COORDENAÇÃO HIDROTÉRMICA DE MÉDIO PRAZO USANDO UMA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA MÚLTIPLA Renan Monteiro de Andrade Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador(es): Carmen Lúcia Tancredo Borges André Luiz Diniz Souto Lima Rio de Janeiro Abril de 2016 COORDENAÇÃO HIDROTÉRMICA DE MÉDIO PRAZO USANDO UMA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA MÚLTIPLA Renan Monteiro de Andrade PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA DE ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA. Examinada por: ___________________________________ Carmen Lúcia Tancredo Borges, D. Sc. ___________________________________ André Luiz Diniz Souto Lima, D. Sc. ________________________________________ Glauco Nery Taranto, D.Sc. ______________________________________ Tiago Norbiato dos Santos, M. Sc. Rio de Janeiro Abril de 2016 Andrade, Renan Monteiro de Coordenação Hidrotérmica De Médio Prazo Usando Uma Função De Produção Hidroelétrica Múltipla / Renan Monteiro de Andrade. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016. 90 p.: il.; 29,7 cm. Orientadora: Carmen Lúcia Tancredo Borges Co-orientador: André Luiz Diniz Souto Lima Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/ Departamento de Engenharia Elétrica, 2016. Referências Bibliográficas: p. 79-81 1.Função de Produção Hidroelétrica. 2. Planejamento Hidrotérmico. 3. Modelo Linear Por Partes. 4. Programação Linear. I. Andrade, Renan Monteiro de, et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia Elétrica, III. Coordenação Hidrotérmica De Médio Prazo Usando Uma Função De Produção Hidroelétrica Múltipla Agradecimentos Primeiramente, agradeço a minha família, irmãos e avós, por todo o amor e apoio. Agradeço em especial aos meus pais, Ricardo e Mara, pela educação, pelo incentivo, pelos valores e pelo suporte que sempre procuraram me passar. Por sempre terem se sacrificado, diante de todos os percalços que a vida nos proporciona, para que eu obtivesse a melhor educação possível. Sem eles nada disso seria possível. Meu muito obrigado por estarem comigo em todos os momentos importantes da minha vida. Agradeço a todos os professores do Departamento de Engenharia Elétrica da Poli que contribuíram para minha formação pessoal e acadêmica, compartilhando seus conhecimentos e experiências de vida. Em especial a professora Carmen Lúcia Tancredo Borges, por abrir meu interesse pela área de sistemas de Energia, pela oportunidade e apoio na elaboração deste trabalho, pela paciência e tranquilidade com que coordenou esse trabalho, sempre me passando segurança, meu mais sincero obrigado. Meu profundo agradecimento aos funcionários do CEPEL, do departamento de Otimização e Meio Ambiente (DEA) e em especial aquele que me acolheu nesta empresa, me conduzindo pelos caminhos da pesquisa com paciência, maestria e confiança na minha capacidade: meu co-orientador André Luiz Diniz. Agradeço imensamente aos meus amigos de longa data e a todos com que tive o prazer de cultivar amizade durante a Graduação e que serão levados para toda a vida. Com vocês esses anos de curso, que poderiam ser uma difícil jornada, se transformaram em uma viagem prazerosa e inesquecível, que será sempre lembrada com certa nostalgia e saudade. iv À Marcelle que sempre esteve solicita e disposta a me ajudar e contribuir para meu sucesso. Obrigada pela paciência, por todo o carinho e amor que me proporcionou. Agradeço por fim a Deus por minha vida, família e amigos. Pela saúde e força para superar as dificuldades. A todos vocês o meu sincero muito obrigado. “Because limits, like fears, are often just an illuision” - Michael Jordan v Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. COORDENAÇÃO HIDROTÉRMICA DE MÉDIO PRAZO USANDO UMA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA MÚLTIPLA Renan Monteiro de Andrade Abril/2016 Orientador: Carmen Lúcia Tancredo Borges, D.Sc. André Luiz Diniz Souto Lima, D.Sc. Departamento: Engenharia Elétrica Apresenta-se um modelo agregado para a função de produção hidroelétrica, que condensa em uma única função a geração em um conjunto composto por reservatórios de montante e diversas usinas a fio d´água a jusante em um trecho de cascata. Obtém-se uma expressão exata da geração desse conjunto de usinas a partir dos armazenamentos e defluências dos reservatórios de montante e realiza-se uma aproximação linear por partes dessa função. Essa estratégia permite reduzir a complexidade do problema de planejamento da operação hidrotérmica de médio/longo prazos, ao mesmo tempo em que se representam aspectos importantes da operação individualizada das usinas, sendo uma alternativa competitiva ao uso de reservatórios equivalentes de energia. Palavras-chave: Função de Produção Hidroelétrica, Planejamento Hidrotérmico, Modelo Linear por Partes, Programação Linear. vi Abstract of Graduation Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requiremnts for the degree of Electrical Engineer AN EXACT MULTI-PLANT HYDRO POWER PRODUCTION FUNCTION FOR MID/LONG TERM HYDROTHERMAL COORDINATION Renan Monteiro de Andrade April/2016 Advisors: Carmen Lúcia Tancredo Borges, D.Sc. André Luiz Diniz Souto Lima, D.Sc. Department Electrical Engineering This paper proposes a new exact “Multi-plant hydro production function (MHPF)”, which depends on the storage and discharge of a given reservoir power plant and comprises not only its generation but also the power output to all subsequent run-of-the-river plants until the next reservoir. Based on this function we build a piecewise linear model that can be embedded in stochastic linear programs for optimal hydrothermal coordination. Keywords: Hydroelectric power generation, linear programming, power generation planning. vii Sumário 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................1 1.1 Contexto ...................................................................................................................... 1 1.2 Objetivos e Relevância do Trabalho ............................................................................ 2 1.3 Organização / Estrutura da Dissertação ...................................................................... 4 2. FUNÇÃO DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA ....................................................................5 2.1 Função de produção exata (FPH) ................................................................................ 6 2.2 Função de Produção Hidroelétrica Aproximada Individual ........................................ 9 3. 2.2.1. Modelo Linear por partes com variável defluência ........................................... 14 2.2.2. Modelo Linear por partes com turbinamento e vertimento independentes .... 15 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA MÚLTIPLA ................................................. 16 3.1 Identificação de uma usina agregada ....................................................................... 17 3.2 Exemplo de cálculo da FPHM - caso simples (usinas em série) ................................ 18 3.3 3.4 4. 3.2.1. Apenas uma usina a fio d´água .......................................................................... 18 3.2.2. Diversas usinas a fio d´água ............................................................................... 20 Caso em V .................................................................................................................. 21 3.3.1. Representar como uma única usina .................................................................. 22 3.3.2. d’água Utilizar modelos diferentes para os reservatórios e o conjunto de usinas a fio 24 Algoritmo de Identificação de uma Usina agregada ................................................. 25 CÁLCULO DA ENVOLTÓRIA CONVEXA........................................................................ 28 4.1 Algoritmos para a construção da envoltória convexa............................................... 29 4.1.1. Brute Force: 4.1.2. Gift Wrapping: ........................................................................................... 30 ....................................................................................... 30 viii 4.2 5. 4.1.3. Divide-and-Conquer: 4.1.4. Quick Hull: ...................................................................... 31 ........................................................................... 31 Implementação no programa ................................................................................... 32 4.2.1. Dados de Entrada ............................................................................................... 32 4.2.2. Construção dos planos ....................................................................................... 33 4.2.3. Saída ................................................................................................................... 34 4.2.4. Análise de Sensibilidade .................................................................................... 34 MODELO LINEAR POR PARTES PARA A FPHM ............................................................ 37 5.1 Hipóteses iniciais e dados disponíveis ...................................................................... 38 5.2 Cálculo da função exata em uma grade de discretização. ........................................ 39 5.3 Cálculo da envoltória convexa .................................................................................. 40 5.4 Aplicação de um fator de ajuste ............................................................................... 41 5.5 Expressão final para a função ................................................................................... 42 6. REFORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE COORDENAÇÃO HIDROTÉRMICA CONSIDERANDO A MODELAGEM PROPOSTA ............................................................ 44 6.1 Função Objetivo ........................................................................................................ 45 6.1.1. 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 Penalidades para violação de restrições............................................................ 46 Função de produção hidroelétrica ............................................................................ 46 6.2.1. Formulação com gerações individuais ............................................................... 46 6.2.2. Formulação com FPHAG .................................................................................... 46 Balanço hídrico .......................................................................................................... 47 6.3.1. Formulação Tradicional ..................................................................................... 47 6.3.2. Formulação com FPHAG .................................................................................... 48 Atendimento à demanda .......................................................................................... 49 6.4.1. Formulação Tradicional ..................................................................................... 49 6.4.2. Formulação com FPHAG .................................................................................... 50 Limites para as variáveis de geração ......................................................................... 50 6.5.1. Formulação Tradicional ..................................................................................... 50 6.5.2. Formulação com FPHAG .................................................................................... 51 Limites para as variáveis de operação hidráulica...................................................... 51 6.6.1. Formulação Tradicional ..................................................................................... 51 6.6.2. Formulação com FPHAG .................................................................................... 52 ix 6.7 7. Síntese das modificações .......................................................................................... 52 PÓS-PROCESSAMENTO APÓS A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA PARA OBTER OPERAÇÃO INDIVIDUALIZADA DAS USINAS............................................................... 53 7.1 Gerações individuais ................................................................................................. 53 7.2 Operação hidráulica .................................................................................................. 54 8. RESULTADOS NUMÉRICOS PARA O SISTEMA BRASILEIRO .......................................... 56 8.1 Analise do formato da FPHM .................................................................................... 56 8.2 Modelagem linear por partes da FPHAG .................................................................. 62 8.3 9. 8.2.1. Descrição do sistema ......................................................................................... 63 8.2.2. Inequações construídas para algumas usinas agregadas .................................. 64 8.2.3. Análise dos desvios ............................................................................................ 67 Problema de coordenação hidrotérmica com a FPHAG ........................................... 69 8.3.1. Análise do tamanho do problema ..................................................................... 71 8.3.2. Análise do custo computacional ........................................................................ 73 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 76 9.1 Considerações Gerais ................................................................................................ 76 9.2 Trabalhos Futuros ..................................................................................................... 78 10. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 79 11. APÊNDICE A : COEFICIENTES DOS PLANOS QUE FORMAM AS ENVOLTÓRIAS CONVEXAS DAS USINAS AGREGADAS PARA O CASO DE 50 USINAS ( SEÇÃO 8.2 ) ....... 