Unidade II Unidade II Na Unidade I discutimos sobre a definição de liderança e sua influência sobre as pessoas. Estudamos que, se a liderança pode ser vista como a capacidade de influenciar pessoas, ela se diferencia do poder, uma vez que a influência que se caracteriza 5 no poder está baseada no controle, já que o poder é a capacidade de controlar pessoas impondo a vontade própria. Vimos que a liderança eficiente se dá por meio da realização correta de um processo, de boa qualidade, em curto prazo e com o menor número de erros. Já a eficácia está ligada ao objetivo 10 em si, ao ter-se atingido o objetivo que se esperava. Quanto aos estilos de liderança, vimos o autocrático, o democrático e o liberal nas abordagens comportamental, contingencial e situacional. Na organização, percebemos que a liderança tem como propósito a perspectiva estratégica na 15 medida em que ela cria uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual em um contexto em que se obtenha um desempenho com um máximo de eficácia e em que se responda de forma adequada e rápida às mudanças. Nesse contexto, vimos as lideranças carismática, transformacional e visionária. 20 Nesta unidade vamos tratar do conceito de competência para poder capacitar-nos para compreender quais são as competências que uma boa liderança deve ter. 2 CONCEITUAÇÃO DE COMPETÊNCIA O líder do futuro será alguém capaz de desenvolver uma cultura ou um sistema de valor baseado em 60 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 5 princípios. Além de ser um grande desafio, somente será alcançado por líderes com visão, coragem e humildade para aprender e crescer continuamente. Aprendizado que acontece ouvindo, observando tendências, percebendo e antecipando necessidades do mercado, avaliando sucessos e erros do passado e observando as lições que a consciência e os princípios ensinam. Covey (1996) 2.1 Competência Etimologicamente, competência vem do verbo latino 10 competere, que indica uma ação de aproximar-se, de encontrar-se, que resulta em ”responder a, corresponder”, que dá lugar ao adjetivo competensentris,que vem a ser competente, convincente, e ao substantivo competio-onis, com o sentido de “rival” (Tejada, 1999 p. 3). 15 As definições de competência enfocam a condição de aplicação adequada de conhecimentos, habilidades e destrezas com atitudes e compromissos, bem como com a capacidade integral de exercer uma atividade. Essa definição se contrapõe à aplicação do conceito em um campo 20 restrito da educação, em que se considera competência como o desenvolvimento de múltiplas capacidades (Irigon, 1998). Uma pessoa competente em seu trabalho deve adquirir conhecimento e desenvolver habilidades variadas para a tomada de decisão, a solução de problemas e conflitos e para negociar. Trabalhar 25 com competência é ter conhecimentos, habilidades e atitudes em lugar do antigo esquema de conhecimento e de destrezas (Irigon, 1996, p. 3). No âmbito organizacional, a definição de competência recebe noções de autoridade, capacitação e qualificação. Tejada (1999 30 p. 3) considera que a “competência se refere a funções, tarefas 61 Unidade II e atuação de um profissional – incumbência – para desenvolver, adequada e idoneamente, suas funções de trabalho – suficiência –, que é resultado e objeto de um processo de capacitação e qualificação”. 5 Hoje, muito se ouve: “você precisa adquirir novas competências”, “o processo de seleção da empresa é por competência”, “gestão por competência”. O conceito de competência pode ser atribuído a diferentes elementos, como pessoas – com um conjunto de competências – e organizações 10 – que também apresentam um conjunto de competências. Fazse necessária a definição de competências da empresa e das pessoas que nela trabalham para que ambas possam atingir resultados satisfatórios. Estamos vivendo uma época de profundas transformações, e 15 as últimas décadas foram marcadas por mudanças substanciais nas relações capital-trabalho, patrão-funcionário, organizaçãosociedade. As mudanças decorrentes e intensificadas pela emergência de novas tecnologias estão provocando impactos sobre os diversos segmentos da sociedade. A economia está se 20 tornando cada vez mais complexa e as informações rapidamente se tornam obsoletas. O progresso e a criação de riqueza dependem do uso da informação e do conhecimento. Com o aumento do número de organizações e, consequentemente, com o aumento da competitividade, não 25 serão as máquinas que definirão a organização que mais se destacará, pois os concorrentes também as possuem. A vantagem competitiva residirá na organização que possuir os melhores profissionais, pois são as pessoas que possuem a capacidade de gerar e buscar informações, de antecipar-se às necessidades, de 30 decidir, de criar, de inovar, de aprender e de liderar. A soma de todo o conhecimento existente na organização talentos, eficácia do sistema gerencial e teor de relacionamento com os clientes – pode ser usada como vantagem competitiva, 62 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA e para isso as pessoas precisam desenvolver competências que permitam atender às novas demandas. Nessa perspectiva, o conceito de competência é pensado como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes – CHA 5 (isto é, o conjunto de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho, acreditando-se que os melhores desempenhos estão fundamentados na inteligência e personalidade das pessoas. Em outras palavras, a competência é percebida como estoque de recursos que o indivíduo detém. Embora o foco 10 de análise seja o indivíduo, a maioria dos autores americanos sinaliza a importância de se alinharem as competências às necessidades estabelecidas pelos cargos ou posições existentes nas organizações (Fleury & Fleury, 2000). Conhecimento (saber): os domínios do conhecimento são 15 constituídos de três partes: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. “O domínio cognitivo inclui os objetivos vinculados à memória ou recognição e ao desenvolvimento de capacidades e habilidades intelectuais”. O segundo domínio envolve os objetivos que descrevem mudanças de interesse, atitudes e valores e o 20 desenvolvimento de análise e ajustamento adequados. O terceiro se refere à área das habilidades manipulativas ou motoras (Bloon et al., 1972, p. 7). Nonaka & Takeuchi (1997, p. 7) citam dois tipos de conhecimento, o tácito e o explícito. O tácito é “altamente 25 pessoal e difícil de formalizar, o que dificulta sua transmissão e compartilhamento com outros [...] estando enraizado na ação e experiência do indivíduo, bem como em suas emoções, valores ou ideias”. O conhecimento tácito pode ser segmentado em duas extensões: elementos cognitivos e 30 elementos técnicos. Os elementos cognitivos estão centrados em “modelos mentais” – esquemas, paradigmas, perspectivas, crenças e pontos de vista –, isto é, são referências pessoais