R$ 5,90 - Roteiro Brasília

Propaganda
Ano XI • nº 202
Março de 2012
R$ 5,90
em poucas palavras
Divulgação
Não tem erro. Chega a Semana Santa e ele logo se transforma
no queridinho dos chefs e das donas de casa. Sim, estamos
falando dele, o delicioso bacalhau. Embora muita gente
boa ainda ache que a iguaria seja um peixe, cabe aqui um
esclarecimento. Bacalhau não é propriamente um peixe,
mas um processo de salga e secagem de cinco tipos de peixes:
morhua, macrocephalus, ling, zarbo e saithe.
Há quem defenda a tese de que só o morhua, por sua
qualidade, pode ser chamado de bacalhau, mais precisamente
de Bacalhau do Porto, uma homenagem à cidade portuguesa
que, no Século XV, tornou-se o primeiro grande entreposto
do peixe encontrado no Mar do Norte, principalmente na
Noruega. Não importa a polêmica. O que importa é sabermos
que, aqui em Brasília, estamos muitíssimo bem servidos de
restaurantes com inúmeras formas de preparo dessa suculenta
tradição de Semana Santa (página 5).
Por falar em tradição, o Lagash acaba de completar 25 anos
de atividade no mesmo e aconchegante endereço da 308 Norte.
Com sua cozinha tipicamente árabe pilotada por Fátima Hamú,
o restaurante continua tendo como carro-chefe o cordeiro marroquino, uma harmônica mistura de carne desfiada, nozes e cebola
servida com arroz de aletria e batatas coradas (página 9).
Há quem, contudo, prefira não comer carne nem peixe o
ano inteiro. Nesse caso, a opção é conhecer a culinária vegana
do Café Corbucci, que tem no cardápio pratos preparados sem
nenhum ingrediente animal. De acordo com as proprietárias,
Marina Corbucci e Simone Lima, a proposta é quebrar o paradigma de que comida natural é sem graça (página 10).
Não deixe de ler também o relato de Lúcia Leão sobre sua
recente viagem a Cuba, que lhe permitiu mergulhar no universo
etílico do escritor Ernest Hemingway. Esse “universo” atende pelos
nomes de La Bodeguita Del Medio e El Floridita, os endereços
preferidos de Hemingway em Havana Vieja (página 12).
Finalmente, recomendamos a matéria de Heitor Menezes
sobre o documentário Raul – O início, o fim e o meio, de Walter
Carvalho, que reúne material raro do arquivo pessoal do maluco
beleza, há 22 anos “teletransportado para outro universo”, além
de depoimentos de Paulo Coelho, Caetano Veloso, Pedro Bial,
Roberto Menescal, Marcelo Nova e muitos outros que tiveram
o privilégio de conviver com ele (página 31).
Boa leitura e até abril.
Maria Teresa Fernandes
Editora
12
diáriodeviagem
Lúcia Leão e Vicente Sá, da Roteiro, foram conhecer
La Bodeguita e El Floridita, os bares da preferência
do escritor Ernest Hemingway em Havana Velha.
5
14
16
17
18
19
20
24
26
28
31
águanaboca
picadinho
garfadas&goles
pão&vinho
doisespressoseaconta
queespetáculo
dia&noite
brasiliensedecoração
cartadaeuropa
graves&agudos
luzcâmeraação
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SIA – Trecho 17, Rua 20, Lote 90 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira
Endereço eletrônico: [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos Roberto Ferreira sobre foto de André Borges
Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela,
Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Luiza Andrade, Melissa Luz, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi,
Silio Boccanera, Súsan Faria, Vicente Sá Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Impressão Gráfica São Judas Tadeu
Tiragem: 20.000 exemplares Para anunciar 3335.9200
www.roteirobrasilia.com.br
Divulgação
água na boca
O queridinho
Bacalhau ao Zé do Pipo, do Oliver
da Páscoa
A milenar tradição católica que proíbe o consumo de
carnes vermelhas na Semana Santa faz do bacalhau
a principal opção gastronômica desta época do ano.
Por Melissa Luz
D
epois de viver por mais de 300
anos como colônia de Portugal,
nada mais natural que o Brasil incorporasse em seu dia a dia alguns hábitos
e costumes d’além mar. O consumo de bacalhau, item central na dieta dos portugueses, junto com a sardinha, é um deles.
Em Brasília, há desde restaurantes
que oferecem receitas tradicionais seguidas à risca até releituras contemporâneas,
passando por pratos com o toque único
do chef. Variações que são sentidas no paladar e no bolso.
Sagres
Há 16 anos na comercial da 316 Norte, o restaurante da chef portuguesa Olga
Soares tem em seu cardápio 14 receitas diferentes à base de bacalhau, que servem
duas pessoas e vêm acompanhadas por
uma porção de arroz branco. Entre os mais
pedidos está o Bacalhau à Minhota (cozido
no azeite, com batatas, brócolis, azeitonas
pretas e ovo cozido), a R$ 138, presente no
cardápio desde a inauguração da casa.
Duas opções interessantes para grupos,
já que rendem bastante, são o Bacalhau
Certerinha (desfiado com batatas, cebolas,
pimentões e tomates), a R$ 112, e o Bacalhau a Brás (desfiado com batatas fritas em
cubinhos ligadas com ovos), a R$ 115. “Eu
respeito a tradição de cada região nas receitas, mas dou meu toque pessoal na forma
de prepará-las. Sou de Braga, no norte de
Portugal, onde o costume é comer bacalhau
frito no azeite, o que eu sigo quando faço
receitas dessa região. Minha assinatura está
na maneira como preparo o peixe para fritar ou empanar”, exemplifica Olga, que
prepara novidades para a Semana Santa.
Dom Francisco
Outro chef que não dispensa um toque especial no preparo do bacalhau é
Francisco Ansiliero, sócio, ao lado da filha
Giuliana, da rede Dom Francisco. Desde
1988, quando montou sua primeira casa
em Brasília, ele é conhecido por suas receitas de bacalhau: “Há mais de 15 anos dou
aulas de culinária. Até hoje, o bacalhau foi
o único prato unânime entre os pedidos
dos alunos”, explica Ansiliero, que costuma almoçar bacalhau pelo menos duas vezes por semana. Para quem tem o mesmo
hábito, ele indica o Bacalhau Desfiado ao
Forno, que custa R$ 74 na Asbac e R$ 85
na 402 Sul. “A posta do bacalhau é muito
gostosa, mas com um sabor mais forte.
Já o bacalhau desfiado, que também é muito saboroso, tem a vantagem de ser mais
suave e já vir acompanhado por batatas,
cebola, pimentões, azeitona, ovo cozido e
5
O bacalhau chegou ao Brasil
com os primeiros navegadores
portugueses. A ideia de salgar
sua carne surgiu com os bascos,
“o que tornou possível grandes
travessias marinhas com estoques
de proteínas”, explica Carlos
Dória, doutor em sociologia
e autor de vários livros sobre
cultura gastronômica.
Para a nutricionista Isadora
Marar, além de saborosa a carne
do bacalhau é muito saudável,
rica em vitaminas e minerais e
uma boa fonte de ácidos graxos
do tipo ômega 3 e ômega 6.
“Outra vantagem: é de fácil
digestão. O bacalhau tem
altos índices de ferro, fósforo
e magnésio, além das vitaminas
A, E, D, B1 e niacina, e apresenta
uma baixa taxa de colesterol e
gorduras”. Isadora explica que
por ser desidratado com sal,
sem nenhum conservante,
o bacalhau conserva suas
propriedades nutricionais.
E é justamente neste
processo de salgar e dessalgar
que muitos especialistas
enxergam o segredo de um bom
bacalhau. “Para que ele possa
te passar o máximo de sabor,
o bacalhau precisa ser muito
bem cuidado”, alerta a personal
chef Déia Barros, que continua:
“O bacalhau não precisa de
três técnicas de cocção para
ficar gostoso. O sal já faz um
cozimento a frio. Mas para isso
dar certo, o dessalgar da carne
não pode ser feito sem peneira,
ou na água fervendo, por
exemplo. Ele exige cuidado,
paciência e dedicação”. A
profissional diz que depois de
uma dessalga bem feita, dentro
da geladeira, trocando a água
fria de quatro em quatro horas,
a carne tenra do bacalhau se
desmancha em pétalas.
6
Casa do Bacalhau
Pelo menos sete receitas diferentes são
servidas diariamente no bufê do almoço
da Casa do Bacalhau, da 407 Sul, que custa R$ 36 o quilo durante a semana e R$
41,90 aos sábados e domingos. Entre as
opções há sempre espaço para os clássicos
Bacalhau à Gomes de Sá, Bacalhau nas
Natas e a Bacalhoada, carro-chefe da casa.
“Fazemos as receitas conforme manda a
tradição, para agradar nosso cliente conhecedor”, explica o chef Milton César. Em
abril, o restaurante deve funcionar também
no jantar, com opções à la carte.
Mouraria
Tradição também é um valor importante no Mouraria, há 22 anos na 405
Sul. O restaurante oferece quase 20 pratos
à base de bacalhau, sem contar os bolinhos, de entrada (R$ 3,80 a unidade).
Um dos preferidos dos clientes é o Bacalhau Porto à Mouraria (em posta, com cebolas, batatas noisette, brócolis ao alho e
óleo, alho e azeite), que custa R$ 159,90
para duas pessoas e R$ 82 o individual.
Peixe na Rede
Pertinho do Mouraria – é só atravessar para o outro lado da rua – fica o Peixe
da Rede, que ainda possui duas outras
Simone Marinho
Saboroso
e nutritivo
azeite. Ou seja, uma refeição completa”,
brinca o chef.
No Dom Francisco da Asbac, ele acaba de acrescentar como sugestões individuais para o jantar o meio bacalhau na
brasa com arroz de brócolis, a R$ 51, e o
arroz de bacalhau, a R$ 37. Já na 402 Sul
uma das opções é o Bacalhau Aromático,
composto por bacalhau em lascas sobre cama de batata, alho poró, erva-doce e cebola
pérola, regado com azeite extra virgem e assado ao forno, a R$ 77.
Bacalhau à lagareira,
do Antiquarius Grill
unidades, na 309 Norte e na 102 Sudoeste, e oferece em seu cardápio opções
com bacalhau na entrada (porção de dez
unidades de pastelzinho a R$ 13 e de 12
unidades a R$ 19,80), no caldo (feito com
bacalhau, batata baroa e brócolis) a R$
9,80, e nos pratos principais (nas natas,
com molho branco e batatas fritas no azeite, e a Gomes de Sá, visto na foto acima,
ambos a R$ 31).
La Plancha
Localizado na 209 Sul, o La Plancha
serve o bacalhau na versão grelhado com
batatas cozidas e brócolis, acompanhado
de azeitonas e cebola e alho fritos. O prato, que serve até três pessoas, custa
R$ 178 (R$ 62 a porção individual).
“Mas, se o cliente preferir, podemos fazer
uma receita diferente para ele, com lombo
assado, por exemplo”, informa o proprietário, Luis Andrés Junior.
A Bela Sintra
No ano passado, Brasília ganhou duas filiais de casas de renome nacional que
servem receitas com bacalhau. Uma delas
é A Bela Sintra, desde junho em funcionamento na 105 Sul. O badalado restaurante paulista tem diversas opções, destacando-se na preferência dos clientes candangos o Bacalhau à Herdade do Esporão (posta de bacalhau assada no forno,
acompanhada de batata panadeira, verduras fritas, alho, pimenta e azeite) e o
Bacalhau no Forno à Portuguesa (posta
de bacalhau grelhada, acompanhada de
cebola, alho, ovo e couve-flor), ambos a
R$ 127.
Há ainda uma receita exclusiva para
Brasília, o Bacalhau do Lago (servido grelhado e em lascas, acompanhado de batatas panadeiras, espinafres salteados, gra-tinado com mussarela fresca de búfala,
coberto por molho suave de tomate, a
R$ 79. Todos os pratos são individuais.
Com sua experiência de 35
anos na culinária portuguesa no Rio e em São Paulo, oferece cinco pratos com bacalhau
em sua filial brasiliense, inaugurada em novembro de 2011 no
Espaço Gourmet
do ParkShopping. Entre os pratos mais pedidos estão o lombo prégrelhado com queijo Antiquarius (de fabricação própria) derretido
por cima, acompanhado por batatinhas
em rodelas, brócolis e cebola; e o Bacalhau
a Lagareiro (com a posta levemente empanada e frita antes de ir ao forno com azeite
e alho, acompanhado por batatinhas em
rodelas, brócolis, cebola e azeitona). Os
dois são individuais e custam R$ 131.
“Além das sugestões do cardápio, podemos preparar o bacalhau conforme o gosto
do cliente”, explica o gerente Erialdo Araújo, há dez anos no grupo.
Oliver
O bacalhau é um dos grandes sucessos desse restaurante, que há quase sete
anos funciona dentro do Clube de Golfe.
