ESPECIFICIDADES DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR – A EXPERIÊNCIA DO SETOR DE PSICOLOGIA DO HOSPITAL REGIONAL DO SUDOESTE – HRS 1 Angela Morais 2 Sabrina Machado Área de conhecimento: Economia Doméstica Eixo Temático: Saúde Coletiva RESUMO No presente resumo expandido procurou-se abordar algumas das especificidades que marcam a atuação do profissional de psicologia no contexto hospitalar. O hospital é um cenário relativamente novo para a atuação do psicólogo, de modo que os profissionais imersos nesse universo ainda se esforçam para a legitimação de práticas que possibilitem o efetivo reconhecimento dessa especialidade psicológica. Desse modo, discussões teóricas e a socialização de experiências empíricas em muito contribuem para validar essa área de atuação. Nesse sentido, acredita-se que o tema aqui proposto e brevemente enunciado concorre para uma discussão na nossa realidade, na qual a psicologia hospitalar está começando a se consolidar como um importante campo de atuação e de produção de conhecimento para os psicólogos (as). Consiste numa pesquisa estritamente bibliográfica, aliada à descrição da experiência de estruturação do Serviço de Psicologia do Hospital Regional do Sudoeste – HRS, situado no município de Francisco Beltrão-PR. Os referenciais consultados endossam a percepção de que os serviços de saúde e, em especial, os hospitais, constituem cenários profícuos para a atuação de psicólogos, uma vez que esses profissionais trabalham na perspectiva de minimizar o sofrimento humano, através da estimulação ao enfrentamento e ao desenvolvimento de diferentes vias de ressignificação da dor. Palavras-chave: Psicologia hospitalar. Saúde. Hospitalização. Atuação profissional. Humanização. 1 INTRODUÇÃO A psicologia, enquanto ciência e enquanto profissão tem ampliado muito seu arcabouço de abordagens teóricas e de locus de atuação, especialmente nas últimas três décadas. Tal alargamento é decorrente de transformações sociais mais abrangentes e se faz necessário face às novas demandas impostas por uma realidade, cada vez mais, plural e complexa. Nesse novo cenário, uma das áreas que mais tem atraído e absorvido profissionais atualmente é a saúde, com destaque 1 Psicóloga pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Economista Doméstica pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Especialista em Psicopedagogia Institucional. Mestranda em Educação – UNICENTRO. [email protected] 2 Psicóloga pela Universidade do Contestado – UNC. Especialista em Saúde Mental. [email protected] ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1750 para as instituições hospitalares, nas quais os psicólogos e psicólogas desenvolvem seu trabalho ancorados na especialidade da Psicologia Hospitalar. A prática diária da psicologia no contexto hospitalar mostra que, muito mais que prestar o suporte psicológico, cabe a este profissional orientar e reorientar, compartilhar conhecimentos técnicos por meio de uma linguagem adaptada e compreensível, além de fornecer e reiterar informações, desenvolver programas de promoção de saúde, dentre outras ações que o caracterizam como profissional da saúde coletiva, numa dimensão que perpassa, em muito, a tradicional atuação clínica de consultório. Diante dessa nova configuração na qual o psicólogo redefine sua identidade profissional, faz-se necessário ampliar espaços para a discussão das diferentes alternativas de atuação, de modo a legitimar práticas e fortalecer a categoria. Assim, essa breve revisão teórica visa discorrer sobre algumas das especificidades que marcam a atuação do psicólogo no ambiente hospitalar, com a deliberada intenção de contribuir para a construção de referenciais sólidos, visando a garantia de inserção do ser psicólogo nos diversos espaços humanos, a partir de uma postura ética, responsável e comprometida. Este breve ensaio restringe-se a uma pesquisa estritamente bibliográfica, realizada entre setembro e novembro de 2015, a partir da qual se pretendeu explorar as variáveis que compõem o tema proposto. A busca foi realizada nos bancos de dados do Scielo e da Bireme, a pelas fontes Medline e Lilacs. A análise, que foi construída de maneira a promover um “diálogo” entre os autores da área, aliado à legislação que fundamenta a prática do psicólogo hospitalar, possibilita contemplar os nuances do tema em questão. Além da revisão teórica, se apresenta, na segunda parte do ensaio, a descrição da experiência de estruturação de um serviço de psicologia hospitalar, a saber, o Setor de Psicologia do Hospital Regional do Sudoeste (HRS), com o intuito de ilustrar algumas das principais especificidades da atuação do psicólogo no âmbito hospitalar. