Ano XI • nº 202 Março de 2012 R$ 5,90 em poucas palavras Divulgação Não tem erro. Chega a Semana Santa e ele logo se transforma no queridinho dos chefs e das donas de casa. Sim, estamos falando dele, o delicioso bacalhau. Embora muita gente boa ainda ache que a iguaria seja um peixe, cabe aqui um esclarecimento. Bacalhau não é propriamente um peixe, mas um processo de salga e secagem de cinco tipos de peixes: morhua, macrocephalus, ling, zarbo e saithe. Há quem defenda a tese de que só o morhua, por sua qualidade, pode ser chamado de bacalhau, mais precisamente de Bacalhau do Porto, uma homenagem à cidade portuguesa que, no Século XV, tornou-se o primeiro grande entreposto do peixe encontrado no Mar do Norte, principalmente na Noruega. Não importa a polêmica. O que importa é sabermos que, aqui em Brasília, estamos muitíssimo bem servidos de restaurantes com inúmeras formas de preparo dessa suculenta tradição de Semana Santa (página 5). Por falar em tradição, o Lagash acaba de completar 25 anos de atividade no mesmo e aconchegante endereço da 308 Norte. Com sua cozinha tipicamente árabe pilotada por Fátima Hamú, o restaurante continua tendo como carro-chefe o cordeiro marroquino, uma harmônica mistura de carne desfiada, nozes e cebola servida com arroz de aletria e batatas coradas (página 9). Há quem, contudo, prefira não comer carne nem peixe o ano inteiro. Nesse caso, a opção é conhecer a culinária vegana do Café Corbucci, que tem no cardápio pratos preparados sem nenhum ingrediente animal. De acordo com as proprietárias, Marina Corbucci e Simone Lima, a proposta é quebrar o paradigma de que comida natural é sem graça (página 10). Não deixe de ler também o relato de Lúcia Leão sobre sua recente viagem a Cuba, que lhe permitiu mergulhar no universo etílico do escritor Ernest Hemingway. Esse “universo” atende pelos nomes de La Bodeguita Del Medio e El Floridita, os endereços preferidos de Hemingway em Havana Vieja (página 12). Finalmente, recomendamos a matéria de Heitor Menezes sobre o documentário Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho, que reúne material raro do arquivo pessoal do maluco beleza, há 22 anos “teletransportado para outro universo”, além de depoimentos de Paulo Coelho, Caetano Veloso, Pedro Bial, Roberto Menescal, Marcelo Nova e muitos outros que tiveram o privilégio de conviver com ele (página 31). Boa leitura e até abril. Maria Teresa Fernandes Editora 12 diáriodeviagem Lúcia Leão e Vicente Sá, da Roteiro, foram conhecer La Bodeguita e El Floridita, os bares da preferência do escritor Ernest Hemingway em Havana Velha. 5 14 16 17 18 19 20 24 26 28 31 águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho doisespressoseaconta queespetáculo dia&noite brasiliensedecoração cartadaeuropa graves&agudos luzcâmeraação ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SIA – Trecho 17, Rua 20, Lote 90 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira Endereço eletrônico: [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos Roberto Ferreira sobre foto de André Borges Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Luiza Andrade, Melissa Luz, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria, Vicente Sá Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Impressão Gráfica São Judas Tadeu Tiragem: 20.000 exemplares Para anunciar 3335.9200 www.roteirobrasilia.com.br Divulgação água na boca O queridinho Bacalhau ao Zé do Pipo, do Oliver da Páscoa A milenar tradição católica que proíbe o consumo de carnes vermelhas na Semana Santa faz do bacalhau a principal opção gastronômica desta época do ano. Por Melissa Luz D epois de viver por mais de 300 anos como colônia de Portugal, nada mais natural que o Brasil incorporasse em seu dia a dia alguns hábitos e costumes d’além mar. O consumo de bacalhau, item central na dieta dos portugueses, junto com a sardinha, é um deles. Em Brasília, há desde restaurantes que oferecem receitas tradicionais seguidas à risca até releituras contemporâneas, passando por pratos com o toque único do chef. Variações que são sentidas no paladar e no bolso. Sagres Há 16 anos na comercial da 316 Norte, o restaurante da chef portuguesa Olga Soares tem em seu cardápio 14 receitas diferentes à base de bacalhau, que servem duas pessoas e vêm acompanhadas por uma porção de arroz branco. Entre os mais pedidos está o Bacalhau à Minhota (cozido no azeite, com batatas, brócolis, azeitonas pretas e ovo cozido), a R$ 138, presente no cardápio desde a inauguração da casa. Duas opções interessantes para grupos, já que rendem bastante, são o Bacalhau Certerinha (desfiado com batatas, cebolas, pimentões e tomates), a R$ 112, e o Bacalhau a Brás (desfiado com batatas fritas em cubinhos ligadas com ovos), a R$ 115. “Eu respeito a tradição de cada região nas receitas, mas dou meu toque pessoal na forma de prepará-las. Sou de Braga, no norte de Portugal, onde o costume é comer bacalhau frito no azeite, o que eu sigo quando faço receitas dessa região. Minha assinatura está na maneira como preparo o peixe para fritar ou empanar”, exemplifica Olga, que prepara novidades para a Semana Santa. Dom Francisco Outro chef que não dispensa um toque especial no preparo do bacalhau é Francisco Ansiliero, sócio, ao lado da filha Giuliana, da rede Dom Francisco. Desde 1988, quando montou sua primeira casa em Brasília, ele é conhecido por suas receitas de bacalhau: “Há mais de 15 anos dou aulas de culinária. Até hoje, o bacalhau foi o único prato unânime entre os pedidos dos alunos”, explica Ansiliero, que costuma almoçar bacalhau pelo menos duas vezes por semana. Para quem tem o mesmo hábito, ele indica o Bacalhau Desfiado ao Forno, que custa R$ 74 na Asbac e R$ 85 na 402 Sul. “A posta do bacalhau é muito gostosa, mas com um sabor mais forte. Já o bacalhau desfiado, que também é muito saboroso, tem a vantagem de ser mais suave e já vir acompanhado por batatas, cebola, pimentões, azeitona, ovo cozido e 5 O bacalhau chegou ao Brasil com os primeiros navegadores portugueses. A ideia de salgar sua carne surgiu com os bascos, “o que tornou possível grandes travessias marinhas com estoques de proteínas”, explica Carlos Dória, doutor em sociologia e autor de vários livros sobre cultura gastronômica. Para a nutricionista Isadora Marar, além de saborosa a carne do bacalhau é muito saudável, rica em vitaminas e minerais e uma boa fonte de ácidos graxos do tipo ômega 3 e ômega 6. “Outra vantagem: é de fácil digestão. O bacalhau tem altos índices de ferro, fósforo e magnésio, além das vitaminas A, E, D, B1 e niacina, e apresenta uma baixa taxa de colesterol e gorduras”. Isadora explica que por ser desidratado com sal, sem nenhum conservante, o bacalhau conserva suas propriedades nutricionais. E é justamente neste processo de salgar e dessalgar que muitos especialistas enxergam o segredo de um bom bacalhau. “Para que ele possa te passar o máximo de sabor, o bacalhau precisa ser muito bem cuidado”, alerta a personal chef Déia Barros, que continua: “O bacalhau não precisa de três técnicas de cocção para ficar gostoso. O sal já faz um cozimento a frio. Mas para isso dar certo, o dessalgar da carne não pode ser feito sem peneira, ou na água fervendo, por exemplo. Ele exige cuidado, paciência e dedicação”. A profissional diz que depois de uma dessalga bem feita, dentro da geladeira, trocando a água fria de quatro em quatro horas, a carne tenra do bacalhau se desmancha em pétalas. 6 Casa do Bacalhau Pelo menos sete receitas diferentes são servidas diariamente no bufê do almoço da Casa do Bacalhau, da 407 Sul, que custa R$ 36 o quilo durante a semana e R$ 41,90 aos sábados e domingos. Entre as opções há sempre espaço para os clássicos Bacalhau à Gomes de Sá, Bacalhau nas Natas e a Bacalhoada, carro-chefe da casa. “Fazemos as receitas conforme manda a tradição, para agradar nosso cliente conhecedor”, explica o chef Milton César. Em abril, o restaurante deve funcionar também no jantar, com opções à la carte. Mouraria Tradição também é um valor importante no Mouraria, há 22 anos na 405 Sul. O restaurante oferece quase 20 pratos à base de bacalhau, sem contar os bolinhos, de entrada (R$ 3,80 a unidade). Um dos preferidos dos clientes é o Bacalhau Porto à Mouraria (em posta, com cebolas, batatas noisette, brócolis ao alho e óleo, alho e azeite), que custa R$ 159,90 para duas pessoas e R$ 82 o individual. Peixe na Rede Pertinho do Mouraria – é só atravessar para o outro lado da rua – fica o Peixe da Rede, que ainda possui duas outras Simone Marinho Saboroso e nutritivo azeite. Ou seja, uma refeição completa”, brinca o chef. No Dom Francisco da Asbac, ele acaba de acrescentar como sugestões individuais para o jantar o meio bacalhau na brasa com arroz de brócolis, a R$ 51, e o arroz de bacalhau, a R$ 37. Já na 402 Sul uma das opções é o Bacalhau Aromático, composto por bacalhau em lascas sobre cama de batata, alho poró, erva-doce e cebola pérola, regado com azeite extra virgem e assado ao forno, a R$ 77. Bacalhau à lagareira, do Antiquarius Grill unidades, na 309 Norte e na 102 Sudoeste, e oferece em seu cardápio opções com bacalhau na entrada (porção de dez unidades de pastelzinho a R$ 13 e de 12 unidades a R$ 19,80), no caldo (feito com bacalhau, batata baroa e brócolis) a R$ 9,80, e nos pratos principais (nas natas, com molho branco e batatas fritas no azeite, e a Gomes de Sá, visto na foto acima, ambos a R$ 31). La Plancha Localizado na 209 Sul, o La Plancha serve o bacalhau na versão grelhado com batatas cozidas e brócolis, acompanhado de azeitonas e cebola e alho fritos. O prato, que serve até três pessoas, custa R$ 178 (R$ 62 a porção individual). “Mas, se o cliente preferir, podemos fazer uma receita diferente para ele, com lombo assado, por exemplo”, informa o proprietário, Luis Andrés Junior. A Bela Sintra No ano passado, Brasília ganhou duas filiais de casas de renome nacional que servem receitas com bacalhau. Uma delas é A Bela Sintra, desde junho em funcionamento na 105 Sul. O badalado restaurante paulista tem diversas opções, destacando-se na preferência dos clientes candangos o Bacalhau à Herdade do Esporão (posta de bacalhau assada no forno, acompanhada de batata panadeira, verduras fritas, alho, pimenta e azeite) e o Bacalhau no Forno à Portuguesa (posta de bacalhau grelhada, acompanhada de cebola, alho, ovo e couve-flor), ambos a R$ 127. Há ainda uma receita exclusiva para Brasília, o Bacalhau do Lago (servido grelhado e em lascas, acompanhado de batatas panadeiras, espinafres salteados, gra-tinado com mussarela fresca de búfala, coberto por molho suave de tomate, a R$ 79. Todos os pratos são individuais. Com sua experiência de 35 anos na culinária portuguesa no Rio e em São Paulo, oferece cinco pratos com bacalhau em sua filial brasiliense, inaugurada em novembro de 2011 no Espaço Gourmet do ParkShopping. Entre os pratos mais pedidos estão o lombo prégrelhado com queijo Antiquarius (de fabricação própria) derretido por cima, acompanhado por batatinhas em rodelas, brócolis e cebola; e o Bacalhau a Lagareiro (com a posta levemente empanada e frita antes de ir ao forno com azeite e alho, acompanhado por batatinhas em rodelas, brócolis, cebola e azeitona). Os dois são individuais e custam R$ 131. “Além das sugestões do cardápio, podemos preparar o bacalhau conforme o gosto do cliente”, explica o gerente Erialdo Araújo, há dez anos no grupo. Oliver O bacalhau é um dos grandes sucessos desse restaurante, que há quase sete anos funciona dentro do Clube de Golfe. “Nosso Bacalhau ao Zé do Pipo é uma espécie de referência aqui dentro. É um bacalhau autêntico do Oliver, servido em posta e não desfiado, com uma apresentação diferenciada. O cliente sempre se surpreende com ele”, detalha Rodrigo Freire, proprietário da casa ao lado de Carlos Guerra. Para quem duvida, o empresário confidencia: “O chef Francisco Ansiliero, uma das referências na cidade quando o assunto é bacalhau, veio aqui e disse que a gente faz o melhor ao Zé do Pipo da cidade. Fiquei emocionado porque é uma honra escutar isso justamente dele”. O Bacalhau ao Zé do Pipo do Oliver (lombo de