Modernidade, Ciência Social e sociedade: banditismo, lampião e a

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Modernidade, Ciência Social e
sociedade:
banditismo,
lampião e a Sociologia do
relâmpago
Por Camillo César Alvarenga*
As leis encontram-se em caos. A sociedade vive o fim das
certezas, se é que ela as teve alguma vez. Enquanto isso, a
individualidade psicológica orienta-se por uma lógica fundada
numa base ontológica ligada à sobrevivência social que não é
derivada de nenhum instinto aparentemente coletivo, mas sim
diferenciador.
O atual estágio da modernidade me faz lembrar um provérbio
italiano, ditado pelo Prof. Almícar Baiardi, em uma de suas
aulas de Epistemologia, que frequentei como ouvinte no
Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais na UFRB, lá
pelos idos de 2010, que agora, reproduzo aqui precariamente
traduzido por meio de uma paráfrase de memória: “Do anunciado
parto das montanhas nasce um rato ridículo.” Enquanto qual
corrompido edifício, a economia e a política se desestruturam,
a cultura verte-se num desarticulado e sobreposto complexo
sistema de símbolos.
Para compreender o atual estado histórico, através da Ciência
e da Economia Política, convém recuperar a leitura atenciosa
da obra A Grande Transformação, de Karl Polanny. Que ao meu
ver, muito explica sobre as questões da terra, dos juros, do
mundo do trabalho, sob as vistas do histórico fenômeno inglês
dos cercamentos como origem da propriedade privada, e
consequentemente o lugar de surgimento da pobreza e dos pobres
na sociedade moderna.
Enquanto isso, a ciência atual – império do método
comparativo, do teste de variáveis e da teorização – leva o
pensamento social a uma posterior generalização de conceitos
como classe, agentes, mobilização, neocorporativismo e
identidades, aliados a fenômenos como transferência de renda e
mercado informal, estes que apelam pela saída da
financeirização, como explicações para a história social.
No Brasil, tivemos um primeiro Welfare State|Br, em Getúlio
Vargas, que no seu esforço de responsabilidade social,
operacionalizou um Estado político não democrático aliado a
sociedade civil. Entretanto, pode-se observar em regimes
liberais – corporativistas como na Alemanha e Japão – a
mercadoria moderna tornar-se o capital intelectual, usado como
principal força de trabalho. Nessas sociedades, assiste-se a
associações que se corporificam através da construção e
imposição do senso comum, numa projeção inconsistente de que
se manifesta e representa na reprodução ideológica que se
esforça na fuga do místico. Uma espécie de anticonsciência
constituída e manifesta.
Se partimos do pressuposto científico de Poper, que ensina que
todo olhar pode ser refutado, com base na crítica e estratégia
ensaio e erro, avançamos para a dialética entre saber x não
saber. Onde o conhecimento provisório, criticável é
questionado num embate entre lógica e retórica. Ao tomarmos
como exemplo a imprecabilidade da razão de uma explicação
sociológica para o Brasil, observa-se uma série de conjecturas
que justificam a formação de uma alienação intelectualmente
construída para a reificação de uma classe oprimida:
econômica, cultural e ideologicamente.
Numa análise crítica da história recente e do movimento em
torno do projeto de Brasil, caracterizando o contexto cultural
e a economia política, o concurso de tendências dominantes
entre as classes nos oferece: grandes disputas e parcas
possibilidades. Já que, partindo da noção de hegemonia (como
construída por A. Gramisci), ou seja, as condições materiais
de emancipação e para sua legitimação – representadas na
alegoria do terno, sapato e gravata enquanto aspectos
simbólicos do mundo social e cultural do ocidente – e se o
objeto, revela a consciência de quem o atravessa, então a
modernidade permitiu a transformação técnica do mundo, este
que é tão distinto do mundo natural quando do seu antecedente
mundo histórico, por assentar outras bases.
Assim, o surgimento da modernidade, impele o pensamento social
à condição para novas relações entre método e teoria. Bem como
entre noções de identidade construída e identificação
processada. Com isso, vale lembrar que já houve e ainda há por
aí, espalhado mundo a fora, a forma par excellence de
agrupamento social num realidade social desigual: o
Banditismo, o que muitos chamariam atualmente de Vandalismo ou
até mesmo Terrorismo.
Lampião e seu bando foram e são a prova de que existe um outro
agrupamento social possível de seguir sobrevivendo por
entre/por meio das estruturas sociais ocidentais
arquetipificadas no ideário burguês-capitalista, alimentando a
encapsulada ideia transmutada e diversa, análoga ao real, de
luta de classes, contra hegemonia e revolução social. Acusando
para um deslocamento na retina dos analistas, os desviando
diretamente para o âmago do alvo que analisa/transforma
através de um improvável e necessário descolamento do
pensamento tradicional – a sociologia do relâmpago.
*Camillo César Alvarenga é Bacharel em Ciências Sociais (UFRB)
e atualmente é Mestrando em Sociologia (PPGS/CCHLA- UFPB).
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