Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba Materiais e Reciclagem 11 – Cerâmicas Professor Sandro Donnini Mancini Sorocaba, Maio de 2016. Definição : Keramos = coisa queimada. Normalmente óxidos covalentes ou iônicos. Materiais inorgânicos, não metálicos, processados ou consolidados a altas temperaturas (pelo menos > 800oC). Podem apresentar-se em óxidos ou não. Tipos Cerâmicas Eletro-eletrônicas Refratárias Estruturais Biocerâmicas Vidros, etc. 1 Shackelford, J.F. Introduction to Materials Science for Engineers – 3aEd. McMillan Publishing Company. Nova Iorque, 1992. 793p. Propriedades Típicas Resistência mecânica – depende de como é aplicada a força; geralmente alta a compressão e baixa ao cisalhamento, mas mantida em altas T. Alta fragilidade (trincam facilmente); Alta Rigidez; Alta temperatura de uso; Baixa condução térmica e elétrica (utilização em isolantes); Inércia química; Baixa Densidade (em comparação com metais); Porosidade alta. 2 http://www-materials.eng.cam.ac.uk/mpsite/physics/introduction/default.html http://www-materials.eng.cam.ac.uk/mpsite/physics/introduction/default.html 3 Material Temperatura Máxima de Uso (oC) (aproximadamente) Ligas de Al 400 Cobre 500 Ferro Fundido 800 Si3N4 1200 SiC 1400 Alumina 1600 Acrílico 90 PVC 70 Kevlar 200 PET 70 Material Resistividade Elétrica à Temperatura Ambiente (Ω.cm) Prata 1,6.10-8 Cobre 1,7.10-8 Ferro 10.10-8 Si 6,4.104 SiC 10 B4C 0,5 Ge 40 SiO2 > 1014 Porcelana 1012 – 1014 Borracha, Nylon > 1014 PET, PS, Teflon > 1016 Gregório Filho, R. e Rodrigues, J.A. Introdução às Propriedades Eletrônicas dos Materiais (notas de aula). UFSCar, 1988. 4 http://www-materials.eng.cam.ac.uk/mpsite/physics/introduction/default.html Shackelford, J.F. Introduction to Materials Science for Engineers – 3aEd. McMillan Publishing Company. Nova Iorque, 1992. 793p. 5 Porcelana de alumínio-silicato Alumina Magnesia Espinélio (aluminato de Mg) Módulo de Rigidez Típico Médio (GPa) 69 270-370 170-270 230 Zircônia Berília Carbeto de Silício Carbeto de Boro Nitreto de Boro Vidro de Sílica Vidro de Borosilicato (Pyrex ) Carbeto de Tungstênio (metal duro) Diamante Osso Humano Papel Aço para concreto Armado Alumínio Latão e Bronze Cobre Liga Nb-Zr-Ti Garrafa de PET Reciclada 250 380 470 290 83 72 69 450-650 1.000 17-35 1-3 220 75 103-124 118 79-90 1,3-1,8 Matérias-primas Naturais, composta de materiais inorgânicos e formadas por processos geológicos complexos. As propriedades da matéria-prima são determinadas pela: estrutura cristalina; composição química; tipo e quantidade de minerais acessórios presentes. São constituídas principalmente de O, Al e Si, que representam cerca de 90% da crosta terrestre. 6 Os elementos mais abundantes da crosta terrestre http://www.profpc.com.br/Qu% C3%ADmica_descritiva.htm Argilas – qualquer material do solo constituído por partículas de diâmetro inferior a 2µm, isto é, mais finas que a areia. Torna-se moldável quando umedecida. Sua composição mineralógica é altamente variável, sendo constituída principalmente de argilo-minerais. Principais Argilominerais Caulinita – Al2O3.2SiO2.2H2O - caulim: rocha com, ppalmente, caulinita Montmorilonita – Al1,67Mg0,33.Si4O10(OH)2 Mica – [Al4K2(Si6Al2)O20 (OH)4] Outros minerais encontrados nas argilas comuns: Talco – Mg3(SiO5)(OH2), Quartzo – SiO2 Feldspato – silicato de Al contendo Na, K ou Cu (fundente) 7 Fabricação de Produtos Cerâmicos Problema: possuem temperaturas de fusão altíssimas Al2O3: 2220oC ZrO2: 2400oC MgO : 2800oC E para fundir? E misturar dois materiais cerâmicos? Que molde usar? Que forno usar? Na base da fusão, como os metais, fica muito caro, quando não impossível. Por isso, são normalmente convertidos a forma de pó (↓ tamanho de partícula, ↑ energia superficial/kg) Fabricação de Produtos Cerâmicos (etapas mais comuns) 1) Preparação do pó (moagem, peneiramento da argila...) 2) Conformação do pó Partículas + líquido ligante (geralmente água), formam uma “pasta” com propriedades reológicas (de fluxo) suficientes para a conformação. 