UNIFAI CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA ARTETERAPIA EM UM HOSPITAL ONCOLÓGICO. São Paulo 2010 1 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA ARTETERAPIA EM UM HOSPITAL ONCOLÓGICO. THE IMPORTANCE OF PSYCHOMOTRICITY IN ART THERAPY AT A CANCER HOSPITAL. ELIANE LATTERZA1 Orientadora: Prof. Doutor Vânia RAMOS2 Resumo: O presente artigo vem demonstrar a importância da Psicomotricidade na pedagogia Hospitalar em um hospital Oncológico Pediátrico, acentuando como um dos grandes benefícios percebidos a expressão artística em arteterapia. Para tanto, foi analisada a proposta da Escola Especializada da Pediatria Schwester Heine dentro do hospital A.C. Camargo que têm como um dos objetivos principais, destacar que o lúdico e as artes em geral são instrumentos indispensáveis e facilitadores que ajudam a desenvolver as capacidades afetivas, motoras e cognitivas, mesmo em meio às adversidades, assegurando assim o desenvolvimento e a recuperação das crianças hospitalizadas. Palavras-chave: classe hospitalar, câncer infantil, hospitalização, psicomotricidade e arteterapia. Abstract: This article demonstrates the importance of psychomotricity in the hospital pedagogy of a pediatric oncology hospital, accentuating the through great benefits perceived artistic expression in art therapy. For this reason, the purpose of the Schwester Heine Specialized Pediatric School was analyzed. One of this Schools principal objectives is to highlight that play, and the arts in general, are indispensable facilitating instruments that help to develop affective, motor and cognitive abilities, even under adverse conditions, which assures the development and recuperation of the hospitalized children. Key words: hospital class, childhood cancer, hospitalization, psychomotricity and art therapy. Introdução Este artigo trás à tona a importância de um olhar pedagógico diferenciado voltado às crianças que amargam dias, meses ou anos com hospitalizações freqüentes, mesmo na fase de diagnósticos até a efetiva confirmação da doença. A pesquisa do artigo refere-se a uma Escola Especializada referência em tratamento oncológico, fundada em 15 de outubro de 1987, por Dona Carmen Prudente e Maria Genoveva Vello, esta última dando continuidade até hoje na condição de diretora Escolar. 1 Professora de Educação Física pela FEFISA, desenhista pela EPA (Escola Panamericana de Artes de São Paulo), Pedagoga pela UNIFAI, cursando pós-graduação em psicomotricidade pela UNIFAI, professora de CLASSE HOSPITALAR, na Escola Especializada da Pediatria Schwester Heine do Hospital A. C. Camargo, São Paulo. 2 Doutora em Ciências Sociais, Mestre em Gerontologia (PUC-SP), sócio titular nº 182 da S.B>P>. Coordenadora do Curso de Pós- Graduação em Psicomotricidade da UNIFAI. 2 Atualmente a escola conta com 09 pedagogas da rede municipal e 4 da rede estadual que formam um grupo peculiar atuando no hospital, sensível às necessidades da criança doente e capaz de seguir o programa educacional da escola de origem dessa criança, com adaptações curriculares, implementando de maneira flexibilizada um programa lúdico, quando esta não estiver em condições físicas ou psicológicas para estudar. Para isso o hospital conta com um convênio firmado entre a Fundação Antonio Prudente, Secretaria Municipal de Educação e Secretaria Estadual de Educação, as quais cedem algumas professoras que assim como a escola são especialmente preparadas para essa nova visão pedagógica para acompanhar e ensinar crianças com neoplasia3. O pedagogo de classe hospitalar com sua prática voltada a arteterapia e com ênfase na educação psicomotora tem um papel fundamental possibilitando a esses alunos/pacientes um trabalho consistente explorando as habilidades motrizes necessárias ao desenvolvimento da consciência de si mesmo e do mundo exterior conquistando assim a sua independência. È necessário privilegiar as experiências vividas pelo aluno/paciente, sempre considerando a cronologia das etapas do desenvolvimento. A escola é o lugar onde os saberes são trocados, pesquisados, comprovados, para que o aprender seja uma conquista prazerosa. Sendo assim a psicomotricidade voltada às artes e ao lúdico se tornam instrumentos indispensáveis e facilitadores para descobertas da construção do conhecimento, desenvolvendo assim as capacidades afetivas, motoras e cognitivas. Assim como toda escola, a Escola Schwester Heine tem sua fundamental importância, proporcionando um ambiente de influência sócio-cultural, ambiente este que encoraja os alunos/pacientes a explorar possibilidades, propor soluções, levantar hipóteses, justificar seu raciocínio e avaliar as suas próprias conclusões. Neste ambiente a autonomia é estimulada e os erros fazem parte do processo de aprendizagem, devendo ser explorados