Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Bárbara Conte EVENTOS MACROECONÔMICOS E A TAXA DE CÂMBIO REAL-DÓLAR São Paulo 2010 Bárbara Conte Eventos Macroeconômicos e a taxa de câmbio Real-Dólar Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. José Luiz Rossi Júnior – Insper São Paulo 2010 Conte, Bárbara Eventos macroeconômicos e a taxa de câmbio RealDólar / Bárbara Conte. – São Paulo: Insper, 2010. 21 p. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. Dr. José Luiz Rossi Júnior 1. Indicadores macroeconômicos 2.Taxa de câmbio 3. Notícias. Resumo CONTE, Bárbara. Eventos macroeconômicos e a taxa de câmbio Real-Dólar. São Paulo, 2010. 21p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. O objetivo deste trabalho é investigar o impacto dos anúncios de indicadores macroeconômicos quando estes são diferentes do valor esperado pelo mercado financeiro sobre a taxa diária de câmbio Real-Dólar. O resultado indica que quando há uma “supresa” gerada pela diferença entre o valor oficial e o consenso de mercado em relação à inflação (IPCA) e a taxa de juros Selic a taxa de câmbio RealDólar se aprecia, o que esta de acordo com os fundamentos econômicos. Palavras-chave: Indicadores macroeconômicos, Taxa de câmbio, Notícias. Abstract CONTE, Bárbara. Macroeconomics events and the exchange rate Real-Dollar. São Paulo, 2010. 21p. Monograph – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. The objective of this paper is to investigate the impact of news of macroeconomic indicators when it differs from the expected value of the financial market on the daily Real-Dollar exchange rate. The result indicates that when there is a “surprise” generated by the difference between the actual value and the market consensus related to inflation (IPCA) and the Selic interest rate the exchange rate appreciates, which is in line with economic fundamentals. Keywords: Macroeconomics Indicators, Exchange rate, News. Sumário 1 Introdução........................................................................................................6 2 Revisão da Literatura......................................................................................8 3 Metodologia....................................................................................................10 3.1 Descrição dos Dados..............................................................................11 3.2 Panorama Econômico Nacional..............................................................12 3.2.1 A importância da taxa de câmbio para o setor Industrial.................13 4 Resultados Empíricos...................................................................................15 5 Conclusão.......................................................................................................18 Referências..........................................................................................................19 Lista de Tabelas Tabela 1................................................................................................................16 6 1 Introdução O comportamento da taxa de câmbio é um tema que desperta amplo interesse entre economistas, políticos e profissionais do ramo financeiro, motivandoos a examinar diferentes aspectos relacionados ao mesmo, como suas tendências, possível correlação com políticas monetárias, e além de estimular a criação de modelos para sua previsão. Entender o desempenho do câmbio ao longo do tempo, seja no curto ou longo prazo, não é uma tarefa trivial, tornando difícil a sua modelagem pelos diversos agentes e instituições que se dedicam a esta tarefa. Pode-se creditar a esta dificuldade a enorme quantidade de informações econômicas e políticas que influenciam o comportamento da taxa de câmbio. No que tange ao acompanhamento do mercado financeiro no intraday é possível notar a enorme variação nas cotações das diversas moedas e, como conseqüência, a taxa de câmbio sofrendo oscilações temporárias ou não em torno dos fundamentos econômicos. Mudanças na política monetária de um país feitas por seu respectivo Banco Central têm como principal objetivo controlar variáveis (no caso do Banco Central do Brasil, a taxa de