que o indivíduo cria sobre o mundo para estabelecer e manipular analogias que o levem a compreender a realidade. Nos 63 Unidade II elementos técnicos do conhecimento implícito, por sua vez, estão inclusos know-how concreto, técnicas e habilidades. O conhecimento explícito é transmitido em linguagem formal, sistemática, e é facilmente processado por um computador, 5 transmitido eletronicamente ou armazenado em bancos de dados. Podem ser distintos o conhecimento do indivíduo, do grupo, da organização e da rede de organizações interagentes. Para Morin (1999, p. 21), o conhecimento é: 10 • uma competência conhecimentos); (aptidão para produzir • uma atividade cognitiva (cognição), realizando-se em função da competência; • um saber (resultante dessas atividades). Ainda segundo Morin (1999, p. 20), as competências e atividades cognitivas humanas necessitam de um aparelho cognitivo, o cérebro, que é uma formidável máquina biofísicoquímica, e este necessita da existência biológica de um indivíduo. As aptidões cognitivas humanas só podem desenvolver-se 20 no seio de uma cultura que produziu, conservou, transmitiu uma linguagem, uma lógica, um capital de saberes, critérios de verdade. É nesse quadro que o espírito humano elabora e organiza seu conhecimento utilizando os meios culturais disponíveis. 15 Habilidade (saber fazer): é um conceito que varia de autor para autor, porém, geralmente é considerada como algo menos amplo do que as competências, porquanto a competência é constituída por várias habilidades. Uma habilidade, por exemplo, não pode pertencer a uma determinada competência 30 porque ela pode contribuir para competências diferentes. Contudo, a habilidade é inseparável da ação e exige domínio de conhecimentos. Dessa forma, podemos concluir que as 25 64 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA habilidades estão relacionadas ao saber fazer, como: identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular informações. A atitude (querer fazer): representa uma predisposição das pessoas para um objeto, situação ou pessoa que condiciona sua atuação ou conduta para isso. As atitudes representam uma forma de expressão dos sentimentos internos das pessoas, refletindo sua posição favorável, desfavorável ou indiferente 10 perante o objeto, a situação ou a pessoa. As atitudes são constituídas de três componentes: cognitivo, afetivo e de ação (Ortega, 1998). Atitude é uma predisposição de reação que exerce influência frente à resposta de uma pessoa a outra, a uma coisa, a uma ideia ou a uma situação (DuBrin, 15 2003, p. 63). 5 O componente cognitivo está representado por todos os conhecimentos e percepções que cada pessoa recebe, por meio de diferentes fontes, sobre o objeto a que se refere a atitude. O resultado de tudo isso representa o conjunto 20 de atributos que a pessoa recebe do objeto. O componente afetivo está representado pela apreciação ou avaliação que cada pessoa faz de cada um dos atributos do objeto num determinado momento. O componente de ação é constituído pela tendência de atuar. No campo do comportamento do 25 consumidor, representa a intenção de comprar ou não comprar uma determinada marca. Esses três componentes da atitude, segundo Mattar (1996, p. 86), têm o seguinte significado: 30 a. cognitivo: representa as crenças da pessoa em relação a produtos, organizações, pessoas, fatos ou situações; b. afetivo: representa os sentimentos que a pessoa experimenta em relação a produtos, organizações, pessoas, fatos ou situações; 65 Unidade II 5 c. comportamental (ação): significa predisposição para uma reação comportamental em relação a um produto, uma organização, uma pessoa, um fato ou uma situação. A formação de uma atitude é resultado de crenças, reflexos condicionados, fixações, julgamentos, estereótipos, experiências, exposições a comunicações persuasivas, trocas de informações e experiências com outros indivíduos. Componente cognitivo Componente afetivo Atitude Componente de ação Fonte: Ortega (1998, p. 58), Componentes da atitude Um conceito de competência pode ser apresentado 10 como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes demonstrados pela pessoa na realização de uma tarefa. Dizemos que somos competentes numa atividade quando esse conjunto de comportamentos apresentados resulta no sucesso para a realização daquela atividade. 15 Do ponto de vista empresarial, é a prática que interessa: é o conhecimento aplicado que gera capacidade de produzir resultados, ou seja, competência. Segundo Fleury & Fleury (2000), cada indivíduo, cada equipe, cada área precisa ser competente de modo a agregar valor econômico para a organização e valor 20 social para o indivíduo. O indivíduo deve ser competente, isto é, deve atender às expectativas da organização e a organização deve valorizar essa competência. Nesse sentido “podem existir pessoas competentes em uma empresa incompetente, mas não pode haver uma 25 empresa competente sem pessoas competentes”. 66 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Competência como fonte de valor para o indivíduo e para a organização saber agir saber mobilizar saber transferir saber aprender saber se engajar ter visão estratégica assumir responsabilidades Indivíduo Conhecimentos Habilidades Atitude social Organização econômico Agregar valor Fonte: Fleury & Fleury (2001) Os líderes têm importância vital na construção e no desenvolvimento das competências requeridas em uma 5 organização. Eles devem possuir a capacidade de articular diferentes competências individuais, transformando-as em competências coletivas, segundo Quinn et al. (2004). Para esses autores, os líderes desempenham muitas vezes papéis antagônicos nas organizações. Para estabelecer os papéis dos 10 líderes, os autores tomaram como base quatro grandes modelos de gestão (metas racionais, processos internos, relações humanas e sistemas abertos), entendendo que o surgimento de um novo modelo não exclui os anteriores. A figura abaixo mostra os modelos e os oito papéis dos líderes. 