82 x 1. Introdução 1.1 Contexto Em sistemas de energia elétrica com base hidrotérmica, o problema do Planejamento da Operação Energética, ou Coordenação Hidrotérmica, pretende estimar quanto deve produzir cada usina hidroelétrica – UHE e Usina Termoelétrica – UTE ao longo de um determinado horizonte de tempo, de modo que a demanda de energia seja atendida de maneira confiável e otimizada, isto é, ao menor custo de operação possível, satisfazendo porém determinados critérios de segurança. O uso adequado da energia hidroelétrica, disponível em quantidades limitadas na forma de água armazenada nos reservatórios, torna a operação do sistema complexa, pois estabelece um compromisso entre a decisão de operação imediata e as consequências futuras desta decisão. No Brasil, tem-se utilizado já há bastante tempo uma cadeia de modelos para a coordenação hidrotérmica [1], cuja integração em geral é feita através do estabelecimento de valores da água. O foco dos modelos de mais longo prazo, na cadeia da coordenação hidrotérmica, é a modelagem das incertezas, em especial as vazões afluentes aos reservatórios [2] e [3], enquanto os componentes do sistema são representados com menos detalhamento. Desse modo, é comum a utilização de uma modelagem equivalente para os reservatórios e a consideração da transmissão apenas por meio de grandes troncos, como em [1] e [4]. Em horizontes de apenas alguns meses, com discretização semanal, a importância de uma modelagem individualizada [5] das UHEs passa a ser discutida, podendo-se adotar uma abordagem híbrida, onde parte do sistema é composto de usinas individualizas e parte por reservatórios equivalentes [6]. 1 Finalmente, para o problema de programação diária se torna de grande importância uma representação com detalhes da operação das unidades térmicas e hidroelétricas. Além disso, a rede elétrica pode também ser modelada de forma mais profunda [7] e [8]. Este trabalho será focado, em específico, para modelos de médio prazo, que consistem em determinar uma política de operação para as usinas do sistema, ao longo de um horizonte de vários meses ou anos, de forma que a função objetivo, que pode incorporar tanto aspectos associados ao custo de operação como critérios de segurança operativa [9], seja minimizada. 1.2 Objetivos e Relevância do Trabalho Um aspecto de fundamental importância nos modelos de coordenação hidrotérmica é a modelagem da geração das usinas hidroelétricas, que como será mostrado adiante, é em geral uma função não linear do seu estado – volume armazenado e de sua operação – turbinamento e vertimento. Essa função costuma ser chamada de “Função de Produção Hidroelétrica Individual” – FPH. Modelos aproximados, que linearizam essa função sem perder a característica da produtividade variável das usinas, para serem usados no problema de despacho hidrotérmico como um problema de programação linear (PLL) foram criados sob diferentes formulações. Nos modelos de médio e longo prazo que se utilizam de equivalentes para as UHE, a produtividade variável dessas usinas podem ser representadas, por exemplo, por meio de parábolas que ajustam algumas grandezas associadas ao reservatório equivalente, como a energia afluente e a geração máxima [4]. Pode-se também utilizar uma função não linear que relaciona a geração do reservatório equivalente com seu deplecionamento [1]. Essas funções conseguem considerar, de forma generalizada, a variação da produtividade com o nível de armazenamento nos reservatórios. Porém, perde-se certa acurácia na modelagem do parque hidráulico, pelo fato de ser representar a operação das usinas hidroelétricas por meio de balanços de energia. No modelo individualizado, se considera a representação da operação individual de cada uma das UHEs presentes no sistema e formulam-se diretamente os balanços hídricos. Isso permite maior acurácia na representação de diversos aspectos e no problema como um todo, porém para a coordenação hidrotérmica com um horizonte longo e um grande 2 cenário hidrológico, essa representação individualizada da geração pode levar o sistema a tempos computacionais impraticáveis para resolver o problema. Esse trabalho irá apresentar um novo tipo de representação do parque elétrico, que consiste em um modelo intermediário entre a modelagem equivalente a individualizada das UHEs, onde usinas com reservatório são agrupadas com sequencias de usinas a fio d’água a jusante nas cascatas, compondo o que denominaremos de Usinas “Agregadas”. Esse modelo agregado foi idealizado com base na constatação de que a operação do parque hidráulico é ditada pelos reservatórios, uma vez que as fio d’água irão naturalmente defluir, por turbinamento ou vertimento, toda a água proveniente das usinas de montante e das afluências naturais incrementais. Essa representação não impede que se represente no problema de coordenação hidrotérmica os aspectos principais da operação individualizada de todas as usinas do sistema, como o balanço hídrico, afluências naturais, evaporação, a função de produção hidroelétrica e eventuais restrições de defluência / afluência mínima para as usinas hidroelétricas, sem premissas de operação pré-estabelecidas. Dessa maneira, precisamos construir funções de produção apenas com base nas usinas com capacidade de regulação (reservatório), sem perda sensível de acurácia e com a principal vantagem de diminuir razoavelmente o número de equações e restrições no problema de programação linear (PLL) para o despacho hidrotérmico. O foco desse documento será a modelagem da geração de tais usinas agregadas, o que se denominou de “Função de Produção Hidroelétrica Múltipla” (FPHM) e, baseado em [12], realizar uma aproximação dessa função por um modelo linear por partes, necessário para a resolução do despacho hidrotérmico por um problema de programação linear (PLL). Essa função aproximada será chamada de “Função de Produção Hidroelétrica Múltipla Aproximada” (FPHAG). Na importância de sempre se buscar modelos mais sucintos, com menor custo computacional e trade-off entre esse custo e a acurácia do modelo, ressalta-se que a abordagem proposta neste trabalho é particularmente interessante na coordenação hidrotérmica de mais longo prazo, visto que nestes modelos consideram-se usualmente como reservatórios apenas usinas com regularização mensal, o que propicia a existência de diversas usinas com modelagem a fio d’água na topologia. Além disso, alguns 3 aspectos que não poderiam ser representados pelo modelo agregado já não são considerados em geral para horizontes mais longos, como, por exemplo, o unit commitment das usinas hidroelétricas, tempos de viagem da água, restrições de rampa de geração e restrições elétricas internas aos subsistemas de energia. 1.3 Organização / Estrutura da Dissertação A Dissertação está dividida em 8 capítulos. Este Capítulo apresentou uma introdução ao projeto desenvolvido e retratado neste trabalho, introduzindo os diversos conteúdos teóricos necessários a um entendimento amplo do objeto de estudo. O Capítulo 2 descreverá a Função de Produção Hidroelétrica para uma usina hidroelétrica, abrangendo a função exata e a Função aproximada pelo modelo linear por partes, onde serão discutidas duas vertentes para a obtenção desse modelo quanto à operação hidráulica. O Capítulo 3 aborda a Função de produção Hidroelétrica Múltipla, tratando do método para a identificação de uma usina agregada e o algoritmo correspondente criado, até exemplos de cálculo dessa função para casos específicos e opções que podem ser levadas em conta ao modelar a FPHM. No Capítulo 4 são apresentados algoritmos existentes para o cálculo da envoltória convexa de uma grade de pontos e a implementação desse cálculo para o modelo agregado. O cálculo da envoltória convexa, como será mostrado neste trabalho, é necessário para a aproximação da FPHM por um modelo linear por partes – FPHAG. O Capítulo 5 apresenta o modelo linear por partes para a Função de Produção Hidroelétrica Múltipla. Os Capítulos 6 e 7 tratam do problema de coordenação hidrotérmica, considerando o uso da FPHAG e das alterações realizadas nas restrições do PLL e no pósprocessamento do problema. Já o Capítulo 8 apresenta os resultados numéricos para exemplos de cascatas de usinas no Sistema Brasileiro. Por fim, o Capítulo 9 aborda as conclusões e algumas sugestões de trabalhos futuros. 4 2. Função de produção hidroelétrica A geração de energia elétrica em um aproveitamento hidrelétrico é dada através das unidades hidrelétricas, compostas pelo conjunto turbina-gerador. Em certo instante de tempo, a quantidade de água armazenada no reservatório, sendo a fonte de energia potencial gravitacional acumulada, é transformada em energia mecânica quando a água passa pela turbina, provocando assim o torque necessário no eixo do gerador para a conversão dessa energia mecânica em energia elétrica. Na Figura 1. podem ser vistos os componentes básicos de uma usina hidroelétrica - UHE típica. Figura 1. Componentes básicos de uma UHE [20] Neste capitulo serão mostradas as equações para o cálculo da função de produção real/exata de uma usina hidroelétrica assim como dois tipos de abordagens para se 5 representar a função de produção, que é não linear como será mostrado a seguir, em um problema de Programação Linear ( Planejamento da Operação ), sem perder a característica da produtividade variável da usina. 2.1 Função de produção exata (FPH) A potência de uma unidade geradora de uma usina hidroelétrica corresponde ao produto entre sua vazão turbinada e sua produtividade, , a qual é expressa pelas relações: (1) (2) Onde é o rendimento da turbina (%), de água armazenada na usina, o rendimento do gerador (%), é a vazão turbinada total da usina e é o volume é a quantidade de água, ou vazão, vertida. O rendimento do grupo turbina-gerador, , dado pelo produto entre e é obtido através de uma relação não-linear envolvendo a vazão turbinada e a altura de queda líquida hl , normalmente expressa através das curvas de desempenho da turbina, denominadas curvas-colinas [21]. Neste trabalho, considera-se constante, já que o horizonte de análise é de mais longo prazo. Assim, definindo produtividade especifica , temos: (3) A altura líquida de queda, por sua vez, é definida como: (4) 6 hmon é a cota do reservatório da usina (cota de montante), que é uma função não linear do volume armazenado . A cota de jusante, h jus , é dada pela curva-chave do canal de fuga, a qual é função não linear da vazão turbinada total da usina Q e, dependendo da configuração, da usina, também da vazão vertida S. Normalmente, as curvas cotavolume e a vazão-cota de jusante (curva-chave) são expressas como polinômios de quarta ordem [17]: (5) Além disso, para o cálculo da altura de queda líquida é necessário considerar o coeficiente de perdas hidráulicas da Usina, expresso em altura(m) ou percentual da queda: = – – perdas (m ou %) (6) Portanto, (7) E por fim, temos que a expressão geral para a produção de uma unidade geradora é dada da seguinte forma: (8) 7 Como não se deseja detalhar a operação individual das unidades geradoras presentes na usina, é interessante se determinar a expressão para a geração total da usina ( corresponde à soma das gerações de suas ), que unidades. (9) Considerando essas relações, a geração elétrica total de uma usina é uma função nãolinear de , sendo denominada Função de Produção Hidroelétrica (FPH) . A Figura 2 mostra o gráfico dessa função para a Usina de Tucuruí. Figura 2. Função de Produção Exata para a Usina de Tucuruí [12] Ressalta-se que, pela Equação (8), há uma interdependência entre as gerações das unidades de uma mesma usina, já que o turbinamento total da usina influencia na geração individual das unidades, não apenas pela diminuição da cota de montante ( efeito significativo apenas nas usinas com pequeno reservatório ) , mas também pela elevação da cota do canal de fuga. Outros fatores que complicam a modelagem da FPH das usinas são: As zonas proibidas de geração das unidades geradoras; O número de unidades acionadas da usina; A sequencia na qual se dá o acionamento das unidades. 8 Todos estes aspectos tornam a modelagem da geração hidroelétrica uma tarefa bastante complexa. Se considerarmos uma determinada cota de montante para o reservatório, e estabelecermos uma ordem para o acionamento das unidades, pode-se derivar uma curva para a geração da usina como um todo [14], [15], [16],ilustrada na Figura 3. Figura 3. Função de produção típica para uma usina hidroelétrica com três unidades geradoras. [21] Por fim, uma vez que os programas desenvolvidos para o planejamento da operação hidrotérmica baseiam-se na resolução de um problema de otimização através de programação linear, são necessárias aproximações lineares para essa função de produção exata com o fim de ser representada corretamente dentro do problema. 2.2 Função de Produção Hidroelétrica Aproximada Individual A seguir, descrevem-se todos os passos da construção da função de produção hidroelétrica aproximada (FPHA). Também são discutidas duas estratégias quando a consideração do vertimento para a construção da função, o que será visto com mais detalhes no passo cinco. As referências para esses modelos são os trabalhos [12] e [5]. Passo 1. Hipóteses Iniciais e dados disponíveis. Assume-se um fator de eficiência constante perdas hidráulicas para o conjunto turbina-gerador. As são calculadas como um percentual da geração, e não variam 9 com a vazão defluente. Ambos os parâmetros podem ser computados a priori a partir do estado do reservatório (volume armazenado) no início do período de estudo, e uma estimativa da vazão média defluente ao longo do período de programação. As zonas proibidas de geração são ignoradas. A cota de montante do reservatório é calculada por um polinômio de quarto grau em V, e a curva-chave do canal de fuga é um polinômio de quarto grau de Q e, em algumas usinas, da soma de Q e S. A produtividade por unidade de queda de cada usina (comumente denominada de produtibilidade específica), expressa em é conhecida. Os coeficientes de evaporação mensal dos reservatórios são dados. Os limites para o volume armazenado, turbinamento, vertimento e geração hidroelétrica também são todos conhecidos. A grande maioria destes dados está contida no arquivo de cadastro de usinas hidroelétricas, fornecidos pelo ONS – Operador Nacional do Sistema. Passo 2. Determinação da grade de discretizaçao Define-se uma grade de pontos no plano . O número de pontos e sua distribuição dependem da precisão desejada para o modelo e do comportamento da função de produção real de cada usina: Uma grade com mais pontos tem melhor acurácia, porém perde-se tempo em processamento (CPU). Discretizar com uma janela/distribuição maior resulta em uma maior abrangência para a função, porém com maiores desvios entre a FPH e a FPHA próximo de , em relação a usar uma janela menor para V. Para cada ponto, representado pelo par , a geração hidroelétrica é obtida pela expressão abaixo GH 9.8110 3 Q (hup (V ) hdw (Q, S ) h perdas ) Obtendo-se assim um conjunto N de pontos no espaço tridimensional. 