MANEJO SANITÁRIO DE OVINOS E CAPRINOS INTRODUÇÃO A criação de pequenos ruminantes vem apresentando um crescimento contínuo nos últimos anos em nosso país. O rebanho ovinos teve um crescimento anual até o ano de 2001 de cerca de 25%, mas entre o ano de 2001 à 2008, o crescimento ficou na casa dos 8% (Gráfico 1). Em relação ao rebanho caprino, a uma estabilidade quanto seu crescimento no território nacional atualmente. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, o faturamento do mercado de pequenos ruminantes cresceu cerca de 40 % entre 2002 e 2006, evoluindo de 51 para 69 milhões de reais. Atualmente, esse mercado representa cerca de 3 % do valor total do mercado veterinário por espécie, havendo forte tendência de crescimento em todas as regiões. Gráfico 1 – Situação atual do rebanho de caprinos e ovinos no Brasil. Milhões de cabeças Rebanho de Caprinos e Ovinos no Brasil. 18.000.000 16.000.000 14.000.000 12.000.000 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 ADAPTADO DE ANUALPEC, 2009 Considerando as enormes diferenças climáticas, econômicas e culturais do Brasil, a ovino-caprinocultura apresenta variações de sistemas de criação esperadas, o que dificulta a padronização de normas de manejo nutricional, reprodutivo e sanitário. Assim, o presente manual objetiva abordar aspectos gerais do manejo sanitário em ovinos e caprinos, com ênfase no tratamento e prevenção das verminoses, que respondem pela maior parte dos prejuízos sofridos pelos produtores rurais. MEDIDAS GERAIS O principal fator para a saúde de um rebanho de pequenos ruminantes é a nutrição, que deve ser adequada à faixa etária dos animais, estágio reprodutivo e raça. O fornecimento de alimentos (pastagem, concentrado e sal mineral, na dependência da região) em quantidades satisfatórias precisa ser mantido durante todo o ano e não somente em períodos específicos como na época reprodutiva. Animais com deficiências nutricionais apresentam maior suscetibilidade a doenças infecciosas e parasitárias, além de mostrar redução nítida no desempenho reprodutivo. Declínio do número de filhotes por parto e maiores taxas de anestro, retenção de placenta e toxemia da prenhez são alguns dos problemas comumente observados. Outro aspecto importante envolve o cuidado com a introdução de animais novos no rebanho (Quadro 1). Um ovino ou caprino provenientes de áreas com manejo sanitário impróprio pode trazer cepas de parasitas ou microrganismos (vermes, bactérias e vírus) diferentes, aos quais o rebanho não estava adaptado, podendo haver surtos de doença. Quadro 1 – CUIDADOS PARA A INTRODUÇÃO DE ANIMAIS NOVOS NA PROPRIEDADE Caprino Ovino 1) No momento da compra, inspecionar criteriosamente o animal (pelagem, condição corporal, presença de parasitas, aprumos e cascos, palpação de linfonodos, glândula mamária, articulações, e principlalmente, genital masculino). 2) Se possível, solicitar que um Médico Veterinário avalie o animal a ser comprado 3) Conferir as vacinas recebidas. 2000 2001 2002 2003 2004 Ano 2005 2006 2007 4) Manter o animal em quarentena, separado dos demais, para verificar se aparecem sintomas de doença. 5) Fazer exame de fezes e vermifugar. 6) Vacinar conforme as recomendações do órgão de saúde para a região, ou considerando as doenças mais comuns em sua propriedade. VERMINOSES Por fim, é preciso que as instalações, os equipamentos de lida com os animais e os cochos de alimento estejam sempre limpos, o que requer a higienização periódica com os desinfetantes apropriados. Um animal com boa saúde deve ter vivacidade, apetite normal, pelos lisos e brilhantes, mucocas rosadas, fezes e urina com coloração normais, desenvolvimento corporal compatível com a raça e idade. Estes parâmetros garantirão uma boa compra e o começo do sucesso de sua criação. IDADE Uma das formas para controle zootécnico quanto à categoria e idade animal pode ser feito por meio da observação dos dentes. Os dentes dos caprinos e ovinos revelam a sua idade aproximada, evitando que se comprem animais errados, o que irá prejudicar o investimento no rebanho. Os dentes, tanto de leite quanto permanentes, são classificados em pinças, primeiros médios, segundos médios e cantos, totalizando 4 pares de incisivos (Figura 