e utilizados de maneira a gerar novos conhecimentos. Falar, ouvir, ler, escrever e ser são competências básicas de comunicação que ocorrem enquanto os alunos/pacientes interagem-se nas atividades. A escola da pediatria e as pedagogas agem positivamente sobre o equilíbrio emocional do aluno, favorecendo um desenvolvimento emocional sadio, para que ele possa “sentir-se seguro de si, saber 3 Neoplasia (neo= novo, plasia= formação). É o termo que designa alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado destas células, sem controle ou autonomia. Conforme suas características clínicas e microscópicas, as neoplasias podem ser malignas ou benignas. Somente o tumor maligno é chamado de câncer. ( Kit Educação em Câncer. Hospital do Câncer. Aguilla, Saúde Brasil, 2003) 3 interessar-se, associar-se com espontaneidade aos companheiros, dominar os impulsos do comportamento socialmente negativo, seguir as instruções normais sem teimosia, procurar ajuda junto ao professor, expressar sem receio as opiniões e necessidades ou dificuldades” (FRANÇOSO e VALLE, 1999:61). A psicomotricidade, como ciência da educação, pretende auxiliar a criança a superar certas dificuldades que poderão prejudicar o seu rendimento escolar e sua adaptação e sucesso social, afetadas em sua imagem e esquema corporal, devido ao processo da doença e hospitalizações freqüentes. A psicomotricidade trabalha com muito mais do que o corpo, trabalha com pessoas, num conjunto cognitivo, emocional e motor. Os nossos gestos falam de nós, de nossa identidade, pois são movimentos muito pessoais e todas as nossas ações motoras têm ressonância afetiva e cognitiva. A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na préescola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares, leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situação no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de seus gesto e movimentos (OLIVEIRA, 1997:35). Sendo assim a criança hospitalizada será beneficiada com os conhecimentos psicomotores que deverão ser aplicados pelo profissional respeitando-se principalmente a patologia de cada paciente. A Escola da Pediatria desenvolve diariamente atividades relacionadas às artes nos três espaços onde ela se localiza. Em cada espaço a realidade é um pouco diferente, porém os alunos/pacientes são os mesmos que por vezes passam pelas três unidades(ambulatório, laboratório e internação) no mesmo dia. O que se espera é que a intervenção do psicomotricista aconteça para que a criança adquira uma adequada maturação funcional perceptiva, uma disponibilidade psicomotora e um aperfeiçoado controle psicotônico que lhes permitam encarar as aprendizagens escolares triviais sem quaisquer carências instrumentais. Esse aluno/paciente desenvolve com cada pedagogo um trabalho diferenciado, adaptado a realidade do local, com horários mais restritos e espaço físico menor no ambulatório e laboratório. As observações feitas neste artigo são relacionadas à intervenção psicomotora voltada às artes com as crianças e adolescentes internados no 5º andar, onde a necessidade de aliviar as angústias e ansiedades são visíveis a todo instante. 4 Quando este aluno está internado, percebe-se a necessidade de seus acompanhantes também participarem das atividades artísticas, lembrando que quando uma criança adoece, adoece também toda a família (FONSECA, 1999). Por muitas vezes os pacientes precisam se libertar da pressão de seus pais que de uma forma inconsciente deixam transparecer toda a angústia por um suposto sentimento de perda. Na sala onde se desenvolvem as atividades artísticas o ambiente hospitalar deve ser o mais descontraído e menos traumatizante, oferecendo melhores condições para o aluno/paciente recuperar-se. As atividades propostas com a educação psicomotora dão ao professor elementos seguros para a orientação da criança em fase de aquisição de experiência de caráter dinâmico-manual. A forma como a criança reage à presença de uma doença crônica depende, de acordo com alguns autores, de determinados fatores que se relacionam com a própria doença (ex: limitações de ordem física e/ou social, gravidade e prognóstico4; relacionados com a própria criança (ex: personalidade, temperamento e idade); e relacionados ao universo familiar(ex: estrutura familiar, capacidade de comunicação e capacidade de resolver problemas(EISER, 1990;). Por exemplo, ao referir-se a crianças acometidas pelo câncer, FRANÇOSO e VALLE (1999) relatam que o início do tratamento(normalmente o primeiro ano) é o período que causa mais estresse, tanto na criança quanto em seus pais, porque nesta fase o diagnóstico ainda é recente e o início do tratamento provoca grande ansiedade. Das doenças crônicas congênitas, segundo PERES E LIANZA(2005) o câncer é o que mais compromete