“Nosso Bacalhau ao Zé do Pipo é uma espécie de referência aqui dentro. É um bacalhau autêntico do Oliver, servido em
posta e não desfiado, com uma apresentação diferenciada. O cliente sempre se surpreende com ele”, detalha Rodrigo Freire,
proprietário da casa ao lado de Carlos
Guerra. Para quem duvida, o empresário
confidencia: “O chef Francisco Ansiliero,
uma das referências na cidade quando o
assunto é bacalhau, veio aqui e disse que a
gente faz o melhor ao Zé do Pipo da cidade. Fiquei emocionado porque é uma
honra escutar isso justamente dele”.
O Bacalhau ao Zé do Pipo do Oliver
(lombo de bacalhau no azeite extravirgem,
com purê de batata, brócolis com alho, cebolas e gratinado com queijo parmesão)
custa R$ 74, ou R$ 49 a meia porção.
Mesmo preço do Bacalhau à Espanhola
(lombo de bacalhau no azeite extravirgem,
com batatas, azeitonas e molho de tomate)
e do Bacalhau à Lagareiro (lombo de bacalhau no azeite extravirgem, alho, azeitonas
e batatas ao murro). No almoço das sextas-feiras, a casa serve ainda a paella de bacalhau, que custa R$ 64 no prato e R$ 84
no bufê (com possibilidade de repetir).
Seja em novos formatos ou com o gostinho tradicional, o bacalhau está em alta
na cidade. Encontre a receita o que se enquadra tanto no seu gosto como no seu
bolso e bom apetite!
Sagres
316 Norte – Bloco E (3347.2234)
Dom Francisco
402 Sul – Bloco B (3224.1634)
Asbac – SCES – Trecho 2 (3226.2005)
Casa do Bacalhau
407 Sul – Bloco D (3242.7112)
Mouraria
404 Sul – Bloco B (3224.6405)
Peixe na Rede
405 Sul – Bloco A (3242.1938)
309 Norte – Bloco A (3340.6937)
102 Sudoeste – Bloco B (3344.9498)
La Plancha
209 Sul – Bloco C (3542.8825)
A Bela Sintra
105 Sul – Bloco D (3242.4001)
Antiquarius Grill
Espaço Gourmet do ParkShopping
(3047.5181)
Oliver
Clube do Golfe, no SCES (3323-5961)
Igor Estrela
Divulgação
Antiquarius Grill
Bacalhau desfiado ao
forno, do Dom Francisco
7
água na boca
À moda argentina
Fotos: Divulgação
Brasília ganha mais um restaurante especializado em parrillas
Por eduardo oliveira
Q
8
ue o brasiliense adora um churrasco não é novidade nenhuma.
Mas, nos últimos tempos, a tradição gaúcha passou a enfrentar em terras
candangas um concorrente à altura, também vindo dos pampas: a parrilla. As diferenças entre o churrasco típico da Argentina e do Uruguai e o brasileiro são
várias, a começar pelo corte da carne. No
lugar de picanha, maminha e fraldinha,
entram cortes como bife ancho, contra-filé
e chorizo. O preparo também muda: enquanto nós assamos a carne a uma boa
distância do fogo, eles a preparam quase
colada na brasa. E em vez de sal grosso
usam sal refinado.
Mas talvez a diferença mais notável
entre a carne brasileira e a dos nossos hermanos seja a raça do gado. Enquanto o
Nelore responde por 80% do consumo
brasileiro, na Argentina a raça predominante é a Angus, que tem uma carne mais
macia. É uma variedade desse bovino, o
Black Angus, ou El Negro – como é conhe-
cido pelos nossos vizinhos do sul – que
batiza a mais nova casa especializada em
parrilla a abrir as portas em Brasília, na
413 Norte.
A ideia de montar um restaurante especializado em carnes com cortes premium
foi dos sócios Fábio Gregol, João Clerot e
Floriano Dutra, que sempre se reuniam
com os amigos e familiares em suas casas
para preparar carnes
especiais. Para que
tudo no restaurante
fosse pensado rigorosamente à moda
argentina, os sócios
contaram com a
consultoria do portenho Fernando Ariel
Soarez. E o chef do
El Negro, Alexsandro Panta, fez um estágio de três meses
na Argentina para se
aprimorar nos segredos do preparo das
parrillas.
Para acompanhar as 15 opções de carnes foram desenvolvidos acompanhamentos tipicamente portenhos. Entre eles a polenta com parmesão, a farofa de ovos e cebola temperada e as batatas fritas temperadas com sal, orégano e pimenta calabresa.
Para quem quiser fugir da carne vermelha,
o cardápio inclui peixes, massas, risotos e
saladas. Se o churrasco à brasileira pede
uma cerveja gelada, a parrilla argentina pede um bom vinho. A carta do El Negro,
elaborada pelo sommelier Fábio de Pádua,
conta com 200 rótulos.
O restaurante tem capacidade para
150 pessoas e seu projeto arquitetônico é
assinado por Isabel Veiga, que usou muita
madeira, vidro e concreto, criando um ambiente agradável tanto para um almoço de
negócios como para uma refeição em família. E foi pensando no almoço de família
que os sócios resolveram montar um parquinho ao lado do parque Olhos d`Água,
com direito a monitores para cuidar dos
pequenos. Para completar, o El Negro tem
um cardápio infantil, para a criançada ir
tomando gosto por uma boa carne argentina. Mas que seja só pela carne...
El Negro
413 Norte – Bloco C (3041.8775). De 3ª a 6ª,
das 12h às 15h30 e das 19 às 24h; sábado,
das 12 às 24h; domingo, das 12 às 18h.
Fotos: José Filho
Bodas
de prata
Por Beth Almeida
N
este terceiro milênio, renovação e
novidade são celebradas como
virtudes, mas em
muitos casos a conservação
de velhos modelos pode
também ser algo salutar.
Podemos encontrar um
bom exemplo disso no restaurante Lagash, que no dia
13 de fevereiro comemorou
25 anos oferecendo aos brasilienses o que há de melhor na gastronomia árabe.
O nome homenageia a
cidade suméria – uma das mais antigas da
Mesopotâmia – que viveu seu apogeu 5
mil anos antes de Cristo. O cardápio concebido pela chef Maria de Fátima Hamú é
inspirado nas receitas familiares com as
quais convive desde a infância. “Às vezes
penso que é preciso mudar um pouco,
mas não dá para mudar os princípios da
culinária árabe”, explica Fátima.
Ela tem razão: o cordeiro marroquino
– em que a carne é desfiada e misturada a
nozes e cebola, servida com arroz de aletria
e batatas coradas – é o carro-chefe da casa
desde a inauguração. Mas, se não muda-
ram muito as receitas, Fátima adaptou o
serviço da casa ao novo cenário da gastronomia brasiliense.
Para o almoço de segunda a sexta-feira, há algum tempo ela serve menus executivos como alternativa
aos pratos à la carte. A cada dia
são oferecidos dois pratos quentes e um de entrada, ao preço fixo de R$ 32,90. Às sextas, por
exemplo, o mesmo cordeiro
marroquino que é preferência da
clientela divide o cardápio com o
arroz de pato. Entre as opções de
entradas há a fatush (salada de
pepino, tomate, cebola, pão torrado e zatar), o tradicional tabule e saladas
de grão de bico e de folhas com damasco.
Para quem prefere fazer um passeio
pela cozinha árabe, a sequência é uma boa
opção, tanto no almoço quanto no jantar.
São 13 itens (ao preço de R$ 46,90) em
que não faltam charutos de repolho ou de
folha de parreira, kibes cru, assado e frito,
homus, coalhada e, claro, o cordeiro marroquino com arroz de alitria.
Para atender à clientela gourmet, Fátima inaugurou há cerca de três anos um
empório com mais de 400 itens que representam os sabores típicos do oriente, co-
Aos 25 anos, o mais
tradicional árabe da
cidade segue fiel às
receitas originais
mo xaropes de flor de laranjeira, geleia de
rosas e algumas delícias prontas para serem levadas para casa, entre eles o halawa
(doce de gergelim), esfihas e kibes. Há
também azeites libaneses e portugueses e
200 rótulos de vinhos, inclusive libaneses, tunisianos e marroquinos.
Mas é quase impossível falar do Lagash sem uma referência ao carneiro assado e recheado que frequenta há anos as
mesas brasilienses em grandes comemorações, especialmente no Natal e no Réveillon. O carneiro inteiro, recheado com
arroz de frutas secas, snoubar (pinoli) e especiarias, fica 12 horas marinando e depois segue para o forno, onde permanece
por mais sete horas. Serve em média 20
pessoas e é feito por encomenda. De uns
tempos para cá, o Lagash também passou
a contar com serviço de delivery, de segunda a sexta, das 12 às 16h e das 19h até a
meia noite. Aos domingos, o serviço está
disponível somente até as 17h.
Mantendo a tradição e a qualidade
dos ingredientes e dos pratos, que venham outros 25 anos para o Lagash.
Lagash
308 Norte – Bloco B (3273.9208)
De 2ª a sábado, das 12 às 16h e das 19 às
24h; domingo, das 12 às 17h.
9
água na
na boca
boca
água
Delícias
sem carne
Fotos: Mel Portela
Perto de completar um ano, Café Corbucci comemora
sucesso de seu cardápio de prazeres sem culpa
Hambúrguer
de feijão preto
Por Akemi Nitahara
U
10
m saboroso hambúrguer... de feijão preto. Com cebola caramelizada... no melado. Um delicioso
pastel de... tofupiri. Uma gostosa torta de
chocolate... sem leite. Ou um cremoso cappuccino... com leite de amêndoa. Pode
acreditar. Tudo de encher os olhos e dar
água na boca, respeitando os animais. Todos eles, inclusive as abelhas que forneceriam o mel.
A proposta é do Café Corbucci, primeira, e por enquanto única, casa totalmente vegana de Brasília. Às vésperas de
seu empreendimento completar um ano,
a proprietária, Marina Corbucci, comemora o sucesso entre o público não-vegetariano. “Enche todo dia, chega a faltar lugar”, diz. A casa tem 12 mesas.
Entre os fatores que contribuíram para a boa aceitação, Marina cita o fato de
Sopa de abóbora
com feijão branco
servir comidas vegetarianas que vão muito além da sopa e que prezam pelo sabor,
não necessariamente pela saúde. “São coisas bem diferenciadas, não é self-service, é
um bom espaço para reuniões e happy
hour”, garante.
A sócia de Marina, Simone Lima, explica que a ideia da casa é quebrar o paradigma de que comida natural é sem graça.
Marina Corbucci e Simone Lima: respeito aos animais
“Também sentia falta de um lugar para
sair de noite e comer doce sem ovo e leite”, diz, observando que o cardápio do
Café Corbucci também é adequado para
pessoas com intolerância à lactose.
O cardápio é pequeno, de cafeteria, e
alguns pratos mudam de sabor diariamente, “para exercitar a criatividade e
não entediar a clientela”, segundo Simone. Marina é vegetariana há 11 anos e há
quatro segue a filosofia vegana. “É uma
postura ética de respeito aos animais.
Também não vamos ser tão radicais e
não usar remédios que foram testados em
animais de laboratório, mas é tentar excluir a exploração dos animais na medida
do possível”, ensina.
Ela se formou em psicologia em 2008,
mas percebeu que a profissão não era o
que queria. Começou então a trabalhar
em um restaurante vegetariano. Depois,
passou a trabalhar em casa, fazendo enco-
refrigerantes e os sucos são cremosos, feitos na centrífuga, sem água e sem açúcar.
Café Corbucci
203 Norte – Bloco D (3201-1316).
De 3ª a 5ª feira, das 17 às 23h; 6ª e sábado,
das 17h à meia-noite; domingo, das 16 às 22h.
www.cafecorbucci.com
Akemi Nitahara
densado de soja. No domingo, o cardápio
é enriquecido com tapioca e falafel.
Entre as opções de bebidas, cervejas
artesanais Bierbaum, de Santa Catarina
(R$ 17,90) e vinhos orgânicos Emiliana,
do Chile, a partir de R$ 35. Também tem
whisky e cachaça. A casa não trabalha com
Fotos: Akemi Nitahara
Mel Portela
mendas, dando aulas e
orientação culinária e social para quem estava fazendo a transição para o
vegetarianismo. Buscando
conhecimento por conta
própria, foi fazer
pesquisa de mercado nos Estados Unidos, onde cursou algumas aulas e estágios.
“Lá, e também na Europa,
a cultura vegana já é mais difundida. No
Brasil, é um mercado em expansão, com
mais pessoas virando vegetarianas, mais
matérias sendo publicadas em revistas e
empresas lançando produtos alternativos,
como queijos vegetais”.
Um dos destaques do Café Corbucci é
o pão sem queijo, feito à base de batata e
polvilho, nos sabores tomate seco, azeitona verde e alho e ervas. Sai a R$ 3, o grande. Também tem o sanduíche de seitan
(carne de glúten, feita com farinha de trigo) e tempeh (derivado de soja indiano feito com grãos integrais fermentados), a
R$ 17,90, com uma saladinha. Nas sobremesas, trufas naturais (sem açúcar), tortas
especiais e mousses feitos com leite con-
11
diário de viagem
Bodeguita
e Floridita
Um passeio pelo universo etílico do escritor Ernest
Hemingway e sua turma – Pablo Neruda, Gabriela
Mistral, Nicolás Guillén e outros da mesma estirpe.
