Outubro de 2016 Brasil Indicadores do mercado continuam apresentando o delicado estado em que a economia brasileira se encontra. Em setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,6% entre o primeiro e o segundo trimestres de 2016 – o nono trimestre consecutivo de retração da atividade doméstica. Ainda que os dados tenham revelado algumas notícias benignas, tais como a primeira expansão do investimento desde 2013, as informações não são animadoras para o curto prazo. Isso porque outros números publicados pelo IBGE mostraram que a fraqueza da atividade não ficou contida ao segundo trimestre. Em julho verificou-se uma queda generalizada no volume de vendas do varejo restrito e mesmo o setor de serviços, cujo faturamento expandiu-se no período, tem sido severamente impactado pelo aumento do desemprego e pela queda do consumo. PIB (Variação em %) 15 10 5 0 -5 -10 -15 -20 2001 2003 2005 Trimestral (SAA) 2007 2009 Anual 2011 2013 2015 2017 Média Móvel de Quatro Trimestres Fonte: IBGE e Itaú Asset Management – Data Base: Set16 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) indicou nova elevação da taxa de desemprego oficial, que alcançou 11,8% entre o final do trimestre encerrado em maio e o final do trimestre encerrado em agosto. Haja vista o impacto defasado do ciclo econômico sobre o emprego, as perspectivas para esse indicador não são favoráveis, o que deverá limitar a recuperação da atividade ao longo dos próximos trimestres. A isso se somam os efeitos dos impulsos de crédito e fiscal negativos. Do nosso ponto de vista, a falta de apetite das instituições financeiras para a concessão de crédito encontra respaldo no alto nível de endividamento das empresas e das famílias e na alta da inadimplência vista recentemente. Pela ótica das contas públicas, tudo indica que as propostas fiscais apresentadas pela equipe econômica deverão ser apreciadas no Congresso, com chance razoável de sucesso. Cabe lembrar que se trata de um passo fundamental para reverter a tendência de expansão da dívida pública, intensificada nos últimos dois anos levando a dívida bruta a superar 70% do PIB em agosto. O aperto fiscal será gradual, mas perdurará por uma década ou mais, tornando negativo o seu impulso do ponto de vista da atividade. Tudo considerado, esperamos que a atividade contraia 3,3% em 2016 e apresente uma expansão moderada de 0,9% em 2017, pavimentando o caminho para uma elevação mais robusta a partir de 2018. Apesar de não vislumbrarmos a existência de impulsos positivos associados aos fatores supracitados, esperamos que um importante estímulo surja a partir da condução da política monetária. Após muitos anos de uma política fiscal expansionista e de uma política monetária contracionista, a combinação de ajuste fiscal e de início de um ciclo agressivo de corte da taxa de juros farão com que a situação contrária dê o tom dos próximos anos. Isso será possível por conta da desaceleração do ritmo de expansão dos preços, que se fez notar em setembro e que, de acordo com o Relatório de Inflação (RI) do Banco Central do Brasil (BCB), continuará a acontecer no horizonte relevante. Todos os cenários apresentados pelo corpo técnico da instituição, que incluem diferentes hipóteses para a trajetória das taxas de juros e da taxa de câmbio, tiveram um ponto em comum: uma tendência inequívoca de desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ocorrendo em maior ou menor magnitude. Com isso, a instituição reconhece que a probabilidade de a inflação encerrar este ano acima do teto da meta é de 91%, enquanto que para o próximo ano tal hipótese possui uma probabilidade substancialmente menor, da ordem de 12%. Nas últimas semanas cresceu consideravelmente a chance de ser anunciado um corte da Taxa Selic na próxima reunião de política monetária. Os motivos são a revisão benigna apresentada no RI, os comentários mais recentes dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) e o nosso cenário-base para o IPCA (7,1% em 2016 e 4,8% em 2017). Com isso, revisamos nosso cenário-base de forma a contemplar o anúncio de uma queda de 25 pontos–base (pb) no dia 19 de outubro, que deverá marcar o início de um ciclo agressivo de cortes da taxa de juros brasileira. De acordo com o nosso ponto de vista, a trajetória da taxa de juros deverá contemplar um orçamento de cortes da ordem de 5,25 pontos percentuais na taxa básica de juros, com a Selic encerrando este ano em 13,5% e 9% em 2017. Internacional Estados Unidos O Banco Central norte-americano (Federal Reserve) manteve a taxa de juros estável no intervalo compreendido entre 0,25 e 0,50% ao ano na reunião que foi realizada no dia 21 de setembro. De acordo com o comunicado, a decisão não foi unânime – alguns integrantes queriam que a mesma fosse elevada na ocasião. A nosso ver, tal movimento