o desenvolvimento psicomotor da criança não só por causa das violentas reações à quimioterapia, mas também por causa do impacto emocional causado pela doença (o cabelo muitas vezes cai, a criança vê-se atormentada pelo medo de morrer) e isto interfere na sua motricidade ( SCHILDER,1981). Ao se falar da importância da psicomotricidade e em destaque a arteterapia em um hospital oncológico pediátrico, é necessário saber um pouco sobre o câncer infantil. O câncer infantil deriva principalmente de tecidos embrionários com uma alta capacidade proliferativa. Por um lado são muito agressivos, quando o diagnóstico se encontra em fase avançada, por outro lado são altamente sensíveis à quimioterapia e 4 Prognóstico- em medicina, é conhecimento ou juízo antecipado, prévio, feito pelo médico baseado necessariamente no diagnóstico médico e nas possibilidades terapêuticas. É predição médica de como a doença X paciente irá evoluir e se há e quais são as chances de cura. (Kit Educação em Câncer. Hospital do Câncer. Aguilla, Saúde Brasil, 2003). 5 radioterapia, havendo possibilidade de cura em mais de 60% dos casos (CAMERON, 1995). Quando uma criança é afetada por esta enfermidade, modifica-se toda a estrutura familiar, bem como a comunidade a que pertence, pois todos são sensíveis ao sofrimento de uma criança. Ocorrem extensas e freqüentes hospitalizações, prolongados tratamentos que geram ansiedade, depressão, sentimentos de solidão por causa da constante separação da família, déficits físicos e imunológicos, atrasos no desenvolvimento psicomotor e escolar (ARRASTOA, 1997). Este sofrimento psíquico é também encontrado nas equipes de profissionais que diariamente lidam com a dor, a doença e a morte. Acredita-se que toda a equipe que atende crianças com câncer deve receber um apoio psicológico e uma formação especial e específica para se lidar com este tipo de paciente. E por que se falar da doença? Para que se entenda a importância do pedagogo com conhecimentos na área psicomotora auxiliando assim no resgate da auto estima trabalhando sua imagem e esquema corporal, dentro de um hospital. De acordo com Amaral e Silva (2007), (...) a criação de classes escolares em hospitais resulta do reconhecimento de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educacionais e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização. A educação é um direito de toda criança, mesmo em ambiente hospitalar. No entanto, estudos realizados comprovam que, na prática, poucas crianças usufruem desse direito, devido ao pequeno número de hospitais que prestam esse tipo de assistência. È de suma importância que se reconheça a necessidade de integrar os profissionais da saúde, para que assegure-se o desenvolvimento e a recuperação da saúde da criança internada. O compromisso pedagógico em âmbito hospitalar demanda experiência e flexibilidade de soluções na construção de conhecimento. Ao colocar as atividades propostas em prática, as crianças têm a oportunidade de exteriorizar suas expectativas e experiências emocionais individualizadas conforme explicam NASCIMENTO e HAELFNER(2007): “no contexto hospitalar, cabe ao pedagogo perceber as intenções subjetivas das respostas, as necessidades do paciente e tomar a iniciativa de quebrar barreiras, transpor os muros da indiferença e deixar aflorar todo o seu afeto já que esse é um sentimento que pressupõe interação. O processo cognitivo também envolve 6 o afetivo, através de relações e interações e para concretizá-lo é preciso ter equilíbrio emocional para agir com atenção e tranqüilidade junto aos pacientes”. A ação do professor é mergulhar neste universo e resgatar a auto estima de cada paciente fazendo com que ele se relacione com outros pacientes, com a doença e com o ambiente em que se encontra inserido. Segundo NASCIMENTO e HAEFFNER (2007); “É importante que cada paciente forme um modelo autêntico de si mesmo e que use esse modelo como processo de construção de uma auto-estima, que seja capaz de aceitar-se e aceitar os outros, que se reconheça e conheça os outros. A criança distante de sua casa e de sua família assusta-se ao chegar em ambiente desconhecido. Desta forma, é muito importante para ela saber que existe um local repleto de brinquedos jogos e estímulos. Neste sentido percebe-se a importância da psicomotricidade na arteterapia para pacientes que precisam encontrar um meio de expressão e criação e indiretamente vai ampliando o conhecimento deste aluno/paciente sobre o mundo favorecendo o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, psicomotor e social motivo pelo qual deve estar presente na vida de crianças hospitalizadas. Estudos realizados por VALLADARES e CARVALHO (2005), objetivando estabelecer uma comparação entre o desempenho do fazer tridimensional e da construção com