10 (10) Passo 3. Calculo da envoltória convexa Mesmo que a função seja côncava no plano referente ao turbinamento, a função tridimensional FPH = GH(V,Q) apresentará em geral um comportamento não côncavo, devido ao produto entre o turbinamento e a altura de queda na expressão (1). Desta forma, para tornar possível a construção de um modelo linear por partes, deve-se, inicialmente, ajustar uma envoltória convexa para a região abaixo da curva da FPH. Essa envoltória é definida como a “menor” função côncava cujo gráfico está acima da função original não-côncava, em todos os seus pontos. Calcula-se a envoltória convexa de , onde M é o conjunto de pontos necessários para se definir uma região compacta abaixo da curva Um algoritmo particular, “ad-hoc” [4], que leva em consideração o conhecimento que se tem sobre a forma da função de produção, é utilizado em [7]. A Figura 4 mostra a convexificação da área abaixo de GH apenas para a variável , para melhor visualização. Figura 4. Convexificação da área abaixo da curva da função de produção para Qdef As equações dos planos que definem C consistem em um modelo inicial para a FPHA, o qual é denotado por FPHA0, e expresso por: GH i ' (V , Q) min ( GH ik ' (V , Q) ) , k 11 k 1,..., K i (11) Onde GH ik ' (V , Q) 0 i ,k V i ,k V Q i ,k Q , e K i é o numero de hiperplanos gerados na aproximação da FPHA da usina . Um aspecto interessante que merece ser destacado é que, se a FPH for mal comportada (ou seja, não côncava) em uma grande parte da grade definida no plano VQ, aumentar o número de pontos na discretização não resultará em um modelo mais acurado, uma vez que todos os pontos na região não côncava da curva serão eliminados durante o cálculo da envoltória convexa. Após a aplicação da envoltória convexa, obtém-se um modelo inicial denominado FPHA0, que seria representado por uma função côncava e linear por partes, construída diretamente a partir do subconjunto de planos que compõem a envoltória convexa. Entretanto, esse modelo é, em geral uma aproximação otimista da FPH devido ao seu comportamento levemente côncavo, ou seja, o valor de geração FPHA0(V,Q) tende maior ou igual ao valor exato GH(V,Q) obtido pela Expressão (1). Esse efeito é reduzido com a aplicação de um fator de correção, como será apresentado a seguir. Passo 4. Aplicação de um fator de correção Uma representação mais realista pode ser obtida aplicando-se um fator de correção para o modelo FPHA0, calculado de forma a minimizar o desvio quadrático médio entre a FPHA0 e a FPH, considerando ainda somente o plano VQ, com valores nulos para vertimento. FPHA(V , Q) FPHA0 (V , Q) (12) Este procedimento é ilustrado na Figura 5 para um valor fixo de volume armazenado. 12 Figura 5. Esquema ilustrativo do ajuste realizado na FPHA0 na grade V Q, para minimizar o erro médio quadrático em relação à FPH. O fator de correção é calculado de forma a minimizar o erro médio quadrático entre a função exata GH(V,Q) e os valores corrigidos (após a aplicação desse fator) para a FPHA, considerando uma amostra significativa de m n pontos quaisquer na região de ajuste: RMS 1 m n GH (vi , q j ) .FPHA0 (vi , q j )2 mn i 1 j 1 (13) O valor de que minimiza a expressão (13) acima é dado por : m n FPHA (v , q )GH (v , q ) 0 i 1 j 1 m i j i j (14) n FPHA (v , q ) 0 i 1 j 1 i 2 j Passo 5. Expressão final para a função A expressão final para a função de produção aproxima dependerá da abordagem escolhida quanto à consideração do vertimento de forma explicita como uma variável independente ou se apenas o consideramos implicitamente na variável Defluência . 13 2.2.1. Modelo Linear por partes com variável defluência Nesta abordagem, representa-se o turbinamento e vertimento por apenas uma variável, denominada vazão defluente , como em [5]. (15) Portanto, de acordo com os procedimentos descritos nas seções anteriores, a geração das usinas hidráulicas no problema de otimização de despacho hidrotérmico é modelada pelas seguintes restrições: GHi ,t ( 0 i,k t V V i D Dit ) i,k i,k k 1,..., K i GHi ,t GH i ,t Para cada usina i=1,..., NH e período t=1,..., T, onde: : número de hiperplanos (cortes) da função de produção da usina i. : parâmetros de cada hiperplano k. Volume armazenado médio da usina i durante o estágio t vazão defluida pela i-ésima usina durante o estágio t geração da i-ésima usina durante o estágio t geração máxima na i-ésima usina durante o estágio t número de usinas hidroelétricas na configuração número de intervalos de tempo. 14 (16) 2.2.2. Modelo Linear por partes com turbinamento e vertimento independentes Esta abordagem, desenvolvida em [12], representa o vertimento como uma variável independente na função de produção. Além de ter uma maior acurácia, devido ao tratamento diferenciado das variáveis Q e S, é particularmente interessante em casos onde a usina verte sem atingir seu turbinamento máximo. Entretanto, a análise de diversas usinas mostra que a função de produção hidroelétrica tem uma forma convexa na dimensão do vertimento, vide a Figura 2, para valores fixos de volume armazenado e turbinamento. Devido a esta propriedade, não é possível realizar, para o vertimento, a mesma aproximação linear por partes descrita anteriormente nas dimensões de e aproximação por secante na dimensão . Para contornar este problema utiliza-se uma para cada par da grade de pontos, como mostram as expressões abaixo. GH ik (V , Q, S ) GH ik ' (V , Q) S Onde, S i ,k i,k S, k 1,..., K i 2 n FPH (V , Q, S j ) 1 arg min n j 1 (GH ik ' (V , Q) S j ) (17) (18) Dessa maneira e seguindo os mesmos procedimentos realizados anteriormente, a formulação matemática da FPHA multivariada considerando o vertimento é: GH it ( 0 i , k V i ,k Vi t Q i , k Qit ) S i , k S it , 0 GH it GH i , t 0 Qi Qi , t 0 S i S i , Para i 1,..., NH , t 1,..., T , k 1,..., K i onde NH é o número de usinas hidroelétricas e T é o número de intervalos de tempo. Os parâmetros de cada hiperplano k são : 15 3. Função de Produção Hidroelétrica Múltipla Como visto anteriormente, a modelagem da geração das usinas hidroelétricas é uma função não linear do seu estado – volume armazenado – e de seu ponto de operação – vazão turbinada e vertida. A operação do parque hidráulico pode, então, ser ditada apenas pelo funcionamento de usinas que contenham reservatórios com regulação de vazão, mesmo considerando a modelagem individualizada das usinas hidroelétricas. Isso porque as usinas sem regularização (chamadas de usinas a fio d’água) inerentemente defluem, preferencialmente por turbinamento, as afluências provenientes das usinas de montante e suas próprias afluências naturais. Baseado nisso e na topologia hídrica do sistema, é possível idealizar conjuntos de usinas hidroelétricas que condensem reservatórios com seqüências de fio d’água a jusante, até que seja encontrado novo reservatório ou o oceano, fechando a cascata (vide seção 3.1) . A esse conjunto de usinas em que se subdivide uma cascata deu-se o nome neste trabalho de usina “agregada”. Nos modelos de coordenação hidrotérmica de horizonte maiores, usualmente se considera apenas usinas com regularização mensal como reservatório, o que faz com que existam diversas usinas com modelagem a fio d’água na topologia. Portanto, tal abordagem se torna especialmente interessante para tais modelos. Ainda, nessa nova modelagem proposta, os aspectos principais da operação individualizada de uma usina, como as afluências naturais, função de produção hidroelétrica, balanço hídrico e eventuais restrições de afluência ou defluência, podem 16 ser representados. Existem aspectos que não podem ser exibidos nessa modelagem, como por exemplo os tempos de viagem da água, o unit commitment das usinas hidroelétricas, restrições elétricas internas aos subsistemas e restrições de rampa. Porém, tais aspectos já não costumam ser considerados, em geral, em modelos de médio/longo prazo. 3.1 Identificação de uma usina agregada A identificação de uma usina agregada, teoricamente, não é complicada. Considere a seguinte topologia de usinas hidroelétricas individualizadas, vide Figura 6 (a), onde as usinas com regularização são exemplificadas por triângulos e as fio d’água por círculos. Começando-se por um ou mais reservatórios em paralelo, as usinas fio d’água a jusante na cascata são adicionadas ao conjunto até que se atinja uma usina de regularização. Nesse momento, “quebra-se” a cascata e dá-se inicio uma nova usina agregada, como mostra a Figura 6 (b). (a) (b) Figura 6. Topologia de usinas agregadas (b), construída com base na topologia de usinas individualizadas (a). Quando uma cascata possuir mais de uma usina com reservatório em paralelo - vide a cascata D e a conseqüente usina agregada na Figura 6 – a modelagem se torna mais complexa e podemos propor duas maneiras de se estruturar a topologia das agregadas para esse caso de reservatórios “em V”, que serão analisados em mais detalhes na seção 3.3. 17 Portanto, para cada uma dessas usinas agregadas, pode ser obtida uma “Função de produção hidroelétrica múltipla (FPHM)”. Isso nos proverá a exata geração de cada conjunto, sem aproximações, baseado na defluência dos reservatórios a montante e no vetor de afluências naturais das usinas fio d’água. Ressalta-se que, como esta função depende dos valores de vazão afluente natural às usinas que compõem a usina agregada, será necessária uma função de produção para cada cenário. Ou seja, enquanto em um problema determinístico haverá apenas uma FPHM por período, em um problema estocástico será construída uma FPHM para cada cenário. A seguir, mostram-se os cálculos para a obtenção dessa Função Múltipla para os casos existentes a partir da topologia hidrológica do sistema e, por fim, demonstra-se parte da lógica existente no algoritmo criado para a identificação e criação das Usinas Agregadas 3.2 Exemplo de cálculo da FPHM - caso simples (usinas em série) Nesse caso, a usina agregada é composta de apenas um reservatório de montante com várias usinas fio d’água a jusante na cascata, até que se encontre um novo reservatório. 3.2.1. Apenas uma usina a fio d´água Primeiramente, vamos exemplificar a idéia do cálculo da geração da usina agregada para apenas uma usina sem regularização a jusante, como mostra a Figura 7 para depois generalizar para “N” usinas na cascata. Figura 7. Esquema de situação topológica de caso particular com somente uma usina a jusante na cascata Os dados de entrada da função são a defluência afluência incremental à usina a fio d’água 18 do reservatório, seu volume ea Decidida uma defluência para a usina de montante, seu turbinamento podem ser expressos na equação abaixo, onde e vertimento é a restrição operativa da usina com relação à vazão máxima suportada por seu conjunto de turbinas. (19) Desse modo, tem-se que a geração do reservatório é: (20) Onde FPH é a função de produção exata da usina, como explicado na seção dois. Seguindo a cascata, para a usina 2 (dois), considerando a afluência que chega à usina hidrelétrica e que esta só irá verter ao atingir seu turbinamento máximo , podemos escrever, de maneira similar: (21) Lembrando que é constante por se tratar de uma usina sem regularização. Dessa maneira, teríamos que a geração dessa usina agregada corresponde à soma dessas duas gerações encontradas. (22) 19 3.2.2. Diversas usinas a fio d´água Para um caso mais geral, onde há usinas sem regularização em cascata, como na Figura 8, estendem-se os cálculos da geração em cada usina fio d’água n, de modo que o seu turbinamento será a soma da defluência no reservatório com as incrementais de todas as usinas a fio d’água à montante. Caso esse turbinamento tenha chegado ao limite de restrição operativa da hidrelétrica, o turbinamento é estabelecido no máximo operacional definido e verte-se a água restante. Considerando que as usinas são indexadas de ordem crescente de montante para jusante, tal raciocínio é formulado abaixo: (23) Onde: E, por conseguinte, a geração da usina agregada , como função apenas do estado (volume armazenado) e operação (defluência) da usina de montante é dada por: (24) 20 Figura 8. Esquema de situação topológica para o caso genérico de diversas usinas fio d’água a jusante. 3.3 Caso em V Quando existe mais de uma usina com reservatório defluindo água para o mesmo leito de um rio, com usinas a jusante, é configurado um caso “em V” ou caso geral. Dessa forma, existe um número de opções na maneira de ser formar o conjunto das usinas agregadas, esquematizadas na Figura 9 abaixo. Figura 9. Diferentes opções de modelagem quando existem dois ou mais reservatórios a montante. 21 A opção (a) e a opção (c) serão tratadas com mais detalhes ainda nesse capítulo. A primeira opção consiste em incluir os reservatórios e a cascata de fios d’água a jusante em uma única função; e a última se considera funções individuais para cada reservatório e uma incluindo todas as usinas sem regularização. Na opção( b), escolhe-se um reservatório para compor uma função múltipla, como no caso simples já mencionado, e a geração hídrica dos reservatórios não selecionados é modelada individualmente. Essa opção não será considerada neste estudo, pois o interesse primordial é analisar o comportamento da FPHM nas situações mais extremas (a) e (c). É válido ressaltar que as ponderações feitas no caso simples serão também utilizadas no caso em V. Isto é, a geração da usina agregada é função apenas do estado e do ponto de operação das usinas de montante e a hipótese de que uma usina só irá verter ao atingir seu turbinamento máximo, definido como uma restrição operativa à vazão das turbinas de uma usina, 3.3.1. . Representar como uma única usina Suponha, como indicado na Figura 10, que existam montante e reservatórios em paralelo à usinas a fio d’água em cascata a jusante. Os índices de 1 a compreendem os reservatórios e os subsequentes correspondem às usinas a fio d´água, indexadas de forma crescente de montante para jusante. O número de variáveis independentes da função de produção múltipla, no caso de representarmos todo o conjunto escolhido em apenas uma única usina agregada, será de . Isso porque cada reservatório contribuirá para a função com um par de variáveis independentes, e . Portanto, utilizando um raciocínio semelhante ao do caso simples, obtém-se a fórmula para a geração da seguinte maneira: (25) 22 Onde: Figura 10. Esquema de situação topológica para o caso genérico com várias usinas a montante. Conforme já dito, nesse tipo de modelagem, a função de geração possuirá variáveis independentes. Desse modo, o cálculo da envoltória convexa, utilizada anteriormente para se construir o modelo linear por partes para a função de produção hidroelétrica individual [12] teve de ser estendida para o caso n-dimensional e será objeto de estudo na seção 4. Entretanto, o cálculo da envoltória convexa para o caso n-dimensional pode se tornar muito custoso e pesado, em termos computacionais, 23 posto que a dimensão dos hiperplanos que a compõem estariam na dimensão . Na tentativa de contornar tal problema, foi idealizada a opção a seguir. 