A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE REABILITAÇÃO VINCULADO AO SUS: ENFOQUE FONOAUDIOLÓGICO BASEADO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE. Curitiba, 2014 A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE REABILITAÇÃO VINCULADO AO SUS: ENFOQUE FONOAUDIOLÓGICO BASEADO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Distúrbios da Comunicação como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre Discente: Jenane Topanotti da Cunha Orientadora: Prof. Dra. Giselle Massi Área de Concentração: Linguagem e Audição: Modelos Fonoaudiológicos Linha de Pesquisa: Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem Curitiba, 2014 2 CUNHA, Jenane Topanotti da. A Percepção dos Usuários de um Centro de Reabilitação vinculado ao SUS: Enfoque Fonoaudiológico baseado na Promoção da Saúde / Jenane Topanotti da Cunha – Curitiba, 2014. Dissertação (Mestrado) – Universidade Tuiuti do Paraná – UTP/PR. Orientadora: Dra. Giselle Massi 1. Fonoaudiologia. 2. Saúde Pública 3 Este trabalho é dedicado integralmente à minha saudosa e única irmã Jeanesér Topanotti (in memoriam), que durante sua vida me iluminou no caminho da Fonoaudiologia e após seu trágico desencarne me inspirou nos momentos de fraqueza. Minha eterna saudade!!! 4 AGRADECIMENTOS Ao Divino Mestre, pela inspiração constante; À minha linda família, meu agradecimento especial pela paciência e perdão pelos momentos de ausência. Agradeço mеυ esposo Fabiano, qυе dе forma carinhosa mе apoiou nоs momentos dе dificuldades; аos meus filhos amados João e Ana Clara, qυе iluminaram dе maneira especial оs meus pensamentos, e dе forma grata е grandiosa meus pais Sergio e Janilce, а quem еυ agradeço а minha existência! À professora orientadora Dra. Giselle Massi, pоr seus ensinamentos е pela confiança ао longo dаs supervisões, meu muito obrigada! Agradeço às professoras Dra. Ana Cristina Guarinello e Dra. Kyrlian Bortolozzi qυе mе acompanharam durante а qualificação e aceitaram participar da defesa deste trabalho. É υm prazer tê-las nа banca examinadora; Aos meus alunos, que instigam meus estudos e auxiliam na busca de conhecimento contínuo; A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para o meu aprendizado e a conquista deste degrau importante em minha vida. 5 “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, o universo conspira a seu favor”. Johann Goethe 6 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: REPRESENTAÇÃO DO CENÁRIO DA PESQUISA............................62 FIGURA 2: FLUXOGRAMA DOS ENCAMINHAMENTOS PARA O CENTRO DE REABILITAÇÃO.......................................................................................................63 FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO DO PERCENTUAL DAS QUEIXAS/ MOTIVO DO ENCAMINHAMENTO PARA O CENTRO DE REABILITAÇÃO FAG-SUS..............71 FIGURA 4: PERCENTUAL DE QUALIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS PRESTADOS PELO CENTRO DE REABILITAÇÃO FAGSUS............................................................................................................................73 FIGURA 5: PERCENTUAL CLASSIFICATÓRIO PARA O TEMPO DE ESPERA NO SETOR DE FONOAUDIOLOGIA ............................................................................76 7 LISTA DE TABELAS TABELA 1: VALORES DE FREQUÊNCIA RELATIVA E ABSOLUTA REFERENTES À AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA FÍSICA E EQUIPE DE TRABALHO DO CENTRO DE REABILITAÇÃO .................................................................................................67 TABELA 2: VALORES DE FREQUÊNCIA RELATIVA REFERENTE A AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS DO CENTRO DE REABILITAÇÃO ................................................................................................................................80 8 LISTA DE ABREVIAÇÕES AASI – Aparelho de Amplificação Sonora Individual APAE – Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais CEACRI- Centro de Apoio a Criança CEONC- Centro de Oncologia Cascavel CISOP- Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná CRE - Centro Regional de Especialidades DATAUNB – Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Universidade de Brasília ESF – Equipe da Saúde da Família FAG- Faculdade Assis Gurgacz IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAMPS - Instituto Nacional de Previdência Social INPS- Instituto Nacional de Previdência Social IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada NASF- Núcleo de Apoio em Saúde da Família NOB – Norma Operacional Básica PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde PNH – Politica Nacional de Humanização PSF – Programa de Saúde da Família SUS - Sistema Único de Saúde TCE- Traumatismo Crânio-encefálico UBS – Unidade Básica de Saúde UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná UOPECAN- União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer 9 RESUMO Introdução: Avaliações acerca da qualidade do atendimento dos serviços públicos , por parte de seus usuários, têm sido foco atual de pesquisas no campo da saúde. A Participação Social, enquanto princípio organizativo do Sistema Único de Saúde (SUS), vem norteando tais pesquisas, na medida em que este princípio enfatiza o protagonismo dos sujeitos que se utilizam de serviços de saúde. Objetivo: Verificar as percepções que os usuários do SUS têm a respeito de um Centro de Atendimento, bem como dos serviços fonoaudiológicos prestados neste Centro. Método: Pesquisa de campo, transversal, composta por entrevista realiz ada, no mês de agosto 2013, com 111 sujeitos usuários do SUS e residentes no município de Cascavel-PR. A análise quantitativa foi realizada a partir da aplicação do GraphPad Prisma 5.1, SPSS 15.0 e as testagens D‟agostino e Person, testes não paramétricos comparativos F e Qui-quadrado. A abordagem qualitativa foi pautada na análise de conteúdo. Resultados: A avaliação do Centro de Atendimento com sua estrutura física e equipe de secretárias foi bem qualificada pelos usuários do SUS. Da mesma forma, foram bem avaliados os serviços fonoaudiológicos quanto a aspectos relacionados à fila de espera, ao atendimento das expectativas do usuário quanto ao trabalho fonoaudiológico, às explicações fornecidas pelo fonoaudiólogo relativas às atividades desenvolvidas. Conclusão: O conhecimento do direito civil relativo à saúde faz parte de um processo indispensável para a qualificação dos serviços públicos. Os reflexos gerados pelo incentivo de um modelo de sociedade com maior participação social recaem na construção de uma sociedade mais justa e igualitária como proposta da Promoção de Saúde. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde; Fonoaudiologia; Percepção dos Usuários; Promoção de Saúde. 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................13 2. REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................19 2.1. SAÚDE – CONCEPÇÃO E NÍVEIS DE ATENÇÃO..............................19 2.2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – CONSTITUIÇÃO, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES........................................................................................28 2.2.1. Sistema Único de Saúde – complementaridade da participação privada.............................................................................................38 2.3. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – HUMANIZAÇÃO E ACOLHIMENTO EM SAÚDE...........................................................................................42 2.4. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FONOAUDIOLOGIA.........................50 3. MATERIAIS E MÉTODOS..............................................................................59 3.1. CENÁRIO DA PESQUISA....................................................................63 3.2. DEFINIÇÃO DOS PARTICIPANTES....................................................65 3.3. MATERIAL............................................................................................66 3.4. PROCEDIMENTO PARA A COLETA E ANÁLISE DE DADOS...........66 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS.................................69 4.1. PERFIL DA AMOSTRA........................................................................69 4.2. CATEGORIAS DE ANÁLISE................................................................69 4.2.1. Avaliação geral do Centro de Reabilitação.....................................70 4.2.2. Avaliação específica dos serviços fonoaudiológicos.......................74 4.2.2.1. Busca/ procura pelo atendimento fonoaudiológico.....................74 4.2.2.2. Fila de espera para os atendimentos fonoaudiológicos.............79 4.2.2.3. Expectativa do atendimento e qualificação do trabalho fonoaudiológico ........................................................................................83 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................93 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................96 11 Apêndice 1 – TCLE .................................................................................................109 Apêndice 2- Questionário Avaliativo .......................................................................110 Anexo 1- Parecer CEP – FAG..................................................................................113 Anexo 2 - Parecer CEP – UNIOESTE .....................................................................114 12 1. INTRODUÇÃO As mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais ocorridas no século XIX produziram alterações na vida em sociedade, incluindo-se os aspectos relacionados à saúde em toda sua diversidade. Silva (2007) relata que o processo de transformação da sociedade é também o processo de transformação da saúde e dos problemas sanitários. O agir sanitário envolveu fundamentalmente o estabelecimento de uma rede de compromissos, responsabilidades e estratégias em favor da vida para que ela exista. Sendo assim, comprometer-se e responsabilizarse pelo viver e por suas condições são marcas e ações próprias da saúde, da atenção e da gestão coletiva (TEIXEIRA & SOLLA, 2006). No Brasil, a garantia da saúde para a população significou a redemocratização do País e a constituição de um sistema de saúde unificado. Em 1986, a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) tinha como tema “Democraci a é Saúde” e constituiu-se um fórum de luta pela descentralização do sistema de saúde e pela implantação de políticas sociais que defendessem e cuidassem da vida. Foi um momento chave da Reforma Sanitária Brasileira para a afirmação da indissociabilidade entre a garantia da saúde como direito social irrevogável e a garantia dos demais direitos humanos e de cidadania (BRASIL, 2000). O Sistema Único de Saúde – SUS, criado no Brasil em 1988 com a promulgação da nova Constituição Federal, tornou o acesso à saúde gratuito a toda população brasileira. A Constituição Federal definiu, em seu artigo 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Até então, o modelo de atendimento era dividido em três categorias: os que podiam pagar por serviços de saúde privado, os que tinham direito à saúde pública por serem segurados pela previdência social (trabalhadores com carteira assinada) e os que não possuíam direito algum. A implantação do SUS unificou o sistema e descentralizou a gestão pública, deixando de ser exclusivamente do poder executivo federal e passando a ser administrada por estados e municípios (BRASIL, 2000). O SUS representou uma conquista da sociedade brasileira e hoje é o maior sistema público de saúde do mundo, atendendo cerca de 190 milhões de usuários, sendo que 80% deste total dependem exclusivamente do próprio SUS para cuidar da sua saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Ainda segundo o Ministério da 13 Saúde, o SUS tem mais de 6,5 mil hospitais credenciados, 45 mil unidades de atenção primária e 30,3 mil Equipes de Saúde da Família (ESF). O sistema realiza 2,8 bilhões de procedimentos ambulatoriais anuais, 19 mil transplantes, 236 mil cirurgias cardíacas, 9,7 milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia e 11 milhões de internações. Entre as ações mais reconhecidas do SUS estão a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Políticas Nacionais de Atenção Integral à Saúde da Mulher, de Humanização do SUS e de Saúde do Trabalhador, a realização de transplantes pela rede pública, além de participar de programas de vacinação em massa de crianças e idosos em todo o País. O Sistema Único de Saúde propõe oferecer um atendimento eficiente e com qualidade para toda a população a partir do uso de políticas públicas bem definidas, voltadas aos interesses da sociedade (FORTES, 2006). Nesta direção, a atenção à saúde no Brasil tem sido voltada à formulação, implementação e concretização de políticas de promoção, proteção e recuperação da saúde. Há um grande esforço na construção de um modelo de atenção à saúde que priorize ações de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos e da coletividade. Como integrantes de um sistema, as organizações de saúde formam uma complexa rede, que inclui atributos da população e do território nacional, da estrutura logística e da gestão em saúde. Cabe aqui ressaltar que a definição, os limites e objetivos de um sistema de saúde são específicos para cada país, de acordo com seus próprios valores e princípios (ERDMANN, 2013). O Sistema Único de Saúde no Brasil buscou materializar uma nova concepção acerca da saúde, pois a mesma era entendida como o estado de nãodoença, o que fazia com que toda lógica do sistema girasse em torno da cura de agravos à saúde. Essa lógica - que significava apenas remediar os efeitos das doenças, com menor ênfase nas causas - deu lugar a uma nova noção centrada na prevenção dos agravos e na promoção da saúde. Para tanto, a saúde passa a relacionar-se com a qualidade de vida da população, a qual é composta pelo conjunto de bens que englobam a alimentação, o trabalho, o nível de renda, a educação, o meio ambiente, o saneamento básico, a vigilância sanitária e farmacológica, a moradia e o lazer (BRASIL, 2000). Nesta visão ampliada de saúde, o sujeito é visto como um todo e não como partes fragmentadas, é considerado um ser social, que tem preocupações, anseios, 14 frustrações, contrariando o modelo biomédico que divide o ser humano em partes específicas e trata-o como uma máquina (MATTA, 2007). Assim, tornou-se relevante cuidar da vida, de modo que se reduzisse a vulnerabilidade ao adoecer, diminuindo as chances de produção de incapacidade, de sofrimento crônico e de morte prematura de sujeitos e de coletividades. Além disso, a análise do processo saúdeadoecimento evidenciou que a saúde é resultado dos modos de organização da sociedade em determinado contexto histórico, e que o aparato biomédico não consegue modificar os condicionantes desse processo, pois realiza um modelo de atenção e cuidado marcado pela centralidade dos sintomas (BRASIL, 2006). Ao longo desses 25 anos de existência, o SUS avançou historicamente promovendo medidas como a descentralização e a municipalização de ações e serviços; o fortalecimento da atenção básica; a ampliação de ações de prevenção a doenças; o investimento em pesquisa e desenvolvimento científico-tecnológico de equipamentos, vacinas e medicamentos; o desenvolvimento de sistemas de informação e de gestão para monitorar resultados; a ampliação no número de trabalhadores em saúde, e a maior participação e controle social da população por meio da atuação dos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde. A qualificação dos serviços públicos tem sido relatada em pesquisas atuais, mostrando sua importância para a geração de estabilidade do setor público em saúde. As questões relacionadas à qualidade dos serviços públicos e percepções sobre o atendimento na área de saúde têm sido cada vez mais foco de atenção do poder público e da comunidade em geral, podendo conduzir de forma mais efetiva a organização de diretrizes para a melhoria do atendimento, voltado ao sujeito usuário do Sistema Único de Saúde. O conhecimento da qualidade de um atendimento prestado pelos serviços públicos é uma ferramenta útil para melhorias do mesmo, pois a satisfação ou não do paciente é um critério importante na avaliação da qualidade do serviço, assim como a percepção destes pacientes sobre os serviços de saúde públicos a que foram submetidos (MOIMAZ et al, 2010). Um trabalho de pesquisa a ser realizado por meio das opiniões dos próprios usuários do SUS pode possibilitar um redirecionamento de ações em saúde, contribuindo para a melhoria das práticas organizacionais e profissionais dentro do sistema público (MOURA & AGUIAR, 2004). 15 No primeiro semestre de 2012, o Ministério da Saúde publicou o “Relatório de Pesquisa de Satisfação, com cidadãos usuários do SUS”, objetivando avaliar o grau de satisfação dos usuários quanto aos aspectos de acesso e qualidade de atendimentos. Foram ouvidos mais de 26 mil sujeitos em todo o País que utilizaram o SUS nos últimos 12 meses para vacinação, consultas, exames, atendimento de urgência, internação, ou que tivessem dependentes que utilizaram algum desses serviços. Os resultados dessa pesquisa quanto à qualificação dos serviços prestados pela Unidade Básica de Saúde obteve o escore de 38% de aprovação no quesito “muito bom e bom” e 28% dos usuários classificaram como “ruim e muito ruim”. Tentando identificar a relação entre a satisfação e o atendimento da demanda deste usuário, a pesquisa demonstrou que a demanda foi resolvida para 60% dos usuários, parcialmente resolvida para 25% e não foi resolvida para 14% dos usuários do SUS. Segundo o Ministério da Saúde, os resultados foram considerados positivos, apesar de o SUS ainda apresentar dificuldades para garantir o acesso oportuno e de qualidade para toda população nas diferentes regiões brasileiras. No que se refere mais especificamente à inserção da fonoaudiologia no SUS, cabe ressaltar que o reconhecimento de que essa profissão está inserida nas políticas públicas vem ganhando cada vez mais visibilidade nacional. As intervenções específicas que passaram a ser garantidas mediante lei e projeto de lei foi o teste da orelhinha (Lei Federal nº 12.303, de 02 de agosto de 2010), e a promoção da saúde vocal do professor (Projeto de Lei Federal nº 1128, de 2003), dentre outras. Tais documentos legais evidenciam a necessidade da presença do fonoaudiólogo entre os profissionais que fazem parte da equipe multiprofissional do SUS. Nessa direção, acompanhando o movimento nacional de democratização da saúde, os serviços fonoaudiólogos passaram a definir seu papel junto ao sistema público de maneira reflexiva, consciente e responsável. O fonoaudiólogo vem sendo chamado a se comprometer com a saúde pública, buscando qualificar cada vez mais seus atendimentos, mostrando a importância da sua atuação nos serviços públicos de todo o país (PENTEADO & SERVILHA, 2004). Portanto, é necessário que os fonoaudiólogos, bem como os demais profissionais que atuam no SUS, tenham conhecimento dos preceitos e características administrativas do serviço público. O fonoaudiólogo precisa se inteirar 16 dos assuntos pertinentes ao SUS, incluindo aspectos relacionados à humanização, integralidade, equidade e atuação coletiva, a fim de organizar seu trabalho e direcionar ações que reflitam efeitos na comunidade e nas instituições públicas voltadas a saúde (GOULART, 2003). A análise da qualidade dos serviços fonoaudiológicos vinculados ao SUS é imprescindível para o planejamento e a coordenação das atividades desenvolvidas na saúde pública, pois contribui para a melhoria na assistência aos usuários, juntamente com o desenvolvimento de uma prática mais humanizada e acolhedora, exercida pelos profissionais de saúde, inclusive fonoaudiólogos. Saber o que pensam os usuários sobre seus atendimentos revela-se importante também para fortalecer os estudos sobre o SUS na perspectiva dos pacientes, demonstrando suas percepções, vivências e experiências. Assim, levando em consideração a qualificação de serviços públicos por parte dos usuários e a atuação fonoaudiológica no SUS, neste estudo, objetivamos analisar as percepções que os usuários de um Centro de Reabilitação, vinculado ao Sistema Único de Saúde, têm a respeito do próprio Centro e dos serviços fonoaudiológicos prestados. É importante salientar que este trabalho não tem como foco a análise da efetividade ou não dos serviços no SUS, mas uma avaliação geral da percepção dos usuários quanto aos serviços fonoaudiológicos a que foram submetidos, bem como a avaliação do Centro de Reabilitação no qual estão inseridos os serviços do SUS. A pesquisa contou com a participação de 111 sujeitos, de ambos os sexos e de idades variadas que fizeram uso de um ou mais serviços fonoaudiológicos oferecidos em um Centro de Reabilitação, vinculado ao SUS. Este Centro faz parte de uma instituição privada, situada na cidade de Cascavel – PR. Os sujeitos participantes da pesquisa responderam um questionário com perguntas objetivas e discursivas sobre as percepções dos atendimentos fonoaudiólogos realizados. A análise e interpretação de dados foi realizada com abordagem qualitativa pautada na análise de conteúdo e quantitativa com aplicação do GraphPad Prisma 5.1 e SPSS 15.0. Esta dissertação está assim estruturada: inicialmente apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o tema em questão, abrangendo a constituição do Sistema Único de Saúde, seus princípios e diretrizes, a humanização e o 17 acolhimento no sistema público, bem como a atuação fonoaudiológica no SUS. Num segundo momento, será relatada a metodologia da pesquisa e por fim os resultados encontrados neste estudo, bem como a discussão dos mesmos. 18 2. REVISÃO DE LITERATURA Neste capítulo abordaremos as concepções e os níveis de atenção em saúde, a constituição, os princípios e diretrizes do SUS, as questões da humanização e acolhimento no sistema público e finalizaremos o capítulo relatando sobre a Fonoaudiologia no Sistema Único de Saúde. 