sucata hospitalar de crianças internadas, antes e após a intervenção de arteterapia demonstraram que a mesma foi eficiente no que diz respeito as variáveis da avaliação,concluindo-se que a arteterapia constitui-se em um meio que canaliza, de forma positiva, as variáveis do desenvolvimento da criança internada e neutraliza os fatores afetivos que, eventualmente surgem, além de estimular potenciais mais saudáveis da criança, na maioria das vezes, pouco estimuladas no contexto hospitalar. Estudos realizados em 2006, pelas mesmas autoras, levando em consideração que a hospitalização pode ter efeitos maléficos sobre o desenvolvimento infantil, impedindo que a criança dê seqüência a sua rotina diária e freqüente ambientes estimulantes, procederam a um estudo objetivando avaliar o desenvolvimento e a qualidade do grafismo, antes e depois da intervenção em arteterapia, com crianças em idade entre 7 a 10 anos, que encontravamse internadas em decorrência de moléstias infecciosas. Os resultados, demonstraram que as sessões de arteterapia foram eficazes na promoção da qualidade das produções gráficas. A criança hospitalizada encontra-se em fase de crescimento que provavelmente será prejudicada em seu esquema corporal devido a inúmeros fatores como, por exemplo: muito tempo de internação, superproteção dos pais (medo de expor a criança a quedas, dor, etc.), 7 falta de estímulos que auxiliem no desenvolvimento infantil para compensar a ausência de movimentos durante as internações, sendo para isso importante a presença de um pedagogo atuando junto à equipe multidisciplinar do hospital acrescentando e completando o trabalho clínico. Toda criança precisa experimentar seu próprio corpo, afirmava Piaget que em 1930 estudou as fases do desenvolvimento onde a criança, organiza-se e adapta-se intelectualmente. Para que ela adquira o conhecimento, se faz necessário uma ação-física ou mental sobre o ambiente, resultando assim na aprendizagem. Não se pode esquecer esses estágios do desenvolvimento: sensório-motor, préoperatório, operatório-concreto e operatório-formal somente pelo fato da criança estar doente, pois existe um lado saudável dela que o pedagogo deve resgatar e não deixar que adoeça. E a partir desses estudos o professor em classe hospitalar deve ter plena autonomia para trabalhar de forma diferenciada e individualizada descobrindo e planejando estratégias que despertem o potencial de cada criança. A partir daí entende-se que todo trabalho pedagógico num hospital deve ser adaptado à sua realidade, levando-se em conta as características de cada patologia. Outro ponto importante são os efeitos colaterais provenientes de um tratamento com quimioterapia e radioterapia, ou outras medicações que irão alterar e interferir diretamente no estado físico e psicológico do aluno/paciente sendo para isso necessário sutileza na abordagem promovendo o desejo de cura que subjetivamente estão nos pequenos gestos como: levantar da cama, tomar banho, tomar o lanche, se alimentar, expressando a vontade de ir para a escola da pediatria. A promoção desse interesse e dessa vontade é feita pela escola através da arteterapia como tratamento psicoterapêutico utilizando como mediação a expressão artística (dança, teatro, música, etc.) ou as representações plásticas (pintura, desenho, gravura, modelagem, máscaras, marionetes, etc.). A arteterapia compreende várias técnicas que podem e devem ser adaptadas à cada realidade hospitalar. Ao decodificar o termo arteterapia, em sua raiz tem-se: Arte: entendida como tendo a função de interpretar o mundo, provocar emoção, reflexão, explicar e refletir as histórias humanas, representar crenças e homenagear idéias e pessoas. E o sufixo terapia: compreende a dimensão psíquica sem a qual nenhuma modificação duradoura do comportamento poderia ser considerada. Assim o trabalho em 8 arteterapia centra-se no sujeito pesquisado, a fim de que ele encontre e elabore um universo de imagens significantes de seus conflitos subjetivos. A arte humaniza o homem. Com arte você pode ousar, mexer, brincar, sofrer, modificar, criar de novo, etc. A linguagem artística permite que a criança exteriorize as emoções. Trabalha também a auto-estima e a autoconfiança. Uma verdadeira sessão de arteterapia deve ser ministrada por um psicólogo e cabe a ele o psicodiagnóstico e a psicoterapia através das artes, porém o pedagogo de classe hospitalar alinhavando saberes, com conhecimentos em psicomotricidade e psicologia está habilitado a desenvolver um trabalho de fundamental importância em relação às artes, observando com um cuidado especial a parte afetiva, cognitiva, física e social de seu aluno. Este é o papel social da escola dentro de um hospital, sendo para isso necessário que o professor não fique impermeável à arte que vem