QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS EM HEMODIÁLISE: ENFERMAGEM E O LÚDICO* KARLA RIBEIRO ROSA, MARTA CARVALHO LOURES estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Resumo: objetiva-se analisar a produção científica brasileira acerca do lúdico na hemodiálise em idosos, identificando a influência dessas atividades na qualidade de vida desses pacientes, por meio de uma revisão integrativa, buscando favorecer a melhoria da sua qualidade de vida durante as sessões e promover um maior bem-estar e melhorar a interação entre a equipe de enfermagem e os pacientes. Palavras-chave: Hemodiálise. Qualidade De Vida. Idoso. Lúdico. Enfermagem. E ntre as patologias crônicas que mais atingem a população mundial e brasileira está à insuficiência renal crônica (IRC), uma enfermidade que muda totalmente a vida de seu portador e interfere na sua qualidade de vida, caracterizada também por um problema social por comprometer o desempenho do idoso na sociedade. Seu cotidiano se transforma completamente, tornando-se necessário que ele encare a vida com outro olhar. A hemodiálise vem como alternativa de vida. A IRC caracteriza-se pela perda progressiva e irreversível da função renal, condiciona o paciente a realizar terapias de substituição da função renal na forma da diálise peritoneal, hemodiálise ou transplante (QUEIROZ et al., 2008). A hemodiálise trata-se de um processo de filtragem e depuração do sangue de substâncias tóxicas, como ureia e 419 420 estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. creatinina, por meio de um filtro de hemodiálise ou capilar devido à deficiência do mecanismo no organismo do paciente com IRC (TAKEMOTO, 2011). Em 2010, o número de doentes que realizavam hemodiálise no país chegou ao número de 92 mil. Em dez anos, o país registrou um aumento de 38% na taxa de morte de doentes renais crônicos. Essas pessoas dependem de uma máquina que substitui a função dos rins para sobreviver. Em 2000, dos 46.547 doentes que faziam diálise, 7.000 morreram (15%). Os dados são de um censo feito pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN, 2010). Na realidade, as pessoas idosas submetidas à hemodiálise preocupam-se com problemas muito reais, geralmente sua condição clínica é imprevisível e sentem muitas reações adversas ao tratamento e às medicações; a maioria apresenta depressão por viver como um doente crônico e ter medo de morrer (CENTENARO, 2010). São muitas as preocupações desses pacientes idosos. A fisiologia do seu corpo muda bastante e, assim, sua qualidade de vida. De uma maneira inesperada, coisas simples do cotidiano são mudadas, e o medo do desconhecido traz muita angústia e incerteza do futuro. Para pacientes idosos, essas mudanças são ainda mais trágicas, pois seu organismo é mais delimitado, além de sua autoestima já estar sendo reduzida com a idade. São marcantes as mudanças provocadas pelo tratamento, podendo ser consideradas fontes de estresse e responsáveis pelas necessidades de adaptação da pessoa e dos familiares. Entre os estressores, estão: restrições na ingestão de líquidos e alimentos; prurido; cãibras musculares; cansaço; incerteza sobre o futuro; distúrbios do sono; inabilidade para ter filhos; mudanças na estrutura familiar; gasto de tempo com o tratamento; problemas financeiros; mudanças nas atividades de trabalho; dificuldades com transporte para a unidade de hemodiálise; limitações da atividade física; queda nas funções corporais e mudanças na vida social (BERTOLIN et al., 2011). Assim, justifica-se a importância de terapias lúdicas durante o processo da hemodiálise, buscando tornar esse momento menos sofrido e angustiante, com o objetivo de interagir os pacientes entre si e com a equipe de enfermagem, além de proporcionar educação em saúde e alegria em um ambiente muitas vezes monótono. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. A sessão de hemodiálise é uma possibilidade para a equipe de saúde interagir com o idoso renal crônico e auxiliá-lo no suprimento de suas necessidades. No tempo de permanência na clínica, várias ações podem se reverter em um processo educativo, diálogos sobre informações quanto ao tratamento, esclarecimento de dúvidas e atividades de lazer, visando criar condições satisfatórias para o bem-estar e melhorar qualidade de vida deles (PIETROVSKI; AGNOL, 2006). Qualidade de vida é uma definição aberta a diversas interpretações, envolvendo termos amplos como bem-estar social, inserção do individuo na sociedade, saúde, família, estado emocional, entre outros (WELTER, 2008). A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde tem se tornado recentemente um importante indicador de saúde e bem-estar dos pacientes portadores de IRC. Seus resultados são frequentemente utilizados para determinar a efetividade do cuidado em saúde e os efeitos dos tratamentos, bem como a alocação de recursos e o desenvolvimento de políticas de saúde (BRAGA et al., 2011). Em decorrência do declínio fisiológico natural do processo de envelhecimento, ocorre a diminuição gradual e progressiva da capacidade funcional dos idosos, podendo limitá-los na realização de atividades da vida diária, consequentemente diminuindo sua qualidade de vida (KUSUMOTO et al., 2008). Quando este idoso se submete a hemodiálise, este processo se torna ainda pior. A equipe de enfermagem é a grande responsável pela manutenção da qualidade de vida dos pacientes submetidos à hemodiálise. Por passar várias horas por semana ao lado desse paciente, pode perceber suas necessidades e buscar maneiras de tornar