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1751 2 REFERENCIAL TEÓRICO OU REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CARACTERIZANDO A PSICOLOGIA HOSPITALAR A psicologia hospitalar compõe uma especialidade da Psicologia da Saúde, sendo uma das principais modalidades dessa última. Angerami-Camon et al (2004), ao discorrerem sobre os alcances da psicologia da saúde, conclamam a possibilidade de engajamento e compromisso social do profissional com as reais necessidades da população. Trabalhar na área da saúde, especialmente na saúde pública, pressupõe uma entrega do profissional no sentido de correponder aos anseios dos grupos sociais, muitas vezes, segregados, excluídos socialmente, mantidos à margem dos insumos sociais-materiais, bem como à margem da própria psicologia, tradicionalmente voltada para uma clientela elitizada. Os mesmos autores alertam para a necessidade de se construir saberes e fazeres contextualizados em psicologia da saúde, que levem em consideração as especificidades da nossa realidade social, cultural, econômica e histórica. Isso em detrimento da importação de modelos teórico-metodológicos de outros contextos que, em pouco ou nada, contribuem para a compreensão dos determinantes da constituição do brasileiro e ou do latino-americano. A psicologia da saúde tem possibilitado a abertura de novas perspectivas, de novos modelos de abordagem e intervenção que corroboram para uma ruptura com as cristalizações viciosas que acompanharam o desenvolvimento da psicologia no Brasil. A instituição hospitalar se destaca como uma importante via de efetivação dos pressupostos da psicologia da saúde, nesse movimento de aproximação entre o psicólogo e a comunidade. A psicologia hospitalar se direciona à abordagem das repercussões do adoecimento e da hospitalização sobre o psiquismo humano. “Numa instituição hospitalar, o psicólogo entra como profissional de saúde mental (...) tem como principal função a promoção da saúde mental (...)” (LAZZARETTI, 2007 p.26). Esse “fazer” se apóia em todo um “saber” acumulado pelas inúmeras vertentes teóricas e metodológicas erigidas ao longo da história da psicologia que, em muito, contribuem para a efetivação de práticas psi nos mais variados contextos, tais como o hospital. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1752 (...) cabe ao psicólogo avaliar e intervir, através de acompanhamento sistemático, sobre os efeitos do adoecer e do tratamento na realidade psíquica, assim como destacar os aspectos psicológicos e a diversidade de vivências que podem estar implicadas no processo do adoecer. (LAZZARETTI et al, 2007, p.11) O foco de atuação do psicólogo hospitalar incide sobre o doente e não sobre a doença. Referindo-se ao psicólogo clínico, Angerami-Camon et al (2004), defendem que “o hospital surge como sendo o local onde todo o seu potencial clínico pode ganhar consistência e configuração” (p.8), desde que voltado para o ser que sofre, que traduz-se no protagonista do processo. É de incumbência deste profissional identificar as implicações psíquicas que a doença orgânica produz em cada ser singular, de modo a favorecer o processo de ressignificação da experiência de adoecimento e hospitalização. De acordo com Lazzaretti et al (2007), a hospitalização ocasiona necessariamente uma ruptura do curso de vida, que se traduz em mudanças na rotina diária, nas relações familiares e sociais mais amplas, na esfera produtiva, de trabalho e ou de estudo. A vida externa permanece “em suspenso” durante o período de hospitalização, o que quase sempre leva o ser a experienciar um processo de despersonalização, de despojamento de suas características identitárias e de um cerceamento de sua liberdade individual. Ao ceder a este movimento – herança da visão medicocêntrica e higienista acerca do hospital – o ser é, então, relegado à condição