de cada criança, respeitando e entendendo suas conquistas diárias. São conquistas que impulsionam e motivam o profissional a buscar cada vez mais, especializações, cursos, instrumentalizando-se para que seu trabalho seja coerente, honesto e promissor. Paralelo às oficinas de arte, o professor com seu olhar pedagógico pode detectar distúrbios, transtornos ou problemas psicomotores que deverão ser analisados em reuniões pedagógicas e discutidos com a equipe multidisciplinar. Este olhar atento faz parte da característica do profissional que com sua sensibilidade a cada dia aprimora mais e mais o saber ver, ouvir e sentir de seu aluno. Com esse mesmo olhar descobrem-se talentos e com releituras de obras artísticas possibilita-se o reconhecimento das competências tornando o indivíduo o agente de sua própria mudança. A sessão de arte-terapia pode ser em grupo ou individual. Começa com sensibilização do participante por meio de exercícios corporais ou de respiração, música, leitura de textos ou visualização. Logo em seguida realizam-se os trabalhos e o participante transpõe para a linguagem escrita o que percebeu no seu trabalho e verbaliza a experiência com a ajuda do terapeuta. O cuidador também é beneficiado. Não precisa ter um cunho terapêutico, mas é uma boa estratégia para diminuir o estresse, a ansiedade e a angústia que afeta também quem cuida do paciente. É importante lembrar que segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, toda criança e adolescente têm direito à educação e é assegurado à criança e ao adolescente 9 internados para tratamento de saúde por tempo indeterminado o acompanhamento educacional durante o período de internação. Com isso a disciplina de Artes não pode ser colocada em segundo plano, pois no contexto hospitalar se torna imprescindível a comunicação do paciente e do cuidador através da linguagem artística. Segundo Arnheim (2004), a arte deve servir as necessidades humanas reais e tornam-se visíveis os benefícios que as pessoas doentes recebem da arte, lembrando que estes benefícios devem estar disponíveis a todos. “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível”. (Leonardo da Vinci) A arteterapia em um hospital como instrumento da psicomotricidade tem como objetivo principal: 9 resgatar o desejo de cura, 9 fornecer meios para a catarse (exteriorizando sentimentos e emoções) 9 desenvolver formas criativas de se lidar com a doença e diminuir o estresse. 9 diminuir a ansiedade e favorecer a aderência ao tratamento. Durante as vivências nas oficinas de artes o professor deve ter como principal objetivo o estímulo à criação de uma forma prazerosa, sem se preocupar com estética. Para isso é importante fazer o aluno/paciente rir, lembrando que o riso é terapêutico, segundo Marly Tocantins5. Trabalhos científicos atestam que quando você chora de rir, as lágrimas e a boca passam a ter mais imunoglobulinas. O cérebro produz beta-endorfina que ajudam a relaxar e reduzir a dor. Rir reduz a tensão muscular, oxigena o corpo, tem um efeito antiinflamatório nas articulações e ossos e ocorre um fortalecimento psicológico e espiritual( JON-KAR ZUBIETA. 2007). “A arte é vivida como atividade fundamental e necessária, experenciada como algo divertido, muito prazeroso, que traz plenitude e realização pessoal, sendo válida em si mesma.” (BILBAO, 2004; 33). A proposta em um hospital oncológico deve estar relacionada à educação psicomotora que pode ser trabalhada em duas áreas: expressão do corpo e expressão dos sentimentos. 5 Psicóloga junguiana, especialista em terapias corporais e pesquisadora em medicina natural. 10 A psicomotricidade dá ao estudo do movimento humano uma dimensão mais científica trabalhando a linguagem, imagem do corpo, com os aspectos perceptivosgnósico e práxicos e toda uma rede interdisciplinar, promovendo um universo de reflexões no sentido de facilitar o desenvolvimento global do aluno/paciente permitindo que ele se expresse livremente no pensar e fazer. É necessário um trabalho que encoraje a imaginação para melhorar a sua habilidade de enfrentar e aprender a respeito da situação da doença e através da fantasia o professor pode trazer à luz aquilo que está oculto ou que a criança oculta. Para adultos, melhora na comunicação entre o terapeuta e o paciente e permite ao paciente um maior controle do tratamento. Na quimioterapia ou na radioterapia, o paciente não pode interferir em quase nada e quando ele realiza e finaliza um trabalho artístico, promove um resgate de sua autonomia. O doutor Paulo de Tarso Lima, responsável pelo grupo de medicina integrativa e complementar do Hospital Albert Einstein, acredita que a tendência é incorporar cada vez mais essas práticas. É a medicina baseada em evidências6. Os desafios são diários e é preciso sensibilidade para abordar o adolescente para uma proposta relacionada às artes. Figura 1 - Realizando trabalho com trançado (B. L. 14 anos). A abordagem deve ser sutil e de forma gradativa, pois o adolescente muitas vezes se fecha em seu mundo, se demitindo enquanto sujeito, renunciando ao futuro. Esse estado depressivo da criança ou do adolescente pode levá-los a regredir em suas aquisições verbais e sociais e através dos desenhos e pinturas, o pedagogo poderá fazer uma leitura de seus medos, angústias. Muitas vezes o adulto desconhece o que a criança sabe sobre a 6 Jornal-A Folha de São Paulo, 2009). 