
aumentou o período de exposição ao
envelhecimento. Situação semelhante
foi observada por Nascimento et al.
(1993), em sementes de tomate.
Para a cultivar Axé, o envelhecimento acelerado com solução saturada, conduzido a 41ºC durante 24 horas, à semelhança do que foi observado no método tradicional, nesse mesmo período,
não permitiu separação dos lotes em níveis de vigor das sementes (Tabela 3).
Esse procedimento tampouco forneceu
uma clara estratificação dos lotes da
cultivar Mikado em função dos níveis
de vigor das sementes. O período de 48
horas com solução saturada permitiu
entretanto classificar os lotes da cultivar Axé em dois grupos em função do
vigor das sementes: lotes com alto vigor (1; 2 e 3) e lotes com baixo vigor (4
e 5). Esse período de exposição ao envelhecimento também proporcionou
uma boa estratificação dos lotes de sementes da cultivar Mikado.
No período de 72 horas, conduzido
com solução saturada, a classificação
dos lotes da cultivar Axé em função do
vigor das sementes foi idêntica à obtida
para o período de exposição por 48 horas, nesse mesmo método de envelhecimento. Desta forma, o período de 48
horas é mais indicado, uma vez que o
menor período de execução é uma característica desejável em um teste de
vigor e, nesse caso, possibilita a economia de energia elétrica (Ramos et al.,
2004). O envelhecimento por 48 horas,
com solução saturada, classificou os lotes da cultivar Mikado de forma semelhante à indicada pelo teste de germinação (Tabela 1). No entanto, Menezes &
Nascimento (1988) constataram que a
temperatura de 37ºC e o período de 72
horas foram os mais eficientes para avaliação do vigor de sementes de ervilha.
Observou-se que o teste de envelhecimento acelerado modificado reduz a absorção de água das sementes (Tabela 2).
Assim, a utilização de solução saturada
proporcionou efeitos menos drásticos do
que os provocados pelo envelhecimento
tradicional no que se refere ao processo
de deterioração das sementes (Tabela 3).
Resultados semelhantes foram obtidos por
Torres (2005a) em sementes de pepino, e
segundo o autor, a utilização de solução
saturada possibilitou a obtenção de resultados menos drásticos e mais uniformes,
sem afetar a eficiência do teste de envelhecimento acelerado.
Os resultados obtidos no presente
trabalho indicaram o teste de envelheHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Metodologia para o teste de envelhecimento acelerado em sementes de ervilha
cimento acelerado modificado (com solução saturada), conduzido a 41ºC por
48 horas, como o método mais adequado para classificação dos lotes de sementes de ervilha em níveis de vigor. Maior
eficiência do teste de envelhecimento
acelerado com uso de solução saturada
de sal na classificação de sementes com
diferentes níveis de vigor também foi
observado em sementes de pimentão
(Panobianco & Marcos Filho, 1998),
cenoura (Rodo et al., 2000), melão (Torres & Marcos Filho, 2003), pepino (Torres, 2005a) e pimenta-malagueta (Torres, 2005b).
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essencial de plantas de alfazema-do-Brasil em função de níveis de sombreamento. Horticultura Brasileira 25: 210-214.
Aspectos morfofisiológicos e conteúdo de óleo essencial de plantas de
alfazema-do-Brasil em função de níveis de sombreamento
José Eduardo BP Pinto; Júlio César W Cardoso; Evaristo M de Castro; Suzan Kelly V Bertolucci; Lucas
A de Melo; Sara Dousseau
UFLA, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG; [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
Mudanças nas características anatômicas e fisiológicas e na produção de óleo essencial de plantas medicinais sob influência de diferentes condições de radiação têm sido evidenciadas. O objetivo
deste trabalho foi caracterizar essas variações em plantas de alfazema-do-Brasil (Aloysia gratissima [Gilles & Hook.] Tronc.)
Verbenaceae, crescidas a pleno sol e com 40 e 80% de redução da
radiação solar incidente. Para a análise de crescimento, utilizou-se
delineamento inteiramente casualizado (DIC), com três níveis de
luzes e cinco repetições de três plantas. As análises do teor de clorofila e da anatomia foliar foram realizadas em DIC com três repetições de três plantas e, a análise do óleo essencial, em DIC, com três
repetições de cinco plantas, para cada nível de radiação. O nível de
40% de sombreamento foi o melhor no aspecto de crescimento. A
matéria seca dos diversos órgãos da planta não diferiu entre os tratamentos com 40% de sombreamento (massa seca total 201 g) e a
pleno sol (148 g), ambos significativamente superiores ao tratamento com 80% de sombreamento (68,6 g). Plantas cultivadas a pleno
sol apresentaram folhas com epiderme adaxial, parênquima
paliçádico, esponjoso e limbo significativamente mais espesso que
nos demais tratamentos, enquanto plantas crescidas a 80% de
sombreamento apresentaram folhas com a epiderme abaxial significativamente mais espessa. Não houve efeito significativo do
sombreamento sobre o teor do óleo essencial, que variou de 2,1 a
2,2%, embora o rendimento de óleo essencial tenha sido significativamente superior nas plantas crescidas em plena luz (0,73 g planta-1)
e a 40% de sombreamento (0,88), em relação àquelas crescidas a
80% de sombreamento (0,26). Houve aumento significativo da concentração de clorofila a e b em função da diminuição da intensidade
de radiação (20,7 mg de clorofila total por g de massa fresca a pleno
sol; e 23,7 e 32,0 com 40 e 80% de sombreamento respectivamente)
e uma redução significativa na razão a/b (3,13 a pleno sol e 2,94 e
2,69, a 40 e 80% de sombreamento, respectivamente).
Morphophysiological aspects and essential oil content in
Brazilian-lavender as affected by shadowing
Palavras-chave: Aloysia gratissima (Gilles & Hook.) Tronc.,
Verbenaceae, planta medicinal, luz, características morfológicas,
características histológicas.
Changes in the anatomical and physiologic characteristics and
in the production of essential oil of medicinal plants under influence
of different radiation conditions have been demonstrated. The
objective of this study was to characterize the variation in the
anatomical and physiologic characteristics, and in the essential oil
content of the Brazilian-lavender (Aloysia gratissima [Gilles &
Hook.] Tronc., verbenaceae), grown in different shading levels,
characterized by the reduction of 0; 40, and 80% of the incident
solar radiation. For growth analyses we used a completely
randomized design (CRD), with three levels of light and five
replicates of three plants. The analyses of chlorophyll content and
leaf anatomy were performed in CRD, with three replicates of three
plants, while the analyses of essential oil content was carried out in
CRD, with three replicates of five plants for each light level. The
results showed that 40% of shading was the best condition for plant
growth. Dry matter from different organs of the plant did not differ
in the treatments 40% of shading (total dry matter 201 g) and at full
sunlight (148 g), both significantly higher than 80% of shading (68.6
g). Plants cultivated in full sunlight showed leaves with adaxial
epidermic tissue, palisade, and spongy parenchyma and limb
significantly thicker than other treatments; however plants grew at
80% shading showed leaves with abaxial epidermic tissue
significantly thicker. Shadowing did not significantly interfere with
the essential oil content, which ranged from 2.1 to 2.2%.;
Nevertheless, the essential oil yield was significantly higher in plants
grew in full sunlight (0.73 g plant-1) and 40% shading (0.88), than
on those grew at 80% shading (0.26). There was significant increase
of chlorophyll a and b concentration in function of the decrease in
light intensity (20.7 mg total chlorophyll per g fresh matter at full
sunlight; and 23.7 and 32.0 with 40% and 80% shading respectively),
as well as significant reduction in ratio a/b (3.13 at full sunlight and
2.94 and 2.69 at 40% and 80% shading respectively).
Keywords: Aloysia gratissima (Gilles & Hook.) Tronc., Verbenaceae,
medicinal plant, light, morphological traits, histological traits.
(Recebido para publicação em 20 de maio de 2006; aceito em 25 de maio de 2007)
O
gênero Aloysia contém 30 espécies, distribuídas nas Américas dos
Estados Unidos até a Patagônia. Aloysia
gratissima (Gillies & Hook) Tronc.
(Verbenaceae), planta silvestre muito
aromática conhecida como, alfazemado-Brasil e mimo-do-Brasil, entre outros, é um arbusto que pode alcançar três
210
metros de altura, tendo crescimento
desordenado. Suas folhas são simples,
contrárias, algumas vezes alternadas,
inteiras e dentadas, lanceoladas, macias
e subcoriáceas. Os brotos são fortes e
herbáceos. Apresenta propriedades estomacais, diaforéticas, digestivas, tônicas, antigripais, calmante e
antimicrobiana. Além de ser uma planta medicinal, a alfazema-do-Brasíl é
melífera e ornamental, devido à intensidade da floração e ao aroma agradável das flores (Ricciardi et al., 2000).
Estudos com espécies de uso medicinal têm evidenciado plasticidades fisiológicas e anatômicas em função das
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Aspectos morfofisiológicos e conteúdo de óleo essencial de plantas de alfazema-do-Brasil em função de níveis de sombreamento
condições ambientais de cultivo (Clark
& Menary, 1980; Letchano & Gosselin,
1996). Dentre os fatores climáticos, o
fotoperíodo, a temperatura, o estresse
hídrico e a intensidade de radiação solar podem determinar nas espécies a
época ideal de colheita ou o local de
cultivo onde poderá se obter uma maior
quantidade do princípio ativo desejado.
A obtenção de informações que permitam conhecer os efeitos dos tratamentos utilizados nos cultivos das plantas
medicinais sobre a estrutura interna dessas plantas é também de fundamental
importância, pois existe íntima relação
entre os tipos e a organização dos tecidos vegetais e a produção dos diferentes metabólitos (Taiz & Zeiger, 2004).
A anatomia das folhas, em particular, pode ser muito afetada pelas condições do meio, pois é o órgão vegetal de
maior plasticidade, com grande capacidade de adaptação de suas estruturas
internas, o que lhe confere amplo potencial de aclimatação (Björkman,
1981). A estrutura foliar pode ser um
forte indicador da disponibilidade de luz
durante as fases de crescimento das
plantas. O aumento dos níveis de luz
proporciona aumentos na espessura foliar, massa foliar, epiderme, parênquima
e número total de células das folhas
(Abrams & Mostoller, 1995; Castro et
al., 1998; Lee et al., 2000). Já folhas
crescidas em baixa radiação apresentam
mais clorofila por unidade de peso ou
volume foliar, porém, o conteúdo de clorofila por unidade de superfície foliar é
menor do que aquele das folhas crescidas em radiações maiores e a proporção
de clorofila a/b diminui à medida que
diminui a radiação (Boardman, 1997).
O crescimento, a matéria seca e a
adaptação da planta ao ambiente relacionam-se à sua eficiência fotossintética e
esta depende, dentre outros fatores, dos
teores de clorofila. A síntese e a degradação das clorofilas estão sob o efeito
direto da intensidade de luz, ocorrendo
decomposição maior sob elevada radiação e maior equilíbrio, em baixa taxa
luminosa (Engel & Poggiani, 1991). A
luz, dependendo da espécie, também
pode ter efeito nos níveis e composição
do óleo essencial. Li et al. (1996), trabalhando com tomilho (Thymus
vulgaris), observaram que o teor de óleo
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
essencial foi mais alto em plantas cultivadas a 100% de irradiância. Kamada
(1998) não encontrou influência da luz
em elixir-paregórico (Ocimum selloi
Benth.).
O objetivo desse trabalho foi avaliar modificações anatômicas, fisiológicas e nos teores de óleo essencial de
plantas de alfazema-do-Brasil, submetidas a três diferentes níveis de
sombreamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
UFLA (21º14’ S, 45º00 W, 918 metros
de altitude), de abril a dezembro de
2004. O clima da região, segundo
Koppen, é do tipo CWa, com características CWb, com duas estações definidas: quente e chuvosa, de outubro a
março e, amena e seca, de abril a setembro.
As mudas de alfazema-do-Brasil
foram obtidas a partir do enraizamento
de estacas de uma planta matriz pertencente ao banco de germoplasma da
UFLA. Estacas de 10 cm de comprimento foram retiradas de ramos sadios e
cultivadas em bandejas de poliestireno
expandido com dimensões de 676 x 340
x 60 mm, com 122 células. As bandejas
foram preenchidas com Plantimax® e
colocadas em casa-de-vegetação, com
umidade relativa acima de 75% e temperatura entre 26°C a 30°C. Após o
enraizamento e com o terceiro par de
folhas estabelecida, as mudas foram
transferidas para vasos de 5 L, utilizando-se como substrato solo-esterco de
curral decomposto-areia (3:1:1). O solo
utilizado foi retirado abaixo da camada
de 30 cm de um Latossolo VermelhoEscuro. No início, as mudas foram
irrigadas diariamente e, depois de
estabelecidas, conforme a necessidade.
Coletaram-se plantas, visando a identificação no Horto de Plantas Medicinais
da UFLA. Os exemplares estão depositados no herbário, com o número de registro 19.810.
As plantas foram submetidas a três
níveis de sombreamento (pleno sol, 40%
e 80%), protegidas com malha termorefletora (Aluminet®), que controla a
passagem da luz fotossinteticamente ativa. Para a análise de crescimento, o de-
lineamento experimental utilizado foi
inteiramente casualizado (DIC), com os
tratamentos representados pelos três níveis de luz, com cinco repetições e três
plantas. As análises do teor de clorofila
e da anatomia foliar foram realizadas em
DIC com três repetições e três plantas
por repetição. A análise do óleo essencial foi feita em DIC, com três repetições e cinco plantas por repetição em
cada nível.
Na avaliação do crescimento, foram
estudadas as características: massa seca
das folhas (MSF), massa seca dos ramos (MSRA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa seca da raiz (MSR),
massa seca total (MST) e a relação
MSR/MSPA. As características foram
avaliadas nove meses após o plantio, no
final do experimento. Foram separados
as folhas, os caules e as raízes, sendo
estas lavadas para retirada da terra e secas à sombra. Todo o material foi acondicionado em sacos de papel e colocado em estufas com circulação forçada
de ar. As folhas foram colocadas a 35°C
e, os ramos e raízes, a 60°C, até atingirem peso constante. Após a secagem, o
material foi pesado e a massa seca foi
calculada.
A avaliação do teor de clorofila foi
realizada após oito meses de cultivo.
Foram retiradas ao acaso cinco folhas
completamente expandidas, do terceiro
internó da parte superior da planta, que
foram imediatamente acondicionadas
em papel alumínio e mantidas sob refrigeração em caixa de isopor. A
quantificação das clorofilas a, b e total
foi realizada segundo o método proposto por Arnon (1949). Inicialmente, as
folhas foram cortadas em pequenos pedaços de 1 cm e, em seguida, foram determinadas as massas frescas para cada
avaliação e a absorvância das amostras,
com
base
nas
leituras
espectofotométricas a 663 e 645 hm, respectivamente para clorofila a e b. Em
seguida, procederam-se a quantificação
e os cálculos de mg de clorofila por grama de massa fresca do tecido foliar, a
partir das equações: clorofila a = (12,7
x A663 – 2,69 x A645) x (V/1000w); clorofila b = (22,9 x A645 – 4,68 x A663) x
(V/1000w); clorofila total = (20,2 x A645
+ 8,02 x A663) x (V/1000w). Sendo, A =
absorbância dos extratos no comprimen211
JEBP Pinto et al.
Tabela 1. Massa seca das folhas (MSF), ramos (MSRA), parte aérea (MSPA), raízes (MSR),
total (MST) e relação MSR/MSPA de alfazema-do-Brasil, submetida a três níveis de
sombreamento. (Leaf (MSF), shoot (MSRA), aerial part (MSPA), root (MSR), and total dry
matter (MST) and ratio of MSR/MSPA of Brazilian-lavender, under three shading levels).
Lavras, UFLA, 2005.
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p < 0,05
(Means followed by the same letter in the column do not differ from each other, Tukey’s
test, p < 0,05).
Tabela 2. Espessura (µm) dos tecidos epidérmicos, parênquimas paliçádico e esponjoso e
do limbo de alfazema-do-Brasil, submetida a três níveis de sombreamento. (Thickness (µm)
of the epidermic tissue, palisade and spongy parenchyma, and of the limb of Brazilianlavender, under three shanding levels). Lavras, UFLA, 2005.
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p < 0,05
(Means followed by the same letter in the column do not differ from each other, Tukey’s
test, p < 0,05).
to de onda indicado; V = volume final
do extrato clorofila – acetona; W = massa fresca em gramas do material vegetal utilizado.
Foram extraídas seções de 0,5 cm2,
na região mediana foliar e efetuados
estudos anatômicos, com base no exame microscópio de cortes transversais
e paradérmicos obtidos à mão livre. As
seções foram clarificadas em solução a
50% de hipoclorito de sódio e, em seguida, lavadas em água destilada, neutralizadas em água acética 1:500 e montadas em glicerina a 50%. O corante utilizado foi a mistura azul de astrasafranina (Bukastsh, 1972). As determinações de espessura foram realizadas
utilizando-se uma ocular micrométrica
acoplada a um microscópio de luz. Foram analisadas as espessuras das
epidermes, dos parênquimas paliçádico,
do esponjoso e a espessura total do
limbo foliar.
Para a extração do óleo essencial, 40
g de folhas secas em estufa com circulação de ar, fragmentadas em tamanho
médio de 0,5 cm foram hidrodestiladas
por duas horas, em aparelho Clevenger
212
modificado. Para a purificação do óleo
essencial, o hidrolato foi submetido à
partição líquido-líquido em funil de separação, realizando-se três lavagens
com 20 mL de diclorometano em cada.
As frações orgânicas foram reunidas e
secas com 3 g de sulfato de magnésio
anidro, deixando-o agir por 30 minutos.
Em seguida, o sal foi removido por filtração simples e o solvente evaporado à
temperatura ambiente, sob capela de
exaustão de gases. Posteriormente, foi
determinada sua massa residual. As variáveis analisadas foram teor de óleo
essencial em porcentagem e rendimento de óleo em g planta-1, calculado através da massa seca das folhas.
Os dados obtidos foram analisados
estatisticamente utilizando-se o
software SISVAR, versão 4.3 (Ferreira,
2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo do
sombreamento sobre todas as características relacionadas ao crescimento,
com exceção da relação entre as massas
secas da raiz (MSR) e da parte aérea
(MSPA) (Tabela 1). Para as massas secas das folhas (MSF), dos ramos
(MSRA), da parte aérea (MSPA) e total
(MST) não houve efeito significativo de
40% de sombreamento em relação às
plantas desenvolvidas a plena luz Quando as plantas foram cultivadas a pleno
sol e com 40% de sombreamento, a biomassa seca da parte aérea foi respectivamente 2,20 e 2,98 vezes superior à das
plantas cultivadas com 80% de
sombreamento. Já para matéria seca da
raiz (MSR), houve efeito significativo
dos três tratamentos, com os valores significativamente maiores sendo observados em plantas crescidas a 40% de
sombreamento (Tabela 1).
Respostas sobre crescimento das
plantas demonstram que as espécies respondem de maneira distinta ao
sombreamento. Resultados encontrados
em vários trabalhos mostram maior produção de massa seca a pleno sol, como
em elixir-paregórico (Ocimum selloi)
(Gonçalves, 2001) e em feijão (Lopes
et al., 1986). Por outro lado, são encontradas espécies em que o sombreamento
parcial foi melhor, como pata-de-vaca
(Bauhinia forficata Link) (Atroch,
2001), calaboura (Muntingia calabura
L.) (Castro et al., 1996) e guaco
(Mikania glomerata Sprengel) (Castro
et al., 2005). Lima Júnior et al. (2005)
observaram que ocorreu maior acúmulo
de biomassa seca em plantas de
camboatã (Cupania vernalis Camb) cultivadas sob 50% de sombreamento em
relação às cultivadas a pleno sol. O aumento da biomassa seca ocorre pela variação das divisões celulares e no padrão de expansão celular. Romero et al.
(2002) relatam que o gênero Aloysia
possui plantas com característica de subbosque, ocorrendo em ambientes com
sombreamento parcial; portanto, são
plantas que necessitam de certa porcentagem de sombra, corroborando os resultados encontrados neste trabalho.
Os resultados encontrados mostraram que plantas de alfazema-do-Brasil
têm a produção de biomassa influenciada pela irradiância. A 80% de
sombreamento, observou-se os menores
rendimentos de biomassa seca em todos
os parâmetros. Lopes et al. (1986) afirmam que a redução da intensidade luHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Aspectos morfofisiológicos e conteúdo de óleo essencial de plantas de alfazema-do-Brasil em função de níveis de sombreamento
minosa pode, muitas vezes, ficar aquém
do ponto de saturação luminosa, reduzindo o processo fotossintético e, com
isso, a produção de biomassa seca. Entretanto, segundo Castro et al.(2005), o
inverso também pode ocorrer, ou seja, a
redução da biomassa seca a pleno sol.
Provavelmente, isso se deva à
fotoinibição e à capacidade
fotossintética que pode ser severamente reduzida, quando as plantas são expostas a altos níveis de radiação, superiores aos requeridos para saturar a
fotossíntese.
As folhas de alfazema-do-Brasil
apresentaram organização dorsiventral
e a epiderme plurisseriada. Houve efeito significativo do sombreamento sobre
todas as características analisadas (Tabela 2). Nas folhas cultivadas a pleno
sol, observou-se maior espessura da
epiderme na face adaxial em relação aos
tratamentos 40% e 80% de
sombreamento. De acordo com Lee et
al. (2000), plantas mantidas sob maior
irradiância apresentam a epiderme de
uma ou de ambas as superfícies mais
espessas. A plasticidade foliar é influenciada, alterando a espessura, a área e
outras características do órgão vegetal,
devido à maior ou menor produção de
metabólitos primários e secundários.
Esse incremento pode fazer parte da
característica adaptativa da planta, refletindo a irradiância excessiva e evitando a perda de água e volatilizações
(Whatley & Whatley, 1982; Letchano &
Gosselin, 1996). A face abaxial da
epiderme das folhas cultivadas a 80%
de sombreamento foi significativamente mais espessa que nos outros dois níveis de luz (Tabela 2). O aumento da
radiação luminosa incrementa a taxa
fotossintética, aumentando a produção
de carboidrato e o teor de massa seca,
enquanto a deficiência de radiação proporciona alongamento celular e
estiolamento, sem alterar a massa seca.
Não houve efeito significativo do
sombreamento sobre o teor do óleo essencial de alfazema-do-Brasil (Tabela
3). As plantas crescidas com 80% de
sombreamento, mesmo com menor espessura do limbo e menor massa seca
das folhas, apresentaram um teor de óleo
essencial semelhante aos outros tratamentos, mostrando uma proteção das
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 3. Teor de óleo essencial (%) e rendimento de óleo (g planta-1), em folhas secas de
alfazema-do-Brasil, submetidas a três níveis de sombreamento. (Essential oil content (%)
and oil yield (g planta-1) in dry leaves of Brazilian-lavender, under three shading levels).
Lavras, UFLA, 2005.
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p < 0,05
(Means followed by the same letter in the column do not differ from each other, Tukey’s
test, p < 0,05).
Tabela 4. Teor de clorofila a, b e total (mg g-1 de massa fresca) e razão clorofila a/b em
plantas de alfazema-do-Brasil, submetidas em três níveis de sombreamento (a-, b-, and total
chlorophyll content (mg g-1 of fresh matter) and ratio chlorophyll a/b in Brazilian-lavender,
under three shading levels). Lavras, UFLA, 2005.
*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, teste Tukey, p < 0,01
(Means followed by the same letter in the column do not differ from each other, Tukey’s
test, p < 0,01).
estruturas produtoras do óleo, talvez relacionada à maior espessura da epiderme
abaxial e ao alto teor de tricomas nessa
epiderme. Com relação ao rendimento
de óleo essencial (Tabela 3), observouse um incremento significativo de 2,81
e 3,31 vezes no rendimento de plantas
crescidas a pleno sol e a 40% de
sombreamento, respectivamente, em
relação a plantas mantidas a 80% de
sombreamento.
Resultados diferentes são encontrados na literatura em relação à intensidade de luz sobre o teor de óleo essencial.
Com erva-cidreira (Lippia alba), plantas submetidas a um nível maior de
irradiância (pleno sol) tiveram elevação
no teor de óleo essencial (Ventrela &
Ming, 2000). O nível de radiação (pleno sol) também aumentou o rendimento de óleo essencial em carqueja
(Baccharis trimera) (Silva et al. 2006).
Li et al.(1996), pesquisando sálvia
(Salvia officinalis), encontraram um teor
de óleo essencial menor em plantas cultivadas a 100% de irradiância, em relação às cultivadas a 45%. Gonçalves
(2001), trabalhando com a espécie elixirparegórico (Ocimum selloi), observou
que o teor de óleo não diferiu com a alteração da intensidade de luz.
Com relação à clorofila a e b, houve
aumento da concentração em função da
diminuição da intensidade de radiação
e redução na razão a/b (Tabela 4). Em
relatos encontrados na literatura, observou-se que existe a tendência de redução na razão clorofila a:b à medida que
se reduz a intensidade de luz
(Boardman, 1977; Kozlowski et al.,
1991; Scalon et al., 2003). Isto se deve
à maior proporção de clorofila b em
ambientes sombreados, o que está associado ao fato da sua degradação ser mais
lenta do que a da clorofila a (Engel &
Poggiani, 1991). Ao contrário, plantas
de Cryptocaria aschersoniana, apresentaram aumento na razão clorofila a:b
quando cultivadas a 70% de
sombreamento (Almeida et al., 2004).
A diminuição na proporção da clorofila a/b com o aumento do
sombreamento devido ao incremento da
clorofila b é semelhante ao que foi obtido em pata-de-vaca (Bauhinia forficata)
(Atroch et al., 2001), Hopea sp. (Lee et
al., 2000) e guaco (Mikania glomerata)
(Castro et al., 2005). Whatley &
Whatley (1982) relatam que esse aumento da proporção relativa de clorofila b em plantas sombreadas é uma característica importante, pois possibilita
213
JEBP Pinto et al.
maior captação de energia em outros
comprimentos de onda e a transferência para uma molécula específica de clorofila a, que efetivamente toma parte das
reações fotoquímicas da fotossíntese.
Essa é uma característica adaptativa da
planta, que a torna mais eficiente em
condições ambientais de baixa intensidade de luz. As plantas sombreadas recebem radiação mais difusa e rica em
vermelho extremo (VE), o que aumentaria relativamente à clorofila b em relação à clorofila a.
Pôde-se observar também que ocorreu redução de 35,41% da clorofila total nas plantas desenvolvidas a pleno sol
em relação àquelas crescidas com 80%
de sombreamento (Tabela 4). Resultado semelhante foi obtido por Atroch et
al. (2001), trabalhando com pata-devaca. Este autor observou uma redução
significativa de 28% na clorofila total
em plantas sob 100% de irradiação em
comparação a plantas com maior
sombreamento.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pelas bolsas concedidas
e apoio financeiro.
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Roseane Sousa Pereira1; Warley Marcos Nascimento2; Jairo Vidal Vieira2
2
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 1Pós-graduanda UFLA; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Em decorrência do desenvolvimento de cultivares tolerantes ao
calor e com resistência às principais doenças de folhagem, o cultivo
de cenoura vem expandindo-se também para outras regiões, como
Norte e Nordeste. Altas temperaturas por ocasião da semeadura podem reduzir a germinação de sementes de cenoura e comprometer o
estabelecimento da cultura. Avaliou-se o efeito de altas temperaturas na germinação e no vigor de sementes de cenoura de diversas
cultivares comercializadas no Brasil bem como em progênies de
meio-irmãos de uma polulação de cenoura ‘Brasília’. Sementes da
cv. Brasília foram colocadas para germinar em temperaturas constantes de 20; 24; 28; 32 e 36ºC por um período de 14 dias. Sementes
provenientes de umbelas primárias e secundárias de 120 progênies
de meio-irmãos de uma população de cenoura ‘Brasília’ foram também avaliadas quanto à viabilidade (germinação a 20ºC) e temperaturas elevadas (35ºC), vigor (primeira contagem de germinação) e
massa de 100 sementes. Finalmente, sementes de 28 lotes comerciais de cenoura foram avaliadas quanto à germinação a 20 e 35ºC.
Houve decréscimo na germinação à medida que a temperatura aumentou, sendo que a 36ºC apenas 27% das sementes germinaram. O
teste de germinação a 20ºC mostrou que existem variações entre os
lotes comerciais, e que, em condições de alta temperatura (35ºC), a
germinação foi bastante reduzida para a maioria deles. As progênies
de meio-irmãos apresentaram-se com alta germinação e vigor a 20ºC.
Entretanto, à temperatura de 35ºC, somente algumas progênies apresentaram germinação superior a 60%. Em adição, as sementes provenientes das umbelas primárias germinaram melhor a 35ºC que
aquelas provenientes das umbelas secundárias. Para a obtenção de
melhor estande no campo, principalmente em condições adversas
de altas temperaturas, a seleção e desenvolvimento de cultivares mais
tolerantes, bem como a utilização de sementes provenientes de
umbelas primárias seria altamente recomendado.
Carrot seed germination and vigor under high temperature
conditions
Palavras-chave: Daucus carota L., termo-inibição, estabelecimento de plântulas, lotes, progênies.
Keywords: Daucus carota L., thermoinhibition, stand establishment,
lots, progenies.
Because of the development of heat-tolerant cultivars and
resistance to major leaf diseases, carrot production is also increasing
in other regions,such as in like north and northeast of Brazil. High
temperatures during sowing may decrease carrot seed germination
and affect the stand establishment. The aim of this study was to
evaluate the effect of high temperatures on seed germination and
vigor of various Brazilian carrot cultivars as well as different halfsib families from a carrot cv. Brasilia population. Carrot seeds cv.
Brasília were incubated at constant temperatures of 20; 24; 28; 32
and 36ºC. Also, seeds of primary and secondary umbels from 120
half-sib families of ‘Brasília’ carrot population were evaluated for
viability (germination at 20ºC) and supra-optimal temperature (35ºC),
vigor (first counting) and seed mass. Finally, seeds from 28
commercial lots were evaluated for germination at 20 and 35ºC. Seed
germination decreased when the temperature increased. At 36ºC,
seeds germinated only 27%. At 20ºC, germination varied among the
commercial seed lots, and, at high temperature conditions (35ºC),
germination decreased in almost all lots. The 120 half-sib families
of ‘Brasília’ cultivar had high germination and vigor at 20ºC.
However, at 35ºC, only few families germinated above 60%. In
addition, seeds from primary umbels germinated better than those
from secondary umbels at 35ºC. To obtain a good stand establishment
in the field, especially under adverse conditions of high temperatures,
the selection and development of thermo-tolerant cultivars as well
as the use of primary umbel seeds is recommended.
(Recebido para publicação em 12 de agosto de 2006; aceito em 30 de abril de 2007)
A
cenoura é uma importante
hortaliça no Brasil, sendo que seu
cultivo abrange cerca de 28 mil ha/ano
no país. Em 2001, o valor total da produção foi de US$ 143 milhões, o equivalente a 5% do valor total da produção
de hortaliças (Vieira et al., 2005). Dentre as cultivares utilizadas no país, várias foram obtidas por meio de melhoramento genético realizado em outros
países e, dentre estas, até hoje, muitas
necessitam que suas sementes sejam importadas. Dentre as cultivares nacionais,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
‘Brasília’, de grande domínio comercial,
apresenta possibilidades de utilização
para o cultivo, conforme a época de semeadura, em quase todo o país.
O sucesso da produção de hortaliças como a cenoura, dependerá, dentre
outros aspectos, do estabelecimento de
plântulas no campo, fator esse diretamente relacionado com a germinação e
vigor das sementes. O período compreendido entre a semeadura e o estabelecimento das plântulas é uma fase
crucial da produção olerícola. Assim,
sementes de alta qualidade e condições
que permitam máxima germinação em
menor tempo possível, com máxima
uniformidade de plântulas, são buscas
constantes daqueles envolvidos na cadeia produtiva de hortaliças (Nascimento, 2000).
A qualidade das sementes torna-se de
suma importância principalmente quando produtores de cenoura mais
tecnificados vêm utilizando semeadeiras
de precisão (com sistema de semeio a vácuo) minimizando assim custos de mão215
RS Pereira et al.
de-obra com a redução e/ou eliminação
do desbaste. O aumento da produtividade
também ocorrerá devido ao maior número de plantas em decorrência do uso dessas semeadeiras em canteiros com maior
largura (Vieira et al., 2004).
A germinação das sementes de cenoura ocorre sob temperaturas de 8 a
35ºC, sendo que a velocidade e uniformidade de germinação variam com a
temperatura dentro desses limites. A faixa ideal para a germinação rápida e uniforme é de 20 a 30ºC, ocorrendo a emergência entre 7 e 10 dias após a semeadura (Vieira et al., 1999). Para cada espécie, existe uma faixa de temperatura,
na qual ocorrem a germinação e emergência, se o suprimento de umidade for
adequado e outros fatores adversos forem mínimos (Delouche, 2004). Temperaturas próximas de 35ºC reduzem a
germinação de sementes de cenoura
(Carneiro & Guedes, 1992). Embora a
temperatura de germinação tenha sido
bastante estudada, esta ainda merece
investigações pela falta de parâmetros
que caracterize-a nos diferentes lotes
comercializados atualmente das diversas espécies.
O comportamento de amostras de
sementes de cenoura da cultivar Brasília,
oriundas de produtores particulares e
empresas que comercializam sementes
no Distrito Federal, variou entre os diferentes lotes testados, muito embora
derivadas de mesma população e
comercializadas com o mesmo nome
(Vieira & Nascimento, 1990). Além disso, verificou-se em determinado ano,
que a qualidade fisiológica das sementes de cenoura produzidas e/ou
comercializadas no Brasil nem sempre
se enquadrava nos padrões mínimos de
comercialização (germinação de 65%)
(Nascimento & Reifschneider, 1986).
Isto tem contribuído, em alguns casos,
para a obtenção de baixos estandes devido ao baixo vigor e germinação dessas sementes. Em outras ocasiões, percebe-se situações opostas como o excesso de plantas em função do gasto exagerado de sementes visando a garantia
de estande adequado. Neste caso, observa-se aumento do custo de produção,
devido ao uso excessivo de sementes e
a prática do desbaste, cada vez mais
onerosa em função da dificuldade de
216
mão-de-obra em algumas regiões produtoras (Vieira et al., 2005).
A qualidade das sementes é determinada por fatores genéticos, físicos,
fisiológicos e sanitários, que podem ser
avaliados com a finalidade de estimar
se um lote de sementes é apropriado
para fins de semeadura. Esses fatores
estão associados a mudanças
degenerativas de origem bioquímica,
fisiológica e física, que estão ligados à
redução de vigor das sementes (AbdulBaki & Anderson, 1972). A ação desses fatores na produção de sementes
pode ser acompanhada por meio dos
métodos de análise, que são essenciais
na avaliação da qualidade e da eficiência da tecnologia de sua produção
(Andrade & Formoso, 1991).
O conhecimento da temperatura de
germinação, bem como estudos visando
a seleção de material com maior poder
germinativo em condições de altas temperaturas devem ser intensificados para
melhoria no estabelecimento da lavoura
de cenoura. O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito de altas temperaturas na germinação e no vigor de sementes de cenoura de diferentes cultivares
comercializadas no Brasil bem como em
progênies de meio-irmãos.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho foi conduzido no campo experimental e no Laboratório da
Embrapa Hortaliças, Brasília, DF, de
janeiro de 2003 a fevereiro de 2005, e
foi estruturado em três ensaios, descritos a seguir:
Germinação de sementes em diferentes temperaturas
Nesse estudo preliminar, quatro repetições de 50 sementes, de um lote da
cv. Brasília, foram semeadas em caixas
plásticas (11 x 11 cm) sobre duas folhas
de papel mata-borrão umedecidas com
15 mL da solução fungicida (Iprodione
+ Thiram 3:1 – 4 g 1000ml água destilada-1) por caixa. Em seguida, as sementes foram colocadas para germinar em
câmara do tipo NKSystem, sob luz artificial, em temperaturas de 20; 24; 28;
32 e 36ºC. As avaliações foram realizadas aos 14 dias após a semeadura e os
resultados expressos em porcentagem de
sementes germinadas (protusão da raiz
primária). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, sendo
os dados obtidos submetidos à análise
de variância, comparando-se as médias
dos tratamentos pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade. Os dados em porcentagem foram previamente transformados por √ arc sen.
Avaliação da germinação de sementes de lotes comerciais de cenoura
Sementes de cenoura de 28 lotes
comerciais, adquiridos nas empresas de
sementes, das cultivares Milena,
Brasília, Alvorada, Karine, Larissa,
Bolero, Verão HT, HT 2000, Brazlândia,
AF 750, AF 1641, Kuronan, Danvers,
Nantes, Tiger, Forto e Veronesa, foram
avaliadas quanto à germinação a 200C
(ótima) e 35ºC (adversa) e vigor (primeira contagem de germinação). Os testes foram conduzidos com quatro repetições de 50 sementes colocadas em caixas plásticas (11 x 11 cm) sobre duas
folhas de papel mata-borrão umedecidas
com 15 mL da solução fungicida
(Iprodione + Thiram 3:1 – 4g 1000mL
água destilada-1) por caixa. Em seguida,
as sementes foram colocadas para germinar em câmara do tipo BOD, sob luz
artificial, regulada às temperaturas de 20
e 35ºC. As contagens foram realizadas
aos sete e aos 14 dias após a semeadura
e os resultados expressos em porcentagem de sementes germinadas (protusão
da raiz primária). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado,
sendo os dados obtidos submetidos à
análise de variância, agrupando-se as
médias dos tratamentos pelo teste de
Scott-Knott a 5% de probabilidade. Os
dados em porcentagem foram previamente transformados por √arc sen.
Germinação de sementes de cenoura de diferentes progênies de
meio-irmãos
Raízes de 120 progênies de meio-irmãos de uma população de cenoura da
cv. Brasília foram produzidas durante o
verão, colhidas e posteriormente
vernalizadas em câmaras frigoríficas à
temperatura de 4ºC e 90 a 95% de umidade relativa do ar por período de 35
dias. Decorrido esse período, as raízes
foram levadas para plantio em casa-devegetação, 24 horas após a retirada da
câmara. O espaçamento utilizado foi de
0,80 m entre linhas e 0,30 m entre planHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Germinação e vigor de sementes de cenoura sob condições de altas temperaturas
tas e foram seguidas as recomendações
específicas de Viggiano (1990) para a
produção de sementes de cenoura. No
estádio de florescimento foram utilizados ninhos de abelhas (Trigona spinipes)
e moscas (Musca domestica) para a
polinização. As sementes de umbelas
primárias e secundárias foram colhidas
separamente de cada planta e, posteriormente, secas à temperatura de 35°C, trilhadas e desaristadas manualmente. Para
cada progênie, avaliou-se a germinação
a 20 e 35ºC e vigor (primeira contagem
de germinação), assim como no estudo
2. Para a avaliação da massa de 100 sementes, efetuou-se quatro repetições de
100 sementes, por tratamento (progênies
de meio-irmãos e ordem de umbela). A
pesagem foi feita em balança analítica,
com precisão de três casas decimais. O
delineamento experimental foi inteiramente casualizado, sendo os resultados
submetidos à análise de variância, agrupando-se as médias dos tratamentos pelo
teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Os dados em porcentagem foram
previamente transformados para √arc sen.
Médias seguidas de mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P ≤ 0,05) (Average
values followed by the same letter did not differ through the Tukey test (p ≤ 0,05)).
Figura 1. Germinação de sementes de cenoura cv. Brasília em diferentes temperaturas constantes, sob luz. (CV=6,6%) (Germination of carrot seed, cv. Brasília submitted to various
constant temperatures, under light). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2003/2005.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sementes incubadas nas temperaturas que variaram de 20 a 32ºC apresentaram a mesma germinação (Figura 1).
A 20ºC, as sementes germinaram 85%.
Entretanto, houve um decréscimo substancial na germinação a 36°C, na qual
as sementes germinaram apenas 27%.
As “Regras para Análise de Sementes”
recomendam a temperatura de 20-30°C
ou 20°C para a realização do teste de
germinação de sementes de cenoura.
Constatou-se uma queda na germinação
de sementes a 360C, diferindo estatisticamente das demais temperaturas (Figura 1). A temperatura é considerada o
fator de maior influência sobre a velocidade e porcentagem de germinação e
emergência (Delouche, 2004). Altas
temperaturas têm apresentado grande
influência na germinação de sementes
de cenoura, sendo que algumas cultivares, como Nantes, não germinam e outras têm a sua germinação reduzida drasticamente. Em outro trabalho, sementes
de cenoura ‘Brasília’ apresentaram 91%
de germinação a 25ºC, enquanto a 35ºC
a germinação reduziu para 47% (Carneiro & Guedes, 1992).
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 2. Germinação (%) de sementes provenientes de umbelas primárias e secundárias de 120
progênies de meio-irmãos de cenoura cv. Brasília, aos 14 dias, à temperatura de 20ºC (CV=7,8%)
e 35ºC (CV=11,8%). Brasília, 2005. Teste de Scott-Knott (P<0,05) (Percentual of germination of
seed proceeding from primary and secondary umbelas of 120 half-sib of carrots, cv. Brasilia, after
14 days under 20ºC (CV=7,8%) and 35ºC (CV=11,8%). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005.
Dentre as cultivares e lotes comerciais testados a 20ºC, apenas os lotes de
Brasília (Bionatur) e Alvorada (Feltrin)
apresentaram germinação abaixo de
60% (Tabela 1). Essas sementes, certamente
não
poderiam
ser
217
RS Pereira et al.
Tabela 1. Germinação de sementes de lotes comerciais de cenoura, primeira contagem aos
sete dias a 20°C (PC-20), contagem final aos 14 dias a 20°C (CF-20), primeira contagem
aos sete dias a 35°C (PC-35), contagem final aos 14 dias a 35°C (CF-35) (Germination of
commercial lots of carrot seeds, first counting at seven days, 20°C (PC-20), final counting at
fourteen days, 20°C (CF-20), first counting at seven days, 35°C (PC-35), final counting at
fourteen days, 35°C (CF-35)). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005.
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott
(P ≤ 0,05) (Average values followed by the same letter did not differ through the Tukey
test (p ≤ 0,05)).
comercializadas. Os demais apresentaram germinação acima dos padrões mínimos para comercialização de sementes, que é de 65% (Brasil, 1986). Nenhum dos lotes comerciais submetidos
à temperatura de 35ºC germinou satisfatoriamente (Tabela 2). Carneiro &
Guedes (1992) também não obtiveram
germinação satisfatória a 35ºC utilizando as cultivares Nantes, Brasília e
Kuronan, sendo esta respectivamente de
0; 46 e 27%
‘Brasília’ é uma cultivar de cenoura
com a possibilidade de produção de
raízes em áreas e épocas de elevada
218
temperatura (Barbedo et al., 2000). No
entanto, pode-se observar que os lotes
da cv. Brasília comercializados pelas
empresas de sementes não apresentaram
germinação satisfatória nos testes realizados neste estudo, em temperaturas de
35ºC, fato que pode limitar a semeadura em regiões de temperaturas elevadas.
Além disso, as cultivares nacionais apresentam menor germinação e menor
emergência de plântulas em campo, em
decorrência da menor qualidade fisiológica das sementes em relação às importadas, o que impossibilita a
otimização do estande final quando se
utiliza semeadeiras de precisão (Vieira
et al., 2005). Ainda, dentre as cultivares
comerciais estudadas, o melhor desempenho na temperatura de 35ºC pode ser
observado nas cvs. Alvorada e Brasília,
ambas pertencentes ao grupo Brasília.
Observou-se ainda variação na
performance dos lotes de uma mesma
cultivar, como foi em ‘Brasília’ e ‘Alvorada’, e isso pode ser em razão do
vigor ou mesmo do tempo e forma de
armazenamento destas sementes realizados pelas empresas. Por exemplo, a
maior germinação da cv. Alvorada foi
da Isla Sementes Ltda. com 48%. As
cultivares que melhor germinaram sob
condições de temperaturas elevadas foram aquelas fornecidas por esta companhia, o que pode estar diretamente relacionado com o local de produção (incluindo altas temperaturas por ocasião
da maturação das sementes), práticas
culturais e/ou a melhor qualidade das
sementes, dentre outros.
Dentre as 120 progênies de meio-irmãos estudadas, as de número 1; 46; 49
e 114 obtiveram germinação a 20ºC
abaixo de 65%, na primeira leitura realizada aos sete dias (dados não apresentados), o que demostra o baixo vigor
dessas progênies; o teste de primeira
contagem de germinação tem sido eficiente para avaliar o vigor de sementes
de cenoura (Bittencourt, 1991). Na leitura final, as progênies 46 e 49 mantiveram baixa germinação, para as duas
ordens de umbelas. De maneira geral, o
restante das progênies apresentaram-se
com alta germinação e vigor para as sementes de umbelas primárias e secundárias, respectivamente (Figura 2). A
partir desses resultados, a seleção de
materiais mais vigorosos e de melhor
qualidade das sementes pode ser feita,
uma vez que altos valores podem ser
encontrados nos coeficientes de variabilidade genética entre progênies para
tais caracteres, com possibilidades de
ganhos expressivos no processo de seleção (Vieira et al., 2005).
Na temperatura de 35ºC, poucas progênies apresentaram germinação superior a 60%. Aos sete dias (dados não
apresentados), apenas a progênie 43
atingiu 61% de germinação, sendo as
sementes oriundas de umbelas de ordem
primária. Na leitura final aos 14 dias, a
mesma progênie germinou 73%, apreHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Germinação e vigor de sementes de cenoura sob condições de altas temperaturas
sentando-se como a de maior vigor e
germinação (Figura 2). A seleção desta
progênie visando a melhoria da germinação em altas temperaturas pode ser de
suma importância, já que as variâncias
genéticas e a herdabilidade, são suficientemente altas para seleção de materiais visando a melhoria da qualidade das
sementes (Andreoli & Maguire, 1988).
De maneira geral, as sementes
advindas de umbelas primárias germinaram melhor, com maior número de
progênies germinando satisfatoriamente na temperatura de 35ºC (Figura 2).
Sementes oriundas de umbelas primárias apresentam uma germinação mais
alta que sementes de igual tamanho e
massa das umbelas secundárias e
terciárias (Jacobsohn & Globerson,
1981). Sementes oriundas de ordem primária apresentaram maior vigor e germinação de 67%, em condições de temperatura elevada.
Com relação à massa de 100 sementes, observou-se variação entre as progênies (Figura 3). O presente trabalho
mostrou que as progênies de maior massa nem sempre germinam em condições
de estresse, incluindo altas temperaturas. Por exemplo, a progênie 43, de
maior vigor observado anteriormente
não esteve entre as de maior massa.
Irigon & Mello (1995) relataram que a
massa das sementes é uma das causas
morfológicas que podem afetar o vigor
e assim, influenciar a qualidade das
mesmas. Sementes de cenoura com
maior germinação e vigor não apresentam necessariamente maior massa. Correlações negativas entre a massa de sementes e germinação, bem como entre
a massa de sementes e o vigor, também
têm sido observados em outros estudos
com progênies de meio-irmãos de populações de cenoura ‘Brasília’ (Vieira
et al., 2005). Provavelmente, as sementes de maior massa poderiam possuir
menor reserva na sua composição, por
unidade de matéria seca e isto pode ser
responsável pelo fato das progênies com
sementes de maior massa não terem
apresentado maiores germinação e vigor (Bittencourt, 1991).
Para a obtenção de melhor estande
de cenoura no campo, principalmente
em condições adversas de altas temperaturas, a seleção e desenvolvimento de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 3. Massa (g) de 100 sementes de progênies de meio-irmãos de cenoura cv. Brasília,
provenientes de umbelas de ordem primária e secundária. (CV=3,8%). Teste de Scott-Knott
(P<0,05) (Mass of 100 seeds of carrot progenies, half-sib, cv. Brasilia, proceeding from
primary and secondary umbelas (CV=3,8%)). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2005.
cultivares mais tolerantes à germinação
em altas temperaturas e/ou a utilização
de sementes provenientes de umbelas
primárias seria altamente recomendado.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq pelo
auxílio financeiro.
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219
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baixo teor de açúcares redutores. Horticultura Brasileira 25: 220-223.
Genótipos de batata com baixo teor de açúcares redutores
Arione da S Pereira1,3; Roberto Fritsche Neto1,4; Roberta da S Silva2; Carolina I Bender1; Ana Paula
Schünemann2; Núbia Marilin L Ferri1; João Luiz Vendruscolo1
1
Embrapa Clima Temperado, C. Postal 403, 96001-970 Pelotas-RS; 2UFPEL/FAEM/Depto. Ciência e Tecnologia Agroindustrial, C.
Postal 354, 96010-900 Pelotas-RS; 3Bolsista CNPq; 4Bolsista FAPERGS; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Os objetivos deste trabalho foram avaliar genótipos de batata
quanto ao teor de açúcares redutores e condições pós-colheita que
favoreçam a identificação daqueles com baixo teor. Oito clones, previamente selecionados para cor clara de fritura, e a cultivar Atlantic
foram avaliados nos períodos de outono de 2004 e 2005. Os experimentos foram conduzidos na Embrapa Clima Temperado, PelotasRS, Brasil (31°52’S, 52°21’W), em blocos ao acaso com quatro repetições. Em 2004, o teor de açúcares redutores foi quantificado
após três condições: cura; quatro semanas refrigerados a 4°C; e refrigeração seguida por recondicionamento durante duas semanas.
Em 2005, os açúcares redutores foram analisados somente após a
refrigeração. O teste F revelou diferenças significativas entre
genótipos para todas as variáveis, exceto para açúcares redutores
após a cura dos tubérculos. Os clones ‘C-1883-22-97’, ‘C-1881-1697’, ‘C-1786-9-96’, ‘C-1786-7-96’ e ‘C-1787-14-96’ contiveram os
teores mais baixos de açúcares redutores. A refrigeração foi a condição que permitiu a identificação de genótipos com baixos teores de
açúcares redutores.
Palavras-chave: Solanum tuberosum, processamento, chips, qualidade.
Potato genotypes with low reducing sugar content
The objectives of this work were to evaluate potato genotypes
for reducing sugar content and post-harvest conditions that favored
the identification of those with low content. Eight potato clones,
previously selected for light frying color, and the cultivar Atlantic
were evaluated in autumn seasons of 2004 and 2005. The experiments
were carried out at Embrapa Clima Temperado, Pelotas-RS, Brazil
(31°52’S, 52°21’W), in a randomized complete block design with
four replications. In 2004, the reducing sugar content was quantified
after three conditions: curing the tubers; four weeks of refrigerated
storage at 4°C; and refrigeration followed by reconditioning for two
weeks. In 2005, the reducing sugars were analyzed only after
refrigeration. Besides that the genotypes were evaluated for chip
color, dry matter content and physiological defects. The F test
revealed significant differences among genotypes for all variables,
except for reducing sugar content after tuber curing. ‘C-1883-2297’, ‘C-1881-16-97’, ‘C-1786-9-96’, ‘C-1786-7-96’ and ‘C-178714-96’ clones showed the lowest reducing sugar content. The
refrigeration was the condition that allowed identification of low
reducing sugar genotypes.
Keywords: Solanum tuberosum, processing, chips, quality.
(Recebido para publicação em 18 de julho de 2006; aceito em 14 de abril de 2007)
D
entre as iniciativas essenciais para
impulsionar a demanda de batata
pré-frita congelada para atrair a preferência dos consumidores brasileiros,
destaca-se o desenvolvimento da
agroindústria nacional (Boteon et al.,
2005). Entretanto, existe uma grande
carência de cultivares com características que atendam plenamente os requisitos da indústria e a adaptação à produção no Brasil (Pereira, 2003). A aceitação da batata para processamento na
forma de palitos ou chips depende, em
grande parte, da cor do produto final. O
fator mais importante na cor de fritura é
o teor de açúcares redutores que, quando alto, resulta em produtos escurecidos (Talburt et al., 1975), os quais são
rejeitados pelo consumidor (Menéndez
et al., 2002). Em batatas para
processamento, o teor de açúcares redutores geralmente aceito é abaixo de
0,035% da massa fresca para chips e
220
0,12% para palitos (Stark et al., 2003).
Além da característica de fritura de cor
clara, as cultivares de batata para o
processamento devem apresentar tubérculos com elevado teor de matéria seca
(20-24%) e de preferência sem defeitos
fisiológicos (Love, 2000), tais como
coração oco, mancha ferruginosa, rachadura e crescimento secundário.
O objetivo deste trabalho foi avaliar
genótipos de batata quanto ao teor de
açúcares redutores, em função das condições pós-colheita que favoreçam a
identificação daqueles com baixo teor.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados oito clones de batata (‘C-1786-6-96’, ‘C-1786-7-96’, ‘C1786-9-96’, ‘C-1787-14-96’, ‘C-188116-97’, ‘C-1883-5-97’, ‘C-1883-22-97’
e ‘C-1890-1-97’), selecionados para cor
clara de fritura no programa de melho-
ramento genético da Embrapa Clima
Temperado. A cultivar Atlantic, que é
utilizada mundialmente pela indústria de
processamento de chips, foi incluída
como testemunha.
Foram implementados dois experimentos, um em 2004 e outro em
2005, em blocos ao acaso com quatro
repetições, no campo experimental da
sede da Embrapa Clima Temperado,
Pelotas, RS, Brasil (31°52’S,
52°21’W). A parcela foi constituída
por 15 plantas, espaçadas de 0,30 x
0,80 m. O solo, classificado como
Argissolo Vermelho Amarelo
Distrófico Típico, foi adubado nos
sulcos de plantio com 2.000 kg ha-1 de
NPK (5-30-10). O controle de doenças e outras práticas foram uniformes
e semelhantes às usadas nos plantios
comerciais da região. Não houve necessidade de irrigação suplementar em
nenhum dos dois experimentos.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Genótipos de batata com baixo teor de açúcares redutores
Para o ensaio de 2004, o plantio foi
realizado em 10 de março e a colheita
em 15 de junho, quando as plantas atingiram total maturidade.
Amostras de tubérculos de cada parcela, classificados como comerciais
(diâmetro >45 mm) foram separados
para quantificação do teor de açúcares
redutores após três condições pós-colheita: a) cura (duas semanas de
armazenamento em condições ambiente, com ventilação); b) quatro semanas
de armazenamento refrigerado a 4°C; e
c)
refrigeração,
seguida
de
recondicionamento por duas semanas
em condições ambiente.