1). Vale lembrar que os ovinos e caprinos possuem incisivos apenas na mandíbula, ou seja, na parte inferior da arcada dentária. Os vermes parasitam os órgãos internos dos ovinos e caprinos, podendo provocar nos animais perda de peso, diarreia, fraqueza, pelos secos, anemia e edema mandibular (“papeira”) e aborto. Em casos mais graves, as verminoses podem levar os animais à morte. Contudo, muitos indivíduos com vermes não apresentam sintomas de doença. Nesses animais, as perdas em decorrência do parasitismo são ocultas, como atraso no crescimento dos filhotes, menor ganho de peso, diminuição da qualidade da lã, redução na produção de leite e piora nos índices reprodutivos, como aumento no intervalo entre partos. Os principais vermes (Figura 3) dos ovinos e caprinos afetam o estômago e os intestinos dos animais. Os vermes jovens (larvas) são ingeridos da pastagem durante a alimentação, deslocandose a seguir para os órgãos de parasitismo, onde se desenvolvem até o estágio adulto (Figura 2). Os vermes adultos, após um período variável, produzem ovos microscópicos, que são eliminados nas fezes. Após alguns dias, esses ovos dão origem às larvas. Chuvas ou o próprio pisoteio dos animais possibilitam que as larvas se espalhem pelo pasto e subam às partes mais altas do capim, de onde são ingeridas pelos animais (Figura 2). A partir desse ponto o ciclo se repete, sendo favorecido por condições climáticas como aumento de temperatura e de umidade que ocorrem, na maior parte do Brasil, no verão. Figura 2: Ciclo básico dos vermes B Cantos A Figura 1 – Dentição dos pequenos ruminantes: dentes incisivos da mandíbula. Primeiros médios A erupção dentária completa-se com 30 dias de vida. As mudas ou trocas iniciamse com 6 meses e ocorrem até os 4 anos (Tabela 1), quando os animais são considerados de “boca cheia”. Pinças Segundos médios F TABELA 1 – DENTIÇÃO DOS PEQUENOS RUMINANTES. Dente Troca Idade Caem 6 meses Pinças Nascem 12 meses (1 ano) 1ºs médios 2ºs médios Cantos Caem Nascem Caem 18 meses (1,5 anos) 24 meses (2 anos) 30 meses (2,5 anos) Nascem 36 meses (3 anos) Caem 42 meses (3,5 anos) Nascem 28 meses (4 anos) C D E A ESCOLHA DO VERMÍFUGO Figura 3 – Haemonchus contortus no abomaso – principal verme causador de anemia nos pequenos ruminantes. QUANDO VERMIFUGAR ? O tratamento das verminoses deve ser sempre realizado sob a supervisão de um Médico Veterinário, que será capaz de individualizar o esquema de tratamento mais apropriado para a criação em foco baseando-se nas características climáticas da região. De forma geral, recomenda-se o tratamento estratégico nas épocas mais secas do ano, em que a população de vermes nos animais (sensível aos vermífugos) é maior. Uma prática razoável consiste da vermifugação no início, no meio e ao final da estação seca (maio, julho e setembro na maior parte do Brasil), cabendo ainda uma vermifugação adicional na época das chuvas para evitar surtos de doença e mortalidade nessa época do ano. Nas áreas do Brasil em que não se observa uma definição mais clara das estações do ano, o esquema de vermifugação precisa ser adaptado pelo Médico Veterinário, mas sempre concentrando o tratamento nas épocas mais secas. Cabe enfatizar que a administração de vermífugos a intervalos muito curtos (por exemplo, a cada 30 dias) provoca a seleção de vermes resistentes na propriedade, complicando a escolha dos princípios ativos. Uma forma de decidir se os animais devem ser tratados ou não é a realização de exames de fezes regularmente em 10 a 20% do rebanho para avaliar o grau de parasitismo. Esse exame, que pode ser feito em laboratórios especializados ou em fazendas por técnicos capacitados, fornece uma contagem de ovos por grama de fezes (OPG) como estimativa da infecção. Embora nem sempre o exame de fezes reflita com precisão a carga parasitária no animal e a gravidade da infecção, apresenta como vantagem sua facilidade de execução no campo. Atualmente, é consenso entre os pesquisadores que o mais importante é manter os animais com uma carga parasitária intermediária que permita o desenvolvimento da imunidade, mas sem comprometer a produção de carne, leite ou pele. Além das vermifugações ao longo do ano, existem outros momentos em que os animais