Por Lúcia Leão
D
12
as frases e comentários destacados
entre as milhares de assinaturas
que recobrem cada centímetro das
paredes da casa número 207 da Calle
Empedrado, onde há 70 anos funciona
La Bodequita Del Medio, uma é especialmente responsável pela fama do lugar:
“My mojito in La Bodeguita, my daiquiri in
El Floridita”, firmou Ernest Hemingway
em algum dia feliz da década de 1950.
Não há, então, como ir a Cuba e desconhecer os bares e drinques que inebriaram o escritor. Por isso os elegemos, entre os inúmeros ótimos lugares de boa
comida, bebida e diversão na ilha, para começar este roteiro, dedicado a
quem planeje tomar um banho de latinidade e história – com muito rum, é
claro – nas águas do Caribe.
Os locais de preferência de Hemingway e sua turma – Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Nicolás Guillén e outros
tantos da mesma estirpe – estão na Hava-
na Velha, algumas dezenas de quarteirões de casarios coloniais, com quase mil
construções de valor histórico e monumentos erguidos entre os séculos XVI e
XIX, declarados pela Unesco Patrimônios Culturais da Humanidade. Principal
área de interesse turístico da capital cubana, as ruas são cheias de atrações e vivem
lotadas de gentes de todo o mundo, o que
faz já do caminho para os bares uma
grande diversão.
Emergimos no universo etílico de Hemingway na esquina das ruas Monserrate
e Obispo. Lá está, há quase 200 anos, o El
Floridita. Dividido em dois ambientes,
um para os drinques e outro para refeições, o bar do El Floridita remete a cenário de filme policial noir ambientado na
década de 1950: um longo e espaçoso balcão de madeira escura (com uma estátua
de Hemingway em tamanho natural à
ponta, onde o escritor costumava encostar o cotovelo para conversas e beberagens intermináveis), bancos altos, garrafas, copos e coqueteleiras enevoados pela
fumaça de cigarros – sim, ainda se fuma
lá e em qualquer bar ou restaurante de
Cuba! Mas a algazarra dos coloridos e
barulhentos turistas, que lotam o lugar
atravessando o ritmo de salsa “para inglês ver” entoada por um dos incontáveis grupos musicais que animam as
noites cubanas, quebra um tanto o encanto. Dá até para pensar que não se está em Havana, mas em Hollywood, onde
o restaurante tem uma filial.
de dois) para acompanhar nossas carnes.
La Bodeguita é Del Medio porque não
está em nenhuma esquina, como era de
praxe para os negócios de secos e molhados na Cuba da primeira metade do século passado, mas bem no meio de um quarteirão da Calle Empedrado. Foi criada em
1942 como Casa Martinez, um armazém
onde o comerciante Angel Martinez começou a servir poucas refeições por encomenda de um vizinho de porta, o editor
literário Feliz Ayón. Não demorou a transformar-se em ponto de encontro da intelectualidade cubana e internacional e já
em 1948, quando ganhou o nome definitivo, tinham ali cadeira cativa Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Agustín Lara, Nicolás Guillén, Carlos Mastronardi e, é claro,
Ernest Hemingway, entre outros. Ao longo desses quase 70 anos, centenas de milhares de clientes registraram nas paredes
sua passagem por La Bodeguita. Procurando bem, é possível encontrar assinaturas de muitos brasileiros notáveis, como
Luiz Inácio Lula da Silva.
O morrito para abrir os trabalhos é
pedida obrigatória de um almoço no La
Bodeguita. E sugerimos que vá com calma: se quiser, repita a dose; se for fumante, acenda um cigarro, desfrute do
ambiente e da convivência, passe para a
cerveja e não se acanhe de pedir uma
mais gelada – as “bem frias”, como dizem, não são usuais em Cuba. Só então
escolha o que comer, e será servido quase
que imediatamente. As especialidades
são o lombo de porco assado e a “roupa
velha” (carne de vaca cozida, desfiada e
temperada com cebola, pimentão e
muitos condimentos), ambos muito
saborosos. O acom­
­­­­­­panhamento é o
mesmo para todas
as carnes: moros e
cristanos, banana fri­­­­­ta e uma saladinha
frugal de repolho
cru, tomate, cebola
e beterraba. Encerre com um cafezinho espresso e um
rum 7 anos (quase
um licor). Despeça-se de Eddey, que
certamente lhe baterá nas costas e dará
um vigoroso aperto
de mão, pedindo que retorne em breve,
tome o rumo do Malecón e não precisará
de muita sorte para topar com uma performace teatral na rua ou algum instrumentista do Buena Vista Social Club tocando
no bar…
Bom, mas isso é uma outra história,
que fica para a próxima edição.
El Floridita
Calle Obispo, 557, esquina com Monserrate,
HavanaVelha. Reservas: (53-7) 867.1299.
La Bodeguita del Medio
Calle Empedradro, 207, HavanaVelha.
Reservas: (53-7) 867.1374.
O gasto médio por pessoa, em ambas as
casas, é de US$ 40, incluindo refeição, dois
ou três drinques e três ou quatro cervejas.
Fotos: Arquivo pessoal
A despeito do ruído, foi um enorme
prazer saborear, no berço, um daiquiri à
moda da casa. Afinal, foi lá que um barman catalão chamado Constantino criou,
na década de 1940 (o auge da belle époque
cubana), uma variação sofisticada para a
simplória mistura de rum, limão e açúcar,
desde sempre popular entre os moradores
locais. Temperou-a com um toque de licor
de maraschino, acrescentou gelo moído e
bateu-a vigorosamente na coqueteleira até
adquirir a consistência de um frappé. Sucesso absoluto! O mesmo barman criou
uma versão especial para o escritor de O
velho e o mar enganar seu diabetes: aboliu
o açúcar, dobrou a dose de rum e acrescentou grapefruit aos demais ingredientes.
O drinque ainda está no cardápio do El
Floridita e atende pelo nome de Papa Hemingway.
No salão atrás do bar está o restaurante, muito chique, de poucas mesas postas
com muitas louças, talheres e suntuosidade. No almoço, ele costuma lotar. À noite,
ao contrário do bar, é bem mais vazio e tivemos atenção quase exclusiva do garçom
de traje e comportamento muito formais.
O cardápio é restrito e especializado em
frutos do mar (o que, como em toda a
ilha, significa nada mais do que peixe, lagosta e camarão). Comemos o “prato da
casa” – lagosta em cubos, refogada em
molho bem condimentado e flambada em
vinho branco. Foi bom, mas comemos
melhor (e bem mais barato!) em outras
plagas cubanas.
Se o El Floridita nos foi um ninho estranho, na Bodeguita nos sentimos inacreditavelmente em casa. Alguma coisa na
atmosfera do lugar – talvez a decoração,
ou a simpática eficiência dos garçons, ou o
aroma das panelas fumegantes na cozinha
aberta logo na entrada da casa, ou a energia deixada nas paredes por tantos milhares de anônimos e notáveis clientes, ou, o
mais provável, tudo isso junto – nos fez
sentir uma intimidade do Beirute, ou do
Lamas, pra quem é do Rio, ou do Riviera,
para a boemia paulista da década de 1970.
Quando nos demos conta, ocupávamos
uma mesa em lugar privilegiado, conversávamos com uma professora mexicana,
sentada ao lado, sobre a identidade cultural de Brasil e Cuba e reclamávamos a
Eddey, já então nosso velho garçom, uma
Bucanero (cerveja local forte e encorpada,
deliciosa!) “lá do fundo” e uma porção
mais generosa de moros e cristanos (versão
crioula, com feijão preto, do nosso baião
A jornalista Lúcia Leão (abaixo) preferiu o
ambiente mais descontraído de La Bodeguita,
onde os clientes fazem questão de imprimir
seus nomes nas paredes, como fez Vicente Sá.
13
picadinho
Feijoada sem estresse
Nada de pegar fila para disputar com um
bando de esfomeados os melhores nacos
de carne e seus acompanhamentos. Ao
chegar numa tarde qualquer de sábado
ao La Tambouille, no Espaço Gourmet
do ParkShopping, a primeira coisa que
o cliente recebe é uma cédula em que irá
“eleger” cada ingrediente de sua feijoada.
Depois, é só esperar, enquanto saboreia
as entradinhas, que o garçom monte
o prato, como na foto acima, de Gilberto
Evangelista, e traga-o à mesa. Mas
não parece estranho que um badalado
restaurante de comida franco-italiana
sirva o mais brasileiros de todos os
pratos? Quem explica é o chef Giancarlo
Bolla, que veio a Brasília especialmente
para lançar a novidade: “Trinta anos atrás,
apaixonei-me pela feijoada preparada por
uma empregada mineira lá de casa e
decidi levá-la para o restaurante. Desde
então, o prato nunca mais saiu do
cardápio”. Pela feijoada light, com pouca
gordura e moderada no sal, nem por isso
menos saborosa, quem
for ao La Tambouille
pagará R$ 67.
Dia do uísque
Recém-inaugurado na
106 Sul, o restaurante
Quitandinha já aderiu ao
14
Whisky Day da Johnnie Walker. Toda
quinta-feira, o uísque mais popular da
marca – o Red Label – é vendido com
descontos de 30% na garrafa e de 40%
na dose. Mas não se resumem a isso os
atrativos da nova casa dos empresários
Márcio Schettino e Jeremias César Neto.
O cardápio elaborado a quatro mãos
é resultado da consultoria dos chefes
Alexandre Frigo e Marcelo Lopes. “O
Marcelo trabalha muito bem os preparos
com frutos do mar e as sobremesas e o
Alexandre é um especialista em receitas
de carne”, explica Jeremias. No almoço,
o Quitandinha oferece bufê de saladas,
conservas, antepastos, pratos quentes
e várias opções de grelhados. À noite,
queijos e frios e serviço à la carte com
mais de 30 de pratos preparados com
cortes selecionados de cordeiro, suínos,
bovinos, frangos e peixes nobres.
Peixes da Amazônia
Essa suculenta pescada amarela
(R$ 67,20) é uma das estrelas do menu
especial com peixes amazônicos que o
restaurante Barbacoa (Espaço Gourmet
do ParkShopping) estará servindo a seus
clientes até 8 de abril. O filé de uritinga
com arroz de tambaqui (R$ 60,20),
o filhote com banana da terra assada
(R$ 63,50) e a costela de tambaqui
acompanhada de quibebe com camarão
(R$ 64,90) completam o cardápio. Todos
os pratos dão direito ao bufê de saladas.
Novidades no Haná
Sushi no palito, fritinho, kafta de salmão,
gunkan de anchova defumada (foto),
carpaccio de robalo, ceviche... é extensa
a lista de novas delícias oferecidas pelo
japonês Haná, da 408 Sul, para comemorar, desde já, seu décimo aniversário, que
só acontecerá em outubro. Todas essas
novidades estão presentes no bufê de
sushis, sashimis, pratos quentes e robatas
servido diariamente aos preços de R$ 57
no almoço e R$ 59 no jantar. Mas não
é só isso: o bufê ganhou um aquecedor
infravermelho que mantém os alimentos
crocantes e aquecidos, e os tradicionais
réchauds foram trocados por placas
térmicas digitais, o que permite que
os pratos quentes sejam aquecidos
de forma adequada e conservem
seu valor nutritivo.
Festival italiano
Um dos endereços mais charmosos da
cidade, o Oscar, do Brasília Palace Hotel,
relançou no último dia 11 seu festival de
gastronomia italiana – um bufê completo
de massas e risotos preparados na hora,
carnes, saladas, pães e sobremesas,
ao preço de R$ 60 por pessoa. A cada
domingo será montada uma estrutura
diferente de pratos. Para acompanhar,
uma rica seleção de vinhos.
A Hostaria dei Sapori, da 201 Sul, acaba
de lançar um cardápio de pizzas, para os
domingos, com onze sabores: focaccia,
mussarela, margheritta, margheritta de
búfula, napoletana, primavera, norma,
calabresa, quatro queijos, nutella e a
especial frutos do mar, com camarões,
lula, polvo e mexillhões. Uma curiosidade:
as pizzas são servidas apenas no tamanho
“enorme”, com 12 pedaços. Ideal,
portanto, para famílias ou grupos de
amigos. Outra novidade na Hostaria é
o festival de massas: gnocchi, fettuccine,
spaghetti e ravióli ao preço de R$ 29
no almoço de terça a sexta-feira.
Chocolate pascal
Desde o dia 12 estão à venda na Cacahuá
(207 Sul) os chocolates temáticos da
Páscoa. Uma das novidades é a cocotte
(panelinha de alumínio esmaltada)
recheada com brigadeiro da casa ao
leite ou branco com damasco. Na linha
de ovos de Páscoa, os estreantes são os
de chocolate ao leite com recheio de fava
de baunilha e crosta de açúcar mascavo,
ao leite com caramelo belga, noz pecan
e nozes encrustradas e ao leite com
castanha de caju e passas. Mas o mais
emblemático, segundo a chocolatier
Eliane Valladão, continua sendo o
Diamante, com 1,3kg de chocolate
ao leite ou meio amargo e o formato
de uma grande pedra preciosa lapidada.