3) Sinterização Aquecimento seca o líquido e aglomera as partículas, formando um produto utilizável. Kingery, W.D., Bowen, H.K. e Uhlmann, D.R. Introduction to Ceramics. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1976. 8 Mineração e Tratamento das Matérias-Primas Fonte: www.inb.gov.br Exemplo – Mineração e Tratamento do U3O8 Processo: Britagem + lixiviação com H2SO4 (pilhas são “regadas”) Extração do U3O8 por solventes orgânicos e posterior precipitação. Finalizando: secagem acondicionamento Bolo Amarelo (mínimo de 65% de U3O8) Seqüência de processamento para a fabricação de produtos de vidro, argamassa e de outros materiais cerâmicos (cerâmica) Tipos Seqüência de processamento Argila pó forma calor Vidro pó calor forma calor pó forma Cimento Adaptado dos slides do prof. Dachamir Hotza em http://www.materiais.ufsc.br/Disciplinas/EQA5745/ 9 Exemplos de Conformação Torneamento – baseada na rotação da massa e na moldagem manual ou automatizada de vasos, cerâmica artística, pratos, xícaras, etc. Extrusão – massas é forçada através de um molde para formar uma coluna contínua, a qual pode ser cortada em comprimentos apropriados. A operação é feita em marombas. Utilizado para fabricação de tijolos e manilhas. Colagem – Moldes geralmente de gesso “chupam” o excesso de água, permitindo a obtenção de peças grandes. Extrusão 10 Colagem Norton, F.H. Introdução à Tecnologia Cerâmica. Ed. Edgard Blucher, São Paulo-SP, 1973, 347p. Secagem e Queima A secagem (realizada em secadores) consiste na retirada de água em excesso e a queima (em fornos) produz a sinterização dos materiais cerâmicos. A queima se divide em três estágios: Reações preliminares; Sinterização; Resfriamento. 11 Norton, F.H. Introdução à Tecnologia Cerâmica. Ed. Edgard Blucher, São Paulo-SP, 1973, 347p. FORNOS PERIÓDICOS OU DE BATELADA FORNOS CONTÍNUOS Norton, F.H. Introdução à Tecnologia Cerâmica. Ed. Edgard Blucher, São Paulo-SP, 1973, 347p. 12 Temperatura típica de secagem: 110oC Temperaturas típicas de queima: 950oC – cerâmicas vermelhas (tijolos, telhas, manilhas, etc.) 1250oC – cerâmica branca (louças de mesa e sanitária, porcelana, pisos, azulejos) 1450oC – refratários (sílico-aluminosos, aluminosos e especiais) Algumas cerâmicas importantes 13 Cerâmicas Refratárias Material sólido, policristalino e/ou vítreo (podendo ter adições metálicas) capaz de, em condições específicas de uso, a altas T, suportar: carga, erosão e corrosão sem se deformar. Perfil de consumo: > 70% - siderurgia 14-20% - indústrias de celulose, petroquímica, metais não ferrosos, outras cerâmicas 6 – 10% - cimenteiras 2 - 4% - indústrias de vidro Tipos de Refratário – de Sílica (97% de SiO2) Sílico-Aluminosos - 15% a 45% de Al2O3 Aluminosos - 45% e 75% de Al2O3 Altamente aluminosos, magnesianos, magnésia-cromo, forsterita, etc. Cimento e Concreto Cimento – também chamado de cimento Portland, devido a semelhança com uma pedra extraída em Portland, Inglaterra. É considerado o mais importante dos materiais de construção modernos. Argamassa – mistura de cimento portland, cal hidratada (Ca(OH)2) e areia, usado na fixação de revestimentos cerâmicos, reboque, etc. Concreto – mistura de cimento, areia e pedra. Só perde para a água em termos de utilização (~1 ton/hab.ano). Cimento branco – calcita e argila branca, e com utilização semelhante ao da argamassa. Cimento dentário – ionômeros de vidro, produzidos normalmente à base de polímero solúvel em água, como o ácido poliacríclico, misturado à vidro de aluminossilicato pulverizado. 