de paciente, passando a ser identificado pelas caracteríticas de sua patologia e não mais pela sua identidade pessoal. Tal configuração provoca sofrimento e dor em sentidos mais amplos, situados para além do corpo, numa instância que é psíquica e, portanto, simbólica, demandando significação, interpretação e representação. Considerando as implicações psíquicas do adoecimento e hospitalização, torna-se totalmente justificável a presença do profissional da psicologia como aquele que zela pela manutenção da saúde mental dos envolvidos no processo. O trabalho psicológico no hospital tem especificidades que caracterizam essa especialidade e a situam no âmbito do atendimento integral em saúde. Dentre essas particularidades, destacam-se os seguintes pontos, em parte salientados por ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1753 Lazzaretti (2007): a) Tempo de consulta – a singularidade de cada situação é que determinará o tempo investido em cada atendimento; b) Membro da equipe – o psicólogo é membro da equipe multidisciplinar, o que o convoca a exercitar e a instigar nas outras categorias profissionais a troca de conhecimentos que se traduz em práticas que contemplem o atendimento do sujeito na sua totalidade; c) O psicólogo vai até o paciente – esta peculiaridade da atuação hospitalar a diferencia das abordagens em outros contextos. Porém, vale salientar que, mesmo nessas circunstâncias, a intervenção nunca se impõe, mantido o respeito à liberdade individual; c) Foco na psicoterapia breve – é amplamente utilizada em virtude da alta rotatividade institucional, que inviabiliza um acompanhamento a longo prazo; d) Ação emergencial – apesar de uma abordagem focal e emergencial, o profissional não deixa (e nem pode deixar) de disponibilizar a escuta como via para a intervenção; e) Atenção à família – não é possível contemplar a totalidade do paciente sem considerar sua rede de apoio que, quase sempre, é composta por familiares; f) Fluidez da comunicação – o psicólogo, no hospital, atua basicamente como um agente facilitador dos processos de comunicação em todas as modalidades – falada, escrita, visual, auditiva – e junto a todas as combinações possíveis (paciente-equipe, paciente-família, equipe-família, equipe-equipe, paciente-paciente e família-família). A ênfase na comunicação devese ao reconhecimento desta como a maneira mais simples, efetiva e profilática de minimizar angústias, de fortalecer o enfrentamento por meio da informação clara e horizontal. 2.2 CONSTRUINDO PRÁTICAS PSI – A EXPERIÊNCIA DO SETOR DE PSICOLOGIA DO HRS São muitas as atribuições do profissional no contexo hospitalar e, do mesmo modo, são muitos os desafios e dificuldades. Inexistem receitas prontas e infalíveis para a organização da prática profissional no hospital, cabendo ao profissional a construção de rotinas que lhe possibilitem realizar seu trabalho de maneira profícua e comprometida com os objetivos sociais e institucionais. O Hospital Regional do Sudoeste Walter Alberto Pecóits, situado no município de Francisco Beltrão-PR, é um hospital estadual de pequeno porte (110 leitos) e de ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1754 média complexidade, referência para Gestação de Alto Risco, Cirurgia Vascular, Ortopedia e Cirurgia Pediátrica. Sua área de abrangência compreende os 27 municípios da 8ª Regional de Saúde do Estado do Paraná. A inaurguração oficial se deu em março de 2011, a partir de quando começou a operar na sua capacidade. E é este o marco para a estruturação do Serviço de Psicologia da instituição. Composto por um total de três psicólogos, admitidos por concurso público, o Serviço começou a ser organizado a partir do planejamento de ações e da construção de práticas. As vivências diárias apresentaram e continuam a apresentar desafios a serem superados e demandas a serem correspondidas. No decorrer desse percurso de inserção, inúmeros referenciais teóricos serviram de base para aplacar angústias, fundamentar ações e solidificar a categoria no contexto da organização. Cabe exclusivamente ao psicólogo definir os critérios para o atendimento de cada paciente, uma vez que cada caso deve ser vislumbrado na sua singularidade e é este o profissional instrumentalizado e munido de conhecimentos que o