2.1. SAÚDE – CONCEPÇÃO E NÍVEIS DE ATENÇÃO Tradicionalmente, a saúde é abordada numa perspectiva individual e fragmentária, que coloca os sujeitos e as comunidades como os únicos responsáveis pelas mudanças ocorridas no processo saúde-adoecimento ao longo da vida. O setor da saúde passou por dificuldades na forma de se produzir saúde, induzindo o modelo médico como hegemônico. A assistência à saúde é centrada no ato prescritivo que produz o procedimento, não sendo consideradas as determinações do processo saúde-doença centradas nos determinantes sociais, ambientais e relacionadas às subjetivações, valorizando apenas as dimensões biológicas (CECÍLIO, 1994; MERHY, CECÍLIO, NOGUEIRA, 1992; DONANGELO, FERREIRA, 1976 in MALTA, 2010). Contudo, na perspectiva ampliada de saúde - como definida no âmbito do movimento da Reforma Sanitária Brasileira, do SUS e das Cartas de Promoção da Saúde - os modos de viver não se referem apenas ao exercício da vontade e/ou liberdade individual e da coletividade; ao contrário, os modos como sujeitos e coletividades elegem determinadas opções de viver, de organizar suas escolhas e criar novas possibilidades, satisfazem suas necessidades, desejos e interesses dentro de um processo de construção social mais amplo (BRASIL, 2011). O conceito ampliado de saúde é resultado de um processo de embates teóricos que traz consigo um diagnóstico das dificuldades que o setor da saúde enfrentou historicamente e a certeza de que a reversão deste quadro extrapolava os limites restritivos da noção vigente. Encarar saúde apenas como ausência de doenças nos legou a um quadro repleto não só das próprias doenças como de desigualdades, insatisfação dos usuários, exclusão, baixa qualidade e falta de comprometimento profissional. Para enfrentar esta situação, foi necessário buscar uma nova concepção de saúde. Este novo conceito ampliado incorpora: meio físico 19 (condições geográficas, água, alimentação, habitação); meio socioeconômico e cultural (emprego, renda, educação, hábitos); garantia de acesso aos serviços de saúde responsáveis pela promoção, proteção e recuperação da saúde (CUNHA&CUNHA, 2013). O conceito de saúde que adotamos está em movimento, depende de valores sociais, culturais, subjetivos e históricos. Podemos afirmar que um sistema de saúde focado na promoção da qualidade de vida e de relações mais solidárias e humanizadas, significa propor a constituição de uma vida saudável em seu sentido mais amplo, na luta contra as desigualdades, na construção da cidadania e da constituição de sujeitos que amam, sofrem, adoecem, buscam suas curas, necessitam de cuidados, lutam por seus direitos e desejos. Portanto, para ser saudável é preciso dispor de um conjunto de fatores, como alimentação, moradia, emprego, lazer e educação. A saúde se expressa como um retrato das condições de vida. Entretanto, a ausência de saúde não se relaciona apenas com a inexistência ou a baixa qualidade dos serviços de saúde, mas com um conjunto de determinantes. O sistema de saúde deve-se relacionar com todas as forças políticas que caminhem na mesma direção - como a defesa do meio ambiente, o movimento contra a fome, as manifestações pela cidadania, contra a violência no trânsito, pela reforma agrária, etc. O SUS, ao abraçar este conceito, pressupõe ainda a democratização interna da gestão dos serviços e dos sistemas de saúde como um elemento a mais no movimento de construção da cidadania (CUNHA&CUNHA, 2013). Quando nos referimos à atenção a saúde, envolvemos todo o cuidado com a saúde do sujeito, incluindo as ações e serviços de promoção, prevenção, reabilitação e tratamento das doenças. O cuidado com a saúde está ordenado em três níveis de atenção: a básica, a de média complexidade e a de alta complexidade, visando à melhor programação das ações e serviços do sistema (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). O nível de atenção primária ou atenção básica em saúde é a modalidade de atenção em saúde com o mais elevado grau de descentralização, como a Unidade Básica de Saúde ou o Centro de Saúde da Família, cuja participação no cuidado se faz necessária, identificando riscos e necessidades, coordenando o cuidado em saúde dos sujeitos e de coletividades (MENDES, 2011). 20 A Atenção Primária à Saúde (APS) é uma estratégia de organização da atenção à saúde de forma regionalizada, contínua e sistematizada em função da maior parte das necessidades de saúde de uma população, integrando ações preventivas e curativas, bem como a atenção aos sujeitos e comunidades. A APS incorporou os princípios da Reforma Sanitária, levando o Sistema Único de Saúde a adotar a designação Atenção Básica à Saúde (ABS) para enfatizar a reorientação do modelo assistencial, a partir de um sistema universal e integrado de atenção à saúde (MATTA, 2008). A Atenção Básica estabelece as ações de promoção e proteção à saúde em um território definido e é de responsabilidade do município. Historicamente, a ideia de atenção primária foi utilizada como forma de organização dos sistemas de saúde pela primeira vez no Relatório Dawnson, em 1920. Esse documento do governo inglês procurou, de um lado, contrapor-se ao modelo americano de cunho curativo, fundado no reducionismo biológico e na atenção individual, e por outro, constituir-se numa referência para a organização do modelo de atenção inglês, que começava a preocupar as autoridades daquele país, devido ao elevado custo, à crescente complexidade da atenção médica e à baixa resolutividade. O referido relatório organizava o modelo de atenção em centros de saúde primários e secundários, serviços domiciliares e hospitais de ensino. Os casos que o médico não tivesse condições de solucionar com os recursos disponíveis nesse âmbito da atenção deveriam ser encaminhados para os centros de atenção secundária, onde haveria especialistas das mais diversas áreas, ou então, para os hospitais, quando existisse indicação de internação ou cirurgia. Foi essa organização que caracterizou a hierarquização dos níveis de atenção à saúde do Brasil (MATTA, 2008). A atenção secundária ou média complexidade em saúde reúne os serviços especializados e de apoio diagnóstico e terapêutico. Para ter acesso à atenção secundária, o usuário geralmente é encaminhado por um serviço de atenção primária. Na rede de saúde, a atenção secundária é formada pelos serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a terciária, interpretado então como procedimento de média complexidade. Esse nível compreende serviços especializados, de apoio diagnóstico e terapêutico e atendimento de urgência e emergência (ERDMANN et al, 2013). 21 A Atenção Secundária está baseada na organização do Sistema Microrregional dos Serviços de Saúde que tem o objetivo de definir as diretrizes para a organização regionalizada deste nível. A organização se dá por meio de cada uma das microrregiões do Estado, onde há hospitais de nível secundário que prestam assistência nas especialidades básicas (pediatria, clínica médica e obstetrícia), além dos serviços de urgência e emergência, ambulatório eletivo para referências e assistência a pacientes internados, treinamento, avaliação e acompanhamento da Equipe de Saúde da Família (MATTA, 2008). A atenção à saúde de nível terciário ou alta complexidade é integrada pelos serviços ambulatoriais e hospitalares especializados. É constituído por instituições que concentram tecnologia de maior complexidade e devem oferecer à população atendimento de excelência, servindo de referência para outros serviços, sistemas e programas em saúde (MENDES, 2011). A Atenção Terciária é organizada em polos macrorregionais, através do sistema de referência. É o modelo técnico-científico de atenção à saúde, que privilegia um ambiente com grandes tecnologias para a prática de cuidados. As áreas hospitalares que compõem o atendimento de grande complexidade no SUS estão organizadas para a realização de procedimentos que envolvem alta tecnologia e/ou alto custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, parto de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise. A atenção terciária envolve também a assistência em cirurgia reparadora (mutilações, traumas ou queimaduras graves), cirurgia bariátrica, cirurgia reprodutiva, reprodução assistida, genética clínica, distrofia muscular progressiva, osteogênese imperfeita e fibrose cística. Entre os procedimentos ambulatoriais de alta complexidade estão a quimioterapia, a radioterapia, a hemoterapia, a ressonância magnética e a medicina nuclear (BRASIL, 2011). A legislação constitucional (Leis 8080/90 e 8142/90) detalha os mecanismos para a promoção, proteção e recuperação da saúde no contexto da atenção descentralizada das ações e serviços. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002), a Norma Operacional Básica do Sistema Único da Saúde - NOB 01/96, explicita um novo modelo de atenção, apresentando como bases para sua estruturação: 22 - a participação da população dentro dos serviços de atendimento, favorecendo a criação de vínculos entre o serviço e os usuários, caracterizando uma participação mais criativa e realizadora para os sujeitos; - as ações de saúde devem ser centradas na qualidade de vida dos sujeitos e no seu meio ambiente, bem como nas relações da equipe de saúde com a comunidade; - o modelo epidemiológico, por entender que este incorpora como objeto de ação os sujeitos, o ambiente e os comportamentos interpessoais; - o uso de tecnologias de educação e de comunicação social por constituírem parte essencial em qualquer nível de ação; - a construção da ética coletiva que agrega as relações entre usuário, sistema e ambiente, e que possibilita modificações nos fatores determinantes, instigando os sujeitos a serem agentes de sua própria saúde; - as intervenções ambientais que suscitem articulações intersetoriais para promover e recuperar a saúde. Para consolidar o modelo proposto, a NOB 01/96 institucionalizou os Programas Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Saúde da Família (PSF) como estratégias necessárias à reorganização do modelo de atenção, definindo percentuais de financiamento como forma de incentivo aos gestores que aderirem a estes programas. Ao definir os campos de atenção à saúde, esta Norma enfatiza a promoção da saúde como pertinente às responsabilidades do SUS. Refere-se principalmente às políticas externas ao setor, que interferem nos determinantes sociais dos processos de saúde e de doença das coletividades, de que parte das questões relativas às políticas sociais e econômicas - emprego, habitação, educação, lazer e à disponibilidade e qualidade dos alimentos - enfatizando a necessidade da programação dos mecanismos que propiciem a integração dessas políticas e ações. O documento ressalta, ainda, que as ações de política setorial, administrativas, planejamento e comando em saúde são inerentes e integrantes do contexto daquelas envolvidas na assistência e nas intervenções ambientais, explicitando ações de comunicação e educação em saúde como componentes da atenção a saúde. 23 Assim, as intervenções em saúde buscam ampliar seu olhar, tomando como objeto os problemas e as necessidades em saúde, de modo que a organização da atenção e do cuidado envolva, ao mesmo tempo, dois tipos de ações: aquelas que operam sobre os efeitos do adoecer e aquelas que buscam incidir na saúde dos sujeitos, tendo como foco as suas condições de vida, favorecendo a ampliação de escolhas saudáveis no território onde vivem e trabalham. Nesse sentido, é preciso entender que há uma diferença entre conceituações vinculadas à prevenção e as concernentes a promoção em saúde. Conceitualmente diferenciar Prevenção e Promoção da Saúde constitui-se em trabalho dificultoso. Porém, na prática profissional há distinções, pois claramente tem implicações na atuação do profissional, dependendo do seu embasamento teórico: [...] diferença entre „prevenção‟ e „promoção‟ da saúde... é radical porque implica mudanças profundas na forma de articular e utilizar o conhecimento na formulação e operacionalização das práticas de saúde – e isso só pode ocorrer verdadeiramente por meio da transformação de concepção de mundo (...). as práticas em promoção, da mesma forma que as de prevenção, fazem uso do conhecimento científico (...). Isso pode gerar confusão e indiferenciação entre as práticas, em especial porque a radicalidade da diferença entre prevenção e promoção raramente é afirmada e/ou exercida de modo explícito (CZERESNIA& FREITAS, 2003 1 pág. 41). O termo 'prevenir' tem o significado de preparar; chegar antes de; dispor de maneira que evite dano ou mal; impedir que se realize. A prevenção em saúde exige uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença. As ações preventivas definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações. A base do discurso preventivo é o conhecimento epidemiológico moderno; seu objetivo é o controle da transmissão de doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos (CZERESNIA & FREITAS, 2003). 1 Esse texto é uma versão revisada e atualizada do artigo The concept of health and the diference between promotion and prevention, publicado nos Cadernos de Saúde Pública (Czeresnia, 1999). In: Czeresnia D, Freitas CM (org.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2003. p.39-53 24 A prevenção nos faz pensar em afastamento de algo que não seja bom, associa-se à negatividade, pois pressupõe um conceito de ausência ou eliminação de doenças. A partir de construções científicas inspiradas no modelo científico de René Descartes (1596 – 1650), o método cartesiano é encontrado principalmente nas áreas Exatas e Biológicas, exemplo do modelo biomédico vigente na área da saúde. Descartes propôs que para entender algo, deveríamos desmembrá-lo em partes, compreender cada parte e depois reuni-las novamente no todo, o que permitiria a compreensão do “todo” daquele fenômeno. Grandes avanços da medicina foram conquistados segundo esta racionalidade e isso foi determinante na saúde. Em tal racionalidade cartesiana, pressupõe-se que para estudarmos algo precisamos primeiramente reduzir ao máximo um fenômeno a pequenas partes que sejam possíveis de controle e manipulação e, em segundo lugar, reunir partes chegando-se, assim, a uma explicação do fenômeno inteiro. Isso implica na maneira de se fazer pesquisas em um ambiente controlado e intervenções na área médica/ saúde até os dias de hoje, utilizando-se a racionalidade de “causa e efeito”, próprio do modelo biomédico (CZERESNIA & FREITAS, 2003). Este pensamento recebe críticas que se relacionam ao campo da promoção em saúde à medida que nem todas as situações são manipuláveis e passíveis de serem estudadas em ambientes controlados e que o comportamento isolado de um fenômeno pode ser diferenciado quando está em relação com o todo. Embora o termo Promoção de Saúde tenha sido usado a princípio para caracterizar os níveis de atenção da medicina preventiva (Leavell & Clark, 1976), seu significado foi mudando e passando a representar, mais recentemente, um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença-cuidado. O conceito moderno de Promoção da Saúde (e a prática consequente) surgiu e se desenvolveu nos países desenvolvidos, particularmente no Canadá, Estados Unidos e países da Europa Ocidental. Quatro importantes Conferências Internacionais realizadas em Ottawa (WHO, 1986), Adelaide (WHO, 1988), Sundsvall (WHO, 1991) e Jacarta (WHO, 1997), desenvolveram as bases conceituais e políticas da Promoção da Saúde. Na América Latina, em 1992, realizou-se a Conferência Internacional de Promoção da Saúde (OPAS, 1992), trazendo formalmente o tema para o contexto nacional (BUSS, 2000). 25 Promover tem o significado de fomentar, gerar. Promoção da saúde define-se então de maneira mais ampla que prevenção, pois se refere a medidas que não se dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem para aumentar a saúde e o bem-estar geral. As estratégias de promoção enfatizam a transformação das condições de vida e de trabalho que conformam a estrutura subjacente aos problemas de saúde, demandando uma abordagem intersetorial (CZERESNIA, 2003). A promoção parte de uma perspectiva baseada na presença da saúde e não em ser livre de doenças, explicitado nesta passagem: [...] esta ampliação da saúde opera sua abordagem por um conceito “positivo”, ou seja, que busca a definição de saúde por sua ampla ramificação e presença cotidiana e não por sua ausência, c omo no caso por uma enfermidade. (MARCONDES, 2004, pág.06). A ideia da promoção nos remete ao desenvolvimento de algo favorável à saúde; ir ao encontro da saúde. Promoção se relaciona, então, com conceitos de autonomia, empoderamento, vulnerabilidade e equidade. Segundo Fleury- Teixeira (2008), a Promoção de Saúde envolve: [...] a atuação para ampliação do controle ou domínio dos sujeitos e comunidades sobre os determinantes de sua saúde. Identificamos aí o eixo das ações promotoras de saúde, o que nos permite localizar a autonomia como categoria norteadora da atuação em promoção da saúde. Podemos dizer, portanto, que a promoção da saúde busca ampliação da autonomia de sujeitos e comunidades; esse é, a nosso ver, o cerne da proposição do empoderamento individual e coletivo. (FLEURY- TEIXEIRA, 2008 pág. 2115). Esta perspectiva firma um compromisso com um ser social e histórico. Podese considerar que a promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de bem-estar físico, mental e social, os sujeitos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio social (TEIXEIRA, 2006). A Promoção da Saúde é integral, na medida em que procura criar e fortalecer elos entre diversos setores e programas, não apenas dentro do setor de saúde, mas envolvendo também agências de governo, organizações não governamentais e 26 movimentos sociais (CARVALHO, 2008). Neste sentido, incorporam-se valores como solidariedade, equidade, democracia, cidadania, participação e parceria que se constitui numa combinação de estratégias, envolvendo diferentes atores: Estado, comunidade, família e sujeito (MACHADO, 2006). Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor da saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global (OMS, 2001). Ao ampliar o conceito de prevenção para promoção de saúde, modificamos também as ações que se envolvem com a saúde e a qualidade de vida dos sujeitos. Marcondes (2004) relata que aproximar a saúde da qualidade de vida traz desafios devido à abrangência destas concepções e que devemos empreender esforços para que esta abordagem sobre saúde possa verdadeiramente contemplar questões como a busca da felicidade e a realização de potenciais pessoais e coletivos; questões que não são resolvidas pela lógica da prevenção. 27 2.2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – CONSTITUIÇÃO, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES A história da saúde pública brasileira iniciou-se em 1808, embora o Ministério da Saúde só foi instituído no dia 25 de julho de 1953, com a Lei nº 1.920, que desdobrou o Ministério da Educação e Saúde em dois ministérios: Saúde e Educação e Cultura. A partir da sua criação, o Ministério passou a encarregar-se, especificamente, das atividades até então de responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde (DNS), mantendo a mesma estrutura que, na época, não era suficiente para dar ao órgão governamental o perfil de Secretaria de Estado, apropriado para atender aos importantes problemas de saúde pública existente. Na verdade, o Ministério limitava-se a ação legal e a mera divisão das atividades de saúde e educação, antes incorporadas num só Ministério. Mesmo sendo a principal unidade administrativa de ação sanitária direta do governo, essa função continuava ainda distribuída por vários Ministérios, com dispersão de recursos financeiro e pessoal técnico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). No início dos anos 60, a desigualdade social ganha dimensão no discurso dos sanitaristas em torno das relações entre saúde e desenvolvimento, marcado pela baixa renda per capita e a alta concentração de riquezas. O planejamento de metas de crescimento e de melhorias conduziram a propostas para adequar os serviços de saúde pública à realidade diagnosticada pelos sanitaristas da época e obtiveram marcos importante como, por exemplo, a formulação da Política Nacional de Saúde, em 1961, com o objetivo de redefinir a identidade do Ministério da Saúde e colocá-lo em sintonia com os avanços verificados na esfera econômico-social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). A partir do final da década de 80, destaca-se então a Constituição Federal de 1988, que determinou ser dever do Estado garantir a saúde a toda a população e, para tanto, criou o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, que operacionalizou o SUS. Convém explicitar que, de acordo com o artigo 196 da Constituição Federal (1988): [...] A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visam à redução do risco de doença e de 28 outros agravos e ao acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 2000) Assim, além de explicitar o direito à saúde a todos os brasileiros, esse artigo afirma que cabe ao Estado a responsabilidade de promover a saúde e de proteger o sujeito contra os riscos de doenças, assegurando-lhe acesso a serviços de saúde. Dessa forma, a Constituição Brasileira de 1988 surgiu como um marco no campo da Saúde Pública na medida em que, por meio da implantação do SUS, buscou-se assegurar o acesso igualitário às ações e serviços voltados à promoção, proteção e recuperação da saúde de todo e qualquer brasileiro. Nessa direção, o SUS foi definido como um sistema integrado e descentralizado de ações e serviços que visam à redução do risco de doença e ao acesso universal e igualitário da população à saúde, tendo como princípios fundamentais a equidade, a universalidade e a integralidade. De acordo com Buss (2005), o SUS, ao contrário do modelo tradicional que se centrava na doença e na hospitalização, prioriza as ações de proteção e promoção da saúde dos sujeitos e da sua família, de forma integral e contínua. Portanto o SUS, a partir da sua criação - marcada pelas exigências da Constituição de 1988 - é considerado a representação da materialização de uma nova concepção acerca da saúde em nosso país. Antes, a saúde era entendida como o estado de não doença, o que fazia com que toda lógica dos serviços de saúde girasse em torno da cura de doenças. Essa lógica - que se focava apenas na remediação dos efeitos dos problemas de saúde, com menor ênfase nas causas vinculadas a aspectos socioeconômicos - deu lugar a uma nova concepção centrada na promoção da saúde. Cabe esclarecer que a criação do SUS se dá a partir de uma concepção de saúde que se vincula à qualidade de vida da população. E tal qualidade, nessa concepção depende de um conjunto de bens materiais e simbólicos que englobam a alimentação, o trabalho, o nível de renda, a educação, o meio ambiente, o saneamento básico, a vigilância sanitária e farmacológica, a moradia, o lazer, entre outros (BRASIL, 2000). Nesse sentido, o SUS foi projetado para assumir os Princípios Doutrinários e Princípios Organizativos. Os Princípios Doutrinários são a Universalidade, Equidade e Integralidade, que se constituem como as bases que norteiam as 29 diversas ações em saúde. Os Princípios Organizativos ou Diretrizes do SUS são aqueles que direcionam os seus rumos quanto às diretrizes políticas, organizativas e operacionais, apontando “como” deve ser construído o sistema público de saúde. Tais princípios são a Descentralização, a Regionalização, a Hierarquização e a Participação social (TEIXEIRA, 2006). Sobre os Princípios Doutrinários do SUS, a universalidade propõe que a saúde é um direito de cidadania de todos os sujeitos e cabe ao Estado assegurá-lo, sendo seu acesso às ações e serviço garantia a todos, independentemente de sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais. O princípio da universalidade tem sido representativo nas lutas populares, que o reivindicam como um direito humano e um dever do Estado na sua efetivação (MATTA, 2009). Para que o SUS venha a ser universal é preciso que haja o desencadeamento de um processo de universalização, isto é, um processo de extensão de cobertura dos serviços, de modo que se tornem acessíveis a toda a população. A universalidade da assistência não é apenas a garantia dos serviços de saúde, e sim do direito à saúde (TEIXEIRA, 