3.3.2. Utilizar modelos diferentes para os reservatórios e o conjunto de usinas a fio d’água Uma maneira de se diminuir o número de variáveis na função de produção hidrelétrica múltipla é apresentada na Figura 11. Ao invés de agrupar os reservatórios em paralelo e a cascata de fio d’águas a jusante em apenas um conjunto, consideram-se funções individuais para cada reservatório e uma função múltipla para o conjunto de fio d’águas. Ou seja, uma usina agregada será composta apenas da cascata das diversas usinas sem regularização e para cada reservatório em paralelo a montante é definida outra usina agregada Os cálculos para os reservatórios utilizam apenas a função de geração individual, portanto, suas funções de produção, em princípio, serão semelhantes ao modelo individual apresentada no Capítulo 2. A geração agregada é calculada apenas para as usinas a fio d´água em cascata a jusante. Dessa maneira, no esquema da figura em questão, temos que para cada reservatório : (26) A função de produção hidroelétrica múltipla para a cascata de usinas a fio d’água considerará como parâmetro as defluências de cada usina com reservatório à montante. Sendo essa cadeia chamada de , como mostra a Figura 11, temos: (27) Onde: 24 Figura 11. Detalhamento da criação das usinas agregadas, quando aplicada a proposta de separar os reservatórios da cascata de usinas a fio d’água. 3.4 Algoritmo de Identificação de uma Usina agregada O Fluxograma da Figura 12 tenta demonstrar parte da lógica envolvida no algoritmo de Identificação e criação dessas Usinas Agregadas. Uma Usina ser “ponta” significa, nessa rotina, que ou ela está a montante de uma Agregada já formada ou não há usinas á jusante. Portanto, no inicio o algoritmo procura a usina mais a jusante na Cascata. Caso essa usina seja um reservatório, é formada uma Agregada com apenas esse elemento, através da chamada da rotina “ADIC_FPHAG. Caso contrário é dado início o processo de identificação da cascata a montante dessa Usina através da rotina recursiva “Identifica_Agregada”. Essa rotina identifica à montante da usina processada, onde alguns casos podem ocorrer: 25 Usina ser Fio D’água Nesse caso, a rotina guarda os dados dessa usina e analisa a próxima IUH de montante, onde IUH refere-se a um índice pré-determinado para cada Usina no programa. Não encontrar Usina Caso não haja usina de montante, o programa guarda os dados dessa usina como uma usina de “Fio D’Água de Cabeceira”. Nesse caso, a usina agregada formada será um conjunto de usinas a fio d’água sem qualquer reservatório a montante que possa influenciar na vazão afluente que chega a cada uma dessas usinas. Dessa maneira, sua geração, para cada cenário de vazão incremental, é fixa e passa a ser calculada a priori. Essas parcelas de geração fixa serão descontadas da parcela de Demanda na solução do problema de programação linear para o despacho hidrotérmico. Usina ser Reservatório A rotina quebra a cascata e retorna para a rotina principal, que também pode ser outra instância (stack) da “Identifica_Agregada” (vide caso abaixo), com os elementos identificados Mais de uma Usina encontrada (bifurcação) Caso haja bifurcações na cascata, ou seja, uma usina ter mais de uma montante o programa chama a si mesmo – recursão – para cada uma dessas montantes, retomando o processo até que para cada ramo seja encontrado ou um Reservatório ou uma Fio D’Água de Cabeceira. Após esses passos, temos todos os elementos identificados e que podem formar uma Agregada. Porém, pode-se ainda escolher entre as opções (a) e (c) descritas no item 3.2. Ou seja, caso a cascata identificada possua reservatórios em paralelo, podemos formar uma única Agregada com todas as usinas ou criar uma contendo apenas o Conjunto de Fio ’Águas outras para cada reservatório em paralelo. 26 Figura 12. Fluxograma de algoritmo para identificação de uma Usina Agregada 27 4. Cálculo da envoltória convexa Encontrar a envoltória convexa ou fecho convexo de um conjunto de pontos é um problema clássico em Geometria Computacional e, para nosso estudo, condição necessária para a construção de um modelo linear por partes para a função de produção tridimensional que apresentará em geral um comportamento não côncavo.(Capitulo 2.2 e 5). De forma geral, dado um conjunto de pontos S, a envoltória convexa deste conjunto é o menor polígono convexo que contém S. Algumas definições, das muitas existentes para o fecho convexo, são apresentadas a seguir. [19] 1. Dados dois pontos distintos , com segmento que e em , o segmento . Um conjunto é o conjunto de pontos é dito convexo se , o . Um polígono com um vértice reflexo - ângulo interior maior - não é convexo. (Figura 13) . Figura 13. Polígono com vértice reflexo não é convexo [18] 2. Uma combinação convexa de um conjunto de pontos em é uma combinação linear dos pontos em S, podendo ser também um vetor, onde todos os coeficientes são não negativos e cuja soma é igual a um. Ou seja, dado um número finito de pontos, a combinação convexa desses pontos é um ponto na forma onde 28 e . Por exemplo, toda combinação de dois pontos está sobre o segmento de reta que liga esses pontos. 3. O fecho convexo do conjunto S de pontos em é o conjunto de todos os pontos que são combinação convexa dos pontos em S. 4. (Teorema de Carathéodory) O fecho convexo de um conjunto S de pontos em é o conjunto de todos os pontos que são combinação covexa de n+1 pontos de S. Logo, a envoltória convexa de um conjunto de pontos no plano é o conjunto de combinações convexas, nesse caso planos, dos seus subconjuntos de três pontos. 5. O fecho convexo de um conjunto S de pontos é a interseção de todos os conjuntos convexos contendo S. 6. O fecho convexo de um conjunto S de pontos em é a intersecção de todos os semi-espaços contendo S. Um semi-espaço no plano é um semiplano. 7. O fecho convexo de um conjunto S de pontos no plano é o menor polígono convexo contendo P que contém S; menor no sentido que não existe outro polígono P’ tal que . 8. O fecho convexo de um conjunto S de pontos no plano é o polígono convexo P com menor área tal que 9. O fecho convexo de um conjunto S de ponto no plano é a união de todos os triângulos determinados por pontos em S. 4.1 Algoritmos para a construção da envoltória convexa Com base nas definições apresentadas na seção anterior e em [22] e [23], mostraremos a ideia de alguns algoritmos, que seguem diferentes abordagens, para a construção do fecho convexo de um conjunto S de pontos em 29 . 4.1.1. Brute Force: Dado um conjunto de pontos P, a idéia é testar cada combinação de (N) pontos, onde N é a dimensão do problema, e verificar se essa combinação gerou um segmento de reta, plano, ou hiperplano que pertence à envoltória convexa. Em 2D, o segmento de reta pertence a envoltória convexa se todos os outros pontos estão abaixo da extensão desse segmento de reta, como mostra a Figura 14 abaixo. Figura 14. Exemplo de Brute Force para caso bi-dimensional. [22] 4.1.2. Gift Wrapping: Também chamado de Jarvis’s March, a idéia é achar pontos que pertençam à envoltória convexa se deslocando o menos possível, no sentido angular. Começando pelo ponto mais a esquerda do conjunto, uma vez que sabemos que este ponto pertencerá à envoltória, o algoritmo fará vários processos iterativos de modo a encontrar o vértice, de todos que ele pode se conectar, com o menor deslocamento antihorário de todos. A Figura 15 ilustra esse processo. Figura 15. Processo de envelopamento de pontos em 2D [22] 30 4.1.3. Divide-and-Conquer: O principal “lema” desse algoritmo é que achar a envoltória convexa de pequenos conjuntos é mais “fácil” do que encontrá-la em conjuntos mais largos. Porém, é necessário um modo rápido de se juntar os conjuntos convexos em um, como mostrado na Figura 16 abaixo. E isso é realizado achando-se as tangentes que ligam esses conjuntos e descartando os pontos que se localizarem dentro dessa nova envoltória. Figura 16. Agrupando conjuntos convexos em um [23] 4.1.4. Quick Hull: A idéia principal desse algoritmo é descartar pontos que não estão na envoltória convexa da maneira mais rápida possível, como mostra a Figura 17. Quadrilátero Inicial no Quick Hull. Para tanto, o algoritmo, no caso bidimensional, começa computando os pontos de máximo e mínimo nas coordenadas x- e y-, esses pontos claramente pertencem à envoltória. Conectando esses pontos é obtido um quadrilátero onde todos os pontos que estiverem dentro deste polígono podem ser descartados sem qualquer consideração. Figura 17. Quadrilátero Inicial no Quick Hull.[23] 31 4.2 Implementação no programa Diante do já mostrado, foi desenvolvido um algoritmo para calcular a envoltória convexa de N M, onde M é o conjunto de pontos necessários para se definir uma região compacta abaixo da curva GH(Q, V). Algoritmos para a determinação de envoltórias convexas em espaços tridimensionais são custosos do ponto de vista computacional. Porém, com base na proposta descrita pelo algoritmo Brute Force, foi desenvolvido em [12] um algoritmo próprio e eficiente que levou em consideração o conhecimento que se tem sobre a forma da função de produção e pôde ser adaptado as particularidades da função de produção. Neste trabalho estendeu-se esse algoritmo para n dimensões, de forma a comportar a nova modelagem da FPHAG para o caso em V, descrito na seção 3.3. Esse algoritmo calculará os hiperplanos que definem uma modelagem linear por partes para a envoltória convexa da região abaixo da curva de produção real da usina (FPH), tendo como abscissas o plano . Essa envoltória é definida como “menor” função côncava cujo gráfico está acima da função original não-côncava, em todos os seus pontos, e é representado pelo conjunto de planos ou hiperplanos que passarão a constituir a FPHA da usina individual ou a FPHAG da Usina Agregada, dependendo da modelagem adotada. 4.2.1. Dados de Entrada A rotina que calculará os planos que definirão a envoltória convexa deve receber como dados de entrada: Número de pontos discretizados para a função Número de dimensões Os pontos correspondentes as variáveis independentes, ou abcissas, em forma de Matriz ( No caso em estudo, os pontos de defluência “ ” e de volume útil “ ”. Os valores da função para cada um desses pontos ( No caso em estudo, a função de produção da Usina Agregada ) 32 4.2.2. Construção dos planos Primeiramente, o programa gera de forma recursiva todas as combinações de “n+1” pontos, onde “n” é o número de abcissas, que poderiam definir planos. Feito isso, são descartadas as combinações onde os pontos são colineares, uma vez que estas não geram planos. Em seguida, a rotina calculará o plano definido por cada uma dessas combinações e verificará se esse plano pertence à envoltória convexa. Ou seja, para cada combinação não colinear, são realizados os procedimentos abaixo: 1. Constroem-se as matrizes que definirão o sistema linear do tipo , onde, para o calculo dos coeficientes do plano, A é a matriz que corresponde as coordenadas do ponto “n”, b é o vetor das soluções de cada ponto e x é o vetor dos coeficientes dos planos. Essas matrizes são exemplificadas para o caso com três dimensões : 2. Resolve pelo método de Gauss o sistema linear, se este for determinado, para achar que será o vetor com os coeficientes dos planos. 3. Verifica se para todos os pontos, com exceção daqueles que formaram o plano, se o valor do ponto aplicado ao plano é maior que o da função, ou seja, se o plano criado está sempre acima da função real para todos os pontos. 4. Caso o passo acima (três) seja validado e o plano já não exista, ou não seja muito "parecido" com algum que já exista, esse plano passa a ser um dos que irão compor a envoltória convexa. Um plano é semelhante a outro já existente caso seus coeficientes estejam dentro de certa tolerância em relação à proximidade com os coeficientes dos planos já existentes. Geralmente, essa tolerância está na casa dos casas decimais. 33 4.2.3. Saída Por fim, a rotina retorna para o usuário - ou para o programa que a chamou - os seguintes dados de saída: Número de planos que compõem a envoltória convexa Os coeficientes de cada hiperplano Os “ ” pontos que compuseram cada um desses hiperplanos ou planos No caso em que a entrada é composta pelos pontos discretizados de Função de Produção Exata da Agregada ( e e a ), a rotina criada obtém com extrema acurácia, para a função real, os planos que compõem a envoltória convexa para uma aproximação linear por partes. O procedimento para avaliar a acurácia entre o modelo linear por partes criado e a função real de entrada é descrito a seguir. 4.2.4. Análise de Sensibilidade Para avaliar a eficácia do algoritmo criado, pode-se realizar um estudo de sensibilidade, comparando o valor de uma função real com a aproximação obtida pela aproximação linear por partes, com base nos seguintes procedimentos: 1. Primeiramente, é montada uma grade de pontos com os valores das variáveis independentes e da função real. 2. Obtêm-se, pelo algoritmo, os planos que compõem a envoltória convexa para a região abaixo da função. 3. Monta-se uma grade de pontos com as variáveis independentes, diferente da do passo um e mais ampla, e calcula-se o valor da função real e da função aproximada. 4. Computam-se os desvios entre os valores calculados no passo três. 34 A grade de discretização foi montada para um número variável de pontos, enquanto a grade de pontos para a comparação das funções manteve-se na faixa dos mil pontos. Os resultados para funções côncavas e convexas genéricas em diversas dimensões foram promissores. Os desvios encontrados não ultrapassaram o valor de 2%, mesmo em casos onde a grade de discretização na montagem da envoltória convexa fora criada com poucos pontos. Como, por exemplo, 3 (três) pontos para cada eixo de variável independente em um caso da quarta dimensão ou 5 (cinco) pontos em um caso tridimensional – É claro que se deve ter um número mínimo de pontos compondo a grade de entrada do algoritmo, uma vez que se corre o risco de perder a forma da função e, consequentemente, criar um modelo linear que não representa corretamente uma aproximação da função real. Tal fato é exemplificado abaixo, para o caso bidimensional e a função parábola . Figura 18. Gráficos mostrando os 3 pontos dados como entrada para o programa e a comparação entre a função real ( ) e o modelo linear criado para uma grade de pontos. Apenas três pontos não são suficientes para a função ter de fato o contorno de uma parábola, vide Figura 18. Desse modo, é inviável a criação de uma aproximação que represente essa função. 