A análise do teor de açúcares redutores, efetuada em laboratório da
Embrapa Clima Temperado, foi realizada com base no método de SomogyiNelson (Nelson, 1944), com modificações (Pereira & Campos, 1999). Para a
extração dos açúcares, amostras de tubérculos fatiados foram mergulhadas em
solução de bissulfito de sódio, neutralizadas com ácido acético glacial e filtradas a vácuo. As amostras foram avaliadas em triplicatas.
Com relação a 2005, o plantio foi
efetuado em 9 de março e a colheita em
21 de junho, quando as plantas atingiram a maturidade.
Neste experimento, o teor de açúcares redutores foi analisado somente em
tubérculos refrigerados, tendo em vista
que em 2004 apenas nesta condição foi
possível separar genótipos com teores
de açúcares redutores inferiores à testemunha.
Além da avaliação do teor de açúcares redutores, os genótipos foram avaliados quanto à cor de chips, teor de
matéria seca, e percentagens de tubérculos rachados, com mancha ferruginosa
e com coração oco.
Os chips foram preparados, usando
amostras de três tubérculos por parcela.
Oito fatias finas (2-3 mm) de cada amostra foram fritas em gordura vegetal
hidrogenada, à temperatura inicial de
180ºC, durante o tempo suficiente para
cessar a emissão de bolhas de vapor de
água do material frito. As avaliações da
cor dos chips foram efetuadas de acordo com a tabela de cores de cinco pontos (1 = clara a 5 = escura), da Potato
Chip and Snack Food Association, dos
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Médias de teor de açúcares redutores em tubérculos de batata em função da simples cura, do armazenamento durante quatro semanas a 4°C (refrigerado) e do armazenamento
a 4°C seguido de recondicionamento durante duas semanas em condições ambiente
(recondicionado) (Average content of reducing sugars in potato tubers as a result of simple
cura, stored during four weeks under 4°C refrigeration and, as a result of storing under 4°C
followed of reconditioning during two weeks under ambiental conditions (reconditioned).
Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2005.
1
Letras minúsculas iguais, nas colunas, e maiúsculas, na linha, indicam médias sem diferenças estatisticamente detectáveis pelo teste Duncan (p ≤ 0,05) (Means followed by the same
small letters in the column and capital in the line did not differ from each other through the
Duncan test, 5%).
Estados Unidos da América do Norte.
O teor de matéria seca foi determinado segundo a Association Official
Analytical Chemistry – AOAC (1970),
com algumas modificações (Pereira &
Campos, 1999), em amostras de três tubérculos de cada parcela. De cada tubérculo foram cortadas duas fatias finas
(2-3 mm), uma no centro (sentido do
diâmetro) e outra no sentido perpendicular (comprimento), que foram picadas a pequenos pedaços. Para análise da
matéria seca, uma amostra de 5,0 g de
cada parcela foi colocada em cadinho
de alumínio para secagem em estufa a
vácuo, a 70°C por seis horas.
As avaliações da percentagem de
tubérculos rachados e com mancha
ferruginosa foram efetuadas em amostras de dez tubérculos por parcela. Para
avaliação de mancha ferruginosa, os tubérculos foram cortados transversalmente.
Os dados foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Duncan no nível de 5%
de probabilidade, utilizando o programa Genes (Cruz, 2001). Os dados de
percentagem de rachadura e de mancha
ferruginosa foram transformados em
antes da aplicação da análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 2004, a média de açúcares redutores foi significativamente mais alta em
tubérculos submetidos à refrigeração do
que aqueles curados ou recondicionados
(Tabela 1). É sabido que as condições
ambientais afetam o crescimento e o
desenvolvimento das plantas e dos tubérculos, bem como o conteúdo de açúcares nos tubérculos. A exposição dos
tubérculos a temperaturas baixas, mesmo no solo ou no armazenamento, propicia a conversão do amido em açúcares, provocando um aumento indesejável no conteúdo de açúcares redutores.
Temperaturas altas, por outro lado, diminuem o conteúdo de açúcares redutores nos tubérculos de batata, pela
reconversão parcial dos açúcares em
amido (Ap Rees et al., 1981; Dale &
Mackay, 1994; Lynch et al., 2003).
Os genótipos apresentaram diferenças significativas (p ≤ 0,05) em teor de
açúcares redutores após refrigeração e
recondicionamento dos tubérculos (Tabela 1). Não foi detectada diferença
significativa em teor de açúcares redutores nos tubérculos após a cura. Seguindo a refrigeração dos tubérculos, os
221
AS Pereira et al.
Tabela 2. Médias de matéria seca, de tubérculos com rachadura e mancha ferruginosa, e de
cor de chips, em função de genótipos de batata e de condições pós-colheita (Average values
of dry matter of tubers presenting cracking and ferruginous spots, and of chips, as a result of
potato genotypes and after-harvest conditions). Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2005.
1
Letras iguais, nas colunas, indicam médias sem diferenças estatisticamente detectáveis pelo teste
Duncan (p ≤ 0,05); 21: cor clara a 5: cor escura (Means followed by the same letters in the column
did not differ from each other through the Duncan test, 5%; 21: light color to 5: dark color).
clones ‘C-1883-22-97’, ‘C-1881-1697’, ‘C-1786-6-96’, ‘C-1786-9-96’, ‘C1786-7-96’, ‘C-1787-14-96’ e ‘C-18835-97’ apresentaram, estatisticamente, os
mais baixos teores de açúcares redutores. Quando recondicionados, somente
os dois primeiros tiveram níveis significativamente inferiores ao da cultivar
‘Atlantic’.
Em
tubérculos
recondicionados, isto é, submetidos à
condição que ocorre a diminuição dos
níveis de açúcares redutores (Bacarin et
al., 2005), os clones ‘C-1883-22-97’,
‘C-1881-16-97’, ‘C-1883-5-97’, ‘C1786-6-96’ e ‘C-1786-9-96’ contiveram
açúcares redutores mais baixos, não diferindo da cultivar ‘Atlantic’.
Considerando simultaneamente as
médias da refrigeração e do
recondicionamento, observam-se menores acumulações de açúcares redutores no
grupo formado pelos clones ‘C-1883-2297’, ‘C-1881-16-97’, ‘C-1786-6-96’, ‘C1786-9-96’ e ‘C-1883-5-97’ (Tabela 1).
As médias de açúcares redutores nas
três condições de pós-colheita revelam
que após a cura dos tubérculos não houve diferença estatística entre os
genótipos (Tabela 1), enquanto na refrigeração houve a formação de três grupos, com separação de clones com níveis de açúcares redutores mais baixos
do que a testemunha. A análise de açúcares
redutores
após
o
recondicionamento dos tubérculos tam222
bém possibilitou a separação dos
genótipos, mas não foi suficiente para
distinguir os clones com baixos teores
de açúcares redutores da testemunha
‘Atlantic’. Exceto ‘C-1786-7-96’ e ‘C1787-14-96’, os genótipos responderam
claramente ao recondicionamento, destacando-se a cultivar ‘Atlantic’. Diferenças entre variedades na redução do teor
de
açúcares
redutores
por
recondicionamento têm sido observadas
em outros estudos (Chapper et al., 2004;
Bacarin et al., 2005). Estes resultados
mostram que a refrigeração dos tubérculos durante quatro semanas foi a melhor condição para a identificação dos
genótipos de batata com baixos teores
de açúcares redutores.
Em 2005, os clones ‘C-1881-16-97’,
‘C-1786-9-96’, ‘C-1787-14-96’, ‘C1883-5-97’, ‘C-1883-22-97’ e ‘C-17867-96’ apresentaram as médias mais baixas de açúcares redutores (Tabela 1).
Mas, apenas ‘C-1881-16-97’, ‘C-17869-96’ e ‘C-1787-14-96’ diferiram da
‘Atlantic’, em valores inferiores de açúcares redutores.
Considerando os resultados obtidos
de tubérculos refrigerados nos dois experimentos, os genótipos que tiveram os
teores de açúcares redutores mais baixos foram: ‘C-1883-22-97’, ‘C-188116-97’, ‘C-1786-9-96’, ‘C-1786-7-96’,
‘C-1787-14-96’ e ‘C-1883-5-97’. O
clone ‘C-1890-1-97’ apresentou, em
ambos os anos, a maior percentagem de
açúcares redutores.
Em relação aos chips, os clones ‘C1786-7-96’, ‘C-1786-6-96’ e ‘C-17869-96’, ‘C-1787-14-96’, ‘C-1890-1-97’,
‘C-1883-5-97’ e a cultivar ‘Atlantic’
formaram o grupo com médias de escores de cor mais clara (Tabela 2). ‘C1881-16-97’, ‘C-1883-22-97’, ‘C-18835-97’ e ‘C-1890-1-97’ formaram o grupo de clones com chips mais escuros,
mas, mesmo assim, dentro dos padrões
de cor clara (escore d”2,5). Os três primeiros foram identificados como os
clones com baixo teor de açúcares redutores.
Mesmo
sendo
indubitavelmente estabelecido que o
teor de açúcares redutores seja o principal fator para o desenvolvimento da cor
de fritura da batata, tem sido demonstrada a influência de alguns aminoácidos
e compostos fenólicos na sua intensidade (Khanbari & Thompson, 1993;
Zorzella et al., 2003). Desta forma, não
sendo os açúcares redutores totalmente
responsáveis pela formação da cor do
produto frito, é fundamental que os
genótipos sejam avaliados quanto à cor
de fritura de chips para uma conclusão
mais consubstanciada, vez que a cor de
fritura é o caráter de interesse comercial no produto processado.
Os teores de matéria seca de ‘C1786-7-96’, ‘C-1890-1-97’, ‘C-1786-696’, ‘C-1881-16-97’, ‘C-1883-5-97’ e
‘Atlantic’ foram estatisticamente os mais
elevados. Os demais clones também
apresentaram conteúdo de matéria seca
compatível com os níveis requeridos pelas indústrias de processamento (e”20%).
Os defeitos fisiológicos constituem
grave limitação para o processamento
por fritura da batata para processamento
para fritura. As condições climáticas do
outono de 2005 favoreceram o aparecimento da mancha ferruginosa e de rachaduras nos tubérculos, todavia, sem a
ocorrência de coração oco nos diferentes genótipos (Tabela 2). Houve diferenças significativas entre os genótipos na
percentagem de tubérculos com mancha
ferruginosa, com o clone ‘C-1883-2297’ apresentando ausência deste tipo de
defeito. Embora ‘Atlantic’ seja considerada muito suscetível (Henninger et al.,
2000), apresentou percentagem relativamente baixa, considerando as condições
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Genótipos de batata com baixo teor de açúcares redutores
climáticas durante o experimento.
Quanto à ocorrência de tubérculos
rachados, houve diferenças significativas entre os genótipos (Tabela 2). ‘C1883-22-97’, ‘C-1883-5-97’ e ‘C-17869-96’ não contiveram este defeito e ‘C1787-14-96’, ‘C-1890-1-97’ e ‘Atlantic’
apresentaram baixas percentagens.
Em resumo, constatou-se que os
clones ‘C-1883-22-97’, ‘C-1881-1697’, ‘C-1786-9-96’, ‘C-1786-7-96’, ‘C1787-14-96’ e ‘C-1883-5-97’ contiveram os mais baixos níveis de açúcares
redutores. Destes, apenas ‘C-1883-5-97’
e ‘C-1786-7-96’ podem ser alocados em
grupo de genótipos com chips mais claros e com teor de matéria seca mais elevada, embora os demais tenham expressado níveis de qualidade aceitáveis; ‘C1883-22-97’ não teve tubérculos com
mancha ferruginosa, ao contrário de ‘C1883-5-97’, ‘C-1786-9-96’, ‘C-178714-96’ e ‘C-1881-16-97’ que apresentou, mas em baixas percentagens, enquanto ‘C-1787-14-96’ revelou a maior
incidência; ‘C-1883-22-97’, ‘C-1883-597’ e ‘C-1786-9-96’ não contiveram tubérculos rachados.
Concluindo, a refrigeração dos tubérculos durante quatro semanas permitiu a
identificação dos genótipos ‘C-1883-2297’, ‘C-1881-16-97’, ‘C-1786-9-96’, ‘C1786-7-96’ e ‘C-1787-14-96’ como de
baixos teores de açúcares redutores. Entretanto, considerando também os outros
caracteres avaliados, ‘C-1883-22-97’,
‘C-1786-9-96’ e ‘C-1883-5-97’ foram os
clones de melhor qualidade.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
AGRADECIMENTOS
À equipe de apoio ao Programa de
Melhoramento Genético de Batata e do
Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Clima Temperado, pelas contribuições na execução dos experimentos, e à CAPES, CNPq e
FAPERGS, pelas bolsas concedidas.
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223
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biofertilizantes de rochas com fósforo e potássio. Horticultura Brasileira 25: 224-229.
Rendimento da alface e atributos químicos de um Latossolo em função
da aplicação de biofertilizantes de rochas com fósforo e potássio
Rita de Cássia Matias de Lima; Newton Pereira Stamford; Carolina Etienne de Rosália e Silva Santos;
Silvio Henrique Lino Dias
UFRPE, Depto. Agronomia, 52171-900 Recife-PE; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A produção de biofertilizantes a partir de rochas é um processo
prático que reduz o consumo de energia e aumenta a disponibilidade
de nutrientes no solo. Realizou-se um experimento em campo, para
avaliar a eficiência e o poder residual de biofertilizantes de rochas
com fósforo (BP) e com potássio (BK) mais enxofre inoculado com
Acidithiobacillus, aplicados em diferentes doses, para comparação
com os fertilizantes minerais superfosfato simples (SFS) e cloreto
de potássio (KCl), no rendimento da alface (cv. Crespa-Grand
Rapids), em dois plantios consecutivos, e em alguns atributos químicos do solo (pH, Ca, Mg trocável, P e K disponível). Nos dois
ciclos houve efeito dos biofertilizantes BP, BK, e dos fertilizantes
solúveis SFS e do KCl no rendimento da alface. Os melhores resultados no 1º ciclo foram com os tratamentos SFS700 BK90, SFS700 BK60,
e no 2º ciclo com BP700 BK90, SFS700 BK60, e com SFS700 BK90. Observou-se efeito residual quando aplicados os tratamentos BP1050 BK90
No pH do solo não houve efeito dos biofertilizantes, aplicados em
mistura com húmus de minhoca, e verificou-se significativo aumento no P e K disponíveis no solo, especialmente para P no 2º ciclo.
Concluiu-se que os biofertilizantes de rochas com P e K, em mistura
com húmus de minhoca, podem ser usados como alternativa a fertilizantes minerais solúveis.
Lettuce yield and chemical attributes of an Oxisol by
application of biofertilizers from phosphate and potash rocks
Palavras-chave: Lactuca sativa, apatita, biotita, disponibilidade de
PK, oxidação do enxofre.
Production of rock biofertilizers is a practical process which
reduces energy consumption and increases nutrients availability in
soils. A field experiment was carried out applying phosphate
biofertilizer (PB) and potash biofertilizer (KB) from rocks plus sulfur
with Acidithiobacillus, applied in different rates, comparing with
the mineral fertilizers simple superphosphate (SFS) and potassium
chloride (KCl), on yield of lettuce (cv. Crespa-Grand Rapids), in
two consecutive crops and in soil chemical attributes (pH, and
available P and K). A control treatment was added without P and K
(P0K0). In the two consecutive crops the biofertilizers BP, BK, and
chemical fertilizers SFS and KCl were effective on lettuce yield. In
the first crop the best results were obtained with the treatments SFS700
BK 90, SFS 700 BK 60, and in the consecutive crop applying the
treatments BP700 BK90, SFS700 BK60 and SFS700 BK90. In the two crops
the positive response of the PK biofertilizers and PK mineral
fertilizers was evident. Residual effect was observed when the
treatment BP1050 BK90 was applied. Soil pH was not affected by
application of PK biofertilizers plus worm-compound, increasing
available P and K, especially for available P in the consecutive crop.
The PK rock biofertilizers, plus worm-compound, may be applied
as an alternative to PK mineral soluble fertilizers.
Keywords: Lactuca sativa L., apatite, available P and K, biotite,
sulfur oxidation.
(Recebido para publicação em 11 de julho de 2006; aceito em 2 de abril de 2007)
N
o Brasil, o cultivo de alface em escala comercial vem crescendo de
forma rápida, sendo uma hortaliça de
grande expressão na economia brasileira. A utilização de técnicas de cultivo
sem uso de produtos tóxicos vem representando um aspecto considerável tanto para o consumidor como para o meio
ambiente. Assim, o fornecimento adequado de nutrientes está diretamente
relacionado com a fertilização, e tornase de especial importância verificar a
disponibilidade dos elementos essenciais no solo, principalmente com relação ao fósforo e potássio, em plantas de
ciclo curto como a alface (Lal, 2000).
O desenvolvimento e aplicação de
um manejo integrado de nutrientes, com
vista a produtividade e sustentabilidade
224
agrícola implica na redução do uso de
fertilizantes solúveis e incremento de
fontes não tradicionais de nutrientes,
como adubação orgânica, fixação biológica do N 2 , biofertilizantes, e a
reciclagem de resíduos (FAO, 1995).
Para a produção de fertilizantes
fosfatados solúveis é necessário apreciável gasto de energia e mão de obra
especializada. A utilização direta dos
fertilizantes naturais é muito restrita,
principalmente devido à sua baixa solubilidade, sendo mais usados em misturas com os fertilizantes solúveis (Oliveira et al.1977). Dentre os fertilizantes, o potássio é o segundo mais utilizado no Brasil, sendo quase inteiramente
atendido por importação, que chega a
mais de 6 milhões de t, e o País tem
como produção atual apenas cerca de
650 mil toneladas (Roberts, 2004).
O uso de microrganismos na
solubilização de nutrientes de rocha vem
recebendo a atenção dos pesquisadores
em programas de interação com diferentes microrganismos (Ballestero et al.,
1996; Nahas, 1999). Na solubilização de
rochas vêm sendo utilizadas bactérias
oxidantes do enxofre do gênero
Thiobacillus, atualmente classificadas
como Acidithiobacillus (Kelly & Wood,
2000), as quais podem ocorrer naturalmente nos solos agrícolas. Poucos trabalhos realizados com adição de enxofre sem a inoculação com a bactéria específica mostraram solubilização lenta
e resultados bastante variáveis
(Lombardi et al. 1981). Por outro lado,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Rendimento da alface e atributos químicos de um Latossolo em função da aplicação de biofertilizantes de rochas com fósforo e potássio
a adição da bactéria em concentração
conhecida, e aplicada diretamente no
enxofre, deverá promover ação mais
rápida e eficiente, favorecendo o desenvolvimento das plantas (Stamford et al.,
2003, 2004, 2005 e 2006).
O objetivo do presente trabalho foi
verificar a eficiência de biofertilizantes
produzidos com rocha fosfatada
(apatita) e com rocha potássica (biotita
xisto), mais enxofre inoculado com
Acidithiobacillus, em mistura com
vermicomposto de minhoca, comparando com os fertilizantes minerais solúveis, no rendimento da alface e em alguns atributos químicos do solo, em dois
cultivos consecutivos.
MATERIAL E MÉTODOS
No experimento aplicou-se
biofertilizante de rocha fosfatada (Irecê,
Bahia) e de rocha potássica (biotita
xisto, Paraíba), produzidos com adição
de enxofre elementar inoculado com a
bactéria oxidante do enxofre
Acidithiobacillus. Os biofertilizantes foram produzidos em condições de campo,
na horta experimental da UFRPE, utilizando canteiros com 10 m de comprimento, 1 m de largura e 0,5 m de profundidade, seguindo a metodologia descrita em
detalhes por Stamford et al. (2006a).
O experimento foi conduzido na
Escola Agrotécnica Federal de Crato,
Ceará, em solo com baixo teor de P disponível e médio teor de K disponível,
representativo da região do Cariri, classificado como Latossolo Amarelo
húmico, textura média argilosa, fase floresta tropical, sub-perenifolia, com relevo suavemente ondulado, geograficamente localizado na latitude W. Gr. 390
25’ e latitude S 70 14’, com altitude de
422 m, na faixa de clima quente subúmido, com temperaturas máximas de
350C, mínima de 220C e média de 270C,
com pluviosidade média de 800 mm
anuais. A determinação de alguns atributos químicos do solo, na camada de
0–20 cm, de acordo com a metodologia
da Embrapa (1997), apresentou: pH
(H2O) 6,2; cations trocáveis (cmolc dm-3)
Ca2+ 2,0; Mg2+ 0,8; K+ 0,2; Al3+ 0,0; P (mg
dm-3) 0,6 e M.O. (g kg-1) 26.
Utilizou-se a alface (cv. Crespa
Grand Rapids-TBR) como planta teste
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
e, vermicomposto de minhoca na adubação orgânica básica, na quantidade de
600g m-2, conforme quadro de utilização do húmus para hortaliças da empresa Febra Húmus que contém 0,5 g kg-1
de N; 2 mg kg-1 de P; 5 mg kg-1 de K, e
pH 7,9. Foram realizadas duas aplicações, sendo a primeira no plantio (300
g m-2), e 15 dias após o transplante das
mudas foi feita a segunda aplicação (300
g m-2).
O delineamento experimental adotado foi de blocos casualizados, com
quatro repetições, em esquema fatorial
52, sendo dois nutrientes: fósforo (P) e
potássio (K). Como fontes de P foram
adicionadas: 1) SFS700, quantidade de
SFS (700 kg ha-1), calculada com base
na recomendação para alface (IPA,
1998), de acordo com a análise do solo;
2) Biofertilizante BP350, correspondente à metade de SFS700; 3) Biofertilizante
BP700 biofertilizante, equivalente à quantidade recomendada como SFS; 4)
Biofertilizante BP 1050 biofertilizante
(BP3) 1,5 vez a quantidade calculada
para SFS); e 5) controle, sem adição de
P (P0). Como fontes de K usou-se: KCl60,
quantidade de KCl (30 kg ha-1), calculada com base na recomendação para
alface (IPA, 1998), de acordo com a
análise do solo; 2) Biofertilizante BK30,
correspondente à metade de KCl60; 3)
Biofertilizante BK 60 biofertilizante,
equivalente à quantidade de KCl recomendada; 4) Biofertilizante BK 90
biofertilizante equivalente a 1,5 vez a
quantidade calculada como KCl); e 5)
controle, sem adição de K (K0).
Os tratamentos com P e K foram
adicionados juntamente com a primeira
aplicação do vermicomposto de minhoca (300 g m-2), após homogeneização
manual, para facilitar a distribuição dos
fertilizantes, com adição a lanço. A solubilidade dos fertilizantes e dos
biofertilizantes foi feita em água, citrato
de amônio (C.N.A.), em ácido cítrico a
2%, e com o extrator Mehlich 1
(Embrapa, 1997) e pelo método biológico com Aspergillus sidowii (Dias et
al. 2005), sendo os teores de fósforo e
potássio total apresentados na tabela 1.
As mudas de alface foram produzidas em bandejas de polietileno de 128
células, preenchidas com o substrato
“Plantmax”. O transplante foi realizado
quando as plantas atingiram a altura de
8 a 10 cm e com 5 a 6 folhas definitivas
(cerca de 30 dias), O espaçamento adotado foi de 0,25 x 0,25 m, compreendendo 5 plantas por fileira e 25 plantas
por parcela. As plantas foram irrigadas
duas vezes ao dia por microaspersão.
Através de determinações em amostras
de solo, observou-se que a umidade ficou próxima da capacidade de campo,
durante a fase experimental. Foram feitos dois plantios consecutivos (ciclo 1 e
ciclo 2), sendo o segundo cultivo realizado 15 dias após a colheita do primeiro ciclo, sem fertilização com P e K, para
verificação do efeito residual. Não houve necessidade de aplicação de inseticidas nem fungicidas, nos dois cultivos.
Em amostragem com coleta de 4
plantas parcela–1, foi feita a determinação da matéria seca (MS) da parte aérea por pé (cabeça). O sistema radicular
foi coletado junto com a parte aérea, e,
após lavagem em água corrente, a parte
aérea foi separada das raízes, e
conduzidas para secagem em estufa de
circulação de ar forçada (700 C), sendo,
posteriormente, determinada a matéria
seca da parte aérea (MS). Foram retiradas amostras compostas de solo (6 sub
amostras por parcela), com coleta de 015 cm, e após secagem ao ar e
peneiramento (peneira de 2 mm) foi procedida a determinação de: pH, cations
trocáveis (Ca e Mg) e P e K disponíveis, seguindo a metodologia da
Embrapa (1997).
A análise estatística foi realizada utilizando o programa SAS (1999), para
identificação da necessidade de transformação dos dados e adequação aos
requisitos da análise de variância. A
comparação de médias foi procedida
pelo teste de Tukey (p d” 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 são apresentados os dados obtidos para a biomassa seca da
parte aérea da alface. Verifica-se que
houve efeito da fertilização com P e K,
na produção de biomassa seca da alface, em relação ao tratamento controle
(P0K0). Os biofertilizantes mostraram
efeitos semelhantes ao tratamento com
aplicação dos fertilizantes minerais solúveis SFS e KCl, nos dois ciclos. To225
RCM Lima et al.
Tabela 1. Teor de fósforo e potássio total (g kg-1), nos biofertilizantes e nas rochas com P e
K utilizadas no experimento, usando diferentes processos de extração 1 (Total phosphorus
and potassium rates (g kg-1), on biofertilizers and P and K rocks applied in the experiment,
using different extraction processes). Crato, Escola Agrotécnica Federal de Crato, 2005.
1
ND = não determinado
Tabela 2. Efeitos da aplicação de biofertilizantes de rochas com P e K em comparação com
superfosfato simples e cloreto de potássio e sem fertilização com P e K na biomassa seca da
alface em 2 ciclos (Effects of P and K rock biofertilizers application compared with triple
superphosphate and potassium chloride and without P and K fertilization on dry biomass of
lettuce in two consecutive crops). Crato, Escola Agrotécnica Federal de Crato, 2005.
(1)
BP350, BP700, BP1050 equivalente a 350, 700 e 1050 kg ha-1 de biofertilizante de rocha fosfatada,
e BK30, BK60, BK90 equivalente a 30, 60 e 90 kg ha-1 de biofertilizante de rocha potássica.
Letras maiúsculas mostram diferença significativa na interação entre as fontes de P em cada
nível de K e letras minúsculas entre as fontes de K em cada nível de P, pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade. C.V. (%) no 1° ciclo = 10,69 e no 2° ciclo = 12,64. D.M.S. 1° ciclo nas
colunas e linhas = 1,80 e no 2° ciclo nas colunas e linhas = 1,35.
davia, no 1° ciclo foram obtidos melhores resultados quando aplicados os tratamentos SFS700 BK30 e SFS700 BK60, e
no 2º ciclo BP700 BK90, SFS700 BK90, e
BP1050BK60. De maneira geral os tratamentos com P apresentaram maiores
biomassa seca com SFS700 e com BP1050,
e os tratamentos com K foram com BK30
e BK60. Os tratamentos que apresentaram os resultados mais baixos na biomassa seca no 1º ciclo foram: BP0 BK30,
BP2 BK0, e no 2º ciclo BP0 BK30, BP700
BK0, BP700 BK0, BP1050 KCl60.
Moura (2006), trabalhando para avaliar o efeito de biofertilizantes de rochas
226
fosfatadas e potássicas na matéria seca
da parte aérea de melão cultivado em
Argissolo do vale do São Francisco, e
Stamford et al. (2006a) com cana-deaçúcar (Saccharum officinarum) em
solo de tabuleiro da Zona da Mata de
Pernambuco, encontraram resultados
semelhantes aos obtidos no presente trabalho.
De maneira geral não houve efeito
residual evidenciado, ou seja, com aumento da produção no 2º ciclo, todavia,
observa-se que o tratamento BP700 BK90
e SFS700 BK90 mantiveram o aumento na
biomassa seca da parte aérea, apresen-
tando os maiores incrementos em comparação com o tratamento controle, o
que evidencia o efeito residual. Dias et
al. (2005) também constataram efeito
residual
com
aplicação
de
biofertilizantes de rochas com P e K, na
produtividade do caupi (Vigna
unguiculata), em solo de tabuleiro da
Zona da Mata de Pernambuco.
As
temperaturas
máximas
registradas durante o cultivo foram consideradas elevadas, o que pode ter influenciado o desenvolvimento da planta, pois a maioria das cultivares de alface prefere temperaturas amenas sem
grandes variações, sendo que uma amplitude de 10 a 240C é satisfatória para
a maior parte das espécies cultivadas na
região (Douglas, 1987).
Os dados de pH obtidos em função
da aplicação dos tratamentos de fertilização (Tabela 3) revelaram que, de maneira geral, não houve redução no pH, e
a variação observada não teve efeito
negativo no desenvolvimento da planta, além do que deve ser considerado que
foram obtidas satisfatórias produtividades da alface nos níveis calculados com
base na recomendação da análise de
solo, tanto para os biofertilizantes como
para os fertilizantes minerais. A aplicação de níveis elevados de biofertilizantes
de rochas com P e K inoculadas com
Acidithiobacillus não promoveu redução significativa no pH do solo, provavelmente devido à adição conjunta com
vermicomposto de minhoca que tem pH
médio de 7,8.
Resultados obtidos por Ernani et al.
(2001) mostram que o pH do solo é afetado pela aplicação de tratamentos
fosfatados, sem prejuízo no desenvolvimento das plantas. He et al. (1996)
relatam que a acidez é um fator de grande importância na solubilidade de
fosfatos naturais e Stamford et al.
(2002), usando S inoculado com
Acidithiobacillus na recuperação de solos salinos sódicos, observaram que a
produção de H2SO4 continua a ocorrer
até o consumo total do S adicionado,
chegando a promover a acidificação do
solo com redução do pH inicial 8,2 para
4,5 com adição de 1,8 t ha-1 de S.
Para P disponível no solo verificase que houve efeito da fertilização com
P e K, no P disponível no solo, com
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Rendimento da alface e atributos químicos de um Latossolo em função da aplicação de biofertilizantes de rochas com fósforo e potássio
maior aumento quando aplicados BP1050
e SFS700 (Tabela 4). Observa-se efeito
residual no 2º ciclo, especialmente para
os tratamentos BP700 BK90 e SFS700 BK60,
provavelmente devido à menor utilização pela alface no primeiro ciclo, e no
caso do biofertilizante pela atuação da
bactéria oxidante do enxofre que continua disponibilizando P no solo.
Stamford et al. (2005), em experimento com um Espodossolo da Zona da
Mata de Pernambuco cultivado com
sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), relatam
que a utilização de fosfato natural revestido com enxofre inoculado com
Acidithiobacillus teve efeito significativo e com resposta mais evidenciada do
que com aplicação de superfosfato triplo. Moura (2003) trabalhando com as
leguminosas jacatupé (Pachyrhizus
erosus) e caupi relata que o fosfato natural em mistura com S inoculado com
Acidithiobacillus aumenta a disponibilidade de P.
Lombardi et al. (1981) afirmam que
devido aos baixos teores de enxofre nos
solos, a população de Acidithiobacillus
é limitada, mas, por outro lado, com a
adição desse elemento no solo, pode
ocorrer a multiplicação das bactérias
oxidantes do enxofre, resultando em
melhor aproveitamento do fósforo pelas plantas. Stamford et al. (2005) observaram efeito positivo do fosfato natural de Gafsa com adição de S inoculado com Acidithiobacillus no P disponível em solo cultivado com sabiá.
Para K disponível verificou-se que
houve efeito da fertilização com P e K
no 1° ciclo (Tabela 5), sendo obtidos os
melhores resultados com os tratamentos BP0 KCl60 e BP1050 KCl60. No 2º ciclo
não se observou efeito residual, sendo
que o tratamento com maior disponibilidade de K no solo foi com aplicação
de BP0 BK60 e de BP1050 KCl60, provavelmente porque estes tratamentos não
promoveram bom crescimento da planta no 1° ciclo, e o K permaneceu disponível no solo.
A ausência de efeito residual (2º ciclo) para os biofertilizantes com P e K é
justificada pela diferença no teor de K2O
solúvel, tendo em vista que na biotita
xisto, utilizada para a produção do
biofertilizante potássico possui em média 10% de K2O, e no KCl é em torno
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 3. Efeito de biofertilizantes de rochas com P e K no pH do solo, em comparação com
fertilizantes solúveis (superfosfato simples e cloreto de potássio), e sem fertilização com P e
K em dois cultivos consecutivos com alface (Effects of P and K rock biofertilizers on soil
pH, compared with soluble fertilizers (triple superphosphate and potassium chloride) and
without P and K fertilization, in two consecutive crops with lettuce). Crato, Escola Agrotécnica
Federal de Crato, 2005
(1)
BP350, BP700, BP1050 equivalente a 350, 700 e 1050 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
fosfatada, e BK30, BK60, BK90 equivalente a 30, 60 e 90 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
potássica. Letras maiúsculas mostram diferença significativa na interação entre as fontes de
P em cada nível de K e letras minúsculas entre as fontes de K em cada nível de P, pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. (%) no 1° ciclo = 4,12 e no 2° ciclo = 4,63. D.M.S. no
1° ciclo nas colunas e linhas = 0,50 e no 2° ciclo nas colunas e linhas = 0,56.
Tabela 4. Efeito de biofertilizantes de rochas com P e K no P disponível do solo, em comparação com fertilizantes solúveis (superfosfato simples e cloreto de potássio) e sem P e K, em
dois cultivos consecutivos com alface (Effects of P and K rock biofertilizers on soil available
P, compared with soluble fertilizers (triple superphosphate and potassium chloride) and
without P and K fertilization, in two consecutive crops with lettuce). Crato, Escola Agrotécnica
Federal de Crato, 2005.
(1)
BP350, BP700, BP1050 equivalente a 350, 700 e 1050 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
fosfatada, e BK30, BK60, BK90 equivalente a 30, 60 e 90 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
potássica.Letras maiúsculas mostram diferença significativa na interação entre as fontes de
P em cada nível de K e letras minúsculas entre as fontes de K em cada nível de P, pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. (%) no 1° ciclo =11,73 e no 2° ciclo = 14,47. D.M.S.
no 1° ciclo nas colunas e linhas = 0,22 e no 2° ciclo nas colunas e linhas = 0,22
227
RCM Lima et al.
Tabela 5. Efeito de biofertilizantes de rochas com P e K no K disponível do solo, em comparação com fertilizantes solúveis (superfosfato simples e cloreto de potássio) e sem P e K,
em dois cultivos consecutivos com alface (Effects of P and K rock biofertilizers on soil
available K, compared with soluble fertilizers (triple superphosphate and potassium chloride)
and without P and K fertilization, in two consecutive crops with lettuce). Crato, Escola
Agrotécnica Federal de Crato, 2005.
(1)
BP350, BP700, BP1050 equivalente a 350, 700 e 1050 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
fosfatada, e BK30, BK60, BK90 equivalente a 30, 60 e 90 kg ha-1 de biofertilizante de rocha
potássica.Letras maiúsculas mostram diferença significativa na interação entre as fontes de
P em cada nível de K e letras minúsculas entre as fontes de K em cada nível de P, pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. (%) no 1° ciclo = 10,54 e no 2° ciclo = 14,00. D.M.S.
no 1° ciclo colunas e linhas = 0,09 e no 2° ciclo nas colunas e linhas = 0,08.
de 58% de K2O. O potássio do KCl encontra-se prontamente disponível, e
pode ter sido lixiviado, o que pode ser
observado, inclusive no tratamento com
os fertilizantes solúveis (superfosfato
simples e cloreto de potássio).
De acordo com Malavolta (1989) a
alface é muito sensível à falta de potássio, e com deficiência do nutriente a
planta mostra aparência seca,
crestamento nas bordas das folhas, e
superfícies foliares desigualmente
cloróticas, todavia a sintomatologia característica de deficiência de potássio
não foi observada no presente trabalho.
O efeito dos biofertilizantes, de forma similar aos fertilizantes minerais
solúveis, também pode ser explicado
levando em consideração que no solo
ocorrem bactérias oxidantes do enxofre,
além de Acidithiobacillus, e fungos que
produzem fosfatases, quitina e
quitosana, como Aspergillus e
Cunninghamela (Franco et al., 2005),
os quais podem atuar na solubilização
de P e K dos biofertilizantes, e, portanto, podem participar efetivamente no
228
aumento da disponibilidade de P e de K
para as plantas.
De acordo com Raij (1986) é recomendável o uso de fontes alternativas
de P como fosfato de rocha, quando são
obtidos rendimentos de 80% a 90% em
comparação com o apresentado pela
fonte solúvel. Conclui-se que os
biofertilizantes de rochas com fósforo e
com potássio além de enxofre inoculado com Acidithiobacillus, em mistura
com vermicomposto de minhoca, podem ser aplicados como fonte alternativa em substituição a fertilizantes minerais solúveis, sem afetar o pH e a produtividade da alface. A fertilização com P e
K mostra efeito residual, especialmente
quando aplicados os biofertilizantes com
P e K de rochas, com maior aumento para
o P disponível.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq pelas bolsas de produtividade e de Iniciação Científica (PIBIC) e pelo apoio concedido à pesquisa.
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Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva1
Tânea MB Garlet2; Osmar S Santos3; Sandro LP Medeiros3; Paulo A Manfron3; Danton C Garcia3; Sílvia
S Sinchak4
2
UNICRUZ, Andrade Neves 308, 98025-810 Cruz Alta-RS; [email protected]; 3UFSM, 97105-900 Santa Maria-RS; 4Estudante
de Agronomia UFSM.
RESUMO
ABSTRACT
O trabalho foi conduzido em casa de vegetação da UFSM, RS,
de outubro a dezembro de 2004. Foram conduzidos três experimentos simultâneos, cada um com uma espécie de Mentha (M.arvensis,
M. x gracilis e M. x piperita var. citrata) em quatro soluções
hidropônicas com diferentes concentrações de K (276; 414; 552 e
690 mg L-1) e idades das plantas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com cinco repetições, tendo os tratamentos fatorial para cada espécie: 4x6, 4x7 e 4x8, sendo quatro concentrações de K e idades da planta determinadas semanalmente a
partir dos 27 dias. Foram avaliadas a altura das plantas; área foliar;
fitomassa fresca e seca de folhas, hastes; relação folha:haste; e teor
de óleo essencial em folhas frescas. O aumento na concentração de
K nas soluções hidropônicas afeta negativamente o crescimento e a
acumulação de fitomassa em plantas de Mentha, porém proporciona
aumento no teor de óleo essencial por planta. Em todas as colheitas
consecutivas observou-se aumento no crescimento das plantas das
três espécies. As plantas de M. arvensis e M. x piperita var. citrata
acumularam mais fitomassa de hastes do que de folhas, o contrário
ocorrendo com M. x gracilis que, além disso, apresentou maior produção equivalente de óleo por hectare, na concentração mais baixa
de K. As concentrações de K sugeridas para favorecer o crescimento de Mentha em cultivo hidropônico encontram-se na faixa entre
276 e 414 mg L-1.
Growth and essential oil content of mints at different
potassium concentrations in the nutrient solution
Palavras-chave: Mentha arvensis, Mentha x gracilis, Mentha x
piperita var. citrata, óleo aromático, produtividade.
Keywords: Mentha arvensis, Mentha x gracilis, Mentha x piperita
var. citrata, yield, aromatic oil.
The work was carried out at the Universidade Federal de Santa
Maria, Rio Grande do Sul State, Brazil, from October to December
2004. Three simultaneous experiments were carried out, each one
with one Mentha species (M. arvensis, M. x gracilis and M. x piperita
var. citrata) in four hydroponic solutions with different K
concentrations (276; 414; 552 and 690 mg L-1 ) and plant ages. The
experimental design was of randomized complete blocks, with five
replications, the treatments showing a factorial for each species: 4x6,
4x7 and 4x8, four K concentrations and plant ages being determined
weekly starting 27 days after planting date. The height of plants;
foliar area; fresh and dry phytomass of leaves and stems; leaf:stem
relation; and the content of essential oil in fresh leaves were evaluated.
The increase of K concentrations in the hydroponic solutions affected
negatively the growth and accumulation of phytomass in mint plants,
but allowed an increase in the content of essential oil per plant. In all
consecutive harvesting dates an increase in the growth of the three
species of plants were observed. M. arvensis and M. x piperita var.
citrata accumulated more stem than leaf phytomass, the reverse
occurring with M. x gracilis, which also presented a higher equivalent
production of oil per ha, in the lowest K concentration. A good growth
of Mentha under hydroponic cultivation was observed under K
concentrations of 276 and 414 mg L-1.
(Recebido para publicação em 11 de julho de 2006; aceito em 22 de maio de 2007)
C
om sabor e aroma refrescantes, as
mentas ou hortelãs destacam-se
pelo uso culinário ou em chás medicinais, para combater parasitas intestinais
e distúrbios digestivos (Lorenzi & Matos, 2002). As glândulas oleíferas, principalmente das folhas, concentram óleos
voláteis ricos em terpenóides de amplo
interesse industrial, em produtos farmacêuticos, alimentícios, cosméticos e
aromatizantes do tabaco.
As mentas são plantas muito exigentes em fertilidade e irrigação (Maia,
1998a), o manejo nutricional é
1
determinante na obtenção de matériaprima de qualidade. O cultivo em
hidroponia vem despertando interesse
como uma forma de produzir material
vegetal de qualidade, com alta produtividade quando comparado ao sistema
tradicional de cultivo no solo
(Castellane & Araújo, 1995).
Mairapetyan (1999) afirma que plantas
aromáticas, produzidas em sistema
hidropônico apresentam elevada produtividade e três a seis vezes mais óleo
essencial por planta do que em sistemas
convencionais de cultivo. A hidroponia
permite ainda reduzir a duração do ciclo produtivo com reflexos na produtividade (Santos, 2000). A proporção entre os nutrientes da solução nutritiva afeta tanto o crescimento como a produção
de biomassa e o teor de óleo essencial
em Mentha (Brown et al., 2003).
O potássio (K) é, geralmente, o nutriente mais abundante em todas as culturas. Está presente nos tecidos em sua
maior parte na forma solúvel em água
(Malavolta, 2006). Trata-se de elemento essencial com ação fisiológica, como:
extensão celular; abertura dos
Parte da Tese de doutorado apresentada pelo primeiro autor à UFSM.
230
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva
estômatos; transporte no floema; compensação de cargas; ativador de enzimas
como a ATPase, sintetases de amido e
de proteínas; na resistência aos estresses
em geral como seca, salinidade, baixas
temperaturas e na resistência às doenças (Marschner, 1995).
O íon K+ tem intensa mobilidade no
xilema e floema, possibilitando a
regulação do balanço interno, desde que
sua absorção seja eficiente (Bataglia,
2005). A demanda de K para o crescimento das plantas é elevada, variando
de 10 a 60 g kg-1 de matéria seca. Se sua
disponibilidade é baixa, o crescimento
da planta é retardado e a retranslocação
líquida ou a remobilização deste nutriente das folhas maduras e caule é aumentada. Sob deficiência severa, esses órgãos tornam-se cloróticos e necróticos
(Marschner & Cakmak, 1989). Por outro lado, o excesso de K raramente é
observado, exceto nos casos de danos
por sais resultantes de aplicação excessiva de KCl, podendo provocar efeitos
adversos de toxicidade, diminuindo o
crescimento ou a produção da planta
(Bataglia, 2005).
Os estudos de produção de plantas
medicinais em hidroponia ainda são escassos. Este trabalho objetivou avaliar
o crescimento e o teor de óleo essencial
em três espécies de Mentha, submetidas a diferentes concentrações de K na
solução nutritiva e em diferentes idades
das plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados de
outubro a dezembro de 2004, em casa de
vegetação de 250 m 2 coberta com
polivinilclorídrico (PVC), com 200 µm de
espessura, em área experimental da Universidade Federal de Santa Maria, RS.
Foram realizados três experimentos
simultâneos, no delineamento em blocos ao acaso, com cinco repetições, tendo os tratamentos fatorial para cada espécie: 4x6 (Mentha arvensis L.), 4x7
(Mentha x gracilis Sole) e 4x8 (Mentha
x piperita var. citrata (Ehrh.) Briq.),
sendo quatro concentrações de K de 276,
414, 552 e 690 mg L-1 e idades de colheita das plantas em dias de 27; 34; 41;
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
48; 55 e 62 em M. arvensis; 27; 34; 41;
48; 55; 62 e 69 em M. gracilis; 27; 34;
41; 48; 55; 62; 69 e 76 em M. x piperita
var.citrata.
As mudas das espécies de Mentha
foram obtidas a partir de matrizes produzidas em solo, em laboratório da
UNICRUZ, e preparadas a partir de estacas caulinares com 4 cm de comprimento e quatro folhas, postas para enraizar em espuma fenólica com dimensões de 2 x 2 x 2 cm, conduzidas em
berçário constituído por tubos de
polipropileno, com 4 m de comprimento e 3 cm de largura, colocados sobre
cavaletes com desnível de 2% para escoamento da solução nutritiva. As mudas permaneceram no berçário por 20
dias, quando apresentaram de oito a
nove folhas desenvolvidas e foram
transplantadas para as bancadas de produção final, constituídas por canais de
cultivo de polipropileno com 6 m de
comprimento por 10 cm de largura, sustentados por cavaletes de 0,80 m de altura, com declividade de 2%. Utilizouse o espaçamento de 0,25 m nos canais
e 0,40 m entre os canais,
correspondendo à densidade de 10 plantas m-2.
Os experimentos foram conduzidos
no sistema NFT (Técnica do Fluxo
Laminar de Nutrientes), com a solução
nutritiva distribuída nos canais de cultivo na vazão de 1,8 L s-1, através de conjunto de moto-bomba de 0,5 HP. A solução foi recolhida no final da bancada
de cultivo através de calha coletora,
retornando a um reservatório de PVC,
com capacidade de 500 L.
A solução nutritiva padrão foi fixada em 276 mg L-1, calculada a partir da
quantidade de nutrientes extraídos por
M. arvensis, obtidos por Paulus et al.
(2004). Na produção de mudas, essa
solução foi diluída a 50%. Para o preparo da solução nutritiva utilizaram-se
os seguintes nutrientes (mg L-1): K=276;
N=211,4; P=30,35; Ca=71,34;
Mg=32,56; S=40,72; Mn=6,084;
Cu=0,075; Zn=0,431; B=2,884;
Mo=0,0883; Fe-EDTA=0,5 L. A fonte
de ferro foi obtida através da dissolução de 24,1 g de sulfato de ferro em 400
mL de água e 25,1 g de Na-EDTA em
400 mL de água, conforme a
metodologia descrita por Castellane &
Araújo (1995). Os micronutrientes foram fornecidos na forma de solução concentrada (cinco vezes) dos sais em 200
mL de água, completando-se o volume
para 1 L, após completa diluição. A partir da solução padrão variou-se a concentração de K para 414, 552 e 690 mg
L-1 pela adição de 262,4; 524,8 e 787,2
mg L-1 de KCl, respectivamente.
A condutividade elétrica (CE) inicial
das soluções com 276, 414, 552 e 690
mg L-1 de K foi, respectivamente, 2,38;
2,72; 3,30 e 3,87 mS cm –1. O controle
foi realizado a cada dois dias, sendo feita
a reposição de 50% dos nutrientes sempre que a CE atingia 50% do valor inicial. O pH foi corrigido a cada dois dias
para o valor de 6,0 ± 0,2 após completar o volume dos reservatórios com
água. O controle da circulação das soluções foi efetuado com auxílio de
temporizador programado para acionar
a moto-bomba durante 15 min, com intervalos de 15 minutos, no período diurno (07:00-20:00 h), e 15 min a cada intervalo de 2 h no período noturno.
Foram realizadas colheitas semanais, com a última efetuada para cada
espécie em: 07 (M. arvensis ), 14 (M. x
gracilis) e 21/12/04 (M. x piperita var.
citrata). O ponto de colheita foi determinado pela floração conforme
Duriyaprapan et al. (1986). Todavia,
durante o período do experimento M. x
piperita var. citrata não floresceu, fato
este observado a campo apenas em março de 2005. As plantas coletadas foram
separadas em raízes e parte aérea (hastes, folhas e flores). As flores foram
acrescentadas junto às folhas devido à
presença de óleo. As raízes não foram
avaliadas por causa do entrelaçamento
das plantas contíguas, inviabilizando sua
correta separação. Das hastes e folhas
determinou-se a fitomassa fresca. Após
a pesagem das folhas retiraram-se discos foliares, com vazador de 0,02 dm2
de área para determinação da área foliar. A seguir, acondicionaram-se as
plantas em sacos de papel, levando-as à
estufa de secagem com ventilação forçada de ar a 65ºC, até massa constante.
Também foi determinada a altura das
231
TMB Garlet et al.
plantas e a relação folha:haste em
fitomassa fresca e seca.
Amostras de 100 g de folhas frescas
foram utilizadas para a extração do óleo
essencial, em quatro repetições. O material foi acondicionado em sacos plásticos e armazenado em freezer (-15ºC)
até o momento da extração. A técnica
utilizada foi a hidrodestilação em aparelho de Clevenger, por 2 horas, em balão volumétrico de 2 L. Os hidrolatos
recolhidos com éter etílico foram levados em funil de separação e submetidos
à secagem com sulfato de sódio anidro.
O sal foi removido por filtração simples
e o solvente evaporado em rotavapor. O
óleo resultante foi pesado para determinação do teor e rendimento estimado por
planta e por área.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância e interpretados por
meio da análise de regressão, pelo método dos polinômios ortogonais para os
efeitos principais e suas interações, selecionando-se o componente de maior
grau significativo. Utilizou-se o teste F
a 1 e 5% de probabilidade para avaliação das equações polinomiais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas três espécies de Mentha estudadas, a interação entre doses de potássio
(K) e idades da planta foi significativa
(P<0,05) para as variáveis: altura de
planta, área foliar, fitomassa fresca e
seca de folhas e de hastes. Em todas as
colheitas observou-se incremento dessas variáveis. Para as mesmas, houve
resposta quadrática de regressão em M.
arvensis e em M. x piperita var. citrata,
enquanto M. x gracilis seguiu resposta
linear. A relação folha:haste em
fitomassa fresca e seca foi significativa
somente para M. x gracilis.
A altura de planta em M. arvensis
(Figura 1a) foi estatisticamente significativa em relação às concentrações de K para as idades a partir dos
48 dias, indicando que as doses estimadas de K para obtenção da altura
máxima encontram-se entre 391,2 e
400,2 mg L -1. O desempenho foi semelhante para M. x piperita var.
citrata (Figura 2a), cuja significância
232
ocorreu a partir dos 34 dias, com as
melhores doses de K estimadas entre
350,6 e 416,0 mg L -1. No entanto, M.
x gracilis (Figura 3a) mostrou
significância dos 41 dias em diante,
com a altura das plantas durante o período de desenvolvimento, apresentando-se mais baixa naquelas que foram submetidas à maior concentração
de K, evidenciando-se que concentrações de K acima de 276 mg L -1 influenciam negativamente o desenvolvimento dessa espécie, em decorrência do aumento na condutividade elétrica de 2,38 para 3,87 mS cm -1 nas
soluções mais concentradas, com elevação na pressão osmótica que interfere na absorção de nutrientes.
Valmorbida (2003), ao cultivar M.
piperita, encontrou altura máxima de
101,94 cm nas plantas submetidas aos
níveis de potássio de 58,50/117,00 mg
L-1 na solução hidropônica. Neste estudo, as maiores alturas do período experimentado correspondem a 122,50 (M.
arvensis), 97,62 (M. x gracilis) e 116,13
cm (M. x piperita var. citrata).
Os dados de área foliar foram significativos a partir dos 41 dias de idade
para as três espécies de Mentha, com as
doses de K estimadas para máxima área
foliar em M. arvensis (Figura 1b) e em
M. x piperita var. citrata (Figura 2b)
variando de 398,3 a 417,8 mg L-1 e de
375,5 a 414,4 mg L-1, respectivamente,
cujos valores máximos na última colheita foram 77,83 dm2 e 97,74 dm2. A área
foliar máxima de M. x gracilis (Figura
3b) aos 69 dias, na concentração de K
de 276 mg L-1 foi de 79,05 dm2 apresentando redução de 40% com 690 mg L-1
de K.
Houve incremento da área foliar
em todas as colheitas, contudo verificou-se que o maior incremento dessa variável, aproximadamente 150%,
aconteceu entre os 34 e 41 dias após
o plantio de M. arvensis e de M. x
piperita var. citrata; para M. x
gracilis, isso ocorreu entre os 27 e 34
dias e representou quase 80%, considerando a concentração de K de 276
mg L -1. O período compreendido entre a primeira e terceira colheitas
correspondeu à época em que as plantas investiram mais na formação de
superfície foliar para captação de luz
e conseqüentemente na produção e
acúmulo de fotoassimilados.
Valmorbida (2003) verificou que
os diferentes níveis de K na solução
hidropônica de M. piperita não interferiram na área foliar, tendo observado aos 114 dias de idade maior valor
de área foliar de 63,12 dm 2. Em M.
arvensis cultivada em vasos com capacidade de 6 L e solução nutritiva
completa, Maia (1998a) obteve área
foliar de 45,11 dm2. Srivastava et al.
(2003) constataram valor máximo de
área foliar de 24,02 dm 2 para plantas
de M. arvensis cv. Shivalik, cultivadas em solo, em casa de vegetação e
colhidas aos 90 dias. Os resultados
do presente trabalho foram bem superiores aos encontrados na literatura, devido às melhores condições experimentais.
