Friedrich Ratzel e a Geografia Política Os trabalhos de Ratzel (1844 – 1904) foram precursores e para alguns é mesmo o fundador da geopolítica alemã. É num contexto muito particular que Ratzel vai procurar estabelecer as leis da geografia política para as quais assenta o seu raciocínio nas configurações permanentes ou estáticas, isto é, aquelas da geografia física. Ratzel interroga-se acerca do seu país, do seu lugar, da sua identidade e do seu papel que desempenha no mundo. Em 1869, Ratzel publica O Ser e o Dividir do Mundo Orgânico, depois publica Os Quadros da Guerra com a França, nos quais relata a campanha militar alemã na Guerra de 1870, com a França. Após uma visita aos Estados Unidos, Ratzel publica dois trabalhos importantes, de carácter geográfico: Quadros das Cidades e das Civilizações Norte-americanas e Estados Unidos do Norte da América. Em 1876, publica a sua tese de doutoramento, consagrada a Emigração Chinesa, na qual aborda as questões da migração e inovação. Alguns anos mais tarde, em 1882, a sua obra intitulada Antropografia, que é um dos seus principais trabalhos. Nele aborda a evolução dos povos da terra, as relações entre civilizações e demografia e dos diferentes métodos de cartográfica das deslocações humanas. A acção e o pensamento de Ratzel inscrevem-se plenamente no contexto fortemente nacionalista da sua época. Ratzel defende, ainda, a tese de que a Alemanha deve ter uma política de nível mundial. Deve também criar um império colonial à medida das ambições alemães: “para que uma potência seja mundial, convém que esteja presente em todas as partes do universo e em todos os lugares estratégicos”. Estamos no tempo do Congresso de Berlim de 1885, onde as europeias partilham a África. A sua obra mais importante, , Geografia Política, publicada em 1897, exercerá uma grande influência nos seus contemporâneos. Nesta obra, Ratzel indica que o solo é um dado intangível e é, obviamente, objecto de uma viva competição entre todos os Homens. Na medida em que o marmento história é determinado pelas intenções relativas ao solo, o território desempenha um papel fundamental. Os Estados, em todos os estádios do seu desenvolvimento, são considerados organismos que mantêm uma relação necessária com o seu solo e devem ser por esta razão estudados numa perpectiva geográfica. O espaço – dei Raum – é uma nação chave para Ratzel, que inspira os desígnios e as políticas dos Estados. No entanto, o raciocínio de Ratzel está desconexado das análises concretas e das situações na medida em que ele não tem em conta as mutações e as alterações da natureza política. “O Estado vive como um organismo vivo: nasce, cresce e desenvolve-se e atinge a sua maturidade antes de envelhecer e morrer”. E como qualquer ser vivo, o Estado entra em conflito para tirar melhor proveito dos recursos limitados. O seu objectivo é o de definir as leis que ele quer que sejam universais e que determinam o comportamento dos Estados. Esta sua tese é recusada pelos jovens geógrafos que após a Primeira Guerra Mundial e, revoltados com a injustiça do Tratado de Versalhes, entendem que as suas ideias (as de Ratzel) não dão conta da realidade do pós-guerra. Esta realidade exprime-se em termos de relação de forças militares, de capacidades industriais e humanas, de redes de comunicação, do número de habitantes, bem como factores que explicam as modificações ocorridas nos traços das fronteiras. De facto, a geopolítica vai aparecer mais como complemento do que do que oposição à geografia política de Ratzel. A Geopolítica vai ser influenciada por uma forte corrente de opinião assumida essencialmente por jovens patriotas. Na sua obra No que diz Respeito às leis de Expansão Espacial dos Espaços, Ratzel aponta 7 leis de expansão no espaço: 1ª A expansão dos Estados aumenta com acultura; 2ª - O aumentos espacial dos Estados diversas outras manifestações do seu desenvolvimento, tais como a ideologia, a população, a actividade comercial, o poder da sua influência, do seu esforço e do seu proselitismo; 3ª- Os Estados estendem-se, assinalando ou absorvendo as unidades políticas de menor importância; 4ª- A fronteira é um órgão situado na periferia do Estado, que é considerado um organismo. Através desse alargamento, ele materializa o crescimento, a força e as mudanças territoriais; 5ª – Ao preceder a sua extensão ou aumento espacial, o Estado esforça-se por absorver regiões importantes par o seu desígnio nacional, o litoral, os estatuários fluviais, as planícies e os territórios mais ricos: 6ª – É do exterior que vem o primeiro impulso que leva o Estado para a extensão ou aumento do seu território, movido por uma civilização inferior à sua; 7ª – A tendência geral à assimilação ou à absorção das nações mais fracas ou inferiores, convite a multiplicar as apropriações de territórios num momento que se assemelha à auto-alimentação. As fronteiras são chamadas a evoluir. Este é um ponto essencial a retirar das leis de Ratzel. Outro aspecto importante: catecismo dos imperialismos para alguns, a geografia política de Ratzel dá lugar a críticas. A geografia política nesta altura foi um instrumento par os dirigentes prussianos; uma teoria de questão de poder do Estado e das suas formas territoriais. As leis formadas por Ratzel eram claramente todas germânicas e, só tinham um objectivo: encontrar a justificação teórica para o aumento do Estado alemão – o Reich deve compensar, em espaço, os inconvenientes da sua situação geográfica. No que diz respeito ao mar, é interessante notar que Ratzel também se interessou pelas questões marítimas. Na sua obra O Mar, Fonte do Poder dos Povos, publicada em 1900, ele é defensor de uma da criação de uma frota alemã para fazer face às forças britânicas e reforçar o poder internacional alemão. Ratzel mostra alguma inquietação pela falta de acesso directo da Alemanha ao “mar largo”.