inflação) que influenciam diretamente no crescimento econômico. Contudo, não se pode esquecer de que tais alterações na política monetária surtem efeito sobre todo o mercado financeiro e, em especial, sobre a taxa de câmbio do país. Neste trabalho será analisada a influência de variáveis macroeconômicas brasileiras e norte-americana sobre a taxa diária de câmbio Real-Dólar no período de 3 de janeiro de 2005 e 3 de novembro de 2010. As variáveis analisadas referentes ao Brasil serão o Investimento Direto Estrangeiro (IDE), o Saldo em Conta Corrente (CC), a Produção Industrial (PI) mensal, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mensal, o Saldo da Balança Comercial mensal e taxa básica de juros Selic.A variável relativa aos Estados Unidos da América (EUA) será a Federal Fund Rate (Fed Fund), taxa básica de juros dos EUA, que é o principal instrumento de política monetária do Federal Reserve (Fed). 7 Mensurar o impacto dessas variáveis sobre a taxa de câmbio é de grande relevância, uma vez que os indicadores brasileiros escolhidos evidenciam o comportamento econômico do país. Além disso, a avaliação do impacto causado pelo pronunciamento do Federal Open Market Committee (FOMC) relacionado à Fed Fund é de enorme importância, uma vez que a direção adotada pela economia norte americana influencia o desempenho dos mercados globais e o crescimento das demais economias mundiais. As demais seções estão organizadas da seguinte forma: a seção 2 apresenta breve revisão da literatura internacional existente, relacionando taxa de câmbio e notícias/pronunciamentos; a seção 3 discute a metodologia a ser utilizada, assim como os tipos de informações considerados; a seção 4 contém os resultados empíricos; e a seção 5 apresenta a conclusão. 8 2 Revisão da Literatura Há uma extensa literatura sobre os impactos de discursos de Bancos Centrais no mercado financeiro. O conceito que está por trás é baseado na idéia de que os mercados, no caso deste estudo o de moedas, são extremamente eficientes na respectiva interpretações e incorporam antecipadamente todas as informações relevantes no valor presente das taxas de câmbio. Jansen and Haan (2005) avaliaram os efeitos de discursos sobre política monetária feitos pelo Banco Central Europeu (BCE) e por oficiais de Bancos Centrais nacionais europeus na taxa de câmbio Euro-Dólar e, concluíram que os discursos do BCE afetaram basicamente apenas a volatilidade condicional da taxa e não sua média. Já Galati and Ho (2003) investigaram as implicações na taxa de câmbio EuroDólar com base em notícias macroeconômicas referentes aos EUA e a zona do Euro nos anos de 1999 e 2000. Além disso, avaliaram se as notícias eram “boas” ou “ruins” e se havia diferença no impacto causado por notícias norte-americanas e européias. O resultado auferido foi de que as notícias macroeconômicas tendem a apreciar a taxa de câmbio Euro-Dólar, mas esta correlação varia de acordo com o período analisado. Ao mesmo tempo, por meio de regressões concluiu-se que o mercado fica mais atento a possíveis notícias “ruins” referentes à zona do Euro do que a “boas” notícias. Outro tipo de estudo com taxa de câmbio foi realizado por Fatum and Scholnick (2004) a fim de compreender se expectativas de futuras mudanças na política monetária norte-americana alterariam a cotação presente da taxa de câmbio, mesmo que nenhuma mudança na política monetária ocorra de fato. Ao final, o estudo aponta que mudanças diárias nas expectativas têm impactos significativos na taxa de câmbio, resultando em alterações contínuas desta, mesmo sem ter ocorrido qualquer evento do FOMC no período. Na avaliação de Engel and Frankel (1984), que mediram o impacto dos anúncios do Fed sobre Oferta de Moeda (money supply) sobre a taxa de câmbio, o resultado obtido foi que o anúncio do crescimento da oferta de moeda faz com que a taxa real de juros se eleve devido à antecipação das futuras medidas de aperto 9 monetário, a este fato tem como consequência a entrada de capital no país e, portanto, levando a uma apreciação do dólar. O estudo de Branson aborda os determinantes da taxa real de câmbio, tópico que também é relevante, no qual são considerados como principais