ID: 50135311 08-10-2013 Tiragem: 17400 Pág: 11 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Diária Área: 27,53 x 10,15 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 OPINIÃO Sofia Oliveira Aluna do Mestrado de Economia na Nova School of Business and Economics O ranking das escolas: um instrumento falacioso O ranking das escolas portuguesas, que ordena a média das notas obtidas nos exames nacionais pelos respetivos alunos, é divulgado nos meios de comunicação desde 2001. As que se encontram no top são geralmente referenciadas como as melhores escolas. No entanto, tal raciocínio pode estar errado. Em primeiro lugar, e como amplamente demonstrado na literatura sobre este tópico, tal ranking ignora a influência de fatores socioeconómicos, nomeadamente no que diz respeito ao agregado familiar e ao meio envolvente, na aprendizagem dos alunos e, por conseguinte, na sua classificação e posição relativa das escolas. Em relação ao agregado familiar, será expectável que famílias com maiores rendimentos providenciem o acesso a mais materiais de estudos e outras oportunidades de aprendizagem como explicações privadas. Além disso, quanto mais elevada a escolaridade dos pais mais estimulante e exigente será o ambiente familiar do aluno dada a importância atribuída à educação. Outros fatores poderão ainda ser relevantes, como é o caso do número de irmãos, pois afetará o tempo disponível para dedicar a cada filho no auxílio do estudo. Já no que respeita à região ou comunidade onde os alunos estão inseridos, é pertinente reconhecer o impacto das taxas de desemprego, criminalidade juvenil e participação em atividades culturais, na sua performance escolar. O processo educativo é também de natureza cumulativa, pelo que os resultados de hoje são ainda determinados pelos conhecimentos adquiridos em anos anteriores. Deste modo, e nos casos em que ocorreram mudanças de escola, o ranking absorverá para uma dada escola a qualidade de outras. É ainda de notar que tal instrumento não distingue o efeito básico das caraterísticas individuais dos alunos, responsáveis por uma aprendizagem mais fácil e rápida para uns do que para outros. Tal como o leitor poderá ter apreendi- do, o denominador comum às variáveis que ilustrei (além de afetarem as notas dos alunos e não estarem devidamente isoladas na construção do ranking) é o de não serem controláveis pelas escolas, isto é, são-lhes exógenas. No entanto, tendo em conta as variáveis endógenas tal instrumento releva-se também falacioso. Na verdade, o ranking está sujeito a algum grau de manipulação e poderá dar incentivos errados às instituições escolares. Por exemplo, os piores alunos poderão ser pressionados para anular a disciplina e realizar o exame como alunos externos, não sendo contabilizados no ranking, e os professores poderão colocar um maior esforço nos que à partida são melhores alunos de modo a investir no seu desempenho em exame. Em suma, a qualidade de uma escola não deverá ser lida literalmente na pauta das classificações e o ranking falha em destrinçar o real contributo da escola dos fatores de ordem socioeconómica e individual igualmente relevantes para o processo educativo. Resta acrescentar que, no ano passado, o MEC disponibilizou os dados relativos às caraterísticas socioeconómicas dos alunos do ensino público, possibilitando a construção de um ranking ponderado por esses fatores (um trabalho da Universidade Católica do Porto). É de resto esta a estratégia que permite apurar o valor da escola de forma mais precisa.