Fitomassa fresca de folhas, de hastes e relação folha:haste. A fitomassa
fresca de folhas e de hastes mostrouse significativa a partir dos 48 dias
para M. arvensis (Figura 1c-d) e M.
x piperita var. citrata (Figura 2c-d)
com as doses estimadas de K para a
máxima produção de folhas e de hastes, variando respectivamente de
397,2 a 416,6 mg L -1 e de 374,4 a
394,6 mg L -1(M. arvensis); de 328,7
a 425,0 mg L -1 e de 307,6 a 413,4 mg
L-1(M. x piperita var. citrata). Neste
estudo, o maior acúmulo de fitomassa
fresca de folhas e de hastes do período experimental correspondeu respectivamente a 213,5 e 296,4 g (M.
arvensis) e a 328,9 e 373,1 g (M. x
piperita var. citrata). Em M. x
gracilis (Figura 3c-d) tanto a
fitomassa fresca de folhas como a de
hastes apresentaram-se mais baixas
nas plantas submetidas a concentrações de K maiores que 276 mg L -1, a
partir dos 48 dias para folhas, e a partir dos 41 dias para hastes; aos 69 dias
houve acúmulo máximo de 343,2 g
de folhas e 324,1 g de hastes. Nessa
espécie, a relação entre essas variáveis (Figura 3e) foi linear crescente
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva
**significativo a 1% de probabilidade pelo teste F; *significativo a 5% de probabilidade pelo teste F (**significant at 1% probability through the F test;
*significant at 5% probability through the F test)
Figura 1. Altura (a), área foliar (b), fitomassa fresca de folhas (c), fitomassa fresca de hastes (d), folha:haste em fitomassa fresca (e),
folha:haste em fitomassa seca (f), fitomassa seca de folhas (g), fitomassa seca de hastes (h) obtidos em função da concentração de K nas
soluções hidropônicas e das idades de colheita (27; 34; 41; 48; 55; 62 dias) de Mentha arvensis (Height (a), leaves área (b), fresh leaves
fitomass (c), fresh stem fitomass (d), leaf:stem relation of fresh fitomass (e), leaf:stem relation of dry fitomass (f), dry fitomass of leaves (g),
dry fitomass of stem (h) obtained as a result of K concentration in the hidroponic solutions and date of harvest (27; 34; 41; 48; 55; 62 days)
of Mentha arvensis). Santa Maria, UFSM, 2004.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
233
TMB Garlet et al.
Tabela 1. Rendimento de fitomassa fresca de folhas, teor e rendimento do óleo essencial de três
espécies de Mentha cultivadas em diferentes concentrações de K na solução hidropônica (yield
of fresh fitomass of leaves, content and yield of essential oil of three Mentha species, cultivated
in various concentrations of K in the hidroponic solution). Santa Maria, UFSM, 2004.
*Extraído a partir de amostras de 100g de folhas frescas; **Dose estimada para obtenção da
máxima produção de fitomassa fresca de folhas (*extracted of a 100 g sample of fresh
leaves; **Evaluated doses to obtain the maximum yield of fresh leaves fitomass).
dos 41 até os 62 dias de idade, conforme o aumento na dose de K, com
valor superior a 1,0. Srivastava et al.
(2003) estudaram a relação
folha:haste em cultivares de M.
arvensis, por 90 dias, em casa de vegetação e verificaram valores entre 1,1 e 1,5 indicando que houve
maior partição de biomassa para folha do que para haste. Os resultados
com M. x gracilis deste trabalho concordam com os desses autores, ressaltando-se que é desejável um aumento na relação folha:haste, pois a
indústria retira o óleo essencial das
folhas, sendo estas as partes da planta de maior valor comercial.
Embora as primeiras doses de K na
solução nutritiva tenham aumentado a
produção de fitomassa fresca de folhas
e de hastes, em M. arvensis e M. x
piperita var. citrata esse aumento foi
proporcional entre as partes, pois a re234
lação folha:haste em fitomassa fresca
(Figura 1e, 2e) não foi influenciada pelo
aumento da concentração do nutriente
no meio, mantendo-se constante durante todo o período de desenvolvimento.
Verificou-se que, para as três espécies avaliadas, plantas mais altas produziram maior massa foliar, em função
da idade. No entanto, na dose de K de
690 mg L-1 todas as plantas foram menores, ocorrendo também diminuição da
massa de folhas.
Fitomassa seca de folhas, de hastes e relação folha:haste. A fitomassa
seca, em M. arvensis, foi significativa
dos 48 aos 62 dias, com as doses estimadas para a máxima produção de folhas (Figura 1g) variando entre 392,3 e
409,35 mg L-1; e a de hastes (Figura 1h)
entre 388,7 e 407,9 mg L-1, havendo aos
62 dias acúmulo de 41,1 g de folhas e
54,2 g de hastes secas. Em M. x piperita
var. citrata a fitomassa seca mostrou
significância a partir dos 48 dias para
folhas (Figura 2g) e a partir dos 55 dias
para hastes (Figura 2h), variando a dose
para máxima produção, respectivamente
de 364,7 a 434,9 mg L-1 e de 328,2 a
396,5 mg L-1, acumulando aos 76 dias
de idade 61,8 g de folhas e 67,1 g de
hastes. Em M. x gracilis a fitomassa seca
de folhas (Figura 3g) e a de hastes (Figura 3h) foram significativamente mais
baixas, a partir dos 48 dias, nas doses
com maior concentração de K, no entanto a melhor dose (276 mg L-1) proporcionou 74,6 g de folhas e 58,9 g de
hastes. De maneira semelhante à
fitomassa fresca, a relação entre essas
variáveis secas (Figura 3f) foi significativa linearmente dos 41 aos 55 dias,
aumentando conforme o aumento na
dose de K.
Da mesma forma como ocorreu com
a relação folha:haste para fitomassa fresca, a relação de folha:haste para
fitomassa seca, em M. arvensis (Figura
1f) e M. x piperita var. citrata (Figura
2f) não foi influenciada pelas concentrações crescentes de K no meio.
Segundo Duriyaprapan et al. (1986)
em plantas de M. arvensis, cultivadas
em câmara de crescimento, em vasos e
colhidas aos 94 dias, houve rendimento
de fitomassa seca de folhas de 13,1 g e
de hastes de 27,8 g, enquanto os resultados obtidos nesta pesquisa foram superiores aos desses autores.
Óleo essencial
O teor do óleo essencial das plantas
foi afetado pela variação do K em todas
as concentrações (P<0,01), conforme as
respectivas equações de regressão ajustadas para cada espécie: y = 0,6030 +
0,000676x, R2 = 0,9400 (M. arvensis);
y = 0,4684 + 0,0010638x, R2 = 0,9675
(M. x piperita var. citrata) e y = 0,5775
+ 0,0008909x, R 2 = 0,9928 (M. x
gracilis). O aumento na concentração de
K promoveu aumento no teor do óleo
para as três espécies de Mentha avaliadas (Tabela 1). As doses estimadas de
K em mg L-1 para ótima produtividade
de folhas frescas, segundo equações de
regressão das figuras 1c, 2c e 3c,
correspondem a 412 mg L -1 (M.
arvensis), 384 mg L-1 (M. x piperita var.
citrata) e 276 mg L-1 (M. x gracilis),
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva
**significativo a 1% de probabilidade pelo teste F; *significativo a 5% de probabilidade pelo teste F (**significant at 1% probability through the F test;
*significant at 5% probability through the F test)
Figura 2. Altura (a), área foliar (b), fitomassa fresca de folhas (c), fitomassa fresca de hastes (d), folha:haste em fitomassa fresca (e),
folha:haste em fitomassa seca (f), fitomassa seca de folhas (g), fitomassa seca de hastes (h) obtidos em função da concentração de K nas
soluções hidropônicas e das idades de colheita (27; 34; 41; 48, 55, 62, 76 dias) de Mentha x piperita var. citrata (Height (a), leaves área (b),
fresh leaves fitomass (c), fresh stem fitomass (d), leaf:stem relation of fresh fitomass (e), leaf:stem relation of dry fitomass (f), dry fitomass
of leaves (g), dry fitomass of stem (h) obtained as a result of K concentration in the hidroponic solutions and date of harvest (27; 34; 41; 48;
55; 62 days) of Mentha x piperita var. citrata). Santa Maria, UFSM, 2004.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
235
TMB Garlet et al.
**significativo a 1% de probabilidade pelo teste F; *significativo a 5% de probabilidade pelo teste F (**significant at 1% probability through the F test;
*significant at 5% probability through the F test).
Figura 3. Altura (a), área foliar (b), fitomassa fresca de folhas (c), fitomassa fresca de hastes (d), folha:haste em fitomassa fresca (e),
folha:haste em fitomassa seca (f), fitomassa seca de folhas (g), fitomassa seca de hastes (h) obtidos em função da concentração de K nas
soluções hidropônicas e das idades de colheita (27; 34; 41; 48; 55; 62 e 69 dias) de Mentha x gracilis (Height (a), leaves área (b), fresh
leaves fitomass (c), fresh stem fitomass (d), leaf:stem relation of fresh fitomass (e), leaf:stem relation of dry fitomass (f), dry fitomass of
leaves (g), dry fitomass of stem (h) obtained as a result of K concentration in the hidroponic solutions and date of harvest (27; 34; 41; 48; 55;
62 days) of Mentha x gracilis). Santa Maria, UFSM, 2004.
236
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Crescimento e teor de óleo essencial de mentas com diferentes concentrações de potássio na solução nutritiva
rendendo respectivamente em óleo essencial o equivalente a 1,88 g planta-1
(188 kg ha-1); 2,89 g planta-1 (289 kg ha-1)
e 2,85 g planta-1 (285 kg ha-1).
Um teor elevado de óleo por si só
pode não ter interesse agrícola, pois
plantas que produzam muito óleo, porém com baixa produção de folhas, resultarão em baixo rendimento de óleo
por área. É o caso de M. x gracilis que
apesar de suas folhas apresentarem
maior teor de óleo na dose de K de 690
mg L-1, a produção de folhas foi reduzida, resultando em menor rendimento de
óleo por planta (2,56 g planta-1) e seu
equivalente por hectare (256 kg ha-1).
Por outro lado, observou-se que apenas
em M. x piperita var. citrata a maior
dose de K promoveu maior rendimento
de óleo, isto é, 15% acima da dose ótima. Maia (1998b) em cultivo
hidropônico de M. arvensis, colhida aos
68 dias após o plantio, obteve aumento
significativo no teor de óleo essencial
(1,45%) e produção de óleo por vaso (1
g vaso-1) na solução de 468 mg de K L1
, com incremento na produção de parte
aérea. Todavia, em estudo com M.
piperita aos 105 dias após transplante,
Valmorbida (2003) encontrou rendimento de 147 L ha-1 de óleo em plantas cultivadas em solução hidropônica com
nível de K de 117/234 mg L-1, porém
com a diminuição na concentração de
K para 58,50/117 mg L-1, houve aumento
no teor de óleo (176 L ha - 1) e na
fitomassa fresca (66 t ha-1), contrariando os resultados do presente trabalho.
A concentração de metabólitos secundários, segundo Tuomi et al. (1991),
utilizados para defesa do vegetal tende
a ter uma concentração inversa às taxas
de crescimento, por ser este o “custo da
defesa” das plantas, com o desvio de
substâncias que poderiam gerar açúcares, proteínas e gorduras para produção
de metabólitos secundários. Charles et
al. (1990) constataram aumento linear
no conteúdo de óleo por folha que foi
de 44,0 para 70,8 µL g-1 de matéria seca,
com diminuição exponencial de área foliar e biomassa de parte aérea, quando
plantas de M. piperita foram submetidas a níveis aumentados de estresse
osmótico. Embora no presente estudo
não tenha sido medido o potencial
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
osmótico das soluções, verificou-se redução no crescimento das plantas, provavelmente pelo excesso de aplicação
de KCl no meio, conforme aumento da
condutividade elétrica de 2,38 na solução padrão, para 3,87 mS cm-1 na solução com maior concentração de K. Esses mesmos autores ainda relatam que
folhas produzidas por plantas cultivadas
com altos níveis de estresse osmótico
podem ter alta densidade de glândulas
de óleo, como produto do estresse induzido pela redução da área foliar. E,
além disso, citam que a redução no crescimento, induzida pelo mais baixo potencial osmótico pode ter resultado em
novo padrão de partição de reservas,
proporcionando esqueletos carbônicos
para biossíntese e acumulação de
terpenóides. Pelos valores obtidos neste trabalho supõe-se que também tenha
havido aumento na quantidade de glândulas de óleo, concordando com as afirmações desses autores.
O valor máximo da concentração de
K, nas soluções hidropônicas, afeta negativamente o crescimento e a acumulação de fitomassa em plantas de
Mentha, porém proporciona aumento no
teor de óleo essencial por planta. Nas
colheitas consecutivas observa-se aumento no crescimento das plantas das
três espécies. As plantas de M. arvensis
e M. x piperita var. citrata acumulam
mais fitomassa de hastes do que de folhas, o contrário ocorrendo com M. x
gracilis, que além disso apresenta maior
produção equivalente de óleo por hectare, na concentração padrão de K. As
concentrações de K sugeridas para o
bom crescimento de Mentha, em cultivo hidropônico, encontram-se na faixa
entre 276 e 414 mg L-1.
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Anderson Fernando Wamser; Siegfried Mueller; Walter Ferreira Becker; Janaína Pereira dos Santos
EPAGRI, C. Postal 591, 89500-000 Caçador-SC; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito dos métodos de tutoramento e de condução de plantas sobre a produtividade e qualidade de frutos em quatro cultivares de tomate. Dois experimentos foram realizados nas safras 2004/05 e 2005/06 em Caçador (SC). Os tratamentos consistiram na combinação de duas cultivares (Carmen e Débora Max, em 2004/05, e Nemo Netta e San
Vito, em 2005/06), quatro métodos de tutoramento (cruzado, mexicano, vertical com bambu e vertical com fitilho) e dois métodos de
condução de plantas (com uma e duas hastes por planta mantendo o
mesmo número de hastes por área), dispostos no delineamento de
parcelas sub-subdivididas, com quatro repetições. Não houve
interação entre cultivar, método de tutoramento e de condução. O
método de tutoramento vertical com bambu foi superior aos demais
métodos e todos os métodos de condução vertical foram superiores
ao método cruzado na produção total e comercial de frutos. A condução de uma haste por planta obteve maior produção total e comercial de frutos, em relação à condução de duas hastes por planta.
Fruits production of tomatoes as a result of plant training
systems
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, tutoramento, métodos
de condução.
Keywords: Lycopersicum esculentum, staking, training methods.
The effect of plant staking and training methods was studied on
fruit yield and quality of four tomato cultivars. Two experiments
were carried out in 2004/2005 and 2005/2006, in Caçador, Santa
Catarina State, Brazil. The treatments were a combination of two
cultivars (Carmen and Débora Max, in 2004/05, and Nemo Netta
and San Vito, in 2005/06), four staking methods (crossed fence,
Mexican, vertical staking with bamboo and vertical staking with
polypropylene cord) and two training methods (one and two stems
per plant keeping the same number of stems per area), using the sub
subplots experimental design. There was no statistical interaction
between cultivars, training methods and among staking methods.
The vertical staking with bamboo increased the production of fruits,
when compared with other staking methods, and all vertical-staking
methods increased the production of fruits, when compared to the
crossed fence method. The training method with one stem per plant
increased the production of fruits, when compared to the training
method with two stems per plant.
(Recebido para publicação em 22 de março de 2006; aceito em 14 de abril de 2007)
O
estado de Santa Catarina se destaca na tomaticultura nacional como
o oitavo produtor de tomate, com produção de 129 mil toneladas na safra
2003/04 e produtividade média de 54t/
ha (Epagri, 2005). A região do Alto Vale
do Rio do Peixe, situada no Meio Oeste
Catarinense, produz o maior volume de
tomate do Estado, envolvendo aproximadamente 550 produtores e uma área
plantada de 700 hectares, e se destaca
nacionalmente por abastecer o mercado brasileiro no verão (Kreuz, 2003).
Nesta região é empregado largamente
o cultivo tutorado do tomateiro, com
destaque ao tomate de mesa do tipo
longa vida.
O tutoramento do tomateiro consiste em fornecer suporte para o crescimento das plantas evitando o contato destas
com o solo, aumentando a ventilação e
a iluminação ao longo do dossel das
plantas e facilitando os tratos culturais
(Lédo et al., 1998; Rughoo & Govinden,
238
1999). O método de tutoramento do tomateiro, tradicionalmente usado na região do Alto Vale do Rio do Peixe, é o
cruzado. Este método consiste no
amarrio das plantas em tutores dispostos obliquamente ao solo formando um
“V” invertido entre duas filas consecutivas de plantas. O método cruzado apresenta, como desvantagem, a aplicação
deficiente de defensivos nos órgãos das
plantas localizados no interior do “V”
invertido, dificultando o controle de pragas (Picanço et al., 1995) e doenças
(Boff et al., 1992). Além disso, a formação de um ambiente úmido e aquecido sob o “V” invertido é favorável ao
desenvolvimento de fitopatógenos (Rebelo, 1993).
No método de tutoramento vertical
do tomateiro as plantas são conduzidas
perpendicularmente ao solo. Além da
aplicação dos defensivos ser mais eficiente nos dois lados das plantas ao longo das filas (Picanço et al., 1995), há
uma melhor distribuição da radiação
solar e maior ventilação ao longo do
dossel das plantas, reduzindo o período
de molhamento foliar e, conseqüentemente, a severidade das doenças (Santos et al., 1999). Os principais métodos
de tutoramento vertical usados na região
são com bambus ou fitilhos como tutores, onde as hastes são amaradas nos
tutores dispostos verticalmente, e o método denominado de “mexicano”, em
que as plantas são conduzidas verticalmente entre fitilhos que são dispostos
horizontalmente nos dois lados das plantas à medida que as hastes crescem.
Juntamente com o método de
tutoramento vertical do tomateiro, preconiza-se a redução do espaçamento
entre plantas e a condução de uma haste
por planta, com o objetivo de aumentar
a produtividade de frutos em relação à
condução tradicional com duas hastes
por planta. Carvalho & Tessarioli Neto
(2005) e Marim et al. (2005) observaHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção do tomateiro em função dos sistemas de condução de plantas
ram maior produção de frutos de melhor classificação com a condução de
uma haste por planta. Estes métodos de
condução com uma ou duas hastes por
planta, bem como as diferentes cultivares e tipos de tomate existentes podem
ter respostas diferentes quanto aos métodos de tutoramento.
O presente trabalho teve como objetivos avaliar os efeitos dos métodos
de tutoramento, cruzado, vertical com
bambu, vertical com fitilho e mexicano,
e dois métodos de condução de plantas,
com uma e duas hastes por planta, sobre
a produtividade e qualidade de frutos em
diferentes cultivares de tomate.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois experimentos foram realizados
durante os anos agrícolas de 2004/2005
e 2005/2006 na Epagri, localizada no
município de Caçador (SC), região
fisiográfica do Alto Vale do Rio do Peixe. Os solos nos locais dos experimentos foram identificados como Latossolo
Bruno distrófico típico (Embrapa, 1999)
com as seguintes características: pH
(água) = 5,8 e 5,9, P = 12,8 e 19,2mg/L,
K = 166 e 72mg/L, MO = 3,5 e 4,9%,
Al = 0,0 e 0,0cmol c /L, Ca = 6,8 e
8,5cmolc/L, Mg = 3,6 e 4,7cmolc/L, V =
69 e 75% para os anos agrícolas de 2004/
2005 e 2005/2006, respectivamente.
Os tratamentos consistiram na combinação de duas cultivares, quatro métodos de tutoramento e dois métodos de
condução. As cultivares de tomate utilizadas foram Carmen e Débora Max,
na safra 2004/2005, e San Vito e Nemo
Netta, na safra 2005/2006. As cultivares Carmen e Nemo Netta pertencem ao
grupo Salada enquanto as cultivares
Débora Max e San Vito são dos grupos
Santa Cruz e Saladete, respectivamente, sendo todas de crescimento
indeterminado. Os métodos de
tutoramento testados foram o cruzado,
mexicano, vertical com bambu e vertical com fitilho. Os métodos de condução foram uma haste por planta e duas
hastes por planta. O delineamento experimental utilizado foi o de parcelas
sub-subdivididas, com quatro repetições, alocando-se o fator cultivar na
parcela, o fator método de tutoramento
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
na subparcela e o fator método de condução na sub-subparcela.
O espaçamento entre plantas nas
cultivares Carmen, Débora Max e Nemo
Netta foi de 0,3 e 0,6 m para as plantas
conduzidas com uma e duas hastes, respectivamente. Para a cultivar San Vito
se utilizou o espaçamento entre plantas
de 0,2 e 0,4 m para a condução de uma
e duas hastes por planta, respectivamente. Desta forma, dentro do fator método
de condução, as parcelas tinham o mesmo número de hastes por área em cada
cultivar. As diferenças de espaçamento
entre plantas das cultivares obedeceram
às recomendações fornecidas pelas empresas Agrocinco/Nirit Seeds Ltda e
Sakata Seed Sudamérica Ltda. As parcelas dos métodos de tutoramento vertical foram constituídas de uma linha de
plantas com 9 m de comprimento e
espaçamento entre linhas de 1,5 m. No
método de tutoramento cruzado as parcelas possuíam duas linhas de plantas
com 9 m de comprimento, com
espaçamento entre as linhas que formam
o “V” invertido de 1,0 m e espaçamento
entre as linhas que formam o corredor
de 1,5 m. As diferenças de espaçamento
entre linhas nos métodos de tutoramento
vertical e cruzado obedeceram aos
espaçamentos tradicionalmente utilizados na região do Alto Vale do Rio do
Peixe.
Utilizou-se o sistema de plantio direto sobre a cultura da aveia preta, sem
aplicação de herbicida. A adubação de
base foi feita no sulco utilizando 60 kg/
ha de N, 600 kg/ha de P2O5 e 300 kg/ha
de K2O na fórmula 03-30-15, 10 t/ha de
esterco de aves, 2,7 kg/ha de B como
bórax e 8 kg/ha de Zn como sulfato de
zinco nas cultivares Carmen, Débora
Max e Nemo Netta, e 90 kg/ha de N,
900 kg/ha de P2O5 e 450 kg/ha de K2O
na fórmula 03-30-15, 15 t/ha de esterco
de aves, 4,1 kg/ha de B como bórax e
60 kg/ha de Zn como sulfato de zinco
na cultivar San Vito. A adubação diferenciada entre a cultivar San Vito e as
demais foi realizada de forma a fornecer a mesma quantidade de adubação por
haste para todas as cultivares.
A semeadura foi realizada nos dias
03/11/04 e 14/10/05 em bandejas de
poliestireno expandido de 128 células e
preenchidas com o substrato comercial
Plantmax. As mudas de tomate foram
produzidas no sistema de “float”, no
qual as bandejas ficaram flutuando
numa lâmina d’água contendo 0,5 g de
Cu por bandeja até a data do plantio. O
plantio foi realizado nos dias 30/11/04
e 07/11/05. O replantio de mudas foi
realizado na primeira semana após o
plantio. Foram realizados desbrotas semanais e, aos 120 dias após o plantio
(DAP), a desponta em todos os tratamentos a partir da terceira folha acima
do último racimo de cada haste, deixando 9-10 racimos por haste. As adubações de cobertura foram realizadas semanalmente a partir dos 20DAP
totalizando 450 kg/ha de N e de K2O
nas cultivares Carmen, Débora Max e
Nemo Netta, e 675 kg/ha de N e de K2O
na cultivar San Vito. Demais práticas
culturais foram realizadas de acordo
com as Normas técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do
Rio do Peixe (Epagri, 1997).
Foram avaliados a produção, o número e o peso médio de frutos total,
comercial (Extra AA, Extra A) e descarte. Foram considerados como descarte os frutos com doenças fisiológicas ou
fitopatológicas, frutos com ataque de
brocas grande e pequena, e frutos miúdos. As variáveis estudadas foram submetidas à análise de variância (teste F).
Havendo significância estatística
(P≤0,05), as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de
significância. As análises estatísticas
foram realizadas no Sistema para Análises Estatísticas SAEG versão 8.1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise de variância para os fatores estudados não houve interação
entre cultivar, método de tutoramento e
método de condução nas duas safras
avaliadas separadamente para todas as
variáveis analisadas (P>0,05). Na safra
2004/2005 a cultivar Carmen conteve
produção total, comercial e descarte de
frutos com magnitudes respectivas de
10,5, 9,2 e 35,3% maior que a cultivar
Débora Max, não se encontrando diferenças quanto à produção de frutos Extra AA e Extra A (Tabela 1). A maior
produção total e comercial da ‘Carmen’
239
AF Wamser et al.
Tabela 1. Produção de frutos total, comercial (Extra AA e Extra A) e descarte em função da cultivar, do método de tutoramento e de
condução de plantas (Total, commercial (Extra AA and Extra A) fruits and disposal as a result of cultivar, the staking and training method of
plants). Caçador, EPAGRI, 2005.
1
Médias seguidas pela mesma em cada variável analisada, dentro de cada fator testado, não diferem entre si pelo teste de Tukey (α=0,05).
Não houve diferenças significativas dentro do fator analisado pelo teste F (P>0,05) (Means followed of same letter in each evaluated
variable, in each tested factor, did not differ through the Tukey test (α=0,05). nsThere was no difference in the analysed factor, through the
F test (P>0,05)).
ns
Tabela 3. Peso médio de fruto total, comercial (Extra AA e Extra A) e descarte em função da cultivar, do método de tutoramento e de
condução de plantas (Average weight of total, commercial (Extra AA and Extra A) and disposal fruits as a result of the cultivar, staking and
training method of the plants). Caçador, EPAGRI, 2005.
1
Médias seguidas pela mesma letra em cada variável analisada, dentro de cada fator testado, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(α=0,05). ns Não houve diferenças significativas dentro do fator analisado pelo teste F (P>0,05) (Means followed of same letter in each
evaluated variable, in each tested factor, did not differ through the Tukey test (α=0,05). nsThere was no difference in the analysed factor,
through the F test (P>0,05)).
decorreu do maior peso médio de frutos
(Tabela 3), visto que o número de fru240
tos produzidos foi em geral menor (Tabela 2), em relação à ‘Débora Max’.
Estes resultados são semelhantes aos
encontrados na Avaliação de Cultivares
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção do tomateiro em função dos sistemas de condução de plantas
Tabela 2. Número de frutos total, comercial (Extra AA e Extra A) e descarte em função da cultivar, do método de tutoramento e de condução
de plantas (Total, commercial (Extra AA and Extra A) and disposal fruits as a result of the cultivar, staking and trainig method of the plants).
Caçador, EPAGRI, 2005.
1
Médias seguidas pela mesma letra em cada variável analisada, dentro de cada fator testado, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(α=0,05). ns Não houve diferenças significativas dentro do fator analisado pelo teste F (P>0,05) (Means followed of same letter in each
evaluated variable, in each tested factor, did not differ through the Tukey test (α=0,05). nsThere was no difference in the analysed factor,
through the F test (P>0,05)).
para o estado de Santa Catarina 2003/
2004 (Epagri, 2003).
Já na safra 2005/2006, para a cultivar Nemo Netta houve produção total e
comercial de frutos 38,2 e 45,4% maior
e descarte de frutos 57,9% menor que a
cultivar San Vito (Tabela 1). Apesar do
menor número total de frutos produzidos (Tabela 2), a ‘Nemo Netta’ conteve
maior peso médio de frutos em relação
à ‘San Vito’, para todas as classes de
frutos (Tabela 3), bem como maior número de frutos comerciais, contribuindo para a maior produção total e comercial de frutos. Cultivares de tomate do
grupo saladete geralmente possuem
menor produção e porcentagem de produção de frutos comerciais e menor peso
médio de frutos em relação aos tomates
do grupo Salada e Santa Cruz (Epagri,
2003).
Todos os métodos de tutoramento
vertical proporcionaram maior produção
total, comercial e Extra AA de frutos em
relação ao método de tutoramento cruzado, nas duas safras (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos por
Marim et al. (2005) e Silva et al. (1997)
para a produção de frutos de melhor
classificação. Porém, Marim et al.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
(2005) e Silva et al. (1997), para a produção comercial de frutos, e Marim et
al. (2005), Santos et al. (1999) e Silva
et al. (1997), para a produção total de
frutos, não encontraram diferenças entre métodos de tutoramento cruzado e
vertical. Estes autores detectaram menor produção de frutos de classificação
inferior nos métodos de tutoramento
vertical, o que contribuiu com a falta de
diferenças entre métodos de condução
vertical e cruzado, para a produção total e comercial de frutos. Já no presente
trabalho, não houve diferença entre
métodos de tutoramento para as demais
classes de frutos estudadas (Tabela 1).
Com base nestes resultados pode concluir que os métodos de tutoramento
vertical podem aumentar a produção
total e comercial de frutos, pelo aumento da produção de frutos de melhor classificação, sem diminuir a produção das
demais classes de frutos.
A maior produção total e comercial
de frutos nos métodos de tutoramento
vertical, em relação ao cruzado, está relacionada ao maior peso médio total e
comercial de frutos, nas duas safras, e
peso médio de frutos Extra AA, na safra 2005/2006 (Tabela 3). Não houve
diferenças entre métodos de tutoramento
para as demais classes de frutos. Estes
resultados corroboram com o efeito positivo dos métodos de tutoramento vertical na produção e qualidade de frutos
(Marim et al., 2005), favorecendo o
melhor controle de insetos-praga
(Picanço et al., 1995) e doenças (Boff
et al., 1992), além da melhor distribuição da radiação solar ao longo do dossel
das plantas. Todos estes fatores contribuem com a manutenção de taxas
fotossintéticas elevadas e, conseqüentemente, com a maior disponibilidade de
fotoassimilados para o enchimento dos
frutos.
A maior produção total e comercial
de tomates nos métodos de tutoramento
vertical também decorreu do maior número total, comercial e Extra AA de frutos produzidos, em relação ao cruzado
(Tabela 2). O número de frutos por haste está relacionado ao número de
racimos por haste e o número de frutos
por racimo (Sandri et al., 2002). O número de racimo por haste não foi influenciado pelos métodos de
tutoramento e de condução no presente
experimento, sendo fixado pelo desponte entre 9-10 racimos por haste. O nú241
AF Wamser et al.
mero de frutos por racimo pode ser influenciado pela taxa de fecundação (AlAttal et al., 2003) e pela posterior taxa
de abortamento de frutos (Sandri et al.,
2002). No método de tutoramento cruzado, os órgãos das plantas localizados
no interior do “V” invertido estão submetidos à menor quantidade de ventilação e radiação (Santos et al., 1999). Provavelmente, a menor ventilação e a dificuldade de ação dos insetos sob o “V”
invertido podem estar contribuindo para
a menor vibração das flores localizadas
nesta região. Este é um importante mecanismo que auxilia na autopolinização
do tomate (Al-Attal et al., 2003). Com
a menor radiação ao longo do dossel das
plantas no método cruzado existe, também, uma menor disponibilidade de
fotoassimilados para o desenvolvimento de frutos. Essa deficiência induz a
planta a ajustar o número de frutos pelo
abortamento de flores (Picanço et al.,
1998) e frutos (Sandri et al., 2002).
Entre os métodos verticais, o com
bambu foi superior para a produção comercial e extra AA de frutos, nas duas
safras, e para a produção total de frutos
na safra 2005/2006 (Tabela 1). Uma das
diferenças visualmente constatadas entre os métodos de tutoramento vertical
é a maior curvatura da base do caule das
plantas nos métodos com fitilho e mexicano, em relação ao com bambu. Esta
curvatura aconteceu porque os fitilhos,
no mexicano, e o arame superior de fixação dos fitilhos, no vertical com
fitilhos, não suportaram o peso conjunto das plantas na mesma intensidade que
os bambus, no método vertical com
bambu. É possível que esta curvatura da
base do caule esteja influenciando a produção de frutos, com maior efeito no
número de frutos por hastes (Tabela 2),
visto que as diferenças entre o peso
médio de fruto não foram suficientes
para explicar as diferenças entre métodos de tutoramento vertical (Tabela 3).
Com relação ao método de condução, nas duas safras houve maior produção total e comercial de frutos com a
condução de uma haste por planta (Tabelas 1 e 2). Como se manteve o mesmo número de hastes por área, para cada
cultivar, o aumento da produção de frutos com a condução de uma haste por
planta pode estar relacionado à diminui242
ção da competição intraplanta por água
e nutrientes, visto que há um sistema
radicular para cada haste, além de existir melhor distribuição das hastes na fila
diminuindo a competição entre estas por
luz. Carvalho & Tessarioli Neto (2005)
observaram maior produção comercial de
frutos com a condução de duas hastes por
planta enquanto Marim et al. (2005) não
constataram diferenças expressivas na
produção total e comercial de frutos com
a condução de uma ou duas hastes por
planta. Porém, estes autores consideraram um único espaçamento entre plantas na avaliação do efeito do número de
hastes por planta, o que resultou no dobro de hastes por área para a condução
de duas hastes por planta.
A condução de uma haste por planta
também proporcionou maior produção
de frutos Extra AA, na safra 2004/2005,
e Extra A, na safra 2005/2006, não se
diferindo para as demais classes, exceto
para produção de frutos descarte na safra 2005/2006. Carvalho & Tessarioli
Neto (2005) e Marim et al. (2005) também observaram incremento na produção de frutos de melhor classificação
com a condução de uma haste por planta, porém houve maior produção de frutos de menor classificação com a condução de duas hastes por planta. O efeito do aumento da produção de frutos
total e comercial, com a condução de
uma haste por planta, possivelmente
ocorreu em razão do aumento do número de frutos por haste (Tabela 2), visto
que o peso médio de fruto não variou
muito entre métodos de condução de
plantas (Tabela 3). Houve maior produção de frutos para descarte com a condução de plantas com uma haste na safra 2005/2006. Segundo Oliveira et al.
(1996) a condução de uma haste por
planta favorece o aparecimento de frutos
rachados e amarelecidos devido à menor
proteção dos frutos pelas folhas contra a
incidência direta da radiação solar.
Pela análise dos resultados pode-se
concluir que os métodos de tutoramento
vertical proporcionam maior produção
e qualidade de tomates em relação ao
método cruzado. Entre os métodos de
tutoramento vertical a utilização de
bambu como tutor favorece a maior produção de tomates. Já para os métodos
de condução de plantas, a condução de
uma haste por planta proporciona maior
produção de tomates em relação à condução de duas hastes por planta.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem às empresas
Agrocinco/Nirit Seeds Ltda e Sakata
Seed Sudamérica Ltda pelo apoio na
implantação dos experimentos.
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Ronan Gualberto; Paulo Sérgio R de Oliveira; Alexandre de M Guimarães
UNIMAR, Faculdade de Ciências Agrárias, C. Postal 554, 17525-902 Marília–SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de avaliar a produção de cultivares de tomate de
mesa, cultivadas em ambiente protegido, foi conduzido em 2003
um experimento na Universidade de Marília (SP), com dez híbridos
(AF 4392, Carmen, Débora Max, Diana, Duradoro, Fanny, Raisa N,
Séculus, Sheila e Tilila). O delineamento experimental foi blocos
casualizados com quatro repetições e parcelas quatro plantas úteis.
Ocorreram diferenças significativas (p<0,01) entre as cultivares para
todas as características avaliadas. A produtividade de frutos comerciais (diâmetro superior a 50 mm) foi semelhante entre todas as cultivares, variando de 154,3 (híbrido AF 4392) a 125,2 t ha-1 (híbrido
Débora Max), exceto pelo híbrido Tilila (88,0 t ha-1), que foi inferior
aos demais. Os híbridos AF 4392 (176 g) e Duradoro (175 g) foram
os que apresentaram os frutos mais pesados, embora sem diferirem
dos híbridos Fanny (164 g), Sheila (155 g), Carmen (150 g) e Séculos (149 g). O híbrido Débora Max foi o único a apresentar valor
igual 1,00 para a relação diâmetro transversal:longitudinal. Todos
os demais híbridos apresentaram médias para a relação entre diâmetros superior a 1,00.
Performance of fresh market tomato cultivars under
protected cultivation
The yield of fresh tomato cultivars was evaluated under protected
cultivation. The experiment was carried out in 2003, at the University
of Marília. Ten hybrids (AF 4392, Carmen, Debora Max, Diana,
Duradoro, Fanny, Raisa N, Seculus, Sheila, and Tilila) were evaluated
in a randomized complete blocks design, four replications and plots
of four useful plants. There were significant differences (p<0,01)
among genotypes for all characteristcs. Commercial fruits (diameter
>50 mm) yield was similar among all genotypes, ranging from 154.3
t ha-1 (AF 4392 hybrid) to 125.2 t ha-1 (Debora Max hybrid), except
for the hybrid Tilila (88.0 t ha-1), lower than the others. Hybrids AF
4392 (176 g) and Duradoro (175 g) were those with the heaviest
fruits, although similar to hybrids Fanny (164 g), Sheila (155 g),
Carmen (150 g), and Seculos (149 g). Hybrid Debora Max was the
only one to present the ratio longitudinal:transversal diameter equal
to 1,0. All other hybrids showed average for this ratio superior to
1,00.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, genótipos, produtividade, peso médio de frutos, relação diâmetros transversal:longitudinal.
Keywords: Lycopersicon esculentum, genotypes, yield, fruit weight,
ratio longitudinal:transversal fruit diameter.
(Recebido para publicação em 31 de Janeiro de 2006; aceito em 14 de abril de 2007)
A
cultura do tomateiro (Lycopersicon
esculentum Mill.) desempenha importante papel na economia nacional,
despontando como o principal produto
olerícola. O Brasil se destaca entre os
dez maiores países produtores, tendo
alcançado, em 2003, um total de
3.641.400 toneladas de tomate
(Agrianual, 2004). Do total produzido
no país, cerca de 77%, ou seja, mais de
2 milhões de ton., são destinados ao
mercado in natura (tomate de mesa ou
estaqueado) (Oliveira, 2005). A produção de tomates para o consumo in natura
no país sofreu grandes transformações
tecnológicas nesta última década. Um
dos principais ajustes se refere à
segmentação no campo de cultivares.
Merece destaque o crescimento da nova
geração de híbridos do grupo Salada,
que substituíram as tradicionais cultivares japonesas de frutos exageradamente
grandes e moles. Andreuccetti et al.
244
(2005) em trabalho onde caracterizaram
a comercialização de tomate de mesa na
CEAGESP, detectaram que as cultivares que predominam no mercado são
Carmen e Débora.
Embora seja considerada uma espécie de ampla capacidade de adaptação
às condições adversas do ambiente, as
dificuldades climáticas podem reduzir
substancialmente a produção das referidas cultivares, seja por danos diretos
à cultura ou por favorecerem a incidência de pragas e doenças de difícil controle (Makishima & Miranda, 1995). O
cultivo protegido de hortaliças, em expansão no Brasil, permite total ou parcial controle da velocidade do vento,
umidade relativa e temperatura-ambiente, podendo proteger as lavouras de insetos e proporcionando produtos de
melhor qualidade (Grodzky & Brenner,
1992; Andriolo, 2000). Em outros países, a produção em ambiente protegido
tem se tornado prática comum (Wittwer
& Castilla, 1995).
Embora a disponibilidade de cultivares especialmente adaptada a ambientes protegidos seja ainda limitada, a produção de tomate nessas condições encontra-se em franca expansão no Brasil, sobretudo nas regiões Sudeste e Sul.
Em vista do manejo diferenciado, essa
modalidade de cultivo demanda cultivares bem adaptadas e que proporcionem o máximo de rendimento de produtos e com elevado padrão de qualidade. Porém, na maioria das vezes, esse
sistema de cultivo se dá em épocas marginais e, com isto, muitos problemas
surgem durante o cultivo. Os principais
desafios encontrados estão relacionados
à fisiologia de plantas, doenças diferenciadas, nutrição, irrigação, polinização
e fecundação (Takazaki, 1989).
Um dos principais fundamentos do
cultivo em ambiente protegido é o emHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-mai. 2007
Desempenho de cultivares de tomateiro para mesa em ambiente protegido
prego de cultivares adequadas para tal
fim. Vários trabalhos têm sido feitos,
buscando-se as melhores opções de cultivares e/ou híbridos para o cultivo protegido do tomate. Nestes trabalhos têm
sido verificadas variações nas produtividades, em razão de interações
genótipos x ambientes e práticas culturais adotadas nos diferentes ensaios
(Gualberto et al., 2002a; Caliman et al.,
2005). Quando se associa genótipos com
alto potencial produtivo e manejo de
condições ambientais favoráveis obtêmse elevados índices de produtividade,
proporcionando aumentos de produção
de 25 a 40% devido à maturação precoce, melhor uniformidade, maior vigor
inicial e desenvolvimento, melhor qualidade de frutos, resistência a doenças e
capacidade de adaptação mais ampla
(Melo et al., 1988).
Objetivou-se com esta pesquisa estudar o desempenho de híbridos de tomate de mesa cultivados em ambiente
protegido.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa-de-vegetação, da Universidade de
Marília-SP (22º 12’ 50’’S; 49º 56’ 45’’W;
610 metros de altitude) de março a setembro de 2003. Foram avalizados nove
híbridos comerciais de tomate de mesa
(Carmen, Débora Max, Diana, Duradoro,
Fanny, Raisa N, Séculus, Sheila e Tilila)
e um híbrido experimental (AF 4392),
todos de hábito de crescimento
indeterminado. O híbrido Débora Max
pertence ao grupo Santa Cruz e os demais ao grupo Salada.
A casa-de-vegetação utilizada foi do
tipo túnel alto, cobertura plástica de 150
micras de espessura, laterais protegidas
com telas de polipropileno preto 50%
de sombreamento e 4 m de pé-direito.
O delineamento experimental utilizado
foi blocos casualizados, com quatro repetições. Cada parcela foi composta por
duas fileiras com doze plantas. Foram
utilizadas fileiras duplas espaçadas de
1,00 m, com 0,50 m entre fileiras simples e 0,50 m entre plantas. A parcela
útil foi constituída por quatro plantas.
As mudas foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido com 128
células piramidais e quando atingiram
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Produtividade de frutos comerciais, peso médio e relação diâmetro
transversal:longitudinal de frutos, de cultivares de tomateiro, cultivadas em ambiente protegido (Marketable fruit yield, average fruit weight and ratio transversal:longitudinal fruit
diameter, of tomato cultivars under protected cultivation). Marília, Unimar, 2003.
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si, teste de Tukey, p < 0,05
(Means followed by the same letter in the column do not differ from each other, Tukey´s
test, p < 0.05).
1/
Frutos com diâmetro transversal superior a 50 mm (Fruits with transversal diameter larger
than 50 mm)
o estágio de quatro a cinco folhas definitivas (38 dias após a semeadura) foram transplantadas para o local definitivo. Por ocasião do transplantio, a adubação foi feita nas doses recomendadas
(Makishima & Miranda, 1995), de acordo com a análise química do solo: pH
(CaCl2) = 6,3; P = 333 mg dm-3; K =
12,3 mmolc dm-3; Ca = 63 mmolc dm-3;
Mg = 19 mmolc dm-3; Al = 0 mmolc. dm-3;
H+Al = 11 mmolc dm-3; T = 105 mmolc
dm-3; V = 90% e MO = 28 g dm-3. As
plantas foram conduzidas com uma haste, fazendo-se desbrotas laterais semanalmente e poda apical quando as plantas atingiam 2,0 m de altura.
A irrigação foi feita por gotejamento
e o controle fitossanitário de pragas e
doenças foi realizado preventivamente
através de pulverizações a cada vinte
dias com os seguintes produtos:
Mancozeb (2,4 kg i.a. ha -1 ),
Tebuconazole (250 g i.a. ha -1 ),
Lufenurom (400 g i.a. ha-1), Abamectin
(180 g i.a. ha-1), Fentoato (200 g i.a. ha-1)
e Cartap (500 g i.a. ha-1). Foi realizada
alternância na aplicação dos produtos,
principalmente dos inseticidas.
Em todas as nove colheitas semanais, iniciadas em 31/07/03, avaliou-se
a produtividade de frutos comerciais
(frutos com diâmetro transversal superior a 50 mm), o peso médio e a relação
diâmetro transversal:longitudinal de frutos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e, as médias,
comparadas pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferença significativa
(p<0,01) entre híbridos para todas as
características avaliadas (Tabela 1).
A produtividade comercial é a primeira característica considerada ao se
avaliar o desempenho de cultivares de
tomateiro. Para essa característica, à
exceção do híbrido Tilila, todos os demais apresentaram desempenho semelhante. O híbrido Sheila também havia
apresentado bom desempenho em experimento conduzido em campo, em Pará
de Minas (MG) (Palaretti et al., 2004).
O desempenho significativamente inferior do híbrido Tilila evidencia a necessidade de testar diferentes cultivares
antes de utilizá-las em ambientes específicos. Vale ressaltar que o híbrido Carmen, que está há mais tempo no mercado, mostrou uma produtividade muito
boa, confirmando resultados de outros
autores, também em ambiente protegido (Camargos et al., 2000; Marques et
al., 2000; Gualberto et al., 2002a,b;
Carvalho, 2003; Fontes et al., 2004;
Caliman et al., 2005).
245
R Gualberto et al.
Os híbridos AF 4392 e Duradoro
foram os que apresentaram os frutos significativamente mais pesados, 176 e 175
g, respectivamente, embora não tenham
se diferenciado estatisticamente dos híbridos Fanny, Sheila, Carmen e Seculus.
Este é um relevante componente da produção, além de ser a melhorar maneira
de exprimir indiretamente o tamanho
dos frutos. Apesar de existirem diferenças entre os híbridos para a relação diâmetro transversal:longitudinal, apenas a
cultivar Débora Max apresentou valor
igual a 1,00, indicando um formato
oblongo, o que era esperado por ser este
o único híbrido pertencente ao grupo
Santa Cruz entre todos avaliados neste
experimento. Esta é uma das características mais indicadas para seleção de frutos de tomate, principalmente porque
esses frutos destinam-se ao mercado de
mesa. Os frutos com relação diâmetro
transversal:longitudinal superior a 1,00
são frutos maiores, mais valorizados e
de maior aceitação.
Neste experimento, constatou-se
mais uma vez a importância de se testar
cultivares em ambientes específicos,
como é o caso de cultivo em ambiente
protegido. Houve diferenças significativas entre os materiais avaliados, destacando-se os híbridos Sheila, Duradoro,
Fanny, Séculos e Carmen, este último
há mais tempo no mercado, além do híbrido experimental AF 4392, ainda não
lançado comercialmente, mas que se
mostrou promissor para o cultivo em
ambiente protegido.
246
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covas. Horticultura Brasileira 25:247-251.
Produtividade de cultivares de cebola em função do número de mudas
por célula de bandeja e espaçamento entre covas
Pablo Forlan Vargas1; Leila Trevizan Braz1; André May2
1
UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal–SP; 2IAC/Campinas,
Pesquisador; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Objetivando avaliar a produtividade de cultivares de cebola em
função do espaçamento entre covas e número de mudas por célula
de bandeja, foi instalado um experimento na região de São José do
Rio Pardo-SP. O delineamento experimental utilizado foi de blocos
ao acaso, em esquema fatorial 2 x 2 x 3, com quatro repetições. Os
fatores avaliados foram os híbridos Princesa e Superex, duas e três
mudas por célula de bandeja e espaçamentos entre covas de 8, 12 e
14 cm. A produtividade foi influenciada apenas pelo fator cultivar,
sendo que ‘Superex’ (68,9 t ha-1) produziu 33,1% a mais que ‘Princesa’ (51,7 t ha-1). Conclui-se que a cultivar Superex apresentou maior
produtividade em relação à ‘Princesa’ e que a maior massa de bulbos foi obtida no espaçamento entre covas de 14 cm com duas mudas por célula de bandeja em ambas cultivares.
Yield of onion cultivars as a result of the number of seedlings
per cell tray and within hole spacing
Palavras-chave: Allium cepa, densidade de plantas, distribuição
espacial, transplante.
The yield of onion cultivars was evaluated as a result of within
row spacing and number of seedlings per cell tray. The experiment
was performed in São José do Rio Pardo, São Paulo State, Brazil.
The experimental design was of randomized blocks, and the
treatments were arranged in a factorial scheme 2 x 2 x 3, with four
replicates. The evaluated factors were two hybrids Princesa and
Superex; two and three seedlings transplants per tray cell and three
within hole spacing of 8, 12 and 14 cm. Bulb yield was influenced
only by the cultivar factor, being ‘Superex’ (68,9 t ha-1) 33,1%
superior than ‘Princesa’ (51,7 t ha-1). The cultivar Superex presented
higher yield in relation to ‘Princesa’ and a greater bulb mass was
obtained when adopting the hole spacing of 14 cm with two seedlings
transplants per tray cell in the two cultivars.
Keywords: Allium cepa, plants density, spatial distribution,
transplant.
(Recebido para publicação em 22 de fevereiro de 2006; aceito em 8 de março de 2007)
A
cebola (Allium cepa L.) é um dos
produtos olerícolas de maior importância no Brasil, suplantada apenas
pelo tomate e pela batata (Cardoso &
Costa, 1999). Os maiores produtores
mundiais são a China (17.544.660 t), a
Índia (5.000.000 t), e os Estados Unidos (3.162.750 t), sendo o Brasil o nono
maior produtor (FNP Consultoria e Comércio, 2005).
A produção brasileira, em 2004, foi
de 1.153.237 t, em uma área de 58.611
ha, o que resulta em uma produtividade
média de 20,0 t ha-1. O estado de São
Paulo possui a segunda maior produtividade (28,0 t ha-1) e produção (200.800
t) do País (FNP Consultoria e Comércio, 2005). As principais regiões produtoras de São Paulo são os municípios
de Piedade, São José do Rio Pardo e
Monte Alto (Minami & Tessarioli Netto,
1994; Vidigal et al., 2002).
Em São Paulo, a safra de cebola
compreende o período de junho a dezembro; para tanto, o estado possui épocas e sistemas de cultivos distintos. CoHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
lheitas precoces são obtidas pelo sistema de cultivo de bulbinhos, sendo o
maior volume oriundo de transplante de
mudas (May, 2006).
Atualmente, a cultura tem se expandido com o aparecimento de novas áreas
de produção, principalmente em Goiás,
Distrito Federal e Minas Gerais, tendo
acarretado o crescimento da oferta anual
de cebola. Assim, novos sistemas de
cultivo têm sido introduzidos visando à
oferta em épocas de escassez do produto, bem como a melhoria da produtividade e qualidade do bulbo e, como conseqüência, a redução dos custos de produção, visto que a margem de lucro é
cada vez menor (Vargas, 2005).
Ferreira (2000) cita que alguns produtores, ao invés de utilizarem mudas
provenientes de canteiros, produzem
mudas em bandejas de poliestireno de
288 células; em geral, o transplante
ocorre com três plantas por célula.
A utilização de mudas produzidas
em bandejas pode antecipar a colheita,
pois, sendo a produção realizada em
ambiente protegido, essa pode coincidir com o período chuvoso do ambiente
natural, que pode ser prejudicial. No sistema convencional de produção de mudas de raiz nua e da semeadura direta
de cebola, há necessidade de se aguardar o término do período chuvoso para
dar início à implantação da cultura
(Vargas, 2005).
Culturas estabelecidas com mudas
de bandejas, além do menor ciclo, geralmente exigem menos irrigações, pulverizações e tratos culturais (Fontes &
Silva, 2002), menor gasto com sementes, obtenção de mudas mais vigorosas
e com melhor uniformidade. Aliado a
isto, existe a possibilidade da produção
de mais de uma muda por célula de bandeja, o que vem contribuir para a redução do custo por muda produzida
(Ferreira, 2000).
Com a introdução desta nova
tecnologia de produção de mudas em
bandejas com mais de uma muda por
célula, algumas dificuldades têm surgido, como a escolha ideal do espaçamento
247
PF Vargas et al.
entre covas para diferentes números de
mudas por célula, pois, até o momento,
não há trabalhos que estabeleçam
espaçamentos ideais para diferentes números de mudas por célula.
As melhores remunerações são obtidas pelos bulbos classificados como
médios (50 a 70 mm de diâmetro, classificados como das classes 3 e 3 cheio).
Dessa forma, distribuições espaciais de
plantas visando a atender a essa demanda, tornam-se necessárias. De acordo
com a população de plantas na área, a
competição por água, luz e nutrientes
faz com que o tamanho dos bulbos e a
produtividade total variem (Nichols,
1967). Assim, o estudo do espaçamento
entre covas, em função do número de
mudas por célula, torna-se de grande
importância. O objetivo deste trabalho
foi avaliar a produtividade e a massa de
bulbos de cebola em função do
espaçamento entre covas e do número
de mudas por célula de bandeja, em duas
cultivares de cebola.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
município de São José do Rio Pardo
(SP), a 21° 35’ de latitude sul e 43° 53’
de longitude oeste, na Fazenda Santa
Manoela, com uma altitude aproximada de 900 m. O clima encontra-se em
área de transição dos tipos Aw e Cwa,
segundo classificação de Köppen, com
verão chuvoso e inverno seco, com precipitação anual entre 1.100 a 1.700 mm.
Análises química e física do local do
experimento, realizadas na UNESPFCAV, apresentaram: pH em CaCl2=5,7;
MO=18,0 g dm-3; Presina=191,0 mg dm-3;
K=3,8 mmolc dm-3; Ca=62,0 mmolc dm-3;
Mg=30,0 mmol c dm -3 ; H+Al=22,0
mmol c dm -3 ; SB=95,8 mmol c dm -3 ;
T=117,8 mmolc dm-3; V%=81,0; argila=410,0 g kg-1; limo=150,0 g kg-1; areia
fina=200,0 g kg-1 e areia grossa=240,0
g kg-1, sendo o solo classificado como
argiloso.
O preparo do solo constou de uma
aração e duas gradagens. Os canteiros
foram levantados com auxílio de um
rotoencanteirador, à altura de 15 cm,
tendo a largura do canteiro 1,5 m de base
e 1,2 m de topo.
A adubação de plantio foi realizada
seguindo as recomendações de Trani et
248
al. (1996), fornecendo por hectare 30,0
kg de N, 90,0 kg de P2O5 e 60,0 kg de
K2O, sendo aplicada toda a dose sobre
os canteiros e incorporada com auxílio
do rotoencanteirador.
A semeadura ocorreu em 06/03/04,
em bandejas de poliestireno expandido
de 288 células, preenchidas com
substrato Plantmax HT ®, sendo
semeadas quatro sementes por célula de
bandeja, com posterior desbaste, em
casa de vegetação, sendo irrigadas diariamente. O transplante ocorreu 32 dias
após, quando as mudas se encontravam
com 15,0 cm de altura e cerca de 5,0
mm de diâmetro do pseudocaule. O
transplante ocorreu no final da tarde com
o solo umedecido.
O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x
2 x 3, com quatro repetições. Os fatores
avaliados foram os híbridos Princesa e
Superex, duas e três mudas por célula de
bandeja e espaçamentos entre covas de
8; 12 e 14 cm, caracterizando seis arranjos de plantio: 2 plantas por célula x 8
cm entre covas (83,3 plantas m-2); 2 plantas por célula x 12 cm entre covas (55,5
plantas m-2); 2 plantas por célula x 14 cm
entre covas (47,6 plantas m-2); 3 plantas
por célula x 8 cm entre covas (125,0 plantas m-2); 3 plantas por célula x 12 cm entre covas (83,3 plantas m-2), e 3 plantas
por célula x 14 cm entre covas (71,4 plantas m-2). Cada parcela teve quatro linhas
com espaçamento de 0,3 cm, comprimento 2,5 m e largura de 1,2 m, perfazendo
área total da parcela de 3,0 m2. A área
total do experimentou ocupou cerca de
204,0 m2.