15 Pode-se observar que os modelos de processos internos e de relações humanas possuem foco interno, em contraste com os modelos de metas racionais e de sistemas abertos que possuem foco externo. Os modelos de relações humanas e sistemas abertos definem20 se pela flexibilidade, enquanto os modelos de processos internos e metas racionais compartilham o controle. Os autores, por entenderem que as organizações devam ser tanto adaptáveis e flexíveis quanto estáveis e controladas 67 Unidade II e, portanto, precisem ter um foco interno e um externo, não consideram que esses modelos sejam mutuamente excludentes. Quinn et al. (2004) acreditam que cada modelo aponta para benefícios de estratégias diferentes e até contrárias e que se 5 deve ampliar o pensamento e incrementar as possibilidades de escolha e eficácia se forem resolvidos três desafios: • apreciar vantagens e desvantagens de cada um dos quatro modelos; 10 • adquirir e utilizar as competências associadas a cada modelo; • integrar de maneira dinâmica as competências de cada um dos modelos às situações gerenciais encontradas. Dutra (2002) afirma existir uma grande diversidade de conceitos sobre competências, os quais podem ser 15 complementares. O autor estrutura esses conceitos, nos quais as competências são entendidas como entrega da pessoa (inputs) para a organização e também são apresentadas como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a pessoa exercer suas atividades, com o queagrega valor à 20 organização (outputs), conforme a figura abaixo. Ciclo das competências Inputs Orientam Conhecimentos Habilidades Atitudes Competências organizacionais Competências humanas Outputs Subsidiam Agregação de valor Desenvolvimento profissional Fonte: Entendimento da autora 68 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Entre as abordagens citadas por Dutra, salientaram-se duas. Uma é aquela defendida na década de 1990 por Lê Bortef, Zarifian e Elliot Jacques: 5 10 15 Competência é colocar em prática o que sabemos em determinado contexto, contexto esse geralmente marcado por relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo, de recursos etc. Portanto, podemos falar de competência nessa abordagem apenas quando há competência em ação, o que se traduz em saber ser e saber mobilizar conhecimentos em diferentes contextos. Na segunda abordagem se associa competência com a atuação da pessoa em áreas de conforto profissional, em que são usados seus pontos fortes e, portanto, tem maior possibilidade de realização e felicidade. Zarifian (2001, p. 68) propõe uma “definição que integre várias dimensões, assim, a competência é ‘o tomar 20 iniciativa’ e ‘o assumir responsabilidade’ do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara”. O autor entende que as mudanças fundamentais do trabalho nas organizações são a abertura de espaço para a autonomia e a automobilização do indivíduo, de maneira que a competência 25 ”seja assumida”, resultante de um procedimento pessoal do indivíduo, que aceita assumir seu trabalho e ser responsável por ele. Segundo Santos (2001), competência é o elo entre conhecimento e estratégia, é a capacidade de gerar 30 resultados observáveis. Ela está relacionada à prática, ou seja, a colocar em prática aquilo que se sabe em um determinado contexto. 69 Unidade II Portanto, a competência está associada às realizações das pessoas, àquilo que elas produzem e/ou entregam. A competência não é um estado ou um conhecimento que se tem e nem é resultado de treinamento. Há competência apenas quando há 5 competência de ação. É o saber (conhecimento), saber fazer (habilidade), querer fazer (atitude) e, principalmente, saber fazer acontecer. Competência = Saber fazer acontecer Conhecimento Habilidade Atitude Saber • Aprender a aprender • Aprender continuamente • Aumentar o conhecimento • Aprender a comunicar Saber FAZER • Aplicar o conhecimento • Saber pensar e acrescentar valor • Transformar o conhecimento em algo concreto Querer FAZER • Aplicar a habilidade • Alcançar objetivos • Transformar a habilidade em resultados Fonte: Entendimento da autora Assim como não é adquirida como algo acabado, a competência deve ser mantida em constante construção, por 10 meio da aprendizagem profissional e pessoal. Por esse motivo, a competência se configura como um processo de evolução do saber necessário ao trabalho, não sendo possível se afirmar que uma pessoa atingiu o nível máximo de competência definitivamente. 15 70 A aprendizagem é um processo pelo qual as pessoas adquirem um conhecimento derivado de uma experiência, treino ou prática, que conduz a um comportamento repetitivo (Ortega, 1998, p. 62). COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Aprendizagem Predisposição e vontade para aprender a manter-se atualizado Conhecimento Humildade para reconhecer que não sabe, e conhecer objetivos e metas COMPETÊNCIA Atitude Curiosidade, interesse, disponibilidade, concentração, disciplina e motivação Habilidades Técnica de estudo dirigido; Saber administrar o tempo; Autodesenvolvimento e planejamento Fonte: Entendimento da autora Do ponto de vista empresarial, é a prática que interessa: é o conhecimento aplicado que gera capacidade de produzir resultados, ou seja, competência. Adotaremos, então, como definição de competência: Capacidade de transformar conhecimentos, habilidade e atitudes em resultados. 2.2 Competências essenciais 5 Para Prahalad (1997, p. 46), competência essencial é uma capacidade própria da empresa, difícil de ser imitada pelos outros – core competence. A alta administração das organizações precisa definir quais são as competências essenciais ao seu negócio. Hamel & Prahalad (1995) definem competência 10 essencial como: Um conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias, sistemas físicos, gerenciais e valores que geram um diferencial competitivo para a organização. 71 Unidade II Para esses autores, competências essenciais nas empresas são aquelas que atribuem vantagem competitiva, criam valor percebido pelos clientes e são difíceis de ser imitadas pela concorrência. 5 Prahalad (1997) afirma que, para ter competência essencial, são necessários três fatores: • treinar os funcionários continuamente, pois conhecimento explícito não acontece por acaso; 10 o • usar as competências continuamente, desdobradas, reformuladas de diversas formas, o que inclui transferir os funcionários de um setor para outro dentro da organização; • as competências podem ser desenvolvidas quando a empresa rompe suas barreiras funcionais e organizacionais para que exista um trabalho em equipe. 15 É através da perspectiva da competência essencial que se podem ver e avaliar as novas possibilidades dos concorrentes. O autor relata que a competência essencial está na mente dos trabalhadores das empresas e que a competência essencial é um ativo invisível (Prahalad, 1997, p. 46). 