Entre os mais pedidos de 2011 e que
figuram na lista deste ano estão os ovos
Fotos: Divulgação
Pizza gigante
de morango, laranja, limão siciliano,
avelã, macadâmia e maracujá. Este ano a
Cacahuá vai utilizar mais de uma tonelada
do chocolate belga Barry-Calebaut na
preparação de suas 40 opções de ovos,
bichinhos e barras decoradas.
Très bon
Nem só de filmes, exposições, shows
musicais e debates vive a 15ª edição
da Semana de Francofonia. Este ano,
várias embaixadas de países que têm
em comum o idioma francês criaram
cardápios com pratos típicos a serem
degustados até o dia 27 no Hotel Royal
Tulip Brasília Alvorada. Preço por pessoa:
R$ 58. Mais informações: 3424.7000.
Menu infantil
O restaurante Doce Delícia (404 Sul)
acaba de incluir em seu cardápio quatro
novidades que vão agradar em cheio as
crianças de até dez anos: Filé Sorriso (filé
mignon picadinho com arroz branco,
caldinho de feijão e batata frita); Filé
Sorriso Frango (filé de frango picadinho
com arroz branco, caldinho de feijão
e batata frita); Paillard com Fettuccine
(fettuccine ao molho cremoso sobre fina
camada de filé mignon) e o Picadinho
Infantil da foto (filé mignon, arroz branco,
farofinha, ovo frito e banana à milanesa).
Cada um custa R$ 19,90. Outra novidade
é que o restaurante abriu seu serviço de
delivery de tortas doces e salgadas, nos
moldes da matriz carioca. Os pedidos
podem ser feitos nos telefones 3321.1412
e 3323.1212, com 24h de antecedência.
Carnes nobres
em Águas Claras
A costeleta suína com molho barbacue,
o assado de tira com penne arrabiatta,
o baby beef com risoto de gorgonzola
e nozes e o bife de ancho com
fetuttine de limão e pimenta são
algumas especialidades da rede de
restaurantes Santa Brasa, que acaba
de inaugurar em Águas Claras – no
Shopping One Park Mall – sua primeira
filial em Brasília. Fundada há menos de
dois anos em Uberaba, a Santa Brasa
já está presente também em Londrina
e Goiânia e prepara a abertura de
novas unidades em Uberlândia,
Belo Horizonte e Ribeirão Preto.
15
GARFADAS & GOLES
Luiz Recena
[email protected]
Um rescaldo nada feliz
O verdadeiro ano novo começa só depois do Carnaval. Dizem isso do Brasil, embora milhares de brasileiros comecem com muito
trabalho cada novo ano no seu primeiro dia. A Bahia não dá tanta importância a esse debate. Cada baiano no seu jeito: uns
começam a trabalhar logo e bastante; outros nem tanto, empurram o barco devagar, vão velejando festas, lavagens, trios elétricos,
Iemanjá, Carnaval e, por fim, as “ressacagens”, a ressaca das festas, que vai até o fim de março. Haja disposição, haja fôlego, haja
fígado. Então, nesse rescaldo acontecem os balanços de todo esse período festeiro. Os números, desta vez, não são bons e nem
de longe lembram os últimos anos. A greve da Polícia Militar, no início de fevereiro, foi uma paulada na programação geral, nos
projetos e, principalmente, nas expectativas de ganhos. Perderam todos: hotéis chegaram a 20% de cancelamentos de reservas,
agências de turismo mais ou menos nessa média quanto a desistências de pacotes reservados ou já vendidos, blocos com quase
30% a menos na venda de abadás, na mesma linha seguiram bares e restaurantes, inclusive aqueles localizados em shopping
centers, teoricamente locais com maior oferta de segurança. Até o superbadalado camarote Salvador, estrela de primeira grandeza
da festa de Momo, teria amargado um prejuízo de R$ 2 milhões, número publicado e não desmentido pelos organizadores.
Razão maior
Medo. Eis a razão principal na base de tanto insucesso. Turistas
brasileiros e estrangeiros ficaram assustados com as primeiras
imagens da ação grevista, com ônibus queimando e impedindo
o trânsito na principal avenida que liga a cidade ao aeroporto.
Em seguida, a duplicação da média de homicídios para a época.
Sem polícia nas ruas, principalmente nos bairros periféricos,
quadrilhas aproveitaram para vários tipos de acerto de contas.
Inclua-se mortes. Muitas mortes. O medo gerou insegurança,
que determinou as decisões de cancelamentos lá fora. Aqui
dentro, o mesmo medo impôs a permanência das pessoas
em suas casas. Bairros normalmente agitados, na orla,
experimentaram dias de tranquilidade assustadora.
Devagar, devagarinho
Não, a vida não parou. Mas moveu-se em câmara lenta, muito
lenta. As praças de alimentação, termômetros da vitalidade
dos centros comerciais de Salvador, andaram devagar, quase
parando nos dias de greve. “Vendi quase 40% a menos no
mês de fevereiro”, disse-me um empresário de comida italiana,
estabelecido em um dos grandes shoppings da cidade. Outros
consultados não revelaram cifras, mas acusaram o golpe. “Não
houve pânico nem arrastões nos shoppings, mas houve, sim,
redução significativa nas vendas, principalmente de comida”,
contou-me outro.
Ponto positivo
Pelo menos um ponto positivo foi registrado: o aumento no
16
consumo de comidinhas “delivery”. Dos clássicos chineses
e pizzarias até exclusivos restaurantes, todos apelaram para
a entrega em casa. Inclusive os franguinhos assados bateram
asas e voaram em céu de brigadeiro. “Dobrei minhas entregas
noturnas, foi a salvação, pois a casa esteve sempre quase vazia”,
revelou-me um preocupado pizzaiolo dos arredores da praça
Vinícius de Moraes, em Itapuã. É um equilibrado resumo
daquele momento.
Culpa eu?
Na distribuição das responsabilidades, sobrou para todos.
Em primeiro para os grevistas, que tinham razão em suas
reivindicações, e que perderam-nas quando se deixaram levar
por uma liderança radicalizada e partiram para a violência,
intimidando e constrangendo a população. Em segundo
(ou talvez primeiro?) o governo estadual, que avaliou mal
o movimento, minimizando-o. Não se organizou. Demorou
demais para resolver a questão das reivindicações, muitas delas
justas e devidas há bom tempo. Por último a mídia, que cobriu
mal e não raro cuspiu gasolina na fogueira, dando espaço
enorme para boatos, aumentando a sensação de medo.
Por fim...
A greve acabou e veio o Carnaval, sempre alegre, mas o
estrago já estava feito. E, para não dizer que não falei de
flores, ponto para um prato surpresa: o carpácio de polvo
com rúcula, do novo Bora Bora, na Pedra do Sal, pertinho
de Itapuã.
PÃO & VINHO
ALEXANDRE FRANCO
pao&[email protected]
Um lustro
Na antiga Roma – onde, aliás, se fazia bom vinho e
se consumia ainda melhores, para os padrões da época,
são, enfim, uma de minhas paixões.
Muito em breve, pois já estamos na revisão da arte-
é claro – havia uma cerimônia pública de purificação à
final para imediatamente seguirmos para a impressão
qual se juntava um recenseamento da população, que
em gráfica, estarei efetivamente lançando meu livro
se renovava de cinco em cinco anos. Daí, provavelmente,
Cem vinhos, sem frescura, que procura apresentar
saiu o significado mais moderno da palavra que indica,
ao consumidor uma centena de rótulos escolhidos
além de brilho, ou polimento, um período de cinco anos
por mim como grandes exemplos de boa relação
– um lustro.
custo x benefício, de forma clara, direta, objetiva e,
Após cinco anos, prescreve a responsabilidade tribu-
espero, interessante. De forma a motivar o leitor ao
tária. O nome incluído no Serasa sai de seus registros.
mesmo tempo a se informar sobre os vinhos e, mais
Enfim, é tempo para muitas anistias. Na numerologia,
que tudo, a degustá-los.
o cinco é o número do playboy, do prazer sem preocu-
São cem vinhos divididos entre nacionais, espuman-
pação, da abundância dos sentidos, da busca pelo novo,
tes, brancos, tintos, doces e exclusivos, das mais diversas
pela experimentação.
procedências, disponíveis no mercado brasileiro (à exce-
Mais que tudo, cinco são nossos sentidos, sem os
ção de apenas um), por preços de no máximo US$ 100
quais a vida não teria um real significado. E o nosso
(à exceção dos exclusivos) e com média de preços abaixo
amado vinho consegue despertar cada um deles: a visão
dos US$ 70.
pela sua cor rubra, que incendeia nosso olhar; a audição
Não sei ainda se será possível organizar um lança-
que se anima e se aguça ao tilintar dos brindes; o tato
mento do livro em Brasília, mas tentarei. De qualquer
acalentado pela maciez e sedosidade que toma nossa
forma, encaminharei cinco exemplares à Roteiro para
boca; o olfato que nos inebria com frutas e flores;
que os sorteie entre seus leitores. E para brindar esta
e, é claro, o sabor, o muitas vezes inesquecível sabor
minha comemoração, sugiro um dos ícones chilenos
que alguns desses fantásticos caldos nos proporcionam,
de minha preferência, que aliás faz parte do livro, e que
a dominar nossos sentidos todos.
bem cabe nesta breve reflexão: o Quinta Generation
Ora, com significados que envolvem coisas como
2007, da Casa Silva, importante produtor daquele país.
“brilho”, “polimento”, “cerimônia” e “purificação”,
De cor rubi intenso, traz aromas de frutas vermelhas
e objetivos como “prazer”, “experimentação” e
com toque de pimentão e leve café. O palato apresenta
“abundância sensorial”, nada mais justo, para mim,
corpo pleno, sendo sedoso e complexo, com taninos
que a comemoração que agora realizo ao completar
presentes, mas bem domados e maduros, com doce de
cinco anos escrevendo esta coluna sobre vinhos, que
boca e toque de chocolate.
17
DOIS ESPRESSOS E A CONTA
cláudio ferreira
[email protected]
Os mandamentos do self-service
1 – Não guardarás lugar.
É uma das práticas mais abomináveis nos restaurantes,
demonstrando toda a carga de individualismo dos clientes.
Chegam e já querem garantir vaga, deixando bolsas, casacos, chaves do carro e o que mais puderem. Quem não
guardou lugar faz o prato e fica rodando atrás de mesa
vazia. Nem precisava dizer, mas este mandamento pode
incluir também o “não furarás a fila da comida” – nem
para ficar junto dos 25 colegas de trabalho que foram
almoçar com você.
Não é porque você adora bife à milanesa que precisa comer os cinco que estão disponíveis na bandeja. Também
não vale comer TODOS os pedaços carnudos do frango,
restando só os ossos para o próximo. Os mais mal educados remexem tanto a lasanha que a deixam em estado lamentável para o cliente que está mais atrás na fila. E lembre-se: fazer um prato de estivador não é proibido, mas vai
pesar na balança e, consequentemente, no bolso. Levando
ainda em conta que desperdiçar comida em self-service
pega muito mal.
2 – Comportar-te-ás diante da comida
Sim, é bom respeitar a comida que TODOS vão comer.
Em primeiro lugar, sem conversar em cima do prato de
salada ou do arroz. Falar no celular, então, nem pensar –
para não passar o constrangimento de ter de “pescar”
o aparelho na tigela do feijão preto. Mulheres podem
esperar para mexer no cabelo quando voltarem para
a mesa, não podem? Homens podem guardar para
depois aquela coçadinha no ouvido.
5 – Não conversarás alto
Uma das características dos self-services é a grande quantidade de mesas. Resultado: clientes muito próximos uns
dos outros. Por isso, é bom cuidar do volume da conversa.
Eu NÃO quero saber detalhes da sua noitada, não me
interesso pelas doenças dos seus familiares, pelas manias
do seu chefe ou pelas traquinagens dos seus filhos. Quem
for obrigado a atender o celular nesse ambiente já barulhento poderia me poupar das negociações de cardápio
com a empregada ou das broncas nos filhos adolescentes.
3 – Respeitarás o tempo dos outros clientes
Quem opta pelo self-service escolhe, entre outras vantagens, a comodidade de se servir rapidamente. Mas há
sempre percalços nas filas das “ilhas” de alimentos. Como
aquele sujeito que quer “escolher” tudo: tirar do prato de
legumes cozidos só os legumes que gosta; fisgar da caçarola de frango cozido a coxa que insiste em se esconder no
molho. Nos restaurantes naturais, há aqueles que passam
horas diante de um prato de alface, como se houvesse
muito o que escolher entre as folhas – parecem em
estado de contemplação da natureza.
4 – Respeitarás a fome dos outros clientes
18
6 – Comportar-te-ás decentemente na fila do caixa
Mesmo que você tenha comido junto com seus colegas de
trabalho, não dá para guardar lugar para todos eles na fila.
Ah, vocês vieram juntos para o restaurante e querem sair
juntos? Organizem-se para ir para a fila juntos. Os outros
clientes também estão com pressa e já têm que enfrentar
dificuldades como a lentidão da máquina de cartão
(ou do operador) e a demora recentemente instituída por
quem quer o CPF na nota fiscal. Criança chorando na fila
do caixa também é doloroso! Aliás, se é um só o membro
“pagante” da família, que tal só ele ficar na fila? Colabora,
e muito, para que o final do almoço seja feliz.