14 Síntese do cimento Ao calcário (basicamente CaCO3) moído são adicionados várias argilas, rochas esmagadas e até minério de ferro, de modo a fornecer a quantidade de sílica (~25%) e alumina (~10%) necessária. FARINHA → CLÍNQUER calcário + Fe + argila moídos 1500oC → CIMENTO + gesso + escória de alto forno + calcário moídos No forno acontecem reações de eliminação do CO2 do calcário e formação do cal (CaO) e posteriormente de uma série de compostos, sendo os principais o silicato tricálcio [(CaO)3SiO2], o silicato dicálcico [(CaO)2SiO2], ferroaluminato tetracálcico [(CaO)4Al2O3.Fe2O3] e aluminato tricálcico [(CaO)3Al2O3]. Votoran Cimentos Salto de Pirapora-SP Mineração de Calcário 15 Entrada do Forno Forno 16 Água nos compostos de cimento gera cristais de aluminatos hidratados, os grandes responsáveis pela rigidez do cimento após a pega (ou cura). A hidratação dos silicatos forma uma espécie de gel que formará uma espécie de rede “aprisionando” os cristais formados, a brita e a areia. Essa hidratação, tanto dos silicatos quanto dos aluminatos é irreversível, dificultando a reciclagem e o reaproveitamento dos materiais derivados de cimento. Vidros Definição (ASTM) – produto inorgânico obtido por fusão, que adquire rigidez durante o resfriamento controlado e não se cristaliza. Sílica (SiO2) Vidro Geralmente, os vidros são misturas de vários óxidos, sendo que alguns estão presentes nas matérias primas (geralmente de Si, Al e Na) e outros são adicionados intencionalmente. Exemplos: B – formam os boro-silicatos, de caráter refratário (Pyrex) Pb – facilitam a solda a baixas T – microeletrônica 17 Kingery, W.D., Bowen, H.K. e Uhlmann, D.R. Introduction to Ceramics. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1976. Fusão ~1400oC (virgem) ~1200oC (cacos) Vantagem !!! Norton, F.H. Introdução à Tecnologia Cerâmica. Ed. Edgard Blucher, São Paulo-SP, 1973, 347p. 18 Conformação de Fibras Prensagem Sopro 19 Fabricação de Vidros Planos Processo Float Vidro fundido flutua e solidifica em banho de estanho fundido Têmpera de Vidros Aquecimento acima da Temperatura de transição vítrea (Tv) e posterior resfriamento brusco (geralmente jatos de ar na superfície) faz com que a superfície resfrie imediatamente e o centro demore mais. Van Vlack, L.H. Princípios de Ciência dos Materiais. Trad. L.P.C.Ferrão. Ed. Edgard Blucher. São Paulo, 1985. 470p. Essa diferença no resfriamento gera diferenças de tensões entre centro e superfície, fazendo com que o vidro ganhe resistência mecânica. 20 Têmpera de Vidros (continuação) Centro - tracionado Superfície – comprimida (“tampa” defeitos) http://www.prelco.ca/pdf/fiches/Prel-Gard_A.pdf A têmpera química normalmente ocorre pela substituição de íons Na+ da superfície do vidro por íons de K+ de um banho de sal no qual o vidro foi mergulhado. Como trata-se de um íon maior, comprime a superfície, gerando o mesmo efeito que a têmpera térmica. Tipos de vidros tecnológicos Fibras de Vidro – utilizadas para isolamento térmico e para reforço de plásticos, normalmente a base de SiO2 – Al2O3 – CaO – MgO. Vidro de Segurança e à Prova de Bala – podem ser fabricados a partir de lâminas de vidro (temperado ou endurecido) interligadas por filme(s) de polivinil butiral. Fibras ópticas – geralmente 2 vidros: transmissão (a base de sílica vítrea – Na2O-CuO e SiO2) e de blindagem, este último, com índice de refração menor, o que permite a reflexão na interface 21 IMPACTOS AMBIENTAIS DAS CERÂMICAS Doenças ocupacionais – silicose; Acidentes – cortes; Efeito estufa – 5% do CO2 mundial provém da indústria do cimento; Extração de Recursos Naturais utilizados como matériaprima e na obtenção de energia para a fabricação. Prévia da Indústria Mineral 2011/2010 – Disponível em http://www.mme.gov.br/sgm/menu/publicacoes.html Dados mais atuais em http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2015 (*) - p.34-37, 46, 47 22 Prévia da Indústria Mineral 2011/2010 – Disponível em http://www.mme.gov.br/sgm/menu/publicacoes.html A Reciclagem de Materiais é um Negócio. www.blog.simbiosebrasil.com.br www.comgeres.com.br www.gacc.com.br 23 Reciclagem de Materiais é Oportunidade de Negócio quando existe : Sucata Valorizada; Cobre, Alumínio Mercado Demandando; Aço e outras ferrosos Abundância de Matéria-Prima; PET Legislações que auxiliam; Pneus Educação. Todos os resíduos 47 Qualquer que seja a força motriz da reciclagem, o material reciclado tem que ter propriedades finais competitivas, não necessariamente com o material virgem. Separação de Resíduos é Importante, senão fundamental ! Quanto melhor a separação, + puro o reciclado ↑ valor agregado Essa competitividade possível em termos de propriedades se soma à vantagens ambientais, propaladas ou não por estratégias de marketing. Reciclagem, porém, é uma atividade industrial que gera impactos ambientais, normalmente menores que os envolvidos na fabricação de materiais virgens. 