20 Uma competência é considerada essencial quando preenche os seguintes requisitos: tem valor percebido pelos clientes; contribui para diferenciar a empresa dos concorrentes e aumenta a capacidade de expansão da organização. Valor percebido pelos clientes: uma competência essencial 25 deve fazer com que a empresa agregue valor de forma concisa e diferenciada aos produtos ou serviços que oferece, de modo que os clientes recebam reais benefícios. . Diferenciação entre concorrentes: uma competência essencial deve diferenciar a empresa das demais que atuam no 30 mesmo ramo. Esse algo específico precisa ser reconhecido pelo 72 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA mercado como sendo algo próprio do produto, do serviço, da marca ou da própria empresa e deve ser muito difícil de imitar. Capacidade de expansão (para novos mercados): uma competência essencial deve abrir as portas para a empresa, de 5 maneira a propiciar-lhe o acesso a diferentes mercados, oferecendo suporte para produtos e serviços e também desenvolvendo novas oportunidades. (Hamel & Prahalad, 1995). Fleury & Fleury (2000) observam que, “para ser considerado uma competência essencial, o conhecimento deve estar 10 associado a um sistemático processo de aprendizagem, que envolve descobrimento/inovação e capacitação de recursos humanos”. Para Zarifian (1996), há cinco diferentes competências na organização: 15 1. competências sobre processos: os conhecimentos sobre o processo de trabalho; 2. competências técnicas: conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado; 3. competências sobre a organização: saber organizar os fluxos de trabalho; 20 25 4. competências de serviço: aliar a competência técnica à pergunta: qual o impacto que este produto ou serviço terá sobre o consumidor final?; 5. competências sociais: saber ser, incluindo atitudes que sustentam os comportamentos das pessoas. O autor identifica três domínios dessas competências: autonomia, responsabilização e comunicação. Segundo Hamel & Prahalad (1995), a competência essencial envolve três aspectos fundamentais: 30 1. identificação de um conjunto único de habilidades, que inclui um componente tecnológico e um componente 73 Unidade II de aprendizagem, e se esse conjunto está presente em múltiplas unidades de negócio; 2. verificação: se outras empresas têm dificuldade de imitar; 5 3. avaliação: se pode ser utilizado em novas oportunidades de negócios. Assim, acentua-se a necessidade de garantir que essa visão traga uma arquitetura estratégica que elabore uma planta para a construção das competências necessárias para dominar 10 os mercados futuros. Portanto, os funcionários devem ter competência técnica para exercer sua função, competência social para interagir com outras pessoas e competência de negócio para buscar os resultados empresariais pretendidos. 2.3. Classificação das competências: domínio e aplicação Segundo Ruano (2003), o entendimento da competência passa 15 necessariamente pela dimensão estratégica (competências organizacionais) e pela dimensão individual (competências dos funcionários), que estão intimamente relacionadas. Organizações não vivem sem a expertise das pessoas, e as pessoas, por sua vez, sem as da organização. A agregação de 20 valor dos indivíduos é a sua contribuição efetiva ao patrimônio de conhecimentos da organização, o que lhe permite manter vantagens competitivas ao longo do tempo. Quanto às competências dos funcionários, segundo Nisembaum (2000) essas podem ser divididas em individual e 25 profissional: Competência individual: é a integração sinérgica das habilidades, conhecimentos e comportamentos, manifestados pelo alto desempenho da pessoa que contribui para os resultados da organização. O autor destaca o modelo de competência 74 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA propondo a seguinte sequência de análise: resultados – performance – papéis – competências. As competências que partem dos resultados contribuem com a estratégia da empresa, incluindo o desempenho já adquirido ou que se precisa ter, de 5 acordo com o modelo de performance e as funções exercidas na posição ocupada. Assim: 10 15 – Pessoas potencialmente competentes: desenvolvem e possuem características, atributos e requisitos como conhecimento, habilidade, habilitações, porém não conseguem sua aplicação na prática ou não demonstram seus resultados nas ações e nos trabalhos desenvolvidos. Ex.: aprender o domínio de uma língua estrangeira e não conseguir trabalho no qual poderá aplicar o conhecimento (Resende, 2000). – Pessoas efetivamente competentes: aplicam os requisitos e atributos com êxito em suas ações e atividades, com resultados claros. Ex.: resolução de problemas rapidamente (Nisembaum, 2000). Nisembaum (2000) entende que as competências 20 individuais devem levar em conta as mudanças nos locais de trabalho e as necessidades da indústria, de maneira que a competência específica inclua a capacidade de aplicar habilidades, conhecimentos e comportamentos em situações novas e em mudanças no processo de trabalho, e não apenas 25 nas tarefas desempenhadas no momento. Isso reforça a “tese de desenvolver as competências individuais e específicas à luz das competências essenciais, em vez de trabalhar somente com base em características de personalidade”. 75 Unidade II Desenvolvimento de competências das pessoas nas organizações Tipo Função Como desenvolver Conhecimento teórico. Entendimento, interpretação. Educação formal e continuada. Conhecimento sobre os procedimentos. Saber como proceder. Educação formal e experiência profissional. Conhecimento empírico. Saber como fazer. Experiência profissional. Conhecimento social. Saber como comportarse Experiência social e profissional. Conhecimento cognitivo. Saber como lidar com a informação, saber como aprender. Educação formal e continuada, e experiência social e profissional. Fonte: Fleury & Fleury (2000), inspirado na obra de Le Boterf Competência profissional: é a competência que consiste em construir uma interpretação dos resultados a serem produzidos 5 para o cliente, a partir do que ele mesmo propõe, mas também a partir de informações que espelham outras perspectivas. Interpretar é atribuir um significado a enunciados linguísticos (Nisembaum, 2000). Competências para o profissional Saber agir Saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir. Saber mobilizar recursos Criar sinergia e mobilizar recursos e competências. Saber comunicar Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos. Saber aprender Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber engajar-se e comprometer-se Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber assumir responsabilidades Ser responsável, assumindo os riscos e consequências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Ter visão estratégica Conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas. Fonte: Fleury & Fleury (2001), inspirado na obra de Le Boterf 76 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA A competência humana, profissional, segundo Nisembaum (2000), desde o início, é decisiva na eficiência de uma produção de serviço, pois é preciso interpretar e compreender as expectativas do cliente-usuário quanto aos 5 resultados a serem gerados. Refere-se às tarefas profissionais e sociais, estando ligada à descrição das funções do conteúdo funcional de cada categoria e às normas de atuação profissional. Desenvolve-se para enfrentar a improvisação e é relevante na colocação do talento pessoal na resolução 10 dos problemas. Refere-se aos valores individuais, traduzidos na capacidade de análise crítica, na constituição do seu projeto pessoal e na capacidade de autoformação e de pesquisa – as atitudes de relação e de comunicação, as capacidades relativas a autoimagem, conhecimento próprio, 15 valorização, autoestima e autoconfiança, as capacidades de adaptação e mudança, facilidade de integração e aceitação da mudança. 