Industriais do bacalhau querem melhor acesso aos fundos da UE Seminário No encontro que termina hoje, em Ílhavo, os operadores naci0nais têm expressado a necessidade de terem melhor acesso aos fundos comunitários e alteração nas regras na concorrência PAULO RAMOS João Peixinho Com problemas ligados à concorrência da “distribuição moderna” e dificuldade no acesso aos apoios comunitários, os industriais do bacalhau alertaram, ontem, para estes dois problemas do sector. O secretário de Estado das Pescas indicou caminhos, parte dos quais para conseguirem apoios financeiros da União Europeia. Ontem, de manhã, na abertura do seminário “Desafios do mar português - O Bacalhau: História e Futuro”, que termina hoje, no Museu Marítimo de Ílhavo, o presidente da Câmara, Fernando Caçoilo, referiu-se a “ameaças externas”, e Paulo Mónica, secretário-geral da Associação dos Industriais de Bacalhau (AIB), lamentou que a concorrência, da “distribuição moderna”, não esteja sujeita às mesmas obrigações dos industriais nacionais – há “distorção na concorrência”, disse. Quanto aos fundos comunitários do programa operacional MAR 2020, considera que as regras de acesso não se enquadram nos operadores nacionais. O secretário de Estado, José Apolinário, respondeu que o acesso aos fundos “não depende do MAR 2020”, acrescentando que, “mesmo que (os operadores nacionais) não sejam Pequenas e Médias Empresas (PME), podem candidatar-se a projectos de inovação”, em várias vertentes, como o processamento de bacalhau, congelação, transferên- Seminário termina hoje com uma visita ao aquário dos bacalhaus cia de conhecimento, entre outros aspectos. De resto, disse, ainda, que para o acesso aos fundos a solução pode estar também na “renegociação do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas”. Concorrência No país há 23 empresas activas, sobretudo de processamento de bacalhau, que convivem com a “distribuição moderna” e as “promoções” que são feitas nas grandes superfícies, baixando os preços de venda ao consumidor final, o que tem “impacto” nos operadores nacionais, segundo Paulo Mónica. O secretário de Estado lembrou que os operadores nacionais têm o “desafio de conviver com a “distribuição moderna que vai (comprar bacalhau) à fonte”, compreendendo, por isso, que os preços mais reduzidos e as condições de pagamento que conseguem sejam difíceis para os industriais. Neste ponto, diz que há “responsabilidade da distribuição moderna em relação ao sector. A questão não é apenas a obtenção de preços mais baixos na compra de bacalhau, é preciso ter uma relação de transparência para que os industriais continuem a gerar emprego”. Apontou, ainda, para outros desafios, como os “ganhos de eficiência e valorização ao máximo do produto”, aproveitando tudo o que o bacalhau pode dar, assim como a melhoria da comunicação e informação ao consumidor, sobre a qualidade do produto, valorizando a componente da saúde. Islândia aumenta quota em 5 mil toneladas O Governo islandês decidiu aumentar a nova quota de pesca de bacalhau em 5 mil toneladas. A decisão foi tomada na sequência de um parecer do Instituto de Pesquisa Marítima, baseado no crescimento registado nos stocks de bacalhau nas águas islandesas. Gudmundur Gunnarsson, presidente do Conselho de Administração da Associação Islandesa de Produtores de Peixe Salgado, revelou, ontem, durante o seminário, em Ílhavo, que “a quota de pesca de bacalhau da Islândia será a mais alta desde o ano 2000 e vai chegar às 244 mil toneladas”. Espanha e Reino Unido são os principais mercados de exportação para o bacalhau islandês, aparecendo Portugal na sétima posição. A quase totalidade do bacalhau que Portugal compra à Islândia vem na categoria de salgado verde, para depois ser transformado em bacalhau seco pelas empresas portuguesas. Importação estagnou Gudmundur Gunnarsson, admite que “a conjuntura económica em Portugal condicionou as vendas islandesas de bacalhau. Em Espanha, as nossas vendas aumentaram 30% nos últimos cinco anos, e França tornou-se o terceiro destino das nossas exportações de bacalhau, com um crescimento de 100% em cinco anos. As vendas para Portugal estagnaram, mas acreditamos que à medida que a economia portuguesa for recuperando será possível aumentar as nossas exportações. Temos um produto premium que tem todas as condições para agradar aos portugueses, os maiores consumidores de bacalhau em todo o mundo”. Gudmundur Gunnarsson explicou que “a política de sustentabilidade” tem permitido “recuperar stocks” e “aumentar as quotas de pesca”. A sustentabilidade do bacalhau da Islândia está assegurada, à semelhança da maior das espécies que habitam na zona marítima do país. Dos principais peixes pescados na Islândia apenas a arinca regista uma ligeira descida na quota de pesca. PROGRAMA DE HOJE 9.30 horas PAINEL IV - “Memória e Identidade – o bacalhau como património”. Moderador: Álvaro Garrido (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Museu Marítimo de Ílhavo); - “Bacalhau, cultura popular e identidade nacional”, com José Manuel Sobral (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa); - “O Gil Eannes onde naveguei e assisti as tripulações da frota”, com António Trabulo (Escritor e ex-médico no Navio Hospital Gil Eannes); - “Os navios da frota bacalhoeira”, com António Manuel Gonçalves (Academia de Marinha); - “Navio, Armadores e tripulações”, com Valdemar Aveiro (Oficial da Marinha Mercante). DEBATE 12 horas Encerramento e visita especial ao Aquário dos Bacalhaus. 22-10-2016 PAULO RAMOS Operadores do bacalhau pedem medidas de apoio i i i i i i Os operadores nacionais do sector têm dificuldade no acesso aos fundos comunitários Página 17