bacalhau no azeite extravirgem, com purê de batata, brócolis com alho, cebolas e gratinado com queijo parmesão) custa R$ 74, ou R$ 49 a meia porção. Mesmo preço do Bacalhau à Espanhola (lombo de bacalhau no azeite extravirgem, com batatas, azeitonas e molho de tomate) e do Bacalhau à Lagareiro (lombo de bacalhau no azeite extravirgem, alho, azeitonas e batatas ao murro). No almoço das sextas-feiras, a casa serve ainda a paella de bacalhau, que custa R$ 64 no prato e R$ 84 no bufê (com possibilidade de repetir). Seja em novos formatos ou com o gostinho tradicional, o bacalhau está em alta na cidade. Encontre a receita o que se enquadra tanto no seu gosto como no seu bolso e bom apetite! Sagres 316 Norte – Bloco E (3347.2234) Dom Francisco 402 Sul – Bloco B (3224.1634) Asbac – SCES – Trecho 2 (3226.2005) Casa do Bacalhau 407 Sul – Bloco D (3242.7112) Mouraria 404 Sul – Bloco B (3224.6405) Peixe na Rede 405 Sul – Bloco A (3242.1938) 309 Norte – Bloco A (3340.6937) 102 Sudoeste – Bloco B (3344.9498) La Plancha 209 Sul – Bloco C (3542.8825) A Bela Sintra 105 Sul – Bloco D (3242.4001) Antiquarius Grill Espaço Gourmet do ParkShopping (3047.5181) Oliver Clube do Golfe, no SCES (3323-5961) Igor Estrela Divulgação Antiquarius Grill Bacalhau desfiado ao forno, do Dom Francisco 7 água na boca À moda argentina Fotos: Divulgação Brasília ganha mais um restaurante especializado em parrillas Por eduardo oliveira Q 8 ue o brasiliense adora um churrasco não é novidade nenhuma. Mas, nos últimos tempos, a tradição gaúcha passou a enfrentar em terras candangas um concorrente à altura, também vindo dos pampas: a parrilla. As diferenças entre o churrasco típico da Argentina e do Uruguai e o brasileiro são várias, a começar pelo corte da carne. No lugar de picanha, maminha e fraldinha, entram cortes como bife ancho, contra-filé e chorizo. O preparo também muda: enquanto nós assamos a carne a uma boa distância do fogo, eles a preparam quase colada na brasa. E em vez de sal grosso usam sal refinado. Mas talvez a diferença mais notável entre a carne brasileira e a dos nossos hermanos seja a raça do gado. Enquanto o Nelore responde por 80% do consumo brasileiro, na Argentina a raça predominante é a Angus, que tem uma carne mais macia. É uma variedade desse bovino, o Black Angus, ou El Negro – como é conhe- cido pelos nossos vizinhos do sul – que batiza a mais nova casa especializada em parrilla a abrir as portas em Brasília, na 413 Norte. A ideia de montar um restaurante especializado em carnes com cortes premium foi dos sócios Fábio Gregol, João Clerot e Floriano Dutra, que sempre se reuniam com os amigos e familiares em suas casas para preparar carnes especiais. Para que tudo no restaurante fosse pensado rigorosamente à moda argentina, os sócios contaram com a consultoria do portenho Fernando Ariel Soarez. E o chef do El Negro, Alexsandro Panta, fez um estágio de três meses na Argentina para se aprimorar nos segredos do preparo das parrillas. Para acompanhar as 15 opções de carnes foram desenvolvidos acompanhamentos tipicamente portenhos. Entre eles a polenta com parmesão, a farofa de ovos e cebola temperada e as batatas fritas temperadas com sal, orégano e pimenta calabresa. Para quem quiser fugir da carne vermelha, o cardápio inclui peixes, massas, risotos e saladas. Se o churrasco à brasileira pede uma cerveja gelada, a parrilla argentina pede um bom vinho. A carta do El Negro, elaborada pelo sommelier Fábio de Pádua, conta com 200 rótulos. O restaurante tem capacidade para 150 pessoas e seu projeto arquitetônico é assinado por Isabel Veiga, que usou muita madeira, vidro e concreto, criando um ambiente agradável tanto para um almoço de negócios como para uma refeição em família. E foi pensando no almoço de família que os sócios resolveram montar um parquinho ao lado do parque Olhos d`Água, com direito a monitores para cuidar dos pequenos. Para completar, o El Negro tem um cardápio infantil, para a criançada ir tomando gosto por uma boa carne argentina. Mas que seja só pela carne... El Negro 413 Norte – Bloco C (3041.8775). De 3ª a 6ª, das 12h às 15h30 e das 19 às 24h; sábado, das 12 às 24h; domingo, das 12 às 18h. Fotos: José Filho Bodas de prata Por Beth Almeida N este terceiro milênio, renovação e novidade são celebradas como virtudes, mas em muitos casos a conservação de velhos modelos pode também ser algo salutar. Podemos encontrar um bom exemplo disso no restaurante Lagash, que no dia 13 de fevereiro comemorou 25 anos oferecendo aos brasilienses o que há de melhor na gastronomia árabe. O nome homenageia a cidade suméria – uma das mais antigas da Mesopotâmia – que viveu seu apogeu 5 mil anos antes de Cristo. O cardápio concebido pela chef Maria de Fátima Hamú é inspirado nas receitas familiares com as quais convive desde a infância. “Às vezes penso que é preciso mudar um pouco, mas não dá para mudar os princípios da culinária árabe”, explica Fátima. Ela tem razão: o cordeiro marroquino – em que a carne é desfiada e misturada a nozes e cebola, servida com arroz de aletria e batatas coradas – é o carro-chefe da casa desde a inauguração. Mas, se não muda- ram muito as receitas, Fátima adaptou o serviço da casa ao novo cenário da gastronomia brasiliense. Para o almoço de segunda a sexta-feira, há algum tempo ela serve menus executivos como alternativa aos pratos à la carte. A cada dia são oferecidos dois pratos quentes e um de entrada, ao preço fixo de R$ 32,90. Às sextas, por exemplo, o mesmo cordeiro marroquino que é preferência da clientela divide o cardápio com o arroz de pato. Entre as opções de entradas há a fatush (salada de pepino, tomate, cebola, pão torrado e zatar), o tradicional tabule e saladas de grão de bico e de folhas com damasco. Para quem prefere fazer um passeio pela cozinha árabe, a sequência é uma boa opção, tanto no almoço quanto no jantar. São 13 itens (ao preço de R$ 46,90) em que não faltam charutos de repolho ou de folha de parreira, kibes cru, assado e frito, homus, coalhada e, claro, o cordeiro marroquino com arroz de alitria. Para atender à clientela gourmet, Fátima inaugurou há cerca de três anos um empório com mais de 400 itens que representam os sabores típicos do oriente, co- Aos 25 anos, o mais tradicional árabe da cidade segue fiel às receitas originais mo xaropes de flor de laranjeira, geleia de rosas e algumas delícias prontas para serem levadas para casa, entre eles o halawa (doce de gergelim), esfihas e kibes. Há também azeites libaneses e portugueses e 200 rótulos de vinhos, inclusive libaneses, tunisianos e marroquinos. Mas é quase impossível falar do Lagash sem uma referência ao carneiro assado e recheado que frequenta há anos as mesas brasilienses em grandes comemorações, especialmente no Natal e no Réveillon. O carneiro inteiro, recheado com arroz de frutas secas, snoubar (pinoli) e especiarias, fica 12 horas marinando e depois segue para o forno, onde permanece por mais sete horas. Serve em média 20 pessoas e é feito por encomenda. De uns tempos para cá, o Lagash também passou a contar com serviço de delivery, de segunda a sexta, das 12 às 16h e das 19h até a meia noite. Aos domingos, o serviço está disponível somente até as 17h. Mantendo a tradição e a qualidade dos ingredientes e dos pratos, que venham outros 25 anos para o Lagash. Lagash 308 Norte – Bloco B (3273.9208) De 2ª a sábado, das 12 às 16h e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 17h. 9 água na na boca boca água Delícias sem carne Fotos: Mel Portela Perto de completar um ano, Café Corbucci comemora sucesso de seu cardápio de prazeres sem culpa Hambúrguer de feijão preto Por Akemi Nitahara U 10 m saboroso hambúrguer... de feijão preto. Com cebola caramelizada... no melado. Um delicioso pastel de... tofupiri. Uma gostosa torta de chocolate... sem leite. Ou um cremoso cappuccino... com leite de amêndoa. Pode acreditar. Tudo de encher os olhos e dar água na boca, respeitando os animais. Todos eles, inclusive as abelhas que forneceriam o mel. A proposta é do Café Corbucci, primeira, e por enquanto única, casa totalmente vegana de Brasília. Às vésperas de seu empreendimento completar um ano, a proprietária, Marina Corbucci, comemora o sucesso entre o público não-vegetariano. “Enche todo dia, chega a faltar lugar”, diz. A casa tem 12 mesas. Entre os fatores que contribuíram para a boa aceitação, Marina cita o fato de Sopa de abóbora com feijão branco servir comidas vegetarianas que vão muito além da sopa e que prezam pelo sabor, não necessariamente pela saúde. “São coisas bem diferenciadas, não é self-service, é um bom espaço para reuniões e happy hour”, garante. A sócia de Marina, Simone Lima, explica que a ideia da casa é quebrar o paradigma de que comida natural é sem graça. Marina Corbucci e Simone Lima: respeito aos animais “Também sentia falta de um lugar para sair de noite e comer doce sem ovo e leite”, diz, observando que o cardápio do Café Corbucci também é adequado para pessoas com intolerância à lactose. O cardápio é pequeno, de cafeteria, e alguns pratos mudam de sabor diariamente, “para exercitar a criatividade e não entediar a clientela”, segundo Simone. Marina é vegetariana há 11 anos e há quatro segue a filosofia vegana. “É uma postura ética de respeito aos animais. Também não vamos ser tão radicais e não usar remédios que foram testados em animais de laboratório, mas é tentar excluir a exploração dos animais na medida do possível”, ensina. Ela se formou em psicologia em 2008, mas percebeu que a profissão não era o que queria. Começou então a trabalhar em um restaurante vegetariano. Depois, passou a trabalhar em casa, fazendo enco- refrigerantes e os sucos são cremosos, feitos na centrífuga, sem água e sem açúcar. Café Corbucci 203 Norte – Bloco D (3201-1316). De 3ª a 5ª feira, das 17 às 23h; 6ª e sábado, das 17h à meia-noite; domingo, das 16 às 22h. www.cafecorbucci.com Akemi Nitahara densado de soja. No domingo, o cardápio é enriquecido com tapioca e falafel. Entre as opções de bebidas, cervejas artesanais Bierbaum, de Santa Catarina (R$ 17,90) e vinhos orgânicos Emiliana, do Chile, a partir de R$ 35. Também tem whisky e cachaça. A casa não trabalha com Fotos: Akemi Nitahara Mel Portela mendas, dando aulas e orientação culinária e social para quem estava fazendo a transição para o vegetarianismo. Buscando conhecimento por conta própria, foi fazer pesquisa de mercado nos Estados Unidos, onde cursou algumas aulas e estágios. “Lá, e também na Europa, a cultura vegana já é mais difundida. No Brasil, é um mercado em expansão, com mais pessoas virando vegetarianas, mais matérias sendo publicadas em revistas e empresas lançando produtos alternativos, como queijos vegetais”. Um dos destaques do Café Corbucci é o pão sem queijo, feito à base de batata e polvilho, nos sabores tomate seco, azeitona verde e alho e ervas. Sai a R$ 3, o grande. Também tem o sanduíche de seitan (carne de glúten, feita com farinha de trigo) e tempeh (derivado de soja indiano feito com grãos integrais fermentados), a R$ 17,90, com uma saladinha. Nas sobremesas, trufas naturais (sem açúcar), tortas especiais e mousses feitos com leite con- 11 diário de viagem Bodeguita e Floridita Um passeio pelo universo etílico do escritor Ernest Hemingway e sua turma – Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Nicolás Guillén e outros da mesma estirpe. Por Lúcia Leão D 12 as frases e comentários destacados entre as milhares de assinaturas que recobrem cada centímetro das paredes da casa número 207 da Calle Empedrado, onde há 70 anos funciona La Bodequita Del Medio, uma é especialmente responsável pela fama do lugar: “My mojito in La Bodeguita, my daiquiri in El Floridita”, firmou Ernest Hemingway em algum dia feliz da década de 1950. Não há, então, como ir a Cuba e desconhecer os bares e drinques que inebriaram o escritor. Por isso os elegemos, entre os inúmeros ótimos lugares de boa comida, bebida e diversão na ilha, para começar este roteiro, dedicado a quem planeje tomar um banho de latinidade e história – com muito rum, é claro – nas águas do Caribe. Os locais de preferência de Hemingway e sua