2006). A autora ainda relata que existem duas direções previstas pela universalidade: - garantia a toda população por serviços de saúde; - acesso, para toda população, a condições de vida que favoreçam a saúde. Para isso, ainda é preciso eliminar barreiras jurídicas, culturais e sociais que se interpõem entre a população e os serviços. A barreira jurídica foi amenizada com a Constituição Federal de 1988, na medida em que universalizou o direito à saúde, e eliminou a necessidade do usuário do sistema público colocar-se como trabalhador ou como “indigente”, situações que condicionavam o acesso aos serviços públicos anteriores à criação do SUS. A universalidade aponta, então, para o rompimento com a tradição previdenciária do sistema de saúde brasileiro, que conferia unicamente aos trabalhadores formais, por meio da contribuição previdenciária, o acesso às ações e serviços de saúde (MATTA, 2008). De fato, os trabalhadores com carteira assinada (e seus dependentes) empregados ou autônomos, ativos ou aposentados tinham o direito assegurado aos serviços do antigo INAMPS, na medida em que contribuíam para a Previdência Social. Aos excluídos do mercado formal de trabalho restava a condição de 30 “indigentes”, pobres que recorriam às instituições filantrópicas ou aos serviços públicos mantidos pelo Ministério da Saúde ou da Educação (Centros e Hospitais Universitários) e pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. A barreira sociocultural também é levada em consideração no processo de universalização, na medida em que aparecem dificuldades na comunicação entre os prestadores de serviços públicos e seus usuários. Grande parte da população ainda não dispõe de condições educacionais e culturais que facilitem o diálogo com os profissionais de saúde, o que se reflete na dificuldade de entendimento e de compreensão acerca dos procedimentos necessários para prevenção de riscos e de recuperação da sua saúde. Uma simples receita médica pode ser um texto ininteligível para grande parte da população que não consegue interpretar o que lê. A transposição dessa barreira cultural e comunicativa entre os usuários e o sistema de saúde é, certamente, um dos maiores desafios a serem enfrentados na perspectiva da universalização do acesso, não só aos serviços, como também à informação necessária para o envolvimento dos sujeitos neste processo (TEIXEIRA, 2006). Esforços variados estão sendo desenvolvidos para melhorar os parâmetros da universalização, que vão desde o desenvolvimento de ações de educação em saúde pelos trabalhadores do setor público, até a normatização das bulas dos medicamentos e implantação de serviços de ouvidoria para avaliação da assistência, de modo a se multiplicar em canais de comunicação entre os profissionais da saúde e usuários do sistema público (BRASIL, 2011). Para garantir a universalização do acesso, a construção do SUS tem demandado um esforço enorme para a garantia do financiamento do sistema, bem como para o gerenciamento adequado dos recursos, de modo que sejam utilizados na qualificação dos serviços públicos de saúde em todo o país (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Percebemos que, apesar de assegurada constitucionalmente, a universalidade na saúde faz parte de lutas pela democratização da saúde. O valor da universalidade tem sido defendido, na formação e na gestão do trabalho em saúde, como uma estratégia para fortalecer o SUS e como uma forma de ampliação da participação popular (PINHEIRO & MATTOS, 2005). 31 A universalidade não é apenas um elemento da atenção à saúde de um Estado, mas um valor a ser fortalecido e defendido como um projeto emancipatório de sociedade. A ideia de construção da universalidade permite a valorização de suas dimensões histórica, política e cultural (MATTA, 2008). Assim, o acesso universal - princípio da universalidade - significa que ao SUS compete atender a população brasileira independente de raça, renda, escolaridade ou religião, seja através dos serviços estatais prestados pelo Distrito Federal, Estados e Municípios, seja por meio dos serviços privados conveniados ou contratados com o poder público. Neste contexto, coloca-se em cena a equidade. Este princípio relata à necessidade de se alcançar a igualdade de oportunidades de sobrevivência, de desenvolvimento pessoal e social entre os membros de uma dada sociedade. O ponto de partida da noção de equidade é o reconhecimento da desigualdade entre as pessoas e os grupos sociais e a percepção de que muitas dessas desigualdades são injustas e devem ser superadas. Em saúde, especificamente, as desigualdades sociais se apresentam diante do adoecer e do morrer, reconhecendo-se a possibilidade de redução dessas desigualdades, de modo a garantir condições de vida e saúde mais justa para todos (ESCOREL, 2009). Apesar dos sujeitos possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior (TEIXEIRA, 2006). Os estudos sobre equidade são recentes, porém existe uma longa trajetória que antecede a incorporação deste conceito como orientador das políticas de saúde. Antes do processo de redemocratização da saúde, os serviços de saúde concentravam-se nos grandes polos industriais, por abrigar a maior parte da população com emprego formal. Nesta condição, os municípios periféricos sofriam prejuízo e ficavam submetidos a ações filantrópicas e de baixa resolutividade no setor da saúde, onde recebia mais quem precisava menos e recebia menos quem precisava mais. Os grupos sociais que economicamente são vulneráveis pagam o maior tributo em termos de saúde acumulando a carga de maior frequência de distribuição de doenças, sejam estas de origem infecciosas ou crônico- degenerativas (ESCOREL, 2009). 32 A equidade leva em consideração o fato das pessoas serem diferentes e terem necessidades diversas. Uma distribuição equitativa responde ao princípio marxista que diz: ...“de a cada um segundo suas capacidades e necessidades” (MARX, 1875). Sendo assim, o princípio de equidade estabelece um parâmetro de distribuição heterogênea. Se o SUS oferecesse exatamente o mesmo atendimento, para todas as pessoas da mesma maneira, em todos os lugares, estaria provavelmente oferecendo coisas desnecessárias para alguns e deixando de atender às necessidades de outros, mantendo assim as desigualdades. Em relação ao acesso e utilização dos serviços de saúde, verificam-se graus de complexidade por sujeitos com necessidades iguais de saúde. [...] As condições de saúde de uma população estão fortemente associadas ao padrão de desigualdades sociais existentes na sociedade. [...] Já a equidade no acesso e utilização de serviços de saúde são expressão direta das características do sistema de saúde. A disponibilidade de serviços e de equipamentos diagnósticos e terapêuticos, a sua distribuição geográfica, os mecanismos de financiamento dos serviços e a sua organização representam características do sistema que podem facilitar ou dificultar o acesso aos serviços de saúde. Modificações nas características do sistema de saúde alteram diretamente as desigualdades sociais no acesso e no uso, mas não são capazes de mudar por si só as desigualdades sociais nas condições de saúde entre os grupos sociais (Travassos & Castro, pág.11, 2008). Políticas equitativas constituem um meio para se alcançar a igualdade. Numa perspectiva relativamente utópica, pode-se pensar que ações desse tipo integrariam uma fase intermediária, visando a atingir a igualdade de condições e oportunidades sociopolíticas. Ou seja, fazendo uma distribuição desigual para pessoas e grupos sociais desiguais (mais para quem tem menos) atingiríamos (hipoteticamente) uma situação de igualdade, em que todos teriam acesso às mesmas coisas, fossem elas bens e serviços ou oportunidades. Mas, uma vez atingido esse patamar de igualdade de condições, as políticas equitativas ainda seriam necessárias, pois não se pode prescindir dos critérios de justiça. E, sobretudo no campo da saúde, em que as necessidades são sempre diferentes, em que cada caso é um caso, a igualdade de condições parece algo difícil de ser atingido e políticas equitativas serão sempre imprescindíveis (ESCOREL, 2009). A contribuição que um sistema de serviço de saúde pode gerar supera as desigualdades sociais em saúde, implicando na redistribuição da oferta de ações e 33 serviços, e na redefinição do perfil dessa oferta, de modo a priorizar a atenção em grupos sociais cujas condições de vida e saúde sejam mais precárias, bem como enfatizar ações específicas para determinados grupos e pessoas que apresentem riscos diferenciados de adoecer e morrer por determinados problemas. Percebe-se, assim, que o princípio da equidade diz respeito a duas dimensões do processo de reforma do sistema de saúde. De um lado, a reorientação do fluxo de investimentos para o desenvolvimento dos serviços nas várias regiões, estados e municípios, e, de outro, a reorientação das ações a serem realizadas, de acordo com o perfil de necessidades e problemas da população usuária. Nesse último sentido, a busca de equidade se articula diretamente com outro princípio do SUS, a integralidade à saúde. A noção de integralidade diz respeito ao leque de ações para a promoção da saúde, prevenção de riscos e assistência a pacientes, implicando a sistematização de um conjunto de práticas que são desenvolvidas para o enfrentamento dos problemas e o atendimento das necessidades dos usuários do SUS. A integralidade é um atributo do modelo de atenção “integral”, portanto, é aquele que dispõe de estabelecimentos, unidades de prestação de serviços, pessoal capacitado e recursos necessários à produção de ações de saúde; que vão desde as ações inespecíficas de promoção da saúde, às ações específicas de vigilância ambiental, sanitária e epidemiológica dirigidas ao controle de riscos e danos, até ações de assistência e recuperação de indivíduos enfermos, sejam ações para a detecção precoce de doenças, sejam ações de diagnóstico, tratamento e reabilitação dos sujeitos. Assim, o principio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e na qualidade de atendimentos aos usuários do SUS (BRASIL, 2000). O atendimento integral extrapola a estrutura organizacional hierarquizada e regionalizada da assistência de saúde, se prolonga pela qualidade real da atenção individual e coletiva assegurada aos usuários do sistema de saúde, requisita o compromisso com o contínuo aprendizado e com a prática multiprofissional. Entende-se a integralidade no cuidado de pessoas, grupos e coletividade 34 percebendo o usuário como sujeito histórico, social e político, articulado ao seu contexto familiar e meio social no qual se insere (PINHEIRO & MATTOS, 2005). O princípio de integralidade é um dos pilares de sustentação do Sistema Único de Saúde, consagrado pela Constituição de 1988, seu cumprimento pode contribuir para garantir a qualidade da atenção à saúde. Hoje se busca oferecer assistência integral através de uma maior articulação das práticas e tecnologias relativas ao conhecimento humano (CAMPOS, 2003). Esse princípio é um dos mais preciosos em termos de demonstrar que a atenção à saúde deve levar em consideração as necessidades específicas de sujeitos ou grupos de sujeitos, ainda que minoritário em relação ao total da população, cada qual de acordo com suas necessidades. Uma das preocupações centrais para a execução do princípio da integralidade está na necessidade da humanização dos serviços prestados e das ações realizadas no âmbito do SUS (BRASIL, 2000). Após a apresentação dos princípios doutrinários do SUS, convém explicitar os Princípios Organizativos ou Diretrizes do SUS, que englobam os conceitos de Descentralização, Regionalização, Hierarquização e a Participação Social. A descentralização propõe que a gerência das ações e dos serviços de saúde torne-se responsabilidade imediata do poder público municipal; o que, no entanto, não exime o poder público estadual e federal e a sociedade da responsabilidade pela saúde. Esta transferência ocorre a partir da redefinição das funções e responsabilidades de cada nível de governo com relação à condução político administrativa do sistema de saúde em seu respectivo território (nacional, estadual, municipal), com a transferência, concomitante, de recursos financeiros, humanos e materiais para o controle das instâncias governamentais correspondentes (TEIXEIRA, 2009). Descentralizar é redistribuir poder e responsabilidade entre os três níveis de governo, objetivando prestar serviços com maior qualidade e garantir o controle e a fiscalização por parte dos sujeitos. No SUS, a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada até o município, ou seja, devem ser fornecidas ao município condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer esta função. Para que valha o princípio da descentralização, é preciso considerar a concepção constitucional do mando único, onde cada esfera de governo é autônoma 35 e soberana nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade (BRASIL, 2000). Pressupõe-se que a descentralização do sistema de saúde possibilite um planejamento mais específico e de acordo com as necessidades da população de determinada região. A regionalização e a hierarquização dos serviços dizem respeito à forma de organização dos estabelecimentos vinculados ao Sistema Único de Saúde (GOULART, 2003). A regionalização dos serviços implica a delimitação de uma base territorial para o sistema de saúde, que leva em conta a divisão político-administrativa do país, mas também contempla a delimitação de espaços territoriais específicos para a organização das ações de saúde, subdivisões ou agregações do espaço políticoadministrativo. A hierarquização dos serviços, por sua vez, diz respeito à possibilidade de organização das unidades segundo grau de complexidade tecnológica dos serviços, isto é, o estabelecimento de uma rede que articula as unidades mais simples às unidades mais complexas, através de um sistema de referência e contra referência de usuários e de informações. O processo de estabelecimento de redes hierarquizadas pode também implicar o estabelecimento de vínculos específicos entre unidades (de distintos graus de complexidade tecnológica) que prestam serviços de determinada natureza (TEIXEIRA, 2009). Para Matta (2007), os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos, com definição e conhecimento da população a ser atendida. A regionalização é um processo de articulação entre os serviços que já existem, visando o comando unificado dos mesmos. Já a hierarquização deve proceder à divisão de níveis de atenção e garantir formas de acesso a serviços que façam parte da complexidade requerida pelo caso, nos limites dos recursos disponíveis numa dada região. Assim, as responsabilidades do município na atenção básica à saúde definiram o processo de regionalização da assistência, fortalecendo a gestão do SUS, cabendo à gestão municipal a plena atenção básica e a gestão do sistema municipal. Ao Estado cabe a gestão do sistema estadual. Ao Ministério da Saúde, instância federal, cabe exercer a gestão do SUS nacionalmente, incentivar a gestão estadual a desenvolver os sistemas municipais coerentes com o SUS estadual, de 36 modo a harmonizar e integrar a gestão do SUS nacional, além da normalização e coordenação da gestão nacional do SUS. Ao município, cabe assumir responsabilidades pela totalidade dos serviços de saúde, o que pressupõe alta capacidade técnica e administrativa, sendo os recursos recebidos pela instância federal (BRASIL, 2010). Finalizando os Princípios Organizativos, toma-se a diretriz da Participação Social que propõe que a sociedade deve participar do SUS, através dos Conselhos e Conferências de Saúde, que visam formular estratégias, controlar e avaliar a execução da política na saúde pública brasileira. Esta diretriz está prevista no artigo 198, inciso III, da Constituição Brasileira: “[...] a participação da comunidade nas ações e serviços públicos de saúde, atuando na formulação e no controle da execução destes”. Os usuários participam da gestão do SUS através das Conferências da Saúde, que ocorrem a cada quatro anos em todos os níveis federativos - União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Portanto, estimular a participação popular na discussão das políticas públicas da saúde, confere maior legitimidade ao sistema e às ações implantadas, contribuindo para a qualificação dos serviços públicos no país (BRASIL, 2010). Trata-se, portanto, de incluir no leque de ações realizadas pelo SUS (ações de educação, comunicação e mobilização social) voltadas ao empoderamento dos sujeitos, de modo que possam vir a desenvolver práticas que resultem na promoção, proteção e defesa de suas condições de vida e saúde. Para além dos Conselhos e Conferências, inclusive, cabe refletir sobre um processo mais amplo de democratização do acesso à informação e conhecimentos na área de saúde, na perspectiva apontada pela Promoção da Saúde, ou seja, na perspectiva do empoderamento, do acúmulo de saber e de poder da população. Busca-se assim, dar voz aos usuários, empoderá-los como sujeitos ativos neste processo de participação social. Serviços de saúde que previnem a doença e/ou que curam/reabilitam devem ter como objetivo contribuir para o aumento da capacidade reflexiva e de intervenção dos diferentes sujeitos. Ao contribuir para a constituição de sujeitos saudáveis, conscientes de seus direitos, esses serviços aumentam a possibilidade de ações sociais que incidam positivamente sobre os múltiplos determinantes do processo saúde/doença. 37 Levando em consideração o objetivo deste estudo – analisar as percepções que os usuários de um Centro de Reabilitação possuem a respeito dos serviços fonoaudiológicos vinculado ao SUS - pode-se imprimir uma análise da importância dos preceitos do SUS neste contexto. Os Princípios da Universalidade, Equidade, Integralidade, Descentralização, assim como a Regionalização, Hierarquização e a Participação Social, são bases de um sistema que tem o propósito de gerar políticas públicas saudáveis, com a criação de ambientes físicos e sociais favoráveis à saúde. Estas ações podem se concretizar enquanto processos dirigidos à formulação e implementação de políticas públicas que proponham que a qualificação de serviços públicos, na visão dos usuários, deve contribuir para a melhoria da saúde destes pacientes, assim como auxiliar no desenvolvimento de uma prática mais humanizada e acolhedora. 2.2.1. Sistema Único de Saúde – Complementaridade da participação privada Este item será abordado devido às condições que o Centro de Reabilitação estudado se posiciona, sendo que faz parte de uma instituição privada de ensino (FAG) e é conveniado ao SUS. A Constituição Brasileira faz referência à participação privada no sistema público de saúde. A delimitação do caráter complementar de participação da iniciativa privada na prestação de serviços públicos de saúde implica a análise do conteúdo constitucional da complementaridade, a qual deve ter como referencial tanto o texto da Constituição, quanto as condições históricas, sociais e econômicas. A participação privada na prestação de serviços de saúde está prevista no artigo 197 e no artigo 199 (parágrafo primeiro) da Constituição Federal, conforme transcrição abaixo: Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. [...] Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. 1.o - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de 38 direito público ou convênio, tendo preferência às entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. A Constituição Federal oferece a possibilidade de modernização da administração pública, por meio da participação consensual e negociada da iniciativa privada, tanto na gestão de determinadas unidades de saúde quanto na prestação de atividades específicas de assistência à saúde. A flexibilidade, a possibilidade de negociação e a colaboração da iniciativa privada configuram importantes ferramentas da atuação administrativa pública na atualidade e têm sido adotadas com êxito no setor de saúde dos países em que a prestação de tais serviços é considerada universal/integral (DI PIETRO, 2005). A Portaria nº 1.034 da Constituição Federal (publicada em 5 de maio de 2010) é que dispõe exatamente sobre a participação complementar das instituições privadas (com ou sem fins lucrativos) de assistência à saúde no âmbito do SUS (BRASIL, 2010). Um adendo do Art. 8 dispõe sobre as condições que as instituições privadas devem seguir para a conveniência/contrato com o SUS: Art. 8º As instituições privadas de assistência à saúde contratadas ou conveniadas com o SUS devem atender às seguintes condições: I - manter registro atualizado no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES); II - submeter-se a avaliações sistemáticas, de acordo com o Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS); III - submeter-se à regulação instituída pelo gestor; IV - obrigar-se a apresentar, sempre que solicitado, relatórios de atividade que demonstrem, quantitativa e qualitativamente, o atendimento do objeto; V - atender as diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH); VI - submeter-se ao Controle Nacional de Auditoria (SNA), no âmbito do SUS, apresentando toda documentação necessária, desde que solicitado; VII - obrigar-se a entregar ao usuário ou ao seu responsável, no ato da saída do estabelecimento documento comprobatório informando que a assistência foi prestada pelo SUS, sem custos adicionais para o paciente; VIII - garantir o acesso dos conselhos de saúde aos serviços contratados no exercício do seu poder de fiscalização (BRASIL, 2010). A complementaridade então se refere à possibilidade de incentivo estatal à prestação privada de serviços de saúde, com a possibilidade de prestação de serviços públicos de saúde por particulares. A participação privada no sistema público de saúde brasileiro pode ocorrer, portanto, pela via da delegação de serviço público, e não meramente por meio de fomento estatal. (MÂNICA, 2010). Assim, a assistência prestada por meio da iniciativa privada deve complementar as atividades 39 de competência do SUS, as quais não podem ser integralmente executadas por terceiros. A Constituição Federal menciona a complementaridade da participação privada no setor de saúde, sendo que determina que a participação da iniciativa privada deva ser complementar ao SUS, incluídas todas as atividades voltadas à prevenção de doenças e à promoção, proteção e recuperação da saúde (MARQUES, 2003). Na Lei Orgânica da Saúde (no. 8.080/90) consta um texto do Poder Executivo no. 360/89 que relata: [...] na lógica do SUS, é estabelecida ainda uma nova forma de relacionamento com os subsetores filantrópico e privado, baseado em normas éticas e na existência de qualidade da prestação de serviços. Não se contrapõem, aqui, os subsetores público e privado, mas é definida uma clara regra de convivência, cuja essência é a garantia da disponibilidade de serviços, com as qualificações requeridas, para o franco acesso dos usuários. (Mensagem do Poder Executivo no. 360/89 in MANICA, 2010) A participação privada no SUS deve ocorrer por meio de mecanismos jurídicos que garantam ao sistema controle e fiscalização sobre o serviço e que garantam ao prestador privado segurança jurídica a sua prestação. A complementaridade da participação privada nos serviços de saúde conduz, ainda segundo Manica (2010), ao reconhecimento da possibilidade de delegação de serviços públicos de saúde a particulares, a ser instrumentalizada por meio de ajustes celebrados com a iniciativa privada, os quais podem ter como objeto: - um serviço ou um grupo de serviços internos relacionados à atividade de uma entidade ou órgão público prestador de serviços de saúde; - a prestação de serviços por uma unidade privada dotada de infraestrutura apta ao desenvolvimento das atividades ajustadas; - toda a gestão de uma unidade pública de saúde Em cada situação concreta, cumpre ao administrador público escolher a melhor opção para a prestação de serviços públicos de saúde a todos aqueles que dele necessitam, adotando, se for necessário, o modelo de ajuste mais adequado ao caso. O Centro de Reabilitação, que realizamos nosso estudo, está inserido na prestação de serviços por uma unidade privada dotada de infraestrutura apta ao desenvolvimento das atividades propostas pelo SUS. Sua estrutura e seus profissionais são mantidos financeiramente por iniciativa privada, porém dotado dos preceitos e diretrizes do SUS, mediante complementaridade. 