requerem tratamento tático (Quadro 2). Quadro 2 – VERMIFUGAÇÃO TÁTICA EM OVINOS E CAPRINOS Período Categoria animal e momento de vermifugação Antes da estação de monta Nos rebanhos semiconfinados ou em criações extensivas, deve ser feita a vermifugação do rebanho antes da cobertura natural ou inseminação artificial. Antes do parto Vermifugar as fêmeas prenhes 30 dias antes do parto. Evitar a vermifugação no terço inicial da prenhez. Após o parto Vermifugar as fêmeas 5 a 10 dias após o parto para evitar a contaminação do ambiente pelas larvas “adormecidas” (hipobióticas). Cordeiro ou cabrito Vermifugação estratégica aos 30, 60 e 75 dias de vida, independentemente do resultado do OPG Desmame Vermifugar mãe e filhote ao desmame. Existem no mercado diversos produtos com princípios ativos que diferem quanto ao espectro de ação sobre os parasitas. A escolha do vermífugo pode se basear no conhecimento geral da sensibilidade de cada espécie de verme aos princípios ativos, o que normalmente consta da bula dos produtos. Porém, existe enorme diferença de sensibilidade dos parasitas de uma região para outra ou, até, de uma propriedade para outra situada na mesma região. Em outras palavras, o fenômeno de resistência parasitária contribui para que a escolha do vermífugo ao acaso tenha uma chance razoável de insucesso. Por isso, sempre que possível, recomenda-se testar um vermífugo em um pequeno número de indivíduos antes de utilizá-lo em todos os animais da propriedade. No Quadro 3 descreve-se como realizar o teste de redução de contagem de ovos nas fezes para ovinos e caprinos. Quadro 3 – TESTE DE REDUÇÃO DE CONTAGEM DE OVOS NAS FEZES PARA OVINOS E CAPRINOS 1) Escolha para o teste animais jovens (3 a 6 meses) ou mais velhos desde que o OPG seja superior a 150. 2) Divida os animais em 2 grupos, cada qual com pelo menos 10 animais (se possível). Um dos grupos será tratado e o outro permanecerá sem tratamento durante o teste. 3) Colha amostras de fezes diretamente do reto de cada animal (cerca de 3 a 5 g/animal) e encaminhe ao laboratório o mais rapidamente possível para determinar o OPG. Vale ressaltar que as amostras devem acondicionadas em refrigeração e encaminhadas em isopor com gelo até o local em que o exame coproparasitológico será realizado. 4) Administre aos animais de um dos grupos o vermífugo conforme as orientações do fabricante. Não se esqueça de pesar os animais antes de vermifugar. 5) Colha amostras de fezes de todos os animais após o tratamento. Essa amostra deve se colhida após 3 a 7 dias se for utilizado o levamisol, 8 a 10 dias se for utilizado um benzimidazol e 14 a 17 dias se for utilizada uma lactona macrocíclica (família das avermectinas) 6) A eficácia do vermífugo pode ser calculada pela seguinte fórmula: Eficácia = média de OPG do grupo não-tratado – média de OPG do grupo tratado x 100 média de OPG do grupo não-tratado 7) De forma simplificada, considera-se que a eficácia é satisfatória quando é superior a 95 % Se o vermífugo selecionado tiver eficácia maior que 95%, poderá ser utilizado em todos os animais do rebanho. Caso contrário, outro princípio ativo deverá ser testado da mesma maneira. Quando existe eficácia do vermífugo documentada na propriedade, ele poderá ser utilizado indefinidamente até perder sua capacidade de matar os vermes (Exemplo 1). Uma alternativa, caso exista receio do desenvolvimento de resistência parasitária com essa prática, é a rotação dos vermífugos empregados na propriedade. No entanto, a rotação deve ser lenta (Exemplo 2), ou seja, o período para substituir um vermífugo que esteja funcionando por outro nunca dever ser menor que 1 ano (no máximo 8 tratamentos/ano). Exemplo 1 – Uso hipotético de escolha de vermífugo e meses sugeridos para programa de vermifugação em um rebanho de pequenos ruminantes – situação 1. Ano Mês Janeiro Março Maio Julho Setembro Novembro Janeiro 1 Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel 2 Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel Albendazole Albendazole 3 Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole 4 Albendazole Albendazole Albendazole Doramectina Doramectina Doramectina Doramectina Exemplo 2 - Uso hipotético de escolha de vermífugo e meses sugeridos