A marcação das distâncias entre covas foi realizada com auxílio de três
furadores, correspondentes às distâncias
entre covas de 8; 12 e 14 cm. O transplante foi realizado utilizando-se duas
e três mudas por cova. As adubações de
cobertura foram realizadas aos 21 e 50
dias após o transplante, fornecendo em
cada uma delas 25,0 kg de N e K2O, através de 125,0 kg ha-1 da formulação 2000-20. O controle de pragas e doenças
foi realizado de acordo com a necessidade da cultura, assim como as capinas
manuais para o controle de plantas daninhas. As irrigações foram feitas pelo
sistema de aspersão convencional, conforme a necessidade da cultura.
As características das cultivares utilizadas são: Princesa, híbrido de dias
curtos, ciclo de 130-150 dias, catáfila
dourada, fechamento de talo firme, formato arredondado e bulbos uniformes,
com centro único; folhagem muito vigorosa; excelente resistência à raiz rosada e boa capacidade de
armazenamento (SEMINIS, s.d.);
Superex, híbrido precoce de ciclo curto
(120 dias), formato redondo baixo, bulbo de pouca catáfila, de coloração clara, pouco pungente; porte baixo, folhas
com menor cerosidade que a cultivar
Princesa (TAKII, s.d.).
A colheita ocorreu, em 1,0 m linear
das duas fileiras centrais (0,6 m2) em 25/
08/04, quando 75% das plantas de todo
o experimento “estalaram”, sendo arrancadas manualmente e dispostas no solo
para o processo de cura a campo, permanecendo por dois dias. Após a cura
avaliaram-se a produtividade e a massa
do bulbo (g bulbo-1), calculada pela divisão da massa total de bulbos coletados
por área útil da parcela pelo número total de bulbos da parcela. Na Figura 1,
são apresentados os valores médios
mensais de temperaturas e precipitações
ocorridas durante o experimento
(COOXUPÉ, 2005).
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância (teste F), usandose o programa estatístico Estat (UNESPJaboticabal - SP). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (5%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O período do experimento (março a
agosto) foi caracterizado por meses com
grandes oscilações de precipitação. Verificou-se, no mês de maio, um elevado
valor de precipitação (169,0 mm), seguido dos meses de junho e julho, com
35,0 e 49,4 milímetros, respectivamente, fato atípico para o período. As temperaturas máximas oscilaram de 14 a
32ºC e as mínimas de 4 a 20ºC
(COOXUPÉ, 2005).
O ciclo da cultura foi de 172 dias,
sendo superior ao normalmente encontrado para as cultivares estudadas. Esse
ciclo pode ter sido alterado pelo excesso de água no solo porque, durante o
experimento, observou-se um volume
total de 422,6 mm, ocasionado pelas
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produtividade de cultivares de cebola em função do número de mudas por célula de bandeja e espaçamento entre covas
precipitações. O excesso de água no solo
proporciona um prolongamento do crescimento das folhas (Ferreira, 2000) e
atrasa o processo de maturação (Maluf,
1999). Conforme Riekels (1977), esse
atraso é da ordem de 5 a 19 dias, porém
Maluf (1999) afirma que este é de, no
mínimo, 20 dias.
A temperatura máxima média variou
de 23 a 27,1ºC e a mínima de 9 a 16,8ºC.
Verificaram-se, durante o experimento,
34 dias com temperaturas abaixo de
10ºC, as quais também contribuíram
para o prolongamento do ciclo. Temperaturas ideais para a bulbificação estão
entre 15 e 25ºC; ocorrendo temperaturas abaixo de 15ºC, a bulbificação torna-se tardia (Blank et al., 1997; Maluf,
1999; Costa et al., 2002).
A produtividade de bulbos foi influenciada somente pelo fator cultivar
(Tabela 1). A cultivar Superex (68,9 t
ha-1) produziu 33,1% a mais que a cultivar Princesa (51,7 t ha-1), denotando
menor capacidade produtiva desta última. Essas produtividades são bem maiores que a média brasileira (20,0 t ha-1) e
do estado de São Paulo (28,0 t ha-1) (FNP
Consultoria e Comércio, 2005). Na região de São José do Rio Pardo, onde o
experimento foi conduzido, boas produtividades estão em torno de 45 t ha-1
(Vargas, 2005).
Não houve diferença estatística do
fator espaçamento entre covas para produtividade (Tabela 1). As produções
encontradas ficaram entre 57,1 t ha-1 (14
cm) e 62,0 t ha-1 (8 cm). Dados semelhantes foram encontrados por Reghin
et al. (2004), com a cultivar Crioula e
utilizando quatro espaçamentos (5; 8; 11
e 14 cm), onde os autores observaram
que não houve diferenças significativas
na produção final. Nesse mesmo trabalho, a maior produção foi da cultivar
Bola Precoce quando em menor
espaçamento entre plantas (5 cm), demonstrando, assim, que há comportamento diferenciado entre genótipos
quando se altera a densidade de plantio.
De modo semelhante, Coelho et al.
(1996) não encontraram diferenças significativas para produção total de bulbos, quando trabalharam com cinco
espaçamentos (0,30 m x 0,08 m; 0,20 m
x 0,08 m; 0,10 m x 0,08 m; 0,15 m x
0,10 m e 0,10 m x 0,10 m) na região de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Valores médios para a produtividade de bulbos, em função de cultivares, espaçamento
entre covas e mudas por célula de bandeja, valores de F, significância e coeficientes de variação
(Average values for the yield of bulbs, as a result of cultivars, spacing among holes and plantlets
in each tray cell, F values, significance and variation coefficients). Jaboticabal, UNESP, 2004.
Médias seguidas pela mesma letra coluna não diferem entre si pelo teste Tukey ao nível de
5 % de probabilidade; ns, **respectivamente, não significativo a 5% de probabilidade e
significativo a 1% de probabilidade pelo Teste F (Means followed of same letter in the
column did not differ through the Tukey test (p≤0,05) ns, **respectively, non-significative
on the level of 5% probalility and, 1% probability through the F test).
Figura 1. Precipitações pluviométrica (mm) e médias das temperaturas máximas e mínimas, no município de São José do Rio Pardo, durante o período de realização do experimento (Pluviometric rainfall (mm) and average of maximum and minimum temperatures, in São
José do Rio Pardo, during the experiment conduction). Jaboticabal, UNESP, 2004.
Parnaíba (PI). Todavia, Siqueira et al.
(2004) verificaram diferenças na produtividade quando se alterou a densidade
de plantas (0,30 m x 0,07 m a 0,20 m x
0,07 m), pois, à medida que houve diminuição do espaçamento, aumentou-se
a produtividade.
Não houve diferença estatística do
número de mudas por célula de bandeja
(Tabela 1) sobre a produtividade, o que
concorda com os resultados de Herison
et al. (1993), que estudaram o efeito de
uma, duas e três plantas por célula e não
encontraram diferenças para produtividade.
Para a massa do bulbo, houve efeito
significativo para todos os fatores estudados isoladamente, com interação significativa entre “cultivares” vs.
“espaçamento entre covas” e “número
de plantas por célula” vs. “espaçamento
entre covas”.
Para a interação “cultivares” vs.
“espaçamento entre covas”, observouse um aumento na massa de bulbo, em
ambas cultivares, à medida que se au249
PF Vargas et al.
Tabela 2. Valores médios para a massa de bulbos, em função da interação entre espaçamento entre
covas vs. cultivares e espaçamento entre covas vs. mudas por célula de bandeja (Average values for
bulbs mass, as a result of the interaction among holes spacing and cultivars and, among holes
spacing and number of plantlets in each hole of the tray). Jaboticabal, UNESP, 2004.
tre covas de 14 cm com duas mudas por
célula de bandeja em ambas cultivares.
AGRADECIMENTOS
O primeiro autor expressa seus agradecimentos à CAPES pela concessão da
bolsa de estudos e ao Sr. Adriano
Quilises, pela concessão da área e apoio
para a realização do experimento.
REFERÊNCIAS
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si pelo teste Tukey ao nível de 5 % de probabilidade. (Means followed of same capital
letter in the line and little letter in the column did not differ through the Tukey test (p≤0,05)
mentou o espaçamento entre covas.
Dentro do intervalo estudado, as cultivares apresentaram maior massa no
espaçamento entre covas de 14 cm, sendo 138,2 g e 168,7 g, respectivamente
para ‘Princesa’ e ‘Superex’. Independentemente do espaçamento entre covas
utilizado, a cultivar Superex sempre se
mostrou superior à ‘Princesa’ (Tabela 2).
Desta forma, à medida que ocorreu aumento no espaçamento entre covas,
ocorreu aumento na massa do bulbo,
fato também verificado por HatridgeEsh & Bennett (1980), Stofella, (1996)
e Reghin et al. (2004). Santos et al.
(2000) também verificaram redução significativa na massa do bulbo com o aumento da densidade de plantas. No entanto, os autores encontraram reflexos
negativos do aumento da densidade na
produtividade, diminuindo de 42,4 para
26,2 t ha-1 nos espaçamentos de 5 e 15
cm, respectivamente, o que difere dos
resultados do presente trabalho. Provavelmente, porque os espaçamentos utilizados pelos autores sejam superiores
(5, 10 e 15 cm entre plantas) ao deste
trabalho, não foram observados perdas
na produtividade quando se alterou o
espaçamento entre covas. Reghin et al.
(2004) verificaram, em Ponta Grossa
(PR), que o rendimento total de bulbos
de cebola é aumentado de acordo com o
incremento na densidade de plantas. No
entanto, o tamanho de bulbos ou a massa de bulbo diminuem. Rumpel &
Felczynski (2000) também verificaram
que a produção de bulbos graúdos é
gradativamente decrescente com o aumento da população de plantas. Os
maiores bulbos foram produzidos nas
250
populações de 20 a 40 plantas m-2, enquanto os menores foram obtidos na
população de 140 plantas m-2.
Para a interação “número de mudas
por célula” vs. “espaçamento entre covas”, verificou-se aumentos significativos na massa de bulbo à medida que se
aumentou o espaçamento entre covas,
exceto quando se elevou o espaçamento
de 12 para 14 cm utilizando 3 mudas
por célula de bandeja (Tabela 2). Independentemente do espaçamento entre
covas utilizado, os bulbos produzidos
com duas mudas por célula de bandeja
tiveram maior massa que aqueles produzidos com três mudas por célula de
bandeja. A maior massa de bulbo, dentro do intervalo estudado, foi encontrada com duas mudas por célula de bandeja, no espaçamento de 14 cm entre
covas (185,3 g).
Com o aumento do número de mudas por célula, juntamente com a diminuição dos espaçamentos entre covas,
observou-se que houve maior competição entre as plantas, proporcionando
reduções significativas na massa do bulbo. De acordo com Rabinovich &
Brewster (1990), com o desenvolvimento da cultura, a competição entre plantas por luz e nutrientes aumenta, alterando o processo de bulbificação. Para
qualquer número de mudas por célula
estudada, houve incremento na massa
do bulbo com o aumento no
espaçamento entre covas.
Conclui-se que a cultivar Superex
apresentou maior produtividade em relação à ‘Princesa’ e que a maior massa
de bulbo foi obtida no espaçamento en-
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Desempenho de genótipos de coentro em Areia
Ademar P de Oliveira1,6; Paulo César T. de Melo2; Luiz Jorge da G Wanderley Júnior3; Anarlete U Alves4;
Macio F de Moura5; Arnaldo Nonato P de Oliveira4
1
UFPB, CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; 2USP-ESALQ Depto. Produção Vegetal, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP;
Hortivale, Rua Valdomiro R. de Andrade, 103, Matriz, 55612-612 Vitória de Santo Antão-PE; 4Estudante agronomia; 5Pós-graduando
em agronomia; 6bolsista CNPq; [email protected]
3
RESUMO
ABSTRACT
Avaliaram-se sete genótipos de coentro, sendo cinco linhagens
(HTV 9299, HTV 7299, HTV 0699, HTV 0999 e HTV 0199) e duas
cultivares comerciais (Verdão e Palmeira), de maio a julho de 2003
no município de Areia-PB, em delineamento de blocos casualizados
em quatro repetições. As cultivares Verdão (5,0 kg m-2) e Palmeira
(4,3 kg m-2) e as linhagens HTV 9299 (4,4 kg m-2), HTV 7299 (4,5
kg m-2) e HTV 0999 (4,3 kg m-2), apresentaram as maiores produções de massa verde (PMV), enquanto a linhagem HTV 0199, com
produção de 2,9 kg m-2, foi a menos produtiva. As linhagens HTV
7299 (0,73) e HTV 0199 (0,81) apresentaram os mais elevados valores para a relação folhas:talos. As cultivares Verdão e Palmeira e
as linhagens HTV 7299, HTV 0999, HTV 0699 e 9299 apresentaram 65; 58; 35; 29; 40 e 59%, respectivamente, de plantas pendoadas
aos 42 dias após a semeadura, enquanto a linhagem 0199 apresentou apenas 11%. A linhagem HTV 7299 pode ser uma alternativa
para os produtores de coentro da região de Areia.
Performance of coriander genotypes in the municipality of
Areia
Seven coriander genotypes were evaluated (lines HTV 9299,
HTV 7299, HTV 0699, HTV 0999,HTV 0199 and cvs. Verdão and
Palmeira), in Areia County, Paraiba State, Brazil, from May to July
of 2003 in randomized blocks in four replications. Verdão (5,0 kg m2
) and Palmeira (4,3 kg m-2) cultivars and the lines HTV 9299 (4,4
kg m-2), HTV 7299 (4,5 kg m-2) and HTV 0999 (4,3 kg m-2), exhibited
the greatest yield of green mass (GM), while the line HTV 0199,
with 2.9 kg m-2 of GM, showed the lowest yield. Lines HTV 7299
(0.73) and HTV 0199 (0.81) presented the largest values for the ratio
leaves:stalks. Verdão and Palmeira cultivars and lines HTV 7299,
HTV 0999, HTV 0699 and 9299 persented 65; 58; 35; 29; 40 and
59%, respectively, of plant bolting (PB) at 42 days after sowing date,
while Line HTV 0199 presented only 11%. Line HTV 7299 might
be an alternative for coriander cropping in Areia.
Palavras-chave: Coriandrum sativum L., genótipos, plantas
pendoadas, produção de massa verde.
Keywords: Coriandrum sativum L., genotypes, plants bolting, green
mass yield.
(Recebido para publicação em 29 de abril de 2006; aceito em 22 de maio de 2007)
O
coentro (Coriandrum sativum L.)
é uma hortaliça herbácea anual pertencente à família Apiaceae, nativa da bacia do Mar Mediterrâneo. Devido à versatilidade de uso, é uma olerácea de considerável valor e importância sócio-econômica mundial, em especial, na Ásia,
onde se localizam os países líderes de
produção e consumo (Diederichsen,
1996). Seu cultivo visa a produção de
massa verde fresca, enquanto os frutos
secos (sementes) são largamente utilizados na indústria de condimento, sendo o
principal ingrediente do “curry”, tempero muito utilizado nas culinárias hindu e
tailandesa. Alguns tipos varietais específicos são utilizados para extração de
óleos essenciais de alto valor agregado,
largamente empregados nas indústrias de
flavorizantes, comésticos, medicamentos
e de bebidas (Rangahau, 2001).
No Brasil, o coentro é a hortaliça
folhosa condimentar de maior consumo,
muito utilizada na culinária típica regional, especialmente nas regiões Norte e
252
Nordeste (Pedrosa et al., 1984; Marques
& Lorencetti, 1999). No estado da
Paraíba, é cultivado em quase todas as
micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma orientação técnica, o
que tem proporcionado baixa produtividade, principalmente devido à falta de
cultivares mais adaptadas às diferentes
zonas de cultivo.
Existem no mercado brasileiro cultivares de coentro de boa aceitação comercial, entretanto, não há um programa regional de avaliação de genótipos
visando identificar e recomendar aqueles de melhor adaptação às diversas condições agroecológicas das zonas de cultivo. A identificação de cultivares adaptadas e com maior potencial produtivo,
proporciona maior segurança aos produtores sendo, ainda, uma informação
que poderá facilitar a obtenção de crédito e aceitação do produto no mercado
consumidor (HamasakI et al., 1998).
No Brasil, pouca pesquisa tem sido
feita com o coentro, incluindo a tecnologia
adequada para a produção e desenvolvimento de novas cultivares (Pereira et al.,
2005). Soma-se a isso escassez de trabalhos de melhoramento genético com a espécie, e as cultivares hoje disponíveis estão sendo utilizadas nas diversas regiões
geográficas, sem se considerar as suas
possíveis diferenças de comportamento
nos diversos ambientes (Wanderley Júnior
& Melo, 2003). Por este fato, torna-se
importante a condução de experimentos
regionais visando estudar o comportamento de novos materiais. Esses estudos constituem importante ferramenta a ser utilizada na recomendação de cultivares e fornece subsídios para novos programas de
melhoramento genético. Também, a identificação de genótipos estáveis, que possam ser utilizados em diferentes zonas de
cultivo e épocas de plantio, é interessante
para as empresas do setor de sementes e
produtores (Alvarez & Curione, 1993; Peixoto et al., 1993).
Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento de novas linhagens
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Desempenho de genótipos de coentro em Areia
de coentro em comparação com as cultivares existentes no mercado, nas condições edafoclimáticas de Areia (PB).
Tabela 1. Produção de massa verde (PMV) e relação folhas:talos (RFT) em cultivares e
linhagens de coentro, nas condições de Areia-PB. (Yield green mass (YGM), and leaves:talks
(LT) in the lines and cultivars of coriander in Areia-PB, Brazil, conditions). Areia, CCAUFPB, 2003.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de
maio a julho de 2003, na UFPB, em
Areia, localizada a 6º 18’ 12" S e 32º
18’ 15" W, em altitude de 560 m. O clima é do tipo As’ segundo Köppen, quente e úmido, com precipitação média
anual de 1400 mm (Brasil, 1972). A temperatura média ( oC), a precipitação
pluviométrica (mm) e a umidade relativa (%) do período de execução do experimento foram, respectivamente: maio
= 21,8; 147,2; 90, junho = 19,1; 136,9,
90 e julho = 18,9; 192,4; 88.
O solo utilizado foi classificado
como NEOSSOLO REGOLÍTICO
psamítico típico (Embrapa, 1999), de
textura areia-franca, com as características química e física: pH (H2O) = 6,30;
P disponível = 21,80 mg dm-3; K = 34,19
mg dm-3; Ca+2 + Mg = 3,95 cmolc dm-3;
H + Al trocável = 0,0 cmolc dm-3 e matéria orgânica = 11,3 kg dm-3; areia =
841,50 g kg-1; silte = 88,00 g kg-1; argila
= 70,50 g kg-1; densidade do solo = 1,37
kg dm-3; densidade de partículas = 2,61
g dm-3 e porosidade total= 0,47 m3 m-3.
Foram avaliadas duas cultivares comerciais (Verdão e Palmeira) e cinco
linhagens (HTV 9299, HTV 7299, HTV
0699, HTV 0999 e HTV 0199) de
coentro, obtidas pelo programa de melhoramento genético da empresa
Hortivale Sementes do Vale Ltda localizada em Vitória de Santo Antão (PE),
em delineamento experimental de blocos casualizados, com quatro repetições.
As parcelas mediram 4,0 m2, com um
metro de largura e quatro de comprimento, contendo 266 plantas, sendo todas
consideradas úteis.
A adubação seguiu recomendações
do Laboratório de Química e Fertilidade de Solos da UFPB e constou da aplicação 5,0 kg m-2 de esterco bovino curtido e seco, 15,0 g m-2 de cloreto de potássio e de 56 g m2 de superfosfato simples, aplicadas cinco dias antes da semeadura, e de 25 g m2 de uréia, fornecido em adubação de cobertura, parcelado 50% aos 20 e 50% aos 40 dias após a
semeadura (DAS).
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Scott-Knott a 5%
de probabilidade. (Means with the same latter in the columns do not differ at 0.05 level of
probability, by Scott-Knott test)
O preparo do solo constou da confecções de canteiros e abertura de sulcos de plantio. As sementes foram distribuídas em sulcos longitudinais, distanciados de 25 cm a uma profundidade
de 3,0 cm, realizando-se o desbaste vinte
dias depois, deixando-se uma planta a
cada 5,0 cm. Durante a execução do
experimento realizaram-se os tratos culturais normais para a cultura, incluindo
irrigação por aspersão nos períodos de
ausência de precipitações, onde todos os
genótipos receberam a mesma lâmina de
água, e capinas manuais. Não se utilizou defensivos agrícolas, devido à baixa incidência de pragas e doenças.
Foram avaliados a produção de massa
verde (PMV), relação folhas:talos (RFT) e
percentagem de pendoamento (PP) aos 42;
49; 56 e 63 DAS. A PMV foi determinada
aos 42 DAS, e correspondeu ao peso de talos e folhas de 133 plantas de cada parcela.
Por ocasião da avaliação da PMV, foi determinada a RFT. Para tanto, em amostra de
100 g de massa verde por tratamento, foram
separadas as folhas e talhos e pesados isoladamente; o PP foi obtido pela relação entre
o número de plantas que emitiam pendão
floral em cada período pré-estabelecido e o
número total de plantas (266).
Os resultados foram submetidos às
análises de variância, sendo as somas
dos quadrados médios comparadas pelo
teste F (5%). Para comparação das médias da PMV e RTF (características qualitativas), foi empregado o teste ScottKnott, a 5% de probabilidade; enquanto as médias do PP foram submetidas a
análises de regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo (p<0,05)
dos genótipos para a produção de massa verde (PMV), relação folhas:talos
(RFT) e para a percentagem de
pendoamento (PP), em todos os períodos de avaliação. As cultivares Verdão
e Palmeira e as linhagens HTV 9299,
HTV 7299 e HTV 0999, apresentaram
as mais elevadas produções de massa
verde (PMV), seguida da linhagem HTV
0699. A linhagem HTV 0199 foi responsável pelo mais baixo valor para essa
característica (Tabela 1). Nas condições
de Passo Fundo (RS), Marques &
Lorencetti (1999), também verificaram
superioridade da cultivar Verdão na produção de massa verde, em relação a outros genótipos avaliados, porém com
rendimento muito baixo (2,4 kg m2).
O rendimento de massa verde obtido pelas cultivares Verdão e Palmeira e
pelas linhagens HTV 9299, HTV 7299,
e HTV 0999 foram superiores ao rendimento médio de massa verde definido
para o estado de Pernambuco em 4,0 kg
m-2 (Hortivale, 1987), o que pode indicar que esses genótipos são os mais promissores para a produção de massa verde, na região de Areia.
Quanto à relação folhas:talos (RFT),
igualmente à PMV, também apresentou
variação significativa entre os
genótipos, indicando que a formação de
folhas é um atributo genético de cada
genótipo. No entanto, as linhagens HTV
7299 e HTV 0199 apresentaram os mais
253
AP Oliveira et sl.
Figura 1. Percentagem de pendoamento em coentro, cultivar Verdão (y1) e linhagens HTV
7299 (y2) e HTV 0999 (y3), em função de idades de plantas. (Plants bolting percent in the
coriander, Verdão (y1) cultivar and lines HTV 7299 (y2) and HTV 0999 (y3), as a function of
plant age). Areia, CCA-UFPB, 2003.
Figura 2. Percentagem de pendoamento em coentro, cultivar Palmeira (y1) e linhagens HTV
9299 (y2), HTV 0699 (y3) e HTV 0199 (y4), em função de idades de plantas. (Plants bolting
percent in the coriander, Palmeira (y1) cultivar and lines HTV 9299 (y2), HTV 0699 (y3) and
HTV 0199 (y4), as a function of plant age). Areia, CCA-UFPB, 2003.
elevados valores para essa relação, diferindo significativamente das cultivares
Verdão e Palmeira e das linhagens HTV
9299, HTV 0699 e HTV 0999. Os valores de RTF obtidos palas linhagens HTV
7299 e HTV 0199 mostram um potencial
comercial. Os demais se caracterizaram
como genótipos com elevados percentuais
de talos, reduzindo a sua qualidade comercial (Tabela 1). Nas condições de Passo
Fundo a cultivar Verdão apresentou relação folhas:talos muito baixa, de 0,40 (Marques & Lorencetti, 1999).
Para a percentagem de pendoamento
(PP), as medias das cultivares Verdão e
254
Palmeira e das linhagens HTV 7299,
HTV 0999 e HTV 0699, ajustaram-se a
modelos quadráticos de regressão em
função dos períodos de avaliações (Figuras 1 e 2). Por meio das derivadas das
equações de regressões, calcularam-se
o período estimado de 58 DAS como
aquele responsável por mais de 100%
de plantas pendoadas nas cultivares
Verdão e Palmeira e nas linhagens HTV
7299 e HTV 0699; enquanto que na linhagem HTV 0999 esse percentual foi
alcançado aos 60 DAS. Nas linhagens
HTV 9299 e HTV 0199, o pendoamento
aumentou de forma linear em função dos
períodos de avaliações, com mais de
100% de plantas pendoadas aos 63 DAS
na linhagem HTV 9299 e apenas 55%
na linhagem HTV 0199. Aos 42 (DAS)
(período recomendado para a colheita
do coentro), as cultivares Verdão e Palmeira e as linhagens HTV 7299, HTV
0999, HTV 0699 e 9299, apresentaram
pendoamento estimado de 65; 58; 35;
29; 40 e 59%, respectivamente, enquanto a linhagem 0199 apresentou apenas
11% das plantas com pendões florais.
Temperaturas acima do nível ótimo
podem acelerar o florescimento de certas hortaliças (Filgueira, 2003). A temperatura média acima de 25oC favorece
a produção de sementes de coentro
(Diederichsen,
1996),
e
consequentemente o pendoamento.
Como a temperatura média do período
de execução do trabalho foi de 20oC, os
percentuais de pendoamentos obtidos
nos genótipos, podem ser atribuídos às
suas características genéticas.
O pendoamento precoce no coentro
é uma característica prejudicial quando
o objetivo é a comercialização de massa verde, pois reduz o número de folhas
em detrimento da formação de pendões
florais. Portanto, os genótipos com menores percentuais de pendoamento são
considerados de boa qualidade.
As características PMV, RFT e PP
são parâmetros importantes para determinar a qualidade comercial do coentro.
Portanto, as linhagens HTV 7299 e HTV
0999, que exibiram PMV superior a 4,0
kg m-2, RFT igual a 0,73 e 0,63, e PP de
35 e 29%, respectivamente, aos 42 DAS
podem ser consideradas como alternativas para os produtores de coentro da
região de Areia. Por sua vez, a linhagem HTV 0199 embora tenha apresentado maior valor para RFT e menor PP
em todos os períodos de avaliação, mostrou baixo potencial de rendimento de
massa verde. Esse fato demonstra que a
mesma não pode ser considerada uma
alternativa de cultivo em Areia.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos agentes
em Agropecuária, Francisco de Castro
Azevedo, José Barbosa de Souza, Francisco Soares de Brito, Francisco Silva
do Nascimento e Expedito de Souza
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Desempenho de genótipos de coentro em Areia
Lima que viabilizaram a execução dos
trabalhos de campo.
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Avaliação de substratos para produção de mudas de alface
Paulo Espíndola Trani1; Deise Maria Feltrin2; Cristiano André Pott3; Márcio Schwingel4
1
IAC, Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; 2 CEEPAR, 85045-720 Guarapuava–PR; 3UNICENTRO-CAA,
Depto. Agronomia, Centro Politécnico, 85040-080 Guarapuava–PR; 4Eng. Agrônomo Autônomo, C. Postal 28, 13012-970 Campinas–SP;
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Normalmente, os substratos disponíveis no mercado são recomendados indistintamente para grande número de culturas, sem considerar suas características e necessidades nutricionais na fase da
formação de mudas. O experimento foi realizado em casa de vegetação, onde foram avaliados três substratos (Plantmax, Esfagno e GIII) para o desenvolvimento de mudas de alface cv. Regina. Foram
realizadas as análises químicas e físicas de pH, macronutrientes, sódio
e micronutrientes, sendo calculadas a capacidade de troca catiônica
(CTC) e a saturação por bases (V%), além das análises de
condutividade elétrica (CE), capacidade máxima de retenção de água
(CRA) e granulometria dos substratos. A semeadura foi feita em
bandejas de poliestireno expandido com 128 células cada. O delineamento utilizado foi de blocos ao acaso com três repetições. Foram avaliadas massa fresca da parte aérea e das raízes, massa seca
da parte aérea e das raízes, número de folhas verdadeiras e altura
média de plantas. Dentre os substratos avaliados, Plantmax demonstrou ser mais eficiente para produção de mudas de alface com melhor qualidade.
Evaluation of substrates in the production of lettuce plantlets
Normally, the substrates available in the market are recommended
indistinctly for a great number of crops, without taking into account
its characteristics and nutritional requirements during the plantlet
stage. The experiment was carried out in the greenhouse, where three
different substrates (Plantmax, Sphagnum and G-III) were evaluated
in the development of lettuce cv. Regina plantlets. Chemical and
physical analysis such as pH, macro and micronutrients and sodium,
cation exchange capacity (CEC) and base saturation (V%) were
calculated as well as physical analysis such as electric conductivity,
maximum water holding capacity and particle size of the substrates
were carried out. The sowing was done in trays of expanded
polystyrene with 128 cells each. We analyzed the fresh and dry mass
of the aerial parts and of the roots, number of true leaves and mean
height of the plantlets. Among the evaluated substrates, the Plantmax
showed to be the most efficient in yielding lettuce plantlets with
better quality.
Palavras-chave: Lactuca sativa L., mudas de qualidade, hortaliça.
Keywords: Lactuca sativa L., quality plantlets, vegetable.
(Recebido para publicação em 14 de março de 2006; aceito em 13 de maio de 2007)
A
produção de mudas de qualidade
é uma das etapas mais importantes
no cultivo de hortaliças (Silva Júnior et
al., 1995), pois delas depende o desempenho final das plantas nos canteiros de
produção (Carmello, 1995). A utilização
de recipientes com substratos em substituição ao uso de solo, na formação de
mudas, tem proporcionado aumentos
substanciais na qualidade das mesmas
(Smiderle et al., 2001).
Menezes et al. (2000) consideram
que pode ser vantajosa ao agricultor a
formulação própria de substratos. Esses
autores obtiveram melhores mudas de
alface com a formulação própria, destacando-se o substrato obtido com 50%
de turfa e 50% de vermicomposto, este
último material preparado com esterco
de curral compostado com a minhoca
vermelha da Califórnia, adicionando ao
produto final 2g/dm3 da fórmula 5-2010. Todos os materiais preparados
artesanalmente foram desinfetados.
Considerando as dificuldades para o
preparo de substratos homogêneos e o
256
alto custo da mão de obra local, produtores de hortaliças da região de Campinas preferem adquirir os substratos produzidos por indústrias especializadas.
Um bom substrato não deve conter
solo, devido à presença de fitopatógenos
e sementes de plantas daninhas e por
dificultar a retirada da muda com torrão
(Filgueira, 2000). Suas características
físicas, químicas e biológicas devem
oferecer as melhores condições para que
haja uma excelente germinação e favoreça o desenvolvimento das mudas
(Gonçalves, 1994).
Segundo Schmitz et al. (2002), o pH,
a capacidade de troca catiônica (CTC),
a salinidade e o teor de matéria orgânica constituem as principais propriedades químicas consideradas na caracterização de substratos. Em relação às propriedades físicas, o autor destaca a densidade, a porosidade, o espaço de
aeração e a economia hídrica (volumes
de água disponíveis em diferentes potenciais).
Encontram-se no mercado substratos
formulados pelos mais variados tipos de
materiais quanto à origem de seus componentes ou composição das misturas.
Isso ocorre porque as normas para produção e fiscalização de substratos no
Brasil ainda não estão definidas (Fabri
et al., 2004). Dentre 41 amostras de diferentes substratos comercializados na
região de Piracicaba (SP), Fabri (2004)
observou que apenas 19,5% apresentaram boa qualidade quanto às seguintes
características físico-químicas: pH,
C.E., teores de macro e micronutrientes, aeração e retenção de umidade.
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar o efeito de três substratos
comercializados na região de Campinas
(SP), com base em análises físico-químicas, no desenvolvimento de mudas de
alface.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido em
casa de vegetação localizada no Centro
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Avaliação de substratos para produção de mudas de alface
Experimental de Campinas do Instituto
Agronômico /APTA/SAA, de julho a
agosto de 2004.
O delineamento utilizado foi de blocos ao acaso com 3 tratamentos e 3 repetições. Os tratamentos consistiram de três
substratos comerciais: Plantmax PXHA
(Eucatex), Esfagno (Sarrua) e G-III
(Gioplanta). Os substratos Plantmax, e
G-III, tendo como principais componentes a casca de pinus carbonizada e
vermiculita, são bastante difundidos entre produtores de mudas de hortaliças na
região de Campinas (SP). O produto
Esfagno importado do Canadá pode se
constituir como mais uma opção para
produção de mudas de hortaliças.
As plântulas foram irrigadas por
microaspersão, com 2 aspersores por m²
e freqüência de 4 aplicações por dia,
procurando manter-se as tensões de água
no substrato sempre próximas a capacidade de vaso e a saturação máxima de
modo a satisfazer as necessidades
hídricas da cultura nesse estágio evitando-se qualquer déficit hídrico. Foram
realizadas análises físico-químicas desses substratos sendo determinados os
teores de matéria orgânica, nitrogênio e
a relação Carbono/Nitrogênio (C/N)
adotando-se a metodologia recomendada por Alcarde (1982) para análise de
fertilizantes minerais e a metodologia
de análise para adubos orgânicos preconizada por Kiehl (1985). Foram também determinados o pH, P, K, Ca, Mg,
H, S, Na, Fe, Mn, Cu, Zn e B, além do
cálculo da CTC e V%, adotando-se a
metodologia recomendada por Raij &
Quaggio (1983) para análise química de
solo. Foi também realizada análise específica para substratos atualmente adotada pelo Instituto Agronômico de Campinas a partir de metodologia descrita
em Abreu et al. (2002). Com a adoção
dessas duas metodologias para as determinações químicas (a recomendada por
Raij & Quaggio e a descrita em Abreu
et al., 2002), é possível uma interpretação mais abrangente dos resultados. A
metodologia utilizada pelo IAC para
substratos consiste em uma adaptação
de método empregado na Holanda e a
metodologia tradicional de análise de
solo continua sendo satisfatória para a
interpretação de diversas características
físico-químicas de substratos.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p=0,05) (Means
followed by the same letter are not significantly different by Tukey test (p=0,05)).
Figura 1. Massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca das raízes (MFR), massa seca
da parte aérea (MSPA), massa seca das raízes (MSR); número de folhas verdadeiras (NF) e
altura da planta (AP) de mudas de alface cv. Regina, cultivadas em três diferentes substratos,
aos 23 dias após emergência (Fresh mass of aerial part (MFPA), fresh mass of root (MFR),
dry mass of aerial part (MSPA), dry mass of root (MSR); number of true leaves (NF) and
height of lettuce plantlets (AP), cv. Regina, cultivated in three different substrates, 23 days
after emergency). Campinas, IAC, 2004.
Determinou-se a granulometria dos
substratos em seis peneiras “Tyler” de
malhas (mesh) 8 (malha com
espaçamento de 2,38 mm); 10 (2,00
mm); 20 (0,84 mm); 35 (0,42 mm); 48
(0,30 mm) e 60 (0,25 mm) utilizadas
para avaliação de corretivos da acidez
do solo e, também, a capacidade máxima de retenção de água (CRA) dos
substratos em questão.
A semeadura da alface ‘Regina’ foi
realizada em 13/07/04 em bandejas de
poliestireno expandindo com 128 células cada, sendo adicionadas 3 sementes
nuas por célula, efetuando-se o desbaste uma semana após a emergência, deixando-se uma planta por célula.
Para avaliação do desenvolvimento
das mudas, realizado 23 dias após a
emergência, utilizou-se das características: massa fresca da parte aérea
(MFPA), massa fresca das raízes (MFR),
massa seca da aérea (MSPA), massa seca
das raízes (MSR), número de folhas
verdadeiras (NF) e altura média das
plantas (AP), determinada a partir da
base do caule (colo) até o ápice da folha
mais nova. A parte aérea e as raízes foram acondicionadas separadamente em
sacos de papel e mantidos em estufa a
70oC, para determinação da MSPA e
MSR. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, e as médias
comparadas pelo teste de Tukey
(p=0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve maior eficiência do substrato
Plantmax na produção de mudas de alface (Figura 1), diferenciando-se dos
outros substratos quanto ao número de
folhas verdadeiras, e altura média de
planta, massa fresca e massa seca da
parte aérea.
Dos parâmetros avaliados, apenas
aqueles relacionados ao desenvolvimento radicular (MFR e MSR) não apresentaram diferenças estatisticamente
significantes, ou seja, eventuais variações, tanto dos aspectos físicos (como
aeração ou impedância mecânica, por
exemplo) quanto dos aspectos químicos
dos substratos, não sendo suficientes
para interferir no desenvolvimento das
raízes das plântulas durante este estágio de cultivo.
O substrato Plantmax tem demonstrado ser eficiente para produção de algumas espécies de hortaliças como o
pimentão (Capsicum annuum) segundo
Silva (1994), que observou superiorida257
PE Trani et al.
Tabela 1. Análise química de três substratos agrícolas (capacidade máxima de retenção de água (CRA máx), pH, macronutrientes, CTC,
V%, C/N, Na1 e micronutrientes1), conforme metodologia adotada para análise de solo (Chemical analysis of three agricultural substrates
(maximum water holding capacity (CRA max), pH, macronutrients, CEC (CTC), V%, C/N, Na1 and micronutrients1), according to methodology
adopted for soil analysis). Campinas, IAC, 2004.
1
Extrator Mehlich (Mehlich extractant)
Figura 2. Distribuição porcentual das partículas dos substratos conforme tamanho (abertura
das malhas das peneiras) (Percentual distribution of substrate particles by the size (sieve
granulometry)). Campinas, IAC, 2004.
de deste substrato para produção de
mudas de pimentão, inclusive quanto ao
acúmulo de macronutrientes na parte
aérea das mudas. Braz et al. (1996) também relataram, para a mesma hortaliça
melhor incremento da matéria seca das
plântulas com o emprego deste
substrato.
Semelhantemente, Luz et al. (2000)
observaram para o Plantmax maior massa seca da parte aérea e de raízes em
tomate (Lycopersicon esculentum).
Em experimento com alface crespa
(cv. Vera), Trani et al. (2004), igualmente observaram melhores resultados com
Plantmax HA frente aos três outros
substratos avaliados (Hortimix folhosas,
Golden Mix47 e Vida Verde Tropstrato
Hortaliças), quanto à altura de planta e
número de folhas. Aos 15 dias, mudas
258
cultivadas em Plantmax já atingiram
altura superior a 5 cm, mínima necessária para o transplante aos 20-25 dias.
Após dez dias, os autores confirmaram
interferência do substrato no número de
folhas, tal que aos 20 dias o Plantmax
proporcionou maior número de folhas
do que os demais substratos.
Avaliando a eficiência do substrato
Plantmax e sua combinação com solo e
areia em experimento de produção de
mudas de alface, pepino e pimentão,
Smiderle et al. (2001) obtiveram os
melhores resultados com o substrato
puro. Não obstante ser o tratamento que
demonstrou menor índice de velocidade de emergência de plântulas de alface
e pepino, Plantmax não combinado proporcionou maior altura de plântulas às
três culturas, além da maior produção
de matéria seca de plântulas e raízes de
alface e de pimentão.
Por outro lado, Carneiro Jr. et al.
(2000), também em ensaio com pepino,
não detectaram influência do tipo de
substrato na massa seca da parte aérea e
no número de frutos. Menezes et al.
(2000) verificaram que o Plantmax (sem
especificar o tipo) foi inferior a outros
substratos quanto à produção de matéria seca (parte aérea e raízes) e número
de folhas definitivas da alface (cv.
Monalisa). Tem sido constatado em período recente em Campinas por produtores de mudas de hortaliças certa
desuniformidade neste substrato, além
da compostagem imperfeita da casca de
pinus, ocasionando, por vezes, problemas no desenvolvimento das mudas.
Minami (1995) observa quanto às
características físicas, que o substrato
deve apresentar baixa porosidade, isenção de contaminações fitopatogênicas e
baixo custo. Andrade Júnior et al. (1997)
e Silva & Marouelli (1998) mostram que
as tensões entre 10,0 e 38,2 kPa (ou seja,
próximos à capacidade de campo) a 15
cm de profundidade propiciam os melhores resultados produtivos para hortaliças em sistema de cultivo protegido
no solo. Menezes et al (2000) verificaram diferenças significativas entre as
propriedades físicas dos substratos avaliados, inclusive quanto à distribuição
do tamanho das partículas dos materiais
puros, substratos comerciais e formulados para produção de mudas de alface.
Fernandes e Corá (2001) realizando
análise física do substrato comercial
puro e em mistura com outros materiais
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Avaliação de substratos para produção de mudas de alface
Tabela 2. Resultados de análise química de três substratos agrícolas segundo metodologia específica para substratos, adotada pelo Instituto
Agronômico de Campinas (pH, CE, Na, macro e micronutrientes) (Chemical analysis of three plant substrates according to substrates
specific methodology, adopted by the Instituto Agronômico de Campinas (pH, electric conductivity (CE), Na, macro and micronutrients)).
Campinas, IAC, 2004.
Método de extração: 1:1,5 (Holanda). Métodos de determinação: N-(amoniacal e nitrato): destilação; K, Ca, Mg, P, S, Cu, Fe, Mn, Zn: ICPOES; C-orgânico: Walkley-Black; Nitrogênio Total: Kjeldahl (Extraction method: 1:1,5 (Holand). Determination methods: Amoniacal and
nitrate –N ): destilation: K, Ca, Mg, P, S, Cu, Fe, Mn, Zn: ICP-OES; Organic-C: Walkley-Black; Total N: Kjeldahl).
(composto orgânico, casca de arroz carbonizada e húmus de minhoca), observaram que o húmus de minhoca foi o
que mais contribuiu para elevar a
macroporosidade, favorecendo a
aeração do substrato. O substrato comercial puro (não foi especificado qual o
tipo) teve como característica maior
microporosidade o que auxilia a retenção da água de irrigação. Drzal et al.
(1999) e Schmitz et al. (2002) afirmam
que o conteúdo de água retido no
substrato é diretamente correlacionado
com a distribuição dos poros por tamanho. Segundo o primeiro autor, os
macroporos não retêm água sob força
gravitacional, sendo estes, por conseguinte, responsáveis pela aeração das
raízes. Ballester-Olmos (1992) explica
que são os microporos aqueles responsáveis pela retenção de água.
Levando-se em consideração que a
repartição dos poros está diretamente
associada à distribuição granulométrica
(Ferraz et al., 2005), pode-se inferir,
através da análise de granulometria, a
respeito das diferenças obtidas nos resultados concernentes à capacidade de
retenção de água (CRA). Conforme
Substratos (2001), a granulometria dos
substratos inorgânicos à base de areia
lavada deve situar-se entre 0,05 e 2,0
mm. A Figura 2 mostra que os três
substratos avaliados neste trabalho continham a maior parte das partículas nessa faixa de tamanho. Através da Tabela
1, pôde-se observar, porém, que o
Esfagno obteve o maior valor de CRA.
Isto se deve, de acordo com explicação
de Ferraz et al. (2005), à maior proporção de partículas finas (observar duas
últimas partições granulométricas com
partículas menores que 0,30 mm), as
quais se arranjam entre as mais grossas
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
formando poros de menor diâmetro, elevando assim a CRA. Esse fato também
pode explicar a menor CRA do
Plantmax, pela razão inversa.
Embora, conforme já mencionado,
os parâmetros relativos ao desenvolvimento radicular não demonstrem variações entre os tratamentos, sendo a
aeração decorrente da presença de
macroporos, é possível levantar a hipótese de que, uma vez tendo o substrato
Plantmax menor CRA, portanto menor
proporção de microporos em relação a
macroporos, este detém a maior aeração.
Isto também deve ser considerado para
explicar as divergências nos demais
parâmetros. Cabe lembrar que a aeração
é essencial para a respiração das células
radiculares e, portanto, para o desempenho das plantas em geral.
A Tabela 1 mostra as análises de
matéria orgânica, nitrogênio total e relação C/N dos substratos avaliados. Baseando-se em Verdonck et al. (1981) e
Penningsfeld (1983), os quais estabeleceram o valor mínimo de 50% de matéria orgânica para substratos, Schmitz et
al. (2002) estimam que os teores de carbono orgânico para substratos devem se
situar acima de 25%. Os substratos avaliados no presente estudo satisfazem
estes critérios.
Segundo Substratos (2001), os compostos orgânicos destinados à fabricação de substratos devem ter inicialmente relação C/N de 30/1 a 40/1. Observando-se a Tabela 1 não foi possível,
pelos parâmetros apresentados explicar
as diferenças verificadas na produção de
mudas de alface.
A Tabela 1 mostra ainda o pH, os
teores de macronutrientes, sódio, capacidade de troca catiônica (CTC), satu-
ração por bases (V%) e micronutrientes
dos substratos analisados adotando-se a
metodologia para análise de solo atualmente adotada pelo IAC, descrita em
Raij & Quaggio (1983).
Observando a faixa de pH (em água)
na qual há maior disponibilidade de nutrientes, Kämpf (2000) considera um
valor ideal situado entre 5,2 e 5,5 para
substratos de base orgânica e entre 6 e 7
para aqueles de base mineral. Levandose em conta os substratos avaliados
constituírem-se preponderantemente de
material orgânico, através da Tabela 1
pode-se verificar que todos os substratos
estão acima e próximos da faixa de pH
ideal para o respectivo material. Ressalte-se que as pequenas diferenças entre
os valores alcançados pelos substratos
não justificam as discrepâncias na resposta produtiva obtida ao final do ensaio.
Com relação à CTC, o Esfagno foi o
único dos substratos estudados a apresentar valor abaixo da faixa ideal de 120
mmolc/dm3 estabelecida por Penningsfeld
(1983) para o cultivo em recipientes, com
abastecimento esporádico de nutrientes.
Destaca-se a maior CTC apresentada pelo
substrato Plantmax, bem como os maiores
teores de cálcio e magnésio em relação aos
outros substratos, o que permite explicar,
em parte, o melhor desempenho deste
substrato em relação aos demais. Destacouse também o maior teor de zinco do
Plantmax (30,6 mg/dm3), três vezes superior aos teores dos outros dois substratos.
A Tabela 2 corresponde às análises químicas dos substratos conforme a
metodologia adotada pelo IAC a qual vem
sendo atualmente utilizada na rotina de
análises de substratos por esta Instituição
Científica. Quando confrontada com a Ta259
PE Trani et al.
bela 1, evidenciam-se ainda mais as preponderantes concentrações de Ca e Mg no
substrato Plantmax em relação aos demais
substratos avaliados. Através desta análise
também se destaca neste mesmo substrato,
teor de enxofre de três e quatro vezes superior ao substrato G-III e ao Esfagno, respectivamente. Isto deve ser levado em consideração para se explicar os melhores resultados atingidos pelo Plantmax.
Maas (1984) e Ayers & Westcot (1991),
citados por Viana et al. (2001), mencionam
ser a alface “moderadamente sensível” à
salinidade, sofrendo a produção um decréscimo de 13% a cada aumento unitário de
condutividade elétrica (CE) do extrato de
saturação acima de 1,3 dSm-1. Andriolo et
al. (2005) observaram redução no crescimento e na produção de massa fresca de
plantas de alface cv. Vera quando os níveis
de salinidade foram superiores a 2,0 e 2,6
dSm-1, respectivamente. Tais plantas foram
cultivadas em areia e fertirrigadas com solução nutritiva. As mudas de alface neste
experimento desenvolvidas nos substratos
Esfagno, GIII e Plantmax com CE de 2,1;
2,5 e 3,0 dSm-1, respectivamente, não apresentaram sintomas de crestamento de folhas provavelmente devido ao efeito tampão destes substratos. Fabri (2004) observou que mudas de alface desenvolveramse melhor nos substratos constituídos de
adubo de curral e húmus apresentando
condutividade elétrica de 3,73 e 4,87
dSm-1, respectivamente. Provavelmente o
poder tampão do material orgânico tem influência sobre a ação dos sais que podem
prejudicar a germinação e o desenvolvimento das plântulas. Isto demonstra a importância no monitoramento constante dos
materiais utilizados na formulação de
substratos além da qualidade da água de
irrigação.
Nas condições deste experimento
pode-se concluir que o substrato Plantmax
PXHA foi superior aos outros dois materiais, para obtenção de mudas de alface
destinadas ao cultivo comercial devido a
algumas características químicas e
nutricionais, como maiores teores de Ca,
Mg, S e elevada CTC frente aos demais
substratos avaliados. Quanto aos atributos físicos, pode-se considerar que a
aeração provavelmente colaborou para
melhor rendimento do referido substrato.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao laboratório LAGRO de Campinas (SP) e ao La260
boratório de Fertilidade do Solo do Instituto Agronômico de Campinas pela
realização das análises físico-químicas
dos substratos.
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Características produtivas de genótipos de cebola no Vale do São Francisco
Nivaldo D Costa1; Geraldo M de Resende1; Carlos AF Santos1; Wêydjane de Moura Leite2; José Maria Pinto1
1
Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56302-970 Petrolina-PE; 2Bolsista DTI/CNPq; [email protected];
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de avaliar a produtividade de genótipos de cebola no Vale do São Francisco, foram conduzidos dois experimentos, de abril a agosto de 2003 e 2004, na Embrapa Semi-Árido,
Petrolina-PE. Usou-se o delineamento experimental de blocos ao
acaso, com quinze genótipos e quatro repetições e quatorze genótipos
e três repetições, respectivamente em 2003 e 2004. Em 2003, a produtividade total de bulbos variou de 29,5 a 59,6 t ha-1 e a comercial
oscilou de 18,6 a 51,7 t ha-1. A massa fresca do bulbo variou de 104
a 186 g e os genótipos IPA-1 e Brisa apresentaram maior número de
bulbos comerciais por parcela (113 bulbos). Em 2004, a produtividade total de bulbos variou de 30,4 a 58,4 t ha-1 e a comercial oscilou de 24,0 a 56,0 t ha-1. A massa fresca do bulbo variou de 86 a 160
g e os genótipos EX-07593000, Granex 429 apresentaram maior
número de bulbos comerciais por parcela (126 e 124 bulbos, respectivamente). Pelos resultados, em função das características avaliadas, os genótipos EX-19013, EX-07595002, Encino, IPA-11, Brisa,
TPC 91923, TPR 91970 e Ex-075593000, em 2003, e os genótipos
EX-0759300, Granex-429, IPA-11, IPA-04 e Texas Grano 502, em
2004, foram os mais adaptados e com maior potencial para cultivo
no Vale do São Francisco.
Yield characteristics of onion genotypes in the São Francisco
River Valley
Palavras-chave: Allium cepa, adaptação, competição, rendimento.
Two field trials were carried out at Embrapa Semi-Árido,
Petrolina, Brazil. The experiment was carried out from April to
August of 2003 and 2004, in a randomized complete block design.
In 2003, fifteen genotypes and four replications were used and in
2004, fourteen genotypes and three repetitions were used. In 2003,
the total yield of bulbs varied from 29.5 to 59.6 t ha-1 and the
commercial yield varied from 18.6 to 51.7 t ha-1. The fresh mass of
bulbs varied from 104 to 186 g and the genotypes IPA-11and Brisa
showed the highest number of commercial bulbs per plot (113 bulbs).
In 2004, the total yield of bulbs varied from 30.4 to 58.4 t ha-1 and
the commercial yield varied from 24.0 to 56.0 t ha-1. The fresh mass
of bulbs varied from 86 to 160 g and the genotypes EX-07593000
and Granex 429 showed the highest number of commercial bulbs
per plot (126 and 124 bulbs, respectively). Based on the evaluated
characteristics, the genotypes EX-19013, EX-07595002, Encino,
IPA-11, Brisa, TPC 91923, TPR 91970 and EX-075593000, in 2003,
and the genotypes EX-0759300, Granex-429, IPA-11, IPA-04 and
Texas Grano 502, in 2004, were the best adapted and with the highest
potential for planting in the São Francisco River Valley.
Keywords: Allium cepa, adaptation, competition, yield.
(Recebido para publicação em 10 de julho de 2006; aceito em 9 de abril de 2007)
A
cebola (Allium cepa L.), dentre as
espécies oleracéas cultivadas pertencentes ao gênero Allium, é a mais importante sob o ponto de vista de volume
de consumo e valor econômico (Souza
& Resende, 2002). No Brasil, destacase ao lado da batata e do tomate como
as mais importantes economicamente
tanto pelo volume produzido, em torno
de 1 milhão de t ano-1, como pela renda
gerada. A cebolicultura nacional é uma
atividade praticada principalmente por
pequenos produtores e a sua importância sócio-econômica fundamenta-se não
apenas em demandar grande quantidade de mão-de-obra, contribuindo na
viabilização de pequenas propriedades,
como, também, em fixar os pequenos
produtores na zona rural, reduzindo desse modo a migração para as grandes cidades (Costa et al,, 2002).
A produção mundial em 2005 foi de
57,4 milhões de toneladas, cultivadas
em área de 3,2 milhões de hectares, o
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
que proporcionou uma produtividade
média de 17,9 t ha-1 (FAO, 2006). A produtividade média nacional em 2004 situou-se em 17,9 t ha-1, e nos estados de
Pernambuco e Bahia, maiores produtores do Nordeste, se alcançou produtividade média de 21,2 e 24,3 t ha-1, respectivamente (IBGE, 2005).
Há relatos de diferentes produtividades da cebola, de acordo com o local
de produção. No sul de Minas Gerais, a
produtividade de bulbos comerciais oscilou entre 22,6 a 50,2 t ha-1, destacando-se as cultivares Granex 429 (50,2 t
ha-1) e Texas Grano 502 (44,4 t ha-1), com
menores rendimentos obtidos pela cultivar Chata Roxa com 22,6 t ha-1 e variações de 46,0 a 97,7 g para a massa
fresca do bulbo (Resende et al., 2003).