deverá ocorrer ainda este ano, uma expectativa corroborada pelas projeções apresentadas pelos participantes do Comitê de Política Monetária (FOMC). Apesar de indicar uma alta iminente da taxa de juros, as projeções também indicam que o processo de normalização da política monetária levará mais tempo do que anteriormente indicado. Outras mudanças relevantes foram feitas nos parâmetros de longo prazo, que apontam para um crescimento potencial mais baixo do que o estimado em junho (1,8% ao invés de 2,0%). Outro assunto que ganhou muitas manchetes nas últimas semanas, e que deverá influenciar ainda mais os mercados nas próximas semanas, é a eleição presidencial do dia 4 de novembro. O grau de incerteza associado a este evento se elevou consideravelmente em Setembro. Do ponto de vista econômico, as plataformas apresentadas por Hillary Clinton (Partido Democrata) e Donald Trump (Partido Republicano) preveem o uso da política fiscal como medida de estímulo para a atividade. A nosso ver, será importante acompanhar a evolução deste tema, especialmente pelos seus efeitos de longo prazo. Na ausência de grandes choques, esperamos a economia norte-americana cresça 1,7% este ano e 2,0% no próximo. Além disso, nosso cenário base prevê que a taxa de juros seja elevada somente uma vez em 2016, e duas vezes ao longo de 2017, sempre por meio do deslocamento do corredor em 0,25%. Europa Ao contrário do antecipado por parte do mercado, o Banco Central Europeu (BCE) manteve os principais parâmetros da política monetária estáveis em sua reunião de setembro. Novas mudanças, no entanto, poderiam ser anunciadas ao longo dos próximos meses, tais como novos cortes da taxa de juros, e alterações na política que rege o programa de compra de ativos no mercado secundário. Isso porque, mesmo com o alto nível de acomodação monetária, a recuperação econômica continua em um ritmo moderado e a inflação segue substancialmente abaixo da meta de 2,0% perseguida pela autoridade monetária. Segundo a Eurostat, o PIB da Zona do Euro cresceu 1,6% entre o segundo trimestre de 2015 e o mesmo período de 2016, enquanto a inflação alcançou 0,4% na variação anual em setembro – a variação mais alta desde 2014, mas ainda inconsistente com o mandato do BCE. Na última semana do mês, cresceram as preocupações com a saúde financeira de um banco europeu. Enquanto isso, os riscos políticos permanecem elevados, sendo que o próximo evento relevante é o referendo constitucional italiano, que será realizado no dia 4 de dezembro. Em suma, a intenção da base governista é diminuir os poderes do Senado, acabando com o chamado bicameralismo perfeito, um tema controverso mesmo entre os políticos do partido do primeiro ministro italiano. O resultado deste referendo poderá ter consequências importantes para a política italiana no longo prazo. Enquanto isso, as dúvidas quanto ao processo de desvinculação do Reino Unido continuam pairando no ar, e as atenções deverão se voltar cada vez mais para as eleições gerais que são realizadas na Alemanha, na França e na Holanda ao longo dos próximos trimestres. China A atividade econômica chinesa tem se mostrado mais forte do que o esperado no terceiro trimestre, fruto da aceleração na concessão de crédito e do aumento dos gastos fiscais realizados nos últimos trimestres. Um dos principais destaques da atividade continua sendo o setor da construção residencial, reforçando a tese de que a manutenção do ritmo de crescimento da ordem de 6,5% tem sido calcada nos canais tradicionais. Outro ponto de melhora esteve associado aos fluxos de capitais, que se normalizaram nos últimos meses após fortes saídas no início do ano, diminuindo a pressão sobre a taxa de câmbio. Apesar da melhora no curto prazo, os desafios de médio prazo continuam presentes. O setor corporativo permanece altamente endividado, em um cenário marcado por um excesso de capacidade e por uma baixa lucratividade em diversos setores. Ao optar por medidas de estímulo, o governo tem se afastado da busca pelo rebalanceamento da economia, privilegiando os setores tradicionais ao invés de aumentar a importância relativa do setor de serviços. Ainda que novas medidas possam ser anunciadas, mantemos a avaliação de que as mesmas terão efeitos cada vez menores, o que a nosso ver se refletirá em uma desaceleração do crescimento para 6,5% em 2016 e 6,0% em 2017. Disclaimer O Cenário Econômico Mensal é uma publicação da Itaú Asset Management. A Itaú Asset Management é o segmento do Itaú Unibanco especializado em gestão de recursos de clientes. As informações contidas nesta publicação foram produzidas dentro das condições atuais de mercado e da conjuntura e refletem uma interpretação do Itaú Unibanco, podendo ser alteradas a qualquer momento sem aviso prévio. 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