para programa de vermifugação em um rebanho de pequenos ruminantes – situação 2. Ano em sugadores ou lambedores. Os primeiros são mais importantes porque são capazes de retirar sangue dos animais e, na dependência da quantidade de parasitas, podem levar a anemia. Os piolhos desenvolvem todo o seu ciclo evolutivo na pele e pêlos dos animais, ao contrário dos carrapatos e vermes que podem ser encontrados no ambiente. A transmissão ocorre pelo contato direto entre os animais infestados ou por meio de instrumentos utilizados na manipulação dos animais. As sarnas são causadas por ácaros microscópicos que se localizam na superfície da pele. Os animais infectados apresentam coceira e falhas no pêlo. Figura 4 – Piolhos (Bovicola caprae) em caprinos. Mês Janeiro Março Maio Julho Setembro Novembro Janeiro 1 Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel Closantel 2 Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole Albendazole 3 Ivermectina Ivermectina Ivermectina Ivermectina Ivermectina Ivermectina Ivermectina COMO VERMIFUGAR ? Algumas medidas são extremamente importantes para que a vermifugação seja eficiente: • Pesar todos os animais antes de calcular o volume do vermífugo. Se não for possível pesar todos, separar por lotes e pesar alguns animais representativos do grupo. • Fazer jejum de água e comida de 12 horas antes de vermifugar. Uma boa prática é retirar a água e comida ao final da tarde e vermifugar na manhã do dia seguinte. Após administrar o vermífugo, é aconselhável manter os animais somente com água por mais 6 horas. Devem ser excluídos do jejum os animais fracos, doentes e fêmeas prenhes próximo ao parto. Outras medidas complementares que devem ser observadas são: • Evitar o pastejo ao amanhecer (antes das 9 horas) e ao entardecer (após as 16 horas) porque nesses períodos a umidade e a temperatura favorecem a subida das larvas no capim. Esta prática diminui a entrada de larvas dos parasitas nos animais. • Evitar pastagens muito baixas e a superpopulação de animais. • Alternar agricultura e pecuária na pastagem. Por exemplo, em um ano um determinado lote de terra pode receber a criação de ovinos e caprinos e, no ano seguinte, servir para a plantação. Essa medida propicia e redução das larvas na pastagem de um ano para o outro, o que ajuda no controle da verminose. Um efeito semelhante pode ser obtido quando se alterna a criação de ovinos e caprinos com a criação de eqüinos e bovinos, uma vez que os vermes dessas espécies são diferentes. • Excluir os indivíduos mais sensíveis às verminoses. Dentro de um grupo de animais, sempre existem aqueles mais frágeis que constantemente requerem tratamentos. A seleção dos ovinos e caprinos mais resistentes permite um melhor controle da verminose na propriedade. PARASITAS EXTERNOS Os principais parasitas externos de ovinos e caprinos são os piolhos (Bovicola caprae – Figura 4 e Linognathus stenopsis) e os ácaros causadores de sarna. Os piolhos podem ser classificados As sarnas são altamente contagiosas e podem acometer rapidamente todos os animais do rebanho. O tratamento das infestações por piolhos e das sarnas é feito com produtos aplicados sobre a pele (pouron ou pulverização) ou então ivermectinas injetáveis em todos os animais do rebanho, mesmo que não apresentem lesões. A prevenção é feita por meio do exame dos animais antes da compra, no retorno de exposições, no momento das vermifugações e na época da tosquia. As miíases ou bicheiras se desenvolvem quando moscas (chamadas varejeiras) depositam os seus ovos nas feridas dos animais. Esses ovos dão origem a larvas que aumentam de tamanho e se alimentam dos tecidos ao redor. Uma bicheira não-tratada atrai novas moscas, que depositam os seus ovos na ferida, dando continuidade a um processo que pode levar à perda dos tecidos e à morte dos animais. Além disso, nas bicheiras não-tratadas instalam-se infecções secundárias por bactérias, o que é outro agravante. O tratamento das bicheiras baseia-se no uso de medicações de aplicação local para matar as larvas, repelir novas moscas, controlar infecções por bactérias e cicatrizar a lesão. A prevenção é feita com o tratamento adequado de qualquer ferida para que não sejam atraídas moscas. Nas cirurgias