habilitam a responder pelas questões psíquicas e comportamentais. O ambiente hospitalar se caracteriza por ser dinâmico, uma realidade marcada pela alta rotatividade de pacientes, pela tensão e estresse ocupacional, pelo tênue limite entre vida e morte, em suma, pelas variadas modalidades de sofrimento. É nesse cenário intenso e, por vezes, tenso que o psicólogo hospitalar consolida suas práticas. Em consonância com a Resolução nº 02/2001 CPF – Conselho Federal de Psicologia, que delibera sobre a especialidade de Psicologia Hospitalar, os profissionais do Setor de Psicologia do HRS construíram práticas, marcadamente dinâmicas e não estanques e que, por isso mesmo, precisam ser revistas e revalidadas periodicamente. Dentre as atividades exclusivas da alçada do psicólogo, destacam-se: Avaliação psicológica: Pode ser solicitada por qualquer membro da equipe, pela família ou pelo próprio paciente; também pode corresponder à solicitação de interconsulta para auxiliar na tomada de decisões quanto à conduta médica. Tratase da identificação de aspectos psicológicos atuais do paciente e/ou familiar frente ao adoecer e/ou processo de hospitalização, através de interação pessoal, pelo qual é possível o contato com manifestações não-verbais dos envolvidos. Pode ser realizada com o apoio de instrumentos específicos, tais como testes e escalas e geralmente se dá via entrevista de anamnese junto ao paciente e/ou aos familiares. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1755 A partir da avaliação dos fatores geradores de sofrimento, o psicólogo tem condições de deliberar sobre a necessidade de acompanhamento ou de encaminhamentos, intra ou extra-institucionais. Acompanhamento psicológico: É antecedido pela avaliação psicológica e caracteriza-se pelo delinemento de um plano terapêutico que demanda continuidade, traduzida em reiterados contatos com a situação específica e previamente identificada. O acompanhamento psicológico hospitalar possui a particularidade de estar condicionado à grande rotatividade de pacientes, sendo, portanto, pontual/focal. Há de se pontuar que, no acompanhamento, a regularidade e frequência dos contatos variam de acordo com as necessidades de cada caso e das possibilidades do profissional. Orientação psicológica: Emprega-se “orientação psicológica” como a abordagem de temáticas específicas, tangentes ao campo psi evidentemente, realizados em grupo ou individualmente, como estratégia de educação em saúde. Pode ser disponibilizada sempre que surgirem demandas – explícitas ou implícitas – ou então quando parte de programas estruturados de educação em saúde nos diferentes setores. Urgência psicológica: Caracteriza as situações-limite em que a integridade psíquica do sujeito encontra-se em risco eminente, demandando a intervenção imediata. Ressalta-se que tal intervenção pode ser, num primeiro momento, realizada por qualquer profissional de saúde que tenha sensibilidade e empatia e que tenha internalizado a noção de acolhimento em saúde. Isto porque nem sempre o profissional vai estar disponível no momento da solicitação, o que exige das equipes habilidade para lidar com esse tipo de circunstância in situ. A atuação do psicólogo hospitalar se caracteriza pelas diversas modalidades de abordagem, que evidenciam a diversidade de possibilidades de interação humana nesse contexto de sofrimento. No HRS, consideradas as dificuldades e limitações institucionais, as seguintes modalidades de atendimento merecem destaque: a) Atendimento ao leito – direcionada ao contato individual com o paciente hospitalizado, de modo a disponibilizar a escuta e a oferecer a ajuda profissional; b) Atendimento extra-leito – com a mesma finalidade do atendimento ao leito, é ofertado ao paciente que tenha condições de mobilidade, a fim de propiciar o contato com o ambiente exterior ao quarto, com a luz natural e com outras pessoas. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1756 Também é, sempre que possível, proposto ao familiar este tipo de contato com o mesmos objetivos, somando-se a possibilidade de abordagem mais confidencial, retirada da presença do paciente e livre de outras interferências externas; c) Atendimento em grupo – pode ser de acolhida ou de orientação psicológica, voltada para pacientes, familiares ou profissionais membros das diferentes equipes de trabalho. Ressalta-se que o psicólogo pode coordenar ou atuar como colaborador nessa modalidade de atendimento; d) Atendimento individual a profissionais – compreende a faceta organizacional da psicologia hospitalar e diz respeito à manutenção da saúde mental do trabalhador. No entanto, salienta-se que este nível de atendimento caracteriza-se por ser pontual, breve e disponibilizado em situações críticas que sejam provocadas e potencializadas pelo contexto de trabalho ou que produzam reflexos na atuação profissional. Por não ser viável o acompanhamento psicológico – por impeditivos éticos e por limitação organizacional – quando identificado grau de comprometimento profissional por questões psíquicas, o psicólogo da instituição sugere e realiza encaminhamento externo. Dito dessa forma, o atendimento a profissional, caracteriza-se como uma “acolhida” pontual frente a situações críticas que interfiram na qualidade dos serviços prestados. O Setor de Psicologia do HRS apresenta uma forma de organização erigida ao longo do processo e do tempo de trabalho e que reflete a necessidade de priorizar situações, muitas vezes em detrimento de outras. Tal priorização se faz necessária, dada à complexa dinâmica hospitalar e é cara ao psicólogo, gerando sofrimento a este que também é um trabalhador da saúde. Priorizar o atendimento a uma situação, muitas vezes, deixando de acolher a outra, não é tarefa fácil, de modo que o psicólogo conta com seu feeling para concentrar sua atenção na situação desencadeadora de maior sofrimento para o paciente, sendo este sempre o maior critério de priorização. Considerando que as situações de maior sofrimento são as que envolvem o risco eminente ou a constatação do óbito, a atuação dos psicólogos do HRS foca as UTI´s (Adulto e Neonatal) por serem estes os setores com maior índice de mortalidade. A dinâmica do setor compreende os três profissionais já mencionados anteriormente, distribuídos em escala 12X36 (12 horas de plantão seguidas de 36 ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1757 horas de descanso), em período diurno, ocorrendo, portanto, plantões com um profissional e plantões com dois profissionais. Na ocorrência de um único profissional de plantão, este prioriza o atendimentos às duas UTI’s (Adulto e Neonatal), permanecendo à disposição para o atendimento das demais clínicas, segundo critérios de prioridade/urgência/emergência e diante da disponibilidade do profissional, o qual se responsabiliza pelas justificativas pertinentes em caso de impossibilidade do acolhimento, bem como, comunicar o colega que assume o plantão subsequente. 2.3 O SETOR DE PSICOLOGIA DO HRS À SERVIÇO DA HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE A Política Nacional de Humanização (PNH) existe há mais de dez anos no Sistema Único de Saúde (SUS). Sua proposta é mudar a relação entre gestores, trabalhadores e usuários do SUS, para que cada qual se reconheça como responsável pelo SUS e contribua para suas melhorias. A Defesa dos Direitos dos Usuários, a Valorização do Trabalhador, o Acolhimento e a Gestão Participativa são algumas diretrizes da PNH que podem ser vistas nos serviços de saúde e contribuem para melhorar a gestão, a assistência e o trabalho em saúde. Embora uma década tenha passado desde a constituição da PNH como diretriz para o trabalho em saúde, lamentavelmente sabemos que ainda há muito que se trilhar, rumo a um atendimento, de fato, humanizado. Há muito que se avançar em termos de acolhimento, vínculo, resolutividade e grupalidade, visando a transversalidade nas relações, preconizada pela PNH. Esta é uma responsabilidade de todos os atores implicados no processo, a saber, usuários, profissionais e gestores. A Saúde Mental, propósito maior da Psicologia, está em estreita ligação com os conceitos de humanização, comungando da mesma essência, que é valorizar o ser humano enquanto sujeito portador de direitos e digno de respeito. Humanizar é promover saúde mental. No HRS, ações de humanização são desenvolvidas pelo Setor de Psicologia como parte da rotina diária de trabalho, apesar de ainda não haver uma efetiva formalização e sistematização dessas práticas. Dentre as ações humanizadas, destacam-se: ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1758 Acompanhamento diário das visitas (matutina e vespertina) na UTI Adulto – acolhida, orientações e suporte psicológico aos familiares e pacientes da unidade. Mediações equipe-paciente, família-equipe e família-paciente, com o intuito de favorecer a fluência da comunicação e o reforço da capacidade de enfrentamento; Acompanhamento diário da visitas .