SOCIOLOGIA – PROFº SÉRGIO PEIXOTO – 2007

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SOCIOLOGIA - Profº. Sérgio Peixoto
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Introdução - Sociedades TRADICIONAIS e Sociedades MODERNAS
O Capitalismo Urbano Industrial e o surgimento da Sociologia.
A construção das sociedades modernas
O termo moderno, em nossos dias, é excessivamente usado, nas mais variadas circunstâncias. E, como
acontece com expressões banalizadas, seu conteúdo original perdeu-se. Quando o usamos referindo-nos a uma
sociedade qualquer, ou a um partido político, a comportamentos individuais e sociais, passamos uma impressão
positiva, como se a expressão fosse um adjetivo, que se opõe a antigo, atrasado e superado. Mas não é esse o
significado que queremos destacar. Queremos recuperar o sentido histórico dessa expressão, o seu conteúdo
substantivo. Ser urna sociedade moderna não é urna coisa qualquer, abstrata. A precisão dessa idéia pode ser a
chave para entendermos o mundo em que vivemos.
Vivemos urna época de predominância das sociedades modernas. E o mundo moderno ou a época da
modernidade. Segundo o sociólogo Anthony Giddens a modernidade “refere-se a estilo, costume de vida ou
organização social que emergiram da Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos
mundiais em sua influência”. Essa definição vincula a modernidade a um período de tempo especifico e, igualmente, a
uma localização geográfica própria. Elimina sua face abstrata, dando-lhe conteúdo concreto.
As sociedades modernas
Vimos que nas sociedades tradicionais o poder político derivava das tradições culturais. Os papéis reservados ao
indivíduo e ao mundo do trabalho (da produção) eram secundários. Além disso, eram sociedades com relativo
isolamento geográfico.
É justamente a inversão dessa situação o principal marco da formação das sociedades modernas e que vem
caracterizar a época da modernidade. Nas sociedades modernas o indivíduo foi, pouco a pouco, superando a tutela
das tradições, do passado. A modernidade se caracteriza - pelo menos em teoria - por possibilitar a participação do
indivíduo na definição das regras sociais, econômicas e políticas. Assim, em tese, o processo de “modernização”
conduz ao advento de sociedades organizadas com base na soberania do indivíduo e do povo, sociedades liberadas
da submissão aos deuses e às hierarquias hereditárias e da influência da tradição.
Outro aspecto essencial da modernidade refere-se ao rompimento dos isolamentos espaciais ou geográficos. Neste
período, as regiões (espaços locais) não podem mais ser entendidas em si mesmas. No mundo moderno que se
constrói, os grupos humanos passam a agir segundo impulsos vindos também do exterior. A modernidade serviu para
estabelecer interconexões sociais, econômicas e políticas, que cobrem todos os espaços do planeta.
PRICIPAIS MUDANÇAS NO PERÍODO DA MODERNIDADE
·
Introdução na economia de regras sistemáticas de crescimento e de aumento da produtividade do trabalho trabalha-se durante o mesmo tempo, mas produz-se mais.
·
Introdução de tecnologias avançadas na produção econômica; a inovação tecnológica constante transformouse no motor econômico da sociedade moderna.
·
O acúmulo, sem precedentes, de riqueza alterou as fontes de poder político tradicionais; o poder passa a
resultar do trabalho social (da riqueza econômica). Subordinação definitiva dos povos ao mercado, com todos
dependendo, para sua existência material, do gigantesco aparato de produção e de distribuição de bens em que se
transformou a mercado.
·
Processo acelerado de internacionalização da economia.
·
Tecnicização dos transportes e das comunicações, proporcionando um rompimento definitivo do isolamento
geográfico das sociedades.
·
Urbanização do modo de vida, com a generalização das cidades e das metrópoles.
·
Surgimento do Estado moderno: a) sistemas sofisticados de administração das finanças; b) leis livres das
imposições religiosas e míticas; c) profissionalização de atividades: sistema militar; sistema escolar; serviços de
saúde pública, etc. d) formas de representação política do indivíduo (voto, assembléias de deputados).
· Constituição das nações (ou melhor; da idéia de nação), que aparecem para conferir legitimidade as idéias de
unidade - territorial, política e cultural -, necessária para integração dos novos Estados europeus surgidos no
Renascimento e na expansão colonial.
·
Mundialização de relações políticas e econômicas que ultrapassam as fronteiras nacionais e tendem a uma
padronização global.
Como resultado dessas transformações sepultam –se ou se dificultam quaisquer outras formas de sobrevivência.
Nas palavras do historiador inglês E. Thompson: “(...) o que vem ocorrendo em todo o planeta é uma destruição das
economias de subsistência, das normas tradicionais e dos padrões demográficos (...)”.
Jaime Oliva e Roberto Giansanti, Temas da Geografia Mundial, Editora Atual, SP, 1995, P. 12.