Kacau Machado
Kacau Machado
Crystiano D’Moura
que espetáculo
Lilian Franca,
Flávio
Monteiro
e Aylan
Carvalho
atuam em
Cascudo, sob
a direção de
André Amaro
(foto maior,
à esquerda)
Bravíssimo!
S
e você ainda não conhece a menor
sala de teatro de Brasília, inclua em
seu roteiro cultural uma ida ao aconchegante Caleidoscópio. Instalada no coração do Setor Sudoeste, a casa de criação
do diretor André Amaro e sua trupe está
comemorando uma década de funcionamento. E vai oferecer ao público, durante
este ano, alguns espetáculos de seu repertório, além de peças inéditas. A temporada
teatral começou no dia 10 com a premiada
Cascudo, montagem que inaugurou a sala,
e termina em dezembro com o mais novo
espetáculo do grupo.
O Teatro Caleidoscópio tem capacidade para apenas 30 espectadores. Às vezes
um pouco mais, às vezes menos. Em todos
os casos, é o ambiente intimista que sela o
diferencial da sala. Outra característica é a
pesquisa desenvolvida pelo grupo. “Também chamado de brinquedo-filosófico, o
caleidoscópio é utilizado como referência
de sistemas dinâmicos, graus de expressividade, padrões de movimento e de energia
que os atores buscam apurar em nossos
laboratórios”, explica André Amaro.
A invenção do físico escocês David
Brewster serve ainda de forte inspiração
para as montagens, fazendo surgir uma va-
riedade de encenações. Seu elo conceitual
com o teatro motivou a publicação do livro
Teatro Caleidoscópio: o teatro por-fazer, além
de uma tese de mestrado, O espírito caleidoscópio e o espetáculo cênico. O Teatro Caleidoscópio já produziu 22 peças, das quais
12 foram encenadas em sua sede.
Apesar do largo tempo garantindo a
existência de seu teatro de bolso, André
Amaro não se diz um empreendedor:
“Sou talvez um empreendedor de poéticas,
de ideias, de desejos; sou um trabalhador
muito mais voltado à transpiração artística
do que à gestão comercial do espaço, à vida empresarial. Nos juntamos para criar,
por uma necessidade vital, pagamos as
contas e pronto. Enquanto isso for possível, continuaremos comprometidos com
os poderes transformadores do teatro”, diz
o criador do Caleidoscópio. André Amaro
foi também diretor do Espaço Cultural da
Câmara dos Deputados por nove anos e
hoje atua na casa como jornalista, apresentando um programa de cultura na Rádio
Câmara.
Depois de passar pela batuta de Dulcina de Moraes, de quem foi aluno, André
chegou às plagas do teatro antropológico
de Eugenio Barba (de quem se tornou co-
O diminuto Teatro
Caleidoscópio,
de André Amaro,
comemora seu
décimo aniversário
laborador no Brasil), experimentou o rico
ambiente de criação do Théâtre du Soleil,
de Ariane Mnouchkine, lecionou em escolas de teatro, participou de festivais, ganhou prêmios e, em parceria com a Editora Dulcina, vem publicando grandes títulos da bibliografia teatral, como A canoa de
papel, de Eugenio Barba, Para um teatro pobre, de Jerzy Grotowski, e Avec Grotowski,
de Peter Brook. “Eu só me ressinto de não
saber ainda costurar”, brinca o também bilheteiro e porteiro do Teatro Caleidoscópio. Tantas facetas refletem o espírito caleidoscópico da arte.
Confira e aplauda!
Teatro Caleidoscópio
102 Sudoeste – Bloco C (3344.0444).
Programação: até 1/4, Cascudo (lendas,
contos, crendices, superstições, gestos e
canções retirados dos estudos de Câmara
Cascudo) – sábados, às 21h, e domingos,
às 17 e 20h; de 6 a 29/4, A tempestade
(última peça de William Shakespeare, uma história de dor e reconciliação sobre
a insanidade mental e a ambição material
humana) – sextas e sábados, às 21h,
e domingos, às 20h; de 11 a 24/5,
Uma última cena para Lorca (durante a guerra
civil espanhola, Federico Garcia Lorca se
esconde da perseguição política num quarto
secreto e, dois dias antes de morrer, tenta
finalizar sua última peça teatral) – Sextas
e sábados, às 21h, e domingos, às 20h.
Ingressos: R$ 40 (inteira).
19
Guga Melgar
dia & noite
escolhasdavida
Rômulo é um escritor de ficção científica que foge
de casa e volta 25 anos depois. Descobre que seu pai
morreu e reencontra Remo, o irmão gêmeo, trabalhando na oficina da família. Com texto inédito do
dramaturgo Walter Daguerre, a peça A mecânica das
borboletas está em cartaz no CCBB até 8 de abril.
Inspirada numa história passada em Lavras do Sul,
cidade gaúcha onde viveu a família do diretor de teatro
Paulo José, a peça é dirigida por Paulo Moraes e tem
no elenco Eriberto Leão, Ana Kutner, Otto Júnior
e Suzana Faíni. “Sentimentos de perdas prevalecem
em quem busca o sonho de desbravar o mundo e em
quem escolhe ficar no mesmo lugar, na mesma cidade.
O primeiro acha que perde a participação no crescimento, desenvolvimento e amadurecimento da família. O outro tem a sensação
de perda por não aproveitar novas oportunidades e experiências que conhecer o mundo pode proporcionar”, explica o autor.
De quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 6 e R$ 3. Informações: 3108.7600.
Randall Andrade
elasnopicadeiro
teatrinhonopátio
Divulgação
Já tem um ano o projeto que leva alegria à criançada presente ao
Pátio Brasil nas tardes de domingo. Na programação comemorativa
de março estão dois espetáculos com temas pascoalinos. No dia 18
será encenada a peça Mistério dos ovinhos de Páscoa, que conta
a história de quatro coelhos responsáveis pela entrega dos ovos
de chocolate às crianças. No dia 25, será a vez de Quem vai ficar
com os ovos?, sobre uma certa Senhora Coelha, que se cansa de
entregar os ovinhos e resolve fazer um concurso para escolher
seu substituto. Na Praça Central, às 16h30, com entrada franca.
20
Gustavo Serrate
Temporada de Palhaças no Mês da Mulher, ou simplesmente TPMs. Esse é o nome do
projeto idealizado pelas palhaças da recém-inaugurada lona multicultural de Brasília –
a Circa Brasilina. “É uma temporada bastante específica e inusitada, que homenageia
as mulheres com graça e muita alegria”, informa a idealizadora Manuela Castelo Branco.
Atriz, palhaça, diretora e produtora, Manuela idealizou projetos como o Encontro de
Palhaças de Brasília – Bienal Internacional de Palhaças e o Pipocando Poesia, também
com destaque para artistas mulheres. Na programação da TPMs estão seis espetáculos
de palhaças e um cabaré misto, com performances brasilienses. As palhaças Madame
Dolores, Matusquella, Magnólia, Hipotenusa e as cômicas Anasha e Pandora estão
encarregadas de colorir o universo essencialmente feminino da Circa Brasilina. Até 1º
de abril, às 20h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. A lona fica na BR 020 – Km 2,5, lote 3.
solooriental
Pontos extremos como a vida e a morte, o ying e yang, o masculino e o feminino estão presentes
na dança de Tadashi Endo, bailarino japonês que se apresenta no Teatro da Caixa entre 16 e 18 de
março. Com o espetáculo Ikiru – Um réquiem para Pina Baush, ele celebra a vida e presta uma
homenagem a seus mestres mortos, em especial à coreógrafa alemã Pina Baush, falecida em 2009.
O trabalho de Endo é uma síntese de teatro, improvisação e dança. Além de bailarino e coreógrafo, Endo participou e fez a preparação dos dançarinos do filme Hanami – Cerejeiras em flor.
Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 3206.9448.
portinarihistórico
Divulgação
Charges, cartuns, caricaturas e tiras de humor
que tenham como tema “o futuro da água”
podem participar da quinta edição do
Ecocartoon – Salão Internacional Pátio Brasil
de Humor sobre Meio Ambiente. Os interessados têm até 15 de abril para inscrever seus
desenhos em www.ecocartoon.com.br.
“O Ecocartoon é um evento muito bacana,
porque incentiva a preservação da natureza de
forma lúdica e bem humorada, além de trazer
olhares diferentes sobre uma mesma questão
ambiental de pessoas dos quatro cantos do
planeta”, explica a gerente
de Marketing do Pátio
Brasil, Karine Câmara.
O julgamento dos 100
melhores será
feito no dia 15 de
maio. Além de
troféu, o
primeiro lugar
ganha um
prêmio de
R$ 4 mil e
o segundo e
terceiro, de R$ 2
mil e R$ 1,5 mil,
respectivamente.
Silvano Mello (2º colocado em 2011)
artedaresistência
Durante muitos anos, mais precisamente o tempo que durou a ditadura
chilena, sacos
de farinha ou
batata serviram
de telas,
enquanto
linhas, retalhos
e outros objetos
foram as tintas
de mulheres
que resolveram
expressar seu
inconformismo
diante das
prisões e
torturas de
chilenos
contrários ao regime do ditador Augusto Pinochet (entre 1973 e1990). Cerca
de 30 trabalhos dessas mulheres, cuja técnica têxtil é denominada arpilleras,
poderão ser vistos pelos brasilienses que forem à Biblioteca Nacional entre
22 e 29 de março, primeira parada da exposição que seguirá para Porto Alegre,
Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A produtora Clara Politi conta que
os trabalhos dessa coleção nasceram das mãos de mulheres que estiveram
presas ou cujos maridos ou filhos foram presos, torturados ou assassinados
durante a ditadura. Inicialmente uma obra de artesanato, as peças acabaram
tendo não só valor artístico como serviram para ajudar financeiramente
as mulheres que se uniam em grupos de trabalho e conseguiam reforçar
o sustento da família. Entrada franca.
Divulgação
ecocartoon
Fotos: Divulgação
Quem for a São Paulo até 21 de abril não pode
deixar de visitar a exposição que já foi vista por
mais de 52 mil pessoas apenas no primeiro mês.
Trata-se de Guerra e paz, dois painéis do artista
plástico paulista Cândido Portinari (1903/1962)
que ficaram isolados do público na sede da ONU,
em Nova York, por mais de 50 anos. A exposição
histórica sem precedentes reúne também, pela
primeira vez, cerca de 90 estudos preparatórios
que o pintor fez para a produção dos painéis,
além de documentos e objetos pessoais. Instalados no Memorial da América Latina, os
painéis Guerra e paz ficam em São Paulo até
21 de abril, quando partem para exibição
internacional que deve abranger cidades
como Oslo, na Noruega, e Tóquio, no Japão.
De terça a domingo, das 9 às 18h, com
entrada franca. Informações: 3823.4600.
21
Divulgação
dia & noite
semanadafrancofonia
Pensar, comer e dançar em francês. Esse é o lema da 15ª edição da Semana da Francofonia,
mais precisamente 12 dias de shows, filmes e exposições que celebram o multiculturalismo
entre os dias 15 e 27 de março. Na vasta programação, destaque para o show de Baloji
(foto), o mais festejado músico congolês, com a Orquestra de La Katuba, que mistura afro-funk, hip hop e soul. Será dia 20, no Teatro dos Bancários, com ingressos a R$ 20 e R$ 10,
à venda na Aliança Francesa (708/907 Sul) e na bilheteria do teatro. Aguardada também é a
turnê de lançamento do novo álbum da banda suíça de reggae Junior Tshaka, dia 17, às 20
horas, no Teatro Sesc Garagem, com entrada franca. Terceira língua mais falada da internet
– a nona no mundo –, o francês está presente em dezenas de países como idioma oficial.
São cerca de 220 milhões de pessoas que falam francês, 900 milhões envolvidas com
o idioma e 900 mil professores espalhados pelo mundo. Na agenda de exposições
estão Diga-me dez palavras, que marca o tricentenário de nascimento de Jean-Jacques
Rousseau, e a mostra de fotografias de Rosa Berardo, sobre a fabricação do xarope de
plátano, árvore símbolo do Canadá. Programação completa em www.francofonia.org.br.
chiconochoro
assuntodemeninas
Divulgação
Em 1980 ela fez seu primeiro filme,
Strass café, influenciada pelo trabalho
da escritora existencialista Marguerite
Duras. Mas foi só em 1984 que Léa Pool
obteve destaque com o autobiográfico
Anne Trister, que conta a chegada ao
Canadá de uma jovem artista suíça e
seu documentário mais recente, sobre
o outro lado das campanhas contra o
câncer de mama. Esse e outros 11 filmes
de Léa Pool serão exibidos entre 20 e 25
de março no CCBB. Em comum, o fato
de abordarem temas sobre a identidade
da mulher. Homossexual assumida,
ela nasceu há 61 anos na Suíça mas
se mudou para o Canadá para estudar,
onde mora até hoje. Na programação do
CCBB estão os títulos mais conhecidos
da cineasta, como Assunto de meninas,
de 2001, e A borboleta azul, de 2004.
Exibidos em quatro sessões diárias, os
filmes têm entrada franca, mediante
retirada de senhas uma hora antes
da exibição. Programação completa
em www.bb.com.br/portalbb.