40 2.3. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – HUMANIZAÇÃO E ACOLHIMENTO EM SAÚDE Independentemente de estarem vinculados à complementaridade da participação privada ou não, os serviços oferecidos pelo SUS devem seguir preceitos de humanização e acolhimento em saúde. Por humanização entende-se a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a participação coletiva no processo de gestão e a indissociabilidade entre atenção e gestão (BRASIL, 2010). Existem abordagens conceituais, manifestações ideológicas e construções teóricas que fazem da humanização um instigante campo de produção teórica e prática na área da Saúde, sendo a humanização compreendida, segundo Deslandes (2006), como: - princípio de conduta de base humanista e ética; - movimento contra a violência institucional na área da Saúde; - política pública para a atenção e gestão no SUS; - metodologia auxiliar para a gestão participativa; - tecnologia do cuidado na assistência à saúde; A humanização se fundamenta no respeito e valorização do sujeito, e constitui um processo que visa à transformação da cultura institucional, por meio da construção coletiva de compromissos éticos e de métodos para as ações de atenção à Saúde e de gestão dos serviços. Reconhece o campo das subjetividades como instância fundamental para a melhor compreensão dos problemas e para a busca de soluções compartilhadas. A participação, a autonomia, a responsabilidade e a atitude solidária são valores que caracterizam um modo de fazer saúde humanizada que resulta em mais qualidade e melhores condições de trabalho (DESLANDES, 2006). A Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão (PNH) foi uma iniciativa criada em 2003, que teve por objetivo qualificar práticas de gestão e de atenção em saúde. Esta tarefa visou corresponder à produção de novas atitudes por parte de profissionais da saúde, gestores e usuários, de nova concepção ética no 41 campo do trabalho, incluindo o campo da gestão e das práticas em saúde (BRASIL, 2010). Como política, a PNH é constituída por um conjunto de diretrizes que norteia toda atividade institucional que envolva usuários ou profissionais da Saúde, em qualquer instância de efetuação. Segundo Rios (2009), tais diretrizes apontam, como caminho, para: - a valorização da dimensão subjetiva e social nas práticas de atenção e gestão, fortalecendo compromissos e responsabilidade; - o fortalecimento do trabalho em equipe; - a utilização da informação, comunicação, educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos usuários; - a promoção do cuidado tanto pessoal quanto institucional. Nessa vertente, a humanização focaliza com especial atenção os processos de trabalho e os modelos de gestão e planejamento. O resultado esperado é a valorização dos sujeitos em todas as práticas de atenção, gestão, de compromisso e responsabilidade de todos com o bem comum. Como ferramenta de gestão, a humanização valoriza a qualidade do atendimento, preserva as dimensões biológicas, psicológicas e sociais dos usuários e enfatiza a comunicação e a integração dos profissionais. Visa então o respeito à vulnerabilidade humana e a crença de que a relação entre dois atores: o profissional e o paciente está sempre sujeita a emoções que devem ser guiadas pelo sentimento de compromisso e de amor ao próximo (RIOS, 2009). Por outro lado, a humanização enquanto política nacional tem problemas a serem superados, como as filas de espera por atendimento, a insensibilidade de profissionais de saúde frente ao sofrimento dos usuários do SUS, os tratamentos desrespeitosos, as práticas de gestão autoritária, a degradação nos ambientes e nas relações de trabalho. Estas condições desumanizada de processos de trabalho. precárias derivam da organização Ainda segundo a PNH, não basta humanizar. É necessário que a humanização, assim como o processo de produção de subjetividade a ela associado, seja orientada por princípios e diretrizes. Estas orientações tomam sentido no acolhimento, na democracia das relações, na valorização do profissional da saúde e na garantia dos direitos dos usuários. É nesta 42 articulação entre princípios, métodos e diretrizes que os processos de formação das políticas públicas têm sido proposta. As diretrizes dos processos de formação da PNH se assentam no princípio de que a formação é inseparável dos processos de mudanças, ou seja, que formar é, necessariamente, intervir; e intervir é um ato de mudança nas práticas de gestão e de cuidado, na direção da afirmação do SUS como política inclusiva, equitativa, democrática, solidária e capaz de promover e qualificar a vida do povo brasileiro (BRASIL, 2010). A construção e sustentação de sentimento de “pertencimento” ao grupo coletivo são imprescindíveis para a formação de compromisso e contratação de serviços, com os quais se busca ampliar a eficácia das práticas e, ao mesmo tempo, qualificar os espaços de trabalho, afirmando-o como importante lócus de realização profissional. Estas são as principais ofertas e os desafios dos processos de formação em humanização, segundo o Ministério da Saúde. Já o Acolhimento é um fator decisivo na reorganização e implementação da saúde na rede pública, pois tem o objetivo de melhorar o acesso dos usuários aos serviços, humanizar as relações entre usuários e profissionais de saúde. Com a integração e complementaridade das atividades exercidas pelas várias categorias profissionais, busca-se orientar o atendimento de qualidade, aumentar a responsabilidade profissional com os usuários do SUS, elevando o vínculo e a confiança entre eles para operacionalizarem um atendimento acolhedor (BRASIL, 2010). A implementação do acolhimento exige mudança de postura em todo o sistema de saúde a fim de receber bem os sujeitos, ouvir as suas demandas, buscar formas de compreendê-las e socializar-se com elas. Para acolher é preciso desenvolver formas de receber a população, de acordo com os diferentes modos como ela procura ajuda nos serviços de saúde, respeitando o momento existencial de cada um (ALMEIDA & FURTADO, 2006). O acolhimento é uma ação que pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e sua rede social através de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, reconhecendo o usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde. O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a atender o outro ouvindo seus pedidos e assumindo uma postura capaz de proporcionar respostas aos usuários. Implica 43 prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização, orientando, quando for o caso, o paciente e sua família em relação a outros serviços de saúde, estabelecendo articulações com esses serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos (BRASIL, 2004). Segundo a Secretaria Executiva do Núcleo Técnico do Ministério da Saúde (2004) em seu livro “Acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde”, o acolhimento implica no compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades e angústias. Colocar em ação o acolhimento como diretriz operacional, permite reconhecer e trabalhar em torno dos seguintes aspectos: - protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde; -reorganização do serviço de saúde a partir da reflexão e problematização dos processos de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada da escuta e resolução dos problemas do usuário; - elaboração de projeto terapêutico individual e coletivo por linhas de cuidado; - mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços democráticos de discussão/decisão, de escuta, trocas e decisões coletivas. - postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário, que inclua sua cultura, saberes e capacidade de avaliar riscos; - construção coletiva de propostas com a equipe local e com a rede de serviços e gerências centrais e distritais para melhorar as instituições SUS. Em função dessas diretrizes, o acolhimento deixa de ser uma ação pontual e isolada dos processos de produção de saúde e se multiplica em inúmeras outras ações que, partindo do complexo encontro do sujeito profissional de saúde e sujeito demandante, possibilita integrar a adequação da área física; a organização dos serviços de saúde; a governabilidade das equipes locais; a humanização das relações em serviço; o ato da escuta e a produção de vínculo; o compartilhamento do conhecimento para melhoria da qualidade das ações de saúde. Assim, o acolhimento propõe melhorar a lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde, partindo do princípio da universalidade. O 44 serviço de saúde tem função de acolher, escutar e resolver os problemas de saúde da população, possibilitando uma relação de confiança e apoio ao usuário. A relação entre o profissional e o usuário do SUS deve se dar por meio de parâmetros humanitários de solidariedade e cidadania, estando unidos, portanto, pelos mesmos interesses num serviço de saúde com qualidade, que oferece atenção integral e atendimento universal sob controle da comunidade (FRANCO et al, 2003). O Governo Federal lançou, em 2007, o projeto: Indicadores e Métricas para Avaliação de e-Serviços. Trata-se de um projeto cuja metodologia foi desenvolvida para avaliar a qualidade dos serviços públicos prestados por meio eletrônico de acordo com a conveniência do paciente. São indicadores e critérios que verificam a maturidade, comunicabilidade, confiabilidade, multiplicidade de acesso, disponibilidade, acessibilidade, facilidade de uso e nível de transparência do serviço prestado. A avaliação da qualidade do serviço prestado é um dos pontos a ser considerado quando se busca verificar as necessidades do usuário. A aplicação desses indicadores evidencia um conjunto de oportunidades de melhoria e qualificação dos serviços. Assim, a avaliação pode sinalizar, por exemplo, a necessidade de melhorar o nível de resposta no atendimento ou de simplificar a apresentação dos conteúdos segundo critérios de usabilidade, acessibilidade de conteúdo ao usuário final, bem como de uma maior transparência e capacidade de comunicação do usuário com a instituição publica (BRASIL, 2007). Destaca-se ainda que essa avaliação pode ser aplicada tanto para os serviços públicos prestados, quanto para aqueles que ainda estejam em processo de implementação. Em ambos os casos, os resultados podem apresentar oportunidades de aprimoramento dos serviços de acordo com as reais necessidades dos sujeitos atendidos. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, juntamente com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizaram, em 2010, uma pesquisa com um sistema de indicadores sociais para verificação de como a população avalia os serviços de utilidade pública e o grau de importância deles para a sociedade. O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), elaborado pelo IPEA, constitui-se de uma pesquisa domiciliar realizada junto às famílias brasileiras, com a finalidade de conhecer suas percepções sobre os serviços públicos oferecidos pelo governo. Os dados sobre a satisfação dos usuários 45 do Sistema Público de Saúde foram coletados no período de 3 a 19 de novembro de 2010, a partir de entrevistas realizadas com 2.773 sujeitos, em diversas regiões do país. Tais dados foram focados em: atendimento em centros e/ou postos de saúde, atendimento por membro da Equipe de Saúde da Família (ESF), atendimento por médico especialista, atendimento de urgência e emergência e distribuição gratuita de medicamentos; além da avaliação geral sobre o SUS. Os resultados mostraram que os brasileiros estão divididos com relação ao Sistema Único de Saúde, pois para 28,5% dos brasileiros os serviços do SUS foram avaliados como ruim/ muito ruim; 28,9% dos usuários consideraram-nos bom/muito bom; e os 42,6% restantes classificaram tais serviços como regulares. Para os serviços de assistência prestados pelo SUS, o aumento do número de médicos foi à melhoria percebida com maior frequência, seguida pela redução do tempo para marcar consultas ou para ser atendido. Esses dados sugerem que a população almeja um acesso melhorado, rápido e oportuno nos serviços públicos de saúde brasileiros. A avaliação dos serviços de saúde oferecidos pelo SUS, na perspectiva do usuário, foi estudada também pela DATAUNB (Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Universidade de Brasília). A pesquisa foi realizada em oito capitais e respectivas regiões metropolitanas: Belo Horizonte, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo e o campo da pesquisa foi constituído de seis unidades de saúde diferentes: - usuários do Programa de Saúde Família (PSF); - usuários atendidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS); - usuários de policlínicas especializadas; - usuários de policlínicas especializadas conveniadas; usuários de hospitais SUS; e - usuários de hospitais conveniados. As dimensões de análise definidas para a pesquisa foram o acesso e disponibilidade; a infraestrutura; o acolhimento; a relação usuário-profissional de saúde; a eficácia ou resolutividade; a territorialidade e descentralização; a informação e participação na gestão. Os dados apurados indicaram um alto nível de satisfação geral com o sistema de saúde público (CASTRO et al, 2008). Este resultado é também percebido por pesquisadores da UNESP que realizaram um estudo para avaliar a qualidade do serviço prestado pelo SUS aos pacientes de cirurgia cardíaca, identificando as expectativas e percepções desses pacientes. Os oitenta e dois pacientes submetidos à cirurgia de toracotomia médio46 esternal, apresentaram expectativa e percepção com resultados significantemente altos, sugerindo a qualidade dos serviços prestados pelo SUS como satisfatória (BORGES et al, 2010). O Ministério da Saúde, em 2011, lançou a “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde”, que traz informações sobre os direitos dos pacientes ao procurar um atendimento de saúde. Ela reúne princípios básicos de cidadania, que asseguram ao brasileiro o ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público ou privado. Os princípios da Carta indicam que todo sujeito tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde; tem direito a um tratamento adequado e efetivo; um atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação, que respeite seus valores. O cumprimento destes princípios por parte dos gestores em saúde, também, faz parte da Carta do Ministério da Saúde. Pensando em atendimento humanizado, um estudo foi realizado por um grupo de enfermeiras em Porto Alegre – RS, com o objetivo de caracterizar, a partir da opinião dos usuários, o acesso ao atendimento e a prestação do serviço oferecido no SUS quanto à forma como são acolhidos em unidades de saúde. Foram identificados positivamente o acolhimento, o desempenho profissional e o vínculo estabelecido entre o usuário e o serviço de saúde. Foram considerados fatores negativos: a espera prolongada e a necessidade de chegar muito cedo para garantir o atendimento (LIMA et al, 2007). Já Mitre et al (2012) também realizaram um estudo sobre o acolhimento apontando seus avanços e desafios na operacionalização e qualificação do Sistema Único de Saúde. Indicaram avanços na ampliação do acesso aos serviços e profissionais de saúde mais sensíveis às necessidades dos usuários. A ausência de articulação na rede pública, o excesso de demanda, o modelo biomédico hegemônico e a falta de capacitação dos profissionais foram colocados em questão para a melhora do acolhimento na operacionalização e qualificação do SUS. Assim, a análise da percepção dos pacientes sobre as práticas e serviços em saúde tem um importante papel no cenário brasileiro, diante da prática de avaliação dos serviços, por meio de questionamentos aos usuários e o fortalecimento da participação da comunidade nos processos de planejamento (GOUVEIA, 2009). Com relação às atividades de acolhimento e humanização, cabe destacar que o profissional fonoaudiólogo também integra a equipe do serviço público e é 47 responsável por esses atividades. Nesse processo, o diálogo e a criação de vínculo são componentes necessários no atendimento fonoaudiológico. O fonoaudiólogo deve exercer seu atendimento garantindo os meios necessários para a saúde fonoaudiológica. A dinâmica centrada no grupo e em suas relações linguísticas aumenta a possibilidade de vínculo, a responsabilização para com os pacientes, além de uma maior resolutividade do serviço (ALMEIDA & FURTADO, 2006). Esta temática será abordada a seguir. 48 2.4. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FONOAUDIOLOGIA Considerando a saúde integral como direito de todos e dever do Estado, a assistência fonoaudiológica, que inicialmente oferecia um atendimento clínico e individual, gradativamente foi inserindo-se nos serviços públicos de saúde. Nesse processo, a fonoaudiologia pautou-se nos principais fundamentos da Medicina Preventiva, a qual definiu a assistência como “a ciência e a arte de evitar doenças, prolongar a vida, promover a saúde física e mental com eficiência” (LEAVELL & CLARK, 1976, p. 7; in CASANOVA et al, 2010). Nessa perspectiva, as práticas fonoaudiológicas tinham como princípio primordial evitar a perda da saúde e a invalidez depois que o sujeito já foi afetado pela doença, além de protegê-lo de agentes patológicos. A incorporação do modelo da História Natural da Doença na fonoaudiologia evidenciou uma preocupação com os fatores etiológicos e as patologias fonoaudiológicas. Penteado & Servilha (2004) relataram, em seus estudos, que o modelo de Fonoaudiologia Preventiva foi fundamentado no modelo de Medicina Preventiva de Leavel e Clark (1976), o qual incorpora a noção de “História Natural das Doenças”, segundo os períodos de patogenia (pré-patogênico e período patogênico) e propõem a divisão da prevenção em três fases: prevenção primária, secundária e terciária, subdivididas em níveis, nas quais se aplicam medidas específicas, num enfoque voltado para sujeitos, grupos e populações de risco de adoecimento. Quanto à proteção da saúde, as ações eram dirigidas para o combate a determinadas afecções, segundo suas características e necessidades específicas. Embora focada na doença, a área da fonoaudiologia foi incorporando conceitos mais abrangentes. Aos poucos, os cursos de graduação em fonoaudiologia no Brasil passaram a incluir disciplinas relacionadas à prevenção de patologias. Contudo, ao conceber a saúde como proteção específica de determinadas doenças, o modelo da fonoaudiologia preventiva continuava tendo a doença como objeto de ação, concebendo as atuações mais amplas fora do campo de atuação do fonoaudiólogo (MASSON,1995 in CASANOVA et al, 2010).. A evolução do serviço de Fonoaudiologia no sistema público ocorreu nas décadas de 70 e 80, quando os fonoaudiólogos iniciaram suas atividades nas secretarias estaduais e/ou municipais de educação e nas secretarias de saúde. 