Vidigal et al. (2002) informam produtividades de 13,3 a 32,9 t ha-1 para o Norte de Minas Gerais. No Semi-Árido
piauiense, As cultivares foram divididas
em três grupos, de acordo com sua pro-
dutividade: As cultivares do primeiro
grupo (Vale Ouro IPA-11, Franciscana
IPA-10 e Mercedes) apresentaram produtividade de bulbos comerciais oscilando de 40,5 a 43,7 t ha-1; No segundo
grupo, as cultivares Princesa, Granex 33,
Duquesa, Régia, Granex 429, Serrana,
Composto IPA-6, Texas Grano 502 e
Baia Periforme Precoce apresentaram
produtividade variando de 38,9 a 34,6 t
ha-1; e no terceiro grupo as cultivares
Piraouro, Linda Vista, Granex Ouro,
Conquista, Crioula e Belém IPA-9, produziram 32,4 t/ha a 26,9 t/ha (Duarte et
al., 2003).
Produtividades de bulbos comerciais
variando entre 21,1 a 61,8 t ha-1 para as
condições do Vale do São Francisco são
relatadas por Costa et al. (2000), que
destacaram as cultivares Texas Grano
PRR (61,8 t ha-1), Granex 429 (58,3 t
ha-1), Texas Grano 438 (57,0 t ha-1),
Brownsville (55,4 t ha-1), Texas Grano
502 (53,9 t ha-1) e Houston (53,4 t ha-1)
261
ND Costa et al.
Tabela 1. Produtividade total e comercial, massa fresca do bulbo e número de bulbos comerciais
por parcela de genótipos de cebola (Commercial and total yield, fresh mass of bulbs and number
of commercial bulbs in each parcel of onion genotypes). Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 2004.
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott, a
5% de probabilidade (Average values followed from the same letter in the column did not
differ through the Scott-Knott test, 5% probability).
como mais produtivas. Resende et al.
(2005) obtiveram produtividades totais
de bulbos entre 19,1 a 45,1 t ha-1 entre
diferentes genótipos, apresentando-se o
genótipo Legend como o menos produtivo com 19,1 t ha-1. A produtividade
comercial oscilou entre 15,6 a 43,1 t ha-1,
sobressaindo-se os genótipos IPA-11,
Superex, Sawana Sweet, EX-07595002,
Brisa, TPR 91970, EX-19013 e EX07592000, como os que apresentaram
maiores produtividades. O presente trabalho objetivou identificar genótipos de
cebola mais adaptados que apresentem
alto potencial para produção e que atendam o mercado consumidor nacional nas
condições do Vale do São Francisco.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos
em campo da Embrapa Semi-Árido em
Petrolina, de abril a agosto de 2003 e
2004; cujas coordenadas geográficas do
local são 09o 09' de latitude Sul e 40o
22' de longitude Oeste e altitude de
365,5 m (Amorim Neto, 1989) e o solo
classificado como Latossolo Vermelho
Amarelo Distróferrico (Embrapa, 1999).
O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, com quin262
ze genótipos (Sawana Sweet, TPC
91923; TPR 91970; TPC 00607;
LEGEND; TPR 91960; IPA-11; Encino;
EX-07593000; EX-07595001; EX07592000; EX-19013; EX-07595002;
Superex e Brisa) em três repetições em
2003, e quatorze genótipos (IPA-03,
IPA-04, IPA-06, IPA-08, IPA-10, IPA11, Brisa, Texas Grano 502, Texas Grano
502 PRR, Red Creole, Granex 429, Alfa
São Francisco ciclo IV, EX-19013 e EX07593000) em quatro repetições em
2004.
Em sementeira semeou-se 10 g de
sementes de cada genótipo por m². O
transplantio foi efetuado aos 35 dias
após a semeadura, em parcelas de 0,60
m de largura, por 6,0 m de comprimento com área útil de 3,60 m², que comportavam quatro linhas de cebolas, no
espaçamento de 0,15 m x 0,20 m.
As irrigações foram feitas por
microaspersão com turno de dois dias.
Utilizou-se adubo orgânico, esterco de
curral curtido, na dose de 10 L por 3,60
m². Foram aplicados em fundação 180
kg ha-1 de P2 O5 e 20 kg ha-1 de N (uréia),
e em cobertura 130 kg ha-1 de N, juntamente com o potássio (cloreto de potássio) na dose de 160 kg ha-1 de K2O aos
20; 30; 40 e 50 dias após o transplantio.
Os fertilizantes foliares foram aplicados
através de pulverizações semanais, na
dose de 50 cc/20 L de água. Os tratos
culturais e o controle fitossanitário foram os mesmos utilizados nos plantios
convencionais.
A colheita foi realizada quando em
média 90% das plantas encontravam-se
tombadas (estalo), conforme o ponto de
colheita de cada genótipo. As plantas
colhidas foram submetidas ao processo
de cura, ficando por seis dias expostas
ao sol e dois dias à sombra, efetuandose, em seguida, o corte da parte aérea.
Avaliou-se a produtividade total (t ha-1)
e comercial (t ha-1), sendo considerados
como comerciais os bulbos com diâmetros maior que 35 mm (Costa et al.,
2000), sendo os bulbos menores (diâmetro transversal inferior a 35 mm)
computados apenas na produtividade
total; massa fresca de bulbo comerciais
(g) e número de bulbos comerciais. Os
dados foram submetidos à análise de
variância, sendo as médias comparadas
pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5%
de probabilidade (Scott & Knott, 1974).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produtividade total de bulbos em
2003 (Tabela 1) variou de 29,5 a 59,6 t
ha-1, destacando-se os genótipos TPR
91970 (59,6 t ha-1), EX-19013 (58,6 t
ha-1), EX-07595002 (52,3 t ha-1), TPC
91923 (52,2 t ha-1), Encino (51,6 t ha-1),
EX-07593000 (50,1 t ha-1), sem apresentarem diferenças significativas entre
si. Estes resultados superam os obtidos
por Resende et al. (2005) no Vale do São
Francisco, que verificaram produtividades totais de bulbos entre 19,1 e 45,1 t
ha-1, de diferentes genótipos.
A produtividade comercial oscilou
de 18,6 a 51,7 t ha-1, sobressaindo-se os
genótipos EX-19013 (51,7 t ha-1), EX0759002 (48,6 t ha-1), IPA-11 (47,6 t ha-1),
Brisa (46,6 t ha-1), TPC 91923 (45,5 t
ha-1), TPR 91970 (45,2 t ha-1), Encino
(48,3 t ha-1) e EX-075593000 (42,2 t ha-1)
com as maiores produtividades sem diferirem entre si (variações de 42,2 a 51,7
t ha-1). Estes genótipos apresentaram
incrementos na produtividade variando
entre 135,8% e 188,8%, superiores à
média nacional de 17,9 t/ha. Esses resultados são superiores aos obtidos por
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Características produtivas de genótipos de cebola no Vale do São Francisco
Vidigal et al. (2002), que obtiveram produtividades variando de 13,3 a 32,9 t ha1
, todavia, inferiores aos obtidos por
Costa et al. (2000) e Resende et al.
(2003). Os genótipos TPR 91960 e EX07595001 apresentaram os menores desempenhos com 18,6 e 27,2 t ha-1 de
bulbos.
A massa fresca do bulbo variou de
104 a 186 g, não ocorrendo diferenças
estatísticas entre os genótipos avaliados,
com exceção do Ex-07595001, que
apresentou a menor massa de bulbo (104
g bulbo-1). Esses resultados são similares aos obtidos por Resende et al. (2005),
que obtiveram massas frescas dos bulbos de 119,33 a 221,00 g sobressaindose os genótipos Ex-07593001, IPA-11,
EX-07595002 e Superex com as maiores massas.
Os genótipos IPA-11 e Brisa apresentaram maior número de bulbos comerciais por parcela (113 bulbos), sem
diferirem estatisticamente dos demais,
exceto os genótipos Superex, EX07592000 e TPR 91960, que apresentaram menor número de bulbos (Tabela
1). Resende et al. (2005) relatam um
número de bulbos comerciais por parcela pouco abaixo dos encontrados no
presente trabalho, oscilando entre 84,0
e 101,0 bulbos.
No ano 2004 (Tabela 2), obteve-se
produtividade total de bulbos de 30,4 a
58,4 t ha-1, destacando-se os genótipos
EX-07593000 (58,4 t ha-1), Granex 429
(58,1 t ha-1), IPA-11 (54,5 t ha-1), IPA-4
(50,8 t ha-1) e Texas Grano 502 (50,1 t/
ha), sem diferença estatística entre si.
Estes resultados estão dentro da faixa
de produtividade total informada por
Costa et al. (2002), que obtiveram 41,3
a 74,7 t/ha de bulbos.
A produtividade comercial oscilou de
24,0 a 55,2 t ha -1 , sobressaindo os
genótipos Granex 429 (56,0 t ha-1), EX07593000 (55,2 t ha-1), IPA-11 (51,3 t ha-1),
IPA-4 (47,9 t ha-1), Texas Grano 502 (47,1
t ha-1) e Brisa (41,8 t ha-1) como os mais
produtivos. Estes genótipos obtiveram
incrementos na produtividade, variando
de 134,1 a 208,4% superiores à média
nacional. Estes resultados se assemelham
aos rendimentos obtidos por Duarte et al.
(2003), entre 40,5 e 43,7 t ha-1, e dentro
da faixa dos resultados encontrados por
Costa et al. (2000), com produtividade
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 2. Produtividade total e comercial, massa fresca de bulbos e número de bulbos comerciais por parcela de genótipos de cebola (Commercial and total yield, fresh mass of
bulbs and number of commercial bulbs in each parcel of onion genotypes).
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste Scott-Knott, a
5% de probabilidade (Average values followed from the same letter in the column did not
differ through the Scott-Knott test, 5% probability).
entre 34,8 e 61,1 t ha-1 de bulbos comerciais.
A massa fresca de bulbo variou de
86 a 160 g, destacando-se Texas Grano
502 (160 g bulbo-1) e IPA-3 (159 g bulbo-1); a pior performance foi apresentada pelos genótipos IPA-08, IPA-06 e
Red Creole, não diferindo entre si. Estes resultados são inferiores àqueles
obtidos por Resende et al. (2005), que
verificaram massa fresca do bulbo entre 119,33 e 221,00 g.
Os genótipos EX-07593000 e
Granex 429 apresentaram maior número de bulbos comerciais por parcela (126
e 124 bulbos, respectivamente), sendo
o pior desempenho obtido pelos
genótipos IPA-03, Texas Grano 502
PRR, EX-19013 e Red Creole com variações de 78 a 81 bulbos parcela-1. Esses resultados são comparáveis aos obtidos por Resende et al. (2005) que observaram variações no número de bulbos comerciais por parcela entre 84,0 e
101,0 bulbos.
O mercado consumidor nacional
prefere bulbos de tamanho médio com
massa entre 80 e 150 gramas (Souza &
Resende, 2002; May, 2006); neste contexto, os genótipos avaliados obtiveram
massas frescas de bulbo na faixa adequada ou pouco acima da preferência do
consumidor nacional, fato este que pode
provavelmente estar associado ao
espaçamento adotado de 0,20 x 0,15 m,
mas que pode ser sanado pelo uso de
maiores densidades de plantio, conforme se pode observar em pesquisas realizadas por diversos autores (Candeia et
al., 2001; Reghin et al., 2003; May,
2006).
As maiores produtividades, massas
frescas e número de bulbos comerciais
obtidos pelos melhores genótipos devem-se provavelmente à sua melhor
adaptação às condições edafoclimáticas
regionais. Quando as condições climáticas não satisfazem as exigências do
genótipo, especialmente o comprimento do dia (fotoperíodo) e temperatura,
poderá ocorrer a não formação de bulbos, proporcionando um elevado índice
de plantas improdutivas “charutos”;
emissão de pendão floral e formação de
bulbos pequenos (Galmarini, 1997),
com conseqüente baixa produtividade.
Neste contexto, depreende-se pelos resultados das características avaliadas,
que os genótipos EX-19013, EX07595002, Encino, IPA-11, Brisa, TPC
91923, TPR 91970 e EX-075593000
(em 2003) e os genótipos EX-0759300,
Granex 429, IPA-11, IPA-04 e Texas
Grano 502 (em 2004), apresentam-se
263
ND Costa et al.
como os mais adaptados e com maior
potencial para cultivo nas condições do
Vale do São Francisco. No entanto, justifica-se a necessidade de maiores pesquisas no sentido de estudar diferentes
densidades de plantio que promovam
menor diâmetro do bulbo, adequando
estes à preferência do mercado consumidor nacional.
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
comunicação científica
GUIMARÃES MA; SILVA DJH; FONTES PCR; CALIMAN FRB; LOOS RA; STRINGHETA PC. 2007. Produção e sabor dos frutos de tomateiro submetidos a poda apical e de cachos florais. Horticultura Brasileira 25: 265-269.
Produção e sabor dos frutos de tomateiro submetidos a poda apical e de
cachos florais
Marcelo de A Guimarães; Derly José H da Silva; Paulo Cézar R Fontes; Fabiano Ricardo B Caliman;
Rodolfo A Loos; Paulo C Stringheta
UFV, Depto.de Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se experimentalmente o efeito da poda apical e de cachos florais na produção e sabor dos frutos de tomateiro (maio a
novembro de 2002), utilizando delineamento em blocos ao acaso,
com cinco tratamentos e sete repetições, com oito plantas por parcela. Foram utilizadas mudas do cultivar Kindyo, de hábito de crescimento indeterminado. Os tratamentos utilizados foram (A) retirada
do 1o cacho floral e desponta acima do 7o.cacho floral; (B) igual a A,
porém sem desponta e com retirada dos cachos florais acima do
7o.cacho; (C) sem retirada do 1o.cacho floral e com desponta acima
do 6o. cacho floral; (D) igual a C, porém sem desponta e com retirada dos cachos florais acima do 6o.cacho; (E) sem desponta e sem
retirada de cachos florais, porém com avaliação apenas dos seis primeiros cachos florais. Os frutos foram colhidos, classificados e pesados semanalmente após atingirem o estádio maduro (100% vermelho) e os dados foram submetidos à análise de variância e teste de
Tukey (p<0.05). A remoção do primeiro cacho floral foi prejudicial à
produção comercial de frutos de tomate. A manutenção do crescimento da planta, com remoção dos cachos florais acima do sexto, sem a
retirada do primeiro cacho floral (tratamento D), possibilitou aumento da produção de frutos de tamanho grande (101,5 t ha-1), diferenciando-se estatisticamente dos demais tratamentos (tratamento A: 74,9;
B: 71,4; C: 80,3; E: 78,9 t ha-1). No entanto, para a produção comercial, o tratamento D (127,7 t ha-1) diferiu significativamente apenas
dos tratamentos A e B (106,6 e 99,4 t ha-1, respectivamente). Para as
características produção total, sabor, ºBrix e pH, cujas médias foram
respectivamente: 149,4 t ha-1; 13; 4,32% e 4,34, não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos.
Production and flavor of tomato fruits subjected to top-shoot
and floral cluster pruning
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, sistemas de condução,
produção, classificação, ºBrix, pH.
The effect of top-shoot and floral cluster pruning on the
production and flavor of the tomato fruits were experimentally
evaluated (May to November of 2002). The experimental design
was of randomized blocks, with five treatments, seven replications,
and eight-plant plots. Seedlings from cultivar Kindyo of
indeterminate growth habit, were used. Treatments were: (A) pruning
of the 1st floral cluster and top-shoot pruning above the 7th floral
cluster; (B) same as A, but without top-shoot pruning and with
pruning of the floral clusters above the 7th cluster; (C) without pruning
the 1st floral cluster, but with top-shoot pruning above the 6th floral
cluster; (D) same as C, but without top-shoot pruning and with
pruning of floral clusters above the 6th.; (E) without top-shoot and
floral cluster pruning, but evaluating only the first six floral clusters.
Tomato fruits were harvested, graded and weighed in a week basis,
after reaching maturity (100% red). Data were submitted to variance
analysis and Tukey’s test (p<0.05). Pruning of the 1st floral cluster
was detrimental for commercial production of tomato fruits. The
preservation of plant growth in combination with pruning of floral
cluster above the sixth, without pruning the first floral cluster
(treatment D), significantly increased the production of large fruits
(101.5 t ha-1) in relation to the other treatments (treatment A: 74.9;
B: 71.4; C: 80.3; E: 78.9 t ha-1). However, for commercial production,
treatment D (127.7 t ha-1) significantly differed only from treatments
A and B (106.6 and 99.4 t ha-1, respectively). For total production,
flavor, ºBrix, and pH, whose averages were respectively 149.4 t ha1
; 13; 4,32%, and 4,34, there were no significant differences.
Keywords: Lycopersicon esculentum, conduction systems,
production, gradetion,ºBrix, pH.
(Recebido para publicação em 5 de fevereiro de 2006; aceito em 3 de maio de 2007)
O
crescimento das plantas depende
da fotossíntese e da translocação
de fotoassimilados dos sítios de fixação
de carbono nos diferentes tecidos
fotossintéticos para os locais de utilização ou armazenamento (Silvius et al.,
1978). Segundo Tanaka et al. (1974),
esta dinâmica de crescimento permite
evidenciar unidades fonte-dreno na
planta de tomate (Lycopersicon
esculentum Mill), onde as folhas são
fontes de fotoassimilados e, os frutos,
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr-jun. 2007
os principais drenos. Durante o crescimento, os fotoassimilados são armazenados temporariamente sob a forma de
amido e açúcares e podem ser exportados para outros órgãos da planta
(Verkley & Chaela, 1988).
A relação fonte/dreno pode influenciar a produção total por planta, bem
como o tamanho e peso individual dos
frutos (Peluzio et al., 1999). Alterações
na arquitetura da planta, como poda
apical (muito realizada por produtores)
e retirada de cachos, são ações que podem ser adotadas visando modificações
nesta relação de tal forma a obter não
apenas maior produção de frutos, mas
principalmente frutos de maior tamanho
e melhor sabor, preferidos pelo mercado consumidor. De acordo com Acock
(1978) o aumento do tamanho dos frutos é influenciado pela penetração da
radiação solar dentro do dossel, pois o
terço superior dos tomateiros, representando 23% da área foliar total da planta,
265
MA Guimarães et al.
pode interceptar cerca de 73% da radiação solar total incidente, sendo responsável por mais de 60% da assimilação
líquida de fotoassimilados. Contudo, o
possível aumento de fotoassimilados na
planta pode ocasionar maior quantidade de frutos por cacho, devido à queda
de abortamento floral em função da limitação na disponibilidade de
fotoassimilados (Bertin & Heuvelink,
1993; Bertin, 1995; Heuvelink, 1996),
bem como o aumento no tamanho do
fruto e melhoria no sabor destes
(Caliman, 2003).
O teor de sólidos solúveis é uma das
principais características dos frutos no
que diz respeito ao sabor, visto que é
nesta fração que se encontram os açúcares e os ácidos. Este teor é também
indicador da qualidade dos frutos e dos
seus subprodutos. Quanto maior for o
teor de sólidos solúveis, maior será o
rendimento industrial. Entretanto, de
acordo com Dorais et al. (2001) e
Caliman (2003), o conteúdo de sólidos
solúveis é inversamente proporcional à
produção do tomateiro.
Existe pouca informação sobre a
produção de tomateiro sob o efeito da
eliminação de cachos florais com a manutenção do crescimento da planta. A
maioria dos trabalhos realizados com
podas se refere à poda apical ou desponte (Oliveira et al., 1995; Peluzio et al.,
1995), poda de frutos (Cruces & Valdés,
1994; Heuvelink & Buiskool, 1995;
Andriolo, 1999) e poda de folhas
(Andriolo & Falcão, 2000; Sandri et al.,
2002).
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar o efeito da poda apical e de cachos na produção e sabor dos frutos de
tomateiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Universidade Federal de Viçosa, Minas
Gerais, de maio a novembro de 2002.
Segundo a classificação de Köppen, o
clima regional é do tipo Cwa, com umidade relativa média anual do ar de 80%,
temperatura média anual de 21oC e precipitação anual média de 1.341 mm
(Peluzio et al., 1999). O solo é do tipo
Argissolo Vermelho-Amarelo, fase terraço com os valores: pH = 6,0; P = 74,5
266
mg dm-3; K = 170 mg dm-3; Ca2+ = 4,1
cmolc dm-3; Mg2+ = 0,7 cmolc dm-3; Al3+
= 0,0 cmolc dm-3; H + Al = 2,64 cmolc
dm-3; CTC (T) = 5,23 cmolc dm-3 e V =
66%, determinados em laboratório de
análise de solo. Para a realização do
experimento, o solo foi arado, gradeado e sulcado (0,15 m de profundidade).
A adubação foi realizada segundo
Filgueira et al. (1999) e Fontes (1999),
colocando-se os fertilizantes no sulco.
As mudas foram produzidas em bandejas de isopor de 128 células, sob ambiente protegido, onde permaneceram
por 21 dias após o semeio, realizado em
14 de maio de 2002. Foram utilizadas
mudas da cultivar Kindyo (Grupo Santa Cruz), de hábito de crescimento
indeterminado. O transplantio foi realizado quando as mudas possuíam cerca
de quatro folhas definitivas. O
espaçamento entre plantas foi de 1,0 m
x 0,5 m, sendo as mesmas tutoradas com
fitilho e conduzidas com uma haste/
planta (Marim et al., 2001). Tratos culturais como capinas, irrigações suplementares e controle químico de pragas
e doenças foram realizados à medida que
se fizeram necessários.
O experimento foi conduzido em
blocos ao acaso, com cinco tratamentos
e sete repetições, totalizando 35 parcelas. Os tratamentos aplicados foram: (A)
retirada do 1º.cacho e desponta acima do
7º.cacho; (B) igual a A, porém sem desponta e com retirada dos cachos acima
do 7º; (C) sem retirada do 1º.cacho e com
desponta acima do 6º; (D) Igual a C,
porém sem desponta e com retirada dos
cachos acima do 6º; (E) sem desponta e
sem retirada de cachos, porém com avaliação apenas dos seis primeiros cachos.
A partir de colheitas semanais, os
frutos foram classificados e pesados
(MARA, 1995). Determinou-se a produção por classe de tamanho, considerando como frutos grandes aqueles com
diâmetro >60 mm; médios, os frutos
com diâmetro entre 50 e 60 mm e, pequenos, os frutos com diâmetro entre 40
e 50 mm. Somando-se as classes de tamanho obteve-se a produção comercial
(PC). Determinou-se ainda a produção
de frutos com defeito (PFD) e a produção total (PT = PC + PFD).
No tocante à qualidade, frutos colhidos no estádio completamente madu-
ro foram avaliados quanto ao (a) sabor,
obtido pela relação sólidos solúveis totais/acidez titulável (Kader, et al., 1978);
(b) acidez titulável, expressa em % de
ácido cítrico; (c) pH e; (d) sólidos solúveis totais, expresso em °Brix. Para determinação da acidez, pH e °Brix utilizou-se a metodologia de Pregolato &
Pregolato (1985). As análises foram realizadas em laboratório da UFV.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância e teste de Tukey
(p<0.05), utilizando o Sistema para Análises Estatísticas – SAEG (Ribeiro
Júnior, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se significativa diferença
no tamanho dos frutos, na produção comercial, na produção de frutos com defeito e no número de folhas de tomateiros submetidos aos tratamentos deste
experimento, mas não na produção total (Tabela 1).
A maior produção de frutos grandes
(PFG) foi obtida no tratamento D (sem
retirada do 1o.cacho e sem desponta, mas
com retirada dos cachos acima do
6o.cacho) (Tabela 1). Para as demais
classes de tamanho, não houve diferenciação estatisticamente tão marcante
quanto a observada para a produção de
frutos grandes. Para produção de frutos
médios, o tratamento E (sem desponta
e sem retirada de cachos, mas com avaliação apenas dos seis primeiros cachos)
superou significativamente apenas o tratamento B (retirada do 1o.cacho e dos
cachos acima do 7o, mas sem desponta), com os demais tratamentos sendo
semelhantes a ambos (Tabela 1). Para
produção de frutos pequenos, o tratamento E superou significativamente
apenas os tratamentos C (sem retirada
do 1o.cacho e com desponta acima do
6o.cacho) e D, com os demais tratamentos
sendo semelhantes a ambos (Tabela 1).
Na produção comercial de frutos
(PC), o tratamento D apresentou valores estatisticamente superiores aos tratamentos A (retirada do 1o.cacho e desponta acima do 7o.cacho) e B (igual a A,
porém sem desponta e com retirada dos
cachos acima do 7o), sendo semelhante
aos demais, enquanto o tratamento E
superou significativamente apenas o traHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção e sabor dos frutos de tomateiro submetidos a poda apical e de cachos florais
tamento B (Tabela 1). Os tratamentos
C, D e E foram os que apresentaram a
menor produção de frutos com defeito
(Tabela 1).
Para as características produção total, sabor, ºBrix e pH, não foram observadas diferenças significativas entre os
tratamentos aplicados.
De acordo com Oliveira et al. 1995,
o maior número de frutos de tamanho
grande ocorre nos cinco primeiros cachos da planta de tomateiro, o que os
torna os mais produtivos em termos comerciais. Isto poderia justificar a menor produção comercial e de frutos de
tamanho grande para os tratamentos A
e B, cujo primeiro cacho foi removido.
Tanaka et al. (1974) observaram aumento no tamanho dos frutos do segundo e
terceiro cachos, quando da remoção do
primeiro. Este aumento, segundo os autores, foi devido ao menor número de
drenos e conseqüentemente maior disponibilidade de fotoassimilados para os
demais cachos. No presente trabalho,
esta hipótese foi testada através dos tratamentos A e B, porém não foi obtido o
resultado sugerido por Tanaka et al.
(1974).
Da mesma forma, os resultados obtidos não possibilitaram confirmar que
a poda apical poderia induzir o aumento de tamanho dos frutos, como sugerido por Maschio & Souza (1982) e Campos et al. (1987). Nesta pesquisa, o tratamento D (sem retirada do 1o.cacho e
sem desponta, mas com retirada dos
cachos acima do 6o.cacho) possibilitou
maior produção de frutos de tamanho
grande, diferenciando-se significativamente dos tratamentos A e C, onde foi
utilizada a poda apical. O provável motivo da maior quantidade de frutos de
tamanho grande associada ao tratamento D seria a manutenção do crescimento da planta com a remoção dos cachos.
Ao manter-se a emissão de novas folhas,
a capacidade fotossintética das plantas
mantém-se alta. De acordo com Acock
(1978), cerca de 73% da radiação que
chega ao dossel da cultura do tomateiro
é interceptada pelo terço superior das
plantas, que possuem capacidade de assimilação líquida de CO2 de 64%. No
caso do tratamento D, conforme a planta se desenvolvia, ela era enrolada no
fitilho (tutorada), de forma que não só o
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Produção de frutos grandes, médios e pequenos, produção comercial, producão
de frutos com defeito e número de folhas por planta de tomate em função da poda apical e de
cachos. (Production of large, medium, and small fruits, marketable production, production
of defective fruits, and number of leaves per tomato plant as function of top-shoot and floral
cluster pruning). Viçosa, UFV, 2002.
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey, p<0,05 (means
followed by the same letter on the column did differ from each other, Tukey´s test, p<0,05);
1
/Tratamentos/treatments: (A) retirada do 1o.cacho e desponta acima do 7 o.cacho (pruning of
the first floral cluster and of the top-shoot above the 7th floral cluster); (B) igual a A, porém
sem desponta e com retirada dos cachos acima do 7o.(same as A, but without top-shot pruning
and with pruning of floral clusters above the 7th); (C) sem retirada do 1o.cacho e com desponta acima do 6o.cacho (preservation of the first floral cluster and pruning of the top-shoot
above 6th floral cluster); (D) igual a C, porém sem desponta e com retirada dos cachos acima
do 6o.(same as in C, but without top-shoot pruning and with pruning of all floral clusters
above the 6th); (E) sem desponta e sem retirada de cachos, porém com avaliação apenas dos
seis primeiros cachos (neither top-shoot, nor floral cluster pruning, but taking into evaluation
only the first six floral); 2/PFG = produção de frutos grandes (large fruit production), PFM =
produção de frutos médios (medium fruit production), PFP = produção de frutos pequenos
(small fruit production), PC = produção comercial (marketable production), Defeito = produção de frutos com defeito (defective fruit production), NFOL = número de folhas (number
of leaves).
terço superior, mas toda a planta recebia radiação direta, possibilitando aumento na interceptação da radiação e
conseqüentemente aumento na assimilação de CO2.
Uma outra possível justificativa para
esta maior produção de frutos de tamanho grande pelo tratamento D, pode ser
o fato de que, ao se preservar a gema
apical da planta, principal ponto de produção de ácido indol acético (AIA), tenha ocorrido um atraso no início da
abscisão foliar (Taiz & Zieger, 2004) e
também a contínua formação de raízes
laterais e adventícias na planta (Celenza
et al., 1995). Estas duas funções promovidas pela auxina, foram verificadas em
plantas de Arabidopisis thaliana e poderiam ser responsáveis também pela alta
relação fonte/dreno ao longo do desenvolvimento da planta de tomateiro.
No tratamento E, considerado como
testemunha do trabalho, observou-se
menor produção de frutos de tamanho
grande entre os tratamentos em que não
foram removidos os primeiros cachos e
nem foram efetuados despontes (D e E).
No entanto, neste tratamento a produ-
ção de frutos de tamanho médio e pequeno foi alta, o que poderia ser justificado pelo fato de que mesmo com a
emissão de novas folhas houve também
a emissão de novos cachos que, ao não
serem removidos, competiram pelos
fotoassimilados produzidos pelas folhas
novas.
Apesar de não ter havido diferença
significativa entre os tratamentos C, D
e E, para a produção comercial de frutos, é importante salientar que o mercado paga cerca de 40% a mais pelos frutos de tamanho grande em comparação
aos de tamanho médio e, cerca de 30%,
para os de tamanho médio em relação
aos frutos de tamanho pequeno
(Ceagesp, 2004; CeasaMinas, 2004;
CeasaCampinas, 2004). Portanto, parece ser economicamente viável a utilização de métodos de manejo que proporcionem maior produção de frutos de tamanho grande em detrimento das demais classes de tamanho de fruto.
Para as características relacionadas
ao sabor dos frutos não foi verificada
diferença significativa para nenhuma
das características avaliadas. De acor267
MA Guimarães et al.
do com Kader et al. (1978) e Mencarelli
& Salveit Junior (1988), os frutos de
tomate podem ser considerados saborosos quando possuem relação sólidos
solúveis totais/acidez titulável superior
a 10 e isto foi verificado para todos os
tratamentos realizados, o que caracteriza todos os frutos produzidos como adequados para o consumo in natura.
Apesar de não ter ocorrido variação
no teor de sólidos solúveis, sabe-se que
esta característica relacionada ao sabor
é função da atividade fotossintética das
plantas, sendo que os açúcares, principalmente glicose e frutose, representam
cerca de 65% dos sólidos solúveis totais de frutos do tomateiro (Ho &
Hewitt, 1986). Vale ressaltar que, para
os valores de concentração de sólidos
solúveis totais, a média entre os tratamentos foi superior a 4, superior portanto ao observado por Ferreira (2001),
que obteve valores entre 3,57 e 3,75 para
frutos da cultivar Santa Clara produzidos em campo. Os altos valores encontrados podem estar relacionados diretamente à intensidade luminosa. A alta
intensidade lumínica, dentro de limites
que não causem danos ao aparato
fotossintético (Taiz & Zieger, 2004),
eleva a atividade fotossintética das folhas, possibilitando maior acúmulo de
açúcares nos frutos mesmo sob aplicação de diferentes tratamentos.
A manutenção do sabor dos frutos
frente aos diferentes tratamentos utilizados nesta pesquisa, contradiz alguns dados apresentados na literatura. Segundo
Caliman (2003), há correlação negativa
entre o sabor do fruto e o aumento de
produtividade para a cultivar Santa Clara. Stevens & Rudich (1978) também
observaram correlação negativa entre um
aumento de produtividade das plantas e
a qualidade dos frutos. Estes autores atribuem esta correlação negativa à limitada capacidade fisiológica da planta em
fornecer matéria-prima em quantidade
adequada ao suprimento de elevadas produções e a manutenção da qualidade do
fruto sob tais condições. É importante
ressaltar que tanto Caliman (2003) quanto
Stevens e Rudich (1978), realizaram poda
apical nas plantas, limitando desta forma a capacidade fisiológica das mesmas.
O
aumento
na
atividade
fotossintética da planta pode ser uma
268
forma de se obter elevadas produtividades sem afetar negativamente a qualidade do fruto. Conforme Ho (1999), a
manutenção da planta emitindo folhas,
tutorando-a de forma a maximizar a incidência de luz, e otimizando a densidade de plantio, favorece maior
interceptação de luz pelo dossel, promovendo melhor qualidade dos frutos mesmo sob altas produtividades.
Os resultados alcançados neste trabalho permitem concluir que a remoção
do primeiro cacho é prejudicial à produção comercial de frutos de tomate. A
manutenção dos seis primeiros cachos
fisiológicos da planta, juntamente à
manutenção do crescimento desta, com
poda dos demais cachos, possibilita aumento na produção de frutos de tamanho grande, não interferindo nas características de sabor destes.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pelo apoio financeiro, e
ao Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, pela formação acadêmica.
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Densidade de plantas e métodos de colheita na multiplicação de batatasemente em vasos
Ricardo M Corrêa; José Eduardo BP Pinto; Érika S Reis; Aline B Monteiro; César Augusto BP Pinto;
Valdemar Faquin
UFLA, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Por apresentar volume limitado de substrato, o plantio em vasos
pode levar a uma reduzida taxa de multiplicação de tubérculos de
batata. Objetivou-se estudar a multiplicação de tubérculos-semente
pré-básicos de batata em vasos, em função da densidade de plantas e
dos métodos de colheita. Os ensaios foram conduzidos em ambiente
protegido com tela antiafídeo, em vasos de 3 L. Em ambos os ensaios foram utilizadas plântulas livres de vírus. No primeiro ensaio
foram avaliadas as cultivares Monalisa e Ágata e dois métodos de
colheita (única e escalonada, com colheitas a cada 30 dias), em um
fatorial 2 x 2 em delineamento inteiramente ao acaso, com seis repetições e parcelas de quatro vasos, com uma plântula por vaso. No
segundo ensaio, foi utilizada apenas a cultivar Monalisa e foram
avaliadas cinco densidades de plantio, de 1 a 5 plantas por vaso (25
a 125 plantas m-2) nas épocas de primavera/verão e outono/inverno.
Estes ensaios foram conduzidos em delineamento inteiramente ao
acaso, com quatro repetições de quatro vasos cada. Não houve efeito significativo do método de colheita sobre o número total de brotos. Ao contrário, maior comprimento e massa fresca de tubérculos
foram obtidos na colheita única. A cultivar Ágata produziu significativamente mais tubérculos por planta que a cultivar Monalisa,
embora esta tenha produzido tubérculos de maior comprimento e
massa. Em relação à densidade de plantio, na primavera/verão cada
planta adicionada ao vaso (0,04 m2 para cada planta adicionada)
proporcionou um incremento de 2,69 tubérculos por vaso (67,25
tubérculos m-2), enquanto, no inverno, o incremento foi de 4,36 tubérculos por vaso (109 tubérculos m-2). Por outro lado, o aumento
na densidade levou à redução em média de 3,20 g na massa fresca
dos tubérculos para cada planta adicionada ao vaso no experimento
de inverno. No experimento conduzido na primavera/verão a densidade de plantio não influenciou o peso fresco dos tubérculos.
Plant density and harvest methods for potato seed tuber
multiplication in pots
Palavras-chave: Solanum tuberosum L., semente pré-básica, número de plantas por vaso, escalonamento de colheita.
The limited volume of substrate might reduce tuber multiplication
rates when production is carried out in pots. The results of potato
seed tubers multiplication in pots are presented in this publication,
taking into account different plant densities and harvest methods.
Experiments were carried out in an aphid-proof screenhouse, with 3
L pots, using virus-free seedlings previously acclimatized. In the
first experiment, cultivars Monalisa and Agata, and two harvest
systems were evaluated (single destructive and sequential 30-day
intervals non-destructive harvests) in two seasons, namely spring/
summer and autumn/winter. The experimental design was completely
randomized, in a 2 x 2 factorial scheme, with six replications, fourpot plots and one seedling per pot. In the second experiment, potato
seedlings from cultivar Monalisa were transplanted to pots according
to the density treatments, from 1 to 5 seedlings per pot (25 to 125
plants m -2 ). The experiment was carried out in a completely
randomized design with four replications and four-pot plots. Larger
tuber yield per plant was obtained under non-destructive harvest for
both cultivars. Instead, larger tuber length and fresh weight were
observed in the single destructive harvest. Cultivar Agata outyielded
cultivar Monalisa in number of tubers, although the latter produced
longer and heavier tubers. Regarding plant density, each additional
plant per pot (0.04 m2 per plant), yielded 2.69 extra tubers per plant)
(67.25 tubers m-2) in the spring/summer experiment and 4.36 extra
tubers (109 tubers m-2) in the winter experiment. Nevertheless, the
increase in density led to an average decrease of 3.20 g in tuber
fresh weight per additional plant. In the spring/summer experiment,
plant density had no significant influence on tuber fresh weight.
Keywords: Solanum tuberosum L., potato seed tuber, number of
plants per pot, non-destructive harvest.
(Recebido para publicação em 01 de setembro de 2005; aceito em 20 de maio de 2007)
A
semente é uma unidade que merece atenção especial em toda a cadeia produtiva da batata, pois, a partir
da sua qualidade, do seu potencial e vigor é que se vislumbra e se persegue a
oportunidade de atender ao consumidor
com produtos de melhor qualidade e
preço (Paes & Silva, 2003). Desta forma, é essencial buscar sistemas eficientes de produção de batata-semente visando à redução do seu custo de produção e mantendo sua qualidade fisiológica. Atualmente, existem diversos re270
cipientes para plantio de tubérculos-semente como vasos, sacos plásticos, bandejas de isopor ou materiais
biodegradáveis. Estes recipientes, quando associados a substratos com boa capacidade de drenagem e retenção de
água, proporcionam altas produtividades em sistemas de telado ou estufa
(Ferreira & Bittencourt, 2003).
Diversos são os estudos de produção de batata-semente em vasos
(Lommen & Struik, 1992; Lommen,
1995; Ahloowalia, 1999; Grigoriadou &
Leventakis, 1999; Nowak et al., 1999;
Assis et al. 2000). Lommen (1995), estudando os fatores básicos na produção
e desempenho de tubérculos de batata,
utilizou vasos de plástico em seus ensaios em casa-de-vegetação e verificou
que a colheita escalonada comprometia
o sistema radicular, levando à quebra de
dominância apical (acarretou mudanças
no particionamento de fotoassimilados)
e estresse nas raízes (compromete a absorção de água e posterior desenvolvimento da planta). Lommen & Struik
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Densidade de plantas e métodos de colheita na multiplicação de batata-semente em vasos
(1992), no trabalho de produção de tubérculos de batata em vasos em função
de várias colheitas, também observaram
efeitos negativos do método de colheita
escalonada na produção de tubérculos,
indicando que as plantas completaram
o ciclo rapidamente, devido às condições adversas como temperatura elevada, densidade de plantas e a própria colheita escalonada, que danificou o sistema radicular e acelerou a senescência
das plantas.
A densidade de plantas por vaso é
também fator importante na produção
de batata-semente em vasos. Lommen
(1995) utilizou seis plantas por vaso, na
tentativa de obter alta densidade de plantas (350 plantas m-2). Augustin (2004),
utilizando diversos substratos à base de
casca de arroz, verificou que a densidade de seis plantas por vaso era exatamente a densidade que proporcionava a
maior produção média de tubérculossemente por vaso. Já Roettger (1987)
relata que, a produção de batata-semente nas Filipinas é feita utilizando vasos
de 3 L, com densidade de quatro plantas por vaso.
O objetivo do presente trabalho foi
estudar a produção de sementes pré-básicas de batata em vasos, em função do
método de colheita e da densidade de
plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram conduzidos em
laboratório na Universidade Federal de
Lavras (UFLA), de junho a dezembro
de 2003. Foram utilizados nos ensaios
as cultivares Monalisa e Ágata. As
plântulas pré-estabelecidas em cultura
de tecidos (isentas de viroses pelo teste
de indexação), com cerca de 4 a 6 cm
de comprimento, foram retiradas dos
frascos (300 mL) e aclimatadas em bandejas de isopor com o substrato
Plantmax®. A aclimatação foi feita em
casa-de-vegetação sob sombrite e com
irrigação por aspersão, elevando-se
gradativamente a luminosidade e reduzindo a irrigação. Em ambos os ensaios,
os dados obtidos foram analisados estatisticamente utilizando-se o aplicativo
SISVAR, versão 4.3 (Ferreira, 2000).
Ensaio I: Métodos de colheita Foi
realizado na época de inverno na região
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
sul de Minas Gerais (junho a agosto de
2003). As plântulas foram transplantadas em vasos de 3 L (1 plântula por
vaso), colocados em canteiros suspensos
de alvenaria, no interior de uma casade-vegetação com tela antiafídeo. O
substrato utilizado nos vasos foi
Plantmaxâ, ocupando aproximadamente 70% do volume, sendo o restante reservado para a amontoa. Os vasos foram dispostos lado-a-lado, de forma a
manter um espaçamento de 20 cm entre
plantas (distância entre o ponto médio
de cada vaso). Após 10 dias, foi realizada a adubação de cobertura com sulfato
de amônio (5 g vaso-1), juntamente com
a amontoa. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com
seis repetições, cada uma composta por
quatro vasos. Os tratamentos foram arranjados em um fatorial 2 x 2,
correspondendo às cultivares Monalisa
e Ágata e a dois métodos de colheita
(único e escalonado). Na colheita única
todos os tubérculos foram colhidos no
final do ciclo, 90 dias após o plantio. As
colheitas escalonadas foram realizadas
30, 60 e 90 dias após o plantio. Na colheita escalonada, as plantas foram retiradas cuidadosamente do substrato e os
tubérculos maiores que 2 cm foram colhidos. Posteriormente, as plantas foram
colocadas novamente nos vasos para que
fosse efetuada a próxima colheita em 30
dias. Os tubérculos, depois de colhidos,
foram tratados com thiabendazol e
kazugamicina e armazenados em câmara fria sob temperatura de 4ºC e umidade relativa de 90%. Ao final do experimento foram analisados o número de
tubérculos por planta e o comprimento
e massa fresca dos tubérculos.
Após
cinco
meses
de
armazenamento, os tubérculos foram
retirados da câmara fria para avaliação
da brotação. O teste de brotação consistiu em colocar os tubérculos em local
ventilado, com luz difusa, em caixas de
papelão suspensas de 30 x 30 x 30 cm a
20 cm do piso. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com
três repetições de 50 tubérculos cada,
mantendo-se os mesmos tratamentos
utilizados para produção dos tubérculos.
As brotações foram avaliadas 30 dias
após a retirada dos tubérculos da câmara fria, contando-se o número de brotos
por tubérculo e medindo o comprimento dos respectivos brotos.
Ensaio II: Densidade de plantas O
ensaio foi conduzido em duas épocas
distintas: a) primavera/verão de 2003
(setembro a dezembro), em temperaturas mais elevadas e b) outono/inverno
de 2004 (maio a julho). Plântulas da
cultivar Monalisa aclimatadas foram
transplantadas para vasos de 3 L, colocados em canteiros de alvenaria
suspensos em casa-de-vegetação com
tela antiafídeos. Neste experimento, utilizou-se sombrite 50% acima das plantas. O enchimento dos vasos e a adubação foram executados conforme relatado no primeiro ensaio. O delineamento
experimental utilizado foi inteiramente
casualizado, com quatro repetições e
parcelas de quatro vasos. Os tratamentos corresponderam a densidades de
plantio, de uma a cinco plantas por vaso
(25 a 125 plantas m-2). A colheita foi
realizada ao final do ciclo (colheita única). Foram analisados o número total de
tubérculos por vaso e comprimento e
massa fresca dos tubérculos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Métodos de colheita A interação
cultivar x método de colheita foi significativa (p<0,05) para número de tubérculos por planta. Ainda assim, verificouse que o número de tubérculos produzidos foi superior na colheita escalonada
em comparação com a colheita única
para ambas as cultivares (Tabela 1). A
significância da interação deveu-se à
magnitude da resposta das cultivares ao
método de colheita: enquanto a cultivar
Monalisa produziu, em média, o dobro
de tubérculos na colheita escalonada em
relação à colheita única, 12,4 e 6,2 tubérculos planta-1, respectivamente. A
cultivar Ágata produziu, em média, 60%
mais tubérculos na colheita escalonada
(12,5 tubérculos planta-1) do que na colheita única (7,8 tubérculos planta-1).
O comprimento dos tubérculos e a
massa fresca também foram influenciados pela cultivar e método de colheita
(p<0,05). Com a colheita única observaram-se tubérculos de maior comprimento médio e massa fresca mais elevada para ambas as cultivares em comparação à colheita escalonada (Tabela 1). A
271
RM Corrêa et al.
Tabela 1. Número total de tubérculos planta-1, comprimento médio e massa fresca média de
tubérculos de batata conduzidos em vasos em função de cultivares e métodos de colheita
(Total number of tuber plant-1, average length and fresh weight of potato tubers planted in
pots as a result of cultivars and harvest methods) Lavras, UFLA, 2003.
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, para cada variável resposta, não diferem entre si, teste de Tukey, p<0,05 (Means followed by the same
small letter in the column and capital letter in the row, for each variable, did not differ from
each other, Tukey´s test, p<0,05).
Tabela 2. Número total de brotos tubérculo-1 e comprimento de brotos de tubérculos de
batata após cinco meses de armazenamento (Total number of sprouts tuber-1 and sprout
length in potato tubers after five months of storage). Lavras, UFLA, 2003.
Médias seguidas de mesma letra na coluna, para cada variável resposta, não diferem entre
si, teste Tukey, p < 0,05 (Means followed by the same letter in the column, for each variable,
did not differ from each other, Tukey´s test, p < 0,05); * Média de brotos de 50 tubérculos.
Para a colheita escalonada, o número de brotos por tubérculo refere-se aos valores médios
das colheitas de 30, 60 e 90 dias. Análise realizada sobre valores transformados para (x + 1)½
(Average number of sprouts for 50 tubers. For the sequential harvest, the number of sprouts
tubers-1 refers to the average value between the harvests carried out 30, 60, and 90 days after
planting. Analysis was performed over values transformed to (x + 1)½).
cultivar Monalisa produziu tubérculos
mais compridos e de massa fresca mais
elevada que a cultivar Ágata nos dois
métodos de colheita (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos por
Lommen (1995) com as cultivares Ostara
e Bintje cultivadas em vasos plásticos.
A possível explicação para a maior
produção de tubérculos por planta na
colheita escalonada está relacionada à
relação fonte-dreno e ao estímulo à
tuberização. De acordo com Lommen
(1995), na colheita única, os
fotoassimilados são direcionados para
o crescimento dos tubérculos, que são
colhidos somente ao final do ciclo. Com
isto, as plantas podem desenvolver os
tubérculos por todo o ciclo, originando
assim menor número de tubérculos, mas
com maior peso e diâmetro. Já na colheita escalonada, com a retirada parcial
dos tubérculos ao longo do ciclo, as reservas que seriam destinadas ao seu
272
crescimento são direcionadas para formação de novos tubérculos (Lommen,
1995). Além deste particionamento de
fotoassimilados, ocorre também o estímulo à tuberização com a retirada parcial de tubérculos, sendo as plantas
induzidas a produzirem novos tubérculos. Desta forma, os tubérculos produzidos na colheita escalonada serão em
maior quantidade, mas de menor peso e
diâmetro.
Em relação à avaliação da brotação
de tubérculos, observou-se que não houve efeito dos métodos de colheita, para
ambas as cultivares, para o número total de brotos tubérculo-1. No entanto,
como foram realizadas três colheitas
escalonadas ao longo do ciclo, o rendimento de tubérculos e conseqüentemente o número total de brotos foi maior na
colheita escalonada (três vezes maior)
que na colheita única. Para o comprimento de brotos, não foi observada di-
ferença significativa entre a colheita
única e a escalonada (Tabela 2).
Densidade de plantas No inverno,
a densidade de plantas por vaso influenciou linear e significativamente a produção de tubérculos da cultivar
Monalisa (p<0,05). Observou-se um
acréscimo de 4,4 tubérculos por vaso
(109 tubérculos m-2) para cada planta
adicional no vaso (0,04 m2 planta adicional no vaso-1) (Figura 1). A massa fresca de tubérculos também foi influenciada significativamente pelo número de
plantas por vaso (p<0,05). A cada planta adicional no vaso, observou-se um
decréscimo de 3,2 g na massa fresca dos
tubérculos (Figura 1). Não houve efeito
significativo da densidade de plantas por
vaso sobre o comprimento dos tubérculos que ficou, em média, em 3,4 cm.
No experimento conduzido na primavera/verão, a densidade de plantas
por vaso influenciou linear e significativamente a produção de tubérculos da
cultivar Monalisa (p<0,05), ocorrendo
um acréscimo de 2,7 tubérculos por vaso
(67,25 tubérculos m-2) para cada planta
adicional no vaso (0,04 m2 planta adicional no vaso-1) (Figura 2). Porém, a densidade de plantas por vaso não influenciou significativamente a massa fresca
de tubérculos (p<0,05). A média geral
foi de tubérculos com 8,3 g.
O maior número de tubérculos por
vaso observado à medida que a densidade de plantas aumentou pode ser explicado pela competição entre as plantas
dentro de cada vaso. Com uma planta por
vaso, não há competição interplanta, sendo os nutrientes do substrato, água e os
demais recursos integralmente disponíveis a uma única planta. À medida que o
número de plantas no vaso aumenta, introduz-se a competição entre plantas, que
será tanto maior quanto maior for o número de plantas. Resultados semelhantes foram obtidos por Gupta et al. (2003),
que utilizando plantas micropropagadas,
observaram que uma alta densidade de
plantas (86 plantas m-2) proporcionou a
produção, em média, de 5,9 tubérculos
planta-1, ao passo que, em uma densidade menor (36 plantas m-2), a produção
foi de 5,3 tubérculos planta-1 (diferença
de 11%).
O ensaio de primavera/verão foi conduzido em época atípica para a produHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Densidade de plantas e métodos de colheita na multiplicação de batata-semente em vasos
* Significativo, a 5 %, pelo teste F.
Figura 1. Número de tubérculos vaso-1 e massa fresca de tubérculos da cultivar Monalisa em função da densidade de plantas vaso-1, em
experimento conduzido no inverno (Number of tubers pot-1 and tuber fresh weight for cultivar Monalisa as affected by plant density pot-1, in
the winter experiment). Lavras, UFLA, 2003 (* Significativo, teste F, p < 0,05 – significant, F test, p < 0.05).
ção de batata na região de Lavras, visto
que as temperaturas nestas estações são
geralmente elevadas. Durante o dia, no
interior do telado onde as plantas foram
conduzidas, a média de temperatura
atingiu valores de 35 a 40ºC, mesmo as
plantas estando debaixo de sombrite
50% de iluminação. Souza (2003) relata que a temperatura ótima para a formação de tubérculos é de 17ºC e que
acima de 28ºC não há formação de tubérculos. As temperaturas noturnas amenas (em torno de 20ºC) são importantes
também para a tuberização, visto que a
planta de batata necessita de um gradiente de temperatura diurno/noturno em
torno de 10ºC para as ativações
enzimática e hormonais relacionadas à
tuberização. Em contrapartida, no presente trabalho, mesmo com temperaturas diurnas acima de 28ºC, ocorreu a
formação de tubérculos, muito provavelmente devido ao gradiente de temperatura ocorrido entre o dia e a noite.
Considerações gerais A produção
de tubérculos por planta e por m2 das
cultivares Monalisa e Ágata foi maior
na colheita escalonada em comparação
à colheita única. Já o comprimento médio e a massa fresca de tubérculos foram maiores na colheita única que na
colheita escalonada, para ambas as cultivares. O número total de brotações por
tubérculo não foi influenciado pelo método de colheita.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 2. Número de tubérculos vaso-1 e da cultivar Monalisa em função da densidade de
plantas vaso-1, em experimento conduzido na primavera/verão (Number of tubers pot-1 and
tuber fresh weight for cultivar Monalisa as affected by plant density pot-1, in the winter
experiment). (* Significativo, te teste F, p < 0,05 – significant, F test, p < 0.05). Lavras,
UFLA, 2003
Variações na densidade de plantio foram estudadas apenas para a cultivar
Monalisa. Observou-se que a produção de
tubérculos vaso-1 aumentou de forma linear
à medida que aumentou a densidade de
plantas vaso-1. Por outro lado, no inverno,
a massa fresca de tubérculos decresceu de
forma linear com o aumento da densidade
de plantas vaso-1, embora, na primavera/
verão, a densidade de plantio não tenha
apresentado efeito significativo sobre a
massa fresca dos tubérculos.
AGRADECIMENTOS
Á FAPEMIG pelo auxílio financeiro ao projeto e à CAPES pela concessão de bolsa ao primeiro autor.
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[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O objetivo deste trabalho foi propor classes de tamanho e peso
para frutos de tomate-cereja. O experimento foi conduzido em
Jaboticabal, São Paulo. Foram utilizados frutos da cultivar Sindy,
provenientes de 60 plantas cultivadas em casa-de-vegetação. Para
classificação dos frutos, desenvolveu-se um método no qual foram
utilizadas cinco caixas plásticas sobrepostas. Quatro caixas tiveram
suas bases perfuradas, com orifícios de diâmetro igual a 20; 25; 30 e
35 mm. As quatro caixas foram sobrepostas, adicionando-se uma
quinta caixa, sem orifícios, utilizada sob as demais, para coletar os
frutos que passassem pelos orifícios das caixas superiores. Os frutos
retidos em cada uma das caixas foram contados e pesados. Com
esses dados, calculou-se o peso médio dos frutos para cada classe de
tamanho. A freqüência de frutos em cada classe variou ao longo do
período de colheita. A porcentagem de frutos produzidos durante o
período de colheita para as diferentes classes foi de 5% para gigante, 22% para grande, 42% para médio, 20% para pequeno e 11%
para descarte. Os valores de peso (P) e diâmetro (D) dos frutos
correlacionaram-se linearmente, seguindo equação ajustada (P = 1,05
D – 14,71) com coeficiente de correlação (R** = 0,99, p<0,01). Utilizando o sistema descrito, foi possível propor uma classificação
para tomate-cereja associando-se o diâmetro e o peso dos frutos. O
método proposto mostrou-se viável pela praticidade e simplicidade.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, normas de classificação, pós-colheita.
