Ética I. Ética e moral Ética O que intendemos por ética? Ética é um conjunto de princípios específicos dos seres humanos, princípios e critérios fundadores e reguladores da acção humana. Estes levam-nos então a fundamentar as nossas acções, como por exemplo: Porque não se deve matar? São portanto princípios fundamentadores da moral. A ética é uma reflexão racional, que visa a justificação das normas da acção dos indivíduos e das sociedades. reflexão crítica dos princípios fundamentais - é uma ciência não acabada ética é pergunta acerca daquilo que podemos ou devemos fazer e o que não ética tem a ver com: fins fundamentais valores imprescindíveis + princípios fundadores da acção ética constitui-se quando há hábitos, normas e maneiras constantes de agir juízo moral análise do que é juízo moral: julgar o que é bom ou mais, o que é justo ou injusto o juízo moral: fundamentação argumentativa e racional duma acção na base de padrões éticos (princípios e valores) diferença entre: o juízo sem padrões éticos: não se preocupar com questão o que é bem e mal o juízo ético errado: pessoa engana-se na fundamentação, mas tenta ser ética Qual é o critério para decidir o que é ético? várias respostas tradição grega + ocidental: cabe ao logos (= faculdade racional) decidir o que é bom e habitável para todos em acordo com natureza: physis - logos humano faz parte da natureza + os 2 andam sempre juntos + visam à felicidade (auto-realização humana) num ambiente social e ecológico na determinação do que é ético: tradição privilegia o logos (a racionalidade) sobre outras faculdades humanas (sentimentos, intuição, empatia) = primado da razão na ética Pode o interesse ser um padrão ético/ fundamentar um juízo moral? para utilitaristas: sim para kantianos (e os platónicos, os estóicos): não porque interesse não é universalizável, é só individual regra de ouro: princípio ético desde Moisés adquire a reciprocidade como critério de universalização (pôr-se no lugar do outro) cultura ≠ instinto A ética vem da cultura, não existe desde a nascença. cultura: conjunto de princípios/regras, que visam construir a “humanidade” instinto: conjunto de padrões dados pela natureza/programação genética da espécie ~ todos animais têm instinto, mas não cultura ética distingue-nos dos animais ética ≠ direito A ética é o conjunto dos princípios das acções, é ‘controlada’ pela nossa consciência. Ser ético é agir por princípios. O direito são normas jurídicas - formulam regras sobre comportamentos. Moral O que intendemos por moral? princípios que estão estabelecidos moral é obra da cultura por isso: em cada cultura vamos estabelecendo os seus princípios = cada um tem a sua moral (moral cristã, etc.) porém: todas as morais - por mais diversas - nascem da ética moral é o controlo dos nossos actos pela nossa consciência e pelos nossos valores, que regulam o que está certo e o que está errado pessoa imoral: pessoa que não tem princípios + age contra a moral = aquela que distingue o que está certo e errado, mas não age de acordo com isso, contrariando a moral pessoa que tem moral: sente-se impulsionada para saber + tem animo pessoa desmoralizada: o abandonou os seus princípios perdeu a moral o não tem ânimo perdeu interesse e a vontade de alcançar os seus objectivos o tinha determinados fins, que não conseguiu alcançar e perdeu a vontade Ética - Moral diferença ética Reflexão racional, ciência (não acabada) da justificação das normas de acção individual e colectiva das sociedades + crítica dos princípios fundamentais = o porquê das acções em base à consciência Porque não matar? só no singular pois pertence à natureza humana, presente em cada pessoa moral comportamento prático + estabelecer normas práticas conjunto de normas práticas duma sociedade concreta = regulamentos, mandamentos Não matar. sempre no plural pois são as distintas formas de expressão cultural e histórica da ética não é religião não é subjetiva pode haver várias morais (logo são subjectivas): moral cristã / muçulmana / judaica / ateísta falta de ética: não ter princípios, atitudes fundamentais falta de moral: cometer actos contrários aos princípios Textos Texto 1 condições Ter ética implica tomar decisões racionais, tendo em conta os interesses dos outros escolhas que sejam justificadas racionalmente (baseiam-se na razão) e com as quais se possam estabelecer leis universais e imparciais o decisão racional: é realizada pela ponderação, a criação de uma balança - a pessoa tem de escolher entre um e outro, o bem e o mal. o leis universais: decisão não pode prejudicar os outros + escolha que beneficia mim próprio e os outros procedimento errado É errado pensar que: - uma pessoa que vive de acordo com padrões éticos: é alguém que identifica um mal e não faz tais coisas (abstêm-se de muita coisa (visão ‘negativa’)); - uma pessoa que não vive de acordo