(matutina e vespertina) na UTI Neonatal – com a mesma finalidade do acompanhamento prestado na UTI Adulto, respeitando-se as particularidades do público atendido. Orientações específicas quanto a questões como: processo de amamentação, estimulação e transmissão de afeto ao recém-nascido, estratégias para o empoderamento e maior participação familiar, saúde mental da puérpera, suporte social e familiar no pós-alta, eventuais encaminhamentos; Acompanhamento de pacientes tabagistas – monitoramento de uso restrito e controlado de tabaco na instituição em casos crônicos e, a partir de orientações específicas, a efetivação da política de redução de danos. Destaca-se aqui o expressivo contingente de pacientes usuários de drogas pesadas que internam para tratamento clínico ou cirúrgico e para os quais não estrutura, nem material e nem organizacional, adequadas de assistência em saúde mental. Nesses casos, o psicólogo acaba configurando como a única referência específica do campo da saúde mental e, por isso mesmo, a dificuldade na maioria das vezes começa pela sensibilização da própria equipe que não encontra-se preparada para esse tipo de demanda; Grupo de apoio às mães da UTI Neonatal – durante três anos, os encontros foram realizados semanalmente. Entretanto, diante do aumento de demandas para o setor e de reajustes em escala de trabalho, os encontros são atualmente realizados de aleatoriamente, de acordo com as possibilidades do setor. Consiste num momento de acolhida, descontração, troca de experiências, suporte mútuo, através de trocas solidárias e estreitamento do vínculo institucional. Apoio aos visitantes – avaliações psicológicas para a liberação de visitas extra, visita ampliada, liberação de acompanhante, visita de crianças e visita espiritual; ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1759 Apoio e acompanhamento de projetos voluntários que visam a humanização do ambiente, a partir da exploração de possibilidades de interação com pacientes e acompanhantes; Oferta de recursos alternativos e com finalidade terapêutica: dinâmicas, música, jogos, leitura, desenho e escrita, passeios externos; Organização e participação em programas de educação continuada voltada aos profissionais. Geralmente essas abordagens são realizadas em grupo, visando discutir e apresentar propostas que visem contribuir para a resolução dos problemas organizacionais, pontuais e/ou a médio e longo prazo. Nesses casos, cabe ao psicólogo planejar e efetivar a mediação de conflitos interpessoais. Nesse contexto multidimensional, repleto de desafios e limitações, o Setor de Psicologia vem construindo práticas sólidas que contribuem para a construção de uma identidade profissional efetiva e ativa. Na perspectiva da humanização, a atuação perpassa a acolhida do sofrimento psíquico e avança para um deliberado estímulo ao exercício pleno da cidadania, para um compromisso com o ser que sofre não somente em virtude de uma patologia física e suas implicações psicológicas, mas que, sobretudo, sofre com as consequências de uma sociedade desigual e, por vezes, perversa. Concordamos com Angerami-Camon et al (2004), quando estes afirmam que: A psicologia necessita assim de uma renovação contínua de seus postulados para que possa acompanhar as demandas sociais e, dessa maneira, o psicólogo tornar-se coadjuvante no processo de transformação social. Uma psicologia que, ao mesmo tempo que se mostre libertária, seja também referência de reflexão sobre as vicissitudes humanas e ainda sustentáculo e acolhimentos para o sofrimento emocional contemporâneo. (p12) 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão bibliográfica acerca das epecificidades da atuação do psicólogo no ambiente hospitalar e da descrição da dinâmica desenvolvida no Setor de Psicologia do Hospital Regional do Sudoeste – HRS possibilita vislumbrar o hospital como um ambiente