Identificação molecular do bacalhau vendido em supermercados

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55º Congresso Brasileiro de Genética
Resumos do 55º Congresso Brasileiro de Genética • 30 de agosto a 02 de setembro de 2009
Centro de Convenções do Hotel Monte Real Resort • Águas de Lindóia • SP • Brasil
www.sbg.org.br - ISBN 978-85-89109-06-2
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Identificação molecular do bacalhau vendido em
supermercados
Cavaleiro, NP1,2; Macedo, AGA1; Solé-Cava, AM1
Laboratório de Biodiversidade Molecular, Departamento de Genética, Instituto de Biologia – UFRJ
Pós-Graduação em Biologia (Biociências Nucleares), Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ
[email protected]
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Palavras-chave: bacalhau, citocromo b, Gadus.
O bacalhau é um tradicional peixe comercializado mundialmente cuja produção alcançou quase 9 milhões de
toneladas em 2006 (dados da FAO). No mesmo ano, sua importação no Brasil atingiu cerca de 32000 toneladas
(IBAMA 2006), atrás somente das sardinhas e filés de merluza, evidenciando o alto valor desse peixe no mercado
interno. No entanto, bacalhau é um nome genérico que tem sido impropriamente usado para pelo menos cinco
principais espécies comercializadas como peixe seco e salgado no Brasil, por ordem decrescente de preço:
Gadus morhua (“bacalhau autêntico”), G. macrocephalus (“bacalhau cod”), Molva molva (“Ling”), Brosme brosme
(“Zarbo”) e Pollachius virens (“Saithe”). Como existe uma grande similaridade morfológica entre peixes salgados
comercializados, e como há uma diferença de mais de 100% entre o preço do “bacalhau” Saithe e do bacalhau
autêntico, investigamos a possibilidade de que existam erros de rotulagem nos peixes secos comercializados nos
principais supermercados do Rio de Janeiro. Os erros de rotulagem têm como conseqüência não só o engodo do
consumidor, mas também a dificuldade no controle sanitário (em casos de problemas espécie-específicos) e na
conservação das espécies, por dificultar o controle correto da sua comercialização. Nesse trabalho, analisamos
seqüências do citocromo b de 45 amostras de bacalhau salgado e seco inteiro de cinco diferentes supermercados
do Rio de Janeiro. As seqüências obtidas, devidamente editas e alinhadas, foram usadas, juntamente com
seqüências do GenBank, para construir uma árvore filogenética (Kimura 2-parâmetros/Neighbor-joining) a fim
de estabelecer os limites entre a diferenciação intra e interespecífica nas espécies estudadas. Baseado nesses
resultados, observamos uma variação na taxa de erro de rotulagem de zero a 30% nos diversos supermercados.
Os erros encontrados foram, em todos os casos, substituições de espécies mais caras por outras mais baratas,
rejeitando a hipótese nula de que os erros seriam aleatórios (P<0,01). Foram detectadas a substituição de Gadus
morhua (bacalhau do Atlântico Norte; R$ 50/kg) por G. macrocephalus (bacalhau do Pacifico; R$ 38/kg), G.
macrocephalus por Ling, e de Ling e Zarbo (R$ 28 e R$ 23/kg, respectivamente) por Saithe (R$ 18/kg). Todas as
espécies apresentaram algum tipo de rotulagem equivocada, exceto a Saithe, que é justamente a mais barata.
A taxa de erros de rotulagem global, a partir de amostras de bacalhau inteiro, foi de 15%. É muito provável que
essa taxa de erros (possivelmente fraudes) será muito maior na venda de bacalhau em formatos que dificultem
ainda mais a identificação morfológica, como pequenos pedaços ou desfiados, que facilitam a substituição das
espécies e a possibilidade de mistura da carne de espécies diferentes. O estudo desses outros tipos de material
comercializado constituirá a próxima etapa do estudo.
Apoio Financeiro: CNPQ E FAPERJ
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