Grading of cherry tomatoes based on fruit size and weight
The purpose of this experiment was to propose a grading system
for cherry tomatoes based on fruit size and weight. The experiment
was carried out at Jaboticabal, São Paulo State, Brazil. Fruits of cherry
tomatoes, cultivar Sindy, harvested out of 60 plants grown in a
greenhouse were evaluated. To separate fruits of different sizes, a
five plastic box system developed. In this system, the bottom of four
boxes drilled with holes of 20; 25; 30, and 35 mm of diameter. The
fifth box had no holes and was used as a collector box. Fruits retained
in each of the boxes were counted and weighed. The average weight
of the fruits was calculated for each class size. Fruit frequency in
each class varied during the harvest period. The percentage of fruits
was as follows: 5% of giant fruits, 22% of large fruits, 42% of medium
fruits, 20% for small fruits, and 11% of discard. There was a linear
correlation between the fruit weight (W) and diameter (D) (W =
1.05 D – 14.71, R** = 0.99, p<0.01). The system used was efficient
for grading cherry tomatoes by means of associating fruit diameter
and weight. In addition, it was practical and simple.
Keywords: Lycopersicon esculentum, grading, post-harvest.
(Recebido para publicação em 18 de maio de 2006; aceito em 16 de abril de 2007)
O
Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura surgiu
como resposta aos principais problemas
das cadeias de produção de frutas e hortaliças, entre eles a inexistência de padrões mensuráveis de qualidade
(CEAGESP, 2004). Como resultado
deste programa, atualmente, estão disponíveis normas de classificação de diversas hortaliças, incluindo o tomate. A
adoção voluntária às normas de classificação do tomate é o caminho que leva
à transparência nas operações comerciais, beneficiando produtores, distribuidores, varejistas e consumidores. A classificação é a comparação do produto
com padrões pré-estabelecidos. O julgamento obtido dessa comparação permite fazer o enquadramento do produto
em grupo, subgrupo, classe, calibre e
tipo, tornando possível uma interpretação única. Um produto classificado é um
produto separado por tamanho, cor e
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
qualidade, de modo a se obter lotes homogêneos e caracterizados de maneira
clara e mensurável (CEAGESP, 2004).
O tomate é classificado em relação à
coloração do fruto, quanto ao tipo ou categoria e quanto ao tamanho do fruto
(CEAGESP, 2004). A coloração do fruto
varia em função do seu estádio de
maturação. Para este atributo, o tomate é
classificado em cinco subgrupos: verde,
salada, colorido, vermelho e molho. Já o
tipo ou categoria refere-se à ocorrência de
defeitos graves e leves na amostra. Para
este atributo, o tomate é classificado em
extra, tipo I, tipo II e tipo III. Para tamanho do fruto, o tomate é classificado em
dois grupos: oblongo, quando o diâmetro
longitudinal é maior que o diâmetro transversal, e redondo, quando o diâmetro longitudinal é menor ou igual ao transversal.
De acordo com o maior diâmetro transversal do fruto, o tomate do grupo oblongo é classificado em três classes: grande
(Ø > 60 mm), médio (50 < Ø < 60 mm) e
pequeno (40 < Ø < 50 mm). De acordo
com o maior diâmetro transversal do fruto, o tomate do grupo redondo, com exceção do tomate-cereja, é classificado em
quatro classes: gigante (Ø > 100 mm),
grande (90 < Ø < 100 mm), médio (65 <
Ø < 90 mm) e pequeno (50 < Ø < 65 mm).
Para complementar a classe, adiciona-se
o calibre (CEAGESP, 2004).
Pelos atributos de classificação apresentados, fica evidente que o tomatecereja não se enquadra nas normas de
classificação apenas para as classes de
tamanho. Os valores considerados para
o diâmetro transversal dos frutos de tomate são sempre maiores que aqueles
observados no tomate-cereja.
O objetivo deste trabalho foi propor
classes de tamanho e peso para frutos
de tomate-cereja. Para tanto, será avaliada a existência de correlação entre
essas duas características.
275
C Fernandes et al.
A
B
Figura 1. Esquema representativo das caixas utilizadas para a separação de tomate-cereja em
diferentes classes de tamanho. A) conjunto das cinco caixas sobrepostas; B) caixas individuais
mostrando a distribuição dos orifícios nas bases (Representative scheme of the system used
for grading cherry tomatoes in different size classes. A) aspect of the five boxes; B) each box
is shown individually, with detail of the bottom drills). Jaboticabal, UNESP-FCAV, 2004.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa-de-vegetação da UNESP-FCAV,
276
em Jaboticabal, SP (21°14’05"S,
48°17’09"W, altitude de 614 m). O clima, segundo a classificação de Köppen,
é do tipo Aw com transição para Cwa
(Volpe, 2004. Comunicação pessoal). A
temperatura e a umidade relativa do ar
no interior da casa de vegetação foram
obtidas por meio de um termohigrógrafo
com registro contínuo dos valores. Durante o ciclo da cultura, as médias mensais de temperatura máxima diária, nos
meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro foram, respectivamente, 33; 33; 35; 36 e 38°C. As médias
mensais de temperatura mínima diária
foram 11; 11; 13; 14 e 16°C, nos mesmos meses. As médias mensais de umidade relativa do ar máxima diária foram 98; 98; 96; 95 e 94%, enquanto as
médias mensais da umidade relativa do
ar mínima diária foram 40; 40; 39; 38 e
37%, também nos mesmos meses.
O cultivo do tomateiro cultivar
Sindy, híbrido F1 do tipo cereja, foi conduzido em substrato com a utilização de
fertirrigação. O substrato foi composto
por areia média, bagaço de cana-de-açúcar e casca de amendoim. Para o fornecimento de nutrientes, utilizou-se a solução nutritiva recomendada por Moraes
(1997) para o cultivo do tomateiro em
sistema NFT (Técnica do Fluxo Laminar
de Nutrientes).
As mudas do tomateiro foram transplantadas no estádio de quatro folhas
definitivas. Foram utilizados vasos de
plástico, com capacidade para 5 L. Conduziu-se uma planta por vaso, com duas
hastes por planta, no espaçamento de 1,0
m x 0,5 m (2 plantas m-2), totalizando
60 plantas, que foram dispostas inteiramente ao acaso. A desbrota e a condução vertical da cultura foram realizadas
semanalmente. A poda dos ponteiros foi
realizada quando as plantas atingiram
dois metros de altura e apresentavam de
sete a oito cachos por haste. Para o controle de pragas e doenças foram realizadas, conforme a necessidade, pulverizações com defensivos nas doses e épocas recomendadas pelo fabricante para
o tomateiro. O período de colheita iniciou-se 78 dias após o transplantio e teve
duração de 57 dias. A colheita dos frutos
foi realizada duas vezes por semana.
Para o processo de separação dos frutos de tomate-cereja por tamanho e peso,
foi desenvolvido um método no qual foram utilizadas cinco caixas plásticas, com
45 cm de comprimento, 28 cm de largura e 10 cm de altura (Figura 1). Quatro
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Classificação de tomate-cereja em função do tamanho e peso dos frutos
caixas tiveram suas bases perfuradas,
com orifícios de 20; 25; 30 e 35 mm de
diâmetro, de acordo com a variação do
diâmetro dos frutos observada em cultivos anteriores. As caixas foram sobrepostas em ordem decrescente do diâmetro dos orifícios, de cima para baixo.
Uma quinta caixa sem orifícios foi utilizada sob as demais, para coletar os frutos que passassem pelos orifícios das
quatro caixas anteriores. Durante o período de colheita, os frutos colhidos foram depositados na caixa superior e, em
seguida, o conjunto de cinco caixas plásticas foi agitado, manualmente, até os
frutos passarem ou ficarem retidos nas
diferentes caixas. Os frutos que ficaram
retidos na caixa coletora foram descartados, em virtude do seu tamanho diminuto. Os frutos que ficaram retidos em
cada uma das quatro caixas superiores
foram pesados e contados. Posteriormente, com esses dados, calculou-se o peso
médio dos frutos para cada classe de tamanho. Foram colhidos todos os frutos
produzidos pelas plantas em avaliação.
Considerou-se como uma repetição a
colheita dos frutos provenientes de duas
plantas. O número de frutos por repetição foi variável em função da quantidade de frutos colhidos, tendo como valor
mínimo um fruto e valor máximo 167
frutos, com média de 69 frutos. Ao longo do período de colheita, esse processo
de separação de frutos foi repetido por
360 vezes.
A correlação entre peso e diâmetro
do fruto foi avaliada pela análise de regressão linear. O diâmetro dos frutos
baseou-se nos frutos retidos em cada
caixa.
Figura 2. Número médio de frutos de tomate-cereja por planta em cada classe de tamanho,
ao longo do período de colheita (Average number of cherry tomatoes per plant in each size
class during the harvest period). Jaboticabal, UNESP-FCAV, 2004.
Tabela 1. Número total e porcentagem de frutos colhidos para cada classe de tomate-cereja,
provenientes das 60 plantas avaliadas (Total and percentual of harvested fruits in each class
of cherry tomato, evaluated of 60 plants). Jaboticabal, UNESP-FCAV, 2004.
Tabela 2. Classificação de tomate-cereja em classes e calibres (Cherry tomatoes grading
based in classes and diameter). Jaboticabal, UNESP-FCAV, 2004.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A freqüência de frutos em cada classe variou ao longo do período de colheita
(Figura 2). As plantas produziram frutos da classe gigante nos quinze dias
iniciais do período de colheita. Os frutos grandes, médios e pequenos foram
obtidos em praticamente todo o período de colheita. Praticamente todos os
frutos descartados foram obtidos na última semana da colheita. Considerouse que as quatro classes de tamanho dos
frutos obtidas são necessárias, ainda que
a classe de frutos gigantes tenha
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
correspondido a apenas 5% do total de
frutos colhidos (Tabela 1). Acredita-se
que essa classe de tamanho atenda a um
nicho diferenciado de consumidores,
alcançando assim maior valor de mercado, devido principalmente à aparência. A porcentagem de frutos descartados foi de 11%, sendo estes pequenos
demais para o comércio.
Os valores de peso (P) e diâmetro
(D) dos frutos correlacionaram-se linearmente, seguindo uma equação ajustada (P = 1,05 D – 14,71), com coefi-
ciente de correlação (R ** = 0,99,
p<0,01). A existência dessa correspondência funcional confirma a dependência das variáveis avaliadas (Banzatto &
Kronka, 1989; Gomes, 2000). Portanto, há correlação positiva entre o diâmetro e o peso do fruto para tomate-cereja. Isto significa que o tomate-cereja
pode ser classificado por diâmetro ou
peso, não havendo necessidade de utilizar os dois parâmetros de classificação.
Acompanhando as características do
sistema de classificação proposto por
277
C Fernandes et al.
CEAGESP (2004) para tomate e baseando-se nos resultados obtidos no presente estudo, sugere-se que o tomatecereja seja classificado nas quatro classes de diâmetro propostas e quatro calibres (Tabela 2). Acredita-se que o sistema proposto possa ser utilizado para
outras cultivares de tomate-cereja, uma
vez que a variação de tamanho será detectada dentro de cada classe. Entretanto, ressalta-se a necessidade de confirmar essa informação por meio de outros experimentos que avaliem o siste-
278
ma de classificação aqui proposto para
outras cultivares de tomate-cereja.
Concluindo, pode-se propor a classificação para tomate-cereja associando-se o diâmetro e o peso dos frutos.
Além disso, o método proposto é viável
pela praticidade e simplicidade.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
BANZATTO DA; KRONKA SN. 1989. Experimentação agrícola. Jaboticabal: FUNEP. 247p.
CEAGESP. Classificação do tomate. 2004, 16 de
outubro. Disponível em www.ceagesp.com.br.
GOMES FP. 2000. Curso de estatística experimental. Piracicaba: Degaspari. 477p.
MORAES CAG. 1997. Hidroponia: como cultivar tomates em sistema NFT (técnica do fluxo
laminar de nutrientes). Jundiaí: DISQ Editora. 141p.
Ao CNPq, pela concessão da bolsa
de doutorado.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
FERREIRA MD; NETTO LH. 2007. Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de batatas. Horticultura Brasileira 25: 279-285.
Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de
batatas
Marcos David Ferreira1; Luiz Henrique Netto2
1
UNICAMP/FEAGRI, C. Postal 6011, 13083-875 Campinas-SP; 2UNICAMP/FEA, C. Postal 6121, 13083-862 Campinas-SP;
[email protected].
RESUMO
ABSTRACT
A batata é uma das principais hortaliças cultivadas no Brasil,
sendo uma cultura de grande expressão econômica no estado de São
Paulo. Após a colheita os tubérculos são submetidos aos processos
de beneficiamento e classificação, sendo então destinados ao mercado consumidor. Neste trabalho realizou-se a descrição e a caracterização dos processos das unidades de beneficiamento e classificação de batatas por meio da identificação do material usado para a
construção do maquinário, caracterização dimensional dos equipamentos, medidas de rotação de operação das esteiras de abastecimento e das classificadoras, determinação da velocidade de deslocamento e da rotação dos tubérculos e a produtividade dos operários. Determinou-se também os pontos críticos de impacto com queda
durante o beneficiamento, utilizando-se a esfera instrumentada (70
mm), Techmark, Inc., Lansing, Michigan, Estados Unidos. Com esta,
obtiveram-se dados de aceleração máxima (G) e mudanças na velocidade (∆v). Este levantamento foi realizado em cinco unidades de
beneficiamento e classificação para batatas localizadas no estado de
São Paulo. Observou-se variação quanto ao comprimento do equipamento, atingindo 26,5%. Foi constatado também variação na vazão de água entre as unidades devido à diferença nos sistemas utilizados para a lavagem dos tubérculos, tendo os volumes oscilado de
15,4 a 168 mil litros por hora. As escovas mais utilizadas na etapa
de lavagem eram compostas de cerdas com nylon cristal e fibra de
coco, não sendo encontradas escovas compostas de origem animal.
A rotação média para todas as unidades na etapa de lavagem foi de
157 rpm, porém verificou-se variação de 75% (112 a 196 rpm). Para
a etapa de secagem, a rotação média foi de 122 rpm, tendo oscilado
de 68 a 210 rpm. Os pontos das linhas de beneficiamento e classificação de batata demonstraram maior G nos pontos de transferência
(entrada do lavador e ensaque). Nas unidades A, B e D as maiores
médias de G ocorreram nas etapas iniciais de lavagem, apresentando valores próximos de 140 G (m/s2).
Palavras-chave: Solanum tuberosum L., beneficiamento, lavadora,
esfera Instrumentada e qualidade de tubérculos.
Process evaluation on potato packing lines
Potatoes are one of the most important vegetable crops in Brazil,
and are especially important in São Paulo State. After harvesting,
potatoes are sorted and classified in a packinghouse, then shipped to
consumers. The goal of this research was to describe the main features
and working systems used in a potato packing line. Therefore, the
material type used was identified taking into account the dimensions
of the equipments, brushes rotation on receiving belts and sorting
lines, average velocity, tuber displacement velocity and rotation, and
employee daily yield. The critical points for drop impact were
measured using an instrumented sphere (70 mm), Techmark, Inc.
Lansing, Michigan, USA. Results for maximum Acceleration (G)
and velocity changes (∆v) were found. This research was done in
five packinghouses of São Paulo State. A variation occurred in length
among the lines, of about 26,5%. The water consuption varied among
the units based on the washing system used, and volume dispended
varied from 15,4 to 168 thousand liters/hour. The main brushing
composition used on the washing brushes were nylon and coconut
fiber, and brushes of animal origin were not used. The average rotation
observed on the washing step was 157 ppm, with a variation of 75%
(112-196 rpm). For the drying step, the average rotation was 122
rpm, varying from 68 to 210 rpm. The critical points that showed
high G were the transfer points (washing entrance and packing). At
units A, B and C the high G values were at the initial washing steps,
closely to 140 G (m/s2).
Keywords: Solanum tuberosum L, sorting, packing line washer,
instrumented sphere, tuber quality.
(Recebido para publicação em 18 de março de 2006; aceito em 30 de março de 2007)
A
batata é uma das hortaliças de
grande expressão econômica no
Brasil, sendo depois do trigo, arroz e
milho, a maior em produção. No Brasil
em 2003 a produção total de batatas foi
de 3,05 milhões de toneladas (IBGE citado por FNP-Consultoria & Comercio,
2005). As regiões Sul e Sudeste são as
principais produtoras brasileiras de batata. Os estados de MG, PR, SP, RS e
SC respondem em conjunto por 96% da
produção brasileira, sendo que Minas
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Gerais ocupa a liderança nacional em
produção e produtividade (Resende et
al., 1999).
A produção total de batata
corresponde aproximadamente ao consumo nacional, sendo que cerca de 95%
são consumidas “in natura”, e os 5%
restantes na forma industrializada como
pré-fritas congeladas, chips e pré-cozidas (FNP-Consultoria & Comercio,
2005). Quase a totalidade da batata
consumida in natura é lavada, sendo
este procedimento exigido pelo consumidor.
No Brasil duas alternativas têm sido
utilizadas para beneficiamento e classificação da batata após a colheita. Na
primeira alternativa, mais simples e pouco utilizada, a batata é arrancada e exposta na superfície do solo por algumas
horas para secagem ou perda da água
superficial. Em seguida passa por processo de seleção e classificação manual
no campo. Logo após, é ensacada, colo279
MD Ferreira & LH Netto
cada em caminhões e transportada até
os pontos de venda. Na segunda alternativa, a batata recém colhida é levada
para galpões onde, sofre uma lavagem
e secagem. Após é selecionada, classificada manualmente e/ou mecanicamente e ensacada. Depois de ensacada pode
ser armazenada e transportada conforme a demanda do mercado (Finger &
Fontes, 1999) ou enviada imediatamente
aos pontos de venda, o que é mais comum.
A conservação da batata, após a colheita, dependerá em grande parte da
maturidade fisiológica do tubérculo. A
periderme do tubérculo imaturo é pouco resistente e as paredes celulares, são
mais finas que em tubérculo maduro.
Isso pode aumentar a incidência de danos nos tubérculos colhidos imaturos
(Finger & Fontes, 1999). Após o
arranquio dos tubérculos no campo, a
quantidade total do produto é reduzida
até chegar ao consumidor. Ocorrem perdas na própria colheita, no
beneficiamento, no transporte, nos pontos de venda do atacado e do varejo e
também no consumo, principalmente
pelo armazenamento inadequado dos
tubérculos. Durante a secagem inicial
em campo, já ocorre perda de peso. Em
seguida, no beneficiamento, ocorre o
descarte de solo aderido aos tubérculos,
assim como o descarte da batata nãocomercial, ou seja, tubérculos com defeitos graves detectados visualmente e
eliminados manualmente. A lavagem
dos tubérculos, apesar de ser prática predominante, é questionável, pois pode
acentuar os seus defeitos e ainda tornálos mais suscetíveis à deterioração, além
de aumentar a porcentagem de descarte
(Finger & Fontes, 1999). Henz & Brune (2004) relatam que as perdas póscolheita para batata avaliadas em estudo em Brasília (DF) foram 10,3% para
a batata não lavada e 93% para a batata
lavada, constatando, portanto que o processo de lavagem aumenta a incidência
de deterioração.
As alterações na batata durante o
processo da colheita até o consumo são
principalmente do tipo mecânica, fisiológica ou patológica. Danos mecânicos
ocorrem durante o manuseio dos tubérculos (colheita, seleção, embalagem,
transporte e exposição). Danos fisioló280
gicos e patológicos se dão principalmente, na fase de produção, transporte e
exposição.
Danos mecânicos devidos a impactos, compressão, vibração, cortes e rachaduras estão relacionadas com alterações fisiológicas, metabólicas, de aroma, sabor e qualidade em diferentes produtos hortícolas tais como maçãs, pepinos, batatas e tomates (Moretti &
Sargent, 2000). O dano mecânico pode
ser ocasionado por uma pequena força,
pressão, e por impacto em uma superfície dura (Mohsenin, 1970).
A incidência e a severidade da desordem fisiológica dependem da energia e do número de impactos e do estádio de amadurecimento. Ela é cumulativa durante as práticas de manuseio póscolheita (Sargent et al., 1992b). Portanto, as várias etapas de manuseio do produto, desde o campo até o consumidor,
devem ser cuidadosamente coordenadas
e integradas para maximizar a qualidade do produto (Sargent et al, 1992a). Em
geral, danos por impacto na pós-colheita podem ocorrer quando os frutos recebem quedas altas ou colidem com superfícies não protegidas ou com outros
frutos. A severidade dos danos causados por impactos em uma linha de classificação pode ser reduzida diminuindose a altura de elevação de queda entre
as etapas ou através da utilização de protetores, os quais podem dissipar a força
de impacto. O número de impactos também pode ser reduzido diminuindo o
número de quedas e de pontos de transferência em uma linha de classificação
(Hyde & Zhang, 1992). Para redução na
força de impacto e danos físicos em uma
linha de beneficiamento e classificação
estas devem ser projetadas preferencialmente em uma linha reta, sem desvios e curvas, e possuir alturas mínimas
entre as etapas (Sargent et al., 1999).
Jobling (2000) relatou que as perdas
devido a impacto e danos físicos em
batata podem chegar até 40% na póscolheita, influenciando diretamente no
aumento da incidência de doenças. As
principais doenças associadas aos danos
físicos em batatas são podridões
bacterianas (Henz & Brune, 2004). Lesões externas caracterizam-se pela descoloração da superfície danificada, causada pelo aumento da pigmentação pro-
duzida, proporcionando a superfície
impactada o escurecimento (Expido et
al., 2005).
O objetivo deste trabalho foi a caracterização dos processos de beneficiamento
e classificação de batatas e a determinação de pontos críticos de impacto.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados foram coletados em cinco
unidades de beneficiamento e classificação de batatas no estado de São Paulo, localizados nos municípios de
Vargem Grande do Sul (Unidades A, B
e C), Itapetininga, (Unidade D) e
Divinolândia (Unidade E).
Nos equipamentos de classificação
e beneficiamento de batatas foram observados os materiais utilizados na construção dos equipamentos. Para a caracterização dimensional do tipo de classificadora utilizada foram feitas medidas
com o auxílio de uma trena profissional. Foi mensurada cada fase do equipamento, aferindo-se tanto o comprimento quanto as larguras interna e externa. Mediram-se as alturas de cada
queda sofrida pelos tubérculos ao longo do percurso no equipamento. Tomouse cada medida perpendicularmente,
desde o local exato de contato após a
queda até o ponto de onde o tubérculo
iniciava a mesma. Dimensionou-se, ainda, o tamanho das grades de seleção com
auxílio de régua milimetrada.
Na avaliação da velocidade de operação das esteiras de abastecimento e das
classificadoras mensurou-se o comprimento das esteiras das cinco unidades,
calculando-se o tempo médio para funcionamento do equipamento. Para
mensuração da velocidade de deslocamento do tubérculo na etapa de lavagem
um tubérculo, marcado previamente, de
tamanho médio (70 mm de diâmetro longitudinal) foi usado como referência.
Esse tubérculo foi colocado no início de
cada esteira acionando-se o cronômetro
de precisão. Usou-se como resultado final a média de cinco repetições, calculando-se a velocidade através da fórmula ∆s/∆t médio, sendo ∆s o comprimento
da esteira e ∆t médio o tempo médio para
o tubérculo percorrer esse comprimento.
A produção diária foi dimensionada
baseando-se na média de trabalho menHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de batatas
sal de cada unidade. Para tanto, foram
utilizadas as informações referentes à
quantidade diária beneficiada e classificada, o horário de trabalho dos operários
e o peso da saca de batatas, obtendo-se
assim kg de tubérculos/operário/hora.
Na etapa de lavagem e limpeza foi
medido o volume de água utilizada. A
etapa de recebimento utiliza um grande
volume de água, porém muito variável,
portanto de difícil mensuração. Nesta
avaliação foi utilizado um béquer com
capacidade para 550 ml, para medir a
vazão de água utilizada no processo por
períodos fixos de tempo. Foram selecionados, ao acaso, bicos ou furos, dependendo da unidade de beneficiamento,
para a medição do volume. Contou-se o
número de furos ou bicos em toda a linha para obtenção do volume total de
água utilizado.
O número de escovas utilizadas nas
etapas de limpeza, polimento e secagem
foi contado. Também determinou-se a
origem do material das escovas de cada
etapa: vegetal, animal e sintético. Na
avaliação das medidas da rotação de
operação no funcionamento das escovas
nas etapas de lavagem, polimento e secagem determinou-se um ponto de referência e por meio de um cronômetro
de precisão, utilizando-se um minuto
como tempo padrão avaliou-se a rotação dessas esteiras, demarcando assim
a contagem da freqüência, que foi determinada em rotações por minuto. Foram feitas cinco repetições para cada
esteira, levando-se em consideração
como resultado final a média das repetições.
A avaliação dos pontos de impacto
(por queda) foi realizada utilizando-se
a esfera instrumentada (70 mm),
Techmark, Inc. Esfera instrumentada
(Techmark, Inc., Lansing, EUA), é um
equipamento plástico com registrador de
aceleração, para a avaliação da magnitude de impactos em pontos de transferência em linhas de classificação de tomate (Sargent et al., 1992a), maçãs
(Guyer et al., 1991; Sober et al., 1990),
laranja (Miller & Wagner, 1991), cebola (Timm et al., 1991), abacate, mamão
e abacaxi (Timm & Brown, 1991) e batata (Lopresti & Thomson, 1998; Hyde
et al., 1992). Para as avaliações mencionadas utilizou-se níveis de impactos
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Caracterização dimensional das unidades de beneficiamento e classificação de
batatas (Dimensional characterization of the packing and classification lines of potatoes).
Campinas, UNICAMP, 2004.
*Etapas: 1: Recebimento; 2: Limpeza 1; 3: Limpeza 2; 4: Secador; 5: Seleção; 6: Classificação; 7: Ensacamento. (Step 1: receiving; 2: cleaning 1; 3: cleaning 2; 4: Dryier 5: Selection;
6: classification; 7: packing).
medidos na aceleração máxima (AM)
(G = 9,81 m/s2) e mudanças na velocidade (∆v) (m/s). ∆v pode ser um
indicativo da superfície de impacto, por
exemplo, quanto mais baixa a velocidade, mais rígida e dura é a superfície de
impacto. Todavia, velocidade é também
positivamente correlacionada com a
aceleração máxima, à medida que se
aumenta a altura de queda, maior será a
aceleração máxima e a velocidade
(Sargent et al., 1992a).
A esfera instrumentada foi colocada
na etapa de recebimento de cada linha,
em funcionamento na sua capacidade
normal, e foi movimentada juntamente
com os tubérculos, seguindo o fluxo
normal destes até a etapa de ensaque. O
tempo de permanência da esfera em
cada etapa, o tempo para completar o
percurso e os pontos de transferência
foram monitorados através do uso de um
cronômetro de precisão. As medições
foram repetidas oito vezes. Após os testes a esfera foi removida e os dados
transferidos para o microcomputador.
Os limites para medição do nível de
impacto utilizados variaram de 15 a 500
G. Os dados obtidos nos pontos de transferência em cada avaliação foram
correlacionados entre a aceleração máxima (AM) (G = 9,81 m/s²) e mudanças
na velocidade (∆v) (m/s) e apresentados através de gráficos. Para apresentação dos resultados foram utilizados os
pontos coincidentes entre as unidades.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os equipamentos nas cinco
unidades estudadas eram nacionais, sen-
do utilizado na construção chapa de aço
carbono com espessura de 1,0-1,5 mm.
O comprimento do equipamento
variou em 26,5%, sendo o maior 53,95
metros e o menor equipamento 39,60
metros (Tabela 1). O equipamento mais
longo era utilizado para beneficiamento
de batata para indústria. Entre as etapas,
as mais longas foram as referentes à limpeza e secagem. A etapa de limpeza era
em geral dividida em duas, sendo que a
primeira fase caracterizava-se por jatos
de água de alta pressão e a segunda por
uma maior quantidade de bicos e maior
exposição do produto à lavagem. A secagem da batata em todos os galpões
estudados era realizada utilizando-se
altas temperaturas e percursos longos.
A seleção e a classificação são etapas
com menores comprimentos que as demais, sendo que nesta última a variação
entre os valores deveu-se ao comprimento da grade classificadora. Quando
ao diâmetro da grade de classificação
utilizada verificou-se diversos valores.
Os equipamentos das unidades A e E
apresentaram diâmetro de 38 mm; o da
unidade B 43 mm; o da unidade C 40
mm; e o da unidade D apresentou três
diâmetros: 40, 42 e 45 mm. O comprimento da etapa de ensaque foi semelhante em todos os galpões. O equipamento
mais largo encontrado foi no galpão da
unidade A, com 1,80 metros e o menor
valor foi observado na unidade D, com
1,25 metros. A unidade B apresentou
valor de 1,46 metros e as unidades C e
E, 1,50 metros.
A medida da velocidade de operação das esteiras de abastecimento diferiu entre as unidades, sendo que nas
281
MD Ferreira & LH Netto
Tabela 2. Produção diária das unidades de beneficiamento e classificação de batatas (Daily
production of the packing and classification units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
*Unidades: A, B e C: Vargem Grande do Sul (SP); D: Itapetininga (SP); E: Divinolândia (SP).
Tabela 3. Consumo de água na etapa de lavagem em unidades que utilizam o sistema de
bico aspersor, não sendo considerado o volume de água utilizado no recebimento. (Water
use in the washing step, not considering the water volumen employed in the reception of
units who employ aspersors). Campinas, UNICAMP, 2004.
*Unidades: A, B e C: Vargem Grande do Sul (SP); D: Itapetininga (SP); E: Divinolândia (SP).
Tabela 4. Consumo de água na etapa de lavagem, em unidades que utilizam o sistema de
PVC perfurado, não sendo considerado o volume de água utilizado no recebimento (Water
used in the washing step, not considering the water volumen employed in the reception of
units who employ perforated PVC tubes). Campinas, UNICAMP, 2004.
**
Unidade D possuía duas linhas para lavagem dos tubérculos, portanto os dados apresentados representam as duas esteiras de lavagem (The unit D had two potato washing lines;
therefore the presented data represent two washing units).
unidades B e E não foi possível fazer as
mensurações, devido ao difícil acesso a
estas esteiras. A média calculada para
esta etapa foi de 0,30 m.s-1, variando de
0,17 m.s-1 na unidade A a 0,53 m.s-1 na
unidade D. A unidade C apresentou velocidade de 0,21 m.s-1. Essa diferença
pode ser proveniente da capacidade de
operação, do comprimento e largura dos
equipamentos desta etapa.
Na etapa de classificação a medida
da velocidade das esteiras foi praticamente igual (0,18 m.s-1) para as cinco
unidades avaliadas, o que pode ter sido
devido à intensa utilização de mão-deobra no processo. Todavia, observou-se
282
que a velocidade média de deslocamento
dos tubérculos praticamente não variou
entre as unidades, sendo 0,15 m.s-1, o
que pode estar relacionado ao volume
dos tubérculos beneficiados e à rotação
dos equipamentos.
A unidade A de beneficiamento e
classificação de batatas possui número
de trabalhadores menor que as demais,
pois a sua produção destinava-se naquele momento ao processamento industrial, não sendo necessária uma seleção
mais rigorosa para os padrões de classificação (Tabela 2). Essas unidades trabalham em épocas específicas do ano,
por cerca de 10-14 horas diárias. Ob-
serva-se que o comprimento das linhas
(Tabela 1) não influenciou na produção
diária das unidades, e que o número de
funcionários foi independente deste
comprimento, verificando-se então que
fator gerencial pode ser uma importante ferramenta no rendimento de uma linha de beneficiamento.
Foi constatada variação no consumo
de água entre as unidades devido à diferença no sistema utilizado para a lavagem dos tubérculos (Tabelas 3 e 4). As
unidades A e B utilizam bico aspersor,
enquanto que as unidades C, D e E utilizam cano de PVC perfurado Em todas
as unidades foram observadas diferenças no funcionamento dos bicos
aspersores utilizados e nos canos de
PVC perfurados, os quais apresentavam
freqüentes entupimentos. O consumo de
água (L/hora) oscilou entre 15,4 e 168
mil L por hora o que pode ser devido à
capacidade de operação de cada
beneficiadora, à quantidade de bicos
aspersores e perfurações e ao comprimento das etapas de lavagem em cada
unidade. A unidade D utilizava duas linhas para a etapa de limpeza.
Com relação ao número de escovas
notou-se que as cinco unidades de
beneficiamento e classificação de batatas avaliadas possuíam na etapa de lavagem 2 maior número de escovas do
que na etapa de lavagem 1 (Tabela 5).
Quanto ao material, observou-se que
escovas utilizadas nas etapas de lavagem eram compostas de cerdas com
nylon cristal (diâmetro 0,35 mm) e fibra de coco (material vegetal). Escovas
compostas de origem animal (crina de
cavalo) não foram encontradas nestas
avaliações. Nas unidades B e D foram
observadas, na etapa inicial de lavagem,
a presença de cilindros metálicos para
transporte dos tubérculos.
A rotação média para todas as unidades na etapa de lavagem foi de 157
rpm, oscilando de um mínimo de 112 e
um máximo de 196 rpm, com variação
de 75% (Tabela 6). Para a etapa de secagem, a rotação média foi de 122 rpm,
oscilando de 68 a 210 rpm, variação de
308%. Na unidade A, não foi possível
calcular a rotação na etapa de secagem
devido à incapacidade de visualização
das esteiras. As diferenças observadas
são devido aos equipamentos utilizados
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de batatas
Tabela 5. Número de escovas utilizadas nas etapas de lavagem 1, lavagem 2 e secagem nas unidades de beneficiamento e classificação de batata
(Number of brushes used in the washing steps 1 and 2 and drying step in the packing and classification units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
*Unidades: A, B e C: Vargem Grande do Sul (SP); D: Itapetininga (SP); E: Divinolândia (SP).
e as variações no abastecimento. Altas
rotações podem causar eventuais danos
físicos aos tubérculos. Comparando-se os
resultados de rotação das escovas na lavagem com o volume de água gasto, notou-se que na unidade B, em que a medida de rotação foi maior, houve o menor
volume de água gasta, enquanto na unidade D em que a medida de rotação foi a
menor, houve o maior volume de água
gasto na lavagem dos tubérculos.
Por meio do uso da esfera
instrumentada (70 mm), obtiveram-se
dados de máxima aceleração (G) e variação na velocidade (∆v) para os impactos na linha de classificação e
beneficiamento de batatas (Figuras 1, 2
e 3). Os pontos das linhas de classificação para batata que demonstraram maior
G foram os de transferência (entrada no
lavador e ensaque). Em três unidades (B,
C e D) os maiores valores foram observados na etapa de lavagem (entrada do
lavador), observando-se na unidade C,
G superior a 140 m/s2. Na entrada do
processo de secagem observa-se uma
redução nos valores de G em todas as
unidades, porém com crescente ascensão nos outros três pontos de transferência. A variação nos valores de G, entre as unidades para os pontos coincidentes, pode estar relacionada à velocidade de deslocamento, rotações das escovas, altura de queda e tipo de superfícies protetoras. Os menores valores de
G foram obtidos para Unidade C, na
entrada do secador. Na saída do secador, o maior valor de G foi obtido na
Unidade D (>80G) e o menor na unidade A (<60G). Para a saída da seleção,
na unidade E obteve-se menor valor,
inferior a 70G, enquanto na unidade A
obteve-se maior valor neste ponto de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 6. Medidas das rotações nas escovas (rpm) nas unidades de beneficiamento e classificação para batata (Rotation values on the brushes (rpm) in the packing and classification
units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
Obs: NC = não consta; * Umidades A, B e C: Vargem Grande do Sul (SP); D: Itapetininga
(SP); E: Divinolândia (SP); **Etapa de secagem utilizando-se escovas com espuma (Drying
steps using brushes with foam)
Etapas: (1) Recebimento (reception), (2) Lavagem 1 (washing 1), (3) Lavagem 2 (washing 2),
(4) Secagem (drying), (5) Seleção e ensaque (selection and packing). Pontos de Avaliação para
Impacto (points of impact evaluation): (A) Entrada no sistema de lavagem (entrance in the washing
sistem), (B) Entrada no secador (entrance in the dryer), (C) Saída do secador (out of the dryer),
(D) Saída seleção (out of selection), (E) Ensaque (packing).
Figura 1. Desenho esquemático com as principais etapas e pontos de transferência avaliados para impacto em equipamento de beneficiamento e classificação de batatas (Chematic
presentation presenting the main steps and transferring points evaluated on the impact of the
equipment of the packing and classification units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
transferência (>100G). Na etapa do
ensaque as unidades A e C apresentaram os maiores valores e a D valores
inferiores a 70G.
Geralmente nas etapas iniciais são
encontrados altos valores de impacto
(Sargent et al., 1992a). Miller & Wagner
(1991) relatam que 80% dos impactos
em linha de classificação para citrus
variam entre 25-150G e são causados
por quedas em superfícies rígidas de
metal ou em uma camada de cobertura
emborrachada muito fina. Todavia, na
etapa de recebimento, foram observados valores de até 300G. Hyde et al.
(1992)
avaliaram
linhas
de
beneficiamento e classificação para batata e observaram que maiores impactos são causados por quedas em superfícies rígidas.
Assim, verifica-se que os valores de
G observados neste trabalho corroboram
283
MD Ferreira & LH Netto
Tabela 7. Aceleração Máxima (G) e velocidade (∆v) em unidades de beneficiamento de batata (Maximal acdeleration (G) and velocity (∆v)
in the packing and classification units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
*Unidades: A, B e C: Vargem Grande do Sul (SP); D: Itapetininga (SP); E: Divinolândia (SP).
Figura 2. Aceleração máxima (m/s2) para pontos coincidentes nas cinco unidades de
beneficiamento e classificação de batatas (maximum acceleration (m/s2) on coincident points
of the five packing and classifying units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
Figura 3. Velocidade média (m/s) para pontos coincidentes nas cinco unidades de
beneficiamento e classificação de batata (Average speed (m/s) for coincident points of the
five packing and classifying units of potato). Campinas, UNICAMP, 2004.
os autores supracitados. Timm & Brown
(1991) relataram uma diminuição no
impacto em linhas de classificação de
abacate, mamão e abacaxi, quando da
284
utilização de protetores emborrachados.
Sargent et al. (1992a) também relataram
que utilizando se de menores pontos de
queda e que modificações em alguns
pontos da linha de classificação de tomates de mesa, por meio da utilização
de protetores de superfície, proporcionaram redução em até 50% na pressão
de impacto, com conseqüente diminuição nos danos físicos.
Quanto a ∆v observa-se que existe
uma similaridade entre os gráficos apresentados (Figuras 2 e 3). Isto pode ser
explicado pela correlação positiva obtida entre o ∆v e a G (Tabela 7), já que
para uma dada superfície o aumento da
altura de queda aumentará tanto a aceleração como a velocidade (Sargent et
al., 1992a).
Com os dados obtidos pode-se caracterizar as linhas de beneficiamento e classificação utilizadas de batatas e observar
os seus pontos críticos os quais podem
ser utilizados para dimensionamento de
novos equipamentos e intervenções nas
unidades em funcionamento, principalmente quanto aos pontos de impacto, os
quais foram localizados em todos os equipamentos de classificação e
beneficiamento de batatas.
Conclui-se, portanto, que não existe
a necessidade de linhas extensas e grandes quantidades de água, e sim de que
ocorra a otimização do uso dos recursos
e equipamentos. Uma linha ideal para
funcionamento, tem como características
desejadas utilizar o mínimo de água em
rotações, as quais não causem danos físicos ao produto. Nos pontos de transferência a magnitude de impacto pode ser
minimizada a partir do uso de protetores
de superfície e pela diminuição na altura
da queda. Estudos futuros podem ser conduzidos com a finalidade de se observar
a relação entre os impactos sofridos e
perdas pós-colheita, em especial causadas pela incidência de doenças.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Avaliação de processos nas linhas de beneficiamento e classificação de batatas
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação
de Amparo a Pesquisa do Estado de São
Paulo, FAPESP e à Associação Brasileira da Batata, ABBA.
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285
PRATISSOLI D; POLANCZYK A; PEREIRA CLT; FURTADO ISA; COCHETO JG. 2007. Influência da fase embrionária dos ovos da traça-das-crucíferas
sobre fêmeas de Trichogramma pretiosum com diferentes idades. Horticultura Brasileira 25: 286-290.
Influência da fase embrionária dos ovos da traça-das-crucíferas sobre
fêmeas de Trichogramma pretiosum com diferentes idades
Dirceu Pratissoli; Ricardo Antonio Polanczyk; Cácia Leila Tigre Pereira; Idana Soraya de Andrade
Furtado; Juliéder Goronci Cocheto
UFES, CCA, Depto. fitotecnia, Alto Universitário s/n, 29500-000 Alegre-ES; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Plutella xylostella é considerada a praga mais importante das
crucíferas. O método de controle mais utilizado para essa praga é o
químico. Contudo, esta espécie de inseto vem desenvolvendo resistência aos inseticidas aplicados. O controle biológico com espécies
do gênero Trichogramma é considerado uma alternativa no controle
dessa praga. Porém, poucos são os trabalhos que mencionam aspectos biológicos desse parasitóide sobre esta praga. Neste trabalho
avaliou-se a influência da fase embrionária dos ovos do hospedeiro
P. xylostella sobre fêmeas de T. pretiosum com diferentes idades.
Fêmeas do parasitóide foram divididas em cinco lotes, compostos
por espécimes recém-emergidos com 24; 48; 72 e 96 horas de idade.
Cada lote continha dez fêmeas de T. pretiosum. Para cada fêmea de
cada lote, foi oferecida uma cartela contendo 30 ovos de P. xylostella
com um, dois e três dias de idade. As maiores taxas de parasitismo
foram observadas em fêmeas com idade superior a 48 horas, independente do desenvolvimento embrionário do hospedeiro. Em ovos
com três dias de desenvolvimento embrionário verificou-se que, para
fêmeas recém-emergidas e com 48 horas de idade, a taxa de viabilidade foi superior apenas em relação àquelas com 96 horas de idade. Ao se avaliar os descendentes de T. pretiosum provenientes de
ovos com um dia de desenvolvimento embrionário, verificou-se que
os maiores valores de longevidade foram obtidos quando as fêmeas
desse parasitóide eram recém-emergidas.
Influence of diamondback moth embrionary egg stage on
Trichogramma pretiosum females of different ages
Palavras-chave: Plutella xylostella, repolho, controle biológico,
parasitóide de ovos.
Keywords: Plutella xylostella, cabbage, biological control, egg
parasitoid.
Plutella xylostella is one of the most important pests of
Cruciferae. Chemicals have been used to control this insect, but the
rapid development of resistance is a serious constraint to this method.
Biological control with Trichogramma species has been reported as
an alternative to control diamondback moth. However few works
report biological parameters of this parasitoid interacting with this
pest. This work was carried out to evaluate the influence of egg
embryonary stage of P. xylostella on T. pretiosum females at different
ages. Females of this parasitoid were organized in five groups. These
groups were composed of females just emerged, 24 h; 48 h; 72 h,
and 96 hours-old. Each group was formed of ten females. Each female
received a card with thirty P. xylostella eggs, one, two and three
day-old. Higher parasitism rates were observed with females older
than 48 hours, with no influence of host embryonic development. In
three day-old eggs it was verified that just emerged females and 48
hour-old, the viability index was superior just to those 96 hour-old.
The progeny with one day of embryonary development, presented
higher longevity values with just emerged females.
(Recebido para publicação em 18 de julho de 2006; aceito em 14 de abril de 2007)
A
traça-das-crucíferas Plutella
xylostella (L.) (Lepidoptera:
Plutellidae), é considerada a praga mais
importante das crucíferas em escala
mundial, ocasionando grandes perdas
em plantios comerciais (França &
Medeiros, 1998; Castelo Branco &
Gatehouse, 2001). O principal método de
controle para essa praga tem sido a utilização cada vez maior de inseticidas, o que
vem propiciando o desenvolvimento de
resistência a esses produtos e até mesmo
a produtos biológicos como os produzidos a partir de Bacillus thuringiensis
Berliner (Perez et al., 1997).
O controle biológico de P. xylostella,
quando bem implantado, pode ser uma
excelente alternativa frente às habituais
recomendações de controle químico
286
(Krnjajic et al., 1997). O elevado número de trabalhos mencionando o complexo de parasitóides nas diferentes regiões
produtoras de crucíferas demonstra a
importância desses inimigos naturais para
a manutenção do nível populacional dessa praga abaixo do nível de dano econômico (Mitchel et al., 1998).
As espécies de parasitóides pertencentes ao gênero Trichogramma têm
sido muito estudadas e utilizadas em
programas de controle biológico, fato
esse atribuído à sua eficiência, ampla
distribuição geográfica, facilidade de
criação massal em ovos de hospedeiros
alternativos, com menor custo de produção, permitindo sua utilização em liberações inundativas, além desse
parasitóide já ter sido coletado em mais
de 200 hospedeiros, pertencentes a mais
de 70 famílias e oito ordens de insetos
(Zucchi & Monteiro, 1997).
Várias espécies de Trichogramma têm
sido mencionadas como eficientes em relação ao seu potencial de uso no controle
de P. xylostella em diversos países, como
T. ostriniae Pang & Chen, T. chilonis Ishii
e T. pintoi Voegelé na Alemanha (Wuhrer
& Hassan, 1993); T. pretiosum e T.
minutum Riley nos EUA (Vasquez et al.,
1997); T. voegelei Pintureau, T. oleae
Voegelé & Pointel, T. dendrolimi
Matsumura, T. exigum Pinto & Platner, T.
chilonis, T. pretiosum, T. buesi Voegelé,
T. ostrinae e Trichogramatoidea bactrae
Nagaraja na França (Tabone et al., 1999).
Aspectos biológicos de T. pretiosum
já foram pesquisados em diferentes
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Influência da fase embrionária dos ovos da traça-das-crucíferas sobre fêmeas de Trichogramma pretiosum com diferentes idades
hospedeiros e temperaturas (Basso et al.,
1998; Barros & Vendramim, 1999). Contudo, no Brasil, são escassos os relatos
de pesquisas mencionando aspectos biológicos desse parasitóide quando criado
em ovos de P. xylostella. Segundo Oliveira et al. (2003), um dos fatores que
podem ser responsáveis pelo sucesso ou
fracasso da utilização de parasitóides do
gênero Trichogramma no controle de
lepidópteros-praga é o conhecimento de
parâmetros biológicos deste parasitóide
quando associado a determinado hospedeiro alvo e à fase embrionária dos ovos
desse hospedeiro.
Assim, o estudo das características
biológicas de T. pretiosum em função
do hospedeiro e da fase embrionária dos
ovos pode fornecer informações importantes para a implantação de programas
de manejo integrado de P. xylostella. O
objetivo desta pesquisa foi obter informações básicas sobre aspectos biológicos de T. pretiosum, de diferentes idades, criado em ovos de P. xylostella de
diferentes fases embrionárias.
MATERIAL E MÉTODOS
Criação de P. xylostella Inicialmente, cerca de 500 pupas de P. xylostella
provenientes da criação estoque de laboratório da UFRPE foram transferidas
para o laboratório de entomologia da
UFES, onde foi iniciada a criação da traça-das-crucíferas em folhas de couve,
segundo método adotado por Barros &
Vendramim (1999).
Coleta, manutenção e multiplicação de T. pretiosum A espécie T.
pretiosum, proveniente da criação estoque do laboratório de entomologia da
UFES foi inicialmente coletada em plantios comerciais de tomate localizados no
município de Alegre (ES). Para a coleta
dessa espécie, foram utilizadas cartelas
contendo ovos de Anagasta kuehniella
(Zeller) inseridas em pequenas gaiolas
fixas, por 48 horas, nas folhas do terço
superior de plantas de tomate. Após a
coleta, a espécie foi identificada pelo professor Roberto Antonio Zucchi (Depto.
de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP).
Para manutenção dos parasitóides,
ovos de A. kuehniella obtidos segundo
técnica adaptada de Parra (1997), foram
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 1. Médias (± erro padrão) da porcentagem de parasitismo de Trichogramma pretiosum
recém-emergido e com 24, 48, 72 e 96 horas, em ovos de Plutella xylostella em diferentes fases
de desenvolvimento embrionário (T= 25 ± 1ºC; UR= 70 ± 10% e fotofase= 14 horas) (average (±
standard deviation) of the percentual of parasitism of just emerged Trichogramma pretiosum
after 24, 48, 72 and 96 hours, on eggs of Plutella xylostella in different embrionary ages). Porto
Alegra, UFES, 2005.
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Average values followed by the same
letter, large in the line and small in the collumn did not differ through the Tukey test, 5%).
inviabilizados e fixados com goma arábica diluída a 30% em cartelas (8 x 2
cm) de cartolina azul celeste. Estas foram oferecidas para adultos recémemergidos em tubos de vidro (8,5 x 2,4)
e mantidos em câmaras climatizadas,
com temperatura de 25±1°C, umidade
relativa de 70±10% e fotofase de 14
horas.
Influência da fase embrionária
dos ovos de P. xylostella sobre fêmeas
de T. pretiosum Fêmeas de T. pretiosum
foram divididas em cinco lotes, compostos por fêmeas recém-emergidas e com
24; 48; 72 e 96 horas de idade. Cada
lote representava, além da idade dos
parasitóides, os diferentes períodos de
ausência do hospedeiro sendo composto por dez fêmeas. Cada fêmea do
parasitóide foi acondicionada em tubos
de vidro (3 x 0,5 cm), fechados com filme plástico do tipo PVC e que continham na parede interna gotículas de mel
para alimentação.
Trinta ovos de P. xylostella, com um,
dois e três dias de idade, foram coletados
de discos de folha de couve (Brassica
oleracea var. acephala DC, cultivar Manteiga) da criação em laboratório e transferidos com auxílio de um pincel de pêlos
finos umedecidos para cartelas de cartolina azul celeste (2,5 x 0,3 cm), as quais
foram posteriormente colocadas nos tubos de vidro com uma fêmea do
parasitóide e fechados com filme plástico
PVC. Ao final de 24 horas de parasitismo,
as fêmeas de T. pretiosum foram retiradas
e descartadas, os tubos com as cartelas,
foram mantidos em câmaras climatizadas,
reguladas na temperatura de 25±1°C,
umidade relativa de 70±10% e fotofase
de 14 horas, até a emergência dos descendentes. Foram avaliadas a porcentagem de
parasitismo, a emergência dos parasitóides
e a longevidade dos descendentes fêmeas,
por meio da individualização de 30 fêmeas
recém-emergidas e observações diárias
para contagem da mortalidade.
O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, em esquema fatorial
3 x 5 (três: idades de ovos; cinco: idades
do parasitóide), com dez repetições para
cada combinação de níveis. Os dados foram submetidos à análise de variância e
as médias comparadas pelo teste de Tukey
(Pd”0,05), utilizando o programa
computacional SAEG (Versão 5.0).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A porcentagem de parasitismo não
diferiu para fêmeas de T. pretiosum com
até 24 horas de idade nas diferentes fases embrionárias dos ovos de P.
xylostella (Tabela 1). Contudo, a partir
das 48 horas de idade a porcentagem de
parasitismo foi maior em ovos com um
dia de desenvolvimento embrionário,
exceto para as fêmeas com 96 horas de
idade, que apresentaram maior
parasitismo em ovos com um e dois dias
de desenvolvimento embrionário.
Com relação à idade de T. pretiosum,
observou-se que o percentual de
parasitismo foi maior em fêmeas com
idade superior a 48 horas em ovos de P.
xylostella com desenvolvimento
embrionário de um e dois dias. Em ovos
287
D Pratissoli et al.
Tabela 2. Médias (± erro padrão) da viabilidade (%) de Trichogramma pretiosum recém emergido e com 24, 48, 72 e 96 horas, em ovos de Plutella xylostella em diferentes fases de desenvolvimento embrionário (T= 25 ± 1ºC; UR= 70 ± 10% e fotofase= 14 horas) (Means (± average
value) of viability (%) of just emerged Trichogramma pretiosum after 24, 48, 72 and 96 hours,
on eggs of Plutella xylostella in different embrionary ages). Porto Alegre, UFES, 2005.
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem entre
si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Means (± average value) followed by the same
letter, large in the line and small in the collumn did not differ through the Tukey test, 5%).
com três dias de idade, verificou-se que
apenas fêmeas recém-emergidas apresentaram uma redução significativa no
parasitismo.
O conhecimento dos parâmetros biológicos do parasitóide associado a determinado hospedeiro alvo é um dos
principais fatores que implica no sucesso do controle biológico, sendo que a
fase embrionária dos ovos deste hospedeiro pode também influenciar no comportamento do Trichogramma reduzindo a aceitação do hospedeiro e, conseqüentemente, a taxa de parasitismo (Pak,
1988; Van Dijken et al., 1986; Pereira
et al., 2004). A taxa de parasitismo de
T. pretiosum foi maior à medida que
ocorreu aumento na idade das fêmeas,
independente do desenvolvimento embrionário do ovo de P. xylostella. Resultado semelhante foi encontrado por
Oliveira (1997) em fêmeas recémemergidas de Trichogramma maxacalii
sobre ovos de A. kuehniella; contudo,
quando esse autor trabalhou com a segunda geração de T. maxacalii sobre
ovos do mesmo hospedeiro, observouse resultado semelhante aos encontrados por Berti & Marcano (1991) e Fleury
& Bouletreau (1993), que constataram
maiores taxas de parasitismo nas primeiras horas de vida do parasitóide. Estes
resultados demonstram que o
parasitismo por Trichogramma é influenciado pela idade e espécie do
parasitóide e seu hospedeiro.
Fêmeas de T. pretiosum privadas do
hospedeiro P. xylostella por até 24 horas não apresentaram diferenças nas taxas de parasitismo com o incremento do
desenvolvimento embrionário do hos288
pedeiro. Oliveira et al. (2003) relataram
comportamento semelhante em fêmeas
recém-emergidas de T. maxacalii em
ovos de diferentes estágios de desenvolvimento embrionário de Oxydia vesulia
(Cramer). Entretanto, fêmeas de T.
pretiosum com 48 horas de idade apresentaram maior parasitismo em ovos de
P. xylostella com um dia de desenvolvimento embrionário. O decréscimo do
parasitismo provavelmente ocorre devido a mudanças nas características internas do ovo, pois com avanço do desenvolvimento embrionário os valores
nutricionais vão sendo reduzidos, e este
fato influencia no comportamento de
aceitação do hospedeiro pelo parasitóide
(Navarajan, 1979; Schmidt & Smith,
1987). Resultados semelhantes foram
relatados por Lopes & Parra (1991), que
observaram que o parasitismo de
Trichogramma decresceu quando os
ovos de Diatraea saccharalis (Frabr.)
estavam no 5º dia, época em que as lagartas estavam próximas da eclosão.