variáveis explicativas o preço relativo, a oferta de moeda na economia e a conta corrente. A conclusão deste estudo é que o modelo contendo as três variáveis descritas é consistente com os movimentos de fato ocorridos desde 1973, nos Estados Unidos e, portanto são variáveis que conseguem explicar as oscilações na taxa de câmbio, principalmente quando esta se ajusta de acordo com os distúrbios na conta corrente. É possível ainda, possível calcular estes impactos utilizando-se de dados de alta freqüência. Este foi o método empregado por Fair (2002) ao descobrir que os anúncios macroeconômicos norte-americanos são relevantes na variação dos preços dos ativos em apenas um curto intervalo de tempo anterior e posterior a sua divulgação. O estudo de Hashimote and Ito procura entender quais são as variáveis macroeconômicas relevantes que provocam oscilações da taxa de câmbio DólarYen e geram elevação no preço e na volatilidade deste ativo, além de aumentar as transações do mesmo no mercado financeiro trazendo mudanças nos fundamentos econômicos de modo temporário ou não. Já no caso dos impactos de anúncios na economia japonesa sobre o retorno, Hashimote and Ito, descobriram que o PIB, a inflação do consumidor e um índice de curto prazo sobre negócios/empresas têm impacto de pequena magnitude, porém ainda significante. Quando avaliadas a produção industrial, a inflação do produtor e a do consumidor, a taxa de desemprego, o PIB, o índice de curto prazo de negócios/empresas e a balança de pagamentos, estes têm efeitos significantes na volatilidade e preço das transações realizadas pelos traders. Este estudo foi realizado utilizando-se dados de alta frequência. Ainda, nesta linha de avaliação, Evans and Lyons, descobriram que uma parte do impacto causado pelas notícias macroeconômicas na taxa de câmbio ocorre via ordens executadas pelos operados de mercado, ou seja, o mecanismo de transmissão do impacto promovido pelos anúncios macro sobre o câmbio não ocorre apenas via canal direto, como a “internalizaçao” imediata nos preços sem que haja ordens de compra e venda. 10 3 Metodologia A metodologia utilizada foi construída com base na literatura e fundamentada no fato de que apenas “surpresas” nos anúncios macroeconômicos alteram a taxa de câmbio Real-Dólar, uma vez que os mercados são eficientes e as expectativas dos anúncios futuros já estão precificadas na taxa presente. Sendo assim, apenas anúncios de indicadores macroeconômicos inesperados estarão associados a mudanças na taxa de câmbio. A partir dos anúncios de cada variável macroeconômica definiremos como “surpresas” para o mercado financeiro quando houver diferença entre o valor oficial (atual) da variável macro e o consenso do mercado. Com isso, é possível a existência de impactos de diferentes proporções a cada anúncio. Para medir a expectativa do mercado em relação à determinada variável macroeconômica será utilizada a mediana da pesquisa feita pela Bloomberg, pois de acordo com outras literaturas estas previsões são consistentes com a hipótese de expectativas racionais. O ponto referencial para o modelo foi adaptado do trabalho de Galati and Ho (2003), S t Z t B( L) X t t (I) no qual S t é a taxa de câmbio no dia t; X t é o vetor do anúncio (K x 1), no qual cada elemento contém a medida inesperada (surpresa) do késimo anúncio na hora t ; é a constante do modelo; Zt é o vetor de variáveis explicativas adicionais. A fim de avaliar os impactos dos anúncios macroeconômicos no geral será estimada a seguinte equação, K J S t Z k ,t j X k ,t j t (II) k 1 j 0 sendo que X k ,t é a “surpresa” do késimo anúncio no dia t; o coeficiente de X k mede o impacto (proporção) do efeito surpresa de cada anúncio. 11 Ao final da estimação das regressões é esperada uma melhor compreensão dos efeitos que variáveis macroeconômicas possuem na taxa de câmbio Real-Dólar. O intuito é descobrir se as surpresas geradas pelas variáveis exógenas surtem algum efeito na taxa de câmbio e, se caso possuam, se este está em linha com os fundamentos. 