turma – Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Nicolás Guillén e outros tantos da mesma estirpe – estão na Hava- na Velha, algumas dezenas de quarteirões de casarios coloniais, com quase mil construções de valor histórico e monumentos erguidos entre os séculos XVI e XIX, declarados pela Unesco Patrimônios Culturais da Humanidade. Principal área de interesse turístico da capital cubana, as ruas são cheias de atrações e vivem lotadas de gentes de todo o mundo, o que faz já do caminho para os bares uma grande diversão. Emergimos no universo etílico de Hemingway na esquina das ruas Monserrate e Obispo. Lá está, há quase 200 anos, o El Floridita. Dividido em dois ambientes, um para os drinques e outro para refeições, o bar do El Floridita remete a cenário de filme policial noir ambientado na década de 1950: um longo e espaçoso balcão de madeira escura (com uma estátua de Hemingway em tamanho natural à ponta, onde o escritor costumava encostar o cotovelo para conversas e beberagens intermináveis), bancos altos, garrafas, copos e coqueteleiras enevoados pela fumaça de cigarros – sim, ainda se fuma lá e em qualquer bar ou restaurante de Cuba! Mas a algazarra dos coloridos e barulhentos turistas, que lotam o lugar atravessando o ritmo de salsa “para inglês ver” entoada por um dos incontáveis grupos musicais que animam as noites cubanas, quebra um tanto o encanto. Dá até para pensar que não se está em Havana, mas em Hollywood, onde o restaurante tem uma filial. de dois) para acompanhar nossas carnes. La Bodeguita é Del Medio porque não está em nenhuma esquina, como era de praxe para os negócios de secos e molhados na Cuba da primeira metade do século passado, mas bem no meio de um quarteirão da Calle Empedrado. Foi criada em 1942 como Casa Martinez, um armazém onde o comerciante Angel Martinez começou a servir poucas refeições por encomenda de um vizinho de porta, o editor literário Feliz Ayón. Não demorou a transformar-se em ponto de encontro da intelectualidade cubana e internacional e já em 1948, quando ganhou o nome definitivo, tinham ali cadeira cativa Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Agustín Lara, Nicolás Guillén, Carlos Mastronardi e, é claro, Ernest Hemingway, entre outros. Ao longo desses quase 70 anos, centenas de milhares de clientes registraram nas paredes sua passagem por La Bodeguita. Procurando bem, é possível encontrar assinaturas de muitos brasileiros notáveis, como Luiz Inácio Lula da Silva. O morrito para abrir os trabalhos é pedida obrigatória de um almoço no La Bodeguita. E sugerimos que vá com calma: se quiser, repita a dose; se for fumante, acenda um cigarro, desfrute do ambiente e da convivência, passe para a cerveja e não se acanhe de pedir uma mais gelada – as “bem frias”, como dizem, não são usuais em Cuba. Só então escolha o que comer, e será servido quase que imediatamente. As especialidades são o lombo de porco assado e a “roupa velha” (carne de vaca cozida, desfiada e temperada com cebola, pimentão e muitos condimentos), ambos muito saborosos. O acom­ ­­­­­­panhamento é o mesmo para todas as carnes: moros e cristanos, banana fri­­­­­ta e uma saladinha frugal de repolho cru, tomate, cebola e beterraba. Encerre com um cafezinho espresso e um rum 7 anos (quase um licor). Despeça-se de Eddey, que certamente lhe baterá nas costas e dará um vigoroso aperto de mão, pedindo que retorne em breve, tome o rumo do Malecón e não precisará de muita sorte para topar com uma performace teatral na rua ou algum instrumentista do Buena Vista Social Club tocando no bar… Bom, mas isso é uma outra história, que fica para a próxima edição. El Floridita Calle Obispo, 557, esquina com Monserrate, HavanaVelha. Reservas: (53-7) 867.1299. La Bodeguita del Medio Calle Empedradro, 207, HavanaVelha. Reservas: (53-7) 867.1374. O gasto médio por pessoa, em ambas as casas, é de US$ 40, incluindo refeição, dois ou três drinques e três ou quatro cervejas. Fotos: Arquivo pessoal A despeito do ruído, foi um enorme prazer saborear, no berço, um daiquiri à moda da casa. Afinal, foi lá que um barman catalão chamado Constantino criou, na década de 1940 (o auge da belle époque cubana), uma variação sofisticada para a simplória mistura de rum, limão e açúcar, desde sempre popular entre os moradores locais. Temperou-a com um toque de licor de maraschino, acrescentou gelo moído e bateu-a vigorosamente na coqueteleira até adquirir a consistência de um frappé. Sucesso absoluto! O mesmo barman criou uma versão especial para o escritor de O velho e o mar enganar seu diabetes: aboliu o açúcar, dobrou a dose de rum e acrescentou grapefruit aos demais ingredientes. O drinque ainda está no cardápio do El Floridita e atende pelo nome de Papa Hemingway. No salão atrás do bar está o restaurante, muito chique, de poucas mesas postas com muitas louças, talheres e suntuosidade. No almoço, ele costuma lotar. À noite, ao contrário do bar, é bem mais vazio e tivemos atenção quase exclusiva do garçom de traje e comportamento muito formais. O cardápio é restrito e especializado em frutos do mar (o que, como em toda a ilha, significa nada mais do que peixe, lagosta e camarão). Comemos o “prato da casa” – lagosta em cubos, refogada em molho bem condimentado e flambada em vinho branco. Foi bom, mas comemos melhor (e bem mais barato!) em outras plagas cubanas. Se o El Floridita nos foi um ninho estranho, na Bodeguita nos sentimos inacreditavelmente em casa. Alguma coisa na atmosfera do lugar – talvez a decoração, ou a simpática eficiência dos garçons, ou o aroma das panelas fumegantes na cozinha aberta logo na entrada da casa, ou a energia deixada nas paredes por tantos milhares de anônimos e notáveis clientes, ou, o mais provável, tudo isso junto – nos fez sentir uma intimidade do Beirute, ou do Lamas, pra quem é do Rio, ou do Riviera, para a boemia paulista da década de 1970. Quando nos demos conta, ocupávamos uma mesa em lugar privilegiado, conversávamos com uma professora mexicana, sentada ao lado, sobre a identidade cultural de Brasil e Cuba e reclamávamos a Eddey, já então nosso velho garçom, uma Bucanero (cerveja local forte e encorpada, deliciosa!) “lá do fundo” e uma porção mais generosa de moros e cristanos (versão crioula, com feijão preto, do nosso baião A jornalista Lúcia Leão (abaixo) preferiu o ambiente mais descontraído de La Bodeguita, onde os clientes fazem questão de imprimir seus nomes nas paredes, como fez Vicente Sá. 13 picadinho Feijoada sem estresse Nada de pegar fila para disputar com um bando de esfomeados os melhores nacos de carne e seus acompanhamentos. Ao chegar numa tarde qualquer de sábado ao La Tambouille, no Espaço Gourmet do ParkShopping, a primeira coisa que o cliente recebe é uma cédula em que irá “eleger” cada ingrediente de sua feijoada. Depois, é só esperar, enquanto saboreia as entradinhas, que o garçom monte o prato, como na foto acima, de Gilberto Evangelista, e traga-o à mesa. Mas não parece estranho que um badalado restaurante de comida franco-italiana sirva o mais brasileiros de todos os pratos? Quem explica é o chef Giancarlo Bolla, que veio a Brasília especialmente para lançar a novidade: “Trinta anos atrás, apaixonei-me pela feijoada preparada por uma empregada mineira lá de casa e decidi levá-la para o restaurante. Desde então, o prato nunca mais saiu do cardápio”. Pela feijoada light, com pouca gordura e moderada no sal, nem por isso menos saborosa, quem for ao La Tambouille pagará R$ 67. Dia do uísque Recém-inaugurado na 106 Sul, o restaurante Quitandinha já aderiu ao 14 Whisky Day da Johnnie Walker. Toda quinta-feira, o uísque mais popular da marca – o Red Label – é vendido com descontos de 30% na garrafa e de 40% na dose. Mas não se resumem a isso os atrativos da nova casa dos empresários Márcio Schettino e Jeremias César Neto. O cardápio elaborado a quatro mãos é resultado da consultoria dos chefes Alexandre Frigo e Marcelo Lopes. “O Marcelo trabalha muito bem os preparos com frutos do mar e as sobremesas e o Alexandre é um especialista em receitas de carne”, explica Jeremias. No almoço, o Quitandinha oferece bufê de saladas, conservas, antepastos, pratos quentes e várias opções de grelhados. À noite, queijos e frios e serviço à la carte com mais de 30 de pratos preparados com cortes selecionados de cordeiro, suínos, bovinos, frangos e peixes nobres. Peixes da Amazônia Essa suculenta pescada amarela (R$ 67,20) é uma das estrelas do menu especial com peixes amazônicos que o restaurante Barbacoa (Espaço Gourmet do ParkShopping) estará servindo a seus clientes até 8 de abril. O filé de uritinga com arroz de tambaqui (R$ 60,20), o filhote com banana da terra assada (R$ 63,50) e a costela de tambaqui acompanhada de quibebe com camarão (R$ 64,90) completam o cardápio. Todos os pratos dão direito ao bufê de saladas. Novidades no Haná Sushi no palito, fritinho, kafta de salmão, gunkan de anchova defumada (foto), carpaccio de robalo, ceviche... é extensa a lista de novas delícias oferecidas pelo japonês Haná, da 408 Sul, para comemorar, desde já, seu décimo aniversário, que só acontecerá em outubro. Todas essas novidades estão presentes no bufê de sushis, sashimis, pratos quentes e robatas servido diariamente aos preços de R$ 57 no almoço e R$ 59 no jantar. Mas não é só isso: o bufê ganhou um aquecedor infravermelho que mantém os alimentos crocantes e aquecidos, e os tradicionais réchauds foram trocados por placas térmicas digitais, o que permite que os pratos quentes sejam aquecidos de forma adequada e conservem seu valor nutritivo. Festival italiano Um dos endereços mais charmosos da cidade, o Oscar, do Brasília Palace Hotel, relançou no último dia 11 seu festival de gastronomia italiana – um bufê completo de massas e risotos preparados na hora, carnes, saladas, pães e sobremesas, ao preço de R$ 60 por pessoa. A cada domingo será montada uma estrutura diferente de pratos. Para acompanhar, uma rica seleção de vinhos. A Hostaria dei Sapori, da 201 Sul, acaba de lançar um cardápio de pizzas, para os domingos, com onze sabores: focaccia, mussarela, margheritta, margheritta de búfula, napoletana, primavera, norma, calabresa, quatro queijos, nutella e a especial frutos do mar, com camarões, lula, polvo e mexillhões. Uma curiosidade: as pizzas são servidas apenas no tamanho “enorme”, com 12 pedaços. Ideal, portanto, para famílias ou grupos de amigos. Outra novidade na Hostaria é o festival de massas: gnocchi, fettuccine, spaghetti e ravióli ao preço de R$ 29 no almoço de terça a sexta-feira. Chocolate pascal Desde o dia 12 estão à venda na Cacahuá (207 Sul) os chocolates temáticos da Páscoa. Uma das novidades é a cocotte (panelinha de alumínio esmaltada) recheada com brigadeiro da casa ao leite ou branco com damasco. Na linha de ovos de Páscoa, os estreantes são os de chocolate ao leite com recheio de fava de baunilha e crosta de açúcar mascavo, ao leite com caramelo belga, noz pecan e nozes encrustradas e ao leite com castanha de caju e passas. Mas o mais emblemático, segundo a chocolatier Eliane Valladão, continua sendo o Diamante, com 1,3kg de chocolate ao leite ou meio amargo e o formato de uma grande pedra preciosa lapidada. Entre os mais pedidos de 2011 e que figuram na lista deste ano estão os ovos Fotos: Divulgação Pizza gigante de morango, laranja, limão siciliano, avelã, macadâmia e maracujá. Este ano a Cacahuá vai utilizar mais de uma tonelada do chocolate belga Barry-Calebaut na preparação de suas 40 opções de ovos, bichinhos e barras decoradas. Très bon Nem só de filmes, exposições, shows musicais e debates vive a 15ª edição da Semana de Francofonia. Este ano, várias embaixadas de países que têm em comum o idioma francês criaram cardápios com pratos típicos a serem degustados até o dia 27 no Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada. Preço por pessoa: R$ 58. Mais informações: 3424.7000. Menu infantil O restaurante Doce Delícia (404 Sul) acaba de incluir em seu cardápio quatro novidades que vão agradar em cheio as crianças de até dez anos: Filé Sorriso (filé mignon picadinho com arroz branco, caldinho de feijão e batata frita); Filé Sorriso Frango (filé de frango picadinho com arroz branco, caldinho de feijão e batata frita); Paillard com Fettuccine (fettuccine ao molho cremoso sobre fina camada de filé mignon) e o Picadinho Infantil da foto (filé mignon, arroz branco, farofinha, ovo frito e banana à milanesa). Cada um custa R$ 19,90. Outra novidade é que o restaurante abriu seu serviço de delivery de tortas doces e salgadas, nos moldes da matriz carioca. Os pedidos podem ser feitos nos telefones 3321.1412 e 3323.1212, com 24h de antecedência. Carnes nobres em Águas Claras A costeleta suína com molho barbacue, o assado de tira com penne arrabiatta, o baby beef com risoto de gorgonzola e nozes e o bife de ancho com fetuttine de limão e pimenta são algumas especialidades da rede de restaurantes Santa Brasa, que acaba de inaugurar em Águas Claras – no Shopping One Park Mall – sua primeira filial em Brasília. Fundada há menos de dois anos em Uberaba, a Santa Brasa já está presente também em Londrina e Goiânia e prepara a abertura de novas unidades em Uberlândia, Belo Horizonte e Ribeirão Preto. 