2.3.1 Competências organizacionais No início da década de 1990, emerge com grande força a visão estratégica da empresa baseada em recursos 20 como contraponto à predominância da visão do ambiente externo como determinante da estratégia empresarial. Nessa discussão, o conhecimento surge como principal recurso empresarial. Hamel & Prahalad (1995) defendem a ideia de que, para 25 se estabelecer a visão estratégica, continuamente revisada e adequada ao contexto do momento, faz-se necessária energia intelectual substancial constante da empresa. Com ela se pode desenvolver respostas sólidas e de alta qualidade para perguntas como: que novas competências específicas da organização 30 teremos de criar? Que novos conceitos de produtos devemos lançar? Que novas alianças precisamos formar? Em síntese, o que a empresa necessita é ter a capacidade de antever o futuro. Não adianta a empresa preocupar-se apenas em ser 77 Unidade II mais eficiente; ela também deve preocupar-se em ser capaz de ser diferente. Nesse sentido, Hamel & Prahalad (1995) entendem que se torna clara a necessidade de elaboração de uma 5 visão estratégica, que precede à liderança de produtos e concebe a necessidade de incorporação de um portfólio de competências. Para Santos (2000, p. 13), a competência das organizações não está no conhecimento em si, mas na mistura de habilidades 10 técnicas, funcionais, gerenciais e comportamentais. Dentro das competências organizacionais, Dutra (2004) explica que se devem destacar categorias distintivas das competências, tais como: 15 • competências distintivas: são diferenciadas em relação aos competidores. A organização ganha vantagens na competitividade; • competências de suporte: são as atividades que servem de alicerce para outras atividades da organização; 20 • capacidade dinâmica: condição da organização de adaptar continuamente suas competências às exigências do ambiente. 2.3.2 As competências essenciais da efetividade humana – negociação de resultados Segundo Wanderley (2005), não importa qual seja a atividade em que alguém esteja envolvido, existe um conjunto de competências que são essenciais para que se obtenham 25 desempenhos expressivos. Competências que dizem respeito à capacidade de reflexão, decisão e ação de uma pessoa e que são sempre necessárias, quer se esteja negociando, liderando, solucionando problemas, tomando decisões, desenvolvendo 78 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA uma equipe ou qualquer outra atividade. Elas constituem as competências essenciais da efetividade humana. E o ponto relevante é que são fundamentais para que se obtenham resultados expressivos. Vejamos algumas das mais 5 significativas: • Identificação e formulação de objetivos Wanderley (2005) entende que saber identificar e formular objetivos é o ponto básico, não importa a atividade em que estejamos envolvidos. Para a boa formulação de objetivos, 10 devemos ter presente que eles devem ser significativos, desafiantes, realizáveis, verificáveis e, hoje em dia, mais do que nunca, ecológica e eticamente corretos. A negociação de resultados é aquela em que o negociador sabe com extrema precisão o que quer e para o que quer 15 e, em função disso, estabelece caminhos, procedimentos e alternativas que lhe permitam chegar a seus objetivos, obedecendo ao princípio do menor esforço, ou seja, da máxima produtividade. Portanto, formular bem objetivos é o ponto de partida. Entretanto, inúmeros equívocos são 20 cometidos, e o surpreendente é que as pessoas, em geral, não têm consciência dos pecados em que estão envolvidas (Wanderley, 2005). • Manter o foco nos objetivos – uma das coisas mais difíceis De nada adianta termos objetivos se perdemos o foco. Em negociação, não existe nada tão fácil quanto perder o foco, sobretudo nos momentos de tensão e impasses, sempre presentes como decorrência da existência de interesses opostos ou de falhas no processo de comunicação. Nesses momentos 30 é bastante comum o surgimento de comportamentos absolutamente negativos, como de agressão, resignação, fixação, regressão, racionalização e compensação, que acabam 25 79 Unidade II se sobrepondo aos próprios interesses dos negociadores, além de comprometerem o relacionamento entre as partes (Wanderley, 2005). Perder o foco resulta também em má administração do 5 tempo. E nesse sentido convém considerar um alerta de Peter Drucker: Se o tempo não puder ser administrado, nada mais pode ser administrado. • Processo básico para obtenção de objetivos e flexibilidade 10 Para Wanderley (2005), pessoas que atingem seus objetivos e obtêm resultados expressivos têm um padrão ou processo de atuação que as leva a conquistar sistematicamente o que se propõem. O processo é seguido persistentemente e se compõe de algumas etapas bastante simples: 15 1. Definição de objetivos, ou seja, saber exatamente o que se quer; 2. Reflexões, decisões e ações, isto é, medidas para transformar os objetivos em realidade. Caso contrário, eles não passarão de pura fantasia; 20 25 30 80 3. Comparação entre os objetivos e os resultados ou respostas das ações que estão sendo efetuadas para saber se estão sendo feitas as coisas certas, isto é, para aferir se o rumo está correto ou se há necessidade de correções; 4. Caso não se esteja caminhando na direção dos objetivos, é preciso identificar o que se fez, aprender com a experiência e procurar outras ações para alcançar os objetivos. Isso significa ter flexibilidade. Flexibilidade é a capacidade de ter um comportamento que permita responder de forma adequada às exigências de cada situação. Assim, é indispensável saber que o que importa não é o que se faz, mas a resposta que se obtém em decorrência do que se faz. Se o que você estiver fazendo COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA não produz os resultados que você quer, mude. Não se apegue ao equívoco. Na sua essência, flexibilidade tem a ver com a oração da sabedoria: Dai-me força para mudar o que pode ser 5 mudado, paciência para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir uma coisa da outra (Wanderley, 2005). Estudos sobre pessoas que obtiveram sucesso comprovam a importância do processo básico para obtenção de objetivos e da 10 flexibilidade. • Crenças e valores Segundo Wanderley (2005), o nosso sistema de crenças vai definir como vamos nos sair. Há um ditado que diz: quer você acredite que pode, quer você acredite que não pode, você está 15 certo. O nosso sistema de crenças é algo muito poderoso, para o nosso bem ou nosso mal. Há até quem diga que o ditado: “Contra fatos não há argumentos” deveria ser substituído por: “Contra os fatos existem os sistemas de crenças de uma pessoa”. 