49 Nesse período, somente as pessoas mais abastadas tinham acesso à saúde, sendo que o número de profissionais era restrito e os trabalhos fonoaudiológicos isolados, sem nenhum tipo de integração; fato que revelou falta de efetividade do trabalho fonoaudiólogo na comunidade em geral (MOREIRA & MOTA, 2009). Ainda segundo as autoras, os procedimentos eram voltados ao atendimento em consultório, provavelmente, devido à formação reabilitadora que o próprio profissional de fonoaudiologia recebia. Era difícil propor e organizar serviços direcionados às grandes populações, sendo que este se concentrava em ambulatórios de saúde mental e hospitais, mantendo-se uma proposta reabilitadora. Na segunda metade da década de 80, com a reorganização dos serviços de saúde propostos pela constituição federal, conquistas surgiram, como os concursos públicos para as Secretarias de Saúde, com a contratação de fonoaudiólogos. Desta forma, muitos profissionais foram lotados nos centros de saúde – porta de entrada do sistema público - iniciando a inserção da Fonoaudiologia na atenção primária à saúde (MOREIRA & MOTTA, 2009). Neste cenário de mudanças no sistema de saúde e nas instituições de ensino superior, a área da fonoaudiologia passou a refletir sobre a formação profissional e sua atuação no SUS, dialogando com outras áreas em busca de conhecimentos para referenciar suas ações. A inserção do fonoaudiólogo nos serviços de saúde pública levou os profissionais a rever seus conceitos e a aprofundar as discussões sobre sua atuação profissional (CASANOVA, 2010), buscando inserir práticas voltadas a Promoção de Saúde. Na busca por esta construção de uma prática voltada ao coletivo e à intervenção precoce, os fonoaudiólogos encontraram no modelo preventivista um referencial teórico que subsidiou as ações fonoaudiológicas. Este modelo - que têm como fio condutor a doença e sua progressão - propõem ações que envolvem etapas de trabalho em níveis de complexidade crescente, que promovam saúde quando não há doença; que protejam quando existe o risco de algum agravo à saúde e reabilite quando o sujeito estiver acometido pela doença. Realizando uma análise mais detalhada do modelo preventivista na Fonoaudiologia, Penteado & Servilha (2004) enfatizam que, mesmo representando um avanço para as práticas de saúde da época, tal modelo apresenta limites pouco abordados no campo da Fonoaudiologia, como o fato de não dar conta de 50 compreender o processo saúde-doença na complexidade da relação homem-vidasaúde. Ele não abarca as peculiaridades da comunicação e do sujeito comunicante e tende a negligenciar as particularidades dos processos subjetivos, sociais, históricos e culturais de cada contexto/comunidade. De qualquer forma, apesar das restrições, críticas e inadequações para o campo da Fonoaudiologia, a perspectiva preventivista ainda vem norteando a maioria dos profissionais fonoaudiólogos em suas práticas na saúde pública/coletiva. No final da década de 90, no Brasil, a Promoção da Saúde começou a ser referida tendo como base os conceitos propostos nas Cartas e Declarações das Conferências Internacionais, representando uma mudança de paradigma que desloca o eixo patologia/tratamento/controle/ prevenção de doenças para o eixo saúde/promoção da saúde (BRASIL, 2001). Nesse novo paradigma, a Promoção da Saúde se constitui como eixo norteador de toda e qualquer prática em saúde, nos diferentes contextos sociais (clínico, institucional e coletivos) trazendo assim ressignificações dos conceitos de saúde, doença e sujeito. A Promoção da Saúde requer do fonoaudiólogo o redimensionamento de seu papel e função, muito maiores do que aqueles previstos pelo modelo preventivista (TEIXEIRA, 2006). Nas Unidades Básicas de Saúde, um dos focos de ações de promoção da saúde relacionadas à Fonoaudiologia foi iniciado em 1994, com o Programa Saúde da Família (PSF), uma estratégia do Ministério da Saúde que contribuiu para a reorganização da atenção básica. Ele propõe uma compreensão ampliada do processo saúde-doença e a reflexão sobre o modelo de atenção à saúde segundo os princípios do SUS, embasando-se numa prática intersetorial e interdisciplinar, considerando o sujeito a partir de sua inserção na família e na comunidade (BRASIL, 2004). A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas pela Equipe de Saúde da Família (ESF), compõem parte do conjunto de prioridades políticas apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. A ESF supera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade. 51 A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, recuperação de agravos e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes de Saúde da Família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos como sendo da atenção básica. A estratégia é um projeto dinamizador do SUS, condicionada pela evolução histórica e organizativa do sistema público. A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS, buscando maior racionalidade na utilização dos níveis assistenciais, estabelecendo vínculo de compromisso e responsabilidade com a população, estimulando a organização das comunidades para exercer o controle social das ações e serviços de saúde, utilizando sistemas de informação para o monitoramento e a tomada de decisões, atuando de forma intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas com diferentes segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que transcendem a especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre as condições de vida e saúde dos sujeitos, famílias e comunidade (BRASIL, 2010). A ESF conta com o apoio de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, compostas por no mínimo um: I – médico generalista ou especialista em Saúde da Família; II- enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família; III- técnico ou auxiliar de enfermagem; IV- agentes comunitários da Saúde. Além destes, também podem estar inclusos profissionais da nutrição, fisioterapia e fonoaudiologia. Nesse programa, a atuação fonoaudiológica requer uma organização das rotinas de trabalho de modo a atender às necessidades coletivas e individuais. Cabe ao fonoaudiólogo inserido na ESF diagnosticar os problemas e detectar as alterações, desenvolver atividades de promoção e proteção à saúde em geral (aleitamento materno, saúde auditiva, vocal, entre outras), realizar visitas domiciliares, atuar em escolas e creches oferecendo assessoria e orientação, 52 organizar grupos visando ações de promoção de saúde (recém-nascidos, hipertensos, idosos, crianças), atender à demanda encaminhada para oficinas e terapias grupais discutindo os casos com a equipe. O fonoaudiólogo não pode ser considerado somente um especialista, pois em sua formação recebe conhecimentos globais, que incluem questões culturais, emocionais, físicas, ambientais e econômicas (LIPAY & ALMEIDA, 2007). O desafio é o de ampliar as fronteiras de atuação visando uma maior resolubilidade da atenção, onde a Saúde da Família seja compreendida como a estratégia principal para mudança do modelo de saúde, que deverá sempre se integrar ao contexto de reorganização do sistema de saúde. A política nacional de saúde que favoreceu a inserção do fonoaudiólogo no SUS, foi à criação dos Núcleos de Apoio em Saúde da Família/NASF, de acordo com a portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008. O NASF assegurou a inserção do fonoaudiólogo embasando sua atuação numa prática intersetorial e interdisciplinar, considerando o sujeito e sua família. Cáceres (2010) afirma que mudanças significativas ocorreram com a criação do NASF, conforme o quadro abaixo, facilitando a inserção dos serviços fonoaudiológicos no SUS: ANTES DA CRIAÇÃO DO NASF DEPOIS DA CRIAÇÃO DO NASF Atenção centrada na doença. Atenção centrada na saúde. Atua sobre a demanda espontânea. Responde à demanda de forma continuada e racional. Ênfase na medicina curativa. Ênfase na integralidade da assistência. Trata o indivíduo como objeto da ação. O indivíduo é sujeito, integrado a família, ao domicílio, à comunidade. Baixa capacidade de resolver problemas. Melhor capacidade de resolver problemas . Saber e poder centrado no profissional de saúde. Saber e poder centrados na equipe e comunidade. Desvinculado da comunidade. Vinculado à comunidade. Relação custo/benefício desvantajosa. Relação custo benefício otimizada. FONTE: CÁCERES (2010) Refletindo sobre este quadro e relacionando com as práticas fonoaudiológicas, os serviços públicos têm sido reavaliados com a intenção de oferecer maior qualidade no atendimento, preocupando-se com a distribuição dos 53 profissionais nos serviços públicos e privados, visando uma maior cobertura das demandas populacionais (BRASIL, 2004). A Fonoaudiologia assume assim um papel significativo na manutenção da saúde da população que atende (SOUZA, 2005). Os aspectos ligados à saúde fonoaudiológica são considerados significativos à saúde geral, sendo que as manifestações fonoaudiológicas patológicas abalam o desempenho do sujeito - a nível verbal, não verbal e interpessoal - gerando sofrimento e/ou isolamento social. Não causam dor física, não são mensuráveis por exames laboratoriais, nem são levados à cura por meio de ingestão de medicamentos, porém limitam a capacidade do sujeito criar, interagir e transformar o mundo, gerando impacto na sua socialização e comprometendo sua qualidade de vida (ANDRADE, 2000). Atualmente observam-se fonoaudiólogos atuando nos três níveis de atenção a saúde (SANTOS et al, 2010). Transferindo esses níveis para o contexto da Fonoaudiologia em termos gerais, pode-se citar como uma medida de atenção primária a orientação ao aleitamento materno; como uma medida em nível secundário, a avaliação e diagnóstico dos desvios fonológicos e como uma medida em nível terciário, o tratamento de um sujeito disfágico, por exemplo. Exemplificando estes níveis no contexto fonoaudiológico, Bassi (2009) cita que na atenção primária, o fonoaudiólogo visa eliminar ou inibir fatores responsáveis pela ocorrência e desenvolvimento de determinadas patologias, podendo ser incorporadas com estratégias de imunização, de saúde ocupacional, de educação nas escolas, de aconselhamento genético, de cuidados pré-natais, planejamento familiar e na qualidade de vida. Na atenção secundária, a ação diagnóstica e o tratamento é imediato, com o objetivo de amenizar o processo evolutivo da doença, a fim de evitar complicações e sequelas (invalidez, morte), como nos exames periódicos e nas pesquisas de triagem. Em se tratando da atenção terciária, Gonçalves (2005) relata que o principal objetivo é de recolocar o sujeito afetado em uma “posição útil na sociedade”, com a máxima utilização de sua capacidade, reintegrando esse sujeito na sociedade com ações de melhorias como, por exemplo, a inserção do paciente no mercado de trabalho. O princípio fundamental é que a responsabilidade com a saúde não cesse, 54 mas estenda-se durante toda a vida do sujeito, buscando continuamente a manutenção e ampliação da qualidade de vida dos sujeitos usuários do SUS. Os serviços fonoaudiológicos estão inseridos em diferentes ações e programas do SUS, vinculados à saúde da família, saúde infantil, saúde mental, saúde escolar e significativamente na Política Nacional de Saúde Auditiva (SANTOS et al, 2010). Segundo Lessa & Miranda (2005), o fonoaudiólogo também tem sido considerado necessário na alta complexidade vinculado ao atendimento de pacientes que apresentam sequelas provenientes das doenças cerebrovasculares, doenças isquêmicas do coração, neoplasias de cabeça e pescoço, traumatismos crânio encefálicos (TCE), queimaduras, afecções perinatais e anomalias congênitas. O Conselho Federal de Fonoaudiologia elaborou a publicação de uma cartilha: Contribuição da Fonoaudiologia para o avanço do SUS (2010), com o propósito de fornecer informações sobre a contribuição da Fonoaudiologia na consolidação das Políticas Públicas em Saúde e também para apresentar os principais campos de atuação do fonoaudiólogo nos diferentes níveis de atenção à saúde. Segue o quadro apresentado: ÁREAS DE ATUAÇÃO LINGUAGEM VOZ AUDIOLOGIA PRINCIPAIS AÇÕES Es tudo, pesquisa, promoção, prevenção, avaliação, diagnós ti co e tra ta mento de tra ns tornos da l i ngua gem ora l e es cri ta . Es tudo e pesquisa da voz, promoção da saúde vocal , a va l i a çã o e a perfeiçoamento da voz; assim como a prevenção, o diagnóstico e o tra ta mento das a lterações vocais querem s ejam na modalida de de voz fa l a da como voz ca nta da . Promoçã o, prevençã o, di a gnós ti co e rea bi l i ta çã o da funçã o a udi ti va e ves ti bul a r. SAÚDE COLETIVA Cons trução de estratégias de planejamento e gestão em saúde, no ca mpo fonoa udi ol ógi co, com vi s ta s a i ntervi r na s pol íti ca s públicas, bem como atuar na a tençã o à s a úde, na s es fera s de promoçã o, prevençã o, educa çã o e i ntervençã o, a pa rti r do di a gnós ti co de grupos popul a ci ona i s .” DISFAGIA Prevençã o, a val i a çã o, di a gnós ti co, ha bi l i ta çã o/ rea bi l i ta çã o funci ona l da degl uti çã o e gerenci a mento dos di s túrbi os de degl uti çã o. MOTRICIDADE OROFACIAL Es tudo, pes qui s a , prevençã o, a va l i a çã o, di a gnós ti co, des envolvimento, habilitação, a perfeiçoamento e reabilitação dos a s pectos estruturais e funcionais das regiões orofacia l e cervi ca l , s ucçã o, ma s ti ga çã o, degl uti çã o, res pi ra çã o e fa l a . Col a borar no proces s o de ens i no-a prendi za gem por mei o de progra mas educacionai s de a pri mora mento da s s i tua ções de 55 comuni ca çã o ora l e es cri ta , reduzi ndo os probl ema s de a prendi za gem. FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL FONTE: Conselho Federal de Fonoaudiologia. Áreas de atuação e demais inf ormações f oram extraídas das Resoluções 320/2006, 383 /2010 e 387/2010 do Conselho Federal de Fonoaudiologia (Publicação de cartilha em site do CFFa, acesso em janeiro de 2014). Para que o fonoaudiólogo esteja apto para atuar no serviço público, deve ter conhecimentos específicos sobre os temas que relacionam a fonoaudiologia ao SUS, sendo capaz de identificar alterações fonoaudiológicas na população assistida; elaborar e efetivar ações, buscando soluções cabíveis para as alterações encontradas; adotar medidas a fim de proporcionar um atendimento de qualidade aos usuários do SUS. Fernandes & Cintra (2010) dissertaram sobre os serviços fonoaudiológicos realizados numa Unidade de Saúde (SUS) em Juiz de Fora - MG, constatando que a inserção do fonoaudiólogo no serviço público está em constante crescimento, sendo significativo para a melhoria na qualificação dos serviços públicos. Com o intuito de se oferecer serviços fonoaudiológicos de qualidade e de acordo com os preceitos da saúde pública propostos na constituição federal, as práticas são reavaliadas constantemente. Paralelamente a esse processo, há também uma expansão da atuação fonoaudiológica no setor coletivo, a partir do qual o profissional busca novos caminhos, transformando o modelo de atendimento clínico-privado, pautado somente no individuo e em sua patologia, em um atendimento amplo que tenha como foco o sujeito inserido em um contexto históricocultural (CESAR & MAKSUD, 2007). Sobre os serviços públicos de saúde e o papel do fonoaudiólogo nesse processo, Almeida & Furtado (2006) discutem parte dos princípios estabelecidos pelo Ministério da Saúde em relação ao Sistema Único de Saúde, em Campinas SP, que inclui o acolhimento e a responsabilidade no atendimento ao usuário do serviço público de saúde. Argumentaram que o atendimento em saúde pública, pautado nos princípios de universalidade, integralidade e equidade, exige uma mudança na perspectiva tradicional, centrada no médico, em favor do reconhecimento do papel dos demais profissionais da saúde no atendimento qualificado à população, por meio da institucionalização da equipe multiprofissional de saúde. Segundo as autoras, como membro dessa equipe, o fonoaudiólogo tem formação e conhecimento suficientes para prestar um serviço que atenda as 56 necessidades do usuário, tratando-o como ser humano integral buscando uma relação de ajuda genuína. As atividades em saúde pública sejam elas de promoção, proteção ou recuperação, devem estar voltadas ao sujeito como um ser ativo e dinâmico neste processo, sendo que as propostas baseadas em promoção da saúde têm sido vinculadas ao processo de saúde, redirecionando as ações públicas (LOPES, 2011). Após apresentarmos as concepções, os níveis de atenção em saúde, a constituição, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde brasileiro, refletindo sobre a Fonoaudiologia no âmbito de tal sistema, apresentaremos no próximo capítulo o desenho metodológico que delineou o presente estudo. 57 3. MATERIAIS E MÉTODOS Esta é uma pesquisa transversal, de abordagem qualitativa e quantitativa, aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade Assis Gurgacz (COOPEX - FAG) em 26/06/2013, conforme o protocolo 158/2013 e aprovado na Plataforma Brasil CAAE 27408114.8.0000.0107, sob no 676.336, em 29/05/2014. O conhecimento do objetivo do estudo e procedimentos necessários para a realização da mesma foi apresentado aos pacientes por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice I), o qual foi assinado pelos sujeitos usuários do SUS ou pelos seus responsáveis. Este estudo será direcionado pelo método de análise de conteúdo que se constitui em um conjunto de técnicas utilizadas na análise de dados qualitativos. O método de análise de conteúdo foi sistematizado na primeira metade do século XX, constituindo-se como uma importante ferramenta na busca dos sentidos dos textos da imprensa escrita nos Estados Unidos. E, na atualidade, tal método é amplamente utilizado em pesquisas científicas no campo da saúde (CAMPOS, 2004). No universo das pesquisas qualitativas, a escolha de método e técnicas para a análise de dados, deve obrigatoriamente proporcionar um olhar multifacetado sobre a totalidade dos dados recolhidos no período de coleta (corpus), tal fato se deve, invariavelmente, à pluralidade de significados atribuídos ao produtor de tais dados, ou seja, seu caráter polissêmico numa abordagem naturalística. (CAMPOS, 2004, p. 611) O conteúdo de uma comunicação, não obstante a fala humana é tão rica e apresenta uma visão polissêmica e tão valiosa, que notadamente permite ao pesquisador qualitativo uma variedade de interpretações. Para Bardin (2011), a análise de conteúdo é considerada: [...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] destas mensagens. (BARDIN, 2011, p. 41) A autora acrescenta que todas as técnicas usadas na análise de conteúdo são baseadas na dedução, ou seja na inferência a qual pode se dar com indicadores quantitativos e qualitativos. Segundo Campos (2004), a técnica de análise de conteúdo refere-se ao estudo tanto dos conteúdos nas figuras de linguagem, reticências, entrelinhas, 58 quanto das “falas” propriamente dita. É importante citar que outras abordagens conceituais e de utilização do método, principalmente de inclusão de novas perspectivas nas pesquisas da área de saúde, tem sido verificadas também por Minayo (2010) e Turato (2003), respectivamente na abordagem dialética e clínicoqualitativa. Pode-se então dizer que o método de análise de conteúdo é balizado por dois eixos: Linguística tradicional Interpretação do sentido das palavras (hermenêutica). Se o caminho escolhido voltasse para o domínio da linguística tradicional, a análise de conteúdo abarcaria os métodos lógicos estéticos, onde se busca os aspectos formais típicos do autor ou texto. Nesse território, o estudo dos efeitos do sentido, da retórica (estilo formal), da língua e da palavra, invariavelmente evolui, na linguística moderna, para a “análise de discurso”. No outro lado, sob o eixo da hermenêutica, os métodos são basicamente semânticos e pesquisam as conotações que formam o campo semântico de uma imagem ou de um enunciado ( CAMPOS, 2004). Portanto, nosso estudo desenvolverá a análise pelo eixo da hermenêutica e tem como fundamental a produção de “inferências”. O ato de inferir significa a realização de uma operação lógica, pela qual se admite uma proposição em virtude de sua ligação com outras proposições já aceitas como verdadeiras (BARDIN, 2011). Produzir inferências sobre o texto objetivo é a razão da existência da análise de conteúdo; confere ao método relevância teórica, implicando uma comparação onde a informação puramente descritiva sobre o conteúdo é de pouco valor. Um dado sobre conteúdo de uma comunicação é sem valor até que seja vinculado a outro e esse vínculo é representado por alguma forma de teoria. Segundo este ponto de vista, produzir inferência, em análise de conteúdo significa produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem e principalmente embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus produtores, que é visualizada segundo um contexto histórico e social de sua produção e recepção (FRANCO, 2003; CAMPOS, 2004). 59 As fases da análise de conteúdo são: I) Fase de pré-exploração do material ou de leituras flutuantes do corpus das entrevistas. Nesta fase inicialmente ocorre a seleção do corpus a ser analisado e após procede-se a leitura flutuante de todo o material, com o intuito de organizar de forma não estruturada aspectos importantes para as próximas fases da análise (BARDIN, 2011). Na leitura flutuante toma-se contato com os documentos a serem analisados, conhece-se o contexto e deixa-se fluir impressões tentando apreender de uma forma global as ideias principais e os seus significados gerais ( CAMPOS, 2004). Segundo Bardin (2011), no caso de entrevistas, estas serão transcritas e a sua reunião constituirá o CORPUS da pesquisa. Para tanto, é preciso obedecer às regras de: a) exaustividade – deve-se esgotar a totalidade da comunicação; b) representatividade – a amostra deve representar o universo; c) homogeneidade – os dados devem referir-se ao mesmo tema, serem obtidos por técnicas iguais e colhidos por indivíduos semelhantes; d) pertinência – os documentos precisam adaptar-se ao conteúdo e objetivo da pesquisa; e) exclusividade – um elemento não deve ser classificado em mais de uma categoria. II) A seleção das unidades de análise (ou unidades de significados). A seleção das unidades de análise é uma das mais importantes decisões para o pesquisador.Frequentemente, as unidades de análises incluem palavras, sentenças, frases, parágrafos ou um texto completo de entrevistas, diários ou livros. A escolha dos recortes a serem utilizados será pela análise temática (temas), o que nos leva ao uso de sentenças, frases ou parágrafos como unidades de análise. O tema pode ser compreendido como uma escolha vislumbrada através dos objetivos da pesquisa e indícios levantados do seu contato com o material estudado e teorias embasadoras, classificando através de uma sequência de ordem psicológica, tendo 60 comprimento variável e podendo abranger ou aludir a vários outros temas (CAMPOS, 2004). Portanto, ainda segundo Campos (2004), as unidades de análise temáticas são recortes do texto, através de um processo dinâmico e indutivo de atenção, que pode ser apresentado em momentos com a mensagem explícita, em outros com as significações não aparentes. Para tal, são utilizados os objetivos do trabalho e teorias como primeiros norteadores, porém, não se pode na análise dissociar-se nem abster-se do uso de recursos mentais e intuitivos que muitas vezes transcendem as questões postuladas e são definitivamente necessários a uma análise deste porte. Pode-se dizer que a opção por essa ou aquela unidade temática é uma conjunção de interdependência entre os objetivos do estudo, as teorias explicativas adotadas pelo pesquisador e as próprias teorias pessoais intuitivas do pesquisador. III) O processo de categorização e subcategorização. Esta fase pode ser definida como uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e depois por reagrupamento segundo o gênero (BARDIN, 2011). É possível definir as categorias como grandes enunciados que abarcam um número variável de temas, os quais podem exprimir significados e elaborações capazes de atender aos objetivos de estudo, criando novos conhecimentos e proporcionando uma visão diferenciada sobre os temas propostos (CAMPOS, 2004). As categorias utilizadas podem ser apriorísticas ou não apriorísticas: Na apriorística, o pesquisador já possui (por experiência prévia ou interesses) categorias pré-definidas, geralmente de larga abrangência e que podem comportarse como sub-categorias que emergem do texto. No caso da escolha pela categorização não apriorística, essas emergem totalmente do contexto das respostas dos sujeitos da pesquisa, o que inicialmente exige do pesquisador um intenso ir e vir ao material analisado e teorias embasadoras, além de não perder de vista o atendimento aos objetivos da pesquisa. A verdade é que não existem fórmulas mágicas que possam orientar o pesquisador na categorização, e que nem é aconselhável o estabelecimento de 61 passos norteadores (FRANCO, 2003). Em geral, o pesquisador segue seu próprio caminho baseado nos seus conhecimentos teóricos, norteado pela sua competência, sensibilidade, intuição e experiência. Um ponto importante no momento do agrupamento das unidades de análise que constituirão categorias, é que o pesquisador poderá fazê-lo por frequenciamento (repetição de conteúdos comuns à maioria dos respondentes) ou por relevância implícita (tema importante que não se repete no relato de outros respondentes, mas que guarda em si, riqueza e relevância para o estudo) (CAMPOS, 2004). Para finalizar as explicações, convém reiterar que esta pesquisa fará uso análise de conteúdo frequencial, no eixo da interpretação dos sentidos das palavras (hermenêutica), com produção de inferências e com abrangência não apriorística. Para a legibilidade deste estudo, a metodologia será descrita da seguinte maneira: PRIMEIRA PARTE: situa-se o cenário da pesquisa, descrevendo o Centro de Reabilitação onde a pesquisa foi realizada a pesquisa. SEGUNDA PARTE: são definidos os participantes da pesquisa – usuários do SUS e /ou seus responsáveis e os critérios de inclusão e exclusão para incursão dos mesmos. TERCEIRA PARTE: são descritos o instrumento de coleta (questionário) e os procedimentos para a coleta e análise dos dados, em consonância com as discussões levantadas nos capítulos anteriores. 