15 GARFADAS & GOLES Luiz Recena [email protected] Um rescaldo nada feliz O verdadeiro ano novo começa só depois do Carnaval. Dizem isso do Brasil, embora milhares de brasileiros comecem com muito trabalho cada novo ano no seu primeiro dia. A Bahia não dá tanta importância a esse debate. Cada baiano no seu jeito: uns começam a trabalhar logo e bastante; outros nem tanto, empurram o barco devagar, vão velejando festas, lavagens, trios elétricos, Iemanjá, Carnaval e, por fim, as “ressacagens”, a ressaca das festas, que vai até o fim de março. Haja disposição, haja fôlego, haja fígado. Então, nesse rescaldo acontecem os balanços de todo esse período festeiro. Os números, desta vez, não são bons e nem de longe lembram os últimos anos. A greve da Polícia Militar, no início de fevereiro, foi uma paulada na programação geral, nos projetos e, principalmente, nas expectativas de ganhos. Perderam todos: hotéis chegaram a 20% de cancelamentos de reservas, agências de turismo mais ou menos nessa média quanto a desistências de pacotes reservados ou já vendidos, blocos com quase 30% a menos na venda de abadás, na mesma linha seguiram bares e restaurantes, inclusive aqueles localizados em shopping centers, teoricamente locais com maior oferta de segurança. Até o superbadalado camarote Salvador, estrela de primeira grandeza da festa de Momo, teria amargado um prejuízo de R$ 2 milhões, número publicado e não desmentido pelos organizadores. Razão maior Medo. Eis a razão principal na base de tanto insucesso. Turistas brasileiros e estrangeiros ficaram assustados com as primeiras imagens da ação grevista, com ônibus queimando e impedindo o trânsito na principal avenida que liga a cidade ao aeroporto. Em seguida, a duplicação da média de homicídios para a época. Sem polícia nas ruas, principalmente nos bairros periféricos, quadrilhas aproveitaram para vários tipos de acerto de contas. Inclua-se mortes. Muitas mortes. O medo gerou insegurança, que determinou as decisões de cancelamentos lá fora. Aqui dentro, o mesmo medo impôs a permanência das pessoas em suas casas. Bairros normalmente agitados, na orla, experimentaram dias de tranquilidade assustadora. Devagar, devagarinho Não, a vida não parou. Mas moveu-se em câmara lenta, muito lenta. As praças de alimentação, termômetros da vitalidade dos centros comerciais de Salvador, andaram devagar, quase parando nos dias de greve. “Vendi quase 40% a menos no mês de fevereiro”, disse-me um empresário de comida italiana, estabelecido em um dos grandes shoppings da cidade. Outros consultados não revelaram cifras, mas acusaram o golpe. “Não houve pânico nem arrastões nos shoppings, mas houve, sim, redução significativa nas vendas, principalmente de comida”, contou-me outro. Ponto positivo Pelo menos um ponto positivo foi registrado: o aumento no 16 consumo de comidinhas “delivery”. Dos clássicos chineses e pizzarias até exclusivos restaurantes, todos apelaram para a entrega em casa. Inclusive os franguinhos assados bateram asas e voaram em céu de brigadeiro. “Dobrei minhas entregas noturnas, foi a salvação, pois a casa esteve sempre quase vazia”, revelou-me um preocupado pizzaiolo dos arredores da praça Vinícius de Moraes, em Itapuã. É um equilibrado resumo daquele momento. Culpa eu? Na distribuição das responsabilidades, sobrou para todos. Em primeiro para os grevistas, que tinham razão em suas reivindicações, e que perderam-nas quando se deixaram levar por uma liderança radicalizada e partiram para a violência, intimidando e constrangendo a população. Em segundo (ou talvez primeiro?) o governo estadual, que avaliou mal o movimento, minimizando-o. Não se organizou. Demorou demais para resolver a questão das reivindicações, muitas delas justas e devidas há bom tempo. Por último a mídia, que cobriu mal e não raro cuspiu gasolina na fogueira, dando espaço enorme para boatos, aumentando a sensação de medo. Por fim... A greve acabou e veio o Carnaval, sempre alegre, mas o estrago já estava feito. E, para não dizer que não falei de flores, ponto para um prato surpresa: o carpácio de polvo com rúcula, do novo Bora Bora, na Pedra do Sal, pertinho de Itapuã. PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&[email protected] Um lustro Na antiga Roma – onde, aliás, se fazia bom vinho e se consumia ainda melhores, para os padrões da época, são, enfim, uma de minhas paixões. Muito em breve, pois já estamos na revisão da arte- é claro – havia uma cerimônia pública de purificação à final para imediatamente seguirmos para a impressão qual se juntava um recenseamento da população, que em gráfica, estarei efetivamente lançando meu livro se renovava de cinco em cinco anos. Daí, provavelmente, Cem vinhos, sem frescura, que procura apresentar saiu o significado mais moderno da palavra que indica, ao consumidor uma centena de rótulos escolhidos além de brilho, ou polimento, um período de cinco anos por mim como grandes exemplos de boa relação – um lustro. custo x benefício, de forma clara, direta, objetiva e, Após cinco anos, prescreve a responsabilidade tribu- espero, interessante. De forma a motivar o leitor ao tária. O nome incluído no Serasa sai de seus registros. mesmo tempo a se informar sobre os vinhos e, mais Enfim, é tempo para muitas anistias. Na numerologia, que tudo, a degustá-los. o cinco é o número do playboy, do prazer sem preocu- São cem vinhos divididos entre nacionais, espuman- pação, da abundância dos sentidos, da busca pelo novo, tes, brancos, tintos, doces e exclusivos, das mais diversas pela experimentação. procedências, disponíveis no mercado brasileiro (à exce- Mais que tudo, cinco são nossos sentidos, sem os ção de apenas um), por preços de no máximo US$ 100 quais a vida não teria um real significado. E o nosso (à exceção dos exclusivos) e com média de preços abaixo amado vinho consegue despertar cada um deles: a visão dos US$ 70. pela sua cor rubra, que incendeia nosso olhar; a audição Não sei ainda se será possível organizar um lança- que se anima e se aguça ao tilintar dos brindes; o tato mento do livro em Brasília, mas tentarei. De qualquer acalentado pela maciez e sedosidade que toma nossa forma, encaminharei cinco exemplares à Roteiro para boca; o olfato que nos inebria com frutas e flores; que os sorteie entre seus leitores. E para brindar esta e, é claro, o sabor, o muitas vezes inesquecível sabor minha comemoração, sugiro um dos ícones chilenos que alguns desses fantásticos caldos nos proporcionam, de minha preferência, que aliás faz parte do livro, e que a dominar nossos sentidos todos. bem cabe nesta breve reflexão: o Quinta Generation Ora, com significados que envolvem coisas como 2007, da Casa Silva, importante produtor daquele país. “brilho”, “polimento”, “cerimônia” e “purificação”, De cor rubi intenso, traz aromas de frutas vermelhas e objetivos como “prazer”, “experimentação” e com toque de pimentão e leve café. O palato apresenta “abundância sensorial”, nada mais justo, para mim, corpo pleno, sendo sedoso e complexo, com taninos que a comemoração que agora realizo ao completar presentes, mas bem domados e maduros, com doce de cinco anos escrevendo esta coluna sobre vinhos, que boca e toque de chocolate. 17 DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira [email protected] Os mandamentos do self-service 1 – Não guardarás lugar. É uma das práticas mais abomináveis nos restaurantes, demonstrando toda a carga de individualismo dos clientes. Chegam e já querem garantir vaga, deixando bolsas, casacos, chaves do carro e o que mais puderem. Quem não guardou lugar faz o prato e fica rodando atrás de mesa vazia. Nem precisava dizer, mas este mandamento pode incluir também o “não furarás a fila da comida” – nem para ficar junto dos 25 colegas de trabalho que foram almoçar com você. Não é porque você adora bife à milanesa que precisa comer os cinco que estão disponíveis na bandeja. Também não vale comer TODOS os pedaços carnudos do frango, restando só os ossos para o próximo. Os mais mal educados remexem tanto a lasanha que a deixam em estado lamentável para o cliente que está mais atrás na fila. E lembre-se: fazer um prato de estivador não é proibido, mas vai pesar na balança e, consequentemente, no bolso. Levando ainda em conta que desperdiçar comida em self-service pega muito mal. 2 – Comportar-te-ás diante da comida Sim, é bom respeitar a comida que TODOS vão comer. Em primeiro lugar, sem conversar em cima do prato de salada ou do arroz. Falar no celular, então, nem pensar – para não passar o constrangimento de ter de “pescar” o aparelho na tigela do feijão preto. Mulheres podem esperar para mexer no cabelo quando voltarem para a mesa, não podem? Homens podem guardar para depois aquela coçadinha no ouvido. 5 – Não conversarás alto Uma das características dos self-services é a grande quantidade de mesas. Resultado: clientes muito próximos uns dos outros. Por isso, é bom cuidar do volume da conversa. Eu NÃO quero saber detalhes da sua noitada, não me interesso pelas doenças dos seus familiares, pelas manias do seu chefe ou pelas traquinagens dos seus filhos. Quem for obrigado a atender o celular nesse ambiente já barulhento poderia me poupar das negociações de cardápio com a empregada ou das broncas nos filhos adolescentes. 3 – Respeitarás o tempo dos outros clientes Quem opta pelo self-service escolhe, entre outras vantagens, a comodidade de se servir rapidamente. Mas há sempre percalços nas filas das “ilhas” de alimentos. Como aquele sujeito que quer “escolher” tudo: tirar do prato de legumes cozidos só os legumes que gosta; fisgar da caçarola de frango cozido a coxa que insiste em se esconder no molho. Nos restaurantes naturais, há aqueles que passam horas diante de um prato de alface, como se houvesse muito o que escolher entre as folhas – parecem em estado de contemplação da natureza. 