Divulgação
marinanacaixa
Divulgação
22
É a primeira vez que um compositor vivo é homenageado no Clube do Choro
de Brasília. Aberto no último
dia 7 com a apresentação
sempre impecável do bandolinista Hamilton de Holanda, o
projeto Meu caro amigo Chico
Buarque vai trazer, ao longo
deste ano, 120 shows de instrumentistas de destaque, todos
fazendo referência ao autor de
Um chorinho, Meu caro amigo
e Choro bandido. A proposta de Reco do Bandolim, diretor do Clube do Choro,
é fazer uma grande retrospectiva e, ao mesmo tempo, uma profunda releitura
da música de Chico. Com isso, pretende agradar tanto aos fãs de carteirinha
como conquistar os jovens que porventura ainda não se deram conta da imensa
importância de sua obra. Entre os próximos convidados do projeto está o trompetista Joatan Nascimento (foto), que se apresenta nos próximos dias 21, 22 e 23,
com o Grupo Choro Livre. Programação completa em www.clubedochoro.com.br.
Informações: 3224.0599.
Das 11 músicas de seu último CD, Clímax, só uma
(Call me, de Tony Hatch) não é de sua autoria. Para
apresentar seu último trabalho ao público de
Brasília, Marina Lima estará na cidade dias 20 e 21,
apresentando-se no Teatro da Caixa. Autora de
mais de 120 músicas, seus CDs já venderam mais
de 3 milhões de cópias. No último álbum, há parcerias com Adriana Calcanhotto (Não me venha mais
com o amor) e Samuel Rosa (Pra sempre). Destaque
para SPFeelings, música que fez para a cidade de
São Paulo, onde mora há dois anos.
Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Divulgação
themamas&thepapas
É certo que John Phillips e Mama Cass já não estão mais por aqui. Ela
morreu de ataque cardíaco, em 1974, depois de brigar com ele e sair do
grupo. E John em 2001, quase 21 anos depois de ressuscitar o The Mamas
& The Papas. O grande sucesso aconteceu entre 1965 e 1968 com os hits
Califórnia dreaming e Monday monday, em pleno auge dos hippies e de seu
lema de paz e amor. Com outra formação, mas mantendo a mesma pegada
dos fundadores, a banda americana estará na cidade, dia 24, para apresentação única no Minas Brasília Tênis Clube. O show será aberto pela banda
brasiliense The Fingers, às 22 horas. Os ingressos custam R$ 90 (pista),
R$ 120 (camarote) e R$ 480 (mesa). Informações: 9624. 3838.
vivaobrega
Primeiro virá Reginaldo Rossi (foto), dia 30 de março.
Depois será a vez de Sidney Magal, Preta Gil, Odair José e
outros ícones do gênero ocuparem o Ceilambódromo para
animar o Projeto Bregalândia. A festa é para comemorar os
41 anos de Ceilândia e vai rolar numa área fechada de
30.000 m² preparada para receber mais de 50 mil pessoas
por dia. O espaço possui camarotes, área de alimentação,
praça de shows e amplos locais para estacionamento.
Entrada franca. Informações: 3036.7002.
Divulgação
O Ceará e o México são os temas da quarta edição do Sarau Chatô, dia 22, quinta-feira, no Espaço Chatô
(Setor de Indústrias Gráficas). As atrações musicais cearenses serão o duo de gaita e violão Pablo
Fagundes e Marcos Moraes e a cantora Myrlla Muniz (foto), que apresentará um repertório
tipicamente nordestino, com sucessos de Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré. A Casa do Ceará
apresentará uma série de manifestações artísticas do Estado – artesanato, pinturas, cordel
e dança – e homenageará o escritor, poeta e teatrólogo B. de Paiva, que completa 80 anos.
O artista cearense Dogival Alves Freire exibirá sua habilidade manual esculpindo frutas
e legumes. Sombreros e outras vestes tradicionais, além de esculturas pré-colombianas
e quadros, levarão o clima mexicano ao Sarau Chatô. A Embaixada do México distribuirá
folhetos e informações turísticas sobre o país e promoverá uma degustação de tequila.
Burritos, tacos e outras iguarias típicas mexicanas do cardápio do restaurante El Paso
Texas serão vendidas no Bar Chatô. Completando a programação, Jefferson Ramos
da Cruz lançará sua biografia, o livro Minha vida sobre rodas, que conta a história de
superação desse jovem que, portador de uma doença degenerativa, aprendeu a escrever
e a pintar com a boca.
carnavalforadehora
Divulgação
Divulgação
sarauchatô
Asa de Águia (foto), Tomate e Psirico estão convocados para participar
da Ressaca Oficial do Carnaval, que será realizada neste sábado, 17,
a partir das 19h30, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade.
Ingressos a R$ 50 e R$ 100 (válidos para os primeiros 1.000 ingressos).
O camarote feminino custa R$ 120 e R$ 240 e o masculino R$ 140 e
R$ 280. Venda: Aloha (Taguatinga Shopping), Fnac (Park Shopping),
Free Corner (Brasília Shopping) e www.ingressorapido.com.br.
23
brasiliense de coração
Músico
que virou
Por Vicente Sá
A
24
vida do ator por profissão e músico por vocação Murilo Grossi
sempre foi rica de surpresas e mudanças no roteiro. Desde o seu nascimento, o destino provou que não gostava de
histórias previsíveis. Quarto filho do casal
José Gerardo Grossi e Maria Cirene, ele
tinha dois lugares prováveis de nascimento: Belo Horizonte, onde sua mãe estava
cuidando do segundo filho, José Luis, que
contraíra meningite, e Brasília, para onde
seu pai havia se mudado ao assumir o cargo de promotor público. Mas acabou nascendo em Pindamonhangaba, onde sua
mãe foi buscar consolo com os pais após a
morte do filho.
Aos dois meses, ainda em 1964, foi
trazido pela mãe para Brasília e passou a
morar com a família na 714 Sul. Naquela
época, a cidade vivia em ritmo frenético de
construções e era muito comum que as famílias fossem abrigadas em imensos galpões de madeira ao lado dos prédios de
seus futuros apartamentos. Assim aconteceu com os Grossi durante o ano de 1965.
Prédio pronto, eles se mudaram para o
Bloco A da 109 Sul, onde Murilo teria
uma infância livre e sem medos.
Como toda a sua geração, jogava futebol nos gramados onde as árvores ainda
eram crianças como eles ou rodava de bicicleta por uma Brasília com pouquíssimos carros. Outra diversão do menino
magricela e cabeludo era a construção de
cabaninhas feitas de bambus amarrados
com arames e cobertas com a grama recém-cortada, os iglus verdes. Numa cidade quase sem perigos, os pais viam com
olhos tranquilos os filhos passarem as horas de folga da escola nos gramados ou
embaixo dos prédios.
Murilo foi um típico brasiliense da
primeira geração: brincou em grupo, adolesceu em turmas e dedicou-se a algum tipo de arte. No seu caso, a porta de entrada
do mundo artístico foi a música, mais precisamente a banda do colégio Marista, onde estudava. “Na banda a gente aprendia
tocando, não tinha esse negócio de partitura. Eu passei pelos instrumentos de percussão e logo me achei nos sopros, na
bombardina e na tuba. Em pouco tempo
eu formei o grupo Primitive Jazz Band.
Era época dos Concertos Cabeças, na 111
Sul”, relembra Murilo.
Como quase todos os adolescentes daquela época, ele adorava os Concertos Cabeças, onde podia assistir aos recitais de
poesia de Nicolas Behr e Turiba e ouvir o
Mel da Terra e Renato Matos, uma das primeiras estrelas da música candanga, com
quem iria trabalhar algum tempo depois.
Mas não nos apressemos, pois antes
sua banda passaria por uma experiência
incomum ao participar do festival de jazz
da Casa Thomas Jefferson. A banda tocava o jazz dixieland de Nova Orleans e todas as músicas de seu repertório eram tiradas de um disco da norte-americana Preservation Hall Jazz Band, que divulga
Álbum de família
O menino magrela e cabeludo gostava de pedalar
por uma cidade tranquila, com muito menos carros .
durar algumas semanas, estendido até o
final da novela.
Hoje, ele atua na nova novela das seis
da Globo e está em cartaz, em todo o país,
com o filme Billy Pig, de José Eduardo
Belmonte, enquanto aguarda o lançamento de outro, ainda sem nome, dirigido por Murilo Sales. Mas se alguém pensa que a cidade está perdendo um ator para os grandes centros, engana-se. Ele avisa
que adora Brasília e que não sai daqui assim tão fácil. Afinal, ele é também pai e é
quem cuida dos dois filhos, Lucca e Elisa.
“Eu não sou de Brasília, mas Brasília é a
minha cidade”.
Sua outra paixão, a música, também
não foi esquecida. Quem quiser ouvir o
sax desse garoto de 45 anos só precisa ir
até o Lago Norte aos domingos, nos fins
de tarde. O nome do bar ele não revela,
mas o caro leitor pode ir pelo som do sax
que acaba achando.
Fabrízio Morelo
Fabrízio Morelo
ator
mundo afora esse subgênero do jazz. Levados pela mão de Néio Lúcio, criador do
Cabeças, eles abriram o festival e em seguida assistiram à apresentação de ninguém menos que a banda da qual haviam
extraído todo o seu repertório. Para surpresa dos adolescentes, os integrantes da
banda os elogiaram e ainda os chamaram
para encerrar o show juntos. Um desbunde para os rapazes.
Alguns meses depois, ao trabalhar como músico, acompanhando Renato Matos na peça A revolução dos bichos, passou
a ter contato com o teatro, sem imaginar a
importância que ele teria em sua vida.
Mas, ainda de olho na música, ele insistiu
em aprimorar sua formação e foi estudar
saxofone no respeitável Conservatório
Dramático Musical Carlos Gomes, de Tatuí, interior de São Paulo, à época o maior
da América Latina. Lá também levou outro drible do destino: sua veia política aflorou e ele se tornou presidente do grêmio
estudantil, passando a mobilizar toda a escola para a troca do diretor e do método
antigo de ensino. Com a mudança do modelo e da direção do conservatório, os professores e a cidade se dividiram e os vereadores de Tatuí elegeram Murilo Grossi
personna non grata, título que guarda com
carinho até hoje.
No começo dos anos 80 ele voltou para Brasília, de onde não se desligara completamente, decidido a fazer teatro: “Foi
nessa época que eu saquei que a música
era uma atividade da alma e o teatro uma
atividade da vida. E aqui, no meio daquele
caldeirão de cultura, eu entrei com vontade e participei do primeiro Jogo de Cena,
da primeira Feira de Música e do grupo
Paletó e Gravatá”.
Daí em diante, sua vida passou a ser
arte pura. Fez teatro com Alexandre Ribondi, Robson Gralha, Hugo Rodas...
“Era peça toda semana. Era uma trabalheira e um frenesi”, lembra. Depois veio
o cinema. Passou a trabalhar com José
Eduardo Belmonte, André Cunha e muitos outros diretores de todo o país. Ao todo, participou de mais de 45 filmes, entre
eles Guerra de Canudos, Brava gente brasileira, O casamento de Louise, Batismo de
sangue, O surfista invisível e Mauá - O imperador e o rei. Foi o que lhe abriu as portas da TV Globo. A princípio foi chamado para pequenos papéis em casos especiais ou minisséries. Depois começou a fazer novelas e em O clone conseguiu a proeza de ter seu núcleo de atores, que era para
25
CARTA DA EUROPA
O outro
Freud famoso
ras da Olimpíada nesta capital, como não
custa lembrar aos já estiverem fazendo planos de viagem à Europa na época.
Freud estudou arte e dedicou sua vida
à pintura, mas sempre carregou o peso
do sobrenome e a associação com o avô
Sigmund, o austríaco considerado fundador da psicanálise. A família de Lucian
(seu pai, Ernst, era arquiteto) fugiu do nazismo e emigrou para Londres em 1933,
seis anos antes da chegada do patriarca
Sigmund. Porque era neto do pioneiro
desbravador da mente humana e dos mistérios do inconsciente, Lucian enfrentou
a herança das opiniões preconcebidas e
as interpretações equivocadas sobre sua
arte e sua representação pouco convencional das pessoas nas telas pintadas. Perturbadora a pintura de Lucian Freud?
Sem dúvida, mas isso não é ponto negativo no caso de um artista. É sua forma de
expressar criatividade.
Freud era tão obsessivo na insistência
em pintar quanto no esforço de fugir do
Reflexão (autorretrato), de 1985
Por Silio Boccanera, de londres
H
26
á quem considere grotescas as
pinturas de Lucian Freud. E de
fato são. Outros preferem chamálas de expressivas. Também são. Críticos e
público se dividem na apreciação dos quadros, mas até os que não gostam da obra
por motivos estéticos, por achá-la grosseira, reconhecem a habilidade e o ofício de
Freud como artista. As duas características
se aplicam à obra desse que foi considera-
do um dos maiores pintores de tempos recentes com seu estilo figurativo, focado na
imagem do corpo humano e no rosto das
pessoas, a seu próprio jeito, que com frequência choca e sacode. Freud morreu no
ano passado, aos 89 anos.