20 Entre as crenças que conduzem ao êxito temos: 1o Considere tudo o que lhe acontece como uma oportunidade, não como uma ameaça; 25 2o Assuma responsabilidade pelas coisas que lhe acontecem. Só assim é possível assumir o comando da própria vida; 3o Considere os próprios erros não como fracasso, mas como um feedback negativo, ou seja, uma informação de que a ação escolhida para alcançar o objetivo levou a um resultado indesejado; 81 Unidade II 4o É preciso saber correr riscos. Nunca riscos do tipo tudo ou nada, mas não é preciso saber tudo para agir. • Aprendizado com a experiência Primeiro, aprenda com seus acertos e erros. Mas 5 também com os acertos e erros de outras pessoas. Depois, tenha presente que o verdadeiro saber vem quando o que conhecemos está incorporado a nossa ação. Caso contrário, esse conhecimento pode ser apenas uma ilusão. Assim, só quando se pratica alguma coisa é que se podem identificar 10 os fundamentos em que ela se baseia. A ação é o verdadeiro teste ácido. É o sal e o tempero da vida. Portanto, apenas saber que existem competências essenciais da efetividade humana está longe de ser suficiente. É preciso vivê-las (Wanderley, 2005). 2.4 Competitividade e competências O conceito da competência como fonte de vantagem competitiva, segundo Prahalad & Ramaswamy (2000, p. 43), teve origem em estudos sobre a diversificação. Tais estudos começaram a conceber as organizações como uma série de competências e não mais como uma carteira de diferentes 20 negócios. Os autores propõem quatro fundamentos para o aproveitamento das competências do consumidor pela empresa: as empresas devem envolver seus clientes em um diálogo aberto, claro, contínuo; devem mobilizar grupos de clientes, os quais podem ter muita influência sobre o mercado; devem gerenciar 25 as diversidades dos consumidores, criando oportunidades para o cliente definir seu envolvimento; e a criação conjunta de experiência entre a empresa e o cliente. Envolver, mobiliar, gerenciar e criar. 15 Segundo Soto (2002), a competitividade é uma questão de 30 sobrevivência, é a forma de aprender e crescer para enfrentar o ambiente e os desafios com êxito, dentro de um processo de 82 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA mudança, desenvolvimento e melhoria contínua. O autor faz distinção entre competitividade e competição. Competição seria estabelecer uma relação ganha-perde, já competitividade significa uma medida de satisfação do consumidor em um 5 mercado globalizado. Portanto, competitividade é uma estratégia de sobrevivência de médio e longo prazo. A competitividade não implica uma luta entre as partes, pois seus principais valores estão em “o que fazer” para a consecução da produtividade e serviço visando à satisfação do cliente, da sociedade e da própria 10 empresa. “Não se concentre na competição; concentre-se na incompetência.” A empresa precisa definir em que precisa melhorar, sendo assim, deve ter como foco principal as oportunidades de melhoria. Soto (2002) estabelece uma diferença entre três conceitos: competência em si, competência diante dos outros 15 e competitividade. • competência em si: grau de preparação teórica, técnica e moral que constitui o perfil profissional particular de cada pessoa; 20 • competência diante dos outros: é o exercício pelo qual a minha competência enfrenta outras competências em disputa por um mesmo benefício; • competitividade: conjunto de condições ótimas, derivadas da competência em si e da experiência ante os outros, para ter êxito na consecução dos objetivos. 25 Brandão & Guimarães (1997, p. 14) afirmam que competência é o “conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinadas funções”. A concepção atual sobre as competências, bem como a necessidade de uma visão mais 83 Unidade II ampla e integral da experiência e do desenvolvimento humano, demanda novas formas para a formação de pessoal e considera as necessidades da educação permanente para uma sociedade mais ampla. Ao mesmo tempo, verifica-se a ruptura 5 entre os elementos mais tradicionais de educação e as novas formas que enfocam o indivíduo em seu desenvolvimento (Irigon, 1998). No entender de Zarifian (1999), a qualificação tende a ser substituída pela competência. As competências supõem um 10 atendimento mais estrito das necessidades do capital e um preparo adequado aos novos tempos. As virtudes pessoais são elencadas como parte das competências, em escala maior, neste momento em que os empregos dependem do capital intelectual e social. 2.5 Competência funcional 15 Züñiga (1999) propõe a definição funcional das competências como: 20 — Unidade de competência: refere-se às funções relacionadas com o objetivo do emprego e exclui qualquer requerimento relacionado com a saúde, a segurança, a qualidade de vida e as relações de trabalho; 25 — Elemento de competência: é a descrição de uma realização que deve ser alcançada por uma pessoa no desempenho do seu trabalho. Refere-se a uma ação, um comportamento ou um resultado que o trabalhador deve demonstrar. 30 — Critério de desempenho: é a descrição dos requisitos de qualidade necessários para a obtenção de resultado no desempenho do trabalho. Permite estabelecer se o trabalhador alcança ou não o resultado descrito no elemento competência; 84 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA — Grau de aplicação: é a descrição das circunstâncias, ambiente, materiais, máquinas e instrumentos em relação aos quais se desenvolve o desempenho descrito no elemento de competência; 5 — Evidências de desempenho e de conhecimento: são descrições sobre as variáveis cujo estado permite inferir se o desempenho foi efetivamente alcançado e se domina o conhecimento necessário para alcançá-lo. 3 COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA 10 15 O líder ideal é aquele que atua como orientador, buscando nas pessoas seus melhores talentos, ajudando-as a desenvolvê-los, inspirando-as com seus valores, energia e entusiasmo, valorizando-as e respeitando suas individualidades; enfim, regendo esses talentos para que sua combinação possa oferecer a “mais bela música”. Klemp Jr. (1999) Falamos de competências de uma forma geral, tendo em vista que elas variam de organização para organização. Assim também, os requisitos de liderança variam de acordo com a época e o modelo de gestão adotado pela organização. 20 Os líderes têm uma importância vital na construção e no desenvolvimento das competências requeridas, pois eles devem possuir a capacidade de articular diferentes competências individuais, transformando-as em competências coletivas. As competências são passíveis de ser aprendidas e seu 25 estudo faz parte dos currículos das escolas de administração. Para Motta (1994), o aprendizado gerencial envolve quatro dimensões básicas: a cognitiva, a analítica, a comportamental e a habilidade de ação, demonstradas no quadro a seguir. 