Faria et al. (2000) também relataram que
o parasitismo de T. pretiosum sobre ovos
de Tuta absoluta (Meyrick) apresentou
decréscimo à medida que a fase embrionária dos ovos avançava. Assim, a fase
embrionária do hospedeiro parece ter
grande influência sobre as características biológicas em Trichogramma.
Com relação à viabilidade, fêmeas
com 96 horas de idade tiveram este
parâmetro reduzido em ovos com três
dias quando comparado aos ovos de um
e dois dias (Tabela 2). Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira (1997) e Oliveira et al. (2003) com
T. maxacalii e Trichogramma acacioi
Brun, Moraes & Soares sobre ovos de
A. kuehniella e O. vesulia, respectivamente. Lopes & Parra (1991), avaliando a viabilidade de fêmeas recémemergidas de Trichogramma distinctum
Zucchi em ovos de A. kuehniella, também observaram que não houve influência da fase embrionária do hospedeiro
nesse parâmetro. A razão sexual de T.
pretiosum foi igual a um, não sendo influenciada pelos tratamentos avaliados.
Esta característica de obtenção de apenas fêmeas é desejável em criações de
laboratório e pode ser atribuída a uma
estabilidade genética, que ocorre com o
aumento do número de gerações (Pereira
et al., 2004).
A longevidade dos descendentes de
T. pretiosum foi influenciada pela idade
do parasitóide e pelas diferentes fases
embrionárias dos ovos de P. xylostella
(Tabela 3). Ao se analisar a fase embrionária dos ovos verificou-se que, em ovos
com um dia de idade, a longevidade foi
superior em relação às demais quando
as fêmeas desse parasitóide eram recémemergidas. Em fêmeas com idade de 24
horas, a longevidade dos descendentes
foi semelhante nas diferentes fases dos
ovos de P. xylostella. Contudo, fêmeas
de T. pretiosum com 48 e 72 horas de
idade apresentaram maior longevidade
dos descendentes em ovos com um e
dois dias de desenvolvimento embrionário, enquanto as fêmeas do parasitóide
com 96 horas de idade apresentaram
maior longevidade de descendentes em
ovos com dois dias de desenvolvimento embrionário.
A longevidade dos descendentes de
T. pretiosum em ovos com um dia de
desenvolvimento embrionário foi maior
quando as fêmeas desse parasitóide
eram recém-emergidas. Em ovos com
dois dias de desenvolvimento embrionário constatou-se que a longevidade
dos descendentes de T. pretiosum foi
maior em fêmeas desse parasitóide com
48; 72 e 96 horas de idade. Quando os
ovos de P. xylostella apresentavam três
dias de desenvolvimento embrionário,
a longevidade dos descendentes de T.
pretiosum foi maior para as fêmeas desse parasitóide com 96 horas de idade.
Valores semelhantes foram encontrados
por Oliveira et al. (2003) em T. acacioi
sobre ovos de O. vesulia. Contudo, Bai
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Influência da fase embrionária dos ovos da traça-das-crucíferas sobre fêmeas de Trichogramma pretiosum com diferentes idades
et al. (1995) constataram longevidades
maiores trabalhando com outros hospedeiros e várias espécies de
Trichogramma. A maior longevidade em
parasitóides implica em indivíduos com
tempo maior para procurar e parasitar
ovos dos seus hospedeiros em campo, o
que contribui para o aumento da sua
população e da eficácia no controle de
surtos posteriores de pragas.
Espécies do gênero Trichogramma
têm sido amplamente estudadas em diversos países por serem altamente
especializadas e eficientes, apresentando resultados promissores no controle
de pragas das hortaliças, como P.
xylostella (Alam, 1990; Hirashina et al.,
1990; Cordeiro & Cave, 1992; Pratissoli
et al., 2004a). Contudo, Lopes (1988)
relata que a idade do parasitóide pode
influenciar tanto na longevidade como
no parasitismo desse inimigo natural. De
acordo com Berti & Marcano (1991) e
Pratissoli et al. (2004b), o isolamento
de fêmeas de T. pretiosum sem ovos do
hospedeiro por um determinado período faz com que o parasitismo decresça
significativamente.
O uso de parasitóides do gênero
Trichogramma no controle da traça P.
xylostella tem sido importante em cultivos de repolho, pois esse inimigo natural atua em uma fase do ciclo biológico da praga incapaz de causar dano à
cultura, sendo o Brasil o único país da
América do Sul onde se tem relato de T.
pretiosum parasitando ovos de P.
xylostella (Barros & Vendramim, 1999).
Neste trabalho observou-se que as diferentes idades de fêmeas de T. pretiosum
e as diferentes fases de desenvolvimento embrionário de P. xylostella afetam a
capacidade de parasitismo e a
longevidade dos descendentes desta espécie de parasitóide. Isto demonstra a
importância da idade do parasitóide bem
como o período de desenvolvimento
embrionário do hospedeiro para manter
a qualidade de T. pretiosum em laboratório, em uma criação massal, bem como
nas liberações de campo para o controle biológico de pragas.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão de bolsas.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 3. Médias (± erro padrão) da longevidade dos descendentes (dias) de Trichogramma
pretiosum recém-emergido e com 24, 48, 72 e 96 horas, em ovos de Plutella xylostella com
diferentes fases de desenvolvimento embrionário (T= 25 ± 1ºC; UR= 70 ± 10% e fotofase=
14 horas) (Means (± average value) followed by the same letter, large in the line and small in
the collumn did not differ through the Tukey test, 5%). Porto Alegre, UFES, 2005.
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Average values followed by the same
letter, large in the line and small in the collumn did not differ through the Tukey test, 5%)..
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Efeito de injúrias mecânicas na qualidade de abobrinhas armazenadas
em condição ambiente
Maria Fernanda Berlingieri Durigan1; Ben-Hur Mattiuz
UNESP-FCAV Jaboticabal-SP; 1Doutoranda; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram avaliados os efeitos de diferentes injúrias mecânicas na
qualidade de abobrinhas verdes cv. caipira, em três tipos de lesões:
por impacto, compressão e corte. No impacto os frutos foram soltos
em queda livre de uma altura de 1,60 m duas vezes (uma batida de
cada lado do fruto), a compressão foi feito pela pressão de um peso
de 58,8 N por 1 hora e o corte (6 cm de comprimento e 2 mm de
profundidade, em triplicata em 2 lados dos frutos) efetuado com
uma faca apropriada. Após esses tratamentos, os frutos injuriados e
os do controle (intactos) foram armazenados em condições de ambiente (25°C, 65% UR). As avaliações foram feitas a cada 3 dias,
determinando-se atividade respiratória, aparência, perda de massa,
pH, teores de sólidos solúveis, acidez titulável, ácido ascórbico,
amido e carboidratos solúveis. Durante o período de armazenamento,
de 15 dias, as lesões mostraram-se prejudiciais à qualidade, afetando distintamente os parâmetros químicos, a aparência, e diminuindo
os dias de possível comercialização dos frutos, em especial naqueles submetidos ao corte e ao impacto. Estas injúrias também ocasionaram maior atividade respiratória dos frutos. A perda de massa fresca
foi agravada quando os frutos foram submetidos ao corte. A injúria
por impacto e por corte foram as mais prejudiciais para a qualidade
das abobrinhas ‘Caipira’.
Effect of mechanical injuries on the quality of squash stored
at room temperature
Palavras-chave: Cucurbita moschata, pós-colheita, compressão,
impacto, corte.
Keywords: Cucurbita moschata, postharvest, compression, impact, cut.
The effects of different mechanical injuries were evaluated on
green squash cv. Caipira, such as impact, compression and cut. The
impact injury was done by dropping the fruit from a height of 1.60
m on a hard and plain surface. Compression was made by pressing a
weight of 58.8 N on the squash fruit for 1 hour and the cut was done
by using a knife to make wounds (2 mm deep and 6 cm length) three
times in both sides of the fruits. Injuried and intact fruits were stored
at room temperature (25ºC, 65% RH). Evaluations were done every
three days, measuring the respiratory activity, appearance, loss of
fresh mass, pH, content of soluble solids, titratable acidity, ascorbic
acid, starch and soluble carbohydrates. During the 15-day storage
the injured fruits showed the worst quality, affecting the chemical
parameters, the appearance and reduced the shelf life, mainly of those
fruits submitted to cut and impact injuries. These injuries also
increased the respiratory activity. Loss of weight was increased when
the fruit were submitted to cuts. Impact and the cut injuries on
immature fruits of squashes caused higher losses.
(Recebido para publicação em 7 de junho de 2006; aceito em 22 de maio de 2007)
N
o grupo de abóboras colhidas imaturas, a abobrinha verde destacase por ser um fruto mais bem aceito que
a abobrinha-italiana, em mercados
interioranos. Um bom exemplo é a tradicional cultivar nacional Menina Brasileira, cujos frutos apresentam “pescoço”.
Há mais de uma cultivar dessa seleção,
todas conservando a característica de resistência a viroses e rama longa. Há também as abóboras denominadas “caipira”,
cujos frutos são colhidos imaturos, apresentam a forma alongada, sem “pescoço”, com cerca de 20 cm de comprimento. Estas são muito apreciadas em determinados mercados, como o de Goiânia e
o de Uberlândia (Filgueira, 2003).
Segundo o autor supracitado, as abobrinhas verdes devem ser colhidas aos
60-80 dias após a semeadura, quando
apresentem cerca de 30 cm de comprimento. Geralmente são comercializados
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
em caixas tipos “K”, com capacidade
de 22 kg. Este tipo de embalagem, assim como o armazenamento a granel,
leva os frutos a apresentarem severas
lesões por compressão e corte, dado o
mau arranjo nas caixas e amontoamento a granel.
Grande parte das perdas pós-colheita é determinada por ocasião da entrega
para distribuição do produto proveniente
do campo e são resultantes, basicamente, de manuseios excessivos e acondicionamentos inadequados. Estes problemas
são agravados pelo mau estado de conservação das estradas, o que aumenta a
trepidação e, conseqüentemente, as injúrias mecânicas. Reduções nessas
perdas são, provavelmente, mais importantes que aumentos na produção, uma
vez que os custos e a energia envolvidos durante o processo produtivo são
totalmente desperdiçados, à medida que
o produto é perdido mais próximo do
ponto de consumo (Chau, 1997).
As maiores perdas durante o transporte são devidas a danos mecânicos, o
que é acentuado pela falta de proteção
que deveria ser dada pelas embalagens.
Batidas ou pancadas e cortes podem levar a infecções microbianas, particularmente quando o tempo de
armazenamento é longo (Medlicott,
1997). À medida que os frutos sofrem
injúrias, também ocorre aumento na liberação de CO2, pois as células próximas ao local danificado passam a respirar mais intensamente. Com esse aumento na taxa respiratória há evolução
na concentração de etileno, acelerando
o processo de amadurecimento e
senescência, diminuindo a qualidade e
a vida útil do fruto (Hyodo et al., 1993;
Ishii et al., 1993; Chitarra & Chitarra,
1990). O objetivo deste trabalho foi ava291
MFB Durigan & BH Mattiuz
Figura 1. Aparência externa (A) e interna (B) de abobrinhas ‘Caipira’, submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a 25°C e 65% UR (external appearance (A) and
internal (B) of green squash ‘Caipira’, submitted to various mechanical injuries and stored
under 25°C and 65% UR). Jaboticabal, UNESP, 2005.
liar os efeitos de diferentes injúrias mecânicas na qualidade de abobrinhas verdes ‘Caipira’.
MATERIAL E MÉTODOS
Abobrinhas verdes do tipo ‘Caipira’
foram colhidas no estádio de maturação
indicado para comercialização, cujas
características são: peso médio 790 g,
casca verde-claro, lisa e aparentemente
imaturo, ou seja, suculento e macio. O
pedúnculo foi cortado com faca afiada,
deixando-se uma porção com aproximadamente 2 cm aderida ao fruto, para pre292
venir contra prováveis podridões
(Filgueira, 2003). Os frutos foram transportados, rápida e cuidadosamente, da
lavoura comercial ao laboratório na
UNESP em Jaboticabal, em caixas plásticas forradas com filme plástico tipo
“bolha” e papel jornal. Neste local as
abobrinhas foram lavadas e deixadas em
repouso por 1 hora sob temperatura de
20°C e novamente uniformizadas quanto à coloração e tamanho.
Foram avaliados três tipos de injúria mecânica: impacto, compressão e
corte. Na injúria por impacto, os frutos
foram deixados cair de uma altura de
1,60 m sobre uma superfície maciça,
plana e rígida. Cada fruto sofreu dois
impactos, nos lados opostos de sua linha equatorial. Na injúria por compressão, os frutos foram colocados sobre
uma superfície plana e sob a ação de um
peso de 58,8 N, durante 1 hora. Na injúria por corte, os frutos foram submetidos a três incisões com 6 cm de comprimento por 2 mm de profundidade, feitos com lâminas adaptadas a esta função, no sentido longitudinal e em ambos os lados do fruto. Frutos não injuriados compuseram o tratamento controle.
As áreas lesionadas foram demarcadas
e os frutos armazenados sob condições
de ambiente (25±1ºC e 65±5% UR).
Este experimento foi conduzido em
delineamento inteiramente casualizado,
num esquema fatorial composto por três
fatores: tipo de injúria; local da injúria
(no mesmo fruto foram consideradas as
regiões injuriadas e as regiões não injuriadas) e dias de armazenamento. Foram utilizadas três repetições com três
frutos cada para a determinação de CO2
e para as análises químicas, e dez para
as determinações de coloração e de massa fresca.
A perda de massa fresca foi obtida
através da pesagem dos frutos em balança eletrônica “Marte”, sensibilidade
de 0,02 g. As avaliações foram feitas a
cada 3 dias, analisando-se as evoluções
na massa fresca, na coloração e na aparência externa em um grupo fixo de frutos e as análises químicas e de aparência interna através de análises
destrutivas. A aparência interna e externa foi avaliada mediante a atribuição de
notas. Nota 5 (ótima) foi atribuída aos
frutos em perfeitas condições de
comercialização, considerando casca
verde-claro, lisa e brilhante, aparentemente imaturo, suculento e macio, ausência de podridão, e polpa clara e macia. Nota 4 (boa) foi atribuída aos frutos em boas condições de
comercialização, porém com casca verde mais escura, menos brilhante, sem
podridões e polpa clara e macia. Nota 3
(regular) para os frutos com casca escura, enrugada, levemente murcho, frutos
endurecidos ou moles, sem podridões e
polpa característica. A nota 2 (ruim) foi
atribuída a frutos com casca escura,
enrugada, muito murcho, frutos enduHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Efeito de injúrias mecânicas na qualidade de abobrinhas armazenadas em condição ambiente
Tabela 1. Médias de coloração e da composição química de abobrinhas verdes ‘Caipira’, submetidas a diferentes injúrias mecânicas e
armazenadas a 25°C e 65% UR (means of coloration and chemical composition of green squash ‘caipira’, submitted to mechanical injuries
and stored under 25°C and 65% UR). Jaboticabal, UNESP, 2005.
SS = sólidos solúveis (soluble solids) (ºBrix); AT = acidez titulável (titratable acidity) (g. de ácido cítrico.100 mL-1) (weight of citric acid in g
100mL-1); Amido (starch) = g glicose.100g de abobrinha (glicose weight in 100 g of green squash); CS = carboidratos solúveis (g.glicose.100g1) (soluble carbohidrates). Obs: Para cada variável, médias seguidas de pelo menos uma letra comum, na coluna, não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05)(average values followed by the same letter in the column did not differ through the Tukey test, 5%).
recidos ou moles demais, início de podridões e polpa dura ou escurecida. Os
frutos com coloração demasiadamente
escura ou manchas enegrecidas, podridão aparente, muito murcho, casca
enrugada, lesões e polpa escurecida, não
apresentando condições de consumo,
receberam nota 1 (péssima).
Foram efetuadas avaliações da coloração externa, em áreas pré-determinadas
de frutos selecionados ao acaso em cada
tratamento. Para esta, utilizou-se um
colorímetro Minolta CR-200b, que determinava os valores de luminosidade (L),
a* e b*. Esses resultados permitiram calcular o ângulo de cor (Hue) e a saturação
da mesma (cromaticidade), conforme o recomendado pela Minolta Corp. (1994).
Para análises químicas, as amostras
eram tomadas a cada três dias, comparando-se abobrinhas lesionadas e não
lesionadas. As amostras foram analisadas, após serem trituradas, quanto aos
seus conteúdos de acidez titulável (AT),
sólidos solúveis (SS), teores de amido e
de carboidratos solúveis (CS) (AOAC,
1997) e pH.
A evolução da produção de CO2 foi
determinada diariamente, colocando-se
quatro frutos em recipiente com capaHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
cidade de 3 L (1 repetição), hermeticamente fechado, por um período de 1
hora, sob as condições de ambiente.
Foram tomadas alíquotas de 0,3 mL do
conteúdo da atmosfera do interior dos
recipientes, antes e imediatamente após
este período, com uma seringa apropriada (Exmire Microseringe, Ito Corp.), as
quais tiveram seus teores de CO2 determinados em cromatógrafo (GC Finnigan
9001) equipado com detectores de
condutividade térmica e de ionização de
chama, assim como peneira molecular,
metanador e coluna de aço inoxidável
preenchida com Porapak N. As condições de trabalho foram: temperatura da
coluna 55°C, temperatura dos detectores
150°C, temperatura do metanador
350°C; fluxo de ar 175 mL min-1; fluxo
de hidrogênio 15 mL min-1; e fluxo do
nitrogênio 30 mL min-1. Os resultados
para O2 e CO2 foram expressos em porcentagem, tendo como padrão uma mistura gasosa contendo O2 (10%), CO2
(0,11%), etileno (51 ppm) e N2 para
completar 100%.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância por meio do teste
F, e as médias foram comparadas pelo
teste de Tukey em nível de 5% de pro-
babilidade (SAS, 1999). A perda de
massa fresca foi analisada comparandose a significância do paralelismo das
retas pelo Teste T (Neter et al., 1978).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maioria dos frutos do tratamento
controle permaneceu com ótima aparência externa até o 13º dia de
armazenamento (Figura 1A). Os frutos
do tratamento corte apresentaram grande resistência no local da injúria, formando uma “casca” endurecida (firmeza aproximada de 88,2N) o que prejudicou bastante a sua aparência. Os frutos submetidos ao impacto e à compressão se apresentaram mais amolecidos,
principalmente no local da injúria. Esta
região também se deteriorou mais rapidamente, prejudicando a aparência. Adicionalmente, nos frutos injuriados foi
observada perda precoce do brilho e da
turgidez característica. Com o passar dos
dias de armazenamento (17 dias no total), estes frutos ficaram mais murchos
que os intactos. Internamente, a maioria dos frutos do controle permaneceu
com boa aparência por até nove dias
após a colheita (Figura 1B). Entretanto,
293
MFB Durigan & BH Mattiuz
Tabela 2. Equações representativas da evolução da perda de massa fresca acumulada por
abobrinhas verdes ‘Caipira’, submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a
25°C e 65% UR (Equations representative of the evolution of accumulated fresh mass lose
from the green squash ‘Caipira’, submitted to various mechanical injuries and stored under
25°C and 65% UR). Jaboticabal, UNESP, 2005.
a
y = massa fresca (g); x = tempo de armazenamento (dia); bretas seguidas de pelo menos
uma letra comum, não diferem significativamente entre si, quanto ao teste T de paralelismo
(ay = fresh weight (g); x = storing period (days); baverage values followed by the same letter
in the column did not differ through the paralelism T test).
Figura 2. Evolução da atividade respiratória de abobrinhas ‘Caipira’ submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a 25ºC e 65% UR. Barras verticais indicam o desvio
padrão (n=3) (Evolution of the respiratory activity of green squash ‘Caipira’ submitted to
various mechanical injuries and stored under 25°C and 65% UR. Vertical bars indicate the
standard deviation). Jaboticabal, UNESP, 2005.
com apenas um dia após as lesões, foi
observado nos frutos do impacto, rachaduras na região das sementes, que resultou em amolecimento, no terceiro dia.
No tratamento corte e compressão, observou-se um efeito contrário, com os
frutos apresentando-se endurecidos e
escurecidos, com algumas regiões
translúcidas. No período avaliado, a injúria por corte promoveu as menores
médias de aparência interna quando
comparada aos demais tratamentos (em
especial para coloração visual e índice
de podridões).
As mudanças na coloração dos frutos foram significativas para
luminosidade e cromaticidade, mostrando que as injúrias prejudicaram os fru294
tos (Tabela 1). Foi observado
escurecimento dos frutos dado pelo aumento nos valores de luminosidade e de
cromaticidade, deixando o fruto verde
escuro, não raramente com manchas
marrons e/ou amarelo escuro. Este
amarelecimento pode estar relacionado
ao amadurecimento, pois também foi
observado nas abobrinhas intactas com
os dias de armazenamento, ou ao
estresse, uma vez que se comparando
regiões intactas e injuriadas dentro de
um mesmo fruto houve maior
amarelecimento nas regiões injuriadas,
provavelmente
devido
ao
desencadeamento da degradação da clorofila.
O corte e o impacto levaram a alterações nos valores de acidez titulável das
abobrinhas. Apesar das diferenças entre os dias de armazenamento, houve
uma estabilização para a maioria dos
parâmetros químicos analisados (Tabela 1). O aumento da acidez e o decréscimo no pH são indicativos de provável
aceleração do processo respiratório (Ciclo de Krebs) ou de solubilização das
pectinas, o que torna o meio mais ácido. Foi constatado aumento nos teores
de sólidos solúveis (SS) ao longo deste
período. Estas modificações são evidenciadas também pela diminuição no conteúdo de amido ao longo do
armazenamento. Mudanças nos teores
de carboidratos incluem a conversão do
amido a açúcares. A quebra de pectinas
e outros polissacarídeos resultam em
amaciamento dos produtos hortícolas e
conseqüente aumento na suscetibilidade
às injúrias mecânicas (Kader, 2002).
Verifica-se que os teores de
carboidratos solúveis nos tratamentos e
durante o armazenamento não diferiram
significativamente entre si, o que também foi observado por Kasat (2004) em
pêssegos ‘Aurora-1’. Os carboidratos
solúveis são constituídos, em sua quase
totalidade por açúcares não redutores,
com destaque para a sacarose. O teor de
açúcares geralmente aumenta com o
amadurecimento em frutos através de
processos de biossíntese ou pela degradação de polissacarídeos e leva os valores médios a aumentos da ordem de 10%
(Chitarra & Chitarra, 1990).
Dentre as injúrias, a que levou à
maior perda de massa ao longo do
armazenamento foi o corte (Tabela 2).
Nestes frutos, a injúria causada pelo
corte facilitou a perda de água por
transpiração devido ao rompimento das
estruturas protetoras na casca. Segundo
a porcentagem acumulada de perda de
massa fresca, o corte foi o mais prejudicial totalizando 73%, seguido da compressão que totalizou 72% (Figura 2).
Perdas de massa fresca também foram
observadas por Hudson & Orr (1977),
ao estudarem a relação entre injúrias
mecânicas por impacto e por abrasão,
ou seja, que a perda de água em batatas
foi maior naquela em que havia a ocorrência dessas injúrias. Verificaram ainda, que lesões de 0,5 cm2 são capazes
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Efeito de injúrias mecânicas na qualidade de abobrinhas armazenadas em condição ambiente
de dobrar a perda de água durante o
armazenamento.
A atividade respiratória dos frutos
foi pouco afetada após o lesionamento
mecânico, durante as 36 horas em que
foi monitorado (Tabela 2). Todos os frutos injuriados respiraram mais que os
frutos intactos, com destaque para o
corte, seguidos da compressão e impacto. Verificou-se que após a 11a hora houve incremento na atividade respiratória
para todos os frutos injuriados, e tiveram um decréscimo após a 24ª hora depois do início dos experimentos. Mattiuz
& Durigan (2001) também notaram para
goiabas que os frutos injuriados produziram sempre maior quantidade de CO2
que os do controle, sem que se detectasse a ocorrência de pico respiratório.
Houve pequena diferença entre os
tratamentos, apesar de não detectado
pela estatística, onde a injúria por corte
fez com que os frutos obtivessem as
maiores medias de produção de CO2,
demonstrando sua gravidade. A qualidade de abobrinhas ‘Caipira’ apresentou perda gradual de aparência e redução na vida útil intensificada pelos tratamentos corte e impacto. Houve evolução nos teores de acidez titulável e
sólidos solúveis com diminuição nos
valores de pH ao longo do período de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
armazenamento. O corte promoveu um
aumento na perda de massa fresca acumulada e de atividade respiratória.
A qualidade das abobrinhas ‘Caipira’ sofreu perdas significativas durante
o armazenamento em função das diferentes injúrias mecânicas, sendo que as
injúrias por corte e impacto foram as que
mais contribuíram para esta perda.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP e à CAPES pelo auxílio
financeiro.
LITERATURA CITADA
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Maria Fernanda Berlingieri Durigan1; Ben-Hur Mattiuz
UNESP-FCAV, Jaboticabal-SP; 1Doutoranda em Produção vegetal, Depto. Tecnologia; [email protected];
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
As injúrias mecânicas constituem uma das principais causas de
perdas pós-colheita dos produtos hortícolas. Avaliou-se os efeitos
de diferentes injúrias mecânicas sobre a qualidade de melancias
‘TopGun®’. Foram testados três tipos de lesões: impacto (os frutos
caíram de uma altura de 20 cm); compressão (os frutos ficaram sob
a pressão de um peso de 294 N durante 10 horas); corte (feito com
lâminas apropriadas). Após esses tratamentos, os frutos injuriados e
os do controle (intactos) foram armazenados em condições de ambiente (25±1°C, 65±5% UR). As avaliações foram feitas a cada 4
dias, determinando-se a aparência, a perda de massa fresca, os teores de sólidos solúveis, de acidez titulável e de ácido ascórbico, coloração interna e atividade respiratória. Durante o armazenamento
de 15 dias, as lesões mostraram-se prejudiciais à qualidade e à aparência dos frutos, em especial naqueles submetidos ao corte e ao
impacto. Notou-se também escurecimento na polpa destes frutos.
Perda de massa fresca também foi observada durante este período e
foi agravada quando os frutos foram submetidos ao impacto. O teor
de sólidos solúveis e o ácido ascórbico diminuíram ao longo do período de armazenamento. A atividade respiratória aumentou logo
nas primeiras horas em frutos submetidos às injúrias de corte e impacto.
Effect of mechanical injuries on the quality of watermelon
stored at room temperature
Palavras-chave: Citrullus lanatus, pós-colheita, compressão, impacto, corte.
Mechanical injuries are the main cause of losses in the post
harvest of horticultural products. The effect of different mechanical
injuries was evaluated on the quality of watermelons ‘TopGun®’.
The impact was evaluated when the injury was made by allowing
the product to fall from 20 cm height on a hard and plane surface,
compression of fruits under a weight of 294N and cutting the fruits
with an appropriate blade. After this, the injuried and intact fruits
were stored at room temperature (25+1ºC, 65+5%RH). The
evaluations were performed every 4 days, for appearance, loss of
fresh mass, the content of soluble solids, titratable acidity, ascorbic
acid, internal color and respiratory activity. During the storage period
of 15 days, the injuries prejudiced the quality and the apearance of
the fruits, mainly those submitted to the cut and impact, presenting
the worst quality, affecting the chemical parameteres, the appearance
and reducing the days of possible comercialization. The pulp turned
slightly darker. Loss of fresh mass also was observed during this
period and became worst on the fruit submited to the impact. The
content of soluble solids and ascorbic acid reduced through the
storage period. The respiratory activity was afected in the first hours
of analisis by the cut and the impact.
Keywords: Citrullus lanatus, postharvest, compression, impact, cut.
(Recebido para publicação em 7 de junho de 2006; aceito em 15 de abril de 2007)
A
espécie Citrullus lanatus é originária de regiões quentes da África,
sendo hoje cultivada em várias partes
do mundo. Foi introduzida no Brasil por
escravos, que a semeavam entre as plantas de milho. Posteriormente, durante a
guerra civil americana, cultivares melhoradas foram introduzidas por agricultores norte-americanos sulistas, que se
fixaram em Americana (SP). Atualmente a cultura é praticada em todo território nacional (Filgueira, 2003).
Nas cultivares preferidas, o fruto é
globular ou alongado, com polpa vermelha, apresentando pequena parte
branca. As sementes escuras estão distribuídas pela polpa. Atualmente vêm
ocorrendo rápidas mudanças nesta cultura, com a introdução de cultivares hí296
bridas, as quais apresentam vantagens
sobre as tradicionais. As cultivares plantadas no centro-sul podem ser divididas
em grupos ou tipos, segundo o formato
dos frutos, globular ou alongado, e presença ou ausência de sementes
(Filgueira, 2003).
O tipo globular é o preferido nas regiões produtoras brasileiras. A cultivar
típica é a norte-americana ‘Crimson
Sweet’, que produz melancias com casca rajada, de coloração verde clara e
verde-escura. Os frutos desse grupo pesam 10-13 kg, são globulares ou
globular-alongados, com polpa de boa
qualidade. O híbrido ‘TopGun’ da
Syngenta Seeds, lançado em 2002, também é um destaque entre as melancias
globulares, por atender necessidades do
mercado. Possui como principais características a precocidade, casca tipo
‘Crimson Sweet’ (verde mediano com
estrias verde-escuro) e com espessura
adequada, coloração da polpa vermelho
intenso brilhante, casca lisa e uniformidade no tamanho dos frutos (11-13 kg)
(Syngenta seeds, 2004).
Segundo Calbo (2001), a maioria das
cultivares possui frutos muito grandes
que atingem massa superior a 5 kg. Por
isso, apesar da melancia possuir uma
casca resistente, que a protege da perda
de água, este fruto é sensível a batidas,
que causam deterioração e alterações em
sua qualidade.
A qualidade das frutas e hortaliças
frescas engloba desde seus atributos sensoriais, valores nutritivos, constituintes
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Injúrias mecânicas e seus efeitos na qualidade de melancias armazenadas em condição ambiente
químicos, propriedades funcionais e até
mesmo seus defeitos (Abbot, 1999). Na
elaboração dos regulamentos técnicos
de identidade e qualidade de cada fruta
ou hortaliça consumida fresca, consideram-se na caracterização da qualidade
os defeitos e a garantia mínima de atributos sensoriais. A tarefa é extremamente complexa, devido à necessidade de
avaliação da qualidade em diferentes
pontos da cadeia: casa de embalagem,
embalador, atacadista, varejista, consumidor (Gutierrez, 2005). O metabolismo e o desenvolvimento dos danos ocorrem ao longo do processo de distribuição e comercialização.
Estima-se que 30 - 40% das frutas e
vegetais sofrem algum tipo de dano, da
colheita ao mercado (Peleg & Hinga,
1986). O desenvolvimento de podridão,
considerado o dano mais grave,
inviabiliza o consumo do produto e até
a venda de um lote, em virtude do seu
potencial de disseminação para os outros frutos. Os agentes causais associados à podridão de órgãos de reserva são
fungos e bactérias, que ocorrem no ar e
no solo (Zagory, 1999). As condições
que causam danos são as mesmas que
favorecem o crescimento e o estabelecimento de altas populações
microbianas (Zagory, 1999).
Segundo Ogut et al. (1999), a sensibilidade ao dano varia com o estado físico e biológico do fruto (temperatura,
conteúdo de água, estádio de crescimento e maturação) e com fatores ligados
ao manuseio e transporte. As propriedades mecânicas dos frutos são muito
influenciadas pela sua turgidez e temperatura e conseqüentemente pela sua
sensibilidade ao dano. O objetivo do
presente trabalho foi avaliar os efeitos
de diferentes injúrias mecânicas sobre
a qualidade de melancias cv. TopGun®.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se melancias cv. Top Gun®
procedentes do município de Itápolis
(SP). A colheita destes frutos foi realizada de manhã e de forma inteiramente
casualizada no local de cultivo. Os frutos foram colhidos no estádio de
maturação considerado adequado para
comercialização. Estas melancias foram
levadas até o laboratório da UNESP de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Jaboticabal, embaladas em palha, filme
plástico tipo bolha e papel jornal, na tentativa de se dar um máximo de proteção
aos frutos. No laboratório, as melancias
foram lavadas com detergente neutro e
buchas macias e deixadas em repouso
por 2 horas em ambiente climatizado
(20°C). Antes da aplicação dos tratamentos, os frutos sofreram outra seleção, na tentativa de alcançar maior uniformidade, em especial quanto ao tamanho, formato e peso. Selecionaram-se
frutos com peso médio de 11 ± 1,1 kg.
Foram testados três tipos de injúrias
mecânicas: impacto, compressão e corte. Na injúria por impacto, os frutos foram deixados cair de uma altura de 20
cm sobre uma superfície maciça, plana
e rígida (piso cerâmico, assentado sobre base de cimento). Cada fruto sofreu
dois impactos, nos lados opostos de sua
linha equatorial. Após cada queda, o fruto foi imediatamente amparado, evitando outros impactos no mesmo local.
Para simular injúria por compressão, os
frutos foram colocados sobre uma superfície plana, sob um peso de 294 N,
durante 10 horas. Na injúria por corte,
os frutos foram submetidos a três incisões com 15 cm de comprimento por 2
mm de profundidade, feitos com lâminas, no sentido longitudinal e em ambos os lados do fruto. As áreas
lesionadas foram demarcadas e os frutos armazenados, juntamente com as
melancias intactas (controle), sob condição ambiente (25±1°C, 65±5% UR)
Este experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado,
num esquema fatorial composto por três
fatores. Foram utilizadas três repetições
para a determinação da evolução de CO2
e para as análises químicas, e dez repetições para a análise de coloração.
As avaliações foram feitas a cada
quatro dias, quando se determinou a
aparência interna (coloração, ausência
de podridão, rachaduras, uniformidade
e qualidade da polpa), mediante a atribuição de notas (4 = ótimo; 3 = bom; 2
= regular ou sem condições de
comercialização; 1 = ruim ou impróprio
para o consumo) e apenas um relato sobre a aparência externa. Neste período
verificaram-se também as mudanças na
massa fresca, na coloração da polpa e
na composição química.
As avaliações de coloração foram
sempre feitas na polpa dos frutos, em
áreas pré-determinadas de frutos selecionados ao acaso, em cada tratamento.
Utilizou-se colorímetro Minolta CR200b, com determinação dos valores de
luminosidade (L), a* e b*. Esses resultados permitiram calcular o ângulo de
cor (Hue) e a saturação desta cor
(cromaticidade), conforme o recomendado pela Minolta Corp.(1994).
Para as análises químicas, as amostras foram tomadas a cada quatro dias.
Nos frutos injuriados foram analisadas
separadamente as áreas lesionadas e as
não lesionadas. As amostras foram analisadas quanto aos conteúdos de ácido
ascórbico (AA), acidez titulável (AT) e
sólidos solúveis (SS) (AOAC, 1997).
A evolução da produção de CO2 foi
determinada a cada duas horas até a 11ª
hora, colocando-se um fruto em recipiente com capacidade para 47 L, hermeticamente fechado, por um período de 1
hora, sob as condições de ambiente. Para
cada tratamento utilizaram-se três repetições. Foram tomadas alíquotas de 0,3
mL do conteúdo da atmosfera do interior dos recipientes, antes e imediatamente após este período, com uma seringa apropriada (Exmire Microseringe,
Ito Corp.), as quais tiveram seus teores
de CO2 determinados em cromatógrafo
GC Finnigan 9001, e o resultado expresso em mg de CO2.kg-1.h-1.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância por meio do teste
F, e as médias foram comparadas pelo
teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade (SAS, 1999). A perda de
massa fresca foi analisada comparandose a significância do paralelismo das
retas pelo Teste T (Neter et al., 1978).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aparência interna dos frutos foi
bastante prejudicada pela aplicação dos
tratamentos injuriantes (Figura 1). No
tratamento controle, eles mantiveram
ótima aparência (nota 4) por até 12 dias.
Segundo CALBO (2001), melancias
armazenadas em temperaturas ao redor
de 20°C mantêm a vida de prateleira por
até três semanas.
Os frutos submetidos ao impacto
apresentaram rachaduras na polpa qua297
MFB Durigan & BH Mattiuz
Figura 1. Aparência interna de melancias cv. TopGun®, submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a 25±1°C e 65±5% UR (Escala de notas: 1= ruim a 4 = ótimo) (Internal
appearance of watermelon, cv. TopGun, submitted to various mechanical injuries and stored
under 25±1°C and 65±5% UR (Grades 1= bad to 4= good)). Jaboticabal, UNESP, 2005.
Tabela 1. Equações representativas da evolução da perda de massa fresca por melancias cv.
TopGun®, submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a 25±1°C e 65±5% UR
(Equations representative of the evolution of fresh mass lose from the watermelon cv. TopGun,
submitted to various mechanical injuries and stored under 25°C and 65% UR). Jaboticabal,
UNESP, 2005.
a
y = massa fresca (g); x = tempo de armazenamento (dia); bretas seguidas de pelo menos
uma letra comum, não diferem significativamente entre si, quanto ao teste T de paralelismo.
(ay = fresh weight (g); x = storage period (dia); baverage values followed by the same letter
in the column did not differ through the paralelism T test).
tro dias após o início do experimento, quando receberam nota média 3,8. Alguns frutos ficaram escurecidos no local da injúria,
o que foi agravado após 8 dias de
armazenamento. Aos 12 dias, foram observadas algumas melancias com a polpa
despedaçada na região central do fruto. As
células da polpa da melancia são grandes e
se rompem com facilidade e como conseqüência, há o extravasamento do conteúdo
celular prejudicando as células vizinhas e
facilitando o apodrecimento (Calbo, 2001).
Na injúria por compressão, notouse um avanço no processo de
senescência dos frutos, principalmente
nos locais injuriados. Estes estavam internamente escurecidos e mais adocicados. Também foram notadas pequenas
298
rachaduras na polpa, as quais ficaram
mais evidentes aos 8 dias. Mesmo com
as rachaduras, aumentadas a cada dia de
análise, os frutos apresentaram sabor e
aparência atrativos até o 12° dia de
armazenamento (nota 3,8). Os tratamentos citados acima não apresentaram defeitos aparentes nas regiões externas dos
frutos. Assim, até o 16° dia de
armazenamento, esses tratamentos não
diferiram visualmente entre si.
Os frutos submetidos ao corte apresentaram marcas externas antes de 4 dias
de armazenamento. Estes “sinais”, deixados por esta injúria não afetaram de
maneira decisiva a aparência externa
nem a interna até o 8°dia. No 12° dia
70% dos frutos deste tratamento forma-
ram uma barreira no local lesionado,
cicatrizando o ferimento e protegendo
o fruto da entrada de patógenos. No restante notou-se externamente a ocorrência de fungos nos locais lesionados, alguns em estado mais avançado, mostrando amolecimento e encharcamento
das células. Os frutos onde os fungos
não penetraram mantiveram-se bons internamente. Aqueles onde houve penetração dos fungos pela casca, afetaram
a polpa deixando-a marrom ou preta e
com odor característico. Os frutos não
infectados permaneceram bons para o
consumo até o 16° dia de
armazenamento. Entre o 8° e o 16° dia
de análise alguns frutos infectados romperam-se naturalmente, devido à penetração de bactérias pelo local injuriado,
liberando a polpa liquefeita. Este resultado fez com que a média geral das notas para aparência interna diminuisse,
deixando os frutos classificados como
impróprios para a comercialização e
consumo.
As injúrias levaram os frutos a perder massa fresca com maior intensidade quando comparados aos do controle,
durante o período de armazenamento.
Dentre as injúrias, o impacto levou às
maiores perdas de massa fresca acumulada (Tabela 1). Esta injúria levou a perdas acumuladas de 7,5% no período
avaliado (Figura 2). Apesar da melancia possuir casca resistente, que a protege da perda de água, este fruto é sensível a batidas, que causam deterioração e diversas mudanças em sua qualidade (Calbo, 2001).
A permeabilidade à perda de água
varia com a espécie, cultivar e com as
práticas de manejo na colheita e póscolheita da fruta. Esse manejo aumenta
a perda de água pelas frutas, devido à
ocorrência de micro-rachaduras na
cutícula das frutas. A intensidade e a
velocidade da perda de massa fresca são
medidas que podem retratar os efeitos
do manuseio em cada ponto da cadeia
(Fresh technologies, 2004).
Observou-se uma pequena evolução
da coloração da polpa, principalmente
nos frutos submetidos às injúrias, ocorrendo diferenças significativas somente para a variável cromaticidade. Estes
dados evoluíram de 24,07 no primeiro
dia de análise para 25,66 no décimo sexHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Injúrias mecânicas e seus efeitos na qualidade de melancias armazenadas em condição ambiente
Tabela 2. Luminosidade, ângulo de cor, cromaticidade e qualidade da parte interna de melancias ‘TopGun®’, submetidas a diferentes
injúrias mecânicas e armazenadas a 25±1°C e 65±5% UR (Luminosity, color angle, chromaticity and quality of the internal parto f watermelhon
‘TopGun’, submitted to various mechanical injuries and stored under 25±1°C and 65% UR). Jaboticabal, UNESP, 2005.
Obs: Para cada variável, médias seguidas de pelo menos uma letra comum, na coluna, não diferem significativamente entre si, pelo teste de
Tukey (P<0,05). SS = sólidos solúveis (ºBrix); AT = acidez titulável (g. de ácido cítrico.100 mL-1); AA = ácido ascórbico (mg.100 mL-1) (For
each variable, average values followed by the same letter in the column did not differ through the Tukey test (p<0,05). SS = soluble
solids(ºBrix); AT = titratable acidity (g. of citric acid.100 mL-1); AA = ascórbic acid (mg.100 mL-1))
to, mostrando que a intensidade do pigmento vermelho aumentou sutilmente
com o passar do tempo (Tabela 2). Este
atributo é o mais importante no processo de escolha de um produto pelos consumidores (Kader, 2002) e para melancias, a coloração interna está diretamente ligada à qualidade comercial desta fruta
(Showalter, 1960). Apesar de não detectadas estatisticamente, visualmente observaram-se diferenças entre as áreas
lesionadas e não lesionadas, o que leva a
crer que a visão fornece uma melhor
abordagem quanto à integração dos
parâmetros relacionados à cor, considerando-se em especial a influência das rachaduras, da polpa mais seca com aspecto
farináceo e das células menos túrgidas.
Houve diferenças significativas entre os valores médios dos parâmetros
químicos avaliados, com exceção das
áreas lesionadas e não lesionadas que não
apresentaram diferenças significativas
em nenhuma das análises químicas
efetuadas (Tabela 2). Foram observadas
diferenças significativas entre os tratamentos para os valores de AT e de AA. O
tratamento compressão, assim como para
perda de massa fresca, apresentou os
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 2. Evolução da atividade respiratória de melancias cv. TopGun® submetidas a diferentes injúrias mecânicas e armazenadas a 25±1°C e 65±5% UR. Barras verticais indicam o
desvio padrão (n=3) (Evolution of the respiratory activity of watermelons cv. TopGun
submitted to various mechanical injuries and stores under 25±1°C and 65±5% UR. Vertical
bars indicate the standard deviation). Jaboticabal, UNESP, 2005.
maiores valores para AT, mostrando seu
efeito prejudicial às melancias, apesar da
boa aparência. O aumento da acidez é
indicativo de provável aceleração do processo respiratório (Ciclo de Krebs) resultando em acidificação do meio.
Apesar da ausência de diferenças
significativa entre os tratamentos, observa-se que a área lesionada apresentou um menor conteúdo de SS que a área
não lesionada, o que pode refletir uma
perda na qualidade dos frutos. Ao lon299
MFB Durigan & BH Mattiuz
go do período de avaliação também foi
verificada a diminuição destes teores.
Os frutos do tratamento controle
apresentaram intensidade respiratória
média de aproximadamente 35,72 mg
de CO2 kg-1 h-1. O tratamento impacto e
o corte apresentaram maiores incrementos na produção de CO2, nas primeiras
horas após a injúria, que os submetidos
aos demais tratamentos (Figura 3).
Para os frutos comprimidos não houve aumentos significativos na respiração. Naqueles submetidos ao corte e ao
impacto, além de um aumento abrupto,
houve também queda acentuada destes
valores no final do período de análise.
Isto evidencia a gravidade destas lesões,
provavelmente devido à maior exposição e rompimento das células por ocasião da injúria. Tratamentos similares
também foram responsáveis por aumentos na atividade respiratória em maçãs
(Parker et al., 1984), tomates (Moretti
et al., 1998) e goiabas (Mattiuz, 2002)
nas primeiras horas após a injúria.
A qualidade de melancias cv.
TopGun® apresentou perda gradual durante o armazenamento e foi intensificada pelos tratamentos injuriantes, que
também diminuíram sua vida útil. O
impacto e o corte causaram maiores perdas de massa fresca e aumentos na atividade respiratória. Os teores de ácido
ascórbico, acidez titulável, e sólidos
solúveis, foram afetados de maneira distinta pelas injúrias e o corte facilitou a
deterioração da polpa, que tornou os frutos inviáveis á comercialização.
300
A qualidade das melancias cv.
TopGun® sofreu perdas significativas
durante o armazenamento em função das
diversas injúrias mecânicas, sendo que
as injúrias por corte e impacto foram as
que mais contribuíram para estas perdas.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP e à CAPES pelo auxílio
financeiro.
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MIGUEL ACA; DURIGAN JF. 2007. Qualidade dos bulbos de cebola ‘Superex’ armazenados sob refrigeração, quando expostos à condição ambiente.
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Qualidade dos bulbos de cebola ‘Superex’ armazenados sob refrigeração, quando expostos à condição ambiente
Ana Carolina Almeida Miguel; José Fernando Durigan
UNESP-FCAV, Depto. Tecnologia, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP;
[email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O armazenamento refrigerado da cebola tem sido recomendado
como ideal, mas os produtores sempre questionam sobre a qualidade comercial e o consumo dos bulbos durante este período e depois
de levados à condição ambiente. Avaliou-se a qualidade de bulbos
de cebola ´Superex‘ acondicionados em sacos de rede de fibra plástica e armazenados a 10-12°C (68% UR) por até 91 dias, quando
levados à condição ambiente. Após 1; 16; 31; 61 e 91 dias foram
tomadas amostras, ao acaso, que eram levadas à condição ambiente
(22°C, 59% UR). Estas cebolas foram avaliadas quanto à massa fresca, aparência e ocorrência de podridões, e quanto à coloração interna, luminosidade, ângulo de cor e cromaticidade, atividade da aliinase
e teores de sólidos solúveis e de acidez titulável. Os bulbos, quando
levados ao ambiente, perderam massa com maior intensidade do
que quando armazenados sob refrigeração e mantiveram qualidade
aceitável por até 38 dias. Somente os armazenados sob refrigeração
por 91 dias tinham aparência ruim. Os bulbos analisados apresentaram tendência ao amarelecimento interno, sem alteração significativa nos teores de SS e de AT. Durante o período refrigerado a
pungência dos mesmos aumentou, de “pungente” para “picante”,
que se manteve estável durante o armazenamento ao ambiente.
Quality of onion bulbs cv. Superex stored under refrigeration,
when exposed to environmental conditions
Palavras-chave: Allium cepa, armazenamento refrigerado,
pungência, aliinase.
Keywords: Allium cepa, refrigerated storage, pungency, alliinase.
Cold storage has been recommended to preserve onion bulbs,
but producers always have doubts about its quality, during this
period and when they are exposed to environmental conditions.
We evaluated the onion bulbs quality, cv. Superex, packed in plastic
fiber bags, during storage under 10-12°C (68% RH) during 91 days.
After 1; 16; 31; 61 and 91 days, samples were transferred to
environmental conditions (22°C, 59% RH). Onion bulbs were
evaluated for fresh mass, appearance and occurrence of rot, internal
color, lightness, color or hue angle and chromaticity, alliinase
activity, soluble solids and titratable acidity content. Bulbs under
environmental condition lost more fresh mass than those stored
under refrigeration and maintained acceptable quality for 38 days.
Only bulbs stored during 91 days presented bad appearance when
transferred to environmental conditions. Bulbs showed tendency
of internal yellowing, without significant changes in soluble solids
and titratable acidity. During the cold storage period, the pungency
increased from “pungent” to “hot pungent” and remained stable
during ambiental conditions.
(Recebido para publicação em 8 de maio de 2006; aceito em 19 de maio de 2007)
A
cebola ocupa no Brasil o terceiro
lugar dentre as hortaliças de maior
importância econômica. Dentre as
aliáceas, tem a maior área cultivada e
está presente em todas as regiões brasileiras, excetuando-se a Norte. Juntamente com o alho, é a cultura condimentar
de maior importância e consumo (Oliveira, 2004). O consumo da cebola no
Brasil apresentou tendência de aumento, devido principalmente aos produtos
processados. Em virtude do aumento da
população urbana e da maior participação da mulher no mercado de trabalho,
verificou-se uma redução no consumo
desta olerácea no âmbito dos domicílios
e, em contrapartida, um incremento do
setor institucional. Por outro lado, é elevada a elasticidade-preço da oferta da
cebola, característica relevante nos processos de produção e comercialização
que exprimem a sensibilidade da proHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
dução às variações de preços (Vilela et
al., 2005).
Cebolas conservadas em depósitos,
em condição ambiente, apodrecem facilmente, dependendo do grau de
higienização do recinto e da cultivar
(Varela et al., 1980). Seu
armazenamento, por períodos relativamente longos, exige o uso de ambientes
devidamente controlados, para evitar
degradações indesejáveis e assegurar o
abastecimento contínuo do mercado.
Sendo a cebola basicamente utilizada
como agente aromatizante de outros alimentos, a evolução do seu odor característico ou pungência durante o período de estocagem deve ser conhecida
(Andrade & Lima, 1983), permitindo
sua melhor utilização, tanto in natura
como processada (Kopsell & Randle,
1997). De acordo com Rubatzky &
Yamaguchi (1997), a qualidade dos bul-
bos é avaliada pela pungência e conteúdos de massa fresca e de sólidos solúveis. Tais características variam com a
cultivar, podendo ou não ser afetadas
pela época de colheita. A pungência característica e sua intensidade relacionam-se com o conteúdo de compostos
sulfurados e seus derivados, ácido
sulfênico, amônia e ácido pirúvico
(Randle & Bussard, 1993; Randle et al.,
1994).
Miguel et al. (2004) sugerem que as
cebolas podem ser classificadas mediante a combinação entre os teores de
sólidos solúveis (SS) e de acidez
titulável (AT) e da atividade da aliinase,
indicando que uma cebola, para ter sabor considerado “picante” deve ter alta
atividade da aliinase (>6,0 mmoles ác.
Pirúvico g-1), elevada acidez (>0,3g ác.
pirúvico 100g-1) e baixa concentração de
sólidos (<6°Brix); para sabor “modera301
ACA Miguel & JF Durigan
damente picante” deve ter valores intermediários de sólidos solúveis (68°Brix), acidez (0,3-0,2 g ác. pirúvico
100g-1) e atividade da aliinase (4,0-6,0
µmoles ác. pirúvico g -1); para sabor
“muito pouco picante” deve apresentar
níveis intermediários de atividade da
aliinase (4,0-6,0 µmoles ác. pirúvico g-1)
e de acidez (0,3-0,2 g ác. pirúvico 100g-1),
mas alto de sólidos solúveis (>9Brix);
e para ser considerada “doce” deve ter
alto conteúdo de sólidos solúveis
(>9°Brix), baixa a moderada acidez
(<0,2g ác. pirúvico 100g-1) e baixa atividade da aliinase (<4,0 µmoles ác.
pirúvico g-1).
Este trabalho teve como objetivo
conhecer a evolução da qualidade de
cebolas, quando levadas à condição
ambiente, depois de armazenadas sob
refrigeração.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados bulbos de cebola
‘Superex’, tipo comercial (Grupo Amarela, Subgrupo Globular e Classe 2345),
produzidos em Monte Alto (SP) na safra de 2003. Estes bulbos foram cultivados em solo que apresentava os
parâmetros de fertilidade: 7 g dm-3 de
matéria orgânica (M.O.); 195 mg dm-3
de P; 3,5 mmolc dm-3 de K; 41 mmolc
dm-3 de Ca; 13 mmolc dm-3 de Mg; 16
mmolc dm-3 de Al+H; 57,5 mmolc dm-3
de soma de bases (SB); 73,5 mmolc dm-3
de CTC (capacidade de troca iônica) e
saturação de bases (V) igual a 78%. Os
bulbos colhidos em 30/07/03, aos 105
dias após o plantio, foram curados à
sombra por cinco dias, destopados, padronizados quanto ao tamanho (diâmetro de 40-55 mm), acondicionados em
sacos de rede de fibra plástica (20 kg) e
armazenados sob refrigeração (10-12°C,
68% UR), por até 91 dias. No início (1
dia) e após 16; 31; 61 e 91 dias, amostras (20 kg) tomadas ao acaso foram levadas à condição ambiente (22°C ± 1°C;
59% UR). Estes bulbos foram avaliados a cada quatro dias quanto à massa
fresca, mediante pesagem em balança
Marte mod. AS 2000 e precisão de 0,1
g, e aparência, através da atribuição das
notas: 1 = ótima (bulbos túrgidos, sem
podridões e com coloração normal); 2
= boa (5% dos bulbos com início de
302
descoloração e algum murchamento); 3
= regular (10-15% com início de descoloração e murchamento, com até 5%
com início de podridões e brotamentos);
4 = ruim (mais de 50% com brotações e
podridões); 5 = péssima (bulbos totalmente comprometidos).
A qualidade interna dos bulbos foi
avaliada a cada sete dias, em amostra
de cinco bulbos, através dos parâmetros
coloração, teor de sólidos solúveis (SS)
e de acidez titulável (AT) e atividade da
aliinase.
A coloração do interior dos bulbos
foi determinada em cinco bulbos, usando-se
um
aparelho
Minolta
Chromameter CR 200b que se expressa
pelos valores L*, a*, b*, permitindo
caracterizar a coloração através dos
parâmetros, luminosidade (L*), ângulo
hue ou de cor (°h), determinado através
da expressão tan -1 (b*/a*) e
cromaticidade (C), expressa pela equação
(Minolta Corp.,
1994).