esse tratamento menos traumático. É o enfermeiro que, mediante o cuidado de enfermagem, planeja intervenções educativas junto aos clientes, de acordo com a avaliação que realiza, visando ajudá-los a reaprender a viver com a nova realidade e a sobreviver com a IRC (SANTOS, 2011). É preciso estabelecer certo grau de comunicação com o doente que o permita compreendê-lo em sua visão de mundo, ou seja, seu modo de pensar, sentir e agir. Só assim poderá identificar os problemas sentidos por ele, com base no significado que ele atribui aos fatos que lhe acometem (CAMPOS; TURATO, 2010). Terapias alternativas antes de iniciar a hemodiálise e durante o procedimento são instrumentos que devem ser utilizados para tor- 421 OBJETIVOS 422 Geral: Analisar a produção científica brasileira, no período compreendido entre 2002 e 2012, acerca do lúdico na hemodiálise em idosos. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. nar esse cotidiano menos rotineiro e mais produtivo, em que todos os pacientes, inclusive os idosos, vão se sentir mais úteis, elevando sua autoestima. A busca de um estado de bem-estar físico e mental é possível, resultando na recuperação da autonomia, das atividades de trabalho e lazer, da preservação da esperança e do senso de utilidade destes indivíduos (MARTINS; CESARINO, 2005). As atividades lúdico-educativas têm sido objeto de transformação na vida de indivíduos doentes. O lúdico não cura o paciente, mas proporciona grandes melhoras, ajudando-o no enfrentamento da doença (CAVALCANTE, 2011). O significado do lúdico associa-se a jogo, brinquedo e atividades que provocam riso, graça e bem-estar, capaz de provocar efeitos compensatórios para o ser doente em tratamento (TEIXEIRA, 2011). Sempre convivi com a hemodiálise em meu campo familiar, e tenho observado o quanto é sofrido esse processo desde o momento da descoberta da doença, as primeiras sessões, as dúvidas mal esclarecidas, a transformação tanto fisiológica quanto física e psicologicamente, observando a falta de terapias durante as sessões e, sobretudo, o medo da morte. No campo de estágio em que observei o procedimento, senti a necessidade de um maior aperfeiçoamento dos profissionais que lidam com esses pacientes. É preciso compreender que não apenas as técnicas são importantes, mas também o olhar no ser humano, no seu bem-estar e qualidade de vida. Dessa forma, por meio deste trabalho busco esclarecer quais são os efeitos na qualidade de vida dos idosos em hemodiálise quando se utiliza o lúdico e qual a influência da equipe de enfermagem no processo de tornar o procedimento menos sofrido. Trata-se de um estudo de grande relevância para toda equipe de enfermagem que lida com o idoso em hemodiálise, uma vez que traz a importância da atividade lúdica, um tema pouco publicado e executado na prática profissional, mas que é de grande significância e vem se tornando assunto discutido dentro da Enfermagem. Específicos: identificar a influência das atividades lúdicas na qualidade de vida dos pacientes idosos em hemodiálise. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Caminho metodológico: optou-se por uma revisão integrativa da literatura com a abordagem proposta por Cooper (1982), que se baseia no agrupamento dos resultados obtidos de pesquisas primárias sobre o mesmo assunto, objetivando sintetizar e analisar os dados para desenvolver uma explicação mais abrangente de um fenômeno específico (COOPER, 1982). Whittemore; Knafl (2005) afirmam que a revisão integrativa é a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado. Souza; Silva; Carvalho (2010) completam, afirmando que a revisão integrativa envolve a definição do problema clínico, a identificação das informações necessárias, a condução da busca de estudo na literatura e sua avaliação crítica, a identificação da aplicabilidade dos dados oriundos das publicações e a determinação de sua utilização para o paciente. Segundo Cooper (1982), a revisão integrativa se desenvolve em cinco etapas, compreendendo: 1) a elaboração da pergunta norteadora; 2) a busca ou amostragem na literatura; 3) a coleta de dados; 4) análise crítica dos estudos incluídos; 5) interpretação dos resultados. Elaboração do Problema: tendo em vista o objetivo do estudo, a formulação do problema deu-se por meio da seguinte questão norteadora: como a equipe de enfermagem pode melhorar a qualidade de vida dos idosos com insuficiência renal crônica em hemodiálise usando terapias lúdicas? Busca na Literatura: considerando a questão norteadora desta revisão integrativa para identificar os estudos publicados sobre insuficiência renal crônica e hemodiálise, idoso e hemodiálise, qualidade de vida e hemodiálise, enfermagem, lúdico e hemodiálise, foi efetuada uma busca on line nas bases de dados SciELO, BVS, LILACS e BDENF, tendo como critérios de inclusão os estudos publicados nacionalmente, em português, indexados nas bases de dados referidas nos anos de 2002 a 2012, que abordavam a 423 temática, fosse uma revisão qualitativa, que respondesse a questão norteadora, e como critérios de exclusão artigos em outras línguas, que não permitissem acesso on line ao texto completo. Nas bases de dados SciELO, BVS, LILACS, BDENF, foram selecionados 100 artigos, 60 dos quais contribuíram para a construção do trabalho e 16 foram analisados, considerando-se a questão norteadora e o instrumento de coleta de dados. Análise dos Resultados: realizou-se a construção de quadros para uma melhor visualização do conteúdo de cada artigo analisado. Após a análise dos 16 artigos, foi efetuada a comparação entre os artigos, mostrando as diferentes visões de cada autor e, por fim, a discussão entre os resultados encontrados. Interpretação dos Resultados: as informações foram apresentadas em forma de quadros, de modo a permitir uma compreensão da síntese e comparação dos achados de acordo com os autores incluídos na amostra. A análise sugere um novo olhar sobre os cuidados prestados aos idosos submetidos à hemodiálise, ressaltando a importância do lúdico para melhorar a qualidade de vida deles e proporcionar uma interação maior com a equipe de enfermagem. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA E HEMODIÁLISE 424 Os rins são órgãos fundamentais para a manutenção da homeostase do corpo humano. Assim, não é surpresa constatar que, estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Avaliação dos Dados: foi realizada uma listagem dos artigos selecionados, dividindo-os em quatro categorias, quais sejam: insuficiência renal crônica e hemodiálise; idoso e hemodiálise; qualidade de vida e hemodiálise; enfermagem, a atividade lúdica e a hemodiálise. Houve a preocupação em se ter a mesma quantidade de artigos distribuídos para cada tema, uma vez que todos os tópicos têm a mesma importância. Para o registro das informações extraídas dos artigos científicos, foi elaborado um instrumento de coleta de dados que respondiam a questão norteadora e atendiam os objetivos do estudo. Dessa forma, foram coletadas as seguintes informações: categorização do estudo, título, autoria, fonte/ano, objetivo do estudo, descritores, metodologia, resultados e contribuições do estudo. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. com a queda progressiva do ritmo de filtração glomerular observada na insuficiência renal crônica, há perda das funções regulatórias, excretoras e endócrinas. É considerada uma condição sem alternativas de melhoras rápidas, de evolução progressiva, causando problemas médicos, sociais e econômicos (BASTOS et al., 2004). Lomba e Lomba (2005) relatam que, com a diminuição da função renal, todo o organismo fica comprometido, pois a doença manifesta alterações bioquímicas, endócrinas e metabólicas, acarretando problemas como insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, edema, neuropatias, anemias, problemas de coagulação, desequilíbrio acidobásico, redução da libido, graves alterações nos ossos e outros. Como opções de tratamento, têm-se o transplante renal e os processos dialíticos, entre eles a hemodiálise (HD), a diálise peritoneal intermitente (DPI), a diálise peritoneal ambulatorial continua (DPAC) e a diálise peritoneal automática (DPA) (REIS; GUIRARDELLO; CAMPOS, 2008). A hemodiálise, na maioria das vezes, gera frustrações e limitações, uma vez que se faz acompanhar de diversas proibições (PILGER, 2010). É a principal modalidade terapêutica de tratamento da IRC e, na maioria das vezes, irreversível, e vai durar o resto da vida do paciente, que se verá preso em uma máquina, geralmente por três vezes na semana, durante quatro horas, sofrendo restrições alimentares e de vida. As principais mudanças que serão observadas em suas vidas são: restrições na ingestão de líquidos e alimentos; prurido; cãibras musculares; cansaço; incerteza sobre o futuro; distúrbios do sono; inabilidade para ter filhos; mudança na estrutura familiar; gasto de tempo com o tratamento; problemas financeiros; mudanças nas atividades de trabalho; dificuldades com transporte para a Unidade de Hemodiálise; limitações da atividade física; queda das funções corporais e mudanças na vida social (BERTOLIN, 2011). O paciente submetido às sessões de hemodiálise carrega interpretações não apenas sobre a sua doença, mas também sobre os significados da sua vida mantida à custa de uma máquina (MATTOS, 2010). Para alguns doentes, a possibilidade de transplante é inviabilizada por vários aspectos. Assim, a realidade manifesta-se como necessária; a única possibilidade de vida é o próprio tratamento hemodialítico, particularmente para o idoso (MACHADO, 2003). 425 O idoso em HD defronta-se com uma realidade intrínseca à própria convivência quase que diária com o tratamento, isto é, ao mesmo tempo em que este pode aliviar a dor da doença (mesmo que momentaneamente), traz a angústia da possibilidade de finitude (CAMPOS; TURATO, 2010). O número de idosos em hemodiálise vem crescendo cada vez mais, graças ao aumento da expectativa de vida e às opções de tratamento. 426 O processo de envelhecimento, que antes era restrito aos países desenvolvidos, está ocorrendo nos países em desenvolvimento, e de modo mais rápido. Segundo o censo do ano 2010, no Brasil, a parcela de indivíduos com 60 anos ou mais corresponde a aproximadamente 11% da população total (PILGER, 2010). O número de pessoas em hemodiálise tem aumentado e é acompanhado pelo aumento da idade dos casos novos de IRC, ambos explicados pela maior expectativa de vida da população e pelo aumento da população idosa, o que gera aumento da incidência e prevalência de enfermidades crônicas, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial e doença cardiovasculares, causas da IRC em todo o mundo (BERTOLIN, 2011). No passado, a hemodiálise consistia numa terapêutica excludente da população idosa, visto que o seu acesso era restrito por fatores econômicos e sociais, associados à sua menor expectativa de vida (SOUZA; CINTRA; GALLANI, 2005). Hoje, os idosos e as classes sociais mais baixas também podem se beneficiar com a hemodiálise, sendo um tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Percebe-se