24 E A RECICLAGEM DE MATERIAIS CERÂMICOS ? Reciclagem complexa; Diversidade de composições; Maioria dos produtos são duráveis; Mercado ruim; Sucata pouco valorizada; Reaproveitamento energético inviável, assim como os metais. Como reciclar produtos cerâmicos descartados ? fusão dos vidros; O restante, se antes da sinterização*: moagem e mistura com matéria-primas virgens; O restante, se após a sinterização*: moagem e utilização como carga, agregados etc. * ou da hidratação no caso de produtos derivados do cimento. 25 Apesar dos problemas, a reciclagem de materiais cerâmicos é interessante em casos onde há excesso de matéria-prima. Onde há isso? Resíduos Industriais; Embalagens de Vidros; Resíduos da Construção Civil. MUITA MATÉRIAPRIMA! Lei ajuda. Abundância de Matéria-Prima (resíduos) para a reciclagem de Materiais Cerâmicos: Embalagens de Vidros; Resíduos da Construção Civil. 26 Embalagens de vidros (garrafas, principalmente) Embalagens possuem composição mais ou menos semelhante; Alto índice de quebra x reutilização; Reenvase clandestino; Demanda do mercado por descartáveis (perda de espaço para plásticos principalmente): 0,5 kg/habitante.mês; Teoricamente, reciclável infinitas vezes; Sem restrição ao uso em contato direto com alimentos; Problema: preço muito baixo! Alguns tipos de vidros, devido à composição específica, presença de revestimentos ou camadas internas de outros materiais bem como de outras características, apresentam dificuldades técnicas de reciclagem, que mesmo uma separação muito bem feita pode não ser suficiente para tornar compensatória. Dessa forma são considerados não-recicláveis ou de reciclabilidade difícil: vidros de lâmpadas incandescentes, espelhos, vidros temperados, cristal, de janela, de automóvel etc . Não devem ser misturados aos vidros de embalagem. Separação; Impurezas (tampas metálicas ou canudos, p.ex.) – podem causar bolhas e/ou inclusões → diminuem transparência e são núcleo de formação de trincas. O controle de impurezas metálicas é bem mais rigoroso (resistem a altas temperaturas). Moagem; Reprocessamento (fusão). 27 MATÉRIA-PRIMA Garrafas de Coca-Cola Telhas refugadas Moagem Parte da Matéria-Prima Virgem 28 Mistura Forno Molde 29 Recozimento Peça Final 30 Abundância de Matéria-Prima (resíduos) para a reciclagem de Materiais Cerâmicos: Embalagens de Vidros; Resíduos da Construção Civil. Indústria da construção civil Durante a obra (perdas de materiais ~ 20%); Demolição; Reforma. Resolução CONAMA 307 de 2002 Classe A - tijolos, telhas, azulejos, argamassa, concreto etc. Classe B – Recicláveis – metais, plásticos, papéis e gesso* Classe C - ?* Classe D – Perigosos, incluindo telhas com amianto** * Resolução 431/2011 ; ** Resolução 348/2004 31 Resíduos Classe A – Cerâmicos Devem ser separados e moídos e utilizados como agregados na própria indústria da construção civil. Caso não seja possível, devem ser aterrados em aterros de resíduos inertes. Gesso (forros, molduras, acartonados) Também é material cerâmico (CaSO4 . ½ H2O), porém não é inerte. Calcinado após extraído, é umedecido na obra. Para reciclagem, desidratação é possível, mas improvável. Contaminantes e preço baixo complicam possibilidades de reaproveitamento (reciclagem, agricultura, cimento, moagem com classe A...). Reciclagem de Entulho em Belo Horizonte. Para enterrar, a Prefeitura cobrava, em 2007, R$ 15,00 por caçamba. Se dentro da caçamba só tiver resíduo classe A, o caçambeiro pode deixar na usina de graça. Isso estimulou a separação dos resíduos, não necessariamente na obra. 32 BRITADOR INICIAL ENVIO AO CONJUNTO DE PENEIRAS ACÚMULO DE MATERIAL BRITADO BRITADOR INICIAL 33 CONJUNTO DE PENEIRAS SÃO 4 PENEIRAS PARA A OBTENÇÃO DE MATERIAIS COM 4 GRANULOMETRIAS DIFERENTES 3 4 2 1 34 35