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Políticas Públicas como Chave para o Desenvolvimento Sustentável
no Contexto da Segurança Alimentar e Nutricional
Viviane Bicalho Duffles Teixeira¹
Amanda de Paiva Guariento¹
Bruna Daniele Ribeiro Firmino¹
Hélio de Magalhães Júnior¹
¹ Graduandos em Ciências Socioambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Resumo
O perfil demográfico brasileiro tem sofrido alterações, com destaque para o
envelhecimento da população. O Brasil, de proporções continentais, apresenta
realidades e demandas distintas, que aliadas ao novo perfil populacional o qual vem
sendo formado, precisam ser analisadas com cautela. É necessário que se pense em
políticas públicas que incentivem técnicas de produção agrícola menos degradadoras,
visando a melhoria da saúde humana e ambiental.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, políticas públicas,
saúde.
Introdução
O presente estudo visa investigar a compatibilidade da dinâmica demográfica brasileira com
um possível padrão de desenvolvimento sustentável na área de segurança alimentar e
nutricional (SAN). Sabe-se que o país é carente de estudos que relacionem a temática
demográfica com a de desenvolvimento sustentável e de segurança alimentar e nutricional,
sendo tal fator um propulsor para que o artigo fosse desenvolvido. Pretende-se a veiculação
deste artigo além da universidade, sendo mais um documento para embasamento de políticas
públicas na área problematizada.
Metodologia
O presente estudo se baseou em revisão bibliográfica e posterior análise nas temáticas:
demográfica, ambiental e de segurança alimentar e nutricional. Foi utilizada também
bibliografia recomendada à disciplina “População, Desenvolvimento e Planejamento”,
ministrada pelo professor Alisson Barbieri durante o primeiro semestre de 2015 na
Universidade Federal de Minas Gerais. As discussões em sala de aula foram de grande
importância para o desenvolvimento deste artigo. Para um futuro estudo, objetiva-se maior
adensamento em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como o
Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), as Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) e
Censos Demográficos,
Resultados
Historicamente, o Brasil teve altas taxas de mortalidade e natalidade por um longo período,
sendo que a mortalidade começou a demonstrar queda nas últimas décadas do século XIX e
mais acentuadamente após a década de 1930¹. A natalidade declina cerca de três décadas
depois, a partir da década de 60, conforme demonstrado no Gráfico 1, a seguir.
Gráfico 1 - Taxas brutas de natalidade e mortalidade no Brasil, 1920 a 2007.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos e Projeção da Pop. do Brasil por sexo e idade para o período 1980-2050 Revisão 2008.
No período entre as décadas de 50 e 60 o país passou por alto crescimento vegetativo, ficando
conhecido este fenômeno como explosão demográfica. O Gráfico 2 apresenta a taxa média
geométrica de crescimento da população brasileira, expondo o alto crescimento populacional
entre 1950 e 1960 e logo após constante queda da taxa.
Gráfico 2 - Taxa média geométrica de crescimento da população (população presente e residente), 1950 a 2010.
Fonte: IBGE, Censo demográfico 1950/2010. Até 1991 na tabela extraída de: Estatísticas do Século XX, Rio de
Janeiro, IBGE, 2007 no Anuário Estatístico do Brasil 1979. Rio de Janeiro: IBGE, v. 42, 1981.
Se pensarmos na Teoria da Transição Demográfica, percebemos que o país está passando ao
que esta propõe: a transição de uma sociedade agrária para industrial, em que em um primeiro
momento apresenta altas taxas de mortalidade e de fecundidade e em um estágio mais
intermediário são observados primeiramente a redução de mortalidade e depois de fecundidade.
Um dos efeitos que este processo de transição pode acarretar é a modificação na estrutura etária,
o que já vem ocorrendo no Brasil com a diminuição da proporção do número de crianças e
adultos e aumento da proporção de idosos². A tendência de envelhecimento da população
brasileira continua para as próximas décadas, de acordo com a projeção exibida na Tabela 1.
Tabela 1 - Proporção populacional por grandes grupos etários para o Brasil, de 2000 a 2050
Fonte: Adaptado de Cedeplar/Fiocruz, 2008.
Anualmente, cerca de 650 mil idosos são inseridos à população brasileira,sendo que o número
de idosos passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e 17 milhões em 2006. Tal
aumento representa 600% de acréscimo do número de idosos em menos de cinquenta anos³.
Ainda sobre a dinâmica demográfica, é importante ressaltar a migração interna que ainda ocorre
no país. Em 1970, 58% da população vivia em áreas urbanas, enquanto em 2000 essa
porcentagem sobe para 81%. O crescimento da população urbana foi impulsionado pelo
processo de industrialização que iniciou-se na década de 1930 e com maior intensidade a partir
da década de 1950⁴ . Durante o século XXI o fluxo rural-urbano continua sendo propulsor para
o crescimento das cidades, não somente as de grande porte, mas também as cidades médias⁵ .