que diversas pessoas iniciam esse tratamento em caráter emergencial, portanto, sem um preparo anterior, o que leva a pressupor que sua submissão aos procedimentos para uma Terapia Renal Substitutiva (TRS) pode lhes parecer altamente dolorosa e traumática (SANTOS, 2011). De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, atualmente cerca de 30% dos pacientes em diálise são idosos. Os idosos em hemodiálise possuem características clínicas peculiares, que devem ser consideradas: de maneira geral, possuem estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. IDOSO E HEMODIÁLISE estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. maiores número de comorbidade, necessitam de maior número de hospitalizações, consomem mais medicamentos e, proporcionalmente, utilizam mais os serviços de saúde que a população jovem (BRAGA, 2011). No entanto, apesar do aumento do número de pacientes idosos em hemodiálise e também da sobrevida, informações sobre a qualidade de vida desses pacientes são escassas no Brasil. Tal fato leva à necessidade de estudos que contemplem prioritariamente os aspectos mais comprometidos da qualidade de vida nesse grupo de pacientes, para que possam orientar intervenções visando melhorar o nível de saúde dessa população (BRAGA, 2011). Os idosos em terapia hemodialítica apresentam um humor levemente deprimido e as habilidades de enfrentamento tornam-se necessárias para o ajustamento social e psicológico da pessoa idosa (RIBEIRO et al., 2009). Destaca-se que o indivíduo com IRC precisa ser orientado sobre a enfermidade em si e o seu tratamento, as formas de terapia renal, os acessos vasculares, a confecção precoce do acesso dialítico, dieta, restrição, medicamentos, controle da pressão arterial e glicemia. Essa orientação é fundamental para solucionar as dúvidas, viabilizar o autocuidado, diminuir as intercorrências decorrentes do tratamento e aumentar a adesão ao esquema terapêutico (SANTOS, 2011). O idoso, fisicamente frágil pelo próprio processo de envelhecimento, tem no diagnóstico de IRC um importante fator de impacto em diversas perspectivas de sua vida. Desse modo, o tratamento hemodialítico representa a esperança de manter-se vivo (PILGER, 2010). A presença de doença crônica, a necessidade de um tratamento contínuo por um longo período, a idade avançada e a presença de comorbidades constituem fatores importantes na determinação da qualidade de vida dessa população (CASTRO et al., 2003). Aliado a essa complexa situação, é importante acrescentar as dificuldades impostas pelo avançar da idade. Nesse sentido, é importante realizar uma avaliação da qualidade de vida dos idosos submetidos à terapia de tratamento hemodialítico, para que se forneçam subsídios com o fim de que a equipe de saúde tenha uma percepção quanto ao impacto dessa condição crônica na vida dos idosos e contribua para gerar mudanças condizentes com a 427 realidade, possibilitando uma atuação profissional adequada junto a essa população (TAKEMOTO et al., 2011). A qualidade de vida de idosos em hemodiálise é transformada de uma maneira muito bruta, são vários os desafios. Nos primeiros meses, o obstáculo é entender o tratamento e aceitá-lo; depois, acostumar-se com o novo estilo de vida e aprender a lidar com todas as dificuldades que aparecem. A rotina da hemodiálise é muito estressante e entediante, por isso a importância de se pensar a respeito da qualidade de vida e promover atividades durante as sessões, a fim de tornar esse momento menos angustiante. 428 A qualidade de vida vem sendo aplicada aos serviços de saúde desde 1970, em razão da necessidade de se programar melhorias na área física, nos equipamentos e na contratação de profissionais. Em anos mais recentes, o foco da qualidade tem sido dirigido aos pacientes, particularmente ao cliente do sistema de saúde. Diagnóstico correto, tratamento adequado e, especialmente, a satisfação do cliente têm sido frequentemente considerados fatores integrantes do conceito qualidade (CASTRO et al., 2003). Entre as diversas definições de qualidade de vida, pode-se citar a proposta pela Organização Mundial da Saúde, que compreende este conceito como a “percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que vive e em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações” (SILVA et al., 2011). Com o avançar da idade e da doença renal, a percepção dos indivíduos quanto à sua qualidade de vida pode encontrar-se modificada pela característica de cronicidade da IRC e do tratamento, tornando-se comum a presença do conformismo quanto ao seu estado de saúde. O idoso IRC teria necessidade de ser “normal”, ou seja, igual àqueles não doentes e, dessa forma, atribuem satisfação com a própria vida como forma de dizer: sou como os demais (TAKEMOTO et al., 2011). Em estudo realizado para analisar o comprometimento funcional, a depressão e a satisfação com a vida entre idosos estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. QUALIDADE DE VIDA E HEMODIÁLISE estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. portadores de IRC em hemodiálise e um grupo controle de idosos moradores na comunidade, demonstrou-se que os idosos em hemodiálise apresentam comprometimento funcional mais significativo, assim como menor satisfação com a vida (SOUZA; CINTRA; GALLANI, 2005). Não ter expectativa quanto ao futuro ou estar impossibilitado de planejar, de sonhar ou não se permitir sonhar pela realidade que enfrenta faz com que o ser humano experiencie a brutalização da essência humana, a desumanização (REIS, 2008). Com o