3.1. Descrição dos Dados A aquisição de todos os dados utilizados no estudo será realizada na base de dados da Bloomberg. A taxa de câmbio Real-Dólar utilizada será o valor de fechamento diário. Para a Produção Industrial (PI) e para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) serão utilizadas as suas respectivas variações mensais (em relação ao mês anterior). O saldo da Balança Comercial, da Conta Corrente e a quantia de Investimento Direto Estrangeiro no país são dados divulgados mensalmente. A taxa básica de juros (Selic) a ser considerada será a target rate anunciada pelo Banco Central do Brasil em sua reunião de política monetária (COPOM) que ocorre a cada 45 dias. O mesmo raciocínio é utilizado para a apuração da taxa básica de juros norte-americana, a Fed Fund, definida pelo FOMC. A variável de controle (Z) será o índice de mercado S&P 500 diário. A rationale por trás da escolha dos indicadores brasileiros que serão considerados os anúncios macroeconômicos é baseada no intuito de acompanhar o nível de desenvolvimento e crescimento do país através do cenário interno por meio do nível de atividade produtiva, da taxa Selic e da inflação no país ao longo dos meses e, para uma melhor compreensão da conjuntura externa utiliza-se o saldo da balança comercial entre o Brasil e o resto do mundo, o saldo em conta corrente e o nível de investimento direto estrangeiro no país. Além disso, é importante capturar o impacto de uma das variáveis mais ansiadas por todos que acompanham a desempenho dos mercados e das economias, a taxa básica de juros dos EUA. A taxa básica de juros doméstica, Selic, é o principal instrumento de política monetária do Banco Central do Brasil (BCB) e é utilizada de acordo com o grau de aquecimento da economia doméstica. No caso de um superaquecimento nacional, com demanda interna e produção aquecidas, o BCB precisa tomar medidas que 12 desacelerem a demanda e oferta doméstica a fim de evitar o aparecimento de bolhas, por exemplo. Para isso, decide-se por elevar a taxa Selic e “frear” o ritmo que a economia está seguindo. O resultado de uma elevação na taxa de juros doméstica é o aumento do diferencial de juros entre a taxa interna e a externa (Fed Fund, por exemplo), implicando em maior entrada de capital externo no Brasil devido à atratividade de uma taxa de juros mais elevada, proporcionando retornos mais altos para os investidores e provocando a valorização do Real frente ao Dólar. Caso haja uma redução na Selic, o movimento será o contrário e haverá a desvalorização da taxa de câmbio Real-Dólar. O mesmo raciocínio se aplica para a taxa de juros externa, neste caso, a Fed Fund. Entretanto, no sentido contrário, pois em um episódio de elevação da Fed Fund haverá saída de capital do Brasil e, consequentemente, depreciação do Real. Sob a hipótese de expectativas racionais, um inesperado superávit na Balança Comercial e na Conta Corrente decorrente de uma moeda mais valorizada no presente está associado a um movimento futuro de depreciação do câmbio RealDólar para que haja retorno ao equilíbrio no setor externo da economia brasileira. 3.2. Panorama Econômico Nacional Nos últimos anos o Brasil conquistou grande reconhecimento internacional, recebeu o título de investment grade em 2008 e desde então passou a ser considerado um dos principais players na economia mundial. Integrando o grupo do G-20, o grupo de dos 20 países mais industrializados, que tomam importantes decisões sobre o rumo da economia global. Além disso, faz parte dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China), um grupo dos países emergentes com características similares que possuem uma economia em ascensão e com excelentes perspectivas para o futuro. Na conjuntura econômica, o Brasil costuma ser reconhecido como um dos grandes exportadores de commodities, o “celeiro” do mundo, como muitos costumar chamá-lo e uma das implicações disto é um superávit nas transações correntes devido ao maior nível de exportações sobre o de importações. Entretanto, no cenário global pós-crise, no qual as maiores potências econômicas ainda estão 13 enfraquecidas e, portanto estão implementando medidas fiscais e monetárias para estimular suas economias internas, criando maior volatilidade no mercado de moedas e resultando em pressões de valorização sobre as moedas dos demais países que não