35 Com o aumento do número de pontos na entrada da rotina do cálculo da envoltória convexa, a forma da função é mantida e o modelo linear obtido representará corretamente a função real. Isso ocorre na Figura 19. Com dez pontos de entrada, os desvios entre as duas funções ainda pode ser levemente percebido, o que não ocorre, por captar todas as peculiaridades da função real, no caso com 100 (cem) pontos. Figura 19. Gráficos de comparação entre a função real e a aproximada 36 5. Modelo linear por partes para a FPHM Nessa seção, será mostrada a aproximação da Função de Produção Hidroelétrica Múltipla – FPHM, discutida na capitulo 3 (três) – por um modelo linear por partes, através de uma mescla das metodologias propostas em [12] e [5]. Essa aproximação será uma extensão do que é atualmente feito para a FPHA individual, mostrada no capitulo 2 (dois), agora para o conceito idealizado de uma usina agregada, onde a geração dessa usina agregada é representada pela soma das gerações de todas as usinas que a compõem em função apenas das variáveis operativas das usinas de montante com armazenamento. A estratégia para a consideração do vertimento, para esse estudo inicial, será a representar, para cada usina de montante, o turbinamento e o vertimento como uma só variável, denominada vazão defluente, como [5] e 2.2.1. Isso foi adotado por duas razões: O efeito da vazão turbinada e vertida das usinas de montante é rigorosamente o mesmo para as usinas a fio d’agua em jusante A representação do vertimento causa um grande aumento na dimensão na função quando há vários reservatórios em paralelo à montante. É válido ressaltar que, caso exista alguma Usina Agregada que não tenha em sua composição um reservatório e também não exista um reservatório mais a montante na cascata (como quando usamos a opção (c) na seção 3.3.2), sua geração será fixa, em 37 cada período analisado. Portanto, não é necessária a criação de um modelo linear ou aproximações para essas Usinas Agregadas. Figura 20. Usina Agregada com apenas fio d’águas, sem reservatório a montante. A seguir, descrevem-se todos os passos da construção da Função de Produção Hidroelétrica Aproximada Múltipla – FPHAG: 5.1 Hipóteses iniciais e dados disponíveis As hipóteses gerais são as mesmas que as assumidas para o modelo individualizado da seção 2. Ou seja, para cada uma das usinas que compõem a Agregada, assume-se um fator de eficiência constante para o conjunto turbina-gerador. As perdas hidráulicas são calculadas como um percentual da geração, e não variam com a vazão defluente. Ambos os parâmetros podem ser computados a priori a partir do estado do reservatório (volume armazenado) no início do período de estudo, e uma estimativa da vazão média defluente ao longo do período de programação. As zonas proibidas de geração são ignoradas. A cota de montante do reservatório é calculada por um polinômio de quarto grau em V, e a curva-chave do canal de fuga é um polinômio de quarto grau de Q e, em algumas usinas, da soma de Q e S. A produtividade por unidade de queda de cada usina (comumente denominada de produtibilidade específica), expressa em é conhecida. Os coeficientes de evaporação mensal dos reservatórios são dados. Os limites para o volume armazenado, turbinamento, vertimento e geração hidroelétrica também são todos conhecidos. A grande maioria destes dados está contida no arquivo de cadastro de usinas hidroelétricas, fornecidos pelo ONS – Operador Nacional do Sistema. 38 5.2 Cálculo da função exata em uma grade de discretização. A definição de uma grade de discretização para a geração da Usina Agregada dependerá do número de reservatórios que a compõem. Primeiramente, a variável de volume útil é discretizada para cada reservatório tendo como limites suas restrições operativas. A variável de defluência também é discretizada para cada reservatório, mas os limites de defluência mínima e defluência máxima serão os da Usina Agregada que são calculados da seguinte forma: O valor de defluência mínima é dado pelo valor máximo entre os valores de turbinamento mínimo restritivo das usinas no conjunto formado pelo reservatório e a cascata de fio d’águas a jusante. O valor de defluência máxima é dada pelo valor máximo entre os valores de turbinamento máximo restritivo das usinas no conjunto formado pelo reservatório e a cascata de fio d’águas a jusante. Também são incluídos os pontos de não diferenciabilidade, ver seção 8.1, caso existam. Esses pontos ocorrem onde o turbinamento máximo de uma das usinas que compõem a agregada atinge o máximo. Nesse sentido, é importe que se inclua cada um desses pontos na grade de discretização da função de produção exata – FPHM. Além disso, podem-se incluir pontos além do turbinamento máximo encontrado para a Usina Agregada, para que a grade em contenha pontos onde exista vertimento para todas as usinas que compõem essa Agregada. Dessa maneira, a grade de discretização para a defluência englobará os pontos mais extremos possíveis, melhorando a acurácia do modelo linear por partes a ser criado. Portanto, para cada ponto da grade , onde é o número de reservatórios em paralelo na configuração, é calculada a geração da Usina Agregada pela expressão discutida na seção 3.3. 39 5.3 Cálculo da envoltória convexa Como função de produção individual em geral apresenta trechos não convexos, o mesmo pode se esperar para a função agregada. Desta forma, aplica-se o algoritmo estendido para (onde se refere ao número de reservatórios presentes nessa configuração), discutido no item 4, para obter os hiperplanos que definem a envoltória convexa da função. A Figura 21 a seguir ilustra uma região hipotética definida por essa envoltória convexa tridimensional, denotada por C, onde existia apenas um reservatório na configuração. Os pontos brancos correspondem àqueles onde a FPHM real não encosta em sua envoltória convexa, indicando as regiões onde essa função não é côncava. Figura 21. – Exemplo de envoltória convexa para a região abaixo da FPHM com um reservatório [21] Como foi discutido no item 3.3, caso existam situações onde o número de reservatórios em paralelo torne muito elevado o custo computacional para o calculo da envoltória convexa da Usina Agregada em questão, pode-se recorrer a decomposições alternativas para a definição dessa Agregada. A Figura 22 exemplifica o caso onde M = 3, para o qual a quantidade de variáveis na função agregada é 6, 5, 4 ou 3, nas decomposições (a), (b) e (c), respetivamente. Nestas variantes, as variáveis da FPHM incluem as defluências de todos os reservatórios de montante, porém apenas os armazenamentos 40 dos reservatórios da usina agregada (incluídos na região pontilhada). Os demais reservatórios possuem uma FPHA individual, como em [4]. 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Figura 22. Formas alternativas de definir as usinas agregadas, a fim de diminuir o custo computacional no cálculo da envoltória convexa da função 5.4 Aplicação de um fator de ajuste O modelo agregado, assim como o individual, é, em geral uma aproximação otimista da função de produção exata que, em nosso estudo, consiste na . Uma representação mais realista é obtida aplicando-se um fator de correção α, da mesma forma que foi mostrado no item 2.2 deste trabalho. Esse fator minimiza o desvio quadrático médio entre a inicial e a . (28) Este procedimento está ilustrado na Figura 23, para uma agregada com um reservatório e valor fixo de volume útil. 41 Figura 23. Esquema ilustrativo do ajuste realizado na FPHAG0 na grade D V, para minimizar o erro médio quadrático em relação à FPHM. O cálculo de α é semelhante ao que foi idealizado no modelo linear para usinas individuais e sua expressão é mostrada abaixo: m n FPHAG (d , v )GH (d , v ) 0 i 1 j 1 j i j (29) m n FPHAG (d , v ) 0 i 1 j 1 5.5 i i 2 j Expressão final para a função Realizado os procedimentos descritos anteriormente, a formulação matemática da FPHAG a ser utilizado no problema de otimização de despacho hidrotérmico é dada por: (30) para cada Usina Agregada , período e cenário , onde: 42 : número de hiperplanos (cortes) da FPHAG para a usina i, período e cenário : parâmetros de cada hiperplano Volume útil do reservatório Defluência do reservatório a montante na cascata a montante na cascata Geração da -ésima Usina Agregada durante o período e cenário Geração máxima da -ésima Usina Agregada durante o período Sendo o termo independente e os termos associados ao armazenamento e defluência, respectivamente, de cada usina de montante, para a ésima restrição da ésima usina agregada. Observe que, devido ao impacto das afluências às usinas a fio d´água na geração da usina agregada, os termos da função variam com o período cenário . 43 eo 6. Reformulação do problema de coordenação hidrotérmica considerando a modelagem proposta Este capítulo tem como objetivo principal a formulação do problema do planejamento energético de médio / longo prazo, considerando o uso do modelo linear recém-criado (FPHAG). O planejamento em questão é uma otimização de vários estágios que visa à minimização do custo total de operação do sistema. O uso da Função de Produção Hidroelétrica Aproximada Múltipla permitirá que se resolva o problema de despacho hidrotérmico, considerando ainda as características da operação individualizada, porém com um número bem menor de equações para as restrições do problema de programação linear, o que diminui o esforço computacional do programa sem perda de acurácia. Para tanto, é necessário uma reformulação do problema de programação linear, anteriormente criado para o modelo individualizado, por causa das características inatas ao modelo agregado, como: Variável de geração ( ) da usina agregada ao invés das gerações individuais de cada usina Eliminação das variáveis e restrições associadas ao balanço hídrico para as usinas a fio d’água, uma vez que a operação é ditada pelas usinas com reservatório 44 Inclusão de parcelas conhecidas a priori no lado direito de algumas restrições, referentes a operação das usinas a fio d’água “de cabeceira” em cada cenário. Na sequência, são descritas as principais equações do problema de planejamento da operação energética, comparando os dois modelos. 6.1 Função Objetivo Como comentado acima, a função objetivo do problema visa minimizar o valor do custo total de operação do sistema1. Esse custo é composto pelo custo do combustível das UTEs ao longo do horizonte de planejamento e a penalidade do déficit. (31) Onde: Custo de operação no período ; NSIS Número de subsistemas; Número de usinas térmicas do subsistema s; Custo da usina térmica n do subsistema s no período t; Geração da usina térmica n do subsistema s no período t; Custo de déficit associado ao subsistema; Déficit do subsistema s para o período t; Custo futuro associado ao período t; Taxa de desconto; 1 Atualmente consideram-se parcelas de aversão a risco na função objetivo, porém isto não tem relação com a modelagem proposta neste trabalho. 45 6.1.1. Penalidades para violação de restrições Para que o problema de programação linear (PPL) seja sempre viável, é utilizado um artifício, colocando uma variável de folga em cada uma das restrições. Essas variáveis têm um custo associado, ou penalidade, bem alto, de forma que apenas serão utilizadas caso o problema seja inviável. Essas folgas, são também otimizadas pela rotina de resolução do PPL, o que dá um parecer a um usuário experiente sobre qual restrição que mais está prejudicando o problema e onde possíveis medidas podem ser adotadas de forma eficiente. 6.2 Função de produção hidroelétrica Consistem nas expressões finais para o modelo aproximado da função de produção pelo método linear por partes. Tais expressões foram discutidas nas seções 2.2, para o modelo individualizado e 5.5, para o modelo agregado. 6.2.1. Formulação com gerações individuais GH i ,t ( 0 i ,k V i ,k t Vi Q i ,k Qit ) S 0 Qi ,t Qi ,t i ,k S it , k 1,..., Ki , (32) GHi ,t GH i ,t , para cada usina i e período t 6.2.2. Formulação com FPHAG (33) para cada Usina Agregada , período e cenário . 46 Nessa restrição também será tratada a exceção para o caso onde existam agregadas em um sistema com caso em V, onde a opção (c) discutida na seção 3.3 é tomada. Ou seja, uma agregada que não contenha reservatórios, com agregadas individuais para cada reservatório a montante. Neste caso, a restrição para essa Usina Agregada em especial será: (34) Portanto, foi construído um modelo próprio para essa usina agregada. Mas é garantido, com essa modificação, que sua operação é definida pela defluência dos reservatórios a montante. 6.3 Balanço hídrico Segundo o princípio de conservação da massa, o volume da água que aflui a um reservatório deve ser igual ao volume que deflui do mesmo, em qualquer instante de tempo. Dito de outro modo, a quantidade de volume que chega ao reservatório deve ser igual à soma dos volumes evaporado, infiltrado, deplecionado e resultante da variação do nível no reservatório durante o estágio. Desse modo, desprezando os efeitos de evaporação e da infiltração, tem-se que: 6.3.1. Formulação Tradicional (35) Em que, é o número de períodos/estágios considerados ; é o número de usinas hidroelétricas UHEs presentes na configuração; 47 é o conjunto de usinas hidroelétricas UHEs localizadas imediatamente à montante da i-ésima UHE; é o índice associado ao conjunto de ; é o volume armazenado no reservatório da i-ésima UHE no final do estágio t em (hm3) é a vazão turbinada pela x-ésima UHE durante o estágio t (m3/s) é a vazão vertida pela x-ésima UHE durante o estágio t (m3/s) é o fator de conversão da unidade de vazão (m3/s) para a unidade de volume (hm3) considerando a duração do estagio de interesse; é a vazão afluente incremental ao reservatório da i-ésima UHE no período t (m3/s) No modelo individualizado, cada usina terá sua restrição própria e influenciará em sua jusante. As usinas a fio d’água também são consideradas. Para este caso o volume é nulo nessa restrição. 