decorrer do tratamento, estas pessoas passam a viver seu maior tempo em função da doença, não conseguindo, muitas vezes, visualizar esperança, perspectiva de futuro, tornando-se pessoas amargas, tristes e, em alguns casos, agressivas e revoltadas pela sua própria condição (MARISCO, 2002). Avanços nos tratamentos dialíticos têm contribuído para aumentar a sobrevida de pacientes portadores de IRC terminal. Entretanto, o nível de qualidade de vida relacionada à saúde desses pacientes é muito mais baixo que na população geral. Portanto, é um fator a ser investigado, tendo em vista que a diálise tem com objetivo não apenas prolongar a sobrevida, mas também melhorar a qualidade de vida (BRAGA, 2011). Nesse intuito, a Enfermagem vem desenvolvendo pesquisas voltadas para a melhoria da qualidade de vida de pacientes acometidos por doenças crônicas, acompanhando a tendência da área da saúde, pois, além de esforço e investimento direcionados ao aumento de anos de vida, com êxito, é necessário preocupar-se com a qualidade de vida nos anos a mais que foram conquistados (SILVA, 2011). A grande responsável pela melhor qualidade de vida desses idosos submetidos à hemodiálise é a equipe de enfermagem. Esta deve pensar, além de procedimentos técnicos, em valorizar o ser humano que está ali, levando em consideração toda sua história de vida. É a equipe de enfermagem quem encontra com esses pacientes várias vezes por semana, então deve ser capaz de desenvolver métodos que minimizem o sofrimento e aumentem a expectativa de uma vida melhor a esse idoso. A presença de atividades lúdicas antes e durante as sessões de hemodiálise pode ser um instrumento de grande contribuição, tornando esse momento mais alegre e tranquilo. 429 430 A hemodiálise acontece mediante recursos tecnológicos. Esse fato, muitas vezes, provoca um afastamento, a falta de um olhar e a escuta ao paciente, em detrimento da observação e do controle da máquina. Há uma tendência de quem trabalha e detém o domínio da máquina esquecer de que os pacientes precisam de algumas informações que os ajudem a entender e aceitar o procedimento que já faz parte de sua vida (QUEIROZ, 2008). O conviver diário com a doença e o tratamento envolve repetição de ações nem sempre bem sucedidas em um cotidiano de sofrimento contínuo e aflição (PILGER, 2010). O tratamento hemodialítico é necessário e obrigatório e, assim, todos os investimentos, avanços tecnológicos, pesquisas e terapêuticas de apoio para melhoria da vida cotidiana e assistência são válidos (MACHADO; CAR, 2003). A rotina e o tempo de permanência na sessão de hemodiálise foram identificados como fonte de demanda de atenção. Submeter-se a uma rotina de hemodiálise com frequência de três vezes por semana e duração média de quatro horas acarreta para a pessoa um desgaste físico e emocional. Assim, são importantes atividades que proporcionem prazer, como artesanato, música, educação em saúde, entre outros, que faça com que o indivíduo esqueça por alguns momentos as dificuldades e preocupações (REIS, 2008). As práticas profissionais e as instituições de saúde são aspectos a serem considerados, que podem promover formas de enfrentamento positivas na condição de adoecimento, na medida em que se amplia a atuação para além do corpo biológico, centrando na pessoa que adoece. Dessa forma, integram-se no cuidado as dimensões socioculturais presentes no contexto de vida (MATTOS, 2010). Deve-se levar em consideração a necessidade de maior capacitação dos profissionais de saúde na área, em especial os de Enfermagem, que estão em contato direto com o paciente e necessitam observar as particularidades de cada um nos momentos críticos do tratamento, como os que envolvem a saúde mental, social e física, e desenvolver ações que propiciem melhoras no seu bem-estar (PILGER, 2010). estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. ENFERMAGEM, O LÚDICO E A HEMODIÁLISE estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. O setor de hemodiálise é muito enriquecedor no que diz respeito à interação entre os pacientes e a equipe de enfermagem, pois favorece o estabelecimento de uma relação de proximidade em que, muitas vezes, os trabalhadores possuem um amplo conhecimento sobre o paciente, seu contexto familiar e seu processo de saúde/doença (PRESTE, 2011). As atividades lúdicas, quando empregadas, permitem melhoras no enfrentamento da doença e asseguram momentos de alegria ao paciente, trocas de experiência e esperança com relação ao tratamento, além de estimular a interação com a equipe de enfermagem (CAVALCANTE, 2011). Oferecem benefícios aos pacientes, pois lhes proporcionam entretenimento, possibilitando passagem mais rápida do tempo, afastando a tristeza e estimulando seu raciocínio. O lúdico minimiza a ociosidade durante a hemodiálise, é viável como cuidado de enfermagem, tem boa aceitação e humaniza a assistência, promovendo o bem-estar psicossocial (FORTES, 2010). A finalidade do lúdico durante as sessões de hemodiálise é transformar o tempo inativo do paciente em algo produtivo, que possa animá-lo, já para a equipe de enfermagem é promover a integração junto aos clientes, de forma criativa (MARISCO, 2002). As atividades lúdicas não só aliviam o estresse como ensinam a fazer uso de nosso humor para fortalecer nossa resistência/imunidade, assim como favorecem o desenvolvimento dos vínculos afetivos e sociais, positivas condições para que possamos viver em grupo (BRASIL; SCHWARTZ, 2005). O uso de atividades lúdicas permite que o idoso restabeleça o contato com o outro e