3.1. CENÁRIO DA PESQUISA A pesquisa realizou-se no Centro de Reabilitação Assis Gurgacz, um Centro vinculado à Faculdade Assis Gurgacz – FAG e situado na cidade de Cascavel – PR. A cidade de Cascavel conta com aproximadamente 303 mil habitantes, segundo o senso do IBGE (2012). Está localizada na região Oeste do Paraná, com economia baseada no agronegócio e cultura agroindustrial. O Centro de Reabilitação é de Alta Complexidade, prestando atendimento à comunidade da região Oeste e Sudoeste do Paraná, usuária do SUS. Foi implantado a partir da portaria do Ministério da Saúde (Gabinete do Ministro n° 818) de 05 de junho de 2001. Realiza cerca de 3.500 atendimentos por mês, contando com os setores de Fonoaudiologia, Nutrição, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia e Medicina. Dentre esse total, estão cerca de 2900 atendimentos 62 vinculados ao SUS e o restante dos 600 atendimentos são voltados a pacientes com convênios de saúde específicos e, também, a pacientes particulares. Os pacientes atendidos pelo SUS são encaminhados até o Centro de Reabilitação com a Guia de Referência preenchida por um médico da região Oeste/Sudoeste do Paraná. Os atendimentos são conveniados ao SUS, conforme proposto pela Constituição Brasileira, a qual faz referência à participação privada no sistema público de saúde, com caráter complementar na prestação de serviços públicos de saúde. O Centro de Reabilitação, no qual foi realizado o presente estudo, está inserido na prestação de serviços por uma unidade privada dotada de infraestrutura apta ao desenvolvimento das atividades propostas pelo SUS, seguindo seus preceitos e diretrizes. Vale ressaltar que a estrutura e os profissionais/atendentes do Centro são mantidos financeiramente pela iniciativa privada. O esquema abaixo ilustra o cenário da pesquisa (Fig. 1). O Centro de Reabilitação FAG realiza somente atendimentos pelo SUS. Existe, no mesmo espaço físico e utilizando a mesma estrutura de secretárias/recepcionistas, as Clínicas Integradas FAG, que é composta pela Clínica Escola (atendimentos realizados por estagiários) com atendimentos filantrópicos. RECEPÇÃO FIGURA 1 – Cenário da pesquisa 63 A missão do Centro, que se constitui como o cenário desta pesquisa, é servir à comunidade, gerando ações voltadas à proteção, reabilitação e inserção do sujeito que se encontra em situações de risco e/ou doença, promovendo desta forma seu desenvolvimento físico e/ou mental e a sua emancipação ativa no contexto social. Tem como finalidade o amparo e desenvolvimento dos seres humanos principalmente dos que não tem recursos financeiros - contemplando os interesses da comunidade. 3.2. DEFINIÇÃO DOS PARTICIPANTES O critério de inclusão dos participantes da pesquisa foram os sujeitos que realizaram algum atendimento fonoaudiológico em agosto de 2013, no Centro de Reabilitação – FAG, independentemente do setor fonoaudiológico em que tal atendimento fora incrementado (setor de audiologia ou setores de terapias fonoaudiológicas). No caso dos pacientes que eram menores de 16 anos, seus responsáveis foram convidados a participar do estudo. Durante o período da coleta de dados, a população atendida pelo setor de fonoaudiologia foi composta por 190 pacientes vinculados ao SUS. Contudo, foram excluídos do estudo sujeitos com patologias neurológicas e/ou psíquicas relacionadas à linguagem e pacientes que não quiseram ou não tinham condições de responder as questões específicas desta pesquisa. Dessa forma, a pesquisa contou com 111 participantes, sendo 17 pacientes e 94 responsávei s pelos pacientes menores de 16 anos, de ambos os sexos. Os encaminhamentos dos pacientes seguiram o fluxograma abaixo: 64 APAE - Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais CEACRI - Centro de Apoio a Criança CEONC- Centro de Oncologia Cascavel CRE - Centro Regional de Especialidades CISOP - Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná UOPECAN - União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer _________________________________________________________________________________ FIGURA 2- Fluxograma dos encaminhamentos para o Centro de Reabilitação. 3.3. MATERIAL Os participantes responderam a um questionário (Anexo1) contendo vinte e seis (26) questões abertas e quatorze (14) questões fechadas, contemplando os serviços em uma escala de qualificação que variou de 1 a 5. A qualificação um (01) correspondia a ruim, dois (02) era razoável, três (03) era bom, quatro (04) era ótimo e cinco (05) correspondia a excelente. 3.4. PROCEDIMENTOS PARA A COLETA E ANÁLISE DE DADOS Os sujeitos participantes da pesquisa foram encaminhados para uma sala do setor de atendimento clínico, com a finalidade de preencher o questionário relativo à sua percepção da atuação fonoaudiológica no Centro de Reabilitação, que está sendo avaliado. 65 A aplicação do instrumento foi realizada pela pesquisadora, juntamente com quatro alunos voluntários do curso de Graduação em Fonoaudiologia/FAG. Os questionários foram respondidos oralmente, sendo anotados por escrito pela pesquisadora e/ou acadêmicos e, também, por gravação de áudio, no caso de oito pacientes afásicos. Para a análise quantitativa dos dados foram utilizados os recursos de computação por meio do processamento no sistema Windows Excel® e Statistic Package for Social Sciences® versão 15.0, ambos em ambiente Windows XP. Também foram analisados a partir do programa GraphPad Prism 5.1 e na sequência foram confeccionados gráficos no mesmo programa. As tabelas foram testadas para verificar a sua normalidade, utilizando-se o teste estatístico D‟agostino e Person e aplicou-se os testes não paramétricos comparativos F e Qui-quadrado. Para a organização dos resultados utilizou-se de uma estatística descritiva com valores de frequência absoluta, relativa, gráficos e tabelas. As variáveis foram analisadas por meio da observação dos valores mínimos e máximos, do cálculo de médias, desvio-padrão e medianas. Para as variáveis qualitativas, foram consideradas as frequências absolutas e relativas e desenvolvida uma discussão a partir da Análise de Conteúdo, conforme já especificado no início do capítulo. As categorias temáticas relacionadas foram: 1) Avaliação Geral do Centro de Reabilitação; 2) Avaliação Específica dos Serviços Fonoaudiológicos. CATEGORIAS 1) AVALIAÇÃO GERAL CENTRO DE REABILITAÇÃO SUBCATEGORIAS Estrutura física; DO Equipe de secretárias/ recepcionistas Busca/Procura pelo atendimento fonoaudiológico; Fila de espera para os atendimentos fonoaudiológicos; Expectativas do usuário sobre o atendimento fonoaudiológico; 2) AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DOS Qualificação do trabalho fonoaudiológico; SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS Conduta/explicações fornecidas pelo profissional fonoaudiólogo aos usuários. 66 As descrições dos sujeitos da pesquisa – pacientes ou seus responsáveis - na análise qualitativa foram identificadas com a letra P (referindo paciente) e números de 01 a 111. Cabe ressaltar que a pesquisa qualitativa lida com a subjetividade, o que não significa que ela seja destituída de mensuração ou que não possa ser utilizada para explicar fenômenos sociais. Sua mensuração está relacionada com a busca dos significados que os sujeitos atribuem às suas experiências e à maneira como compreendem o mundo. 67 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Neste capítulo apresentaremos os resultados encontrados, assim como a análise quantitativa e qualitativa. Dividiremos em dois subtítulos: Perfil da Amostra e Categorias de Análise, organizadas a partir de uma perspectiva da Análise do Conteúdo. 4.1. PERFIL DA AMOSTRA Este estudo contou com 111 participantes, sendo que 60,4% (n=67) foram responsáveis por bebês de até 01 ano; 24,3% (n=27) foram os responsáveis dos usuários com idades de 01 a 16 anos e o percentual de 15,3% (n=17) foram pacientes com idade entre 17 e 86 anos. Quanto ao sexo dos sujeitos, 46,8% (n=52) dos entrevistados são do sexo feminino e 53,2% (n=59) masculino. Com relação à profissão, 47,7% (n=53) se declararam como sendo do lar e o segundo maior percentual, 11,7% (n=13) trabalham no ramo do comércio (comerciante). A maioria, 36,94% dos entrevistados possui 2º grau completo; e 42,34% residem com esposo (a) e um filho. O salário médio da população estudada é de dois a quatro salários mínimos para 52,25% dos entrevistados. Com relação aos encaminhamentos para o Centro, os maiores índices encontrados foram dos médicos, com 45,95%; e dos hospitais, com 40,54%. Quanto às queixas mais relatadas, os resultados foram 60,36% (n=67) relativo à queixas auditivas e 35,14% (n=39) relativas à linguagem oral. A linguagem escrita obteve 1,8% (n=2) das queixas, e a motricidade oral contou com 2,70% (n=3) das queixas. 4.2. CATEGORIAS DE ANÁLISE Para elucidar a análise dos dados, apresentamos os resultados numéricos na base quantitativa, assim como realizamos a análise qualitativa por dedução frequencial, conforme proposto pela Análise de Conteúdo, a fim de enumerar a ocorrência de um mesmo signo linguístico nos enunciados produzidos pelos sujeitos 68 da pesquisa, separando estes enunciados em categorias para melhor visualização e análise. As categorias relacionadas de forma não apriorística foram: I) Avaliação Geral do Centro de Reabilitação Estrutura física Equipe de Secretárias/ recepcionistas II) Avaliação Específica dos Serviços Fonoaudiológicos Busca/procura pelo atendimento fonoaudiológico; Fila de espera para os atendimentos fonoaudiológicos; Expectativas do usuário sobre o atendimento fonoaudiológico; Qualificação do trabalho fonoaudiológico; Conduta/explicações fornecidas pelo profissional fonoaudiólogo aos usuários. Para a análise de qualificação especificamente voltada aos serviços fonoaudiológicos, os dados coletados foram separados em função da busca pelos serviços oferecidos no Centro de Reabilitação – FAG. Dessa forma, a análise foi dividida a partir dos serviços fonoaudiológicos voltados ao teste da orelhinha (n=67) e demais serviços focados em terapias fonoaudiológicas (n=44). 4.2.1. Avaliação geral do Centro de Reabilitação Na Tabela 1 são apresentados os valores de frequência relativa e absoluta da Avaliação Geral da Estrutura Física e da Equipe de secretárias/recepcionistas do Centro. TABELA 1: VALORES DE FREQUÊNCIA RELATIVA E ABSOLUTA REFERENTES À AVALIAÇÃO DO CENTRO. AVALIAÇÃO GERAL DO CENTRO COMO VOCÊ AVALIA AS INSTALAÇÕES FÍSICAS? Ruim Razoável Bom Ótimo USUÁRIOS DO SUS % (n) 0.0% 0.0% 27.9% (31) 25.2% (28) 69 Excelente TOTAL COMO VOCÊ AVALIA O ATENDIMENTO DAS SECRETÁRIAS / RECEPCIONISTAS? Ruim Razoável Bom Ótimo Excelente TOTAL 46.8% (52) 100% (111) 1.8% (02) 0.0% 24.3% (27) 23.4% (26) 50.5% (56) 100% (111) Testagem com Qui-Quadrado não são significantes para p < 0,05. FONTE: A AUTORA Quanto às instalações físicas, os usuários do SUS qualificaram com alto índice de aprovação, classificando como bom, ótimo e excelente. Já com relação à equipe de secretárias, houve classificação ruim (1,8%), porém prevaleceu o índice de aprovação no atendimento da equipe de secretárias do respectivo Centro, sendo classificado como bom por 24,3%, ótimo e excelente totalizaram 73,9%. Quando questionamos o porquê da classificação ruim quanto ao atendimento realizado pelas recepcionistas/secretárias do Centro, detectada por 02 entrevistados (1,8%), eles mencionaram o “mau-humor” das mesmas em determinada situação. “Mau-humor” é uma avaliação subjetiva. Nem sempre estamos dispostos e sorridentes durante todo o dia de trabalho. Porém, o relato de “mau-humor”, vinculado pelos 02 entrevistados, diz respeito a respostas intempestivas e superficiais das secretárias sobre a marcação de novas consultas. Este tipo de atitude demonstra falta de paciência e condiz com desrespeito diante do usuário do SUS, gerando insatisfação dos mesmos. Cabe ressaltar que nosso estudo foi realizado em um Centro de Reabilitação público mantido por iniciativa privada, ou seja, a FAG é uma instituição privada que tem convênio com o SUS (Portaria no. 1034 – Ministério da Saúde), fato que pode ser diferencial nas avaliações dos usuários, gerando um alto índice na qualificação. O caráter da participação privada é complementar na prestação dos serviços públicos, implicando no conteúdo constitucional da complementaridade. Na lógica do sistema de saúde, os serviços contratados e conveniados são seguidores dos mesmos princípios e das mesmas diretrizes do setor público. Não estamos nos referindo a um novo serviço ou órgão público, mas de um conjunto de instituições do 70 setor privado contratado/ conveniado, que interagem com os princípios e diretrizes norteadoras do SUS. Para 40,22% dos usuários do Centro, o “Atendimento” é o ponto mais positivo, seguido de “Gratuidade com 18,18%. Assim, o investimento na estrutura física do Centro de Reabilitação não condiz com a maioria das estruturas físicas existentes no setor público de saúde, nem apresenta sujeira ou falta de materiais para os atendimentos. As salas amplas, arejadas, iluminadas e bem higienizadas geram uma avaliação positiva em torno da infraestrutura do Centro em questão. Essa avaliação pode ser encontrada nos depoimentos dos usuários que relatam a percepção de um setor público que “funciona”. Aqui não parece que estamos sendo atendido pelo SUS, é tudo limpo e não falta material(...) estou satisfeita (...) (depoimento de uma mãe (P43) sobre o atendimento de sua filha portadora de encefalopatia crônica e presente duas vezes por semana no Centro). A imagem positiva pontuada na higienização e na estrutura física do Centro demonstram a visão dos usuários do SUS, onde o atendimento da recepção, a limpeza adequada, os equipamentos modernos, a estrutura física e a gratuidade dos serviços foram as respostas descritas pelos usuários como sendo os pontos positivos do Centro. A maioria dos depoimentos foi positivo com relação à equipe de secretárias do Centro, conforme abaixo: [...] Semana passada não pude vir pro Centro (...) fiquei triste porque parece que faltava alguma coisa, sabe? Aqui é um lugar que me sinto bem, sou bem recebido.” (depoimento de um paciente (P2) em tratamento fonoaudiológico/ setor linguagem oral). Sentir-se bem e ser bem recebido são indícios de satisfação com o atendimento das secretárias, ser cordial com os usuários, mostrar-se disposta a ajudá-los, nos remete ao princípio do acolhimento do SUS, muito embora as secretárias não sejam profissionais de saúde, elas realizam um atendimento inicial primordial, pois os usuários ficam na recepção em companhia destas 71 secretárias/recepcionistas por um determinado tempo até serem atendidos pelos setores específicos. Um ponto positivo é o atendimento aqui da frente [...] sempre estão sorrindo pra gente. Depoimento (P104) paciente do setor de terapia/linguagem oral. O bom humor, o sorriso, a alegria são fatores cruciais em um ambiente de trabalho, ainda mais quando se trata de um Centro de Saúde onde os pacientes, muitas vezes, são carentes de atenção e cuidado, apresentando debilidades físicas e psíquicas. [...] eu nem acreditei quando cheguei aqui e vi tudo [...] organizado, não parece atendimento gratuito [...] até perguntei pra moça se eu ia precisar pagar alguma coisa pra meu filho ser atendido, mas ela disse que era tudo pelo SUS. (Mãe (P57) entrevistada que foi levar seu filho para o teste da orelhinha) O argumento “não parece atendimento gratuito” coloca em cena uma condição de que, pelo SUS – cujo atendimento é gratuito – poucas vezes se tem uma estrutura física e um atendimento de secretárias qualificado. Assim, quando usuários percebem um local bem apresentável e com atendimento gratuito, viabilizado pelo SUS, relatam que se surpreendem positivamente. Isto se explica, à medida que, por exemplo, a recepção do Centro conta com uma equipe de cinco recepcionistas/secretárias que fazem todo o atendimento inicial, preenchimento dos dados no sistema, lançamento dos horários online e direcionamento para os setores. As cadeiras são confortáveis, com televisão disponível e banheiros limpos. Este padrão de infraestrutura não pode ser comparado com uma UBS ou um Centro restrito ao SUS, pois a realidade encontrada no Centro que compõe o cenário da presente pesquisa nem sempre condiz com a encontrada em locais administrados pela gestão pública. A participação privada na prestação de serviços públicos de saúde está previsto no artigo 197 e 199 da Constituição Federal, conforme já explicitado em capítulo anterior, sendo que a assistência prestada por meio da iniciativa privada deve complementar as atividades de competência do SUS. 72 4.2.2. Avaliação específica dos serviços fonoaudiológicos Neste item será abordada a busca/procura pelo atendimento fonoaudiológico; a fila de espera; as expectativas do atendimento; a qualificação do trabalho fonoaudiológico na visão dos usuários e a conduta e/ou explicações fornecidas pelo profissional fonoaudiólogo. 4.2.2.1. Busca/ procura pelo atendimento fonoaudiológico Na Figura 3, observam-se os valores de frequência relativa de acordo com as questões que levaram os entrevistados a buscar o atendimento fonoaudiológico no Centro de Reabilitação. Observa-se que a maioria das queixas foram relativas à audição e à oralidade, sendo 60,36% (n=67) relativa à audição e 35,14% (n=39) relativas à linguagem oral. A linguagem escrita obteve 1,8% (n=2) das queixas, e a motricidade oral 2,70% (n=3) das queixas. FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO DO PERCENTUAL DAS FONOAUDIOLÓGICO. QUEIXAS/ MOTIVO DA BUSCA DE ATENDIMENTO LINGUAGEM ESCRITA LINGUAGEM ORAL MOTRICIDADE AUDIÇÃO 100 Valores em porcentagem % 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Valore s de fre quência re lativ a da v ariáv e l que ixa dos pacie nte s FONTE: A AUTORA Um fator que pode ter evidenciado estes achados, foi que desde 2010, mediante Lei Federal nº 12.303/2010, o Teste da Orelhinha passou a ser obrigatório no recém-nato em todo território nacional, fator que desencadeou uma maior procura para o atendimento no setor de audiologia do Centro. Os pacientes que falham no 73 teste da orelhinha nos hospitais públicos da região também realizam o reteste no Centro de Reabilitação-FAG/SUS. Outro fator significativo é que, na atualidade, não existem outros Centros de Atendimento na cidade de Cascavel que realizem estas testagens pelo SUS, fato que evidencia a procura pelo setor de audiologia do Centro estudado. O Teste da Orelhinha ou Triagem Auditiva Neonatal (TAN) é um exame importante para detectar se o recém-nascido tem problemas de audição. Uma vez confirmado o diagnóstico de perda auditiva o bebê é encaminhado para um programa de intervenção precoce que poderá compreender a orientação familiar, o uso de aparelhos de amplificação (AASI ou implante coclear) e a terapia fonoaudiológica. Com relação aos encaminhamentos dos usuários, os médicos e os hospitais da região foram os que mais realizaram encaminhamentos para o setor de Fonoaudiologia do Centro, somando 86,49% do total (Médicos: 45,95% e Hospitais: 40,54%). Também houve encaminhamentos da APAE com 2,7%, CEACRI (Centro de Apoio a Criança) com 2,7% e Posto de Saúde com 1,8%. Realizando um comparativo com a literatura, um estudo de Diniz & Bordin (2011) caracterizou a demanda encaminhada para um Serviço de Fonoaudiologia de um Centro de Atendimento público, indicando que de 243 atendimentos, houve um predomínio de encaminhamentos realizados por médicos (35,8%) e as queixas predominantes foram relativas à fala, com 67,8% do total. Assim, também ocorreu com relação às queixas em uma pesquisa de Costa e Souza (2009), objetivando verificar o perfil dos usuários e da demanda do serviço de fonoaudiologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), entrevistando 210 sujeitos usuários. Os resultados também indicaram que a maioria dos usuários foram encaminhados por médicos (49%) e a área predominante de queixas foi relativa à linguagem oral com 52,4%. A população encaminhada ao Serviço de Fonoaudiologia do Núcleo de Atenção Psicopedagógico Infanto-juvenil, em um estudo de César & Maksud (2007) também caracterizou que dos 161 encaminhamentos, 41% foram realizados por Médicos, e as queixas mais frequentes foram alterações de fala, com 46%. Estes resultados encontrados na literatura foram coincidentes com nosso estudo no que diz respeito aos encaminhamentos, porém diferem parcialmente do nosso estudo com relação às queixas. Em nosso estudo, o principal e mais 74 frequente motivo pela busca de serviços fonoaudiológicos está vinculado a questões auditivas (Teste da Orelhinha), seguidas por queixas relacionadas à linguagem oral. Para a avaliação específica dos serviços fonoaudiológicos, os dados foram separados em responsáveis por pacientes que realizaram teste da orelhinha (n=67) e demais pacientes e/ou seus responsáveis (n=44) que realizam terapias fonoaudiológicas no Centro de Reabilitação – FAG; isto porque existe uma diferença percentual quanto à qualificação dos serviços entre os pacientes que só realizaram exames auditivos dos demais pacientes que estão semanalmente em terapia na instituição. Estes últimos estão em contato frequente com o Centro, enquanto os usuários que realizaram exames auditivos fazem o procedimento audiológico e depois não têm mais contato com os serviços fonoaudiológicos na instituição em questão. Na Figura 4 são apresentados os valores de frequência absoluta referentes à qualificação geral dos serviços fonoaudiológicos prestados. Realizamos uma escala para a nomenclatura de avaliação composta de 01 a 05, sendo: 01 correspondente a Ruim, 02 correspondente a Razoável, 03 correspondente a Bom, 04 correspondente a Ótimo e 05 correspondente a Excelente. FIGURA 4: PERCENTUAL DE QUALIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS PRESTADOS PELO CENTRO DE REABILITAÇÃO FAG-SUS. EXCELENTE ÓTIMO BOM RAZOÁVEL 50 Número de pacientes (41) 40 30 20 (16) (12) (14) (15) (12) 10 (03) (01) 0 Usuários do teste da orelhinha Demais pacientes Fre quência re lativ a da v ariáv e l qualificação dos se rv iços fonoaudiológicos dos pacie nte s ate ndidos pe lo Ce ntro FONTE: A AUTORA Dos entrevistados que realizaram o teste da orelhinha, 61,19% (n= 41) classificam o serviço como excelente; 20,89 % (n=14) como bom; e 17,91 % (n=12) 75 como ótimo. Dos pacientes que realizam terapias no Centro, 36,36 % (n= 16) o classificam como excelente; 27,27 % (n=12) como ótimo; 34,09% (n=15) como bom; e 2,27% (n=1) como razoável. Não obtivemos qualificação ruim em nenhum dos dois grupos entrevistados. A justificativa no que se refere à qualificação foi pautada principalmente na eficiência do tratamento com 83,8% e no pouco tempo de espera (lista de espera) com 6,6%. O item avaliado como razoável é relativo ao usuário que mencionou “grosseria e mau humor” do profissional fonoaudiólogo durante os atendimentos. No entanto, os entrevistados que realizaram atendimento fonoaudiológico (exames ou tratamentos), foram unânimes (100%) quanto à indicação do Centro de Reabilitação para outros pacientes. A qualificação de serviços públicos em saúde firma-se na subjetividade, gerando dificuldade de estabelecer o que é “qualidade”, uma vez que os pacientes reagem diferentemente ao mesmo serviço. Cada paciente possui uma determinada percepção sobre a qualidade que pode implicar até mesmo no “estado de espírito” do paciente no momento da entrevista. Podemos também relatar que a qualificação dos serviços é avaliada pelos usuários através do interesse demonstrado pelo profissional na resolutividade das demandas. O bom atendimento baseado na escuta do usuário e o bom desempenho profissional propiciam o vínculo do binômio usuário-serviço de saúde. Esse vínculo otimiza o processo de assistência, proporcionando um serviço de qualidade. Dois relatos trouxeram à tona que a qualificação dos serviços fonoaudiológicos é muito mais do que um atendimento adequado, conforme abaixo: [...] eu tive derrame e... ainda tenho dificuldade pra falar bem... quando eu cheguei aqui, eu... nem conseguia é... falar nada. Hoje já to falando, olha aí... olha isso aqui, to até dando... é... como é o nome mesmo?... é entrevista, isso, né? [...]