estão implementando tais medidas. No caso brasileiro, o Real tenderia a se apreciar e levaria ao aumento das importações e, possível déficit na balança comercial. A reação do BCB num caso de um excessivo déficit na balança comercial teria de ser de redução da taxa Selic a fim de reduzir o fluxo de entrada de capitais no país e, também, como um modo de estimular a produção local, contribuindo para a desvalorização do Real. É notável que o Brasil tenha se destacado ultimamente, seja pelos motivos já descritos, ou pelo eficiente modo como o qual o país lidou com a severa e profunda crise financeira que abalou mundo em 2008 e, cujas principais economias desenvolvidas ainda não se recuperaram por completo. Com tudo isso, o fluxo de capitais internacionais de médio e longo prazo, que é contabilizado como Investimento Direto Estrangeiro no país, tem aumentado a cada ano e possui relevância na determinação do sentido da taxa de câmbio, pois quando há entradas de capitais no país o Real-Dólar se valoriza, caso contrário, se desvaloriza. No começo da década de 90 o Brasil conseguiu se livrar de um dos piores problemas que uma economia pode enfrentar, a hiperinflação. Alguns anos após esta conquista foi instaurado o regime de metas de inflação, que desde então tem trazido estabilidade para a economia brasileira como um todo e, também, para a taxa de câmbio. Quando há uma elevação da inflação e/ou da expectativa de inflação a atuação do BCB se dá como necessária para que a inflação mais alta não prejudique a trajetória de crescimento da economia, por exemplo. O resultado de tal medida feita pelo BCB atrai capital externo para o Brasil e, portanto, a taxa de câmbio aprecia. 3.2.1. A importância da taxa de câmbio para o setor Industrial A indústria costuma alegar que uma taxa de câmbio mais apreciada prejudica o setor, pois considera que uma grande parte dos produtos importados levam a uma concorrência desleal, por estes estarem artificialmente que os correlatos nacionais. Em alguns casos, prevalecendo isso por um grande período, poderá levar a 14 desindustrialização com a conseqüente redução de empregos no setor. Ao mesmo tempo com uma taxa de câmbio mais apreciada há maior importação de bens de capital, como máquinas e equipamentos de alta tecnologia, que aumentam a produtividade das indústrias e, consequentemente, aumentam a competitividade das mesmas. Sendo assim, há dois impactos distintos e em sentido opostos na relação à taxa de câmbio e produção industrial. É possível perceber que as variáveis macroeconômicas utilizadas neste estudo são correlacionas entre si e com a taxa de câmbio Real-Dólar e, por isso foram escolhidas como insumos para este estudo. Para a realização deste serão estimadas regressões com base nos dados da taxa de câmbio diário para o período referente a janeiro de 2005 e julho de 2010. A utilização da taxa de câmbio diária e das demais variáveis será como diferencial do log para melhor resultado e interpretação. 15 4 Resultados Empíricos Nesta seção serão apresentados os resultados do estudo das “surpresas” derivadas do impacto das variáveis macroeconômicas quando ocorre divergência entre o valor atual divulgado e o consenso de mercado. Todas as regressões foram feitas utilizando o método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e corrigidas pelo teste de Newey-West corrigindo qualquer indício de autocorrelação e heterocedasticidade nas equações. Ademais, de acordo com o teste Durbin-Watson os resíduos dos modelos não apresentam correlação serial. A variável dependente (taxa de câmbio Real-Dólar) e o S&P500 são utilizados na regressão na forma de primeira diferença e as variáveis de “surpresas” em seu formato original (em nível). A primeira regressão a ser estimada é composta pelas “surpresas” da Produção Industrial, da taxa Selic, do IPCA, da Balança Comercial, da Conta Corrente, dos Investimentos Diretos Estrangeiros e da Fed fund e, também, pela variável explicativa (de controle), o índice de bolsa norte-americano, S&P 500. Entretanto, apenas as referentes à taxa Selic, ao IPCA e S&P 500 são significantes a 10%, 5% e 1% de confiança, respectivamente. Apesar dos coeficientes referentes a tais variáveis serem valores pequenos é importante destacar o sinal (+/-) destes coeficientes, uma vez que estes seguem os fundamentos macroeconômicos. Sendo assim, quando a inflação é maior do que a esperada o mercado se ajusta, pois o Banco Central terá, eventualmente, que elevar a taxa de juros doméstica, implicando em influxo de capital no Brasil e, portanto, em apreciação da taxa de câmbio. Além disso, o modelo demonstra que a moeda brasileira tende a se valorizar, também, quando a bolsa dos Estados Unidos sobe. Na tabela 1, a seguir, é possível analisar o coeficiente e erro-padrão das variáveis em estudo. 