4 – Respeitarás a fome dos outros clientes 18 6 – Comportar-te-ás decentemente na fila do caixa Mesmo que você tenha comido junto com seus colegas de trabalho, não dá para guardar lugar para todos eles na fila. Ah, vocês vieram juntos para o restaurante e querem sair juntos? Organizem-se para ir para a fila juntos. Os outros clientes também estão com pressa e já têm que enfrentar dificuldades como a lentidão da máquina de cartão (ou do operador) e a demora recentemente instituída por quem quer o CPF na nota fiscal. Criança chorando na fila do caixa também é doloroso! Aliás, se é um só o membro “pagante” da família, que tal só ele ficar na fila? Colabora, e muito, para que o final do almoço seja feliz. Kacau Machado Kacau Machado Crystiano D’Moura que espetáculo Lilian Franca, Flávio Monteiro e Aylan Carvalho atuam em Cascudo, sob a direção de André Amaro (foto maior, à esquerda) Bravíssimo! S e você ainda não conhece a menor sala de teatro de Brasília, inclua em seu roteiro cultural uma ida ao aconchegante Caleidoscópio. Instalada no coração do Setor Sudoeste, a casa de criação do diretor André Amaro e sua trupe está comemorando uma década de funcionamento. E vai oferecer ao público, durante este ano, alguns espetáculos de seu repertório, além de peças inéditas. A temporada teatral começou no dia 10 com a premiada Cascudo, montagem que inaugurou a sala, e termina em dezembro com o mais novo espetáculo do grupo. O Teatro Caleidoscópio tem capacidade para apenas 30 espectadores. Às vezes um pouco mais, às vezes menos. Em todos os casos, é o ambiente intimista que sela o diferencial da sala. Outra característica é a pesquisa desenvolvida pelo grupo. “Também chamado de brinquedo-filosófico, o caleidoscópio é utilizado como referência de sistemas dinâmicos, graus de expressividade, padrões de movimento e de energia que os atores buscam apurar em nossos laboratórios”, explica André Amaro. A invenção do físico escocês David Brewster serve ainda de forte inspiração para as montagens, fazendo surgir uma va- riedade de encenações. Seu elo conceitual com o teatro motivou a publicação do livro Teatro Caleidoscópio: o teatro por-fazer, além de uma tese de mestrado, O espírito caleidoscópio e o espetáculo cênico. O Teatro Caleidoscópio já produziu 22 peças, das quais 12 foram encenadas em sua sede. Apesar do largo tempo garantindo a existência de seu teatro de bolso, André Amaro não se diz um empreendedor: “Sou talvez um empreendedor de poéticas, de ideias, de desejos; sou um trabalhador muito mais voltado à transpiração artística do que à gestão comercial do espaço, à vida empresarial. Nos juntamos para criar, por uma necessidade vital, pagamos as contas e pronto. Enquanto isso for possível, continuaremos comprometidos com os poderes transformadores do teatro”, diz o criador do Caleidoscópio. André Amaro foi também diretor do Espaço Cultural da Câmara dos Deputados por nove anos e hoje atua na casa como jornalista, apresentando um programa de cultura na Rádio Câmara. Depois de passar pela batuta de Dulcina de Moraes, de quem foi aluno, André chegou às plagas do teatro antropológico de Eugenio Barba (de quem se tornou co- O diminuto Teatro Caleidoscópio, de André Amaro, comemora seu décimo aniversário laborador no Brasil), experimentou o rico ambiente de criação do Théâtre du Soleil, de Ariane Mnouchkine, lecionou em escolas de teatro, participou de festivais, ganhou prêmios e, em parceria com a Editora Dulcina, vem publicando grandes títulos da bibliografia teatral, como A canoa de papel, de Eugenio Barba, Para um teatro pobre, de Jerzy Grotowski, e Avec Grotowski, de Peter Brook. “Eu só me ressinto de não saber ainda costurar”, brinca o também bilheteiro e porteiro do Teatro Caleidoscópio. Tantas facetas refletem o espírito caleidoscópico da arte. Confira e aplauda! Teatro Caleidoscópio 102 Sudoeste – Bloco C (3344.0444). Programação: até 1/4, Cascudo (lendas, contos, crendices, superstições, gestos e canções retirados dos estudos de Câmara Cascudo) – sábados, às 21h, e domingos, às 17 e 20h; de 6 a 29/4, A tempestade (última peça de William Shakespeare, uma história de dor e reconciliação sobre a insanidade mental e a ambição material humana) – sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h; de 11 a 24/5, Uma última cena para Lorca (durante a guerra civil espanhola, Federico Garcia Lorca se esconde da perseguição política num quarto secreto e, dois dias antes de morrer, tenta finalizar sua última peça teatral) – Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos: R$ 40 (inteira). 19 Guga Melgar dia & noite escolhasdavida Rômulo é um escritor de ficção científica que foge de casa e volta 25 anos depois. Descobre que seu pai morreu e reencontra Remo, o irmão gêmeo, trabalhando na oficina da família. Com texto inédito do dramaturgo Walter Daguerre, a peça A mecânica das borboletas está em cartaz no CCBB até 8 de abril. Inspirada numa história passada em Lavras do Sul, cidade gaúcha onde viveu a família do diretor de teatro Paulo José, a peça é dirigida por Paulo Moraes e tem no elenco Eriberto Leão, Ana Kutner, Otto Júnior e Suzana Faíni. “Sentimentos de perdas prevalecem em quem busca o sonho de desbravar o mundo e em quem escolhe ficar no mesmo lugar, na mesma cidade. O primeiro acha que perde a participação no crescimento, desenvolvimento e amadurecimento da família. O outro tem a sensação de perda por não aproveitar novas oportunidades e experiências que conhecer o mundo pode proporcionar”, explica o autor. De quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 6 e R$ 3. Informações: 3108.7600. Randall Andrade elasnopicadeiro teatrinhonopátio Divulgação Já tem um ano o projeto que leva alegria à criançada presente ao Pátio Brasil nas tardes de domingo. Na programação comemorativa de março estão dois espetáculos com temas pascoalinos. No dia 18 será encenada a peça Mistério dos ovinhos de Páscoa, que conta a história de quatro coelhos responsáveis pela entrega dos ovos de chocolate às crianças. No dia 25, será a vez de Quem vai ficar com os ovos?, sobre uma certa Senhora Coelha, que se cansa de entregar os ovinhos e resolve fazer um concurso para escolher seu substituto. Na Praça Central, às 16h30, com entrada franca. 20 Gustavo Serrate Temporada de Palhaças no Mês da Mulher, ou simplesmente TPMs. Esse é o nome do projeto idealizado pelas palhaças da recém-inaugurada lona multicultural de Brasília – a Circa Brasilina. “É uma temporada bastante específica e inusitada, que homenageia as mulheres com graça e muita alegria”, informa a idealizadora Manuela Castelo Branco. Atriz, palhaça, diretora e produtora, Manuela idealizou projetos como o Encontro de Palhaças de Brasília – Bienal Internacional de Palhaças e o Pipocando Poesia, também com destaque para artistas mulheres. Na programação da TPMs estão seis espetáculos de palhaças e um cabaré misto, com performances brasilienses. As palhaças Madame Dolores, Matusquella, Magnólia, Hipotenusa e as cômicas Anasha e Pandora estão encarregadas de colorir o universo essencialmente feminino da Circa Brasilina. Até 1º de abril, às 20h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. A lona fica na BR 020 – Km 2,5, lote 3. solooriental Pontos extremos como a vida e a morte, o ying e yang, o masculino e o feminino estão presentes na dança de Tadashi Endo, bailarino japonês que se apresenta no Teatro da Caixa entre 16 e 18 de março. Com o espetáculo Ikiru – Um réquiem para Pina Baush, ele celebra a vida e presta uma homenagem a seus mestres mortos, em especial à coreógrafa alemã Pina Baush, falecida em 2009. O trabalho de Endo é uma síntese de teatro, improvisação e dança. Além de bailarino e coreógrafo, Endo participou e fez a preparação dos dançarinos do filme Hanami – Cerejeiras em flor. Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 3206.9448. portinarihistórico Divulgação Charges, cartuns, caricaturas e tiras de humor que tenham como tema “o futuro da água” podem participar da quinta edição do Ecocartoon – Salão Internacional Pátio Brasil de Humor sobre Meio Ambiente. Os interessados têm até 15 de abril para inscrever seus desenhos em www.ecocartoon.com.br. “O Ecocartoon é um evento muito bacana, porque incentiva a preservação da natureza de forma lúdica e bem humorada, além de trazer olhares diferentes sobre uma mesma questão ambiental de pessoas dos quatro cantos do planeta”, explica a gerente de Marketing do Pátio Brasil, Karine Câmara. O julgamento dos 100 melhores será feito no dia 15 de maio. Além de troféu, o primeiro lugar ganha um prêmio de R$ 4 mil e o segundo e terceiro, de R$ 2 mil e R$ 1,5 mil, respectivamente. Silvano Mello (2º colocado em 2011) artedaresistência Durante muitos anos, mais precisamente o tempo que durou a ditadura chilena, sacos de farinha ou batata serviram de telas, enquanto linhas, retalhos e outros objetos foram as tintas de mulheres que resolveram expressar seu inconformismo diante das prisões e torturas de chilenos contrários ao regime do ditador Augusto Pinochet (entre 1973 e1990). Cerca de 30 trabalhos dessas mulheres, cuja técnica têxtil é denominada arpilleras, poderão ser vistos pelos brasilienses que forem à Biblioteca Nacional entre 22 e 29 de março, primeira parada da exposição que seguirá para Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A produtora Clara Politi conta que os trabalhos dessa coleção nasceram das mãos de mulheres que estiveram presas ou cujos maridos ou filhos foram presos, torturados ou assassinados durante a ditadura. Inicialmente uma obra de artesanato, as peças acabaram tendo não só valor artístico como serviram para ajudar financeiramente as mulheres que se uniam em grupos de trabalho e conseguiam reforçar o sustento da família. Entrada franca. Divulgação ecocartoon Fotos: Divulgação Quem for a São Paulo até 21 de abril não pode deixar de visitar a exposição que já foi vista por mais de 52 mil pessoas apenas no primeiro mês. Trata-se de Guerra e paz, dois painéis do artista plástico paulista Cândido Portinari (1903/1962) que ficaram isolados do público na sede da ONU, em Nova York, por mais de 50 anos. A exposição histórica sem precedentes reúne também, pela primeira vez, cerca de 90 estudos preparatórios que o pintor fez para a produção dos painéis, além de documentos e objetos pessoais. Instalados no Memorial da América Latina, os painéis Guerra e paz ficam em São Paulo até 21 de abril, quando partem para exibição internacional que deve abranger cidades como Oslo, na Noruega, e Tóquio, no Japão. De terça a domingo, das 9 às 18h, com entrada franca. Informações: 3823.4600. 21 Divulgação dia & noite semanadafrancofonia Pensar, comer e dançar em francês. Esse é o lema da 15ª edição da Semana da Francofonia, mais precisamente 12 dias de shows, filmes e exposições que celebram o multiculturalismo entre os dias 15 e 27 de março. Na vasta programação, destaque para o show de Baloji (foto), o mais festejado músico congolês, com a Orquestra de La Katuba, que mistura afro-funk, hip hop e soul. Será dia 20, no Teatro dos Bancários, com ingressos a R$ 20 e R$ 10, à venda na Aliança Francesa (708/907 Sul) e na bilheteria do teatro. Aguardada também é a turnê de lançamento do novo álbum da banda suíça de reggae Junior Tshaka, dia 17, às 20 horas, no Teatro Sesc Garagem, com entrada franca. Terceira língua mais falada da internet – a nona no mundo –, o francês está presente em dezenas de países como idioma oficial. São cerca de 220 milhões de pessoas que falam francês, 900 milhões envolvidas com o idioma e 900 mil professores espalhados pelo mundo. Na agenda de exposições estão Diga-me dez palavras, que marca o tricentenário de nascimento de Jean-Jacques Rousseau, e a mostra de fotografias de Rosa Berardo, sobre a fabricação do xarope de plátano, árvore símbolo do Canadá. Programação completa em www.francofonia.org.br. chiconochoro assuntodemeninas Divulgação Em 1980 ela fez seu primeiro filme, Strass café, influenciada pelo trabalho da escritora existencialista Marguerite Duras. Mas foi só em 1984 que Léa Pool obteve destaque com o autobiográfico Anne Trister, que conta a chegada ao Canadá de uma jovem artista suíça e seu documentário mais recente, sobre o outro lado das campanhas contra o câncer de mama. Esse e outros 11 filmes de Léa Pool serão exibidos entre 20 e 25 de março no CCBB. Em comum, o fato de abordarem temas sobre a identidade da mulher. Homossexual assumida, ela nasceu há 61 anos na Suíça mas se mudou para o Canadá para estudar, onde mora até hoje. Na programação do CCBB estão os títulos mais conhecidos da cineasta, como Assunto de meninas, de 2001, e A borboleta azul, de 2004. Exibidos em quatro sessões diárias, os filmes têm entrada franca, mediante retirada de senhas uma hora antes da exibição. Programação completa em www.bb.com.br/portalbb. Divulgação marinanacaixa Divulgação 22 É a primeira vez que um compositor vivo é homenageado no Clube do Choro de Brasília. Aberto no último dia 7 com a apresentação sempre impecável do bandolinista Hamilton de Holanda, o projeto Meu caro amigo Chico Buarque vai trazer, ao longo deste ano, 120 shows de instrumentistas de destaque, todos fazendo referência ao autor de Um chorinho, Meu caro amigo e Choro bandido. A proposta de Reco do Bandolim, diretor do Clube do Choro, é fazer uma grande retrospectiva e, ao mesmo tempo, uma profunda releitura da música de Chico. Com isso, pretende agradar tanto aos fãs de carteirinha como conquistar os jovens que porventura ainda não se deram conta da imensa importância de sua obra. Entre os próximos convidados do projeto está o trompetista Joatan Nascimento (foto), que se apresenta nos próximos dias 21, 22 e 23, com o Grupo Choro Livre. Programação completa em www.clubedochoro.com.br. Informações: 3224.0599. Das 11 músicas de seu último CD, Clímax, só uma (Call me, de Tony Hatch) não é de sua autoria. Para apresentar seu último trabalho ao público de Brasília, Marina Lima estará na cidade dias 20 e 21, apresentando-se no Teatro da Caixa. Autora de mais de 120 músicas, seus CDs já venderam mais de 3 milhões de cópias. No último álbum, há parcerias com Adriana Calcanhotto (Não me venha mais com o amor) e Samuel Rosa (Pra sempre). Destaque para SPFeelings, música que fez para a cidade de São Paulo, onde mora há dois anos. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Divulgação themamas&thepapas É certo que John Phillips e Mama Cass já não estão mais por aqui. Ela morreu de ataque cardíaco, em 1974, depois de brigar com ele e sair do grupo. E John em 2001, quase 21 anos depois de ressuscitar o The Mamas & The Papas. O grande sucesso aconteceu entre 1965 e 1968 com os hits Califórnia dreaming e Monday monday, em pleno auge dos hippies e de seu lema de paz e amor. Com outra formação, mas mantendo a mesma pegada dos fundadores, a banda americana estará na cidade, dia 24, para apresentação única no Minas Brasília Tênis Clube. O show será aberto pela banda brasiliense The Fingers, às 22 horas. Os ingressos custam R$ 90 (pista), R$ 120 (camarote) e R$ 480 (mesa). Informações: 9624. 3838. vivaobrega Primeiro virá Reginaldo Rossi (foto), dia 30 de março. Depois será a vez de Sidney Magal, Preta Gil, Odair José e outros ícones do gênero ocuparem o Ceilambódromo para animar o Projeto Bregalândia. A festa é para comemorar os 41 anos de Ceilândia e vai rolar numa área fechada de 30.000 m² preparada para receber mais de 50 mil pessoas por dia. O espaço possui camarotes, área de alimentação, praça de shows e amplos locais para estacionamento. Entrada franca. Informações: 3036.7002. Divulgação O Ceará e o México são os temas da quarta edição do Sarau Chatô, dia 22, quinta-feira, no Espaço Chatô (Setor de Indústrias Gráficas). As atrações musicais cearenses serão o duo de gaita e violão Pablo Fagundes e Marcos Moraes e a cantora Myrlla Muniz (foto), que apresentará um repertório tipicamente nordestino, com sucessos de Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré. A Casa do Ceará apresentará uma série de manifestações artísticas do Estado – artesanato, pinturas, cordel e dança – e homenageará o escritor, poeta e teatrólogo B. de Paiva, que completa 80 anos. O artista cearense Dogival Alves Freire exibirá sua habilidade manual esculpindo frutas e legumes. Sombreros e outras vestes tradicionais, além de esculturas pré-colombianas e quadros, levarão o clima mexicano ao Sarau Chatô. A Embaixada do México distribuirá folhetos e informações turísticas sobre o país e promoverá uma degustação de tequila. Burritos, tacos e outras iguarias típicas mexicanas do cardápio do restaurante El Paso Texas serão vendidas no Bar Chatô. Completando a programação, Jefferson Ramos da Cruz lançará sua biografia, o livro Minha vida sobre rodas, que conta a história de superação desse jovem que, portador de uma doença degenerativa, aprendeu a escrever e a pintar com a boca. carnavalforadehora Divulgação Divulgação sarauchatô Asa de Águia (foto), Tomate e Psirico estão convocados para participar da Ressaca Oficial do Carnaval, que será realizada neste sábado, 17, a partir das 19h30, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Ingressos a R$ 50 e R$ 100 (válidos para os primeiros 1.000 ingressos). O camarote feminino custa R$ 120 e R$ 240 e o masculino R$ 140 e R$ 280. Venda: Aloha (Taguatinga Shopping), Fnac (Park Shopping), Free Corner (Brasília Shopping) e www.ingressorapido.com.br. 23 brasiliense de coração Músico que virou Por Vicente Sá A 24 vida do ator por profissão e músico por vocação Murilo Grossi sempre foi rica de surpresas e mudanças no roteiro. Desde o seu nascimento, o destino provou que não gostava de histórias previsíveis. Quarto filho do casal José Gerardo Grossi e Maria Cirene, ele tinha dois lugares prováveis de nascimento: Belo Horizonte, onde sua mãe estava cuidando do segundo filho, José Luis, que contraíra meningite, e Brasília, para onde seu pai havia se mudado ao assumir o cargo de promotor público. Mas acabou nascendo em Pindamonhangaba, onde sua mãe foi buscar consolo com os pais após a morte do filho. Aos dois meses, ainda em 1964, foi trazido pela mãe para Brasília e passou a morar com a família na 714 Sul. Naquela época, a cidade vivia em ritmo frenético de construções e era muito comum que as famílias fossem abrigadas em imensos galpões de madeira ao lado dos prédios de seus futuros apartamentos. Assim aconteceu com os Grossi durante o ano de 1965. Prédio pronto, eles se mudaram para o Bloco A da 109 Sul, onde Murilo teria uma infância livre e sem medos. Como toda a sua geração, jogava futebol nos gramados onde as árvores ainda eram crianças como eles ou rodava de bicicleta por uma Brasília com pouquíssimos carros. Outra diversão do menino magricela e cabeludo era a construção de cabaninhas feitas de bambus amarrados com arames e cobertas com a grama recém-cortada, os iglus verdes. Numa cidade quase sem perigos, os pais viam com olhos tranquilos os filhos passarem as horas de folga da escola nos gramados ou embaixo dos prédios. Murilo foi um típico brasiliense da primeira geração: brincou em grupo, adolesceu em turmas e dedicou-se a algum tipo de arte. No seu caso, a porta de entrada do mundo artístico foi a música, mais precisamente a banda do colégio Marista, onde estudava. “Na banda a gente aprendia tocando, não tinha esse negócio de partitura. Eu passei pelos instrumentos de percussão e logo me achei nos sopros, na bombardina e na tuba. Em pouco tempo eu formei o grupo Primitive Jazz Band. Era época dos Concertos Cabeças, na 111 Sul”, relembra Murilo. Como quase todos os adolescentes daquela época, ele adorava os Concertos Cabeças, onde podia assistir aos recitais de poesia de Nicolas Behr e Turiba e ouvir o Mel da Terra e Renato Matos, uma das primeiras estrelas da música candanga, com quem iria trabalhar algum tempo depois. Mas não nos apressemos, pois antes sua banda passaria por uma experiência incomum ao participar do festival de jazz da Casa Thomas Jefferson. A banda tocava o jazz dixieland de Nova Orleans e todas as músicas de seu repertório eram tiradas de um disco da norte-americana Preservation Hall Jazz Band, que divulga Álbum de família O menino magrela e cabeludo gostava de pedalar por uma cidade tranquila, com muito menos carros . durar algumas semanas, estendido até o final da novela. Hoje, ele atua na nova novela das seis da Globo e está em cartaz, em todo o país, com o filme Billy Pig, de José Eduardo Belmonte, enquanto aguarda o lançamento de outro, ainda sem nome, dirigido por Murilo Sales. Mas se alguém pensa que a cidade está perdendo um ator para os grandes centros, engana-se. Ele avisa que adora Brasília e que não sai daqui assim tão fácil. Afinal, ele é também pai e é quem cuida dos dois filhos, Lucca e Elisa. “Eu não sou de Brasília, mas Brasília é a minha cidade”. Sua outra paixão, a música, também não foi esquecida. Quem quiser ouvir o sax desse garoto de 45 anos só precisa ir até o Lago Norte aos domingos, nos fins de tarde. O nome do bar ele não revela, mas o caro leitor pode ir pelo som do sax que acaba achando. Fabrízio Morelo Fabrízio Morelo ator mundo afora esse subgênero do jazz. Levados pela mão de Néio Lúcio, criador do Cabeças, eles abriram o festival e em seguida assistiram à apresentação de ninguém menos que a banda da qual haviam extraído todo o seu repertório. Para surpresa dos adolescentes, os integrantes da banda os elogiaram e ainda os chamaram para encerrar o show juntos. Um desbunde para os rapazes. Alguns meses depois, ao trabalhar como músico, acompanhando Renato Matos na peça A revolução dos bichos, passou a ter contato com o teatro, sem imaginar a importância que ele teria em sua vida. Mas, ainda de olho na música, ele insistiu em aprimorar sua formação e foi estudar saxofone no respeitável Conservatório Dramático Musical Carlos Gomes, de Tatuí, interior de São Paulo, à época o maior da América Latina. Lá também levou outro drible do destino: sua veia política aflorou e ele se tornou presidente do grêmio estudantil, passando a mobilizar toda a escola para a troca do diretor e do método antigo de ensino. Com a mudança do modelo e da direção do conservatório, os professores e a cidade se dividiram e os vereadores de Tatuí elegeram Murilo Grossi personna non grata, título que guarda com carinho até hoje. No começo dos anos 80 ele voltou para Brasília, de onde não se desligara completamente, decidido a fazer teatro: “Foi nessa época que eu saquei que a música era uma atividade da alma e o teatro uma atividade da vida. E aqui, no meio daquele caldeirão de cultura, eu entrei com vontade e participei do primeiro Jogo de Cena, da primeira Feira de Música e do grupo Paletó e Gravatá”. Daí em diante, sua vida passou a ser arte pura. Fez teatro com Alexandre Ribondi, Robson Gralha, Hugo Rodas... “Era peça toda semana. Era uma trabalheira e um frenesi”, lembra. Depois veio o cinema. Passou a trabalhar com José Eduardo Belmonte, André Cunha e muitos outros diretores de todo o país. Ao todo, participou de mais de 45 filmes, entre eles Guerra de Canudos, Brava gente brasileira, O casamento de Louise, Batismo de sangue, O surfista invisível e Mauá - O imperador e o rei. Foi o que lhe abriu as portas da TV Globo. A princípio foi chamado para pequenos papéis em casos especiais ou minisséries. Depois começou a fazer novelas e em O clone conseguiu a proeza de ter seu núcleo de atores, que era para 25 CARTA DA EUROPA O outro Freud famoso ras da Olimpíada nesta capital, como não custa lembrar aos já estiverem fazendo planos de viagem à Europa na época. Freud estudou arte e dedicou sua vida à pintura, mas sempre carregou o peso do sobrenome e a associação com o avô Sigmund, o austríaco considerado fundador da psicanálise. A família de Lucian (seu pai, Ernst, era arquiteto) fugiu do nazismo e emigrou para Londres em 1933, seis anos antes da chegada do patriarca Sigmund. Porque era neto do pioneiro desbravador da mente humana e dos mistérios do inconsciente, Lucian enfrentou a herança das opiniões preconcebidas e as interpretações equivocadas sobre sua arte e sua representação pouco convencional das pessoas nas telas pintadas. Perturbadora a pintura de Lucian Freud? Sem dúvida, mas isso não é ponto negativo no caso de um artista. É sua forma de expressar criatividade. Freud era tão obsessivo na insistência em pintar quanto no esforço de fugir do Reflexão (autorretrato), de 1985 Por Silio Boccanera, de londres H 26 á quem considere grotescas as pinturas de Lucian Freud. E de fato são. Outros preferem chamálas de expressivas. Também são. Críticos e público se dividem na apreciação dos quadros, mas até os que não gostam da obra por motivos estéticos, por achá-la grosseira, reconhecem a habilidade e o ofício de Freud como artista. As duas características se aplicam à obra desse que foi considera- do um dos maiores pintores de tempos recentes com seu estilo figurativo, focado na imagem do corpo humano e no rosto das pessoas, a seu próprio jeito, que com frequência choca e sacode. Freud morreu no ano passado, aos 89 anos. A National Portrait Gallery, de Londres, recolheu pelo mundo 130 quadros dele para uma das maiores mostras já realizadas sobre a obra do artista nascido em Berlim e naturalizado britânico. Estará aberta ao público até o fim de maio, véspe- Rainha Elizabeth II público, da mídia (não dava entrevistas), da atenção e, sobretudo, do culto à