A respeito do conceito de desenvolvimento sustentável, existem variáveis atrás de sua
conceituação, sendo elas política, econômica, ambiental e social. O termo “desenvolvimento
sustentável” traz conotação de racionalidade econômica, por trazer a palavra desenvolvimento
na frente, que remete à crescimento econômico, e a palavra sustentável aparece em seguida,
como uma adjetivação de desenvolvimento. O relatório de Brundtland, organizado pelas
Nações Unidas define como desenvolvimento sustentável aquele que é capaz de suprir as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das
gerações futuras⁵ . Embora haja críticas ao desenvolvimento sustentável, é preciso percebê-lo
como um conceito que não pode ser avaliado somente pela questão ambiental e econômica,
mas também pela social.
A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, nº 11.346, de 15 de setembro de 2006
define a Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil ⁶ :
Consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a
diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis
(Brasil, 2006).
Esta Lei cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que tem como objetivo
a garantia da alimentação humana adequada, que também é prevista na Constituição Federal.
Observou-se que as principais alterações na composição da dieta da população de áreas
metropolitanas no Brasil entre 1974 e 2003 referem-se à diminuição do consumo de cereais,
raízes, tubérculos e cereais, a substituição de carboidratos por lipídios e proteínas de origem
vegetal por proteínas de origem animal⁷ .
Os avanços científicos permitiram o maior rendimento e produção de alimentos, diminuição
dos preços e da fome crônica. Mas por outro lado, as novas práticas utilizadas pela agricultura
convencional têm degradado o meio ambiente e seus recursos naturais: solo, água e a
diversidade genética natural. A agricultura convencional não leva em consideração a dinâmica
ecológica dos agroecossistemas e visa a maximização da produção e do lucro, sobretudo por
meio de exportações. Ficando a saúde ambiental e humana debilitadas, principalmente a
respeito do uso indiscriminado de agrotóxicos⁸ .
Considerações Finais
De acordo com a revisão bibliográfica feita, percebe-se que para discorrer sobre o
desenvolvimento sustentável no contexto da segurança alimentar e nutricional (SAN) é
necessário incorporar análises além do contingente populacional, deixando de lado uma visão
unicamente malthusiana. A população brasileira está envelhecendo, o que significa maiores
custos para o governo². A SAN se faz importante para garantir a alimentação humana adequada
para este novo perfil demográfico que vem se formando, visto que os idosos são mais
vulneráveis, por normalmente dependerem financeiramente da Previdência Social pública e por
alterações fisiológicas que o envelhecimento leva. Nesta fase de envelhecimento da população
nota-se o aumento do número de casos de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)
relacionadas com a alimentação, como a obesidade, hipertensão arterial sistêmica e a diabetes
melito⁷ .
Os problemas socioambientais brasileiros, incluindo os relacionados à segurança alimentar,
estão atualmente mais associados com a utilização do espaço do que com o crescimento
vegetativo¹. Entretanto, uma vez que o Brasil é um país de proporção quase continental, é
válido lembrar que possui várias realidades distintas em seu território, ou seja, as práticas
agricultáveis e carências populacionais se distinguem dependendo da região em análise.
A maioria da população brasileira está atualmente concentrada em áreas urbanas e
consequentemente possui maior acesso à produtos processados e industrializados, recorrentes
números de refeições feitas fora dos domicílios, alta disponibilidade de alimentos com elevado
teor de gordura, sódio e açúcar. Dessa maneira, a preocupação em relação à segurança
alimentar e nutricional atualmente está voltada para o excesso de peso, e não mais para a
desnutrição⁹ .
Portanto, a dinâmica demográfica brasileira pode ser compatível com padrão de
desenvolvimento sustentável na área de segurança alimentar e nutricional se houverem avanços
em políticas públicas que assegurem a interdisciplinaridade das áreas de demografia,
agricultura, nutrição e economia.
No cenário em que vivemos é importante que se repense o modelo de agricultura, visando
técnicas menos degradadoras que objetivem: efeitos negativos mínimos no ambiente, a saúde
ecológica do solo, uso da água de maneira que permita a recarga dos depósitos aquíferos e
satisfaça as necessidades hídricas do ambiente e das pessoas. Sugere-se a execução de políticas
públicas visando os seguintes objetivos: o fortalecimento da agricultura familiar, fomento da
reforma agrária, incentivo à praticas agricultáveis locais que demandem menores distâncias
para o escoamento da produção, mecanismos de garantias de preços mínimos à agricultores
familiares, continuidade e ampliação de programas de transferência de renda, acesso a água e
disponibilidade de alimentos saudáveis sobretudo a idosos asilados ou não.
Logo, é importante que se realizem mais estudos interdisciplinares, que analisem o novo perfil
demográfico que vem se formando, desenvolvimento sustentável e segurança alimentar e
nutricional, pois ainda se encontram estudos isolados destes temas. Entretanto, fica claro a
emergência do Planejamento em forma de políticas públicas para viabilizar um possível
desenvolvimento sustentável na área de SAN.
Referências
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Disponível
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<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=pop119> Acesso 15 Junho 2015
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Plano Nacional de Segurança
Alimentar
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2012/2015.
Disponível
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<http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/LIVRO_PLANO_NACIONAL_CAISAN_FIN
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