6.3.2. Formulação com FPHAG No modelo agregado, as usinas a fio d’água não terão qualquer restrição a elas associadas na resolução do problema linear. O balanço hídrico para essas usinas é automaticamente considerado na construção do modelo para a função de produção múltipla FPHAG. Quanto às usinas com reservatório, que ditam a operação do sistema, duas modificações são necessárias, em relação ao modelo tradicional: Como uma das variáveis de decisão é a defluência das Usinas Agregadas , ao invés da defluência da usina individualizada imediatamente à montante, deve ser considerada a defluência do conjunto de usinas Agregadas imediatamente à montante do reservatório i. De forma consequente a primeira modificação, deve-se incluir como vazão afluente adicional a cada reservatório, a soma dos valores (conhecidos) de vazões naturais incrementais das usinas a fio d’água a montante, até o primeiro reservatório antecessor na cascata. Esse conjunto de fio d´águas a montante é representado como 48 (36) Onde, é o número de reservatórios no sistema; é a defluência da Usina Agregada i durante o período t; é a defluência da usina agregada m, imediatamente à montante, durante o período t; é a afluência incremental de cada usina a fio d’água j, no estágio t, que pertence ao conjunto 6.4 Atendimento à demanda Essas restrições garantem que a energia gerada total nas UHEs e UTEs (incluindo o défict) seja igual à demanda de energia do sistema para cada estágio do horizonte de planejamento. 6.4.1. Formulação Tradicional (37) Em que, é o número total de UHEs do sistema; é a energia gerada pela i-ésima UHE no estágio t (MWh); é o número de usinas térmicas da configuração; 49 é a energia gerada pela j-ésima usina termoelétrica UTE no estágio t (MWh); 6.4.2. Formulação com FPHAG Para o modelo agregado o conjunto de gerações individuais é substituído pela variável referente à geração da Usina Agregada. Para isso, todas as usinas devem pertencer ao mesmo conjunto para o qual a restrição se aplica (ex: mesmo subsistema), o que em geral já ocorre nos modelos de médio e longo prazo. É considerada a exceção, conforme já discutido anteriormente, do caso onde existam Usinas Agregadas sem reservatório em sua configuração e sem usinas agregadas à montante. Para esse caso se faz necessário descontar, na parcela da Demanda, a geração dessas usinas agregadas, que é fixa uma vez que as depende apenas do cenário de vazão afluente. (38) Onde. é o número de Usinas Agregadas que possuem restrição no PPL; é o número de Usinas Agregadas que não possuem restrição no PPL, ou seja, compostas apenas de usinas a fio d’água e que não possuem reservatório a montante na cascata. é a geração da Usina Agregada, no período t, que possui geração fixa calculada a priori. 6.5 Limites para as variáveis de geração 6.5.1. Formulação Tradicional 50 No modelo individualizado, cada usina tem seu limite próprio de Geração, que entra no problema de programação linear como uma inequação linear: (39) Onde, é a variável de geração individual da usina i no período t; é a geração máxima dessa usina i, com base nas características operacionais; 6.5.2. Formulação com FPHAG No modelo agregado, as restrições de geração são para cada Usina Agregada. Portanto, as inequações lineares são da seguinte forma: (40) Em que, é a variável de geração agregada da usina agregada i no período t; é a geração máxima da Usina Agregada i; é a geração máxima da usina individual j; é o numero de usinas individuais que compõem a usina agregada i; 6.6 Limites para as variáveis de operação hidráulica 6.6.1. Formulação Tradicional 51 No modelo individualizado, consiste de inequações lineares que definem os limites das variáveis de vazão turbinada 6.6.2. e vazão vertida de cada usina UHE da configuração. Formulação com FPHAG Já no modelo agregado, essas inequações definem o limite da variável de decisão defluência 6.7 para cada usina agregada i. Síntese das modificações Abaixo, uma tabela mostra uma síntese dos blocos das restrições para o PPL que foram ou removidas ou modificadas ou inseridas, para a utilização do modelo agregado – FPHAG Tabela 1. Síntese das Modificações para o Problema da Coordenação Hidrotérmica considerando a modelagem FPHAG ► Variável (1...NDAM) (1...NUSIH) GH GHA (1...NDAM) (1...NUSIH) (1...NUSIH) (1...NDAM) (1...NFPHA) (1...NFPHAG*) Modificado Removido Removido Inserido - - Modificado - - - Removido Inserido Modificado Removido Removido - Removido - Removido Inserido - - Inserido Removido Inserido Inserido - Removido R H S (1...NFPHAG FPHAG *) (1...NSIST) Defluência (1...NFPHA) Vertimento DEM Turbinamento FPHA BHID Restrição ▼ Volume 52 7. Pós-processamento após a resolução do problema para obter operação individualizada das usinas A saída do problema de otimização (PPL) para o modelo agregado terá como principais soluções a geração reservatórios da usina agregada i e a defluência e armazenamento dos que compõem o sistema, em cada período t analisado. Dessa forma, é necessário realizar um tratamento desses dados para atribuir a cada usina sua parcela de geração individualizada, assim como a obtenção dos valores de turbinamento e vertimento para a operação hidráulica de todas as usinas do sistema. 7.1 Gerações individuais O cálculo preliminar da parcela de geração a ser atribuída a cada usina individualizada j é feito utilizando-se como referência a parcela usina na geração exata da usina agregada da geração dessa , obtida a partir dos valores de de cada reservatório dessa usina agregada. Obtidos como resultado do PPL. (41) 53 Feita essa parte preliminar, foi desenvolvida uma rotina proposta para o caso de alguma Usina Individual atingir sua geração máxima. Nesse caso, essa a geração dessa Usina é fixada com sua geração máxima e existirá uma sobra de geração, , que deve ser alocada entre as outras usinas a jusante que pertencem à Usina Agregada. A rotina é resumida a seguir. Inicialização: Analisa a geração de cada usina individual na cascata. Caso ( Geração da usina é maior que o máximo) o algoritmo é chamado. Algoritmo : Atualiza o índice do conjunto de usinas que podem ter acréscimo em sua geração (não atingiram o máximo). Atualiza cada geração individual por . Analisa as gerações das usinas, se encontrar usina com geração acima da permitida, 7.2 , repete o algoritmo. Operação hidráulica A operação hidráulica de cada usina individual, isto é o valor de turbinamento e vertimento, é automaticamente calculado na rotina que obtém a parcela de geração individualizada de cada usina pertencente à usina agregada. Esse cálculo tem como base a defluência dos reservatórios de montante e as afluências incrementais que chegam a cada usina para o período t. Para os reservatórios Para as usinas a fio d’água de jusante Agora, a defluência que chega à primeira usina a jusante do reservatório é calculada como: . Caso exista outra usina a fio d’água a jusante desta usina j, a defluência será e assim por diante, percorrendo as usinas que compõem a agregada. 54 Dessa maneira, os valores de turbinamento e vertimento são obtidos de forma semelhante: 55 8. Resultados numéricos para o sistema brasileiro Nesta seção serão discutidos e ilustrados os resultados obtidos na aplicação da metodologia proposta em diversos conjuntos e topologias hidrológicas presentes no sistema real brasileiro. Utilizaremos os dados oficiais das usinas na programação da operação realizada pelo ONS. O programa desenvolvido para obter tais resultados foi escrito em FORTRAN, por diversos motivos, como, por exemplo: compatibilidade com a linguagem utilizada atualmente nos softwares de coordenação hidrotérmica do sistema brasileiro (Fortran e C) e possibilidade de comparação direta com o modelo individualizado (FPHA), em termos de custo computacional, já que este já havia sido implementado em Fortran. O capitulo foi dividido em três partes para melhor entendimento e distribuição dos dados e resultados. Primeiramente, será abordado o formato da função de produção hidroelétrica múltipla – FPHM. Feito isso, serão mostrados os resultados obtidos após a aproximação pelo modelo linear por partes para a função de produção – FPHAG. Finalmente, serão discutidos os resultados preliminares para a coordenação hidrotérmica utilizando o modelo proposto. 8.1 Analise do formato da FPHM Iremos, inicialmente, realizar uma analise detalhada da função de produção múltipla exata – FPHM para um conjunto de quatro usinas hidroelétricas. A topologia desse conjunto, que formará uma Usina Agregada, é mostrada na Figura 24. Na Tabela 2, são listadas características das usinas do exemplo em questão. A Tabela 3 mostra os coeficientes dos polinômios cota montante ou jusante para cada usina, os polinômios cota montante para as usinas a fio d’água foram emitidos, uma vez que são constantes. 56 Estreito M. Moraes ( Jaguara Igarapava Figura 24. Topologia hídrica do conjunto de Usinas do exemplo Tabela 2. Características das Usinas que compõem a Agregada Produtividade Usina Perdas Específica (% ou m) (MW/(m3/s) m=1 0,0083 0,80% 1328,0 478,0 j=1 0,0088 1,50% 2028,0 1150,0 j=2 0,0089 1,34% 1076,0 450,0 j=3 0,0090 0,30 m 1480,0 230,0 Total - - 5921,0 2308,0 Os limites para o armazenamento do reservatório de Mascarenhas de Moraes é e Tabela 3. Polinômios cota para o caso em questão. Coef =1 =1 =2 =3 =4 0 6,42e-2 6,19e+2 5,57 e+2 5,10e+2 4,94e+2 1 8,09e-03 1,73e-3 1,22e-3 1,77e-3 7,82e-4 2 -3,70e-07 -4,89e-8 -7,51e-8 -7,40e-8 -1,04e-7 3 -7,11e-11 - 2,16e-12 1,12e-11 - 4 9,12e-15 - - -4,80e-16 - Uma grade de pontos é mostrada na Tabela 4, com as gerações individuais e os valores de e de cada usina e a geração total para cada ponto de defluência do reservatório, mantendo as afluências naturais incrementais constantes nos valores 57 médios de cadastro MLT e o volume de água do reservatório em 50% de sua capacidade máxima. Tabela 4. Grade de pontos para a FPHM – Exemplo Ilustrativo m=1 j=1 j=2 j=3 Qdef Qtur Qver GHind Qtur Qver GHind Qtur Qver GHind Qtur Qver GHind GHTOT 0,0 - - 0,0 272 - 155,13 548,0 - 232,47 1115 - 171,65 559,26 265,6 265,6 - 89,5 538 - 304,89 813,6 - 341,89 1381 - 210,82 947,14 531,2 531,2 - 177,1 803 - 453,30 1076 3,2 447,93 1480 166,2 228,11 1306,44 796,8 796,8 - 262,7 1069 - 600,42 1076 268,8 443,75 1480 431,8 226,23 1533,14 1062, 4 1062 - 346,4 1334 - 746,31 1076 534,4 439,62 1480 697,4 224,55 1756,97 1328, 0 1328 - 428,3 1600 - 891,05 1076 800 435,53 1480 963,0 223,07 1978,04 1593, 6 1328 265,6 423,7 1866 - 1034,69 1076 1065,6 431,47 1480 1228 221,78 2111,70 1859, 2 1328 531,2 419,1 2028 103,7 1120,02 1076 1331,2 427,42 1480 1494 220,69 2187,33 À medida que a defluência do reservatório cresce, existe a possibilidade de que alguma UHE a Jusante na composição da Usina Agregada atinja seu valor máximo de turbinamento, passando a verter água. Isso é bem exemplificado na Tabela 4, onde as afluências incrementais estão fixadas em 272,5, 277,5 e 567 m3/s, para Estreito, Jaguará e Igarapava respectivamente. Observa-se que para o terceiro ponto de , a afluência que chega a Jaguará é de , resultando em um vertimento de 58 . Nesse mesmo ponto, a afluência que chega a Igarapava é de causa , o que . O sexto ponto de defluência é o valor máximo operacional de M. de Moraes. Portanto, nos próximos pontos essa usina passará a verter. Finalmente, Estreito só atinge, nesse caso, seu valor máximo no ultimo ponto mostrado da Tabela 3, onde e, por conseguinte, verte . Os pontos onde uma usina individual atingiu seu máximo operacional de turbinamento são chamados de pontos de não diferenciabilidade da Usina Agregada, uma vez que a partir desse ponto, um acréscimo na afluência da usina em questão causará, devido ao vertimento, uma variação brusca na produtividade da Agregada, reduzindo a eficiência do conjunto. O gráfico da geração exata dessa usina agregada, em função do armazenamento e da defluência do reservatório de montante, encontra-se na Figura 25. Também é disposto, na Figura 26, uma analise de sensibilidade da geração desse conjunto quando a afluência incremental constante o par em uma usina a fio d’água específica é variada, mantendo-se e as afluências naturais das outras usinas. Em cada caso, os pontos de não diferenciabilidade aparecem nos instantes que as usinas de jusante atingem ou seu turbinamento ou potência máxima. 59 Figura 25. Geração Hidroelétrica do conjunto ( M. de Moraes, Estreito Jaguará e Igarapava) em função da operação de M. de Moraes. Figura 26. Análise de sensibilidade em relação à variação na vazão incremental de cada uma das usinas a fio d´’agua, respectivamente da esquerda para a direita. Em seguida, apresentamos primeiramente a topologia hidráulica na Figura 27, onde o índice M refere-se à usina agregada criada e, em seguida, a função de produção múltipla, Figura 28 e Figura 29. 60 Figura 27. Topologia e Usinas Agregadas formadas É válido ressaltar que mudamos a ordem dos eixos de defluência e volume do reservatório de montante nos gráficos acima. Isso foi feito apenas para dar outra visão do gráfico da geração hidroelétrica múltipla Agregada 1 200.000 180.000-200.000 Geração Hidroelétrica (MW) 180.000 160.000-180.000 160.000 140.000-160.000 140.000 120.000-140.000 120.000 100.000-120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 100.0 90.0 80.0 70.0 V(%) 60.0 50.0 30.0 40.0 20.0 .0 10.0 .000 728.00 80.000-100.000 655.20 582.40 60.000-80.000 509.60 436.80 40.000-60.000 364.00 291.20 20.000-40.000 218.40 145.60 .000-20.000 72.80 0.00 Defluência (m³/s) Figura 28. Geração Hidroelétrica para a Usina Agregada ( M = 1) 61 Agregada 2 600.000 Geração Hidroelétrica (MW) 500.000 500.000-600.000 400.000 400.000-500.000 300.000-400.000 300.000 200.000 100.000 100.0 90.0 80.0 70.0 V(%) 60.0 50.0 30.0 40.0 20.0 .0 10.0 .000 1,288.00 200.000-300.000 1,159.20 1,030.40 100.000-200.000 901.60 772.80 .000-100.000 644.00 515.20 386.40 257.60 128.80 0.00 Defluência (m³/s) Figura 29. Geração Hidroelétrica para a Usina Agregada ( M = 2) 8.2 Modelagem linear por partes da FPHAG Nessa seção, serão apresentados resultados da aproximação da FPHM por um modelo linear por partes, resultando na FPHAG. Feito isso, será realizada uma comparação entre a função aproximada com a geração real da usina agregada e com a aproximação pelo modelo individualizado. O confronto dos modelos apresentará os desvios em relação à função exata e o número de cortes ou restrições de geração construídos. No sentido de permitir uma avaliação do modelo agregado para diferentes condições, consideraremos 12 cenários diferentes para os dados de entrada das afluências incrementais das usinas a fio d’água (necessários para gerar a FPHM), que correspondem aos doze meses extraídos do histórico. Por isso, são construídos 12 diferentes funções de produção múltipla – FPHM, assim como 12 aproximações dessa função pelo modelo linear por partes – FPHAG, para cada usina agregada. Também será computada a aproximação linear para cada usina individual (FPHA), por motivos de comparação. 