melhore sua expressão, autoestima e autocuidado. Além desses benefícios, também permite restaurar o interesse e a concentração do idoso em tratamento, aumentar a energia e a confiança em si, reduzir o sentimento de culpa e inutilidade, o que acarreta uma melhora considerável do humor deprimido e a saída do quadro depressivo. A equipe de enfermagem é a grande responsável por favorecer esse momento. RESULTADOS E DISCUSSÕES A seguir, apresentam-se e analisam-se os resultados da revisão integrativa, com o intuito de mostrar quais artigos relatam 431 sobre hemodiálise focando no idoso, qualidade de vida, lúdico e enfermagem. O Quadro 1 traz informações a respeito dos 16 artigos publicados nos periódicos e selecionados para análise. Nº Título Autoria Fonte Ano A experiência de uma pessoa com doença renal crônica em hemodiálise Magna de Mattos, Sônia Ayako Tao Maruyama Revista Gaúcha de Enfermagem 2010 2 O indivíduo renal crônico e as demandas de atenção Carla Klava do Reis, Ednêis de Brito Guirardello, Claudinei José Gomes Campos Revista Brasileira de Enfermagem 2008 3 Tratamento hemodialítico sob a ótica do doente renal: estudo clínico qualitativo Claudinei José Gomes Campos e Egberto Ribeiro Turato Revista Brasileira de Enfermagem 2010 4 Situações significativas no espaço-contexto da hemodiálise: o que dizem os usuários de um serviço Vanusa Pietrovski e Clarice Maria Dall’Agnol Revista Brasileira de Enfermagem 2006 1 432 Continua quadro estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Quadro 1: Distribuição dos Artigos Científicos de Acordo com Título, Autor, Fonte e Ano de Publicação Continuação do quadro Nº estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. 5 Título Autoria Hemodiálise: seu significado e impacto para a vida do idoso CalíoperPilger, Edicléia Martins Rampari, Maria Angélica Pagliarini, Lígia Carreira Escola Anna Nery 2010 Angela Maria Bagattini Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande do Sul 2011 Maria Suêuda Costa Doutorado da Universidade Federal do Ceará 2007 6 O significado do tratamento conservador para o paciente idoso com doença renal crônica 7 Idoso e hemodiálise: processos adaptativos em face das repercussões do tratamento Fonte Ano Continua quadro 433 Nº 8 9 10 434 Título Autoria Fonte Ano 2008 O idoso DRC e sua qualidade de vida Flávia Lozenri Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de enfermagem do Centro Universitário FEEVALE Análise da qualidade de vida de pacientes em hemodiálise: um estudo qualitativo Moane Marchesan, Rodrigo de RossoKrug, Marília de RossoKrug, Jamile CentenaroRomite Arquivos Catarineses de Medicina 2011 Percepção e mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos à hemodiálise Alessandra Silva da Silva, Rosemary Silva da Silveira, Geani Farias Machado Fernandes, Valéria LerchLunardi, Vânia Marli Schubert Backes Revista Brasileira de Enfermagem 2011 Continua quadro estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Continuação do quadro estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Continuação do quadro Nº Título Autoria Fonte Ano 11 Percepções dos indivíduos com insuficiência renal crônica sobre qualidade de vida Pâmela Malheiro Oliveira, Arruda Soares Revista Eletrônica Trimestral de Enfermagem 2012 12 O paciente renal crônico e a percepção sobre sua qualidade de vida, saúde e trabalho Alana Franceline Junglos, Claudia Jaqueline Martinez Munhoz Revista Florence 2011 13 O uso do lúdico em hemodiálise: buscando novas perspectivas na qualidade de atendimento ao paciente no centro de diálise Francielly Almeida Cavalcante, Greice QuelleSaar, Lilian Sampaio Ramos, Angela Antunes de Morais Lima Revista Eletrônica da Facimed 2011 14 Os sentimentos da clientela assistida com atividades lúdicas durante a sessão de hemodiálise Renata Brites Teixeira, Zélia Revista Marilda RoRene drigues Resck 2011 15 As atividades lúdicas em unidades de hemodiálise Maria de Lourdes Silveira Brasil e Eda Schwartz 2005 Maringá Continua quadro 435 Conclusão do quadro Nº 16 Título Autoria Vera Lucia Fortunato Fortes, Sheila Atividades lúdicas Assoni, Môdurante a sessão nica Durante de diálise Menezes e Dalva Maria Pomatti Fonte Ano Revista de Psicologia da IMED 2010 Nota: organizado pela autora, com base na pesquisa bibliográfica. 436 - compreender a experiência de adoecimento de uma pessoa com doença renal crônica em hemodiálise; - analisar as diferentes fontes de demanda de atenção vivenciadas pelos pacientes com IRC, submetidos ao tratamento de hemodiálise; - analisar o significado atribuído pelo doente renal crônico ao tratamento de hemodiálise ao qual se submete; - conhecer situações significativas para o paciente renal crônico vivenciada no espaço-contexto de hemodiálise; - compreender o significado da hemodiálise para o idoso renal crônico e o impacto dessa modalidade terapêutica em sua vida; - conhecer o significado do tratamento conservador para o paciente idoso com doença renal crônica atendido em um laboratório de nefrologia; - avaliar os processos adaptativos elaborados pelos idosos em face das repercussões do tratamento em hemodiálise; - perceber os aspectos positivos e negativos que influenciam de forma benéfica ou não na qualidade de vida de pacientes idosos que utilizam a prática de hemodiálise; estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Pode-se observar que a maioria dos trabalhos consiste em artigos, cuja publicação ocorreu em revistas de enfermagem, sobretudo nos anos de 2010 e 2011. Entre os objetivos de cada estudo, relacionam-se os