A acidez titulável (AT) foi determinada em quatro repetições, tomando-se
30 g de material triturado dos bulbos,
que foi acrescido de água destilada e titulado com NaOH a 0,05 N, tendo seu
teor expresso em gramas de ácido
pirúvico 100 g -1 de polpa (Instituto
Adolfo Lutz, 1985).
O conteúdo de sólidos solúveis (SS)
foi expresso em °Brix, determinado em
gotas extraídas da polpa triturada, em
quatro repetições, e quantificado em
refratômetro digital Atago PR-101,
Palette (AOAC, 1997).
A atividade da aliinase foi determinada segundo o proposto por
Schwimmer & Weston (1961), utilizando-se quatro bulbos sem a película superficial. Dois bulbos eram submetidos
a aquecimento em microondas, na potência alta por três minutos, antes da
determinação (branco). Estes bulbos
aquecidos e os outros dois não aquecidos foram triturados e deixados em repouso por 5 min., para que houvesse a
sedimentação das partículas de maior
peso. De cada material, tomou-se 5 g
do sobrenadante, que foram reagidos
com 5 mL de ácido tricloroacético
(TCA) a 0,5%, agitados por uma hora,
filtrados em funil de Büchner e tiveram
seus volumes completados para 100 mL
com água destilada. Alíquotas destes
extratos foram reagidos com 2,4
dinitrofenilhidrazina a 0,0125% dissolvida em HCl a 2 M, incubadas em banho-maria a 37oC, por 10 min., e interrompida com 5 mL de NaOH a 0,6 M, e
leitura da absorbância a 420 nm. Utilizou-se como padrão, ácido pirúvico a 2
µmol mL-1 e como branco, água destilada. Os resultados foram calculados
pela diferença entre os valores
quantificados nos materiais, cru e aquecido, e expressos em micromoles de
ácido pirúvico por grama de cebola.
Os bulbos foram classificados quanto à pungência de acordo com o indicado pelo VLI Sweet Index (Vidalialabs,
2004) e quanto ao sabor pelo proposto
por Miguel et al. (2004). O VLI Sweet
Labs indica que as cebolas podem ser
classificadas quanto à pungência através da atividade da aliinase, que é expressa em µmoles de ácido pirúvicog-1,
em “muito suave” (0-2,9 µmoles g-1),
“suave” (3,0-4,2 µmoles g-1), “levemente pungente” (4,3-5,5 µmoles g-1), “pungente” (5,6-6,3 µmoles g-1), “pungência
forte” (6,4-6,9 µmoles g-1), “pungência
muito forte” (7,0-7,9 µmoles g-1) e “picante” (8,0-10,0 µmoles g-1). São certificadas como “doces”, as cebolas com
concentração até “levemente pungente”
e como “extra doce”, aquelas com concentração até “suave”.
O delineamento experimental foi em
blocos ao acaso, com 2 a 7 tratamentos
(datas de avaliação durante os períodos
de armazenamento ao ambiente). A evolução da perda de massa fresca foi analisada através de análise de regressão,
pelo teste-t a 1% de probabilidade
(Neter et al.,1978).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A intensidade da perda de massa
fresca durante o período de
armazenamento ao ambiente foi influenciada pelo tempo inicial sob refrigeração (Tabela 1), pois até o 31o dia quanto
maior este período, maior a taxa de perda de massa sob a condição ambiente.
A perda de massa se constitui em fator
limitante ao armazenamento deste produto, pois além de implicar em sérios
prejuízos de ordem econômica, é
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Qualidade dos bulbos de cebola ‘Superex’ armazenados sob refrigeração, quando expostos à condição ambiente
indicativo de envelhecimento (Maia et
al., 2000). Esta perda deve ser associada à desidratação e à respiração, e o aumento na intensidade foi atribuído ao
envelhecimento progressivo dos bulbos,
mesmo sob refrigeração. As cebolas
mantidas por 91 dias sob refrigeração,
apresentavam qualidade ruim quando
levadas ao ambiente, que se tornou péssima (nota 5) em quatro dias (Figura 1).
A aparência externa dos bulbos foi
muito afetada durante o período ao ambiente (Figura 1). Os bulbos refrigerados por somente um dia ou refrigerados
por 16 dias atingiram a aparência regular (nota 3) em 16 e 24 dias, respectivamente, e se conservaram por até 38 dias.
Os mantidos sob refrigeração por 31 ou
61 dias mantiveram boa aparência (nota
2) por até 38 dias, enquanto que os estocados por 91 dias foram levados ao
ambiente com aparência ruim (nota 4),
que chegou a péssima em 4 dias. O período de até 61 dias de armazenamento
refrigerado mostrou-se adequado para
estimular a dormência dos bulbos, sem
o aparecimento de podridões.
A coloração interna dos bulbos não
foi afetada pelo período de
armazenamento refrigerado, mas estes,
depois de levados à condição ambiente,
mostraram tendência não significativa
de redução do ângulo de cor e da
cromaticidade, ou seja, de coloração
mais amarelada (Tabela 2). Apesar da
ocorrência das diferenças entre os dias
de avaliação, o que pode ser atribuído
às características individuais, os valores apresentados reafirmam a manutenção da boa qualidade visual da polpa
(Kader, 2002). Este amarelecimento
também foi observado em cebolas
‘Granex-33-Híbrida’, armazenadas à
temperatura ambiente, com diminuição
na luminosidade ou leve escurecimento
em cebolas ‘Baia Periforme’ (Yokomizo
et al., 1977) o que não aconteceu neste
experimento.
Os teores de sólidos solúveis e de
acidez titulável dos bulbos não foram
afetados pelo armazenamento refrigerado mas, quando levados ao ambiente, a
tendência foi de redução nos SS e de
incremento na AT, como resultado de
aumento
na
temperatura
de
armazenamento (Tabela 2), o que também foi indicado por Chitarra & Chitarra
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Tabela 2. Coloração e características químicas de bulbos de cebola ´Superex‘ mantidos sob
refrigeração (10-12°C, 68% UR), quando levados ao ambiente (22°C, 59% UR) (Color and
chemical characteristics of onion bulbs, cv. ‘Superex’ stored under refrigeration (10-12°C, 68%
UR) and stored under environmental conditions(22°C, 59% UR)). Jaboticabal, UNESP, 2004.
L* = luminosidade; h° = ângulo de cor; C = cromaticidade; Pungência = atividade da aliinase
(µmoles de ác. pirúvico g-1); CV = coeficiente de variação (L* = luminosity; h° = color
angle; C = cromaticity; Pungency = aliinase activity (mmoles of piruvic acid g-1); CV =
variation coeficient).
(1990). Fontes (1998) também observou
que o teor de sólidos solúveis de cebolas pode ser afetado pelo período e condições do armazenamento e pela cultivar, enquanto Currah & Proctor (1990)
relataram aumento na acidez com o
avanço do período de armazenamento.
A pungência aumentou durante o
período de armazenamento refrigerado
inicial, de 5,816 mmoles g-1 para 10,989
mmoles g-1 após 91 dias (Tabela 2), ou
seja, alterou o sabor das cebolas de “pun303
ACA Miguel & JF Durigan
gente” para “picante” (Vidalialabs,
2004), indicando o efeito protetor da
aliinase na conservação dos bulbos, uma
vez que sempre se analisou aqueles adequados ao consumo. Quando levados
para condições de ambiente, a atividade da aliinase não mudou significativamente.
Wall & Corgan (1992) relatam que
a relação entre os teores de SS, AT e
pungência pode ser uma melhor indicação da qualidade organoléptica dos bulbos, que a análise isolada destes
parâmetros. Tendo-se esta condição, as
cebolas durante o período refrigerado ou
depois de levadas ao ambiente puderam
ser classificadas como “picantes”, devido à alta atividade da aliinase (>6,0
µmoles ác. pirúvico g-1), e teores de AT
e de SS intermediários (<0,2g ác.
pirúvico 100 g-1 e » 8°Brix) (Miguel et
al., 2004).
O armazenamento de cebola
´Superex’ a 10-12°C e 68% UR permite
sua conservação por até 61 dias, sem que
os bulbos apresentem variações significativas nas suas características originais,
mas com aumento na pungência. Estes
bulbos, quando levados ao ambiente
(22°C, 59% UR) mantiveram qualidade adequada por até 38 dias.
Figura 1. Evolução da aparência em bulbos de cebola ´Superex‘ mantidos sob condição de
refrigeração (10-12°C, 68% UR) quando levados à condição de ambiente (22°C, 59% UR).
(Notas: 1 = ótima; 5 = péssima) (Evolution in the appearance of onion bulbs, cv. ‘Superex’,
stored under refrigeration (10-12°C, 68% UR) and stored under environmental conditions
(22°C, 59% UR). (Grades: 1 = very good; 5 = very bad)). Jaboticabal, UNESP, 2004.
Tabela 1. Evolução da perda de massa fresca pelos bulbos de cebola ‘Superex’ mantidos
sob refrigeração (10-12°C, 68% UR), quando levados à condição de ambiente (22°C, 59%
UR) (Evolution of fresh mass lost of onion bulbs, cv. ‘Superex’, stored under refrigeration
(10-12°C, 68% UR), and transferred to environmental conditions (22°C, 59% UR)).
Jaboticabal, UNESP, 2004.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP
pela bolsa de iniciação científica concedida ao primeiro autor.
LITERATURA CITADA
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Produção e qualidade de frutos de tomateiro cultivado em substrato com
zeólita
Alberto C. de Campos Bernardi1; Carlos Guarino Werneck2; Patrick Gesualdi Haim2; Neide Botrel3; João
Oiano-Neto4; Marisa Bezerra de Mello Monte5; Maria Regina Verruma-Bernardi6
1
Embrapa Pecuária Sudeste, C. Postal 339, 13560-970 São Carlos-SP; 2Alunos pós-graduandos, UFRRJ, Seropédica-RJ; 3Embrapa
Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 4Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro-RJ; 5Centro de Tecnologias
Minerais, Rio de Janeiro-RJ; 6Depto. Tecnologia Agroindustrial e Sócio-EconômicoRural, Araras-SP; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a produção e a qualidade dos frutos de tomateiro cv.
Finestra, cultivado em substrato com zeólita enriquecida com N, P e
K. Os tratamentos utilizados foram quatro doses (20; 40; 80 e 160 g
por vaso) de zeólitas enriquecidas com H3PO4/apatita, KNO3 e
KH2PO4, além de uma testemunha cultivada em solução nutritiva.
Foram avaliados a produção de frutos por vaso, firmeza, sólidos
totais, pH, acidez titulável e ácido ascórbico dos frutos, dos 80 aos
90 dias de cultivo. O fornecimento de nutrientes através do mineral
zeólita enriquecido com N, P e K comprovou ser uma alternativa
para o aumento da produção. As maiores produções foram obtidas
nos tratamentos com adição de P e K e nas maiores doses de zeólita
(160 e 80 g por vaso). A produção de frutos foi 11 a 17% maior em
relação à testemunha cultivada com solução nutritiva. Houve efeitos positivos das zeólitas enriquecidas com fontes de fósforo sobre a
firmeza e efeito negativo sobre o pH. A firmeza dos frutos variou
104% entre tratamentos, de 7,06 N (ZNK 160) a 14,38 (ZPK 40). O
aumento da disponibilidade de potássio contribuiu para o aumento
do teor de ácido ascórbico dos frutos.
Yield and fruit quality of tomato grown in substrate with
zeolite
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, estilbita, acidez titulável,
ácido ascórbico, firmeza, sólidos solúveis totais, pH.
Keywords: Lycopersicon esculentum, stilbite, titratable
acidity, ascorbic acid, firmness, total soluble solids, pH.
We evaluated yield and quality of tomato fruits, cv. Finestra,
grown in a zeolite substrate enriched with N, P and K. Treatments
comprised four levels (20; 40; 80 and 160 g per pot) of zeolite
enriched with H3PO4/apatite, KNO3 and KH2PO4, and a control grown
in a nutrient solution. Fruit production, firmness, total soluble solids,
pH, titratable acidity and ascorbic acid were evaluated from 80 to 90
days of plant cultivation. Nutrients supplied through the mineral
zeolite enriched with N, P and K was an adequate alternative to
increase the production. Higher fruit production was obtained with
addition of P and K and higher zeolite dosis (160 and 80 g per pot).
Fruit production was 11% and 17% higher when compared to the
plants grown in nutritive solution (check treatment). Positive effects
were observed in P-enriched zeolites in relation to fruit firmness,
and negative effects over fruit pH. Fruit firmness varied 104% among
treatments, from 7.06N (ZNK 160) to 14.38N (ZPK 40). The increase
of potassium availablity increased the ascorbic acid levels of the
fruits.
(Recebido para publicação em 25 de agosto de 2006; aceito em 18 de maio de 2007)
O
tomate é uma das mais importantes hortaliças no mundo, tanto na
área cultivada como no seu valor comercial. O Brasil ocupa o oitavo lugar entre
os países produtores, sendo esta
hortaliça a segunda em importância econômica no país. Os frutos destinam-se
especialmente para o processamento,
mas também para o consumo in natura
(Filgueira, 2000).
O mercado hortícola tem se tornando mais exigente, demandando alternativas viáveis para o aumento quantitativo da produção e a manutenção do fornecimento o ano todo, especialmente a
obtenção de produtos de qualidade. Isso
tem levado os produtores a buscar novos sistemas de cultivo, em alternativa
ao sistema tradicional a campo, como
os protegidos (túneis e estufas) e o
hidropônico. Existe ainda a possibilida306
de do cultivo zeopônico, no qual plantas são cultivadas em substrato artificial
composto pelo mineral zeólita misturados a rochas fosfáticas, funcionando
como um sistema de liberação controlada e renovável de nutrientes para as
plantas (Allen et al., 1995; Mumpton,
1999).
As zeólitas são alumino-silicatos
cristalinos hidratados de metais alcalinos ou alcalinos-terrosos, estruturados
em redes cristalinas tridimensionais rígidas, formadas por tetraedros de AlO4
e SiO4. Caracterizam-se pela facilidade
de reter e liberar água e trocar cátions
sem modificar sua estrutura (Mumpton,
1999; Kithome et al., 1999). Esta estrutura apresenta propriedades de adsorção
e capacidade de troca de íons, proporcionando o uso potencial, seja no campo
ou em cultivo com substratos (Harland
et al., 1999). Existem mais de 40 espécies de zeólitas naturais, sendo a
clinoptilolita aparentemente a mais
abundante tanto nos solos como em sedimentos (Ming & Dixon, 1987). No
Brasil os maiores reservatórios de
zeólita estão no vale do Parnaíba
(Rezende & Angélica, 1991), no qual
predomina a forma estilbita.
Este mineral apresenta três propriedades principais, que lhe conferem grande interesse para uso na agricultura: alta
capacidade de troca de cátions, alta capacidade de retenção de água livre nos
canais e alta habilidade na adsorção.
Assim, a zeólita pode atuar melhorando
a eficiência do uso de nutrientes através
do aumento da disponibilidade de P da
rocha fosfática, melhorar o aproveitamento do N (NH4+ e NO3-) e reduzir as
perdas por lixiviação dos cátions
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção e qualidade de frutos de tomateiro cultivado em substrato com zeólita
trocáveis, especialmente K+ e também
como um fertilizante de liberação lenta
(Allen et al., 1995; Notario-Del-Pino et
al., 1994; Barbarick et al., 1990, Harland
et al., 1999, Gül et al., 2005). De acordo com Leggo (2000), em função da
afinidade da zeólita por nutrientes, este
mineral pode ser utilizado em substratos
para estimular o crescimento das plantas. A mistura de zeólitas com fertilizantes também apresentou efeitos positivos
sobre o crescimento de plantas de alface (Gül et al., 2005) e tomate (Valente
et al., 1986).
As características de qualidade do
tomate dependem da cultivar, condições
de cultivo, ponto de maturação na colheita, condições de armazenagem,
transporte e embalagem. O tomateiro
apresenta boa resposta à adubação
(Filgueira, 2000); por isso, entre os vários fatores que podem limitar a produtividade e diminuir a qualidade dos frutos, as deficiências nutricionais estão
entre as principais. Para obter-se altas
produtividades e frutos com qualidade
é necessário o fornecimento balanceado de nutrientes. Entre os indicadores
que servem como parâmetro de qualidade do fruto, pode-se citar a cor, aparência, firmeza, peso, sólidos solúveis
totais, pH e acidez titulável (Gayet et
al., 1995).
O objetivo deste trabalho foi avaliar
a produção e a qualidade dos frutos de
tomateiro cultivado em substrato com
zeólita enriquecida com N, P e K.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa-de-vegetação da Embrapa Solos no
Rio de Janeiro, em vasos com 3 kg com
substrato inerte composto de areia lavada com água destilada e ácido clorídrico diluído (3:1 v/v).
A zeólita foi coletada na Bacia do
Parnaíba, no Maranhão, a qual representa o principal depósito de zeólita natural do País, com potencial de aproveitamento econômico (Rezende & Angélica, 1991). O material coletado foi concentrado em mesa vibratória, resultando em um produto com 84% de zeólita
estilbita e com capacidade de troca de
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
cátions de 2,5 cmolc g-1. A fórmula química determinada da zeólita foi:
(CaO)0,82 (Na2O)0,19 (K2O)0,15 (MgO)0,56
(Fe2O3)0,30 (TiO2)0,11 (Al2O3)1,85 (SiO2)16
(H 2O) 4,7. A zeólita concentrada foi
enriquecida através da incubação com
soluções contendo H3PO4 1,0 mol L-1
(ZP), KNO 3 0,5 mol L -1 (ZNK) e
K2HPO4 1,0 mol L-1 (ZPK). A relação
utilizada foi de 1:40 por 24 horas, com
temperatura e agitação constantes. Após
a incubação, a suspensão foi filtrada e o
material sólido desidratado a 100oC. A
zeólita enriquecida com H3PO4 recebeu,
ainda, a adição de fosfato natural (34%
de P2O5) na proporção de 2:1 (m/m).
O delineamento experimental foi em
blocos ao acaso, com três repetições. Os
vasos foram cultivados com o tomate
(Lycopersicon esculentum, Mill ) cv.
Finestra. Avaliaram-se os doze tratamentos com melhor aspecto dos frutos:
Z20, Z40, ZNK160, ZPK20, ZPK40,
ZPK80, ZPK160, ZP20, ZP40, ZP80,
ZP160, e a testemunha (sem adição de
zeólita). As doses e concentração de
nutrientes em cada um deles encontramse descritos na Tabela 1. A zeólita apresentava traços de outros elementos, entre eles o fósforo, por isso o material
concentrado apresentou uma pequena
porcentagem de P disponível. A testemunha recebeu todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das
plantas através de uma solução nutritiva, com a composição (mg L-1): N = 210;
P = 31; K = 234; Ca = 200; Mg = 48; S
= 65; B = 0,5; Cu = 0,02; Fe = 5,0; Mn
= 0,5; Zn = 0,2, e Mo = 0,02. Essa solução foi preparada segundo Sarruge
(1975). O fornecimento foi realizado
manualmente, em quarenta aplicações
de 100 mL de solução nutritiva por vaso
com duas plantas, totalizando 4,0 L por
vaso. As aplicações ocorreram ao longo
de todo o ciclo de cultivo, sendo que nos
primeiros 30 dias de cultivo o intervalo
de fornecimento foi de três dias; nos 60
dias seguintes o intervalo foi de 1 dia.
Nos dias em que não se forneceu solução, as plantas receberam água da irrigação. Quando a zeólita utilizada não
possuía um dos macronutrientes em teste (N, P ou K) este era adicionado na
forma de solução, na mesma concentra-
ção fornecida à testemunha. Desse modo
todos os tratamentos receberam as mesmas quantidades de Ca, Mg, S, B, Cu,
Fe, Mn, Mo e Zn.
Os tratamentos foram iniciados em
agosto de 2003 com o transplante, para
os vasos de cultivo, de duas mudas do
tomateiro aos 30 dias após a germinação. Os frutos foram coletados para análise quando atingiram a completa coloração vermelha. A colheita iniciou-se
aos 80 dias após transplante (DAT) e
terminou aos 90 DAT, sendo que todos
os frutos foram pesados. Nos frutos
maduros colhidos foram avaliados os
sólidos solúveis totais e pH (Instituto
Adolfo Lutz, 1985), acidez total titulável
(International Organization of
Standardization - ISO, 1998), concentração de ácido ascóbico (Ashoor et al.,
1984), e a firmeza (com o uso de um
penetrômetro McCormick, modelo FT
327, com ponteiras de 8 mm). Os resultados de produção e de qualidade de frutos foram analisados estatisticamente
através da análise de variância e teste
de Duncan (5%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As maiores produções de frutos foram obtidas nos tratamentos com adição de P e K (ZP e ZPK) e nas maiores
doses de zeólita (160 e 80 g por vaso),
as quais foram significativamente 11 a
17% maiores que a testemunha, que recebeu todos os nutrientes na forma de
solução nutritiva (Tabela 2). Nanadal et
al. (1998) também verificaram aumentos da produção do tomateiro com o fornecimento dessas concentrações destes
dois macronutrientes. Estas porcentagens de aumento são concordantes com
os obtidos por Leggo (2000), que comparou plantas cultivadas em substratos
com e sem zeólita, e verificou aumentos de 19% na produção de matéria seca
na presença do mineral. Nesse trabalho
verificou-se as maiores produtividades
com a aplicação das maiores doses de
potássio, devido à influência deste elemento no tamanho dos frutos, uma vez
que sua deficiência acarreta a produção
de frutos menores e menor teor de
licopeno (Knee, 2002). Estes resultados
307
ACC Bernardi et al.
Tabela 1. Nutrientes adicionados à zeólita, dose de zeólita por vaso e quantidade de nutrientes fornecidas nos tratamentos utilizados
(Nutrient-enriched zeolite, zeolite dosis per pot and quantity of nutrients in the treatments). Rio de Janeiro, Embrapa/Centro de tecnologias
minerais, 2003.
*Extraídos em pasta de saturação (Embrapa, 1997).
Tabela 2. Produção e parâmetros de qualidade de frutos do tomateiro cv. Finestra cultivado em substrato com zeólita. Média de três
repetições (Yield and quality parameter of tomato fruits, cv. Finestra, cultivated in a zeolite substrate. Average value of three replications).
Rio de Janeiro, Embrapa/Centro de tecnologias minerais, 2003.
Médias seguidas de letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Duncan a 5%; (1)Concentração de ácido ascórbico com base na
matéria fresca (mg 100g-1); (2)CV% = coeficiente de variação; *, **, *** indicam significância para p<0,05; 0,01; e 0,001, respectivamente.
N.S. = não significativo.
demonstram o potencial para utilização
do mineral zeólita enriquecido, como
uma fonte de nutrientes para esta
solanácea. Desta forma, há concordância com os resultados já obtidos por
Notario-Del-Pino et al. (1994), Williams
& Nelson (1997) e Gül et al. (2005) para
alfafa, crisântemo e alface, respectivamente, e Valente et al. (1986) para tomateiro.
A qualidade dos frutos avaliada em
função da acidez titulável, pH, firmeza
308
e concentração de ácido ascórbico (vitamina C), foi influenciada significativamente pelos tratamentos com zeólita
enriquecida. Não houve efeito dos tratamentos sobre os teores de sólidos solúveis (Tabela 2).
A ausência de diferenciação dos resultados obtida para o teor de sólidos
solúveis (°Brix) concorda com os resultados de outros autores (Gul &
Sevgican, 1992; Alan et al., 1994), os
quais também não verificaram diferen-
ça significativa para esta característica
em tomate produzido em diversos
substratos e no solo. No entanto, a faixa
de valores observada para os sólidos
solúveis entre 3,2 e 3,77% está abaixo
da faixa normalmente observada, entre
4 e 5% (Jones, 1998; Fontes et al., 2000;
Sampaio & Fontes, 2000). De acordo
com Knee (2000), os teores de sólidos
solúveis aumentam com o aumento das
doses de nitrogênio.
Houve diferenças significativas entre a acidez titulável, representada pela
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Produção e qualidade de frutos de tomateiro cultivado em substrato com zeólita
concentração de ácido cítrico (Tabela 2),
do tratamento Z20 (0,60%) e dos tratamentos ZP80 e ZP160 (0,33%). Os demais tratamentos não diferiram entre si.
Estes resultados indicam efeito positivo da fonte de fósforo presente nestes
tratamentos (ZP80 e ZP 160) na redução destes valores, como observados por
Sobulo & Olorunda (1977). A acidez
devida a ácidos orgânicos é uma característica importante que influencia a
palatabilidade aos frutos, e diminui com
a maturação em decorrência do processo respiratório e da conversão em açúcares (Kader et al., 1978). O aumento
no fornecimento de P pode aumentar a
diponibilidade
de
compostos
bioquímicos que utilizam o fosfato
como armazenamento de energia. Como
vários processos metabólicos vitais dependem desse suprimento de energia, a
nutrição adequada de fósforo tende a
favorecê-los (Marschner, 1995) e desta
forma incrementar a neutralização os
ácidos e sintese de açúcares, tornando
os frutos menos ácidos. Alan et al.
(1994) também obtiveram diferenças
significativas nos teores de ácido cítrico de tomate produzido em diferentes
substratos. No entanto, Lacatus et al.
(1995) não encontraram diferenças significativas para acidez titulável em tomate produzido em diversos substratos
e no solo. Os valores médios observados para acidez titulável (0,44%) estão
acima do valor de 0,32%, considerado
mínimo para tomate de alta qualidade
(Kader et al., 1978; Jones, 1998).
Houve diferença estatística significativa entre os tratamentos para os valores de pH. A faixa dos valores foi de
4,07 a 4,32, com valor médio de 4,16.
Apesar destas diferenças entre os tratamentos, a amplitude de variação está
dentro da faixa de pH de 4,0 a 4,5, considerada ideal para tomates de qualidade, segundo Sapers et al. (1978) e Jones
(1998). Gul & Sevgican (1992) e Fontes et al. (2004) também não encontraram diferenças significativas no valor de
pH do tomate produzido em casa de
vegetação, em diferentes substratos e no
solo. Os valores de pH mais baixos podem ser atribuídos à maior concentração de ácido cítrico nos frutos, uma vez
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Figura 1. Valores de firmeza dos frutos do tomateiro cv. Finestra em função dos níveis de
fósforo no substrato com zeólitas ZPK e ZP (Tomato fruit firmness values from cv. Finestra,
as a function of levels of phosporus in the substrate, with zeolites ZPK and ZP). Rio de
Janeiro, Embrapa/Centro de tecnologias minerais, 2003.
Figura 2. Concentração de ácido ascórbico nos frutos do tomateiro cv. Finestra em função
dos níveis de potássio no substrato com zeólitas ZPK (Concentration of ascorbic acid in
tomato fruits, cv. Finestra, as a result of kalium levels in the substrate with the zeolite ZPK).
Rio de Janeiro, Embrapa/Centro de tecnologias minerais, 2003.
que se observou uma relação significativa (p<0,05) inversa com coeficiente de
correlação (r) igual a 0,792 entre estas
duas variáveis.
A firmeza é um dos mais importantes atributos da qualidade de frutos de
tomate para consumo in natura e para o
cultivo industrial. De acordo com
Ahrens et al. (1990), esta é uma característica de conservação pós-colheita
essencial durante o transporte e
comercialização dos frutos, também re-
lacionada com a capacidade de
armazenamento ou “vida de prateleira”.
Os valores de firmeza variaram de 7,06
N (ZNK 160) a 14,38 N (ZPK 40), representando uma amplitude de variação
de 104% (Tabela 2). Os frutos mais firmes ocorreram nos tratamentos em que
a disponibilidade de fósforo era maior
ZPK 40, ZP 160, ZP 80, ZPK 80 e
ZPK20. Estes valores representaram
aumentos significativos em relação à
testemunha entre 95 e 42%. Consideran-
309
ACC Bernardi et al.
do-se apenas os tratamentos nos quais
havia variação dos teores de P (zeólitas
ZP e ZPK), observou-se uma tendência
de resposta quadrática entre os resultados de firmeza dos frutos em função das
doses de P fornecidas com as zeólitas
(Figura 1). Sendo que o maior valor
(14,2 N) foi obtido próximo da dose de
2000 mg por vaso de P2O5.
As concentrações de ácido ascórbico
nos frutos in natura foram afetadas significativamente pelos tratamentos (Tabela 2). Os valores obtidos estão de acordo com os descritos na literatura, nos
quais as concentrações de ácido
ascórbico em tomate cultivado em condições de casa-de-vegetação, variaram
de 7 a 23 mg 100g-1 de matéria fresca
(Dumas et al., 2003) e de 17 a 22 mg
100g-1 de matéria fresca em diferentes
cultivares em condições de campo
(Abushita et al., 2000).
Os resultados obtidos neste trabalho
indicam que o fornecimento de K tem
efeito positivo sobre a concentração de
ácido ascórbico, devido ao aumento da
disponibilidade do nutriente. Estas observações são concordantes com as de
Solubo & Olorunda (1977), Anac &
Colcoglu (1995), Nanadal et al. (1998),
Sampaio & Fontes (2000) e Balliu &
Ibro (2002), que descreveram que aumentos no fornecimento de potássio
aumentavam os valores de ácido
ascórbico nos frutos do tomateiro. Já
Fontes et al. (2000) não observaram diferenças nos valores deste ácido em função da variação das doses de potássio.
O potássio apresenta importantes
funções nas células vegetais como cofator enzimático, na síntese e estabilidade de proteínas e na síntese de
carboidratos (Marschner, 1995). Como
o ácido ascórbico é uma lactona de um
ácido-açúcar, nos tratamentos onde houve maior disponibilidade deste nutriente, os frutos apresentaram maiores concentrações de ácido ascórbico, provavelmente devido ao aumento na síntese e
transporte de açúcares fotossintetados.
Na Figura 2 observa-se resposta
quadrática dos valores de ácido em relação às doses de K aplicadas na adubação, sendo que o maior teor (26 mg 100
310
g-1) foi obtido na dose de 160 g por vaso
de zeólita ZPK, representando cerca de
8 g de potássio por vaso. Sampaio &
Fontes (2000) obtiveram valores de 20
mg 100g-1 com aplicações de 180 kg ha-1
de potássio.
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of zeolite as soil conditioner in tomato
growing. Zeolites 2: 271-274.
311
normas
NORMAS PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS
O periódico Horticultura Brasileira é a revista oficial da
Associação Brasileira de Horticultura. Horticultura Brasileira
destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que envolvam hortaliças, plantas medicinais, condimentares e ornamentais e que contribuam significativamente para o desenvolvimento destes setores. O periódico Horticultura Brasileira é
publicado a cada três meses e aceita artigos escritos em português, inglês ou espanhol. Para publicar em Horticultura Brasileira é necessário que o primeiro autor do trabalho seja membro da Associação Brasileira de Horticultura e esteja em dia
com o pagamento da anuidade.
Os trabalhos enviados para Horticultura Brasileira devem
ser originais, ainda não relatados ou submetidos à publicação
em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também
implícito que os aspectos éticos e o atendimento à legislação
vigente do copyright tenham sido observados durante o desenvolvimento do trabalho. Após a submissão à Horticultura Brasileira e até o final de sua tramitação, é vedada a submissão do
trabalho, em todo ou em parte, a qualquer outro periódico ou
veículo de divulgação. Caso o trabalho seja aceito para publicação, Horticultura Brasileira adquire o direito exclusivo de
copyright para todas as línguas e países. Não é permitida a
reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem autorização por escrito da Comissão Editorial. Horticultura Brasileira não adota a política de distribuição de separatas.
O periódico Horticultura Brasileira é composto das seguintes seções:
1. Artigo convidado: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial;
2. Carta ao Editor: assunto de interesse geral. Será
publicada a critério da Comissão Editorial;
3. Pesquisa: artigo relatando informações provenientes
de resultados originais de pesquisa obtidos por meio de aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja
reproducibilidade é claramente demonstrada;
4. Comunicação Científica: comunicação ou nota científica relatando informações originais resultantes de observações de campo ou provenientes de experimentos menos complexos, realizados com aplicação rigorosa de metodologia
científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada;
5. Página do Horticultor: trabalho original referente a
resultados de utilização imediata pelo setor produtivo como,
por exemplo, ensaios originais com agrotóxicos, fertilizantes
ou cultivares, realizados com aplicação rigorosa de
metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente
demonstrada;
6. Nova Cultivar: relato de novas cultivares e
germoplasma, contendo descrição e disponibilidade, com
dados comparativos.
Submissão dos trabalhos
O texto deve ser composto em programa Word 6.0 ou versão superior ou programa compatível, em espaço dois, fonte
Times New Roman, tamanho doze. Páginas e linhas devem
312
GUIDELINES FOR THE PREPARATION AND
SUBMISSION OF PAPERS
Horticultura Brasileira is the official journal of the
Brazilian Association for Horticultural Science. Horticultura
Brasileira publishes papers on vegetable crops, medicinal and
condimental herbs, and ornamental plants. Papers that give a
significant contribution to the scientific and technological
development of horticultural crops are highly appreciated.
Horticultura Brasileira is published quarterly and accepts
papers in English, Portuguese, and Spanish. For the paper to
be eligible for publication, first author must be member of
the Brazilian Association for Horticultural Science.
Horticultura Brasileira publishes original papers, which
have not been submitted to publication elsewhere. It is implicit
that ethical aspects and fully compliance with the copyright
laws were observed during the development of the work. From
submission up to the end of the reviewing process, partial or
total submission elsewhere is forbidden. With the acceptance
for publication, publishers acquire full and exclusive copyright
for all languages and countries. Unless special permission has
been granted by the publishers, no photographic reproductions,
microfilm, and other reproduction of a similar nature may be
made of the journal, of individual contributions contained
therein or of extracts therefrom. No offprint is supplied.
Horticultura Brasileira has the following sections:
1. Invited paper: papers dealing with topics that arouse
interest, invited by the Editorial Board;
2. Letter to the Editor: deals with a subject of general
interest. The Editorial Board makes a preliminary evaluation
and can accept or reject it, as well as submit it to the reviewing
process;
3. Research: paper describing an original study, carried
out under strict scientific methods. The reproducibility of
studies should be clearly established;
4. Scientific Communication: communication or
scientific note, reporting field observations or results of less
complex original studies, carried out under strict scientific
methods. The reproducibility of studies should be clearly
established;
5. Grower’s page: original communication or short note
describing information readily usable by farmers, as for
example, results from studies regarding the evaluation of
pesticides, fertilizers, or cultivar competition. Such studies
must have been carried out under strict scientific methods
and their reproducibility should be clearly established;
6. New Cultivar: communications or scientific notes
reporting recent releases of cultivars and germplasm. It must
include information on origin, description, seed availability,
and comparative data.
Manuscript submission
Prepare your text in Word ® 6.0 or superior or other
compatible software, in double space, font Times New Roman
12 points, with pages and lines numbered. Add images, figuHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
ser numeradas. Adicione ao final do texto todos os demais
componentes (figuras, tabelas e gráficos) do trabalho. Formate
o arquivo para página A4, margens superior e inferior de 2
cm, margens esquerda e direita de 3 cm. Imprima e envie
duas cópias. Inclua também um disquete ou CD contendo o
arquivo do trabalho. Imagens de baixa resolução não serão
aceitas. Os trabalhos deverão ter no máximo 20 laudas. Se
forem necessárias orientações quaisquer que não estejam relacionadas aqui, por favor contate a Comissão Editorial ou
consulte os últimos números de Horticultura Brasileira.
Os trabalhos submetidos entrarão em tramitação somente se:
1. Estiverem acompanhados da anuência de todos os autores, que devem assinar a carta de encaminhamento ou a
primeira página do trabalho. Caso um ou mais autores não
possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de
encaminhamento. Neste caso, o autor correspondente deverá
se responsabilizar pela anuência do(s) faltante(s). Mensagens
eletrônicas da anuência ou cópias gráficas destas serão aceitas, desde que indubitavelmente enviadas da conta eletrônica
de quem concedeu a anuência;
2. Forem considerados aptos para tramitação pelo Editor Associado. Neste caso, o autor de correspondência receberá uma mensagem eletrônica e será solicitado o recolhimento da taxa de tramitação, no valor de R$ 55,00. Trabalhos
rejeitados não serão devolvidos.
A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro:
1. Título: não mais do que quinze palavras. Utilize nomes científicos somente quando não existirem nomes comuns
correspondentes no idioma em que o trabalho foi escrito;
2. Nome dos autores: nome completo dos autores, abreviando-se somente os sobrenomes intermediários. Use números sobrescritos para relacionar autores a endereços (consulte o padrão nos artigos publicados nos últimos números de
Horticultura Brasileira);
3. Endereço dos autores: nome completo da Instituição e
Departamento, quando for o caso, com endereço para correspondência e endereço eletrônico. Utilize números sobrescritos para relacionar os endereços aos autores (consulte o padrão nos artigos publicados nos últimos números de
Horticultura Brasileira);
4. Resumo em português ou espanhol com palavras-chave ao final: o resumo deve ter no máximo 1.700 caracteres
(excluídos os espaços). As palavras-chave, no máximo seis,
devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s) científico(s)
da(s) espécie(s) em questão. Não é necessário repetir termos
que já estejam no título;
5. Abstract, em inglês, acompanhado de título e keywords:
abstract, título em inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus similares em português ou espanhol. Assim
como o resumo, o abstract deve ser limitado a 1.700 caracteres
(excluídos os espaços);
6. Introdução;
7. Material e Métodos;
8. Resultados e Discussão;
9. Agradecimentos, quando for o caso;
10. Referências: Sugere-se não mais do que 30 referências bibliográficas, a maioria com publicação recente (inferior a 10 anos). Casos excepcionais serão considerados, desHortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
res, tables, and charts to the end of your text and compile all
files (text, figures, tables, and charts) in one. Format the file
for A4 page, 2-cm superior and inferior margins, 3-cm left
and right margins. Print and submit in duplicate. Send along
a 3.5-inch diskette or CD-ROM containing a copy of the file.
Low-resolution images are not adequate for publication. The
file must not exceed 20 pages. If further information is needed,
please contact the Editorial Board or refer to the recently
released issues.
A paper will be eligible for the reviewing process if:
1. Accompanied by a signed agreement-on-publishing
from all authors. A signature on the first page of the original
paper or on the submission letter is accepted. In case one or
more authors can not sign it, please state the reason(s) in the
submission letter. In this case, the corresponding author assumes the responsibility. Electronic messages or their hardcopies
with the agreement-on-publishing are accepted when sent
from an electronic account unequivocally managed by the
agreeing author;
2. The Associate Editor considered it adequate for peer
reviewing. In this case, the corresponding author will receive
an e-mail alert, along with instructions on how to pay the
processing fee (BRL $ 55,00). Rejected papers will not be
returned to the author(s).
Papers published in Horticultura Brasileira have the
following format:
1. Title: limited to 15 words. Avoid using scientific
names, unless there is no common name in the idiom used in
the paper;
2. Name(s) of author(s): Author(s) name(s) in full.
Abbreviate only middle family names. Use superscript
numbers to relate authors to addresses. Please refer the most
recent issues of Horticultura Brasileira for format;
3. Address(es): Full name of the Institution and
Department, if applicable, with full corresponding post and
electronic address for all authors. Use superscript numbers to
relate addresses to authors. Please refer the most recent issues
of Horticultura Brasileira for format;
4. Abstract and keywords: abstract limited to 1,700
characters (excluding spaces). Select up to six keywords,
starting with the scientific names of the organism(s) the study
deals with. It is not necessary to repeat words that are already
in the title;
5. Abstract, title and keywords in Portuguese: abstract,
title and keywords in Portuguese should be adequate versions
of their similar in English. Horticultura Brasileira will provide
Portuguese versions for non-Portuguese speaking authors;
6. Introduction;
7. Material and Methods;
8. Results and Discussion;
9. Acknowledgements, when applicable;
10. References: authors are asked to not exceed 30
bibliographic references. Make sure that at least half of the
references were published recently (up to 10 years).
Exceptional cases can be considered, regarding that authors
313
de que devidamente justificados na carta de submissão do
trabalho. Todas as referências deverão ter sido citadas no texto. Evite a citação de resumos de congresso;
11. Figuras e Tabelas: o limite para cada categoria (figuras, tabelas e gráficos) é 3, com limite geral de 5. Verifique se
figuras, tabelas e gráficos não estão redundantes. O enunciado e os rodapés de figuras, tabelas e gráficos devem ser bilíngües (português e inglês ou espanhol e inglês), com a tradução colocada entre parênteses logo após a versão no idioma
original do trabalho.
Este roteiro deverá ser utilizado para as seções Pesquisa e
Comunicação Científica. Para as demais seções veja padrão
de apresentação nos artigos publicados nos últimos números
de Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consulte
os números mais recentes de Horticultura Brasileira, disponíveis também nos sítios eletrônicos www.scielo.br/hb e
www.abhorticultura.com.br/Revista.
As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os exemplos: Resende & Costa (2005) ou (Resende &
Costa, 2005). Quando houver mais de dois autores, utilize a
expressão latina et alli, de forma abreviada, em itálico, como
segue: Melo Filho et al. (2005) ou (Melo Filho et al., 2005).
Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es),
no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após a
data de publicação do trabalho, como segue: 2005a, 2005b.
Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es),
em anos diferentes, separar os anos por vírgula, como segue:
(Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) ou “...segundo Inoue-Nagata
et al. (2003, 2004)...”. Quando vários trabalhos forem citados em série, utilize ordem cronológica de publicação.
Na seção “Referências”, organize os trabalhos em ordem
alfabética pelo sobrenome do primeiro autor. Quando houver
mais de um trabalho citado cujos autores sejam exatamente
os mesmos, utilize ordem cronológica de publicação. Utilize
para a seção “Referências” o padrão internacional, conforme
os exemplos:
a) Periódico
MADEIRA NR; TEIXEIRA JB; ARIMURA CT;
JUNQUEIRA CS. 2005. Influência da concentração de
BAP e AG3 no desenvolvimento in vitro de mandioquinhasalsa. Horticultura Brasileira 23: 982-985.
b) Livro
FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de olericultura. Viçosa: UFV. 402p.
c) Capítulo de livro
FONTES EG; MELO, PE de. 1999. Avaliação de riscos na
introdução no ambiente de plantas transgênicas. In: TORRES AC; CALDAS LS; BUSO JA (eds). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa
Informação Tecnológica/Embrapa Hortaliças. p. 815-843.
d) Tese
SILVA C. 1992. Herança da resistência à murcha de
Phytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: USP
– ESALQ. 72p (Tese mestrado).
e) Trabalhos completos apresentados em congressos
(quando não incluídos em periódicos):
314
mention their reasons at the submission letter. Avoid citing
conference abstracts;
11. Figures and Tables: the limit for tables, figures, and
charts is 3 for each, with a total limit of 5. Exceptional cases
can be considered, regarding that authors mention their reasons
at the submission letter. Please, make sure that tables, figures, and charts are not redundant. Table, figures, and chart
headers and footnotes should be bilingual (Portuguese and
English or Spanish and English), with the translated version
placed between brackets, following the original idiom version.
This structure will be used for the Research section. For
other sections, please refer to the most recent issues of
Horticultura Brasileira, available also at www.scielo.br/hb e
www.abhorticultura.com.br/Revista.
Bibliographic references within the text should have
the following format: Resende & Costa (2005) or (Resende
& Costa, 2005). When there are more than two authors,
use the Latin expression et alli in its reduced form, in italics,
as follows: Melo Filho et al. (2005) or (Melo Filho et al.,
2005). References to studies done by the same author in
the same year should be noted in the text and in the list of
References by the letters a, b, etc., as for example: 1997a,
1997b. In citations involving more than one paper from
the same author(s) published in different years, separate
years with commas: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) or
“...accordingly to Inoue-Nagata et al. (2003, 2004)...”.
When citing papers in tandem in the text, sort them
chronologically.
In “References”, order citations alphabetically, according
to first author’s family name, without numbering. When there
is more than one paper from exactly the same authors, list
them in chronological order. References should appear
accordingly to the international format, as follows:
a) Journal
GARCIA-GARRIDO JM; OCAMPO JA. 2002. Regulation
of the plant defense response in arbuscular mycorrhizal
symbiosis. Journal of Experimental Botany 53: 13771386.
b) Book
BREWSTER JL. 1994. Onions and other vegetable alliums.
Wallingford: CAB International. 236p.
c) Chapter
ATKINSON D. 2000. Root characteristics: why and what to
measure? In: SMIT AL; BENGOUGH AG; ENGELS C;
van NORDWIJK M; PELLERIN S; van de GEIJN SC
(eds). Root methods: a handbook. Berlin: Springer-Verlag.
p. 1-32.
d) Thesis
DORLAND E. 2004. Ecological restoration of heaths and
matgrass swards: bottlenecks and solutions. Utrecht:
Utrecht University. 86p (Ph.D. thesis).
e) Full papers presented in conferences (when not
included in referred journals)
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Anais
HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI
PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977.
Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4.
Anais... Salvador: SBF. p. 357-364.
CD-ROM
AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF.
2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB
(CD-ROM).
f) Trabalhos apresentados em meio eletrônico:
Periódico
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just
online journalism. APS News Online. Disponível em http:/
/www.hps.org/hpsnews/19065.html. Acessado em 25 de
novembro de 1998.
Trabalhos completos apresentados em congresso
SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Disponível em: http://
www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Acessado em
21 de janeiro de 1997.
Sítios eletrônicos
USDA - United States Department of Agriculture. 2004, 15
de novembro. World asparagus situation & outlook. Disponível em http://www.fas.usda.gov/
Em caso de dúvidas, entre em contato com a Comissão
Editorial ou consulte os números mais recentes de Horticultura
Brasileira.
Processo de tramitação
Os artigos serão submetidos à Comissão Editorial, que
fará uma avaliação preliminar (escopo do trabalho, atendimento às normas de publicação, seção, qualidade técnica e
qualidade do texto). A decisão da Comissão Editorial (adequado para tramitação, ou não adequado) será comunicada
ao autor de correspondência por via eletrônica. Caso sejam
necessárias modificações, o(s) autor(es) poderão submeter
uma nova versão para avaliação. Caso a tramitação seja aprovada, a Comissão Editorial encaminhará o trabalho a dois
assessores ad hoc especialistas naquela área de pesquisa. Tão
logo haja dois pareceres, o trabalho é enviado a um Editor
Científico, também especialista, que emitirá seu parecer: (1)
recomendado para publicação, (2) necessidade de alterações
ou (3) não recomendado para publicação. Caso o trabalho
seja recomendado ou não recomendado para publicação, será
encaminhado ao Editor Associado. Caso sejam necessárias
modificações, o trabalho é enviados aos autores, que deverão
produzir uma nova versão atendendo às solicitações do editor científico e enviá-la de volta à Comissão Editorial que,
por sua vez, remeterá a nova versão ao Editor Científico para
avaliação. O Editor Científico poderá recomendar ou não a
nova versão. Em ambos os casos, o trabalho é remetido para
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
Proceedings
HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI
PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977.
Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4.
Anais... Salvador: SBF. p. 357-364.
CD-ROM
AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF.
2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB
(CD-ROM).
f) Papers published in electronic media
Journal
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just
online journalism. APS News Online. Available at http://
www.hps.org/hpsnews/19065.html. Accessed in
November 25, 1998.
Full papers presented in conferences
SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Available at http://
www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Accessed in
January 21, 1997.
Electronic Sites
USDA - United States Department of Agriculture. 2004,
November 15. World asparagus situation & outlook.
Available at http://www.fas.usda.gov/
For further orientation, please contact the Editorial Board
or refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira.
The reviewing process
Manuscripts are submitted to the Editorial Board for a
preliminary evaluation (scope, adherence to the publication
guidelines, section, technical quality, and command of
language). The Editorial Board decision (adequate for
reviewing, not adequate) will be e-mailed to the
correspondence author. If modifications are needed, the author
may submit a new version. If the manuscript is adequate for
reviewing, the Editorial Board forwards it to two ad hoc
reviewers of that specific research area. As soon as they
evaluate the manuscript, it is sent to a related Scientific Editor. The Scientific Editor analyzes the manuscript and forwards
it back to the Editorial Board, (1) recommending it for
publication, (2) suggesting modifications, or (3) do not
recommending for publication. If recommended or not for
publication, the manuscript is reviewed by the Associate Editor, who holds the responsibility for the final decision. If
modifications are suggested, the manuscript is returned to the
author(s), who, based on the suggestions, produces a new
version. Following, the Scientific Editor checks the new
version and recommend it or not for publication. In both cases, it is sent to the Associate Editor, for the final decision.
The reviewing process of manuscripts that remained for longer
than 180 days with the author(s) will be cancelled.
315
o Editor Associado, que emitirá o parecer final. Cabe ao Editor Associado a responsabilidade pelo aceite ou rejeição do
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um período superior a 180 dias terão seu processo de
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Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
LA PRODUCCIÓN
HORTÍCOLA EN
ARGENTINA
La actividad hortícola se caracteriza no sólo por la gran cantidad
de especies cultivadas (aproximadamente 115), sino también por
su amplia distribución geográfica en función de la interacción de
factores agroecológicos, económicos, sociales y políticos. En una
superficie hortícola de 600.000 ha
se logra un volumen de
producción anual próximo a 10,5
millones de toneladas.
Se diferencian seis regiones
productoras, las cuales incluyen
los cinturones verdes que rodean
las grandes ciudades: Noroeste
(Salta, Jujuy, Tucumán, Santiago
del Estero); Noreste (Formosa,
Chaco, Corrientes, Misiones);
Central (Córdoba, San Luis);
Andina (Catamarca, La Rioja,
Mendoza, San Juan); Litoral
(Santa Fe, Entre Ríos, Buenos
Aires); Valles de los Ríos Negro
y Colorado – Patagonia Sur (La
Pampa, Río Negro, Neuquen,
Chubut), permitiendo esta
distribución de la producción
hortícola la generación de las
llamadas “economías regionales”.
El 65% de la producción
corresponde a papa, tomate,
cebolla, batata, lechuga, zapallos,
zanahoria, legumbres secas, ajo;
el 20% a acelga, mandioca,
zapallito redondo y alargado,
choclo, berenjena y pimiento; el
15% restante abarca las otras
especies. El 85% del volumen de
hortalizas producidas es consumido en fresco y tan sólo el 8% es
industrializado, representado en
su mayor parte por arveja, batata,
tomate, zapallo. La participación
de las hortalizas es de un 24%
sobre el total de la canasta alimentaria. Es una actividad de gran
efecto social al generar aproximadamente 350.000 empleos
directos y hasta 1.000.000, si consideramos también el empleo
indirecto en toda la cadena
(producción,
transporte,
distribución, almacenamiento,
comercialización e industrialización).
Si bien el destino principal de los
productos es el mercado interno
(93-94%), Argentina exportó en
el 2006 aproximadamente
500.000 t entre cebolla, ajo y
papa, con destino a Brasil el
80% y el resto a Bélgica,
España, México, Francia y
EEUU. En menor proporción
también se exportaron otras
especies como zanahoria, batata, espárrago, zapallos, frutilla.
Argentina mantiene una ventaja
competitiva por producir
contraestación respecto al
Hemisferio
Norte.
Las
importaciones de hortalizas son
muy variables y dependen de la
existencia de déficit en la
producción interna.
Se
importan entre 10.000 y 80.000
t año -1, principalmente desde
Brasil, Chile y Canadá.
Hortic. bras., v. 25, n. 2, abr.-jun. 2007
La evolución tecnológica a partir
de la incorporación de cultivos
protegidos, riego localizado,
fertirrigación, nuevos materiales
genéticos, técnicas de obtención
de plantines, entre otros, ha permitido en los últimos años
reducir la superficie cultivada
pero aumentar la producción física. De esta manera se logra una
oferta adecuada para atender a un
mercado de 37 millones de habitantes, con un consumo
promedio de 90 kg habitante.año-1,
sin considerar la papa. A futuro
la actividad hortícola Argentina
debe orientarse hacia la
obtención de mayor producción,
el logro de productos de alta
calidad con valor agregado, la
normalización de la calidad, el
incremento del mercado interno,
el mantenimiento e incremento
de las exportaciones, en un marco de preservación de los recursos naturales y de la salud de la
población consolidando al
mismo
tiempo
sistemas
productivos ecocompatibles.
El país cuenta con importantes
grupos de investigadores en el
área hortícola, que desarrollan
sus actividades principalmente
en las Facultades de Ciencias
Agrarias y en las Estaciones
Experimentales del Instituto Nacional
de
Tecnología
Agropecuaria (INTA), entre
otros. En particular en la
Facultad de Ciencias Agrarias de
la Universidad Nacional de Rosario, se abordan trabajos
interdisciplinarios relacionados
con distintos aspectos del manejo y mejoramiento de especies
hortícolas, destacándose los logros en la obtención de cultivares de alcaucil, híbridos de
espárrago, zapallito alargado y
tomate.
En la capa de la presente edición
de la Revista Horticultura Brasileira se presenta a modo
ilustrativo la cultivar Esmeralda
de alcaucil [Cynara cardunculus
L. var. scolymus (L.)], obtenida
por investigadores del área de
Horticultura y de Mejoramiento
Vegetal de nuestra institución,
donde la Dra. Stella Maris García
es referente a nivel nacional e internacional en este cultivo. Al presente se han inscripto en el Registro Nacional de Cultivares
cuatro
variedades
de
multiplicación asexual: Oro Verde FCA, Esmeralda FCA,
Gauchito FCA, Gurí FCA, y en
trámite de inscripción Estrella del
Sur FCA, de propagación sexual.
El alcaucil, alcachofra, alcachofa,
artichoke, es una especie importante en los cinturones hortícolas
de La Plata, Rosario y San Juan.
Esta especie fue introducida al país
por los inmigrantes italianos, adaptando sus prácticas agronómicas
de origen a las condiciones locales.
Principalmente se consume la
inflorescencia inmadura (capítulo)
cuya coloración varía en la gama
del verde al violeta. De las hojas
se extrae cinarina, compuesto natural utilizado en la industria
farmacéutica. No es sólo una
hortaliza nutritiva, sino altamente
protectora de la salud, por su alto
contenido de fibra, vitamina C y
flavonoides antioxidantes.
(Stella Maris García, Facultad
Ciencias Agrarias UNR,
[email protected]; Marta
Susana Panelo, Fac. Ciencias
Agrarias UNR, Delegada
Internacional ABH – Argentina, [email protected])
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