. (Relato (P01) sobre os atendimentos fonoaudiológicos.) Quando minha filha chegou aqui ela tinha 1 ano e 3 meses, não sentava, não falava e tinha dificuldades de engolir a comida. Agora ela está com 2 anos e 6 meses, já senta sozinha e está começando a andar. A fono ajudou na alimentação e agora faz 3 meses que o médico tirou a sonda e ela já está comendo pela boca... você acha que isto não é qualidade? Não posso reclamar de nada daqui. (Mãe (P44) entrevistada sobre a qualidade dos serviços fonoaudiológicos realizados com sua filha). 76 No depoimento de P01, percebe-se que a condição de melhora da demanda foi norteadora para sua avaliação dos serviços fonoaudiológicos. Quando o paciente afásico relata que chegou para o tratamento fonoaudiológico sem conseguir falar e após um período de atendimento já está conseguindo se comunicar oralmente, ele anuncia um movimento de satisfação com o serviço fonoaudiológico e uma avaliação qualificada quanto o atendimento, proporcionando melhora na qualidade de vida. Se o paciente não tivesse obtido resultado positivo em seu tratamento fonoaudiológico, o depoimento poderia ser de insatisfação com o atendimento realizado. O benefício pode ser considerado uma condição básica para a satisfação de um atendimento, sendo que os efeitos proporcionados pelo tratamento indicam que cada sujeito pode apresentar uma configuração de resultados particular às suas condições físicas, emocionais, sociais e culturais. No depoimento de P44, percebemos que a resolutividade da demanda também foi norteadora na qualificação dos serviços, ou seja, quando a mãe relata que sua filha já consegue usufruir com qualidade das atividades da vida diária – como se alimentar por via oral – ela registra a avaliação positiva dos serviços fonoaudiológicos. Estes depoimentos foram significativos para ilustrar que a qualificação do atendimento fonoaudiológico condiz com a melhora da qualidade de vida do usuário do SUS. Existem várias definições e formas de compreensão acerca da qualidade de vida. A maioria da população entende por qualidade de vida uma associação da satisfação de necessidades no campo familiar, saúde, social/ ambiental. Qualidade de vida é um conceito polissêmico, ou seja, que encerra vários significados e interpretações, dependendo de quem o elabora e qual dimensão esteja sendo valorizada para explicá-lo. Várias abordagens encerram um consenso que pode ser aplicado às várias definições: se queremos saúde e qualidade de vida adequada, devemos considerar um patamar mínimo, que diz respeito à satisfação de necessidades elementares como alimentação; acesso à saúde, ao lazer; habitação; trabalho e educação (BRASIL, 2000). E ao tratarmos de qualidade de vida e de qualidade de atendimentos fonoaudiológicos, podemos também relacionar a qualificação dos serviços com outro 77 fator que pode estar auxiliando esta percepção: a fila de espera para os atendimentos, conforme eixo discutido na sequência. 4.2.2.2. Fila de espera para os atendimentos fonoaudiológicos De acordo com a Figura 5, nota-se que dos pacientes que realizaram teste da orelhinha, 74,62% (n= 50) não ficaram em fila de espera, 22,38% (n=15) ficaram em fila por até 3 meses e 2,98% (n=2) ficaram por até 6 meses em espera. Este percentual de fila de espera de 3 a 6 meses é relativo à quebra do equipamento (EOA) no período que estava agendado a testagem auditiva. Portanto, estes pacientes foram remanejados para outra data, pois tiveram que esperar o aparelho ser consertado. Dos pacientes que realizam terapia fonoaudiológica, 40,9% (n=18) não ficaram em fila de espera, 31,81% (n= 14) ficaram em fila por até 3 meses e 13,63% (n=6) ficaram por até 6 meses em espera; 2,27% (n=1) ficaram na fila por até 9 meses; 4,54% (n=2) fila por mais de 9 meses e 6,81% (n=3) não lembram o tempo de espera. FIGURA 5: PERCENTUAL CLASSIFICATÓRIO PARA O TEMPO DE ESPERA NO SETOR DE FONOAUDIOLOGIA. SEM FILA FILA POR ATÉ 6 MESES FILA POR MAIS DE 9 MESES FILA POR ATÉ 3 MESES FILA POR ATÉ 9 MESES NÃO LEMBRA 60 (50) Número de pacientes 50 40 30 20 (18) (15) (14) 10 (06) (02) (01) (02) (03) 0 Usuários do teste da orelhinha Demais pacientes Frequência relativa da variável tempo de espera para atendimento dos serviços fonoaudiológicos oferecidos pelo Centro FONTE: A AUTORA 78 O índice baixo da fila de espera pode ser um dos fatores que contribuiu para que a qualificação dos serviços fonoaudiológicos fosse satisfatória, pois na literatura encontram-se alto índice de filas de espera para realização de exames e/ou consultas relacionados a serviços de saúde fonoaudiológicos. Nosso estudo mostrou um percentual alto de satisfação do usuário do SUS e concomitantemente um índice baixo de fila de espera para realizar os atendimentos fonoaudiológicos. Vejamos a transcrição abaixo: [...] eu consegui agendar em 2 semanas os exames pro meu prematuro...não fiquei em fila de espera, nem acreditei quando que eu já podia ir levar meu bebê, achei que era um trote. entrevistada sobre seu filho que realizou o teste da orelhinha pelo filho, que é me ligaram (Mãe (P34) SUS). O fato de a entrevistada P34 relatar que achava que era um “trote” nos faz refletir sobre como a visão dos usuários do SUS está estremecida em relação aos serviços públicos, gerando dúvidas quando este serviço apresenta uma rápida devolutiva. Talvez isto se deva a quantidade de profissionais disponíveis para a realização dos serviços fonoaudiológicos no Centro avaliado - quatro fonoaudiólogas, sendo uma contratada por 40 horas/ integral e as outras por 20 horas semanais - fator que evidencia a diminuição da fila de espera e o aumento de vagas dos serviços à comunidade, assim como, a melhora no atendimento. Não podemos esquecer que estamos analisando um Centro de atendimento público mantido por iniciativa privada - mediante complementaridade - fator diferencial com relação à fila de espera. O serviço de Fonoaudiologia do Centro de Reabilitação possibilitou a oferta de serviços para uma parcela da população que encontraria dificuldades financeiras para ter acesso a ações de saúde fonoaudiológica, contribuindo também para uma satisfação dos sujeitos usuários. Verificamos que 4,48% das respostas referenciaram a fila de espera. Foram considerados como unidades de registro os termos recorrentes que foram: “não fiquei em fila de espera”, “pouca fila de espera”, “não teve fila pra marcar”, mensagens que contribuíram para chegar a este tema. A fila como condição para obter atendimento de saúde apresenta-se como uma imagem destacada na 79 percepção do senso comum, quando se aborda a universalidade do acesso no âmbito do SUS. Coloca-se, portanto, como barreira a ser vencida (fila) para que o atendimento se concretize, na qual a espera (dimensão temporal), a demanda a ser resolvida (dimensão existencial) e a solução ou não do problema (dimensão resolutiva) se misturam na representação do próprio sistema público (PONTES et al 2009). Os entrevistados relatam a fila de espera como um ponto positivo do Centro estudado, pois a grande maioria não precisou ficar em fila para agendar seus atendimentos. Quando analisamos a literatura, percebemos que existe um diferencial referente aos serviços públicos e aos serviços vinculados ao SUS mediante convênio/complementaridade. A fila em uma UBS para realização de consultas/exames pode chegar a anos de espera, enquanto que em um serviço complementar/conveniado a situação é mais amena, chegando em média a 6 meses de fila de espera. Foi o que aconteceu em uma pesquisa, com objetivo de verificar o perfil dos usuários e da demanda do serviço de fonoaudiologia, verificou-se que 49,3% dos pacientes aguardaram por atendimento (fila) aproximadamente por seis meses (COSTA & SOUZA, 2009). Já, no município de Bauru - SP, um estudo que teve por objetivo analisar as percepções quanto à satisfação e expectativas dos usuários dos serviços fonoaudiológicos de um Centro de atendimento, constatou que os usuários estavam satisfeitos com o atendimento recebido, no entanto apresentaram queixas relativas à lentidão no atendimento (fila de espera) (ARAKAWA et al, 2011). Florencio et al (2013), visando avaliar a percepção dos usuários quanto à qualidade do atendimento de Saúde no Recife, entrevistaram 939 sujeitos. Os resultados evidenciaram que os usuários apresentam satisfação com o trabalho dos profissionais e grande insatisfação no tempo de espera (fila). Outro fator, que também foi referenciado nos depoimentos, é a gratuidade dos atendimentos. O relato abaixo é referente ao usuário que está há cinco meses em atendimento fonoaudiológico no Centro de Reabilitação: [...] acho aqui bom. [...] aqui atende bem, mas podia ser ainda melhor. Como é SUS e eu não pago nada, acho que está bom [...]. (usuário (P33) do setor de atendimento de linguagem oral/escrita). 80 O comentário “mas como é SUS e eu não pago nada, acho que está bom...” revela uma avaliação pautada na “gratuidade”, a partir da qual o usuário vincula uma avaliação positiva ao fato de não precisar pagar pelo serviço recebido, sendo que se fosse um atendimento particular/privado, este deveria ser melhor. Esta visão conformista pode estar refletindo a falta de empoderamento deste sujeito. O relato do P33 demonstra certa subordinação e apatia da sociedade civil frente ao Sistema Público. Se, por exemplo, o sujeito acima fosse protagonista, com verdadeira participação na esfera pública, talvez questionasse sobre o que não está bom, argumentaria e requereria um atendimento melhor. A falta de custeio dos serviços públicos contribui para a falta de valorização dos serviços por parte dos usuários, diminuindo o controle social sobre os serviços públicos de saúde, sendo que nem sempre o sujeito valoriza o que recebe sem ônus. Assim, sem necessidade de pagamento, os usuários parecem tornar-se menos exigentes com a qualidade dos serviços. A gratuidade foi considerada pelos usuários do Centro como um fator positivo dos atendimentos fonoaudiológicos. Em função da análise de conteúdo, pautada na frequência de ocorrência das categorias, foram consideradas como unidades de registro as palavras que contribuíram para a criação da análise, sendo os termos: “Gratuidade, Grátis e Não precisa pagar” com 18,18% de ocorrência nos discursos analisados. A gratuidade no SUS é garantida pela Constituição Federal e corresponde à ausência de custos para o usuário no momento da utilização do serviço, o que não implica que a população seja isenta de contribuir para o financiamento do Sistema através de impostos e taxas. No Brasil, associamos a gratuidade a um sistema financiado integralmente pelo governo, provendo todos os serviços de saúde, que é organizado através do Sistema Único de Saúde. É um modelo está sob responsabilidade do Estado, mesmo quando mantém relação, de forma complementar, com setor privado. 81 4.2.2.3. Expectativas do atendimento e qualificação do trabalho fonoaudiológico A avaliação específica dos serviços fonoaudiológicos foi pontuada nas expectativas do atendimento, na qualificação do trabalho fonoaudiológico e na conduta/explicações fornecidas pelo profissional fonoaudiólogo, segundo tabela abaixo: TABELA 2: VALORES DE FREQUÊNCIA RELATIVA DA AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS DO CENTRO DE REABILITAÇÃO. Usuários do Teste da Orelhinha Demais pacientes SUA EXPECTATIVA SOBRE O TRABALHO FOI ATENDIDA? Totalmente Parcialmente Não foi atendida 94.03% 4.48% 1.49% 95.5% 4.5% 0.0% COMO VOCÊ QUALIFICA O TRABALHO FONOAUDIOLÓGICO REALIZADO PELO CENTRO? Ruim Razoável Bom Ótimo Excelente 0.00% 0.00% 20.90% 17.91% 61.19% 0.00% 2.27% 34.09% 27.27% 36.36% COMO VOCÊ AVALIA A CONDUTA / EXPLICAÇOES DO FONOAUDIÓLOGO? Ruim Razoável Bom Ótimo Excelente 0.00% 0.00% 13.43% 14.93% 71.64% 0.00% 0.00% 22.73% 40.91% 36.36% AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS Teste F e Qui-Quadrado não são significantes para p < 0,05, comparando os sujeitos do teste de orelhinha e demais pacientes . FONTE: A AUTORA Os dados foram testados para verificar a sua normalidade, utilizando-se o teste estatístico D‟agostino e Person, observando-se homogeneidade na amostra. Aplicou-se, então, os testes não paramétricos comparativos F e Qui-Quadrado. Os dados não são significativos para p < 0,05, quando comparados os sujeitos com teste de orelhinha e demais pacientes nas situações de: expectativas do 82 atendimento, qualificação do trabalho fonoaudiológico, conduta e/ou explicações fornecidas pelo profissional. Percebe-se que a qualificação do trabalho foi considerada “Excelente” por 61,19% dos usuários do Teste da Orelhinha, enquanto apenas 36,36% dos demais pacientes (terapia linguagem oral/escrita e motricidade) analisaram assim este quesito. Também nota-se que o quesito conduta do fonoaudiólogo obteve diferença no percentual, pois para 71,64% dos usuários do Teste da Orelhinha, a conduta foi considerada “Excelente”, enquanto que 36,36% dos demais pacientes (de terapia linguagem oral/escrita e motricidade) a qualificam desta maneira. Os relatos de expectativa parcialmente e não atendidas no Teste da Orelhinha foram justificada pelos usuário pelo fato de não terem conseguido realizar os exames auditivos por completo. Ou seja, os responsáveis tiveram que remarcar a testagem – porque o bebê não dormiu, ou estava com cólica/chorando, gerando as respostas como expectativa parcialmente e não satisfeita quanto ao serviço fonoaudiológico prestado no Teste da Orelhinha. O relato de expectativa parcialmente satisfeita por 02 usuários que realizam terapias fonoaudiológicas foi justificado pelo fato de “estar em tratamento por muito tempo” e “não gostar de fazer exercícios de fono”. Os usuários do SUS que realizaram o Teste da Orelhinha avaliam o Centro de Reabilitação de uma maneira superficial e rápida, pois realizaram os exames audiológicos e não retornaram mais para o Centro; enquanto os demais pacientes de terapia fonoaudiológica (linguagem oral/escrita, motricidade), permanecem em tratamento por mais tempo e avaliam os serviços de uma maneira mais detalhada do que os pacientes que realizam exames eventuais. Esta visão continuada, no processo de tratamento fonoaudiológico, expõe parâmetros não percebidos pelos usuários que frequentaram o Centro somente para realização de exames auditivos. Para adensar esta discussão, os relatos abaixo podem nos ajudar a compreender a análise dos usuários quanto a conduta/explicações do fonoaudiólogo nos atendimentos: 83 [...] a fono explica mais ou menos os exercícios que vamos fazer, às vezes tenho dúvida. (paciente (P66) do setor de motricidade orofacial em tratamento fonoaudiológico). [...] a fono explicou bem sobre o exame, mostrou que não ia doer o ouvido do meu bebê [...] e disse que posso ficar tranquila que ele está ouvindo bem... Fiquei feliz. (paciente (P67) do setor de audiologia para realização de exames, pela primeira vez no Centro de Reabilitação - FAG). Com esses diferentes relatos, é possível verificar que a utilização constante de um serviço de saúde pode gerar uma análise mais apurada sobre os processos de avaliação dos atendimentos. Isto se reflete no percentual diferencial dos pacientes entrevistados. A partir dessa diferença, é possível inferir que o uso contínuo dos serviços tem produzido rebaixamento na avaliação da qualidade do atendimento, assim como as explicações dadas pelo fonoaudiólogo foram consideradas menos eficientes pelos pacientes que realizam tratamento fonoaudiológico semanal. A maioria dos usuários do SUS que foram entrevistados em nossa pesquisa respondeu ao questionário de maneira sucinta. Quando perguntamos por que o serviço fonoaudiológico merecia determinada nota (01 a 05), a resposta mais apontada foi “porque sim”. Tal resposta também coloca em questão a falta de empoderamento por parte dos sujeitos da pesquisa, pois, por meio do empoderamento, conforme discutido no capítulo anterior desta dissertação, é possível que sujeitos e coletivos realizem suas próprias análises em torno dos serviços públicos de saúde, desenvolvendo a consciência crítica e a capacidade de intervenção sobre a realidade de tais serviços. Em função da Análise de Conteúdo, pautada na dedução frequencial, foram consideradas como unidades de registro as palavras que contribuíram para a elaboração, sendo a resposta: “porque sim” com ocorrência de 52% dos discursos analisados. Essa resposta parece característica de sujeitos alheios a práticas discursivas argumentativas, sugerindo uma tomada de posição que evita análises críticas. Dentro da lógica do empoderamento - de tornar os usuários do SUS dotados de autonomia para fortalecer o sistema público - a participação social dos sujeitos torna-se eficaz e garante melhor qualidade na execução de políticas públicas, além da busca pela efetividade da gestão participativa. Porém, percebe-se que parcela 84 significativa dos usuários do SUS, participantes desta pesquisa, apoiam suas respostas quanto à qualificação dos serviços sem assumir postura crítica capaz de justificar as notas da qualificação apontadas. Nesse sentido, convém mencionar que, ou os atores participantes usuários do SUS são sujeitos com pouca representatividade social, ou carecem de um trabalho que mostre seus direitos e deveres, garantindo o seu protagonismo. Para acompanharmos avanços nas relações profissional de saúde/paciente e mudanças sociais significativas em direção a projetos que contemplem a qualidade dos atendimentos do SUS, existe a necessidade de ações públicas que intensifiquem a participação social. Empoderamento, neste contexto, pode ser considerado como um processo que conduz à legitimação e dá voz a grupos marginalizados, removendo barreiras que limitam a produção de uma vida saudável para distintos grupos sociais. Indica processos que procuram promover a participação social visando à integração dos excluídos e carentes de bens elementares à sobrevivência (saúde), gerando o aumento do controle sobre a vida por parte de sujeitos e comunidades, à eficácia política com maior justiça social e a melhoria da qualidade de vida (GOHN, 2004). A construção e consolidação de um modelo mais participativo na saúde dependem do fortalecimento da educação social e política dos sujeitos, que precisa conhecer seus direitos, reconhecer o seu potencial como agente de mudanças da realidade e sua importância na organização para que as necessidades coletivas sejam, de fato, compreendidas, atendidas e resolvidas. Este movimento, que intensifica a ampliação da consciência política dos sujeitos e que mobiliza as comunidades em prol de esclarecer e defender suas soluções para o sistema público de saúde entra em atrito, segundo Baracho (2013), com a estrutura política instalada e vivenciada no Brasil, desde seus primórdios. A organização social da saúde vai de encontro aos modelos de gestão e de educação que compõem a realidade brasileira, onde as pessoas são levadas a não se envolverem nestes debates. Assim, da mesma forma que o envolvimento social está diretamente relacionado com a instrução e a conscientização política e social, o não envolvimento reflete o sucesso dos atuais modelos de alienação social da população. 85 O reconhecimento de uma diversidade cultural parece-nos uma forma de neutralizar as impossibilidades de uma cidadania universal e voltada ao protagonismo social. Percebemos também, sujeitos conscientes de seu papel na sociedade e com argumentação diante do sistema o qual faz parte, segundo relatos abaixo: [...] O tempo de atendimento devia ser maior. Depoimento (P12), paciente do setor de linguagem. [...] acho que o tempo da fono é muito pouco, devia ser mais tempo. Depoimento (P3), paciente do setor de linguagem. [...] o ponto negativo é o pouco tempo de atendimento fonoaudiológico no Centro. [...] sei que ali do lado os atendimentos tem mais tempo e aqui é tudo rápido. Depoimento (P8) paciente do setor de linguagem. Estes depoimentos refletem uma posição crítica dos usuários. O questionamento referente ao tempo de atendimento dos profissionais do Centro que é de 20 minutos, enquanto nas Clínicas FAG (Clinica Escola no corredor ao lado), os atendimentos são de 50 minutos - demonstra um fortalecimento na prática questionadora do sujeito que busca melhorar seu tempo de sessão. Sujeito empoderado é sinônimo de uma pessoa questionadora, independente e autoconfiante, capaz de comportar-se, agir, influenciar o seu meio e atuar de acordo com princípios de justiça e de equilíbrio. Esta ideia de que a ação, a interlocução e a atitude dos sujeitos ocupa lugar central no processo de produção da saúde, diz respeito ao papel de sujeitos autônomos, protagonistas e implicados nos acontecimentos de sua própria saúde. Portanto, é necessário promover o protagonismo dos usuários do SUS através de ações que desencadeiem o empoderamento dos sujeitos. É através do protagonismo que os usuários podem assumir-se como agentes de transformação social, por meio do acompanhamento e fiscalização das políticas púbicas, assim como, argumentarem diante das situações da saúde pública. Aqui convém uma discussão que é de ordem constitutiva, de base, e que tem como efeito os seguintes questionamentos: como conseguir atender com qualidade e resolutividade em um tempo tão curto? Será possível trabalhar na criação de ofertas que não tomem as agendas dos serviços de saúde pelo viés da produtividade, sendo a saúde entendida em seu sentido mercadológico? 