62 8.2.1. Descrição do sistema De forma a analisar o modelo de forma mais ampla, o sistema será composta de diversas cascatas totalizando 51 usinas, que fazem parte do sistema hídrico brasileiro. Os índices das usinas, mostrados na Figura 30, são os mesmos utilizados no planejamento central do sistema Brasileiro, que é realizado pelo Operador Nacional do Sistema, com a cadeira de otimização descrita em [9]. Todas as informações características a essas usinas encontram-se disponíveis para acesso no site da ONS (http://www.ons.org.br). Figura 30. Cascata de Usinas Hidroelétricas e Usinas Agregadas formadas. Para a criação dos modelos aproximados, foi considerada uma grade de discretização de 5 pontos para o armazenamento ( ), tanto para a FPHA quanto para a FPHAG, com uma janela de 20% em torno do volume inicial (ver tabela V em [12] ). O turbinamento, no modelo individualizado, também foi discretizado em 5 pontos, uma vez que produz o melhor “trade-off” entre acurácia e tempo de processamento na resolução do problema de despacho hidrotérmico [12]. Quanto a defluência no modelo agregado, a 63 discretizamos em 3 pontos quanto a operação do reservatório de montante por duas razões: (i) pontos adicionais de vão ser automaticamente incluídos quando alguma usina a jusante atingir seu máximo operativo de turbinamento; (ii) como a FPHAG tende a apresentar mais pontos em sua envoltória convexa (uma vez que é composta por mais de uma função de produção individual), utilizar o mesmo número de “breakpoints” para os dois modelos geraria um número maior de cortes para a FPHAG, aumentando o tempo computacional. 8.2.2. Inequações construídas para algumas usinas agregadas Na Tabela 5, apresentaremos os planos que definem a envoltória convexa da Função de Produção Hidroelétrica Múltipla Aproximada para algumas usinas agregadas. Os cortes das demais usinas agregadas encontram-se no Apêndice [11]. Por motivos visuais, apresentamos apenas os cortes para o um cenário, lembrando que existem 12 períodos e que para cada período ou estágio são construídos FPHAGs diferentes e, portanto, cortes diferentes. Tabela 5. Coeficientes dos Planos ou Cortes que definem a FPHAG para cada usina Agregada Índice da Agregada M = 1 (3 USIH) M=2 (1 USIH) M=3 (6 USIH) RHS/ (MW) 224,17 232,00 224,95 225,42 225,73 -66,06 0,00 -49,41 -10,03 -72,85 -67,84 -66,06 0,1598 0,2018 0,1610 0,1624 0,1638 0,7266 0,7833 0,7365 0,7675 0,7167 0,7197 0,7239 0,0388 0,0000 0,0350 0,0326 0,0311 0,0128 0,0000 0,0096 0,0019 0,0157 0,0143 0,0132 1553,81 1580,72 1555,16 1556,46 1557,69 1675,59 0,90002 0,9427 0,9006 0,9017 0,9033 0,7191 0,03587 0,0000 0,0341 0,0323 0,0307 0,0612 64 1673,73 1677,12 1677,86 1677,86 1674,18 1675,48 1677,54 0,7459 0,7201 0,7220 0,7247 0,7476 0,7487 0,7493 0,0359 0,0582 0,0552 0,0524 0,0341 0,0323 0,0307 Cada um desses cortes comporá uma restrição no PPL para a geração da usina hidroelétrica. Como mostrado anteriormente, É interessante observar que a usina agregada #2 independente tem valores de coeficiente negativos. A princípio, esses valores seriam considerados inadequados, uma vez que para valores nulos de defluência e armazenamento sua geração seria negativa, fato certamente incoerente. Porém, essa usina agregada é composta de apenas uma usina e essa usina possui restrições de turbinamento mínimo o que explica os valores negativos para o lado direito das equações dos planos que compõem sua envoltória convexa. Ou seja, não é necessário representar bem a função para o ponto de defluência nula. Um dos objetivos principais da FPHAG é obter um conjunto de variáveis e restrições mais conciso para o problema de coordenação hidrotérmica se comparado com o modelo individualizado. Dessa maneira, é apresentado na Tabela 6 o número médio de cortes, considerando os 12 períodos analisados, tanto na FPHA quanto na FPHAG. Como estamos fazendo referencia a cada Usina agregada, o número médio de cortes no modelo individualizado foi calculado como a soma das médias do número de cortes de cada usina individual que compõem o índice da usina agregada em questão. 65 Tabela 6. Número de restrições de geração para os modelos agregado e individualizado. Índice da # restrições # restrições Índice da # restrições # restrições Agregada (FPHAG) (FPHA) Agregada (FPHAG) (FPHA) 1 6.0 11.0 13 7.0 14.0 2 7.0 11.0 14 10.5 18.0 3 10.2 31.0 15 9.3 27.0 4 13.3 19.0 16 11.1 19.0 5 7.0 14.0 17 9.0 29.0 6 9.0 15.0 18 7.0 11.0 7 9.0 28.0 19 7.0 11.0 8 5.0 11.0 20 8.7 11.0 9 11.0 15.0 21 8.8 19.0 10 7.0 11.0 22 11.1 19.0 11 12.0 19.0 23 8.4 26.0 12 11.3 15.0 Média 8.94 17.57 Podemos perceber que a modelagem proposta nesse documento reduz o número de restrições de geração hidroelétrica em cerca de 50 % em relação à modelagem individual. Portanto, uma grande vantagem dessa abordagem é diminuir o tamanho do problema de programação linear para o despacho hidrotérmico e, se possível, sem perda sensível de acurácia como será mostrado a seguir. É válido ressaltar que se utilizássemos mais pontos para discretizar a variável de defluência o número de cortes gerados aumentaria. Por exemplo, ao testarmos 5 pontos, mais os pontos de quebra no turbinamento máximo, o número de cortes gerados para o sistema em questão foi de, aproximadamente, 21, tornando o modelo agregado menos viável em comparação com o individual. Ainda, como foi discutido no Capitulo 6, reduções adicionais para o PPL foram implementadas, uma vez que equações de balanços hídricos e algumas restrições 66 operativas, como demanda, foram adequadas para as usinas agregadas. As equações de balanço hídrico, onde possuíam uma restrição por usina para o modelo individualizado, com a modelagem agregada possuem uma restrição por reservatório. Já as equações de demanda por exemplo, que possuíam variáveis para cada usina individual, passam a possuir variáveis para cada usina agregada. 8.2.3. Análise dos desvios Para analisar o erro relativo existente entre a aproximação linear que fizemos para a função de produção exata de uma Usina Agregada, selecionamos determinado número de “pontos de operação” para o reservatório de montante e compomos uma grade de pontos. Para cada um desses pontos, calculamos tanto geração exata dessa usina agregada – FPHM quanto à geração aproximada pelo modelo linear por partes – FPHAG. A Figura 31 mostra a média desses desvios para cada uma das 23 Usinas Agregadas. A título comparativo, calculamos também a média dos desvios utilizando o modelo individualizado. O desvio da FPHA, nesse caso, foi calculado como a soma dos desvios entre a geração real e a aproximada de cada usina individualizada que compõe a Usina Agregada. 20 18 FPHA Erro médio (MW) 16 FPHAG 14 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Índice da usina Agregada Figura 31. Comparação entre acurácia do modelo individualizado FPHA e do modelo proposto FPHAG quanto as suas funções exatas (MW). 67 É importante ressaltar que o objetivo da Função de Produção Hidroelétrica Múltipla Aproximada não é obter um modelo mais acurado do que [12], mas sim obter um nível de acurácia o mais perto possível deste, com a vantagem de se modelar usinas agregadas, diminuindo o tamanho do problema para o cálculo do despacho hidrotérmico. Olhar apenas os desvios absolutos em MW pode ser ilusório, por exemplo: A diferença de 6 MW entre os desvios da Usina Agregada #9 pode ser desprezível caso a geração da usina seja alta. Por esse motivo, mostramos na Tabela 7 abaixo os desvios médios relativos para cada um dos modelos analisados. Tabela 7. Desvio Médio Relativo da FPHA e FPHAG quando comparados com sua respectiva função de produção exata. Índice da Desvio (%) Desvio (%) Índice da Desvio (%) Desvio (%) Agregada FPHAG FPHA Agregada FPHAG FPHA 1 0,3 0,40 14 0,48 0,62 2 0,8 0,73 15 0,24 0,06 3 0,75 0,54 16 1,95 0,00 4 1,28 0,62 17 0,23 0,31 5 3,2 4,67 18 5,88 10,25 6 0,22 0,33 19 3,08 3,20 7 0,23 0,07 20 0,78 0,20 8 0,31 0,00 21 1,05 0,49 9 0,75 0,99 22 0,62 0,42 10 0,55 0,12 23 0,89 0,82 11 0,22 0,73 5,88 10,25 12 0,36 0,08 1,09 1,22 13 0,99 0,00 Valor máximo Média 68 Os resultados indicam, primeiramente, uma boa acurácia da modelagem agregada para a função de produção hidroelétrica. Pode ser visto que a FPHAG produz resultados similares ao modelo individualizado e, em alguns casos com maior eficácia. No exemplo em questão, o modelo agregado teve média de erro relativo inferior, principalmente devido a Usina Agregada #18. Em geral, é observado que o modelo Agregado obtém uma acurácia de apenas 10% inferior ao modelo individualizado e com menor variância. A principio acredita-se que, ao somar as gerações de todas as usinas, o comportamento fortemente côncavo da função para as usinas a fio d´água tende a atenuar os trechos não côncavos da função individual da usina com reservatório, favorecendo uma melhor aderência da envoltória convexa para a função de produção aproxima. 8.3 Problema de coordenação hidrotérmica com a FPHAG Por fim, essa seção apresentará estudos de caso de aplicação do modelo agregado – FPHAG – para um problema simplificado de despacho hidrotérmico, composto de 12 meses. Considerou-se um cenário determinístico para esse horizonte, pois o objetivo era de simplesmente avaliar a acurácia e eficiência da modelagem à medida que cada reservatório excursionasse por diversos valores de volume armazenado e as usinas estivessem sujeitas a diferentes níveis de valores de afluência natural incremental. A biblioteca OSL [18] foi utilizada para a resolução do problema de programação linear da função objetivo, sujeito as restrições montadas e discutidas no capítulo 6. Os experimentos foram realizados em um computador com processador Intel Quad Core ™ @2,83 GHz, 4 GB de memória RAM e sistema operacional de 32 bits. Os casos analisados são apresentados na Tabela 8 abaixo. Foram escolhidas algumas cascatas representativas, onde a cada caso será aumentado o número de cascatas e usinas que representam o sistema e, por fim, será analisado um caso com a maioria das UHE que compõem o sistema interligado brasileiro (SIN), como mostrado na Figura 32. Os casos compreendem 40 usinas térmicas com custos de geração quadráticos, que 69 foram considerados no problema de acordo com a modelagem linear por partes dinâmica apresentada em [24]. Figura 32. Diagrama Esquemático das Usinas Hidroelétricas do SIN ( 2015) 70 Tabela 8. Tabela com descrição dos casos que serão analisados para o problema de coordenação hidrotérmica utilizando a FPHAG. Número Total de Número de Número de Usinas Usinas Reservatórios Agregadas 1 7 2 2 2 10 5 5 + ITAIPU 3 50 24 23 4 100 51 50 Caso 8.3.1. Análise do tamanho do problema Como visto na seção anterior, a construção da função de produção hidroelétrica aproximada pelo modelo linear por partes para as Usinas Agregadas, diminui em cerca de 50% o número de planos que representam sua envoltória convexa, em comparação com o modelo individualizado. Esses planos definem restrições de Geração para o problema de despacho hidrotérmico como um PPL. Ainda, como mostrado no capitulo 6, o modelo agregado permite diminuir o tamanho do PPL em outras restrições, como nas equações de balanço hídrico e alteração de restrições operativas ( ). Nas tabelas a seguir são mostrados, para cada caso e para ambas as modelagens, o número de colunas, linhas e elementos que compõem a Matriz Linear que representa o problema. Tabela 9. Características da matriz linear do PPL para o caso 07 UHE Caso 07 UHE Modelo Modelo Discrepância Agregado Individualizado Relativa # Linhas 611 984 61% # Colunas 192 456 138% # Elementos 2355 3884 65% 71 Tabela 10 Características da matriz linear do PPL para o caso 10 UHE Caso 10 UHE ( ITAIPU) Modelo Modelo Discrepância Agregado Individualizado Relativa # Linhas 888 1296 49% # Colunas 360 588 63% # Elementos 3441 5141 49% Tabela 11 Características da matriz linear do PPL para o caso 50 UHE Caso 50 UHE Modelo Modelo Discrepância Agregado Individualizado Relativa # Linhas 4576 6024 32% # Colunas 1200 2832 136% # Elementos 17980 23914 33% Tabela 12 Características da matriz linear do PPL para o caso 100 UHE Caso 100 UHE Modelo Modelo Discrepância Agregado Individualizado Relativa # Linhas 9419 14388 53% # Colunas 2472 5196 110% # Elementos 36970 57309 55% 72 É possível perceber redução significativa no tamanho da Matriz que representa o problema linear para o despacho hidrotérmico o que é uma grande vantagem ao utilizar a modelagem proposta nesse documento. 8.3.2. Análise do custo computacional Espera-se que a diminuição vista na seção anterior impacte diretamente o tempo computacional na resolução do problema de programação linear. As Tabelas 13 a 16 mostram para cada sistema de estudo o custo computacional para a preparação e montagem da Matriz Linear e a resolução do PPL tanto para a modelagem agregada quanto a individualizada. Também é mostrada o número de iterações necessárias para a convergência do problema em questão. Tabela 13. Custo computacional de ambas modelagens para o caso 07 UHE CASO 07 USINAS FPHAG Duração FPHA % (segundos) Duração % (segundos) Preparação 0,02 0,8 0,02 0,17 Montagem 0,28 13 0,67 2,70 Resolução 4,45 83,56 13,77 91,78 # Iterações 11 09 A FPHAG foi concebida visando aplicações para o planejamento do despacho hidrotérmico de sistemas de grande porte, e para o médio ou longo prazo, onde a incerteza passa a ser motivo de foco e importância. Porém, o caso com apenas sete usinas, mostrado na Tabela 13, por ter convergência demorada em termos de iterações, conseguiu evidenciar a eficiência do modelo agregado perante o individualizado. O custo computacional foi reduzido consideravelmente, sendo a FPHAG cerca de 3 vezes mais rápida que a FPHA. 73 Tabela 14. Custo computacional de ambas modelagens para o caso 10 UHE CASO 10 USINAS (ITAIPU) FPHAG Duração FPHA % (segundos) Duração % (segundos) Preparação 0,02 2,12 0,02 2,14 Montagem 0,32 40,06 0,28 37,53 Resolução 0,12 16,71 0,20 26,54 # Iterações 1 (uma) 1 (uma) Já para uma pequena cascata englobando Itaipu, a convergência se deu rapidamente em apenas uma iteração para aproximação dos custos quadráticos de geração, o que indica que as usinas térmicas ou estão em sua geração mínima ou máxima. Dessa maneira, os ganhos totais em eficiência para a FPHAG se tornam negligíveis perante o modelo individualizado. Tabela 15. Custo computacional de ambas modelagens para o caso 50 UHE CASO 50 USINAS FPHAG Duração FPHA % (segundos) Duração % (segundos) Preparação 0,02 0,24 0,02 0,06 Montagem 0,48 6,95 0,44 1,49 Resolução 5,33 76,71 27,55 95,45 # Iterações 5 6 Para um caso mais abrangente, com 50 usinas individuais, o impacto do uso de Usinas Agregadas com a consequente aproximação da Função de Produção Hidroelétrica Múltipla é ainda mais evidenciado. A FPHAG quase chega à marca de cinco (5) vezes o tempo computacional necessário para resolução do PPL, quando comparada ao modelo Individualizado. 