seguintes: estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. - entender como o paciente em hemodiálise percebe a sua qualidade de vida e quais são os fatores que ele acredita influenciar na mesma; - conhecer as percepções dos pacientes com insuficiência renal crônica acerca das mudanças ocorridas em sua rotina de vida decorrentes do tratamento de hemodiálise, identificando os elementos que influenciam a sua qualidade de vida; - conhecer as percepções dos indivíduos com IRC acerca da sua qualidade de vida em uma unidade de hemodiálise do interior da Bahia; - avaliar a percepção dos pacientes crônicos renais que realizam tratamento hemodialítico, quanto a sua qualidade de vida, de saúde e de trabalho, utilizando o método do SF-36; - analisar a percepção e aceitação do paciente diante da doença e as sessões de hemodiálise; - proporcionar momentos de descontração, avaliar a resposta ao uso destas atividades pelos pacientes e a participação e aceitação da equipe de enfermagem; - apreender dos clientes de um serviço de Terapia Renal Substitutiva os sentimentos gerados pelo desenvolvimento de atividades lúdicas durante a sessão de hemodiálise por uma equipe extensionista, composta por graduandos de enfermagem; - identificar a influência de atividades lúdicas no tratamento do paciente com Insuficiência Renal Crônica Terminal, durante sessões de hemodiálise; - avaliar os efeitos das atividades lúdicas realizadas durante as sessões de hemodiálise em um hospital. Os descritores mais utilizados nos artigos analisados foram insuficiência renal crônica/doença renal crônica e hemodiálise. Eles estavam relacionados ao objetivo do estudo e, assim, aparecem outros, como: qualidade de vida, saúde e idoso e enfermagem/cuidado de enfermagem e humanização da assistência. A administração e organização do serviço e pesquisa aparecem uma única vez. Nos 16 artigos, foi utilizada a metodologia de abordagem qualitativa, por meio de estudos exploratórios e descritivos. A maioria dos artigos utilizou entrevistas semiestruturadas 437 438 - os pacientes desejavam ocupar-se com alguma atividade enquanto esperavam, mas, devido as suas limitações e a falta de atividades, ficavam sem ter o que fazer; - com a presença das atividades lúdicas, a angústia e a ansiedade em relação à espera pelo final da sessão se tornam menor, pois o foco de atenção no tempo é desviado; - o tempo foi mencionado em duas situações distintas: ao tempo como busca do passado por intermédio do sentimento de lembrança; e o tempo que não passa durante as sessões de hemodiálise; - as distrações deram a impressão de minimização do tempo percorrido na máquina de hemodiálise; - a atividade lúdica rompeu a rotina na unidade e tornou-a menos monótona. - houve uma maior interação e aceitação, quando as atividades empregadas envolviam todo o grupo; - a atividade lúdica altera o estado de ânimo do cliente, promove a expressão não verbal de sentimentos, participação em grupo, entretenimento e diversão; - os jogos proporcionaram aos pacientes quebra nas barreiras impostas por eles mesmos e, com isso, acreditou-se na busca de alternativa para resolução dos desafios propostos; - todo ser humano pode favorecer-se com o uso de atividades de entretenimento, tanto no aspecto de diversão e prazer quanto no psicossocial; - o lúdico permitiu aos pacientes esquecer-se de suas preocupações e envolver-se no mundo das brincadeiras, descobrindo o prazer de jogar e de viver; estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. como instrumento para a coleta dos dados, sendo que dois deles realizaram atividades práticas lúdicas com os sujeitos da pesquisa, e um aplicou um questionário aberto. Os estudos foram realizados em unidades de hemodiálise de hospitais e centros de nefrologia da rede pública e privada credenciada ao SUS na população que frequentava os serviços de saúde dessas instituições. Dos 16 artigos, quatro relacionam a qualidade de vida, o idoso, o lúdico e a enfermagem com a hemodiálise, e obtiveram os seguintes resultados: estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. - além das manifestações relacionadas ao humor, o lúdico teve influência no seu bem-estar, no que se refere a questões fisiológicas; - sentimentos de indiferença se manifestaram durante as atividades lúdicas. - o lúdico também se manifestou como repetição e negação; - inicialmente, alguns pacientes rejeitaram participar das atividades lúdicas, porém depois de um tempo foi tendo uma maior adesão; - com relação à equipe de enfermagem, houve expressiva colaboração e participação durante a execução das atividades propostas; - a presença da equipe de enfermagem faz com que os clientes se sintam acolhidos, minimiza o sentimento de solidão e tristeza vivenciado durante o tratamento; - a equipe de enfermagem que trabalha em terapias continuadas, necessita utilizar intervenções que extrapolem os tributos técnicos, adotando condutas que amenize o sofrimento causado pelo tratamento. Um artigo descreve algumas desvantagens das atividades lúdicas, pois há relatos de participantes informando sentimentos de indiferença durante essas atividades. Dois artigos citaram participantes que se negaram a inteirar das atividades propostas. Porém, com o tempo, essa negação foi diminuindo e, no final, todos aderiram às atividades lúdicas e perceberam o bem que ela traz. Os artigos ressaltaram que as atividades em grupo eram mais bem aceitas, a interação e participação são maiores. A equipe de enfermagem também interagiu mais com os pacientes, quebrando a barreira que