3. Osciladores não senoidais e geradores de pulso São circuitos que utilizam elementos não lineares e elementos reativos (C, L) para obtenção de sinais alternados a partir de fontes de tensão DC. 3.1. Conceitos gerais A grande maioria dos osciladores e geradores de pulsos que operam em baixas e médias freqüências (0 a 10 MHz) utilizam circuitos RC associados a amplificadores (ou comparadores de tensão) operando na região de saturação. 3.1.1 Revisão de circuitos RC em regime transitório A configuração mais usual do circuito RC usado em osciladores é a de um filtro passa-baixas como mostrado na figura 3.1. R C Vi Vo Figura 3.1: circuito RC na configuração de filtro passa-baixas . Onde vi = excitação ⇒ – degrau de corrente; – degrau de tensão; – rampa de tensão. vo = resposta ⇒ tensão no capacitor. O tipo de excitação depende do tipo de oscilador, sendo que na prática o mais usual é o degrau de tensão. A seguir serão analisados os três casos citados, sendo que a excitação vi é substituída por uma fonte de tensão ou corrente independente , como mostrado na figura 3.2. R Ii C Vo Figura 3.2: circuito RC com excitaç ão de entrada. i. 1º. Caso: degrau de corrente. Tensão no capacitor vo : dv i =C dt t1 t1 ∫ idt = ∫ Cdvo t0 t0 i (t ) = cte = I I ( t1 − t 0) vo (t ) = + Vco C Vco = tensão no capacitor. P/ t 0 = 0 e t 1 = t It vo (t ) = + Vco C 10 8 6 4 2 0 0s V(C1:2) 1ms I(R1)*100000 2ms 3ms 4ms 5ms 6ms 7ms 8ms 9ms 10ms Time Figura 3.3: Resposta do circuito RC a um degrau de corrente. Obs.: na prática a tensão é limitada pela máxima tensão fornecida pela fonte de corrente. ii. 2º. Caso: degrau de tensão. 2.0V 1.0V 0V -1.0V 0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms 12ms 14ms 16ms V(R1:1) Time Figura 3.4: gráfico do degrau de tensão x tempo. 18ms 20ms Por Laplace: R V/S 1/SC Vo Figura 3.5: circuito RC no domínio da freqüência. 1 V SC V 1 vo ( S ) = = S 1 + R S (SCR + 1) SC Fazendo a transformada inversa: −t RC vo (t ) = V − (V − Vco )e V: valor do degrau de tensão. Vco: tensão inicial do capacitor. 2.0V 1.0V 0V -1.0V 0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms 12ms 14ms 16ms 18ms 20ms V(C1:2) Time Figura 3.6: gráfico da tensão v 0 no capacitor x tempo. Obs.: – caso a resistência interna da fonte vi não seja Ri << R , deve ser considerada no cálculo do R total; – o tempo de transição do degrau deve ser desprezível em relação à RC tt << RC ; – na prática quando: RC • tt ≤ .⇒ considerar aproximação degrau 50 RC • tt > ⇒ considerar aproximação rampa 50 iii. 3º. Caso: rampa de tensão. 2.0V 1.0V 0V -1.0V 0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms 12ms 14ms 16ms V(R1:1) Time Figura 3.7: gráfico rampa de tensão x tempo. Por Laplace: Figura 3.8: circuito RC no domínio da freqüência. Considerando o tempo de duração da rampa tt , tem-se 2 casos: a) Para 0<t<tt: vi( S ) = vo ( S ) = V S2 1 SC V 1 S2 R + SC Fazendo a transformada inversa: vo (t ) = Vco + −t dvi (t ) t − RC + RCe RC dt 18ms 20ms b) Para t> tt: Ao final da rampa, a tensão Vo ainda não atingiu a tensão final V, recaindo no caso do degrau de tensão: −(t − t t ) ' vo (t ) = V − V − Vco e RC ( ) V’co: tensão vo(tt) calculada pela expressão da rampa. tt: tempo de duração da rampa. 2.0V 1.0V 0V -1.0V 0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms 12ms 14ms V(C1:2) Time Figura 3.9: gráfico da tensão v o no capacitor x tempo. Obs.: Usa-se aproximação rampa quando t t > RC . 50 16ms 18ms 20ms 3.2. Multivibrador Biestável O multivibrador biestável é um circuito que possui dois estados estáveis de saída. A mudança de um estado para o outro é possível através da imposição temporária de um sinal de entrada adequado. A biestabilidade pode ser obtida através de um amplificador com realimentação positiva. Nessa condição o amplificador operará sempre na região de saturação. A figura 3.10 mostra um AmpOp com realimentação positiva. Figura 3.10: amplificador com realimentação positiva. + − Obs.: – não há condição de “terra virtual” v i ≠ vi ; + vi+ > 0 ⇒ vo = Vsat ∴1 – condição inicial + − vi < 0 ⇒ vo = Vsat ∴ 2 Situação final: R1 vi+ = vo R1 + R2 R1 = VTH R1 + R2 R1 − 2 ∴ vi+ = Vsat = VTL R1 + R2 + 1∴ vi+ = Vsat Obs.: O estado inicial do biestável é de difícil previsão, pois depende de vários fatores como tensão de “off-set” do AMPOP, seqüência de alimentação, ruídos. Este circuito é também chamado de comparador de tensões com histerese ou disparador de schimitt (schimitt-trigger). Tanto a entrada inversora como a não inversora (através do resistor R1) podem ser usadas para aplicação de um sinal de entrada vi. Os dois casos serão analisados a seguir. a) vi na entrada inversora: Figura 3.11: circuito RC com v i na entrada inversora. Condição inicial: vo=V sat+ Variando-se a tensão vi dentro dos limites da tensão de alimentação, + − tem-se a tensão de saída vo variando entre Vsat e Vsat , e a tensão na entrada não inversora v+ variando entre VTH e VTL , como mostrado na figura 3.12. 12V 8V 4V 0V -4V -8V -12V -12V V(U1A:OUT) -8V V(U1A:+) -4V 0V 4V V(V5:+) Figura 3.12: gráfico da curva de transferência vo x v i e v + x v i . b) vi no resistor R1 (entrada não inversora). Figura 3.13: circuito RC com v i na entrada não inversora. 8V 12V A tensão na entrada inversora é zero. A tensão na entrada não inversora v+ pode ser analisada por superposição: R1 + a) v i = 0 ∴ v = v0 R + R 1 2 R + 2 b) v 0 = 0 ∴ v = v 0 R + R 1 2 v R + v R + 0 1 i 2 soma: v = R + R 1 2 A transição de saída ocorre quando v + = v − ≅ 0 . Analisando-se as duas possibilidades da tensão de saída: + 1) vo = Vsat v+ = (V ) + sat R1 + v i R2 =0 R1 + R2 + + Vsat R1 + vi R2 = 0 ∴ v i = −Vsat + VTL' = −Vsat − 2) vo = Vsat R1 R2 R1 ∴VTL' < 0 R2 (V ) − sat R1 + v i R2 =0 ( R1 + R2 ) − − R1 Vsat R1 + vi R2 = 0 ∴ v i = −Vsat = VTH' ∴VTH' > 0 R2 v+ = A figura 3.14 mostra as tensões vo e v+ para uma variação da tensão vi dentro dos limites da tensão de alimentação. 20V 10V 0V -10V -20V -12V V(U1A:OUT) -8V V(R1:2) -4V 0V 4V V(V3:+) Figura 3.14: gráfico da curva de transferência vo, v + x v i . 8V 12V