11 morte da mesma forma que desconhece o que ela sabe sobre sexualidade. Com a criança menor a abordagem se torna mais fácil para uma atividade artística. Outra abordagem importante é a alegria, o bem estar, representados pelo uniforme colorido do professor sendo um facilitador, tornando-o familiar às crianças, sendo a marca personalizada, ou seja, a identidade do profissional da área, facilitando assim o vínculo de confiabilidade entre ele e o paciente. Figura 2 - Professoras Iara e Eliane com um dos uniformes da escola. Existe um lado mais saudável da criança que fica adormecido pelo processo da doença, hospitalização e tratamento. E é esse lado adormecido que deve ser o desafio para o educador. No ambiente hospitalar é provável que a criança experimente mais dificuldades em se expressar do que na rotina diária (em casa ou na escola). Essa tarefa trabalhosa e sublime deverá ser feita com um cuidado especial. “O desenvolvimento do potencial humano precisa da solidariedade e da empatia de uma mão amiga, de um olhar afetuoso, de uma mensagem de esperança” (ANTUNES, 199:Vll). Toda criança, especialmente as que vão se submeter a um processo cirúrgico, tem a necessidade de se expressar, de criar, de estabelecer relações com o mundo e as artes em geral favorecem a criança nestes aspectos, além de afastá-la do desagradável, da dor, da ansiedade, da monotonia, proporcionando a exteriorização de impulsos agressivos, medos e temores. A criança hospitalizada precisa de estímulos e sabemos dos questionamentos que surgem quando a enfermidade e a hospitalização aparecem em seu caminho impossibilitando-as de ter seu desenvolvimento normal. 12 Figura 3 - Atividade com massa de modelar (K. A – 3 anos). Segundo Gardner, não podemos perder o foco em relação aos estímulos dado a essas crianças. “Nunca pense em estímulos como meio de apressar o desenvolvimento de uma criança. Estímulos são como alimentos e precisam ser dosados adequadamente.” (GARDNER, 1994, p.22). A relação da arte com o humano é capaz de possibilitar uma linguagem de abrir novos caminhos de comunicação entre o consciente e o inconsciente. A clientela é flutuante e para isso o professor não pode dar trabalhos muito extensos. Os trabalhos normalmente são feitos também com os acompanhantes, pois se percebe que esse binômio (criança e acompanhante) em muito fortalece os benefícios para a criança no pré-operatório. A mesma sofre influências diretas de seus cuidadores e quando esses cuidadores estão equilibrados emocionalmente melhores resultados podem ser esperados com as crianças. A adaptação curricular em um hospital se faz necessária, onde o professor com sensibilidade aproveita certos momentos, já que as situações são as mais diversas e adversas possíveis. Os materiais utilizados nas oficinas de artes são os mais variados, levando-se em conta sempre a preocupação com a higienização por se tratar de um hospital. O professor deve preparar o ambiente tornando-o agradável com diversos materiais ao alcance dos alunos, sendo necessário que na sala de aula exista um local apropriado para se guardar todo o material, incluindo as sucatas, para a realização dos trabalhos. Esses materiais são: todos os tipos de papéis como, papel de seda, A4, cartão, cartolina, celofane, Kraft, crepom, pardo, de dobradura; E.V.A.; tecidos variados; lápis de cor, lápis preto, aquarelado, carvão, canetas hidrocor, giz de cera, cola quente, cola branca, guache, pintura a dedo acrílica, tinta para tecido, lantejoula, brocal, miçanga, barbantes, revistas, sucatas, tesoura, papel higiênico, massinha biscuit,macarrão, lixa, punção, aparelho de som e cds. de modelar, massa de 13 As atividades psicomotoras propostas devem respeitar as faixas etárias e considerar os tipos de patologias com suas devidas limitações. São elas: Colagem e recorte: Figura 4 - Professora Eliane e paciente (G. S.