A National Portrait Gallery, de Londres, recolheu pelo mundo 130 quadros
dele para uma das maiores mostras já realizadas sobre a obra do artista nascido em
Berlim e naturalizado britânico. Estará
aberta ao público até o fim de maio, véspe-
Rainha Elizabeth II
público, da mídia (não dava entrevistas),
da atenção e, sobretudo, do culto à celebridade. Só convivia com pessoas muito próximas. Nada disso impediu suas obras de
atingirem preços estratosféricos nos leilões de arte, como os 33,6 milhões de dólares pagos na Christie’s, há poucos anos,
por seu quadro Supervisora de benefícios
dormindo.
Freud pintava amigos, conhecidos, visitantes ocasionais que ele permitia entrar
em seu estúdio, além de parentes, como a
mãe e as filhas – a estilista de moda Bella
e a escritora Esther. Fez também muitos
autorretratos, reflexo provável de sua insistência em se afastar das pessoas. A Rainha Elizabeth se dispôs a posar para ele,
um trabalho entediante que forçou a monarca a ficar sentada e quase imóvel diante dele horas seguidas, durante alguns
dias. Nenhum dos dois jamais revelou sobre o que conversaram na ocasião. Ela ao
menos não saiu muito distorcida na obra
pronta, produto das tintas espremidas como pasta sobre a tela, conforme o estilo
do autor, pouco chegado a toques sutis do
pincel. E nada de abstracionismo: Freud
mostra a figura mesmo. “Pinto as pessoas
não do jeito que são, ou apesar do que
são, mas como parecem ser”, disse ele.
A rainha teve mais sorte na aparência
final do que alguns outros modelos que se
submeteram à interpretação desse Freud,
no divã do artista. Ou na cama, na poltrona, num quarto de hotel. O assistente David Dawson foi o último modelo de Freud
e o quadro para o qual posava ficou inacabado quando o pintor morreu, em julho
do ano passado. A obra semi-pronta foi levada à National Portrait Gallery e poderá
ser vista por quem ainda alcançar a exposição, até maio. A peça tem um futuro valioso pela frente, como amostra do processo de trabalho do artista, e com a certeza
de arrecadar milhões no próximo leilão
da arte de Lucian Freud.
Fotos: Courtesy Lucian Freud Archive
Garota com um cachorro branco, 1950-1
Homem com uma pluma (autorretrato), 1943
Lucian Freud Portraits
100 pinturas e trabalhos em tela e papel
de museus e coleções privadas. Até 27/5 na
National Portrait Gallery, de Londres. Ingresso:
15,40 libras (aproximadamente R$ 43)
27
graves & agudos
Síntese da
O Globo
música brasileira
Exposição sobre a vida e a obra de
Pixinguinha ocupa 12 salas do CCBB
Por Alexandre Marino
A
23 de abril o Brasil comemora o
Dia Nacional do Choro, instituído pela Lei nº 10.000, de 4 de setembro de 2000. A data celebra também o
aniversário de Alfredo da Rocha Vianna
Junior, o Pixinguinha, nascido em 1897.
A comemoração dos 115 anos de Pixinguinha é a razão principal da exposição
Pixinguinha, que percorre toda a vida do
compositor e instrumentista e conta parte
significativa da história da música brasileira. Aberta no último dia 13, permanecerá
até 6 de maio em diversos espaços do
Centro Cultural Banco do Brasil.
Menino prodígio, Pixinguinha já tocava flauta aos 11 anos e aos 14 trabalhava
profissionalmente como músico. Sempre
viveu no meio musical. O pai era flautista
amador, assim como os irmãos, e a Pensão Vianna, onde seus pais abrigavam
músicos populares que não tinham onde
morar, era uma pequena amostra do cenário artístico do fim do Século XIX. As
transformações do mundo musical brasileiro, desde essa época até 1973, quando
ele morreu, foram acompanhadas de perto por Pixinguinha, que compôs grandes
clássicos de nosso acervo musical e teve
papel importante não só como compositor e instrumentista, mas também como
arranjador – foi o primeiro maestro brasileiro a trabalhar junto a gravadoras.
28
Pixinguinha participou de algumas
das primeiras formações de grupos de
choro e ranchos carnavalescos, atuou em
orquestras de espetáculos de teatro de revista e de cinema mudo, tocou em casas
noturnas. Nos anos 20, como integrante
dos Oito Batutas, passou uma temporada
em Paris e, ao tomar contato com o jazz e
as grandes orquestras, promoveu uma revolução estética em sua música. Nessa
época apaixonou-se pelo saxofone, instrumento que adotou.
Faz parte da exposição todo o acervo
familiar de Pixinguinha, cedido pelo neto
do artista, Marcelo Vianna. A partir da
contextualização de sua infância, a mostra
faz um percurso cronológico, passando de
suas primeiras participações, ainda bem
jovem, em grupos de choro, sua ascensão
como flautista, seu crescente prestígio junto aos músicos e à imprensa, a organização dos Oito Batutas, a temporada na
França. O material também inclui sua
contribuição à Semana de Arte Moderna,
liderada pelo escritor Mário de Andrade,
que transformou Pixinguinha em personagem do livro Macunaíma.
Instrumentos usados pelo músico, incluindo o emblemático saxofone com que
ele aparece em algumas de suas fotos mais
famosas, estão na mostra. Há gravações
da época, na voz de artistas como Carmen
Miranda e Orlando Silva; documentos,
manuscritos, cartas, fotografias, recortes
Divulgação
de jornais, objetos pessoais, discos de 78
rpm, vídeos. Também poderá ser visto o
documentário Nós somos um poema, que
revela a parceria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes.
O percurso da vida e obra do músico
ocupa 12 salas do CCBB, no Pavilhão de
Vidro e na Galeria 2. Uma das salas é dedicada à música Carinhoso, sua mais famosa composição, e lá podem ser vistos vídeos com vários artistas que a interpretaram, como Elis Regina, Orlando Silva,
Tomzé, Maria Bethânia, Roberto Carlos e
Elizeth Cardoso, entre outros.
Ao lado,
tocando
trombone
em show dos
Oito Batutas,
nos anos 20;
abaixo, com
o poetinha
Vinícius de
Moraes e
um amigo,
em 1968.
Pixinguinha sinfônico
Pixinguinha escreveu um conjunto de
peças sinfônicas para algumas de suas
mais célebres composições, como Carinhoso, Stela e Rancho abandonado, material
pouco conhecido. Essas peças, reunidas
no Concerto Pixinguinha Sinfônico, foram
apresentadas no dia 13 pela Orquestra
Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio
Santoro, sob a regência do maestro Claudio Cohen, na Sala Villa-Lobos (as mesmas obras estão disponíveis em CD gravado pela Orquestra Petrobras Sinfônica,
sob a regência do maestro Sílvio Barbato).
Durante a temporada da exposição será
lançado o livro Pixinguinha – o gênio e seu
tempo, organizado e coordenado pela produtora carioca Lu Araújo, curadora da exposição. Editado pela Casa da Palavra, o
volume traz o registro fotográfico de sete décadas da vida do compositor, acompanhado de textos do historiador André Diniz.
A mostra reúne material obtido em diversas coleções públicas e particulares, como as do Museu da Imagem e do Som
(MIS), Fundação Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Museu Villa-Lobos, Coleção G. Ermakoff e Instituto Moreira Salles, onde o acervo está depositado para recuperação e divulgação. A direção musical
da exposição é do maestro Caio Cezar
que, ao lado de Lu Araújo e do neto de Pixinguinha, Marcelo Vianna, pesquisa a
obra e desenvolve projetos sobre a histó-
ria do compositor. “Ele foi um artista fundamental para a música brasileira e precisa ser ainda mais divulgado”, defende Lu.
“O tempo de Pixinguinha foi outro, não é
o mesmo que falar de Tom Jobim ou Vinícius de Moraes, que já viveram o auge
do rádio e da televisão. Ainda assim, Pixinguinha tornou-se uma marca, carregada de brasilidade, e essa exposição permite que o conheçamos melhor.”
A importância de Pixinguinha para a
música brasileira pode ser dimensionada
por um exemplo do crítico e historiador
Ary Vasconcelos. “Se você dispõe do espaço de 15 volumes para falar de toda a
música brasileira, é muito pouco”, disse
ele. “Mas se dispõe apenas do espaço de
uma palavra, escreva “Pixinguinha”.”
É este universo imenso que a exposição, em suas 12 salas, tenta sintetizar.
Pixinguinha
Exposição inédita sobre o
compositor e instrumentista
Até 6/5, de 3ª a domingo, das 9 às 21h,
no Centro Cultural Banco do Brasil.
Entrada franca
29
Samba
de câmara
Por Heitor Menezes
T
30
rês dias para curtir Paulinho da
Viola sem aquele sufoco registrado
em janeiro, naquele Festival Internacional de Artes que de internacional só
tinha o nome. Paulinho da Viola, a realeza do samba, volta a Brasília para mini-temporada dias 23, 24 e 25 próximos no
Teatro da Unip (Universidade Paulista),
na 913 Sul.
Dizem que a sala, com capacidade para
500 espectadores, é bastante confortável,
tem a melhor acústica de Brasília e foi aprovada pelo músico. Tomara, pois ouvir Paulinho da Viola em lugar meia-boca equivale a curtir a boa música em MP3, nas caixinhas de som xexelentas do computador. O
ouvinte que se satisfaz com isso equivale ao
consumidor de salgados aquecidos no microondas. Tem gosto pra tudo.
Mas, falando de coisa nobre, Paulinho
da Viola merece muito nossa reverência.
Este ano, o músico passa a fazer parte do
time de septuagenários ilustres, como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil, estrelas de primeira grandeza da
MPB. Ao contrário dos colegas, Paulinho
jamais se rendeu aos modismos, baterias
eletrônicas, sintetizadores e batidas “modernas”, na ânsia de conquistar novos públicos ou simplesmente se reinventar.
Nada contra as traquitanas e quem se
apropriou delas, mas a fonte do mestre é
outra: ele bebeu e continua bebendo do
samba. Alô, Rio de Janeiro! Desde 1965,
quando saiu Rosa de ouro, antológico LP
que registra o espetáculo homônimo idealizado por Hermínio Belo de Carvalho,
e considerado o primeiro registro fonográfico com o nome de Paulinho da Viola,
o Príncipe do Samba mantém-se fiel às
origens.
Mais ainda, mantém-se fiel à pedra
fundamental de sua obra, que para ser devidamente apreciada requer do ouvinte
paixão de audiófilo. É preciso parar e fazer
silêncio para ouvir Paulinho. Rosa de ouro
marcou o samba levado ao teatro, lugar
ideal para o, digamos, samba de câmara.
De lá pra cá, são quase 50 anos de espetáculos e composições marcantes, como Foi
um rio que passou em minha vida, Argumento, Para ver as meninas, Não tenho lágrimas,
Sinal fechado e Pecado capital, entre tantas
que pedem silêncio e um teatro à meia-luz.
Os músicos que sustentam as apresentações de Paulinho são atração à parte. As
músicas do mestre ficam mais intimistas
no acompanhamento de Cristóvão Bastos
(piano), Dininho Silva (baixo), Celsinho
Silva (pandeiro), Mário Sève (sopros),
Hércules (bateria) e o filho João Rabello
(violão).
Não tem como dar errado. Paulinho é
príncipe, mas junto com ele desfilam grandes nomes do reinado do samba. Alguém
que um dia esteve associado a Zé Keti, Cartola, Donga, João da Baiana, Clementina
de Jesus, Pixinguinha, Elton Medeiros,
Mestre Marçal e outros que a memória engoliu só pode ser astro que emite luz própria. Como diz na canção Nos horizontes
do mundo: “Nos horizontes do mundo /
Não haverá movimento / Se o botão do
sentimento / Não abrir no coração”. Isso
é poesia, o resto é “ai se eu te pego”.
Paulinho da Viola
23 e 24/3, às 21h30, e 25/3, às 20h, no
Teatro Unip (913 Sul). Ingresso: R$ 130 (para
doadores de um quilo de alimento não
perecível). Vendas antecipadas na bilheteria
do teatro ou pelo site www.ingressorapido.
com.br. Classificação indicativa: 16 anos.
Informações: 3346.3739.
Marcos Hermes
graves & agudos
Divulgação
luz câmera ação
Abrindo
o baú do
Raul
Por Heitor Menezes
D
as personagens da cultura musical
brasileira que viraram mitos, nosso
principal roqueiro, Raul Seixas,
ocupa, senão o panteão, mas aquele lugar do
imaginário reservado aos que ousaram conhecer a Verdadeira Vontade, conforme descreve a Thelema, pensamento filosófico
“mutcho loco” de onde se tirou o lema “fazes
o que tu queres, há de ser tudo da lei”.
Pois toda a piração de Raul, que tanto
encanta malucos e desconcerta os caretas,
passados 22 anos de ter sido teletransportado para outro universo, finalmente virou filme profissional nas mãos do fotógrafo e cineasta Walter Carvalho (Budapeste e Cazuza – O tempo não para, duas
obras só para refrescar a memória).