às vezes existe entre pacientes e profissionais da saúde. Os pacientes se sentiram mais acolhidos, minimizando assim os sentimentos de tristeza e solidão. Os artigos que trazem o lúdico como objeto de estudo indicaram as seguintes conclusões: - embora o uso do lúdico não tenha contribuído significativamente para a aceitação da doença, permitiu melhor percepção durante as sessões, proporcionando momentos agradáveis de descontração e alegria, entretenimento/diversão, sentimentos de amizade/gra- 439 - - - Todos os artigos relataram que o lúdico traz bem-estar ao paciente, fornecendo sentimentos como bom humor, diversão, amizade, entre outros. Assim, a atividade lúdica vem como alternativa para uma melhor qualidade de vida, pois sentimentos ruins que a hemodiálise traz são trocados por risadas, aprendizados e entretenimento. Outro ponto que todos os artigos trazem é que as quatro horas de sessão, que antes demoravam a passar, agora passam bem mais rápidas. Um artigo ressaltou a demanda elevada de pacientes em programas de hemodiálise e a carência de programas de distração e lazer nas salas de espera ou terapia renal. CONSIDERAÇÕES FINAIS 440 Acredita-se que o estudo desenvolvido pode contribuir para que se dedique maior atenção aos idosos submetidos à hemodiálise. Espera-se que os resultados obtidos nessa pesquisa possam favorecer a melhoria da qualidade de vida de idosos em hemodiálise por meio da conscientização da importância da atividade lúdica durante as sessões para promover um maior bem-estar e melhorar a interação entre a equipe de enfermagem e os pacientes idosos, que necessitam de um cuidado maior. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. - tidão e de felicidade/alegria, redução das intercorrências, troca de experiências e esperança com relação ao tratamento, além de estimular a interação com a equipe de enfermagem; as atividades lúdicas proporcionam uma maior interação na relação entre profissional de saúde-cliente, subsidiando uma assistência integral; as atividades lúdicas influenciaram positivamente e trouxeram lembranças do passado, fazendo com que os pacientes não percebessem o tempo passar durante a hemodiálise; as atividades lúdicas auxiliam os enfermeiros na árdua tarefa de manter os pacientes com IRC otimistas, desenvolvendo lhes a autoestima e fazendo-os encontrar razão para viver. observa-se uma demanda elevada de pacientes em programas de hemodiálise e uma carência de programas de distração e lazer nas salas de espera ou terapia renal. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. Percebe-se que existem trabalhos que relatam o lúdico e a hemodiálise. Há dois pontos, porém, que considero significativos e importantes relatar, ou seja, ‘o lúdico e o idoso’ e ‘o lúdico nas salas de espera, tanto para os pacientes como para os familiares que ficam ali horas aguardando as sessões’. As atividades lúdicas para os idosos devem se dar de maneira diferenciada daquela direcionada aos outros grupos. É necessário um olhar mais cuidadoso e se pensar propostas de atividades que sejam aptas à realização, observando o grau de dificuldade e de facilidade, para que esse momento seja de prazer, e não de exclusão. Para as salas de espera, deve ser pensada outra proposta. Há acompanhantes que ficam quatro horas, três vezes por semana, à espera de seu familiar que está realizando hemodiálise. Assim, proponho atividades de educação em saúde para que esses acompanhantes conheçam melhor o tratamento e saibam cuidar dos seus familiares. Outra solução simples e eficaz é o incentivo à troca de saberes, como um artesanato diferente, um livro de que gosta a receita de uma comida, para que esse tempo de espera não seja considerado “tempo perdido”, mas uma oportunidade de aprendizagem. Sugiro que as clínicas de hemodiálise empreguem esse tipo de atividade no seu cotidiano e deem enfoque no idoso, pois este se sente excluído socialmente, o que provoca um isolamento involuntário. O lúdico tem como principal objetivo promover uma melhor qualidade de vida, libertar tensões e emoções, ocupar o tempo durante o procedimento e promover uma maior interação entre a equipe de enfermagem e os pacientes. Esses idosos, com certeza, darão novo sentido à vida e ao tratamento através da hemodiálise. Acredito que a equipe de enfermagem seja a grande responsável por promover a implantação do lúdico na hemodiálise, porém, se a equipe for multiprofissional, esse trabalho será ainda mais enriquecedor. QUALITY OF LIFE OF ELDERLY IN HEMODIALYSIS: NURSING AND PLAYFUL Abstract: the objective is to analyze the scientific production about the playfulness in hemodialysis in the elderly, identifying the influence of these activities on the quality of life of these patients through an integrative review, seeking to encourage the 441 improvement of their quality of life during the sessions and promote greater well-being and improve the interaction between nursing staff and patients. Keywords: Hemodialysis. Quality of life. Elderly. Playful. Nursing. Referências BAGATTINI, A. M. O significado do tratamento conservador para o paciente idoso com doença renal crônica. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, 2011. BASTOS, M. G. et al., Doença renal crônica: problemas e soluções. Jornal Brasileiro de Nefrolologia, v. 26, n. 4, p. 20315, 2004. BRAGA, S. F. 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E-mail: [email protected]. estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 419-446, out./dez. 2013. * Recebido em: 05.09.2013. Aprovado em: 18.09.2013.