85 Unidade II Significado e objetivo das habilidades gerenciais Tipo de habilidade Significado Objetivo Cognitiva Saber categorizar problemas administrativos e ver relações entre categorias. Compreender o particular através do conhecimento geral. Aprender sobre administração a partir dos conhecimentos existentes sobre definição de objetivos e formulação de políticas e as ideias sistematizadas sobre estruturas, processos, técnicas e comportamentos organizacionais. Analítica Saber a utilidade e a potencialidade das técnicas administrativas e adquirir mais realismo e profundidade na solução e análise de problemas. Aprender a decompor problemas administrativos, identificar variáveis fundamentais, estabelecer relações de causa e efeito na busca de novas soluções, objetivos, prioridades e alternativas de ação. Comportamental Comportar-se de forma diferente da habitual para obter respostas comportamentais mais consistentes com objetivos de eficiência, eficácia, satisfação e segurança no trabalho. Aprender novas maneiras de interação humana entre padrões alternativos conhecidos e validados socialmente, como novas formas de comunicação, de interação grupal ou de exercer ou lidar com poder e autoridade. De ação Desenvolver a capacidade de interferir Aprender sobre si próprio, sobre sua função e sobre os intencionalmente no sistema organizacional, ou seja, objetivos e condições operacionais de sua organização. de transformar objetivos, valores e conhecimentos em Desenvolver comprometimento com a missão formas efetivas de ação. socioeconômica da instituição em que trabalha. Fonte: Motta,1994, p. 29 Para Motta (1994), a ação gerencial reflete o comprometimento, a autodisciplina e a adaptabilidade pessoal na consecução de uma missão, aliando, toda a 5 dimensão de segurança fornecida pelo conhecimento administrativo com o comportamento pessoal na busca de novos horizontes. Um estudo realizado pela Cambria Consulting, com 62 modelos de competências de liderança de grandes empresas 10 mundiais, revelou trinta atributos e trinta práticas usados para codificar as competências de liderança de todos os modelos e lançá-las em uma base de dados comuns. O estudo da Cambria Consulting foi descrito com exclusividade para a HSM Management por George O. Klemp Jr., fundador da 15 Cambria Consulting, conforme veremos a seguir. 86 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 3.1 Tipos de competências segundo Klemp Jr. Klemp Jr. definiu competência, na década de 1950, como “uma característica subjacente do indivíduo que resulta em desempenho efetivamente superior em um dado cargo”. Klemp Jr. (1999 p. 2) estudou o que vêm a ser as principais 5 competências de um líder efetivo, de modo a estabelecer um modelo para relacionar liderança com estratégias organizacionais e, além disso, identificar maneiras de reconhecer e desenvolver líderes. As competências para liderança são baseadas em atributos e práticas. Ele diferencia dois tipos de competências: 10 práticas e atributos. 15 20 25 • Práticas: o que as pessoas fazem, exercendo suas funções, para obter resultados, como, por exemplo, um líder “orientar a visão e o direcionamento”, “colocar o foco no cliente” e “tomar decisão”. As práticas são o que as pessoas fazem com os atributos que elas detêm, atributos estes observados em seu comportamento no trabalho. • Atributos: são ingredientes básicos para a performance de um líder no trabalho , ou seja, são as capacidades necessárias para que realize uma atividade. Conhecimentos, técnicas e outras características são atributos que as pessoas trazem para a função que exercem e que lhes permitem exercer as tarefas de liderança. Um líder pode, por exemplo, demonstrar capacidade de “pensamento estratégico”, “iniciativa” e “grande energia” como atributos pessoais. “Os atributos são a matéria-prima do desempenho. São as habilidades necessárias para exercer a função. As práticas estão 30 relacionadas ao que as pessoas fazem, exercendo suas funções, para obter resultados” (Klemp Jr., 1999). 87 Unidade II Existe uma relação muito estreita entre esses dois tipos de competências de liderança. As práticas dependem dos atributos (conforme vimos na liderança orientada para resultados, de Dave Ulrich). Não é possível “tomar decisões duras” (prática) sem um alto 5 grau de “autoconfiança” (atributo). Embora possuir os atributos necessários não garanta os comportamentos (prática) necessários, isso aumenta muito a probabilidade de os comportamentos necessários virem a se repetir. Por outro lado, “nem todos os atributos de liderança possíveis são necessários para a eficácia do líder”. 10 Ao analisar o conteúdo dos sessenta modelos de competência de liderança de grandes empresas mundiais, foram revelados trinta atributos e trinta práticas – nos quadros que seguem são apresentadas as nove práticas principais e outras nove consideradas importantes, assim como os dez principais atributos e outros dez considerados 15 relevantes. Mais de 99% de todas as competências puderam ser codificadas nessas categorias. O processo de codificação revelou três tipos de modelos de competências de liderança: o modelo concentrado em atributos (8% das empresas pesquisadas), o concentrado em práticas (27%) e o modelo misto, que mistura 20 os dois modelos (65% das empresas pesquisadas). Mais uma vez, seria importante ressaltar que, além de ter as qualidades certas, os líderes precisam fazer as coisas certas. Práticas mais citadas Práticas principais Porc. Outras práticas importantes Porc. Desenvolver pessoas/cooperar 64% Participar de equipes 36% Obter resultados 55% Criar equipes 36% Concentrar-se no cliente 52% Desenvolver soluções criativas 34% Comunicar-se 52% Criar um ambiente de alto desempenho 32% Orientar a visão e a direção 46% Impulsionar mudanças 32% Criar laços de relacionamento comercial 43% Tomar decisões 41% Gerenciar a diversidade/ valorizar o outro 29% Gerenciar o desempenho 39% Desenvolver estratégias 25% Influenciar a organização 38% Assumir responsabilidade pelas coisas 23% Ser um modelo em sua função 29% Fonte: Cambria Consulting (2002, p15) 88 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Atributos mais citados Principais atributos Porc. Outros atributos importantes Porc. Integridade/sinceridade ética 77% Iniciativa/orientação para a ação 58% Capacidade de realização 76% Capacidade de comunicação 52% Habilidade de lidar com pessoas 73% Energia/entusiasmo 50% Orientação para o aprendizado 73% Habilidade política 50% Capacidade de direcionar e controlar 66% Cooperação 48% Capacidade de influenciar pessoas 64% Raciocínio analítico 48% Raciocínio estratégico 64% Responsabilidade/ comprometimento 48% Compreensão de conceitos 63% Capacidade de julgamento 44% Flexibilidade/adaptabilidade 61% Capacidade de tomar decisões 44% Autoconfiança/coragem 60% Conhecimento do negócio 40% Fonte: Cambria Consulting (2002, p. 16) Conclui-se que nem todos os atributos de liderança possíveis são necessários para um desempenho eficaz de determinado papel de liderança. Muitos dos atributos citados com grande 5 frequência estão enraizados na personalidade, nas características pessoais ou nas capacidades individuais, não sendo aspectos de fácil desenvolvimento. 