- 7 anos). Confecção do painel com dobraduras, colagem e recorte. Trabalha o desenvolvimento psicomotor e organização de pensamento, que funciona como uma análise da construção de uma nova forma. Simbolicamente o ato de recortar ou de rasgar os papéis e posteriormente reuni-los, colá-los e recompondo-os corresponde subjetivamente à vivência de cortes, rupturas, reparação e organizaçãoestruturação (VALLADARES E CARVALHO, 2005) As atividades que estimulam a coordenação óculo-segmentária manual, como recorte a dedo e com tesouras, picado, bordado, utilização e manuseio do lápis de cor, favorece posteriormente no domínio da escrita e com a percepção visual mais apurada a aprendizagem da leitura será favorecida. Picado e Recorte com tesoura: Figura 5 - Recorte com tesoura- trabalho de coordenação visomotriz delicada (A. L.- 9 anos). 14 É importante para que a criança comece a trabalhar a coordenação visomotora servindo de base para o ato preensor e controle de movimentos. Começa-se com movimentos precisos e de pequena amplitude (COSTALLAT, 1922). Crianças tímidas ou inibidas farão o picado superficial e disperso e algumas vezes não conseguem perfurar o papel. Ao contrário, crianças onde a agressividade se faz presente a excessiva pressão acarretará em pontos grandes, chegando a rasgar o papel, ao invés de perfurá-lo. Essa impulsividade e ausência de freio inibitório deixarão o papel irregular com furos em apenas determinado lugar. É importante que a criança aos pouco encontre esse equilíbrio educando assim seus movimentos, pois mesmo hospitalizada o objetivo maior é integrá-la de uma forma harmoniosa promovendo uma consciência corporal para que se sinta bem dentro de sua própria pele. A espessura do papel será de acordo com o tônus muscular da criança. Na criança hipotônica pode-se usar plásticos suaves obrigando-a a trabalhar a contração muscular exercendo maior pressão sobre o material. Ao contrário, se ela for hipertônica, o material utilizado deverá ser delicado para que a criança controle sua pressão. Entende-se que a criança se encontra numa situação de fragilidade onde deverá ser levado em conta seu estado emocional. Isso se traduzirá no trabalho onde a profundidade dos pontos, a dispersão, a regularidade dos pontos, rasgar às vezes o papel ou não conseguir perfurá-lo, são sinais de instabilidade emocional. Atividades com tesoura são de caráter essencialmente dinâmico, desenvolvendo ao máximo a coordenação visomotriz delicada. Os quatro passos importantes e sucessivos são; ato preensor correto, manejo da tesoura sem material, corte livre sobre o papel e recorte sobre o desenho sendo um exercício fundamentalmente dinâmico-manual. Modelagem: argila, massinha, pedra sabão, madeira: 15 Figura 6- Confecção de maquete “Arca de Noé, Animais feitos com massa de modelar (A.M.F.- 9 anos). Figura 7- Releitura da obra de Tarsila do Amaral. Permite a estimulação tátil e a capacidade de planejar e concretizar, despertando o entusiasmo, o interesse e a ação da vontade. É uma atividade de relaxamento além de fortalecer a musculatura e a harmonia pelo equilíbrio. Oferece noções de temperatura, peso, textura, concavidade ou convexidade (NASCIMENTO, 2007)). É recomendada para crianças muito rígidas já que o contato muscular das mãos aos pouco leva ao relaxamento e auxilia a criança a compreender a sua forma de ser e descarregar o excesso de energia acumulada durante a sua forma de viver, no trabalho, na família e na sociedade. Pintura: Figura 8- (L.A.R.- 5 anos) e seu pai em seu momento de criação. 16 Permite a liberdade diante de uma folha de papel. As cores estão relacionadas com as emoções. Liberdade também ao experimentar um conjunto de cores. O principal é relaxar, experimentando sensações e emoções. As técnicas podem ser orientadas com temas livres ou direcionadas. A aquarela trabalha o lado emocional, sendo que a criança confronta-se com suas qualidades e dificuldades. Desenho: Figura 9 - Desenho e colagem- tema livre (F. A.-7 anos). Figura 10 - Passeio na Pinacoteca, paciente cega observando obra de Tarsila do Amaral (L.A.- 16 anos). Atividades relacionadas aos sentimentos mais profundos. Os sentimentos e conflitos dos indivíduos são frequentemente expostos involuntariamente, ou seja, o inconsciente que fala por meio de imagens, principalmente por meio de desenhos. O desenho estimula a criatividade, pois requer a expressão de idéia, atenção, imaginação e concentração. Desenhar possibilita observar formas, linhas, cores, luzes e volume, sendo assim estimula a psicomotricidade e favorece o desenvolvimento da coordenação motora e espacial, podendo ser livre ou direcionado. 