86 Ao analisarmos pelo viés da implicação de gestores e trabalhadores, na tentativa de produzir ofertas dentro de um contexto socioeconômico, e não estritamente de ordem sanitária, teríamos um trabalho pautado na qualidade dos serviços. Essa construção de ofertas que se desloca das medidas exclusivamente curativas e reabilitadoras, é percebida como um canal de exercício do protagonismo tanto de gestores e equipes, como de usuários, sendo possível visualizar o modo como os usuários estão implicados com as condições de cuidado que, deste modo, passam a ser pensadas por todos os envolvidos na qualificação da saúde e não mais se concretizam apenas como uma oferta do Estado. Essa passagem da oferta à construção coletiva é por si mesma vista como um modo de Promoção da Saúde. É um meio de fazer a difícil inclusão dos usuários nas discussões e na implementação de ofertas e programas em saúde. A abordagem da Promoção de Saúde reconhece que a assistência à saúde têm um papel significativo na determinação do processo saúde-doença, sugerindo a reorientação dos serviços e sistemas de saúde visando à implementação de práticas integrais e o fortalecimento de ações. Considera ser necessária uma mudança de atitude dos profissionais a serem alcançada através de processos educativos e novos formatos organizacionais. Preconiza que os serviços devem estar orientados para a necessidade dos sujeitos como um todo, devendo se organizar respeitando as diferenças culturais e sociais. Propõe ainda que este reordenamento se realize a partir do compartilhamento de responsabilidades e da parceria entre usuários, profissionais, instituições prestadoras de serviços e comunidade. O desafio é construirmos um compromisso ético entre os usuários do SUS e fonoaudiólogos, promovendo a responsabilidade de cada de um e incentivando a construção de um sistema público de qualidade. Percebe-se que a relação entre usuários do SUS e profissionais fonoaudiólogos necessitam de iniciativas que não devem ser direcionadas somente para o enfrentamento de comportamentos individuais considerados inadequados, mas também na realização de ações, nas instituições públicas, com oferta de estratégias de capacitação coletiva, como, por exemplo, a capacitação do profissional atuante no SUS. É necessário que profissionais que atuam no SUS, inclusive fonoaudiólogos, superem a prática tradicional centrada somente na dimensão biológica, de modo que ampliem a escuta e recoloquem a perspectiva humana na 87 interação entre profissionais de saúde e usuários do SUS, como forma de melhorar a qualificação dos serviços públicos prestados. Faz-se necessário a aquisição constante de conhecimento técnico-científico e a substituição da visão curativa pela visão de promoção de saúde para que o fonoaudiológico produza impactos positivos na qualidade de vida dos sujeitos a quem presta atendimento Nesse sentido, as práticas que orientam os profissionais devem, cada vez mais, pautar-se no protagonismo dos sujeitos atendidos, os quais são determinantes no processo de tomadas de decisões clínicas. Ressalta-se, também, a necessidade de mudanças no planejamento e/ou organização dos setores públicos em geral, de modo que facilite o acesso e fortaleça a relação equipe/usuário do SUS para concretizar um cuidado integralizado e de qualidade. É determinante um referencial assentado no compromisso ético com a vida e com a Promoção da Saúde. Para repensar na integralidade do cuidado a saúde, há que se aprofundar o debate sobre os fundamentos teóricos, particularmente sobre a natureza do processo público, especialmente na organização da assistência à saúde. Assim, a construção de ações diferenciadas na produção da saúde voltadas à produção do cuidado, estabelece serviços de saúde centrados nos usuários e em suas necessidades. Torna-se fundamental disseminar as informações e incentivar as ações propostas pelo próprio SUS, bem como utilizar os meios de comunicação como estratégia de mobilização e engajamento da comunidade, buscando incentivar iniciativas voltadas para divulgação e sensibilização da comunidade. É importante a formação de redes sociais e o empoderamento da comunidade, bem como a sua responsabilização e participação na definição das ações a serem desenvolvidas (MALTA, 2010). Estas atitudes - voltadas à Promoção - trazem para as relações sociais estratégias que contribuem para a dignificação da vida e implica no compromisso coletivo de envolver-se com o outro, potencializando protagonismos nos diferentes sujeitos. Não se trata aqui de dar respostas a um questionamento, mas colaborar para a regulamentação do controle social; não temos a intenção de fechar nenhuma questão, mas de contribuir para o desenvolvimento de reflexões sobre modelo de 88 gestão/atenção, a partir da qual as instituições sejam viabilizadoras da Promoção da Saúde. Destacamos também as opiniões - cujo eixo central é o atendimento- com a avaliação da qualidade e da assistência à saúde, tendo como uma de suas implicações a utilização de pesquisas de satisfação do usuário, ou seja, da visão ou da experiência dos usuários nos serviços de saúde pública. A estruturação de uma postura de profissionais pautada no modelo biomédico estabelece um atendimento impessoal ao usuário. O modelo comumente praticado na saúde pública em geral consiste em uma prática fragmentada, centrada em produção de atos, predominando a desumanização e falhas no acolhimento entre as queixas dos usuários. Devemos executar ações que levem a satisfação dos pacientes com a qualidade do serviço recebido, assim como planejar estratégias de intervenção com efetividade nos serviços de saúde, para desta forma melhorar a qualidade do serviço público fonoaudiológico no SUS. Vale ressaltar aqui algumas pesquisas realizadas sobre esta temática. A satisfação com o atendimento recebido foi um item significativo nas entrevistas realizadas em nosso estudo, coincidindo com uma pesquisa realizada para descrever as percepções dos usuários do Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital São Paulo, onde os frequentadores estavam satisfeitos com o atendi mento recebido, tanto em relação à sala de espera quanto ao atendimento fonoaudiológico profissional (ANDRADE et al, 2005). Barcelos & Carrara-de-Angelis (2008) também avaliaram a qualidade do atendimento fonoaudiológico de pacientes em tratamento de câncer de cabeça e pescoço sob diferentes parâmetros, desde a satisfação do paciente quanto ao atendimento e ao sucesso do tratamento. Sob a perspectiva do paciente, os dados encontrados indicaram ótima qualidade de atendimento, análises que se justificaram pela boa evolução e pela satisfação do paciente quanto ao atendimento fonoaudiológico. Outras pesquisas também mostraram a importância do conhecimento da satisfação/insatisfação na perspectiva do usuário, identificando que há relação direta entre usuários mais satisfeitos com a maior adesão ao tratamento, maior fornecimento de informações para o provedor dos serviços e maior continuidade da utilização dos serviços de saúde (WARE et al., 1983; WEISS, 1988; ZASTOWNY et 89 al., 1989; AHARONY & STRASSER, 1993; BERNHART et al., 1999; BARON-EPEL et al., 2001; JOHANSSON et al., 2002: in GOUVEIA et al 2009). Uma indagação aqui se faz presente: porque os atendimentos fonoaudiológicos no Centro, que constitui o cenário desta pesquisa, foram avaliados de forma tão positiva? Que medidas têm sido tomadas no Centro para incentivar o processo qualitativo na assistência pública em saúde? Pois bem, quanto às ações realizadas no Centro, deve-se argumentar que mesmo este sendo um espaço voltado à reabilitação, realizam-se ações buscando, cada vez mais a Promoção de Saúde. Bimestralmente são realizadas reuniões com todos os setores no intuito de discutir sobre o processo de atendimento e funcionamento do Centro. As reuniões são financiadas pelo Centro, ou seja, os profissionais recebem as horas trabalhadas referentes ao horário das reuniões. O problema é que a existência de normas nem sempre significa que elas serão aplicadas adequadamente, portanto métodos de esforços conjunto da mantenedora e profissionais envolvidos são fundamentais. Também são realizadas ações de educação sanitária; padrão nutricional ajustado às várias fases da vida; atenção ao desenvolvimento da personalidade; atividades de recreação; aconselhamento, educação sexual; e exames periódicos, sendo que as mudanças de estilo de vida ou comportamentos dos usuários relativos à alimentação, exercícios físicos, fumo, drogas, conduta sexual são reafirmadas nas estratégias de Promoção da Saúde propostas pela Constituição. Além disso, a Promoção da Saúde é um processo de capacitação conjunto com a comunidade, atuando na melhoria da qualidade de vida e saúde - incluindo uma maior participação dos usuários do SUS. Anualmente também é realizada uma reunião comemorativa, onde são distribuídos orientações, atividades de recreação acessível para as crianças, alimentos saudáveis e muita diversão, onde os profissionais da saúde interagem fora dos setores clínicos, sem jalecos ou roupas brancas, gerando um ambiente agradável a saúde comunitária. Nesta reunião, os pacientes também tem a oportunidade de se colocar e discutir/argumentar sobre seus atendimentos, ou de forma anônima – “caixa de recados” – ou pessoalmente com os gestores e/ou profissionais. 90 Dentre as estratégias priorizadas pela Promoção à Saúde, merecem destaque a constituição de políticas públicas saudáveis, a criação de ambientes sustentáveis, a reorientação dos serviços de saúde, o desenvolvimento da capacidade dos sujeitos e o fortalecimento de ações comunitárias. Subsidiando estas estratégias, encontram-se princípios que afirmam a importância de se atuar nos determinantes e causas da saúde, da participação social e da necessidade de elaboração de alternativas às práticas educativas que se restringem à intervenção sobre os hábitos e estilos de vida individuais. Limitações de tempo, aspectos organizativos dos atendimentos, dificuldade na capacidade de orientação, desconhecimento das ações que se deveria executar, são problemas que atrapalham a qualidade do trabalho da Promoção da Saúde. A introdução destas atividades em toda a prática clínica é ainda um desafio. Estas questões são analisadas por Stachenko (1998 in CZERESNIA, 2003), ressaltando que existe a necessidade de investimento financeiro para melhorar as práticas de Promoção de Saúde. Ele reconhece que é uma relação mútua entre distintos enfoques e a colaboração entre múltiplos participantes dos setores público e privado é que irão mudar o comportamento e as ações públicas em geral. O fortalecimento do envolvimento popular nas questões políticas e sociais está diretamente relacionado às ações que atinjam a consciência do sujeito enquanto parte de uma sociedade e que acentuem seu papel como agente transformador da realidade coletiva. O conhecimento do direito civil e do dever governamental relativo à saúde faz parte de um processo indispensável para a qualificação dos serviços públicos. Os reflexos gerados pelo incentivo de um modelo de sociedade com maior participação popular recaem não apenas na saúde coletiva, mas também na construção de uma sociedade justa e com mais equidade, integralidade e universalidade. 91 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A qualificação de um serviço público é inseparável dos processos de humanização, acolhimento e cuidado integral, implicando em uma mudança nas práticas de gestão, na direção da afirmação do SUS como política equitativa, democrática, solidária e capaz de promover melhoria na vida do sujeito usuário da saúde pública. O Sistema Único de Saúde tem passado por processos de avanço, organizados em função da articulação entre os métodos e diretrizes que norteiam o sistema público em saúde. Na visão ampliada de saúde, o sujeito é visto como um ser social, resultado da organização da sociedade dentro de um contexto histórico, contrariando o modelo biomédico organicista, onde o foco era a doença e não o sujeito e suas necessidades. Essa visão ampliada da saúde tem como foco a Promoção da Saúde em suas múltiplas dimensões, envolvendo ações de âmbito social e também a singularidade e autonomia dos sujeitos. É inegável a conquista do reconhecimento dos limites do modelo sanitário restrito à medicina, estimando-se que ele deve estar integrado às dimensões ambiental, social, política, econômica, comportamental, além da biológica e médica. A ideia de cuidado, pautada na Promoção de Saúde, compreende um saber fazer de profissionais, gestores e usuários/pacientes co-responsáveis pela produção da saúde. Assim, parte-se de uma premissa de que no campo da saúde nada é privativo de um grupo profissional, na medida em que o cuidar de sujeitos se constitui em espaços de escuta, acolhimento, diálogo, de relação ética e dialógica entre os diversos atores implicados na produção do cuidado. Cada usuário deve ser acompanhado segundo determinado projeto terapêutico instituído, comandado por um processo de trabalho cuidador, e não por uma lógica indutora de consumo/quantidade. As evidências indicam que os sistemas de saúde pautados fundamentalmente na biomedicina terão progressivamente problemas de sustentabilidade. A perspectiva de implantar programas de Promoção da Saúde e uma lógica preventiva na prática clínica dirige o esforço de racionalização de custos do sistema para ações capazes de intervir ativamente na redução de riscos, fomentando melhorias na qualidade de vida dos usuários. 92 Tendo em vista que os preceitos do SUS são princípios norteadores das práticas de sáude, na organização do trabalho ou na organização das políticas, há necessariamente uma recusa ao reducionismo que toma os sujeitos como objetos. Pois, um paciente não pode ser reduzido a uma lesão, tampouco a um corpo com distúrbios associados. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as percepções que os usuários de um serviço, vinculado ao Sistema Único de Saúde, têm a respeito de um Centro de Reabilitação e dos atendimentos fonoaudiológicos recebidos. Seus resultados demonstraram que o Centro de Reabilitação estudado foi capaz de oferecer respostas efetivas aos sujeitos que buscaram os atendimentos, proporcionando a resolutividade necessária na vigência em saúde. Ressalta-se que apesar da nomenclatura “Reabilitação”, o Centro tem realizado esforços em busca de um atendimento qualificado e pautado na Promoção da Saúde. Houve uma qualificação significativamente positiva, por parte dos usuários participantes, referente à estrutura física e organizacional do Centro de Reabilitação. Também houve uma avaliação positiva quanto aos atendimentos fonoaudiológicos realizados. O setor de audiologia obteve o maior índice de aprovação pelos usuários, tanto no atendimento quanto na qualificação geral dos serviços. Porém, cabe ressaltar que o presente estudo foi realizado em um ambiente mantido por uma instituição privada, o que seguramente pode ter levado a índices altos na qualificação geral e específica. Observou-se a relevância da qualidade do atendimento aos usuários como construtor determinante para a satisfação, evidenciando a necessidade de o serviço qualificar, cada vez mais, o processo de atendimento ao paciente, enfatizando aspectos articulados com os princípios e diretrizes do SUS – Equidade, Universalidade e Integralidade. A importância de abordar a assistência pautada na Promoção de Saúde está fundamentada na articulação de todos os passos da produção do cuidado e no restabelecimento da saúde. Propõe-se, dessa forma, mapear a assistência pelo acompanhamento na linha do cuidado, evitando-se a sua fragmentação. É necessário, também, estruturar os processos de formação dos profissionais, para que, no futuro, seja possível adequar como se organizam e operam em torno da saúde dentro do sistema público. 93 Verifica-se a baixa produção científica da categoria dos fonoaudiólogos nesta temática e esta lacuna aprofunda-se pela ausência de reflexões sobre o sistema público de saúde no Brasil, articulando-se com a falta de profissionais fonoaudiólogos atuantes na rede pública de saúde. É preciso estabelecer estratégias de aprendizagem que favoreçam o diálogo, a troca, a transdisciplinaridade entre os distintos saberes formais e não formais capazes de contribuir para as ações de Promoção de Saúde em âmbito individual e coletivo. Além disso, é necessário o estabelecimento de ações coletivas com o engajamento social, produzindo ações diretas que se convertam em mudanças macrossociais. 94 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABREU, Blogger. BRASIL, um País para todos. 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VARANDA, C.P; CAMPOS, L.G; MOTTA, A.R. Adesão ao tratamento fonoaudiológico segundo a visão de ortodontistas e odontopediatras. Rev Soc Bras Fonoaudiologia, 2008. 108 Apêndice 1 - TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE Titulo do Projeto: PERCEPÇÃO DOS PACIENTES ACERCA DOS ATENDIMENTOS FONOAUDIOLÓGICOS, EM UM CENTRO DE REABILITAÇÃO, VINCULADO AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, EM CASCAVEL - PR. Pesquisador(es) responsável com telefones de contato: Jenane T. Cunha: (45) 8802-8970 e Giselle A. Massi: (41) 9644-6794 Convidamos você a participar de nossa pesquisa que tem o objetivo de avaliar sua percepção sobre os atendimentos fonoaudiológicos realizados neste Centro de Reabilitação e para isso será realizado um questionário com perguntas curtas sobre seu atendimento neste setor, onde você deverá relatar como foi seu atendimento fonoaudiológico deste o momento que você chegou na recepção. Durante a execução do projeto, em qualquer momento da entrevista, se você se sentir incomodado com alguma pergunta, a coleta pode ser suspensa pela pesquisadora3 sem nenhum constrangimento aos participantes. Para algum questionamento, dúvida ou relato de algum acontecimento, os pesquisadores poderão ser contatados a qualquer momento. Não haverá nenhum gasto com sua participação. A pesquisa será gratuita, não recebendo nenhuma cobrança e você também não receberá nenhum pagamento com a sua participação. Existe a garantia de sigilo que assegura a privacidade, os dados são confidenciais e somente para fins científicos; você poderá cancelar sua participação a qualquer momento; o telefone do comitê de ética é 3220-3272, caso você necessite de maiores informações. Este TCLE será entregue em duas vias, sendo que uma ficará com você. Declaro estar ciente do exposto e desejo participar do projeto da pesquisa. Nome do sujeito de pesquisa ou responsável:___________________________ Assinatura: Eu, Jenane T. Cunha, declaro que forneci todas as informações do projeto ao participante e/ou responsável Cascavel, ______ de ______ de 2014. . 109 Apêndice 2 QUESTIONÁRIO AVALIATIVO DA PERCEPÇÃO DOS PACIENTES ACERCA DOS SERVIÇOS FONOAUDIOLÓGICOS REALIZADOS NO CENTRO DE REABILITAÇÃO – FAG. Nome:______________________________________________________________ Profissão: ___________________________________________ Idade:__________ Sexo: ( ) feminino ( ) masculino “Queixa” fonoaudiológica:_____________________________________________ Encaminhado por: ____________________________________________________ Escolaridade:________________________________________________________ Com quem reside:____________________________________________________ Salario médio da família: ( ) até 1 salario mínimo ( ) de 1 a 2 salários mínimo ( ) 2 a 4 salários mínimo ( ) acima de 4 salários mínimo 1) Você entende que a fonoaudiologia atua em qual ou quais circunstâncias abaixo? ( ) Linguagem / Fala ( ) Motricidade orofacial ( ) Audição ( ) Leitura/escrita ( ) Voz ( ) Deficiências ( ) Não sei ( ) outras, quais?________________________________________________________ 2) Na sua opinião, quais setores abaixo podem atuar em conjunto com a fonoaudiologia? ( ) Artistas / Músicos ( ) Assistentes sociais ( ) Comentaristas de Radio e TV / Jornalistas / Operadores de Telemarketing ( ) Dentistas ( ) Terapeuta Ocupacional ( ) Enfermeiros ( ) Médicos ( ) Fisioterapeutas ( ) Nutricionistas ( ) Pedagogos / Professores em geral ( ) Psicólogos ( ) Não sei ( ) outros, quais?________________________________________________________ 3) Junto a pessoas de quais idades, você entende que o fonoaudiólogo pode atuar? ( ) todas as idades ( ) junto a crianças ( ) juntos a adolescentes ( ) não sei ( ) junto a adultos ( ) juntos a bebês ( ) junto a idosos 4) Na sua opinião, os serviços fonoaudiológicos podem trazer benefícios para o paciente? ( ) sim ( ) não Se sim, quais? ___________________________________________________________________ 110 __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________ 5) Porque você veio buscar um trabalho fonoaudiológico nesse centro? __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 6) A sua expectativa sobre o trabalho que veio buscar foi atendida? ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) não foi atendida Justifique______________________________________________________________________ 7) Se você apenas realizou exames auditivos, quais foram estes exames? 7.1) A sua expectativa sobre os exames que veio realizar, foi atendida? ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) não foi atendida Justifique_________________________________________________________________________ 7.2) Você ficou por quanto tempo esperando para realizar esses exames, depois de ter entrado em contato com este centro?____________________________________________ 7.3) Qual sua opinião sobre o tempo esperado para realização exames?___________________________________________________________________ desses QUAL SUA OPINIÃO SOBRE : 8) Como você qualificaria o trabalho fonoaudiológico realizado por este Centro? RUIM 1 RAZOAVEL 2 BOM 3 OTIMO 4 EXCELENTE 5 Justifique sua resposta: ______________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 9) Qual foi o tempo de espera para o atendimento fonoaudiológico neste Centr o? ( ) Fiquei na fila de espera por até 3 meses ( ) Fiquei na fila de espera por até 9 meses ( ) Fiquei na fila por até 6 meses ( ) Fiquei na fila por mais de 9 meses ( ) Não fiquei na fila de espera ( ) Não lembro 9.1) qual sua opinião sobre este tempo de espera:_______________________________ ________________________________________________________________________________ 10) Você permaneceu quanto tempo ( ) até 3 meses ( ) até 6 meses ( ) até 9 meses ( ) Não fiz tratamento, apenas exames ( ) Não lembro em tratamento? ( ) de 9 meses a 12 meses ( ) de 12 meses a 24 meses ( ) de 24 meses a 36 meses ( ) mais de 36 meses ( ) Ainda estou em tratamento 111 11.1) qual sua opinião sobre este tempo de atendimento:________________________ ________________________________________________________________________________ 11) Como você avalia as instalações físicas do Centro de Reabilitação? RUIM 1 RAZOAVEL 2 BOM 3 OTIMO 4 EXCELENTE 5 Justifique sua resposta: __________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 12) Como você avalia a equipe de trabalho ( recepcionistas, secretárias, atendentes) deste Centro? RUIM 1 RAZOAVEL 2 BOM 3 OTIMO 4 EXCELENTE 5 Justifique sua resposta: _____________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 13) Como você avalia o atendimento/conduta do fonoaudiólogo realizado neste centro? RUIM 1 RAZOAVEL 2 BOM 3 OTIMO 4 EXCELENTE 5 Justifique sua resposta: _____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 14) Como você avalia as explicações dadas pelo fonoaudiólogo(a) durante seu atendimento? RUIM 1 RAZOAVEL 2 BOM 3 OTIMO 4 EXCELENTE 5 Justifique sua resposta: _____________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 15) Você indicaria alguém para realizar exames de audição neste centro? ( ) Sim ( ) Não Porque? 16) ( Você indicaria alguém para fazer terapia fonoaudiológica neste centro? ) Sim ( ) Não Porque? ___________________________________________________________________ 17) Na sua opinião, quais os principais pontos positivos deste centro? 18) Na sua opinião, quais os principais pontos negativos deste ce ntro? __________________________________________________________________________________________ ____________________________________________ 19) Você tem alguma sugestão para melhorar os serviços e/ou atendimentos deste Centro? _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 112 ANEXO 1- PARECER CEP/FAG 113 ANEXO 2- PARECER CEP/ UNIOESTE 114 115