celebridade. Só convivia com pessoas muito próximas. Nada disso impediu suas obras de atingirem preços estratosféricos nos leilões de arte, como os 33,6 milhões de dólares pagos na Christie’s, há poucos anos, por seu quadro Supervisora de benefícios dormindo. Freud pintava amigos, conhecidos, visitantes ocasionais que ele permitia entrar em seu estúdio, além de parentes, como a mãe e as filhas – a estilista de moda Bella e a escritora Esther. Fez também muitos autorretratos, reflexo provável de sua insistência em se afastar das pessoas. A Rainha Elizabeth se dispôs a posar para ele, um trabalho entediante que forçou a monarca a ficar sentada e quase imóvel diante dele horas seguidas, durante alguns dias. Nenhum dos dois jamais revelou sobre o que conversaram na ocasião. Ela ao menos não saiu muito distorcida na obra pronta, produto das tintas espremidas como pasta sobre a tela, conforme o estilo do autor, pouco chegado a toques sutis do pincel. E nada de abstracionismo: Freud mostra a figura mesmo. “Pinto as pessoas não do jeito que são, ou apesar do que são, mas como parecem ser”, disse ele. A rainha teve mais sorte na aparência final do que alguns outros modelos que se submeteram à interpretação desse Freud, no divã do artista. Ou na cama, na poltrona, num quarto de hotel. O assistente David Dawson foi o último modelo de Freud e o quadro para o qual posava ficou inacabado quando o pintor morreu, em julho do ano passado. A obra semi-pronta foi levada à National Portrait Gallery e poderá ser vista por quem ainda alcançar a exposição, até maio. A peça tem um futuro valioso pela frente, como amostra do processo de trabalho do artista, e com a certeza de arrecadar milhões no próximo leilão da arte de Lucian Freud. Fotos: Courtesy Lucian Freud Archive Garota com um cachorro branco, 1950-1 Homem com uma pluma (autorretrato), 1943 Lucian Freud Portraits 100 pinturas e trabalhos em tela e papel de museus e coleções privadas. Até 27/5 na National Portrait Gallery, de Londres. Ingresso: 15,40 libras (aproximadamente R$ 43) 27 graves & agudos Síntese da O Globo música brasileira Exposição sobre a vida e a obra de Pixinguinha ocupa 12 salas do CCBB Por Alexandre Marino A 23 de abril o Brasil comemora o Dia Nacional do Choro, instituído pela Lei nº 10.000, de 4 de setembro de 2000. A data celebra também o aniversário de Alfredo da Rocha Vianna Junior, o Pixinguinha, nascido em 1897. A comemoração dos 115 anos de Pixinguinha é a razão principal da exposição Pixinguinha, que percorre toda a vida do compositor e instrumentista e conta parte significativa da história da música brasileira. Aberta no último dia 13, permanecerá até 6 de maio em diversos espaços do Centro Cultural Banco do Brasil. Menino prodígio, Pixinguinha já tocava flauta aos 11 anos e aos 14 trabalhava profissionalmente como músico. Sempre viveu no meio musical. O pai era flautista amador, assim como os irmãos, e a Pensão Vianna, onde seus pais abrigavam músicos populares que não tinham onde morar, era uma pequena amostra do cenário artístico do fim do Século XIX. As transformações do mundo musical brasileiro, desde essa época até 1973, quando ele morreu, foram acompanhadas de perto por Pixinguinha, que compôs grandes clássicos de nosso acervo musical e teve papel importante não só como compositor e instrumentista, mas também como arranjador – foi o primeiro maestro brasileiro a trabalhar junto a gravadoras. 28 Pixinguinha participou de algumas das primeiras formações de grupos de choro e ranchos carnavalescos, atuou em orquestras de espetáculos de teatro de revista e de cinema mudo, tocou em casas noturnas. Nos anos 20, como integrante dos Oito Batutas, passou uma temporada em Paris e, ao tomar contato com o jazz e as grandes orquestras, promoveu uma revolução estética em sua música. Nessa época apaixonou-se pelo saxofone, instrumento que adotou. Faz parte da exposição todo o acervo familiar de Pixinguinha, cedido pelo neto do artista, Marcelo Vianna. A partir da contextualização de sua infância, a mostra faz um percurso cronológico, passando de suas primeiras participações, ainda bem jovem, em grupos de choro, sua ascensão como flautista, seu crescente prestígio junto aos músicos e à imprensa, a organização dos Oito Batutas, a temporada na França. O material também inclui sua contribuição à Semana de Arte Moderna, liderada pelo escritor Mário de Andrade, que transformou Pixinguinha em personagem do livro Macunaíma. Instrumentos usados pelo músico, incluindo o emblemático saxofone com que ele aparece em algumas de suas fotos mais famosas, estão na mostra. Há gravações da época, na voz de artistas como Carmen Miranda e Orlando Silva; documentos, manuscritos, cartas, fotografias, recortes Divulgação de jornais, objetos pessoais, discos de 78 rpm, vídeos. Também poderá ser visto o documentário Nós somos um poema, que revela a parceria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes. O percurso da vida e obra do músico ocupa 12 salas do CCBB, no Pavilhão de Vidro e na Galeria 2. Uma das salas é dedicada à música Carinhoso, sua mais famosa composição, e lá podem ser vistos vídeos com vários artistas que a interpretaram, como Elis Regina, Orlando Silva, Tomzé, Maria Bethânia, Roberto Carlos e Elizeth Cardoso, entre outros. Ao lado, tocando trombone em show dos Oito Batutas, nos anos 20; abaixo, com o poetinha Vinícius de Moraes e um amigo, em 1968. Pixinguinha sinfônico Pixinguinha escreveu um conjunto de peças sinfônicas para algumas de suas mais célebres composições, como Carinhoso, Stela e Rancho abandonado, material pouco conhecido. Essas peças, reunidas no Concerto Pixinguinha Sinfônico, foram apresentadas no dia 13 pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, sob a regência do maestro Claudio Cohen, na Sala Villa-Lobos (as mesmas obras estão disponíveis em CD gravado pela Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a regência do maestro Sílvio Barbato). Durante a temporada da exposição será lançado o livro Pixinguinha – o gênio e seu tempo, organizado e coordenado pela produtora carioca Lu Araújo, curadora da exposição. Editado pela Casa da Palavra, o volume traz o registro fotográfico de sete décadas da vida do compositor, acompanhado de textos do historiador André Diniz. A mostra reúne material obtido em diversas coleções públicas e particulares, como as do Museu da Imagem e do Som (MIS), Fundação Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Museu Villa-Lobos, Coleção G. Ermakoff e Instituto Moreira Salles, onde o acervo está depositado para recuperação e divulgação. A direção musical da exposição é do maestro Caio Cezar que, ao lado de Lu Araújo e do neto de Pixinguinha, Marcelo Vianna, pesquisa a obra e desenvolve projetos sobre a histó- ria do compositor. “Ele foi um artista fundamental para a música brasileira e precisa ser ainda mais divulgado”, defende Lu. “O tempo de Pixinguinha foi outro, não é o mesmo que falar de Tom Jobim ou Vinícius de Moraes, que já viveram o auge do rádio e da televisão. Ainda assim, Pixinguinha tornou-se uma marca, carregada de brasilidade, e essa exposição permite que o conheçamos melhor.” A importância de Pixinguinha para a música brasileira pode ser dimensionada por um exemplo do crítico e historiador Ary Vasconcelos. “Se você dispõe do espaço de 15 volumes para falar de toda a música brasileira, é muito pouco”, disse ele. “Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, escreva “Pixinguinha”.” É este universo imenso que a exposição, em suas 12 salas, tenta sintetizar. Pixinguinha Exposição inédita sobre o compositor e instrumentista Até 6/5, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca 29 Samba de câmara Por Heitor Menezes T 30 rês dias para curtir Paulinho da Viola sem aquele sufoco registrado em janeiro, naquele Festival Internacional de Artes que de internacional só tinha o nome. Paulinho da Viola, a realeza do samba, volta a Brasília para mini-temporada dias 23, 24 e 25 próximos no Teatro da Unip (Universidade Paulista), na 913 Sul. Dizem que a sala, com capacidade para 500 espectadores, é bastante confortável, tem a melhor acústica de Brasília e foi aprovada pelo músico. Tomara, pois ouvir Paulinho da Viola em lugar meia-boca equivale a curtir a boa música em MP3, nas caixinhas de som xexelentas do computador. O ouvinte que se satisfaz com isso equivale ao consumidor de salgados aquecidos no microondas. Tem gosto pra tudo. Mas, falando de coisa nobre, Paulinho da Viola merece muito nossa reverência. Este ano, o músico passa a fazer parte do time de septuagenários ilustres, como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil, estrelas de primeira grandeza da MPB. Ao contrário dos colegas, Paulinho jamais se rendeu aos modismos, baterias eletrônicas, sintetizadores e batidas “modernas”, na ânsia de conquistar novos públicos ou simplesmente se reinventar. Nada contra as traquitanas e quem se apropriou delas, mas a fonte do mestre é outra: ele bebeu e continua bebendo do samba. Alô, Rio de Janeiro! Desde 1965, quando saiu Rosa de ouro, antológico LP que registra o espetáculo homônimo idealizado por Hermínio Belo de Carvalho, e considerado o primeiro registro fonográfico com o nome de Paulinho da Viola, o Príncipe do Samba mantém-se fiel às origens. Mais ainda, mantém-se fiel à pedra fundamental de sua obra, que para ser devidamente apreciada requer do ouvinte paixão de audiófilo. É preciso parar e fazer silêncio para ouvir Paulinho. Rosa de ouro marcou o samba levado ao teatro, lugar ideal para o, digamos, samba de câmara. De lá pra cá, são quase 50 anos de espetáculos e composições marcantes, como Foi um rio que passou em minha vida, Argumento, Para ver as meninas, Não tenho lágrimas, Sinal fechado e Pecado capital, entre tantas que pedem silêncio e um teatro à meia-luz. Os músicos que sustentam as apresentações de Paulinho são atração à parte. As músicas do mestre ficam mais intimistas no acompanhamento de Cristóvão Bastos (piano), Dininho Silva (baixo), Celsinho Silva (pandeiro), Mário Sève (sopros), Hércules (bateria) e o filho João Rabello (violão). Não tem como dar errado. Paulinho é príncipe, mas junto com ele desfilam grandes nomes do reinado do samba. Alguém que um dia esteve associado a Zé Keti, Cartola, Donga, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Elton Medeiros, Mestre Marçal e outros que a memória engoliu só pode ser astro que emite luz própria. Como diz na canção Nos horizontes do mundo: “Nos horizontes do mundo / Não haverá movimento / Se o botão do sentimento / Não abrir no coração”. Isso é poesia, o resto é “ai se eu te pego”. Paulinho da Viola 23 e 24/3, às 21h30, e 25/3, às 20h, no Teatro Unip (913 Sul). Ingresso: R$ 130 (para doadores de um quilo de alimento não perecível). Vendas antecipadas na bilheteria do teatro ou pelo site www.ingressorapido. com.br. Classificação indicativa: 16 anos. Informações: 3346.3739. Marcos Hermes graves & agudos Divulgação luz câmera ação Abrindo o baú do Raul Por Heitor Menezes D as personagens da cultura musical brasileira que viraram mitos, nosso principal roqueiro, Raul Seixas, ocupa, senão o panteão, mas aquele lugar do imaginário reservado aos que ousaram conhecer a Verdadeira Vontade, conforme descreve a Thelema, pensamento filosófico “mutcho loco” de onde se tirou o lema “fazes o que tu queres, há de ser tudo da lei”. Pois toda a piração de Raul, que tanto encanta malucos e desconcerta os caretas, passados 22 anos de ter sido teletransportado para outro universo, finalmente virou filme profissional nas mãos do fotógrafo e cineasta Walter Carvalho (Budapeste e Cazuza – O tempo não para, duas obras só para refrescar a memória). Raul – O início, o fim e o meio, com estreia prevista para 23 de março, promete uma nova visão sobre a vida e a obra do maluco beleza número um deste país. Apesar de já ter sido alvo de inúmeras produções, principalmente na tevê, o baiano Raul San- Documentário de Walter Carvalho apresenta material raro garimpado no arquivo pessoal do maluco beleza tos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 – São Paulo, 21 de