A RELAÇÃO INDIVÍDUO – SOCIEDADE
Praticamente todas as teorias sociológicas, ao tratarem das situações anteriormente descritas, estarão
preocupadas em explicar como ações individuais podem ser pensadas no seu relacionamento com outras ações
(exemplo da eleição), ou como regras de ação coletiva são incorporadas pelos indivíduos (exemplo da escola), ou
ainda como práticas coletivas definem diferentes grupos sociais (exemplo da greve). Em todas as situações citadas
estará em jogo o relacionamento entre indivíduo e sociedade.
É evidente que a Sociologia não tratará o indivíduo como um dado da natureza, isto é, como um ser
autônomo, livre e absoluto desde o nascimento, mas o tratará como um produto social em alguma medida. A própria
idéia de individualidade é historicamente constituída. Isso quer dizer que cada sociedade, em certo momento histórico,
apresenta uma visão específica a respeito do problema da individualidade. Nas civilizações orientais ou nas
sociedades indígenas, os indivíduos são vistos como elementos indissociáveis da comunidade. Será na Europa, com
o fim da sociedade feudal e a constituição da sociedade capitalista, que se desenvolverá a idéia de que os indivíduos
são plenamente autônomos, não dependentes da coletividade a que pertencem. Na verdade, esse individualismo
encontra suas raízes em momentos anteriores da história européia, mas é com o capitalismo, sem dúvida, que esse
processo ganha destaque. Na sociedade capitalista, a existência de um mercado no qual proprietários individuais
vendem suas mercadorias criará as condições para que se pense a sociedade apenas como o conjunto de interesses
individuais dos agentes privados. Daí que a teoria econômica consolidará seus modelos baseando-se principalmente
nas ações individuais.
A Sociologia nasce no século XIX como uma reação a esse individualismo então predominante. Ela contrapõe
à ação individual, na qual se baseava grande parte da teoria econômica da época, a ação coletiva e social. O homem
passará a ser visto, do ponto de vista sociológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos grupos sociais que a
constituem.
Dizer, portanto, que o pensamento que estuda a relação indivíduo - sociedade é histórico significa dizer que
nem sempre os homens perceberam a história da mesma maneira. Será uma sociedade determinada, a sociedade
moderna ou capitalista, que levará ao surgimento do individualismo e de seu contraponto na teoria sociológica.
Assim, o objeto da Sociologia como ciência, ou seja, aquilo que a Sociologia estuda, constitui-se
historicamente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade
— relações de cooperação, conflito, interdependência, etc. Interessa para a Sociologia, portanto, não o indivíduo
isolado, mas inter-relacionado com os diferentes grupos sociais dos quais faz parte, como a escola, a família, as
classes sociais, etc. Não é o “homem” enquanto ser isolado da história que interessa ao estudo da sociedade,
mas “os homens” enquanto seres que vivem e fazem a história.
Tudo isso, porém, não elimina o problema da relação entre indivíduo e sociedade. Ao contrário, coloca essa
relação como central. Como os homens agem em sociedade? Como as ações de indivíduos diferentes se influenciam
reciprocamente? Como as pessoas obedecem a regras que são definidas pela sociedade e são exteriores a elas?
Como práticas sociais definem individualidades e, ao mesmo tempo, grupos homogêneos?
Os sociólogos tentam responder a essas perguntas. O que varia de autor para autor é a ênfase dada ora à
ação individual, ora à ação coletiva.
Alguns irão privilegiar o papel ativo do indivíduo na escolha das ações sociais, como no exemplo do eleitor, no
qual o que interessa é a maneira como o indivíduo escolhe seu candidato baseando-se nas escolhas dos outros
eleitores.
Outros privilegiarão a sociedade e suas instituições, as quais obrigam os indivíduos a incorporar regras que
são exteriormente definidas e que as pessoas devem seguir, como no exemplo da escola.
Finalmente, haverá aqueles que irão dar maior importância ao conjunto das práticas que definem as próprias
relações entre indivíduo e sociedade. Como no exemplo da fábrica, será a relação capital—trabalho que definirá, de
um lado, trabalhadores e, do outro, capitalistas.
Mas todos estarão pensando sobre o problema da individualidade e da ação coletiva e social.
Os pensadores que no século passado lançaram as bases da Sociologia como ciência estavam interessados
nesse problema. Eles servem de bom exemplo, não só porque é a partir de suas teorias que ainda hoje se analisa a
sociedade atual, mas também porque se ocupavam de estudar a realidade do indivíduo e da sociedade moderna no
momento em que essa realidade estava se consolidando historicamente, abordando tanto problemas teóricos como
práticos. Para isso criaram conceitos cujo objetivo era explicá-la.
Nelson Tomazi – Iniciação à Sociologia – Edit. Atual
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