com padrões éticos: é alguém que pensa que algo - um mal - não é um mal. primeira distinção Uma pessoa que vive de acordo com padrões éticos: o é alguém que vive de acordo com aquilo que pensa que são os padrões éticos corretos. Uma pessoa que não vive de acordo com padrões éticos: o é alguém que vive de acordo com aquilo que pensa que são os padrões éticos errados. segunda distinção Uma pessoa pode viver com alguns padrões éticos ou de acordo com nenhuns padrões éticos. justificação os princípios fundamentais têm de se relacionar com a justificação quem faz um mal, mas consegue justificar as suas acções pode estar a viver de acordo com padrões éticos ~ pois pode estar a pensar que está a fazer bem = noção de viver de acordo com padrões éticos está ligada à noção da defesa da forma como se vive esta tentativa de defesa não tem de ser bem sucedida PORÉM: quem quiser defender o seu comportamento com princípios éticos de base, não pode assinalar apenas os benefícios que tal comportamento lhe traria a si tem de se preocupar com um grupo mais vasto = a fundamentação da defesa não pode ser só em termos de interesse pessoal por isso: o tem de ter um ponto de vista universal + ser para o bem de todos o temos de igualar o bem de todos com o nosso logo, os princípios: o não podem ser subjectivos observador tem de ser universal, imparcial o cada um os pode decidir, mas a justificação tem de ser universal ou seja, a ética: o condena o EGOismo = interesse individual + “eu” se penso que faço o bem, mas só para o meu bem, para o meu interesse; não vivo de acordo com a ética o sustenta o interesse universal / “eu” geral outros textos centro da ética é: - o bem (Platão) - a felicidade (Aristóteles): estado objectivo de autonomia e realização pessoal do cidadão na comunidade - dimensão individual e comunitária Valores valores Valores são ideias ou comportamentos preferíveis. preferência/valor: económico + sentimental + histórico II. Epicurismo e estoicismo Epicurismo definição filosofia epicurista afirma a identidade da felicidade e do prazer = o hedonismo epicuristas são ‘ateus’ - acreditam num mundo materialista (só material - sem transcendência) felicidade e prazer são objectivos da vida Epicuro (fundador): assiste ao declínio das cidades gregas com miséria económica e fracassos políticos sentido positivo teoria da declinação dos átomos sabedoria da vida implica uma procura, uma compreensão de: o Autarquia independência do conceito do destino e deuses, da lei superior o AT. = Ataraxia serenidade da alma só aquele que compreender que não há nada e nunca haverá no universo (só átomos e vazio = a matéria + o espaço) poderá ser sábio e libertar o espírito do medo e da esperança que põem tantos homens sob a dependência do acontecimento medo e esperança (ideia de que há outra coisa para além da matéria, como destino, etc.) devem ser banidos da nossa representação do universo deve ter só o que é provado pelas sensações combinações de átomos explicam a formação dos mundos, etc. libertação: explicar fenómenos naturais (não para encontrar verdade absoluta, mas) para banir as interpretações religiosas ética comanda física sentido negativo identidade da felicidade = prazer (beber, comer, etc.) “O prazer é o começo e o fim da vida feliz” prazer = calma da satisfação realizada, ausência de perturbação (ataraxia) prazer é o bem supremo, porque reconhece nele a independência, sentimento de não ter falta de nada depois de compreender isto, o sábio pode viver como um “deus entre os homens”, simplesmente por conquistar a cada dia a independência através do prazer Estoicismo definição doutrina filosófica: capacidade de enfrentar a adversidade com vontade, coragem, firmeza = aceitar o que vem (se é sofrimento, também se aceita) = integrar-se na ordem universal e aceitá-la acredita no destino, que tudo tem uma razão ~~ é contra o acaso (algo que não tem razão) algo produz o encadear dos acontecimentos porém deixa possibilidade de opção: opor-se a destino e suportá-lo como força adversa OU aceitá-lo e identificar-lhe a vontade com o poder supremo sabedoria estóica: “Há coisas que dependem de nós, outras, que não” saber fazer a distinção ao aquiescer ao destino sábio manifesta a sua aprovação e aceitação da ordem universal sentido positivo aceitar a ordem universal/destino lei da Natureza (“Não depende de mim”) (homem deve lembrar-se de que é como os atores, encarregue de representar uma personagem escolhida por outro numa peça escrita por outro) dor, doença, morte não são males julgamento pelo qual as declaramos temíveis é que é mau, visto que nos deixa infelizes superar dor de modo estóico: não heroísmo (neste caso estóico deveria considerar dor como um mal), mas sim a liberdade do julgamento homem é livre quando aquiesce (=aprovar, reconhecer) ao destino, porque então nada se lhe opõe sentido negativo