Primeiro Medicamento Para Prevenir Infecção por HIV é Aprovado

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Primeiro Medicamento Para Prevenir Infecção por HIV é
Aprovado.
Alguns pesquisadores temem que o uso combinado da pílula em
pessoas saudáveis possa desencadear o surgimento de vírus
resistentes
Agências reguladoras dos Estados Unidos deram um passo no escuro recentemente,
quando aprovaram o primeiro medicamento para prevenir infecção por HIV,
chamado Truvada. A comissária da US Food and Drug Administration (FDA) definiu
a pílula como uma ferramenta para reduzir a taxa de infecção nos Estados Unidos,
onde todos os anos 50 mil pessoas são diagnosticadas com a doença. Para alguns
pesquisadores, porém, o uso em pessoas saudáveis talvez possa ter efeitos
colaterais surpreendentes e levar ao surgimento de vírus resistentes, por combinar
doses baixas de agentes antirretrovirais, normalmente usados para tratar infecções.
Agora as seguradoras americanas devem decidir se pagarão pelo Truvada, que
custa em média US$10 mil por um suprimento anual. Além disso, especialistas em
políticas de saúde devem escrever orientações para como receitar o fármaco e
monitorar os efeitos colaterais e infecções por HIV em pessoas que utilizam o
medicamento. “Há muitas questões sobre sua utilização”, declara Connie Celum,
pesquisadora de HIV da University of Washington em Seattle, que conduziu um
grande teste do medicamento na África Oriental e iniciou estudos para responder
perguntas sobre sua distribuição, como quais subgrupos de pessoas correm maior
perigo.
Desenvolvido pela Gilead Sciences em Foster City, na Califórnia, o Truvada se
provou particularmente eficaz nos testes na África Oriental: ele reduziu a incidência
de HIV em 75% em pessoas com parceiros infectados. Em um teste anterior feito
nos Estados Unidos a incidência de HIV caiu 44% em homens que mantinham
relações com pessoas do mesmo sexo.
As preocupações começarem a surgir em 10 de maio, durante uma reunião pública
de um grupo que aconselhou a FDA em sua decisão. A maioria dos membros votou
a favor da aprovação, mas pesquisadores, médicos e advogados de pacientes
presentes alertaram sobre o problema da resistência ao medicamento. Segundo
eles, os dois componentes do Truvada, emtricitabina e tenofovir, são tratamentos
antirretrovirais eficazes, mas testes mostraram que vírus expostos a doses mais
baixas na fase aguda da infecção podem se tornar resistentes. Em seis pessoas que
testaram negativo na inscrição, mas que eram soropositivos, os medicamentos não
eram mais eficazes. Outro temor, sem confirmação nos testes, foi que as pessoas
podem não tomar o medicamento consistentemente e podem contrair uma forma de
HIV que se tornou resistente, como resultado da exposição a níveis baixos de
antirretrovirais.
Para mitigar esses riscos, a FDA requer que o Truvada só seja receitado após uma
pessoa ter teste negativo para HIV. A agência aconselha também que as pessoas
usem o fármaco em conjunto com práticas sexuais seguras e façam testes para o
vírus a cada três meses enquanto o estiverem usando. Alguns especialistas na
reunião conselheira propuseram políticas mais severas, como tornar os testes
obrigatórios, mas essas sugestões foram consideradas impraticáveis. Outra ideia era
limitar o remédio a populações específicas que estão em maior perigo, como
homossexuais que usam drogas intravenosas, mas a FDA adotou uma categoria
mais vaga envolvendo qualquer pessoa com risco de contrair HIV. “Queremos
alcançar populações marginalizadas”, explica Celum, “e restringir o acesso tornaria
improvável o Truvada ter efeito sobre a saúde pública”.
Wayne Chen, atual chefe de medicina da AIDS Health Foundation em Los Angeles,
Califórnia, lamenta a decisão de aprovar o medicamento, lembrando que
preservativos são mais baratos e podem ser mais eficazes na prevenção. “A melhor
coisa seria remover esse medicamento do mercado, ou pelo menos a existência de
testes obrigatórios, porque sabemos que as pessoas não vão tomá-lo como
receitado”, acredita ele, citando um teste clínico do Truvada na África que acabou
prematuramente porque o remédio não estava prevenindo infecções. Exames de
sangue confirmaram que menos de 40% dos participantes do estudo estavam
tomando as pílulas diariamente.
Para os proponentes, porém, a promessa do fármaco é brilhante. Salim Abdool
Karim, diretor do Centro para o Programa de Pesquisa da AIDS na África do Sul, em
Durban, espera que o Truvada esteja disponível em breve em seu país, onde até um
quarto das mulheres tem HIV aos 20 anos. “Atualmente o Truvada é a única
tecnologia de que dispomos para dar poder as mulheres”, aponta ele. “Eu não acho
que seremos capazes de reduzir a velocidade da epidemia de HIV na África do Sul
sem usar algo específico”, completa Karim.
Publicada em 26 de julho de 2012
Na Scientifc American Brasil
Por Amy Maxmen e Revista Nature
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