89 Unidade II Será que existe um grupo de competências que podem ser chamadas de universais? Aplicáveis a todos os líderes e a todas as situações? Quantas competências deve ter um modelo de liderança? 5 A resposta dependerá da escolha por uma definição de competências de cada empresa, se serão práticas, atributos ou mistas. Os modelos baseados em atributos tendem a ter um número maior de competências do que os modelos baseados em práticas. Os modelos de base atual são de dois 10 tipos: • abrangentes: contêm longas listas de competências que podem ser usadas para várias aplicações; 15 • seletivos: concentram-se em poucas competências de grande impacto. Partem do princípio de que existem competências básicas ou mínimas, mas preferem se concentrar nas competências que diferenciam os líderes “de destaque” dos líderes “comuns”. Com base no exposto, Klemp Jr. identificou nove “metacompetências”. Esse conjunto foi chamado de “modelo 20 de nove baldes”, sendo cinco “baldes” ou compartimentos de atributos de liderança e quatro de práticas de liderança. “Baldes” ou compartimentos de atributos de liderança: Balde 1 “QI” (capacidade mental) – A liderança eficaz exige um alto grau de inteligência para gerenciar as complexidades 25 inerentes a um papel executivo. Exemplo: capacidade de compreender conceitos, capacidade de análise, pensamento estratégico e habilidade de fazer julgamentos rápidos em situações ambíguas ou novas. Balde 2 “IE” (inteligência emocional) – Os líderes eficazes têm a percepção não só das próprias emoções - pontos fortes e 30 fracos – como também das dos outros, o que os capacita a entender 90 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA suas reações; eles estão em contato com o moral e o clima no ambiente de trabalho e estão cientes da dinâmica interpessoal e da política operacional entre as pessoas e toda a organização. Balde 3 “Conhecimento” (conhecimentos técnicos e 5 do negócio) – São aspectos imprescindíveis da liderança ter um bom know-how da área de atuação e uma ampla visão de como operar o negócio. Conhecimentos de assuntos financeiros, técnicos ou funcionais são fundamentais. Balde 4 “Crescimento” (desenvolvimento pessoal) 10 – Líderes eficientes são curiosos e ávidos de conhecimentos, querem defrontar novas situações e aprender. Eles possuem mente flexível e estão sempre dispostos a levar em consideração pontos de vista diferentes. Enxergam o erro como oportunidade de aprendizagem. Balde 5 “Ego” (ego saudável) – São autoconfiantes e 15 decididos. Seu ego tem que ser saudável, de forma que admitam quando estão errados e se cerquem de pessoas capazes sem se sentirem ameaçados. Esse é o fundamento para a ação com integridade, honestidade e ética. 20 “Baldes” ou compartimentos de práticas de liderança: Balde 6 “Dizer” (dar a direção) – Os líderes devem estabelecer a direção a ser seguida, concentrar-se em resultados, tomar decisões, delegar autoridade, gerenciar o desempenho e dar responsabilidade às outras pessoas. 25 Balde 7 “Vender” (influenciar pessoas) – Os líderes são mestres em influenciar pessoas. Trabalham canais de influência formais e informais de forma eficaz. Criam equipes eficazes, conseguem um ambiente de alto desempenho e comunicam-se de forma habilidosa e frequente. 30 Balde 8 “Iniciar” (fazer com que as coisas aconteçam) – Significa que os líderes devem impulsionar mudanças, correr riscos, 91 Unidade II buscar melhorias, mesmo nas operações mais bem administradas, e agir de forma decisiva em vez de deixar que as circunstâncias e os acontecimentos orientem seu comportamento. Balde 9 “Relacionar-se” (estabelecer relacionamentos) 5 – Os líderes devem compreender a importância de manter relacionamentos sólidos, de confiança e respeito. Relacionamentos em vários níveis, tanto fora da empresa (clientes, parceiros, fornecedores) quanto dentro (pares, superiores, funcionários). Klemp Jr. (apud Lamb, 2007) diz que são várias as formas 10 como se combinam as práticas e atributos em estilos de liderança de diferentes organizações: variam de competências gerais - obedecendo a um padrão comum a várias empresas – a competências estratégicas – reveladas de acordo com as reflexões da cultura organizacional predominante, bem como 15 a posição que a empresa ocupa no mercado, sua relação com os consumidores, fornecedores, empregados e comunidade em geral, fatores estes que demandam competências específicas de liderança. O fato de que muitas competências de liderança não são universalmente representadas sugere que a liderança seja 20 situacional: líderes diferentes enfrentam situações diferentes, e situações diferentes requerem comportamentos diferentes. A distinção entre práticas e atributos de liderança ajuda a responder à questão sobre se a liderança é uma característica intrínseca da pessoa (nasce com ela) ou se pode ser formada, 25 treinada e ensinada. Pessoas consideradas líderes natas têm a oportunidade de exercer capacidades próprias conforme suasmotivações e preferências e podem desenvolver certas qualidades e características de um líder muito cedo. Entretanto, nem todas as pessoas que possuem os atributos 30 necessários para exercer uma liderança surgem como líderes: as pessoas precisam estar motivadas para aceitar esse desafio. A presença de modelos de função bem definidos e de mentores que instiguem uma pessoa a assumir uma posição de líder podem acelerar esse processo. Uma educação bem 92 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA embasada também é importante por preparar líderes com knowhow essencial. Não há substituto para a experiência adequada em líderes capazes, afirma Klemp Jr. (1999). Considerações quanto ao uso de modelos de competências 5 de liderança: 10 • sejam suas competências definidas como atributos ou práticas, não deixe que ultrapassem dez. Se estiver considerando uma abordagem ampla, concentre-se nas competências que têm mais impacto sobre o desempenho organizacional; 15 • selecione de acordo com os atributos e gerencie conforme as práticas. Recorra às cinco metacompetências de atributos para identificar pessoas com potencial de liderança e avalie os líderes atuais pelas quatro metacompetências de práticas; • reveja as competências de tempos em tempos. À medida que as condições do negócio e as exigências mudam, faz sentido reexaminar e reorientar as competências; 20 25 • os atributos são ingredientes necessários para uma liderança eficaz, mas sua presença não garante um bom líder. Os pontos cruciais são os comportamentos – as práticas de liderança – que transformam capacidades em ação; • o poder dos atributos está na capacidade de prever o potencial de liderança, enquanto o poder das práticas está em sua definição daquilo que os líderes eficazes realmente fazem. 93