filosofia estóica conduz à proposição de suicídio natural porque: quando estóico atinge “sabedoria” - teme provocar uma motivação para a individualidade - então estóico destrói própria individualidade III. moral deontológica (Kant) e utilitarismo Kant Moral deontológica fundamento, justificação da moralidade Kant preocupa-se com a justificação e origem dos princípios do agir moral existem várias respostas, mas Kant encontra uma própria RAZÃO todos capazes de realizar actos morais porque todos são seres racionais = capacidade que orienta o agir (influenciada por vários factores) temos possibilidade de escolher por isso: também agir contra moralidade = se agirmos por interesses, por utilidade, animalidade = não é vontade boa, mas só por prazer e interesses próprios agimos com moralidade, se: agirmos por dever, dever é auto-imposto racionalmente = optamos pela personalidade = lei moral = temos uma boa vontade critério importante é então: intenção das nossas acções é o que distingue moralidade (agimos por dever, por conformarmo-nos à lei da razão) e legalidade (fazemos uma boa acção, mas só por interesse próprio - não estamos a ser morais) é uma vontade boa/ uma acção por dever/ uma lei moral, quando: a ordem que se toma para si mesmo pode ser transformada numa ordem para todos = lei universal como origem + justificação da moralidade estão então no homem/na natureza racional : princípio de autonomia (não em normas exteriores, impostas/ felicidade/ prazer/ religião) 1) o homem não tem sempre vontade boa ; 2) somos nós que nos damos uma lei = obedecer a esta lei torna-nos livres, autónomos = porque temos a possibilidade de escolher, ninguém nos obriga esta autonomia fundada na lei da razão dá-nos uma dignidade especial põe-nos todos iguais se todos agissem com moralidade, não seria preciso recorrer à legalidade resumo 1) A felicidade é algo exterior à razão, é subjectiva. 2) A acção moral tem por base a boa vontade. 3) Só as acções feitas por dever têm valor moral. 4) As acções por dever impõem-se-nos pelo imperativo categórico (lei universal da razão prática). 5) O imperativo categórico, ao impor leis universais, constitui o fundamento da autonomia humana. 6) O agir moral autónomo confere-nos dignidade. Utilitarismo fundamentação, justificação da moralidade novas teorias éticas 1.) consequências das acções ; 2.) intenções e princípios das acções teoria: utilitarismo objectivo último das acções humanas é felicidade princípio da utilidade = princípio da maior felicidade bem: dá mais felicidade global + o mais útil + o que traz melhor consequências importante: são seus efeitos práticos individualismo liberal cada um age como quiser, mas acção deve ser “boa” pode levar a “ditadura da maioria” relativismo ético não existem valores universais - valores dependem de decisões sempre mais utilitarismo por causa: da evolução do mundo actual (sempre mais pessoas, valor de amizade é sempre menos, etc.) resumo 1) O valor moral das acções está nas suas consequências e nos seus efeitos práticos. 2) Bem é aquilo que trouxer maior felicidade global. 3) O utilitarismo adopta um relativismo ético face à perca de critérios absolutos e universais. 4) O utilitarismo é um reflexo da tecnicização da produção e da sociedade pósmoderna. Conclusão Será possível conciliar utilitarismo e universalismo? IV. Apresentações Eutanásia diferenciação ativa: faz-se algo para ‘matar’ a pessoa (dá-se injecção, etc.) passiva: simplesmente faz-se morrer naturalmente (desligam-se as máquinas, interrompem-se os tratamentos) pro pacientes têm dor e sofrimento obrigar a sofrer = torturar fardo para família ou hospital e a sociedade custos argumentos contra = argumentos contra liberdade de cada indivíduo e a dignidade humana contra religião só Deus pode tirar a vida cadeia de mortes incontroláveis médicos pensam directamente alguns casos, pacientes ainda podem recuperar - com eutanásia, não se descobre Bioética bioética bioética bio + vida “bios”: vida + “ethos”: relativo à ética análise racional dos problemas morais emergentes na área das ciências biomédicas necessidade de juntar aos novos conhecimentos científicos uma regulamentação (regras e limites) - desenvolver em harmonia com dignidade humana é preciso de interdisciplinaridade questões: várias questões antropológicas (sobre início e fim da vida) células estaminais células ajudam a regenerar tecidos danificados ajudam em terapias, a curar lesões só se encontram em embriões ou senão em poucas partes do corpo adulto por isso: são tiradas de embriões resultantes de um aborto problemática: é moralmente correto ? ao aceitar-se o uso destas células dos embriões, está-se indirectamente a aceitar o aborto quem não aceita aborto, não aceita uso: fins não justificam meios 4 abordagens: sócio-biologismo + liberal-radical + utilitarismo-contratualista + personalismo