Raul – O início, o fim e o meio, com estreia prevista para 23 de março, promete
uma nova visão sobre a vida e a obra do maluco beleza número um deste país. Apesar
de já ter sido alvo de inúmeras produções,
principalmente na tevê, o baiano Raul San-
Documentário de Walter Carvalho
apresenta material raro garimpado
no arquivo pessoal do maluco beleza
tos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945
– São Paulo, 21 de agosto de 1989) precisava de obra cinematográfica que possa ser
considerada “a” referência midiática ao incrível legado artístico, ainda hoje capaz de
arrebanhar novos admiradores.
Desde que percebeu que o country
Blue moon of Kentucky (Bill Monroe) e o
baião Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) – ou melhor, Elvis Presley e
Gonzagão – eram parentes univitelinos,
Raul Seixas virou sinônimo de rock brasileiro. O resto é história, mais cômica do
que trágica, que vale a pena conhecer preferencialmente com os ouvidos mais do
que com os olhos, pois estamos falando
de música, não é mesmo?
Mas, no caso do filme, o que o torna
interessante e diferente é o acesso que a
equipe de Walter Carvalho teve ao famoso e até aqui inesgotável “baú do Raul”.
Ao lado de muito material raro de arquivo, o documentário condensa mais de
400 horas de depoimentos, incluindo entrevistas com figuras do tipo Paulo Coe-
lho, Pedro Bial, Caetano Veloso, Sylvio
Passos, Julio Medaglia, Tárik de Souza,
Roberto Menescal, Marcelo Nova e as ex-esposas, ex-mulheres e filhas de Raulzito.
Para conseguir o material, a produção passou pelos Estados Unidos, Suíça e Brasil,
onde moscas, inexplicavelmente, teimavam em pousar sobre os entrevistados.
A imersão total em Raul inclui coisas
que o Carimbador Maluco jamais imaginaria como jogada de marketing, incluindo
site do filme (www.raulseixasofilme.com.br)
onde é possível baixar toques para telefone celular; página no Facebook (facebook.
com/raulseixasofilme); e, como acontece
há 10 mil anos, espaço de recados no
Twitter (twitter.com/raulseixasfilme), onde é possível concorrer a brindes e tal.
Boa viagem, meninos. Boa viagem.
Raul – O início, o fim e o meio
Brasil/2012. Direção: Walter Carvalho. Codireção: Evaldo Mocarzel e Leonardo Gudel.
Roteiro: Leonardo Gudel. Com depoimentos
de Paulo Coelho, Plínio Seixas, Waldir Serrão,
Caetano Veloso, Pedro Bial e Marcelo Nova,
entre outros.
31
luz câmera ação
O homem que não dormia
Eu me lembro
Strovengah – Todos os olhos
Estrada para Ythaca
Abaixo a mesmice,
viva o diletantismo!
Pela primeira vez em Brasília, uma seleção de 150 filmes
de jovens realizadores que apostam na espontaneidade
e nas múltiplas possibilidades do cinema
Por Sérgio Moriconi
É
32
bem provável que você nunca tenha visto nada igual antes. Criada e
organizada por Guilherme Whitaker, a Mostra do Filme Livre tem como
conceito exibir filmes que “fogem do lugar
comum”. O que é isso? Segundo Whi-
taker, são obras atuais, a maioria delas de
curta metragem, produzidas com orçamentos reduzidos e (pelo menos a maioria delas) sem qualquer apoio estatal. O sucesso
da iniciativa pode ser constatado com a
verdadeira avalanche de inscrições: mais
de 800 obras. Oitocentas e uma, mais precisamente. A Mostra do Filme Livre já está
na sua 11ª edição em São Paulo. Em Brasília é a sua primeira vez. A programação terá lugar no Centro Cultural Banco do Brasil, de 27 de março até 8 de abril, e na Universidade de Brasília, de 9 até 13 de abril. A entrada é franca e os ingressos deverão
ser retirados uma hora antes de cada sessão. Além dos filmes do programa oficial,
sim dedicada ao trash, Mundo Livre, com
filmes feitos por brasileiros no exterior, Pílulas, com filmes curtíssimos, de até cinco
minuto, e Coisas Nossas (vejam só), com
filmes realizados pela própria curadoria e
equipe da mostra. Não dá para reclamar.
Um exercício de liberdade total. Ou quase
total: nenhuma das onze premiações previstas estará nas mãos do publico, como
costuma acontecer em muitos dos festivais
brasileiros. As obras vencedoras serão escolhidas pela própria curadoria (!), que
também deverá escrever um texto sobre
cada filme premiado. Os realizadores contemplados ganharão passagens para o Rio
de Janeiro, onde receberão o troféu Filme
Livre e participarão de uma conversa com
o público. Nada mal, não é mesmo?
A proposta do Filme Livre não deixa
de ser superinteressante e oportuna. No
momento em que o cinema nacional anda
engessado por estéticas induzidas pelos
editais de financiamento, abre-se uma janela para uma prática espontânea descolada de regras, receitas de bolo, cinemão, seja lá o que for considerado conveniente,
palatável, acessível etc. Vale antes de tudo
o experimento sem constrangimento nem
culpa. A emoção de ver de novo a chegada
do trem na estação. É uma metáfora, claro. O espanto primordial do primeiro
cinema reciclado por toda a informação
obtida nas novíssimas ferramentas da net.
Também a crença de que um filme não
precisa necessariamente contar uma história. Ele pode ser uma experiência inteiramente plástica e visual. As origens desse
pensamento (pasmem!) remontam aos
anos 20. Os protagonistas das chamadas
vanguardas cinematográficas (francesas,
soviéticas e alemãs, principalmente) eram
quase todos provenientes das artes visuais. Mas cinema “livre” não quer dizer
necessariamente “vanguarda”. Tampouco
videoarte, ainda que, imaginamos, os
curadores da mostra estejam longe de ser
indiferentes a elas, assim como à utilização de todo tipo de novos suportes tecnológicos. As lições de liberdade podem vir
de todas as direções. O trash e o marginal
são boas escolas: mal-acabados, rústicos,
de mau-gosto, heréticos, demoníacos, as
duas formas (ou atitudes em relação à
obra) permanecem, hoje, monstros mutantes e ameaçadoras para o “bom” cinema. Considerem essas afirmações, mais
uma vez, em sentido figurado. Um filme
livre pode se tornar cínico, quase sempre
ofensivo e chocante para os critérios de
“bom gosto”. Ele só não pode perder a ingenuidade e a pureza. Uma natureza naïf.
Eles não podem pretender o reconhecimento do stablishment. O cinema tem de
permanecer um brinquedo lúdico. Como
crianças que se recusam a crescer, tudo o
que um filme livre não quer é sucumbir à
lógica do bom senso.
11ª Mostra do Filme Livre
De 27/3 a 8/4 no CCBB e de 9 a 13/4 na
UnB, com entrada gratuita (senhas serão
distribuídas na bilheteria com uma hora
de antecedência). Programação completa
no site bb.com.br/cultura.
Fotos: Divulgação
haverá uma homenagem especial ao realizador Edgar Navarro.
A homenagem a Navarro já dá um
pouco a noção das intenções dos organizadores. O baiano, considerado há décadas
um dos principais enfants terribles do novo cinema de seu Estado (não nos esqueçamos de Glauber Rocha), foi (ainda é)
um ícone do cinema independente brasileiro. Deu uma guinada para uma produção mais convencional em 2005, com Eu
me lembro, uma doce e poética “auto-psicanálise” sobre a origem de seus demônios
e conflitos. Neste seu longa de estreia, Navarro tenta traçar um paralelo entre sua
infância e a memória coletiva da Bahia.
Um Amarcord com dendê, filme curiosíssimo, maduro. Mas ele voltaria às suas
irascíveis origens com O homem que não
dormia, ainda inédito no circuito comercial da cidade, incluído na programação
da mostra, obra delirante, lasciva e demoníaca, apresentada apenas no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Não podemos nos esquecer que Navarro
foi o autor de provocações em super-8 como O rei do cagaço e Alice no país das mil
novilhas.
A presença de Navarro poderia sinalizar uma orientação para o trash e o marginal, gêneros que vão estar representados
na programação e serão objeto de debate
com o próprio Navarro, no dia 30, às
21h, no CCBB, ao lado do cineasta André Luiz de Oliveira (presença a ser confirmada), autor de Meteorango Kid, clássico
do udigrudi brasileiro, e de Louco por cinema, chanchada moderna, vencedora de
todos os principais prêmios do Festival de
Brasília de 1995. A Mostra do Filme Livre, porém, não quer ficar refém de um
único modelo. Neste ano, especialmente,
por acontecer na capital pela primeira vez,
ganhará duas sessões especiais, a Curta
Brasília, que exibirá seis produções candangas recentes, e uma retrospectiva com
filmes apresentados em edições anteriores. Esta edição, com a curadoria de Chico
Serra, Christian Caselli, Gabriel Sanna,
Manu Sobral e Marcelo Ikeda, confirma a
predisposição para a diversidade, abrigando um leque grande de atrações, entre elas
a Panoramas Livres, com oito sessões de
curtas, Outro Olhar, com cinco sessões, e
Curta o Longa, com nove longas precedidos de curtas.
As sessões especiais incluem Mostrinha Livre, para crianças, Sexuada, obviamente com temática sexual, Bordas, esta
33
Divulgação
luz câmera ação
Drive
Por Reynaldo Domingos Ferreira
C
34
om extrema habilidade técnica, o
cineasta Nicolas Winding Refn
conduz a narrativa de Drive, um
drama independente americano sobre um
dublê de Hollywood que também trabalha numa oficina mecânica de carros e, à
noite, como um tigre solitário perdido na
selva da Califórnia, presta serviços de motorista a elementos mafiosos.
O roteiro de Hossein Amini é baseado
no romance homônimo de James Sallis,
que narra a história de um indivíduo caladão, enigmático, conhecido por Motorista
(Ryan Gosling). Ele trabalha numa oficina
próxima do edifício onde mora, num apartamento alugado. Certo dia, no estacionamento de um supermercado, ajuda uma vizinha, Irene (Carey Mulligan), que, em
companhia do filho Benício (Kaden Leos),
estava com o carro enguiçado.
O dono da oficina, Shannon (Bryan
Cranston), não é só o empregador do Motorista, mas também lhe arranja trabalhos extras de dublê e, por reconhecer seu talento,
está em vias de introduzi-lo no mundo das
corridas de carro, tentando, nesse sentido,
convencer o mafioso Bernie Rose (Albert
Brooks) a investir em sua carreira. Rose é sócio de um judeu, também mau elemento
(Ron Perlman), que no passado deu uma so-
va em Shannon por uma dívida não paga.
Sensibilizada pela ajuda que o Motorista lhe dera no pátio do supermercado, Irene
leva o carro para ser consertado na oficina
de Shannon. Este sugere ao Motorista conduzi-la, com o filho, de volta a casa. Meio
tocado pelo suave olhar da vizinha, o Motorista decide fazer um passeio, com ela e Benício, num lugar aprazível, nos arredores da
cidade. A partir daí, passa a dedicar mais
tempo a ela e ao filho, até que um dia o marido, Standard (Oscar Isaac), volta para casa, depois de deixar a prisão.
Amini é um roteirista de origem iraniana, parcimonioso, que sabe como poucos adaptar obras literárias ao cinema, já
tendo sido indicado ao Oscar por um trabalho magnífico feito em 1997 com base
no romance As asas da pomba (1902), de
Henry James. Se o argumento do livro de
James Sallis não tivesse recebido o tratamento cinemático que lhe deu Amini, a
película por certo resvalaria para a categoria de um bloockbuster qualquer. Isso não
acontece, primeiro, porque o roteiro é seco, preciso e objetivo; segundo, porque o
cineasta dinamarquês Nicolas Winding
Refn – prêmio de melhor direção em
Cannes (2011) – conseguiu envolvê-lo, explorando com maestria a trilha sonora de
Cliff Martinez, numa atmosfera de tirar o
fôlego do espectador.
Percebe-se, nesse sentido, influência na
narrativa – principalmente na definição do
caráter do Motorista – do clássico francês
O samurai (1967), de Jean-Pierre Melville,
retratado por Alain Delon, com algumas
referências também a Taxi driver (1976), de
Martin Scorcese, e, nas sequên- cias mais
violentas, ao Cães de aluguel (1992), de
Quentin Tarantino. Assim, a ação e o diálogo (palavras e ideias) têm a ver com um
conjunto psicodinâmico em que se compõem e, naturalmente, se completam. Da
mesma forma, a composição de planos de
Wending Refn ganha uma fundamentação
lógica do que ele persegue em termos de razão, vontade e comportamento das personagens. O ator e músico canadense Ryan
Gosling (Tudo pelo poder) se ajustou ao que
lhe exigiu a caracterização do Motorista, estampando-lhe no rosto um perene sorriso
frio e misterioso. A inglesa Carey Mulligan
(Educação), de assombrosa sensibilidade,
confere a Irene um sentido de conformismo e de passividade ante as incertezas em
que vive. E o americano Albert Brooks se
destaca pela truculência com que encarna o
mafioso Bernie Rose.
Drive
EUA/2011, 98 min. Direção: Nicolas Winding
Refn. Roteiro: Hossein Amini, com base no
romance Drive, de James Sallis.Com Ryan
Gosling, Carey Mulligan, Kaden Leos, Bryan
Cranston, Albert Brooks e Ron Perlman.
35
Download