16 Tabela 1 - Resultado da regressão com as “surpresas” de cada variável Coeficiente (Erro Padrão) Produção Indsustrial (1) (3) 0.001917 0.00195 (0.0025) (0.0025) IPCA -0.002721 ** Selic -0.000638 *** (0.0011) (0.0004) Conta Corrente (2) -0.002773 * (0.0004) -0.000692 ** -0.00692 (0.0503) (0.0000) 2.113756 2.118725 ** 0.000000 (0.0000) Invest. Direto Estrangeiro -0.000002 (0.0000) Balança Comercial 0.000001 (0.0000) Fed Fund -0.004989 (0.0061) S&P 500 0.000004 * (0.0000) Durbin-Watson 2.112618 Asteríscos representam significância estatística nos níveis de 1% (*), 5% (**) e 10% (***). Na segunda equação optou-se pela estimação apenas das diferenças entre o valor oficial e o consenso de mercado do IPCA e da taxa Selic, cujas significâncias foram a 1% e 5%, respectivamente. Tal resultado parece seguir a intuição de mercado, do mesmo modo que os resultados do primeiro modelo. Ainda, foi estimada uma última regressão contendo “surpresas” da Produção Industrial e taxa Selic, entretanto apenas a última foi significante, novamente, a 5% de confiança. As variáveis Conta Corrente, Balança Comercial e Investimento Direto Estrangeiro não apresentaram significância no modelo em nenhum dos níveis, entretanto isto pode ser explicado pelo fato de que estes dados (seus níveis) são frequentemente comentados por instituições entre os meses de divulgação do dado 17 oficial, o que facilita a interpretação do mercado quanto ao futuro dado e ajuda na formação de uma expectativa mais próxima com o valor oficial e, portanto, “surpresas” impactantes provindas destas variáveis não costumam ocorrer. 18 5 Conclusão O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto decorrente da diferença entre o anúncio macroeconômico oficial e o consenso de mercado no movimento mensal da taxa de câmbio Real-Dólar. Esperava-se que todos os anúncios macroeconômicos tivessem impacto sobre a taxa de câmbio, uma vez que o valor atual (corrente) do indicador fosse distinto do valor esperado pelo mercado, havendo, então, a presença do fator “surpresa”. Entretanto, concluiu-se que apenas o impacto da „surpresa‟ no IPCA e na taxa Selic resultam em ligeira mudança da taxa de câmbio, contribuindo para uma valorização do Real perante o Dólar. Ainda, foi possível auferir que o a relação entre a bolsa norte-americana, S&P 500, e a valorização do câmbio é positiva. Em relação às demais variáveis macroeconômicas estudadas não é exato se estas terão algum tipo de impacto sobre o câmbio no curtíssimo prazo, uma vez que seus resultados não foram significantes em nenhum dos níveis de confiança. Contudo, no longo prazo é plausível acreditar que uma melhora no cenário interno do país via aumento da produtividade nacional contribui para que o país possua uma maior competividade no comércio internacional, resultando em superávit na balança comercial e na conta corrente o que contribuirá para que o país alcance maior nível de crescimento sustentável. Isto, alinhado a um nível de preços estável contribuirá para que a taxa de câmbio Real-Dólar siga tendência de apreciação ao longo do tempo, considerando políticas fiscal e monetária compatíveis com o raciocínio. 19 Referências BRANSON, William H.. Macroeconomic determinants of real exchange rate. Working Paper Series, NBER, n. 801, 1981. EHRMANN, Michael; FRATZSCHER, Marcel. Communication by Central Bank Committee Members: Different Strategies, Same Effectiveness? Journal of Money, Credit and Banking, v. 39, n. 2/3, p. 509–541, 2007. ENGEL, Charles; FRANKEL, Jeffrey A.. 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