ou casos de feridas abertas, as ivermectinas injetáveis são indicadas para prevenir a infecção. DOENÇAS INFECCIOSAS Ectima contagioso Além das verminoses, ovinos e caprinos são suscetíveis a várias doenças infecciosas causadas por protozoários, vírus e bactérias. Algumas doenças são comuns a ambas as espécies, outras são específicas. Segue uma descrição resumida das principais enfermidades infecciosas encontradas em ovinos e caprinos no Brasil. O ectima (“boqueira”) é causado por um vírus que afeta os epitélios, principalmente dos animais jovens. As lesões da doença são bolhas e crostas que podem ser vistas na transição entre a pele e a mucosa dos lábios, nariz, gengivas, vulva, mamas e tetos. O vírus é altamente contagioso, sendo transmitido de um animal ao outro pelo contato direto entre os animais, pelo contato indireto por meio de instrumentos de lida ou, ainda, durante a ordenha. É necessário que os tratadores e ordenhadores usem luvas para se proteger porque esses vírus podem afetar também os seres humanos. Não existe tratamento específico e as lesões desaparecem após um período de 2 a 4 semanas. O uso de soluções para limpeza e pomadas cicatrizantes podem ajudar. A prevenção é feita com vacinas. Coccidiose A coccidiose, também conhecida como eimeriose, é causada por protozoários que parasitam o intestino delgado. Na coccidiose, observa-se um quadro de diarréia, muitas vezes com a presença de sangue, acompanhada ou não de desidratação dos animais. A coccidiose é mais comum em ovinos e caprinos jovens, principalmente quando criados no sistema intensivo. Os animais adultos podem ter a infecção sem apresentar sintomas de doença, mas mantêm a eliminação dos parasitas no ambiente. O diagnóstico baseia-se no encontro dos oocistos dos parasitas pelo exame de fezes. O tratamento é feito com medicações específicas (coccidiostáticos) como o amprólio, as sulfas e o decoquinato. Medicamentos preventivos como a monensina, a salinomicina e a lasalocida podem ser misturados à ração ou à água de bebida para prevenir a infecção nas criações intensivas com grande número de animais. Para evitar essa doença, é preciso dar atenção à limpeza das baias, cochos de comida, paredes e pisos durante todo o ano e especialmente antes do parto. O uso da vassoura de fogo e os desinfetantes fenólicos são indicados para a limpeza das instalações. Linfadenite caseosa Essa doença (“mal-do-caroço”) é caracterizada pelo acometimento dos linfonodos (gânglios) externos e internos em vista da infecção por uma bactéria chamada Corynebacterium pseudotuberculosis. Nos animais infectados, os linfonodos (“caroços”) mostram-se aumentados de tamanho e podem se abrir, drenando uma secreção purulenta. O tratamento envolve a drenagem dos linfonodos acometidos realizando lavagem com soluções antissépticas à base de iodo. Deve-se evitar que as moscas depositem os seus ovos sobre as feridas, gerando bicheiras. Os animais doentes precisam ser afastados dos demais para evitar a infecção de todo o rebanho, uma vez que a contaminação ambiental é extremamente importante na disseminação do quadro em todo rebanho. Broncopneumonia Podridão dos cascos A broncopneumonia é uma enfermidade causada, na maioria das vezes, por bactérias secundárias, em especial a Mannheimia haemolytica e a Pasteurela multocida. Estes agentes infecciosos estão presentes na cavidade oronasal de animais sadios. No entanto, qualquer fator que desencadeie a queda da imunidade dos animais pode favorecer a invasão e colonização das porções craniais dos pulmões por esses agentes, gerando assim quadro infeccioso e inflamatório. Tais fatores podem ser alterações de manejo (desmame, condução por longas distâncias, descola de cauda, castração e introdução de animais novos sem ter passado pela quarentena na propriedade), infecções primárias (vírus, bactérias ou fungos) e problemas ambientais (entrada no confinamento, privação nutricional e desconforto térmico). Os pulmões acometidos apresentam-se consolidados e com aspecto de fígado, e o resultado indireto da infecção é a redução de 5 a 10% no ganho de peso diário, com consequente retardo no desenvolvimento de cordeiros e cabritos. Os sinais clínicos observados nos animais doentes são: febre alta, secreção nasal de característica muco-esverdeada, tosse, dificuldade na respiração (aspecto de “batedeira”), crostas secas ao redor do focinho e narinas e, nos casos mais graves, até morte súbita. O tratamento da broncopneumonia consiste na aplicação de antimicrobianos injetáveis à base de florfenicol ou tetraciclina e anti-inflamatório. Nos casos graves, é indicado associar os antimicrobianos com mucolíticos e broncodilatadores. Também conhecida como pododermatite necrótica ou “foot-rot”, a podridão dos cascos ocorre pela infecção por bactérias, principalmente o Fusobacterium necrophorum e Bacteroides nodosus. A doença é mais comum durante as épocas de chuva, em que os cascos se tornam mais moles, permitindo a entrada das bactérias. O principal sintoma dos animais acometidos é a manqueira, que pode levar à perda de apetite e redução do peso. Os cascos ficam avermelhados, inchados e com odor fétido, quando associados a infecções secundárias. Bicheiras frequentemente desenvolvem-se nas feridas dos cascos como complicação. Dentro do rebanho, cerca de um terço dos animais é resistente (portadores assintomáticos), aproximadamente um terço desenvolve quadro clínico com resolução gradativa e o terço restante é considerado sempre suscetível (animais constantemente doentes), o que irá exigir medidas preventivas e tratamentos de todo o rebanho. Para evitar a podridão, os cascos precisam ser aparados sempre que necessário ou pelo menos a cada 30 dias, principalmente nos animais que passam grande parte do tempo em baias. Além disso, pedilúvios (com formol, sulfato de cobre ou sulfato de zinco) e antimicrobianos injetáveis (como o florfenicol e as tetraciclinas) são indicados e, nos casos de miíase secundária, o uso de repelente e larvicidas. Enterotoxemia A enterotoxemia é uma infecção grave ocasionada por uma bactéria chamada Clostridium perfringens, que habita o intestino de animais normais. Essa infecção é precipitada por mudanças muito bruscas de alimentação ou situações de estresse. Os sintomas envolvem diarreia aguda, a qual pode determinar a morte dos animais em poucas horas. Para evitar essa doença, todas as trocas de alimentação de volumoso para ração, concentrados ou silagem devem ser feitas gradativamente. A necessidade de vacinação depende da avaliação e orientação do Médico Veterinário. Ceratoconjuntivite A ceratoconjuntivite é causada por várias espécies de bactérias. Os animais doentes apresentam secreção ocular, lacrimejamento, avermelhamento de conjuntivas e, ocasionalmente, bicheiras nos olhos afetados. Por se tratar de uma enfermidade muito contagiosa, é preciso evitar a introdução de animais doentes no rebanho e separar para o tratamento os indivíduos acometidos. As tetraciclinas são os antimicrobianos de escolha para o uso tópico (no olho) ou injetável (tetraciclinas). Artrite-encefalite caprina A artrite-encefalite caprina tem como agente um vírus transmitido durante a amamentação dos cabritos, ordenha das cabras positivas ou mesmo pelo uso de agulhas contaminadas. Muitos ani- mais abrigam o vírus sem manifestar sintomas. Nos animais jovens (3 a 4 meses de idade), a doença pode ocasionar sintomas do sistema nervoso (dificuldade em andar, incoordenação) que geralmente levam o animal à morte. Nos animais adultos, verifica-se o acometimento e aumento das articulações (juntas) dos joelhos, progredindo para os jarretes, ombro e articulações do pescoço. Em casos mais graves, os animais perdem peso, podem desenvolver mastites, broncopneumonias e, em alguns casos, morrem em vista dessas complicações infecciosas. O controle da artrite-encefalite caprina baseia-se na eliminação dos animais do rebanho doentes ao longo do tempo. Quando isso não for possível, recomenda-se separar os cabritos de fêmeas doentes logo ao nascimento, oferecendo-lhes o colostro de cabras não–infectadas e leite de vaca. Também é necessário descartar as agulhas após o seu uso, desinfetar as mãos do tratador ou tatuador e ordenhar primeiro os animais sadios. VACINAÇÕES O Quadro 4 resume as principais vacinas para ovinos e caprinos. É importante lembrar que o esquema de vacinação ideal deve ser determinado pelo Médico Veterinário, com base nas características do clima, do