agosto de 1989) precisava de obra cinematográfica que possa ser considerada “a” referência midiática ao incrível legado artístico, ainda hoje capaz de arrebanhar novos admiradores. Desde que percebeu que o country Blue moon of Kentucky (Bill Monroe) e o baião Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) – ou melhor, Elvis Presley e Gonzagão – eram parentes univitelinos, Raul Seixas virou sinônimo de rock brasileiro. O resto é história, mais cômica do que trágica, que vale a pena conhecer preferencialmente com os ouvidos mais do que com os olhos, pois estamos falando de música, não é mesmo? Mas, no caso do filme, o que o torna interessante e diferente é o acesso que a equipe de Walter Carvalho teve ao famoso e até aqui inesgotável “baú do Raul”. Ao lado de muito material raro de arquivo, o documentário condensa mais de 400 horas de depoimentos, incluindo entrevistas com figuras do tipo Paulo Coe- lho, Pedro Bial, Caetano Veloso, Sylvio Passos, Julio Medaglia, Tárik de Souza, Roberto Menescal, Marcelo Nova e as ex-esposas, ex-mulheres e filhas de Raulzito. Para conseguir o material, a produção passou pelos Estados Unidos, Suíça e Brasil, onde moscas, inexplicavelmente, teimavam em pousar sobre os entrevistados. A imersão total em Raul inclui coisas que o Carimbador Maluco jamais imaginaria como jogada de marketing, incluindo site do filme (www.raulseixasofilme.com.br) onde é possível baixar toques para telefone celular; página no Facebook (facebook. com/raulseixasofilme); e, como acontece há 10 mil anos, espaço de recados no Twitter (twitter.com/raulseixasfilme), onde é possível concorrer a brindes e tal. Boa viagem, meninos. Boa viagem. Raul – O início, o fim e o meio Brasil/2012. Direção: Walter Carvalho. Codireção: Evaldo Mocarzel e Leonardo Gudel. Roteiro: Leonardo Gudel. Com depoimentos de Paulo Coelho, Plínio Seixas, Waldir Serrão, Caetano Veloso, Pedro Bial e Marcelo Nova, entre outros. 31 luz câmera ação O homem que não dormia Eu me lembro Strovengah – Todos os olhos Estrada para Ythaca Abaixo a mesmice, viva o diletantismo! Pela primeira vez em Brasília, uma seleção de 150 filmes de jovens realizadores que apostam na espontaneidade e nas múltiplas possibilidades do cinema Por Sérgio Moriconi É 32 bem provável que você nunca tenha visto nada igual antes. Criada e organizada por Guilherme Whitaker, a Mostra do Filme Livre tem como conceito exibir filmes que “fogem do lugar comum”. O que é isso? Segundo Whi- taker, são obras atuais, a maioria delas de curta metragem, produzidas com orçamentos reduzidos e (pelo menos a maioria delas) sem qualquer apoio estatal. O sucesso da iniciativa pode ser constatado com a verdadeira avalanche de inscrições: mais de 800 obras. Oitocentas e uma, mais precisamente. A Mostra do Filme Livre já está na sua 11ª edição em São Paulo. Em Brasília é a sua primeira vez. A programação terá lugar no Centro Cultural Banco do Brasil, de 27 de março até 8 de abril, e na Universidade de Brasília, de 9 até 13 de abril. A entrada é franca e os ingressos deverão ser retirados uma hora antes de cada sessão. Além dos filmes do programa oficial, sim dedicada ao trash, Mundo Livre, com filmes feitos por brasileiros no exterior, Pílulas, com filmes curtíssimos, de até cinco minuto, e Coisas Nossas (vejam só), com filmes realizados pela própria curadoria e equipe da mostra. Não dá para reclamar. Um exercício de liberdade total. Ou quase total: nenhuma das onze premiações previstas estará nas mãos do publico, como costuma acontecer em muitos dos festivais brasileiros. As obras vencedoras serão escolhidas pela própria curadoria (!), que também deverá escrever um texto sobre cada filme premiado. Os realizadores contemplados ganharão passagens para o Rio de Janeiro, onde receberão o troféu Filme Livre e participarão de uma conversa com o público. Nada mal, não é mesmo? A proposta do Filme Livre não deixa de ser superinteressante e oportuna. No momento em que o cinema nacional anda engessado por estéticas induzidas pelos editais de financiamento, abre-se uma janela para uma prática espontânea descolada de regras, receitas de bolo, cinemão, seja lá o que for considerado conveniente, palatável, acessível etc. Vale antes de tudo o experimento sem constrangimento nem culpa. A emoção de ver de novo a chegada do trem na estação. É uma metáfora, claro. O espanto primordial do primeiro cinema reciclado por toda a informação obtida nas novíssimas ferramentas da net. Também a crença de que um filme não precisa necessariamente contar uma história. Ele pode ser uma experiência inteiramente plástica e visual. As origens desse pensamento (pasmem!) remontam aos anos 20. Os protagonistas das chamadas vanguardas cinematográficas (francesas, soviéticas e alemãs, principalmente) eram quase todos provenientes das artes visuais. Mas cinema “livre” não quer dizer necessariamente “vanguarda”. Tampouco videoarte, ainda que, imaginamos, os curadores da mostra estejam longe de ser indiferentes a elas, assim como à utilização de todo tipo de novos suportes tecnológicos. As lições de liberdade podem vir de todas as direções. O trash e o marginal são boas escolas: mal-acabados, rústicos, de mau-gosto, heréticos, demoníacos, as duas formas (ou atitudes em relação à obra) permanecem, hoje, monstros mutantes e ameaçadoras para o “bom” cinema. Considerem essas afirmações, mais uma vez, em sentido figurado. Um filme livre pode se tornar cínico, quase sempre ofensivo e chocante para os critérios de “bom gosto”. Ele só não pode perder a ingenuidade e a pureza. Uma natureza naïf. Eles não podem pretender o reconhecimento do stablishment. O cinema tem de permanecer um brinquedo lúdico. Como crianças que se recusam a crescer, tudo o que um filme livre não quer é sucumbir à lógica do bom senso. 11ª Mostra do Filme Livre De 27/3 a 8/4 no CCBB e de 9 a 13/4 na UnB, com entrada gratuita (senhas serão distribuídas na bilheteria com uma hora de antecedência). Programação completa no site bb.com.br/cultura. Fotos: Divulgação haverá uma homenagem especial ao realizador Edgar Navarro. A homenagem a Navarro já dá um pouco a noção das intenções dos organizadores. O baiano, considerado há décadas um dos principais enfants terribles do novo cinema de seu Estado (não nos esqueçamos de Glauber Rocha), foi (ainda é) um ícone do cinema independente brasileiro. Deu uma guinada para uma produção mais convencional em 2005, com Eu me lembro, uma doce e poética “auto-psicanálise” sobre a origem de seus demônios e conflitos. Neste seu longa de estreia, Navarro tenta traçar um paralelo entre sua infância e a memória coletiva da Bahia. Um Amarcord com dendê, filme curiosíssimo, maduro. Mas ele voltaria às suas irascíveis origens com O homem que não dormia, ainda inédito no circuito comercial da cidade, incluído na programação da mostra, obra delirante, lasciva e demoníaca, apresentada apenas no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Não podemos nos esquecer que Navarro foi o autor de provocações em super-8 como O rei do cagaço e Alice no país das mil novilhas. A presença de Navarro poderia sinalizar uma orientação para o trash e o marginal, gêneros que vão estar representados na programação e serão objeto de debate com o próprio Navarro, no dia 30, às 21h, no CCBB, ao lado do cineasta André Luiz de Oliveira (presença a ser confirmada), autor de Meteorango Kid, clássico do udigrudi brasileiro, e de Louco por cinema, chanchada moderna, vencedora de todos os principais prêmios do Festival de Brasília de 1995. A Mostra do Filme Livre, porém, não quer ficar refém de um único modelo. Neste ano, especialmente, por acontecer na capital pela primeira vez, ganhará duas sessões especiais, a Curta Brasília, que exibirá seis produções candangas recentes, e uma retrospectiva com filmes apresentados em edições anteriores. Esta edição, com a curadoria de Chico Serra, Christian Caselli, Gabriel Sanna, Manu Sobral e Marcelo Ikeda, confirma a predisposição para a diversidade, abrigando um leque grande de atrações, entre elas a Panoramas Livres, com oito sessões de curtas, Outro Olhar, com cinco sessões, e Curta o Longa, com nove longas precedidos de curtas. As sessões especiais incluem Mostrinha Livre, para crianças, Sexuada, obviamente com temática sexual, Bordas, esta 33 Divulgação luz câmera ação Drive Por Reynaldo Domingos Ferreira C 34 om extrema habilidade técnica, o cineasta Nicolas Winding Refn conduz a narrativa de Drive, um drama independente americano sobre um dublê de Hollywood que também trabalha numa oficina mecânica de carros e, à noite, como um tigre solitário perdido na selva da Califórnia, presta serviços de motorista a elementos mafiosos. O roteiro de Hossein Amini é baseado no romance homônimo de James Sallis, que narra a história de um indivíduo caladão, enigmático, conhecido por Motorista (Ryan Gosling). Ele trabalha numa oficina próxima do edifício onde mora, num apartamento alugado. Certo dia, no estacionamento de um supermercado, ajuda uma vizinha, Irene (Carey Mulligan), que, em companhia do filho Benício (Kaden Leos), estava com o carro enguiçado. O dono da oficina, Shannon (Bryan Cranston), não é só o empregador do Motorista, mas também lhe arranja trabalhos extras de dublê e, por reconhecer seu talento, está em vias de introduzi-lo no mundo das corridas de carro, tentando, nesse sentido, convencer o mafioso Bernie Rose (Albert Brooks) a investir em sua carreira. Rose é sócio de um judeu, também mau elemento (Ron Perlman), que no passado deu uma so- va em Shannon por uma dívida não paga. Sensibilizada pela ajuda que o Motorista lhe dera no pátio do supermercado, Irene leva o carro para ser consertado na oficina de Shannon. Este sugere ao Motorista conduzi-la, com o filho, de volta a casa. Meio tocado pelo suave olhar da vizinha, o Motorista decide fazer um passeio, com ela e Benício, num lugar aprazível, nos arredores da cidade. A partir daí, passa a dedicar mais tempo a ela e ao filho, até que um dia o marido, Standard (Oscar Isaac), volta para casa, depois de deixar a prisão. Amini é um roteirista de origem iraniana, parcimonioso, que sabe como poucos adaptar obras literárias ao cinema, já tendo sido indicado ao Oscar por um trabalho magnífico feito em 1997 com base no romance As asas da pomba (1902), de Henry James. Se o argumento do livro de James Sallis não tivesse recebido o tratamento cinemático que lhe deu Amini, a película por certo resvalaria para a categoria de um bloockbuster qualquer. Isso não acontece, primeiro, porque o roteiro é seco, preciso e objetivo; segundo, porque o cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn – prêmio de melhor direção em Cannes (2011) – conseguiu envolvê-lo, explorando com maestria a trilha sonora de Cliff Martinez, numa atmosfera de tirar o fôlego do espectador. Percebe-se, nesse sentido, influência na narrativa – principalmente na definição do caráter do Motorista – do clássico francês O samurai (1967), de Jean-Pierre Melville, retratado por Alain Delon, com algumas referências também a Taxi driver (1976), de Martin Scorcese, e, nas sequên- cias mais violentas, ao Cães de aluguel (1992), de Quentin Tarantino. Assim, a ação e o diálogo (palavras e ideias) têm a ver com um conjunto psicodinâmico em que se compõem e, naturalmente, se completam. Da mesma forma, a composição de planos de Wending Refn ganha uma fundamentação lógica do que ele persegue em termos de razão, vontade e comportamento das personagens. O ator e músico canadense Ryan Gosling (Tudo pelo poder) se ajustou ao que lhe exigiu a caracterização do Motorista, estampando-lhe no rosto um perene sorriso frio e misterioso. A inglesa Carey Mulligan (Educação), de assombrosa sensibilidade, confere a Irene um sentido de conformismo e de passividade ante as incertezas em que vive. E o americano Albert Brooks se destaca pela truculência com que encarna o mafioso Bernie Rose. Drive EUA/2011, 98 min. Direção: Nicolas Winding Refn. Roteiro: Hossein Amini, com base no romance Drive, de James Sallis.Com Ryan Gosling, Carey Mulligan, Kaden Leos, Bryan Cranston, Albert Brooks e Ron Perlman. 35