rico de possibilidades e alcances para este profissional. Voltado para o sofrimento humano, mas sem desconsiderar as inúmeras variáveis subjacentes a ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1760 esse sofrimento, o psicólogo hospitalar tem diante de si um sem-número de dificuldades e desafios, especialmente no âmbito da humanização em saúde. Mas esses mesmos desafios trazem em seu bojo a instigação para seu enfrentamento e superação, o que é factível a partir de uma atuação ética, comprometida e socialmente responsável. O psicólogo ainda carece de referenciais variados para a sistematização de ações e estruturação do seu “fazer” no cotidiano das instituições de saúde, em especial, o hospital. Somente a partir do compartilhamento e troca de experiências é possível a construção de conhecimentos que ampliem o arcabouço teórico da área e que fundamentem a consolidação de práticas engajadas na transformação social. Desse modo, acredita-se que o presente ensaio modestamente contribui para o incremento dessas trocas, ao menos na nossa realidade local e regional. Como agente promotor de saúde, o psicólogo hospitalar pode orientar sua conduta para o empoderamento e emancipação dos sujeitos que buscam no hospital alívio para suas dores físicas, psíquicas e, muitas vezes, sociais. No HRS, o Setor de Psicologia, militante em prol da efetivação da humanização, procura construir práticas cada vez mais consoantes com esses princípios, no sentido de resgatar o eminentemente humano em meio a uma realidade desigual e, muitas vezes, cruel. 1. REFERÊNCIAS ANGERAMI-CAMON, V. A. et al. Atualidades em psicologia da saúde. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 2. ed. 5. reimp. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. CASTRO, E.K.; BORNHOLDT, E. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Psicol. Cienc. Prof. [online]. 2004, vol.24, n.3, pp. 48-57. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S141498932004000300007 (acesso em 12/10/2015) LAZZARETTI, C.T. et al. Manual de psicologia hospitalar. Curitiba: Unificado, 2007. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1761 Resolução nº 02/2001 CPF – Conselho Federal de Psicologia.[Internet]. Brasília, DF; 2001. [acesso em 13 de novembro de 2015]. Disponível em: www.cfp.org.br/wpcontent/uploads/2006/01/resolucao2001_2.pdf (acesso em 14/08/2016) ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1762 ANEXO Fragmento da Resolução n°02/2001 do CFP (Conselho Federal de Psicologia) – Atuação do psicólogo hospitalar (...) Atende a pacientes, familiares e/ou responsáveis pelo paciente; membros da comunidade dentro de sua área de atuação; membros da equipe multiprofissional e eventualmente administrativa, visando o bem estar físico e emocional do paciente; e, alunos e pesquisadores, quando estes estejam atuando em pesquisa e assistência. Oferece e desenvolve atividades em diferentes níveis de tratamento, tendo como sua principal tarefa a avaliação e acompanhamento de intercorrências psíquicas dos pacientes que estão ou serão submetidos a procedimentos médicos, visando basicamente a promoção e/ou a recuperação da saúde física e mental. Promove intervenções direcionadas à relação médico/paciente, paciente/família, e paciente/paciente e do paciente em relação ao processo do adoecer, hospitalização e repercussões emocionais que emergem neste processo. O acompanhamento pode ser dirigido a pacientes em atendimento clínico ou cirúrgico, nas diferentes especialidades médicas. Podem ser desenvolvidas diferentes modalidades de intervenção, dependendo da demanda e da formação do profissional específico; dentre elas ressaltam-se: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e Unidade de Terapia Intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria. No trabalho com a equipe multidisciplinar,preferencialmente interdisciplinar, participa de decisões em relação à conduta a ser adotada pela equipe, objetivando promover apoio e segurança ao paciente e família, aportando informações pertinentes à sua área de atuação, bem como na forma de grupo de reflexão, no qual o suporte e manejo estão voltados para possíveis dificuldades operacionais e/ou subjetivas dos membros da equipe. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1763