rebanho e da incidência das doenças na região. Não existem vacinas consideradas obrigatórias para essas espécies. A vacina contra a febre aftosa não é mais obrigatória segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Portaria nº 713 de 12 de novembro de 1995). A vacina anti-rábica deve ser feita somente nas áreas onde são diagnosticados casos da doença (Instrução normativa nº 5 de 1 de março de 2002). As vacinas devem ser mantidas em refrigeração (2ºC a 8ºC) e nunca congeladas. OUTRAS DOENÇAS Urolitíase A urolitíase é uma enfermidade que ocorre com frequência em pequenos ruminantes, principalmente em animais que recebem grande quantidade de concentrados energéticos, em especial os grãos (milho, sorgo, trigo, arroz, soja etc.), pois estes são ricos em fósforo, mineral essencial para a formação do cálculo urinário nessas espécies. Quando ocorre grande ingestão de fósforo na dieta (grãos) em níveis acima de 0,8%, há aumento do fósforo na circulação e, consequentemente, na urina, favorecendo a formação dos cálculos. A urolitíase ocorre com maior incidência em machos, que apresentam menor diâmetro da uretra em relação as fêmeas, havendo maior predisposição para os ovinos da raça Texel. Normalmente, os locais de obstrução são o processo uretral (apêndice vermiforme) e a flexura sigmoide, a qual corresponde ao “S” peniano. Os cálculos geralmente são formados por sais de cálcio ou fosfato, sendo comum encontrar cálculos de estruvita e de fosfatos. Animais com urolitíase podem apresentar bruxismo (“ranger dos dentes”), dor ao urinar, contrações abdominais constantes, urinar em “gotas”, presença de sangue na urina e cristais nos pelos ao redor do prepúcio, semelhantes a areia. O tratamento deve ser feito exclusivamente por um médico veterinário, uma vez que o risco de ruptura de uretra ou bexiga é grande nestes casos. Para evitar o surgimento de urolitíase, recomenda-se o uso de cloreto de amônio para acidificar a urina, prevenindo o surgimento dos cálculos. Toxemia da prenhez É uma doença de caráter nutricional e metabólico que ocorre em casos extremos de alimentação (excesso ou carência). Durante a prenhez, animais obesos acumularão gordura no fígado, ao passo que os magros mobilizarão as gorduras de suas reservas para sobreviver. Em ambos os casos, como consequência da produção de energia, ocorrerá também a produção de certas sustâncias tóxicas, que determinam a ocorrência do quadro clínico. A toxemia da prenhez também está ligada ao número de fetos, sendo frequente em gestações gemelares, em associação a distúrbios nutricionais. Os sintomas observados são odor de cetona na respiração, cegueira, preensão da cabeça contra objetos, tremores, tetania, coma e morte. O tratamento deverá ser feito por um médico veterinário para amenizar os sintomas; a cesariana deverá ser realizada rapidamente no caso de risco de óbito para a ovelha, a cabra ou os fetos. Quadro 4 – VACINAÇÕES PARA OVINOS E CAPRINOS* Doença Protocolo de vacinação Clostridioses (enterotoxemia e tétano) Animais não-vacinados: 2 doses de vacina com intervalo de 4 a 6 semanas entre as vacinações. Animais já vacinados: reforço anualmente. Em fazendas com alta incidência, o reforço poderá ser a cada 6 meses. Fêmeas prenhes: 4 a 6 semanas (terço final) antes do parto. Filhotes de mães não-vacinadas: 2 doses, sendo a primeira a partir da 3ª semana de idade e desmame. Filhotes de mães vacinadas: 2 doses, sendo a primeira a partir da 9ª semana de idade (3 meses de vida e reforço com 2ª dose após 30 dias). Linfadenite caseosa Animais não-vacinados: 2 doses de vacina com intervalo de 4 semanas, sendo a primeira dose aos 30 dias. Linfadenite caseosa Vacinar as fêmeas gestantes em terço final de gestação e revacinar cordeiras após o desmame Ceratoconjuntivite Vacinar rebanhos anualmente que tenham alta incidêcia desta doenças Ectima contagioso Dose única para cordeiros e cabritos após 30 a 60 dias de vida. Repetir nas fêmeas prenhes no terço final da gestação. Raiva Animais não-vacinados: 2 doses com intervalo de 4 semanas, a partir dos 3 meses de idade. Animais já vacinados: reforços anualmente REFERÊNCIAS • ANUALPEC – Anuário da Pecuária Brasileira. 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