74 Tabela 16. Custo computacional de ambas modelagens para o caso 100 UHE CASO 100 USINAS FPHAG Duração FPHA % (segundos) Duração % (segundos) Preparação 0,05 0,31 0,02 0,01 Montagem 0.94 4,84 0,61 0,35 Resolução 28,28 82,85 145,25 96,65 # Iterações 3 5 Por fim, foi estudo um caso com a maioria das usinas hidroelétricas do Sistema Interligado Brasileiro. Para esse caso, os tempos computacionais para os modelos encontram-se na Tabela 16. Novamente, percebe-se ganho computacional considerável, cerca de 5 vezes superior, ao utilizar o modelo proposto nesse documento, perante o modelo individualizado das usinas hidroelétricas. 75 9. Conclusões 9.1 Considerações Gerais Um aspecto de fundamental importância nos modelos de coordenação hidrotérmica é a modelagem da geração das usinas hidroelétricas que é, em geral , uma função não linear do seu estado – volume armazenado e de sua operação – turbinamento e vertimento. Essa função costuma ser chamada de Função de Produção Hidroelétrica Individual – FPH. Este trabalho apresentou um novo modelo para a representação do parque hidráulico, sendo um intermediário entre a modelagem equivalente e a individualizada, onde usinas com reservatório são agrupadas com sequencias de usinas a fio d’água a jusante na cascata, formando uma usina agregada. Dessa maneira, precisamos construir funções de produção apenas com base nas usinas com reservatório, sem perda sensível de acurácia e com a principal vantagem de diminuir razoavelmente o número de equações e restrições no problema de programação linear (PLL) para o despacho hidrotérmico. Ao modelo da geração de tais usinas agregadas deu-se o nome de Função de Produção Hidroelétrica Múltipla- FPHM e a aproximação dessa função por um modelo linear por partes, necessário para a resolução do despacho hidrotérmico por um problema de programação linear, foi chamada de Função de Produção Hidroelétrica Múltipla Aproximada – FPHAG. Essa nova abordagem permite se representar as características individuais das usinas dentro do problema de coordenação hidrotérmica, como balanço hídrico, afluências naturais, evaporação, geração (FPHAG) e eventuais restrições de defluências ou afluência mínima para as usinas hidroelétricas, sem premissas de operação préestabelecidas. 76 Os resultados comprovaram, de forma preliminar, a eficiência do uso do modelo proposto. O reduzido número de restrições geradas no PPL permite menor complexidade e menor custo computacional ao se resolver o problema do despacho hidrotérmico. Também foi mostrado, para dados reais de usinas hidroelétricas que compõem o sistema interligado nacional (SIN) que o uso da FPHM não resulta em perda sensível de acurácia, quando comparado com o modelo individual. Em particular, o modelo agregado torna-se mais interessante para o planejamento de médio e longo prazo, como uma abordagem mais acurada para a representação das usinas quando comparada ao modelo de reservatórios equivalentes de energia, hoje utilizado pelo NEWAVE. Para o planejamento com horizontes mais longos, considerase apenas usinas com regularização mensal, o que propicia a existência de diversas usinas com modelagem a fio d’água na topologia, o que aumenta a eficácia do modelo proposto. Além disso, alguns aspectos que não poderiam ser representados pelo modelo agregado já não são considerados em geral para esses horizontes, como, por exemplo, o unit commitment das usinas hidroelétricas, tempos de viagem da água, restrições de rampa de geração e restrições elétricas internas aos subsistemas de energia. Ainda, é notório ressaltar que restrições ambientais tem forçado a maioria das novas usinas hidroelétricas a serem construídas como fio d’águas, tornando ainda mais interessante e eficiente o uso da FPHM. 77 9.2 Trabalhos Futuros O modelo agregado ainda necessita de mais testes tanto comparativos com os modelos de coordenação existentes (DECOMP e NEWAVE) tanto testes qualitativos para ser validado e reconhecido perante a comunidade cientifica nacional. Porém, trabalhos futuros já estão sendo avaliados, como: Desenvolvimento do modelo para o tratamento estocástico no planejamento em longo prazo para grandes sistemas. Integração com o software de coordenação hidrotérmica DECOMP Modelagem híbrida, onde se integraria a modelagem individualizada para alguma usina especifica. Essa usina não faria parte de nenhuma usina agregada e permitira maior nível de detalhamento em certas usinas especificas e importantes do sistema. 78 10. Referências [1] M.E.P. Maceira, L.A. Terry, F.S. Costa, J. M. Damazio, A C. G. Melo, “Chain of optimization models for setting the energy dispatch and spot price in the Brazilian system”, Proceedings of the Power System Computation Conference - PSCC’02, Sevilla, Spain, June 2002. [2] D. D. J. Penna, M. E. P. Maceira, J.M. Damázio, “Selective sampling applied to long-term hydrothermal generation planning”, 17th PSCC - Power Syst. Comp. Conf., Stockholm, Sweden, Aug. 2011. [3] A. Helseth, B. Mo, G. Warland, “Long-term scheduling of hydro-thermal power systems using scenario fans”, Energy Systems, v.1, n.4, pp. 377-391, Dec. 2010. [4] M.E.P. Maceira, V. S. Duarte, D.D.J. Penna, M.P. Tcheou, “An approach to consider hydraulic coupled systems in the construction of equivalent reservoir model in hydrothermal operation planning”, 17th Power Systems Computation Conference – PSCC, Stockholm, Sweden, 2011. [5] S.H.F. Cunha, S. Prado, J.P. Costa, “Modelagem da produtividade variável de usinas hidrelétricas com base na construção de uma função de produção energética”, XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, ABRH, anais 2, 391-397, 1997. [6] A. L. M. Marcato, “Representação híbrida de sistemas equivalentes e individualizados para o planejamento da operação de médio prazo de sistemas de potência de grande porte”, Tese Doutorado, PUC/RJ, Maio/2002. [7] T. N. Santos, A. L. Diniz, “A Dynamic Piecewise Linear Model for DC Transmission Losses in Optimal Scheduling Problems”, IEEE Transactions on Power Systems, v.26, n.2, pp. 508-519, May 2011. [8] A. L. Diniz, L. C. F. Sousa, M. E. P. Maceira, S. P. Romero, F. S. Costa, C. A. Sagastizabal, A. Belloni, “Estratégia de representação DC da rede elétrica no modelo de despacho da operação energética – DESSEM”, VIII SEPOPE –Symposium of Simposium of Specialists in Electric Operational and Expansion Planning, Brasilia, Brazil, May 2002 [9] M.E.P. Maceira, V.S. Duarte, D.D.J. Penna, L.A.M. Moraes, A.C.G. Melo, “Ten years of application of stochastic dual dynamic Programming in official and agent studies in Brazil –Description of the NEWAVE program”, 16th PSCC - Power Systems Computation Conference, Glasgow, SCO, July 2008 79 [10] N. V. Arvantidis, J. Rosing, “Composite representation of multireservoir hydroelectric power system”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, v. 89, n. 2, pp. 319-326, Feb. 1970. [11] S. Stage, Y. Larsson, “Incremental cost of water power”, AIEE Transactions, pt III (Power Apparatus and Systems), v. 80, pp. 361-365, Aug. 1961. [12] A.L. Diniz, , M.E.P. Maceira, , “A four-dimensional model of hydro generation for the short-term hydrothermal dispatch problem considering head and spillage effects”, IEEE Trans. Power Syst., v. 23, n.3, pp. 1298-1308, 2008 [13] R. J. Pinto, A.L.G.P. Sabóia, R.N. Cabral, F.S. Costa, A.L.Diniz e M. E. P. Maceira, “Metodologia para aplicação de processamento paralelo no planejamento de curto-prazo (modelo DECOMP)”, XX SNPTEE- Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Recife, Novembro 2009. [14] O. Nilsson and D. Sjelvgren, “Variable splitting applied to modelling of start-up costs in short term hydro generation scheduling,” IEEE Trans. Power Syst., vol. 12, no. 2, pp. 770-775, May 1997. [15] O. B. Fosso, A. Gjelsvik, A. Haugstad, et al, “Generation scheduling in a deregulated system. The norwegian case”, IEEE Transactions on Power Systems, v. 14, n. 1, pp. 75-81, Feb. 1999. [16] R. B. Allen, S. G. Bridgeman, “Dynamic programming in hydropower scheduling”, Journal of Water Resources Planning and Management, v. 112, n. 3, pp. 339353, Jul. 1986. [17] FINARDI, E. C. Alocação de Unidades Geradoras Hidrelétricas em Sistemas Hidrotérmicos Utilizando Relaxação Lagrangeana e Programação Quadrática Seqüencial. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica) - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2003. [18] IBM Optimization Subroutine Library (OSL) – Guide and Reference, Release 2.1, 5th ed., 1995. [19] AnalConv , “Fecho Convexo no Plano”, USP, 1997 [20] R. D. Q. Madera, “Modelagem da Função de Produção de uma usina hidrelétrica com base nas caracteristicas individuais das unidades geradoras”, Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2013. [21] CEPEL. Modelo Decomp – “Manual de Referência versão 16”, Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, Rio de Janeiro, 2010. [22] D.R. Chand and S.S. Kapur, “ An algorithm for convex polytopes”, JACM 17, 1970, no. 1. [23] R.A. Jarvis, “On the identification of the convex hull of a finite set in the plane”, Information Processing Letters 2, 1973. 80 [24] M. I. Ennes, A. L. Diniz, “An efficient equivalent thermal cost function model for nonlinear mid-term hydrothermal generation planning,” Int. Journal of Electrical Power and Energy Systems, v.63, pp. 705-712, 2014. 81 11. Apêndice A : Coeficientes dos planos que formam as envoltórias convexas das usinas agregadas para o caso de 50 usinas ( seção 8.2 ) Índice da Agregada RHS/ M=4 82 (MW) 46.41 1.6717 0.0130 48.38 1.7527 0.0000 47.69 1.7052 0.0045 46.02 1.6289 0.0210 46.17 1.6340 0.0194 46.23 1.6384 0.0184 46.77 1.5997 0.0248 45.70 1.6237 0.0239 57.49 1.3361 0.0448 58.14 1.3424 0.0383 46.24 1.6237 0.0212 58.07 1.3967 0.0212 58.35 1.4003 0.0194 58.60 1.4012 0.0184 M=5 M=6 M=7 83 -33.92 0.8854 0.0109 0.00 1.0152 0.0000 -29.93 0.8898 0.0096 -27.18 0.8960 0.0087 -25.23 0.9025 0.0081 -15.35 0.8232 0.0109 -8.70 0.8187 0.0096 96.07 0.6934 0.0000 -2.30 0.8126 0.0087 3.57 0.8060 0.0081 0.00 0.6169 0.0000 -2.80 0.6059 0.0640 -2.79 0.6059 0.0637 -2.78 0.6059 0.0634 -2.75 0.6060 0.0627 -2.55 0.5979 0.1195 -0.94 0.6003 0.0645 -0.94 0.6003 0.0643 -0.91 0.6003 0.0640 -0.90 0.6003 0.0637 -0.86 0.6002 0.0634 8.38 0.5920 0.0000 -0.78 0.6002 0.0627 -0.50 0.4933 0.1291 -0.49 0.4933 0.1282 3.67 0.4744 0.2589 M=8 M=9 84 4.00 0.4751 0.1295 4.01 0.4751 0.1274 3.99 0.4751 0.1289 4.02 0.4751 0.1270 5.49 0.4738 0.0000 -0.02 0.4028 0.0556 0.00 0.4029 0.0000 7.50 0.3750 0.0556 7.56 0.3749 0.0000 55.08 0.8781 0.0295 165.28 0.9582 0.0000 65.88 0.8804 0.0266 79.47 0.8872 0.0230 362.37 0.6428 0.0487 332.65 0.7058 0.0295 370.79 0.6566 0.0405 365.62 0.6658 0.0379 527.16 0.5664 0.0590 476.25 0.6000 0.0487 514.61 0.5793 0.0532 481.13 0.5977 0.0491 330.48 0.7161 0.0266 431.91 0.6256 0.0440 335.46 0.7210 0.0245 412.78 0.6408 0.0405 344.19 0.7229 0.0230 M = 10 M = 11 M= 12 85 -50.05 0.6275 0.0301 0.00 0.6647 0.0000 -32.90 0.6318 0.0198 -60.03 0.6144 0.0467 -58.44 0.6150 0.0453 55.17 0.6171 0.0021 190.25 0.3290 0.0146 201.51 0.3645 0.0000 190.96 0.3296 0.0137 191.55 0.3306 0.0129 191.71 0.3310 0.0127 198.89 0.3552 0.0034 193.28 0.3197 0.0152 260.31 0.1320 0.0244 257.38 0.1614 0.0137 257.92 0.1624 0.0129 258.18 0.1626 0.0127 105.25 0.4706 0.0113 112.45 0.4852 0.0000 105.36 0.4706 0.0111 105.47 0.4708 0.0109 132.92 0.4233 0.0158 126.82 0.4372 0.0113 132.95 0.4235 0.0156 132.81 0.4240 0.0153 338.90 0.1913 0.0226 M= 13 M = 14 86 126.69 0.4377 0.0111 336.74 0.1986 0.0156 337.05 0.1986 0.0153 360.41 0.1883 0.0059 126.73 0.4379 0.0109 372.20 0.1850 0.0000 -14.60 0.3809 0.0141 0.00 0.3980 0.0000 -14.31 0.3810 0.0138 -13.79 0.3814 0.0133 17.74 0.3515 0.0141 18.23 0.3515 0.0138 70.18 0.3344 0.0000 18.85 0.3513 0.0136 19.60 0.3511 0.0133 70.99 0.4868 0.0009 71.86 0.5158 0.0000 71.02 0.4870 0.0009 71.07 0.4882 0.0008 76.15 0.2677 0.0043 78.26 0.2964 0.0009 76.46 0.2695 0.0039 75.16 0.2504 0.0086 77.87 0.2581 0.0043 78.30 0.2967 0.0009 79.53 0.2558 0.0036 M= 15 M= 16 M=17 87 78.62 0.2574 0.0039 78.35 0.2968 0.0009 89.80 0.2430 0.0000 226.62 0.6715 0.0084 234.25 0.7015 0.0000 226.86 0.6717 0.0081 227.08 0.6722 0.0079 227.29 0.6728 0.0076 250.88 0.5783 0.0149 248.12 0.6051 0.0084 249.06 0.6008 0.0089 252.69 0.5708 0.0167 252.43 0.5733 0.0157 248.19 0.6083 0.0076 543.11 0.6781 0.0000 593.05 0.7198 -0.0125 543.11 0.5870 0.0000 512.81 0.5472 0.0177 529.93 0.5689 0.0077 525.02 0.5272 0.0208 514.37 0.5408 0.0193 670.64 0.3661 0.0345 673.91 0.3854 0.0208 675.04 0.3870 0.0196 679.35 0.3886 0.0177 -0.69 0.3129 0.0567 M= 18 M=19 M=20 88 0.00 0.3197 0.0000 -0.64 0.3131 0.0520 -0.62 0.3132 0.0509 0.31 0.2996 0.1133 0.19 0.3060 0.0567 0.37 0.3005 0.0994 0.20 0.3062 0.0544 0.25 0.3064 0.0509 0.28 0.3064 0.0497 -46.20 0.3697 0.0101 0.00 0.4414 0.0000 -24.66 0.3930 0.0054 -8.86 0.4158 0.0019 -50.62 0.3594 0.0121 -47.12 0.3632 0.0109 -46.20 0.3672 0.0103 -71.44 0.2061 0.0083 0.00 0.2428 0.0000 -70.88 0.2062 0.0082 -46.40 0.2139 0.0054 -81.01 0.1772 0.0166 -71.06 0.2060 0.0083 -66.64 0.1806 0.0141 -61.94 0.1850 0.0125 1632.48 0.5292 0.0223 1656.18 0.5475 0.0000 M = 21 M = 22 89 1769.79 0.4318 0.0445 1764.79 0.4492 0.0223 1770.66 0.4321 0.0433 1765.01 0.4496 0.0217 1767.25 0.4500 0.0201 72.19 1.4283 0.0421 72.58 1.4312 0.0371 116.35 0.7598 0.0491 116.10 0.7671 0.0459 115.46 0.7799 0.0432 116.36 0.7596 0.0491 114.21 0.8041 0.0394 114.75 0.7939 0.0408 117.12 0.7587 0.0432 128.32 0.7159 0.0000 117.62 0.7571 0.0408 113.78 0.8151 0.0371 1306.04 1.8104 0.0392 1622.71 1.3878 0.0504 1595.33 1.4337 0.0433 1611.35 1.4097 0.0456 1600.60 1.4261 0.0439 2000.31 0.9279 0.0866 1975.79 1.0032 0.0504 2003.67 0.9353 0.0783 2002.23 0.9409 0.0753 M = 23 90 1975.58 1.0082 0.0477 1576.50 1.4672 0.0392 1980.77 1.0119 0.0439 751.54 1.9379 0.0000 734.74 0.5018 0.0167 739.55 0.5129 0.0119 775.26 0.2737 0.0292 782.44 0.2962 0.0169 773.16 0.2663 0.0334 781.39 0.3105 0.0151 779.51 0.3237 0.0142 776.49 0.3479 0.0127 788.35 0.2920 0.0142 836.04 0.2409 0.0000