17 Desenhos com carvão desenvolvem a esfera cognitiva e a capacidade de abstração, ordenando os pensamentos. Expressam sentimentos e emoções (luz e sombra), alegria e tristeza. Existem aspectos grafomotores que devem ser analisados, pois quando uma criança pega um lápis para desenhar ou pintar a preensão e a pressão desse lápis revelará o tônus dessa criança, se é, estável, forte ou fraco, indicando insegurança, falta de coordenação,etc. Algumas crianças com disgrafia possuem desorganização no traçado com hipotonia. O desenho também pode revelar dificuldade intelectual, dificuldade de linguagem e pobreza cultural. “Um símbolo pode ser universal, mas seu significado é individual.” (DI LEO, 1991). Paralelo aos trabalhos artísticos o olhar pedagógico do professor está nos pequenos detalhes como no uso que a criança faz do lápis ou pincel (preensão), observando a capacidade de manuseá-los, pegá-los e soltá-los. É importante a estimulação sensorial para que a criança trabalhe as conexões com o cérebro. Durante os trabalhos observa-se também qual o tipo de dominância lateral e muitas vezes encontramos a destralidade ou sinistralidade falsas, pois a criança se encontra impossibilitada de usar a sua mão de lateralização inata devido aos procedimentos clínicos, como a punsão das veias naquela mão. Desta forma existe uma adaptação da criança para usar a outra mão criando formas alternativas para se lidar também com aquele problema Construção (maquetes): Figura 11- Atividade de socialização- Tema “Cidade de São Paulo”. 18 Trabalha com atos de montar e desmontar e equilibrar, a percepção e o despertar de valores, como noções de peso, tamanho, forma, posição e espaço. Construir significa: edificar, estruturar, organizar, elaborar, projetar o futuro, ex (maquetes). Trabalho com sucatas e recicláveis: Figura 12- Trabalho feito com garrafa pet. Favorece a construção investigadora de criar perante a idéia de propor um novo olhar diante do velho (sucatas). Essa atividade favorece o equilíbrio do bem estar devido ao resgate de algo que pode ser reconstruído e transformado e proporciona a auto-estima e a percepção de sua transformação interna. Trabalho com música: Figura 13- Cantor Marcello Mira (esq.) e professor Fábio (dir.) nas aulas de música. Encontros musicais onde os pacientes e acompanhantes se reúnem para relaxarem e aliviarem o estresse, possibilitando assim além do lazer, um reconhecimento de diferentes ritmos,apreciações musicais pertencentes ao contexto jovem, da comunidade e de outros meios culturais. 19 Durante os encontros o aluno/paciente descreve aquilo que ouve e sente (sentimentos e sensações) em relação às músicas e canções apreciadas. Constrói-se instrumentos musicais com sucatas explorando assim os diferentes sons. Teatro de fantoches Figura 14 - Fantoche Gioconda confeccionado para apresentação nas aulas de música e teatro, com pacientes e acompanhantes. Realizam-se pequenas peças de teatro com a participação dos professores para serem apresentadas nas festas. Improvisam –se cenas teatrais com os colegas a partir de estímulos variados (tais como, temas, sons, gestos, objetos), integrando-se com eles sabendo ouvir e esperar a hora de falar. As brincadeiras com fantoches e marionetes são importantes no sentido de brincar de ser outra pessoa e usar o corpo e a voz, observar e criar os gestos e diálogos. Trabalhar com fantoches e marionetes desperta a criatividade, amplia a imaginação, aperfeiçoa a concentração, trabalha a timidez, exercita a voz e suas entonações, valoriza o trabalho em grupo, desenvolve a coordenação motora e valoriza a educação ambiental com materiais de sucata. Benefícios percebidos As atividades artísticas auxiliam a criança a aceitar com mais naturalidade as situações indesejáveis adaptando-se às rotinas hospitalares, lembrando que a criança impossibilitada de brincar tem o seu desenvolvimento comprometido. A criança que desenvolve formas de se expressar está registrando a sua marca pessoal, o seu estilo e o seu modo de ser no mundo (Chiesa). A arteterapia possibilita à 20 criança reconhecer-se nas imagens produzidas na criação plástica que são os símbolos que retratam os conteúdos internos desconhecidos. Essa dinâmica se dá através do diálogo que existe entre inconsciente e consciente e esse processo proporciona a compreensão, expansão e integração das estruturas psíquicas. A relação da arte com o humano é capaz de possibilitar uma linguagem de abrir novos caminhos de comunicação entre o consciente e o inconsciente. Os benefícios percebidos são: • diminuição da dor e desconforto físico, • estímulo à imaginação e à criatividade, • promoção da socialização e integração com o ambiente externo • exteriorização de sentimentos de tensões e angústias, • preparação da criança e do acompanhante para uma situação adversa que poderá surgir, • possibilitar à criança e ao acompanhante uma sensação de liberdade no momento da criação, pois como foi falado no começo o paciente durante as sessões de quimioterapia ou radioterapia não pode interferir em quase nada e quando realiza e finaliza um trabalho artístico, promove um resgate de sua auto-estima, • e continuidade ao processo global da criança através da estimulação física, sensorial e social. Segundo LEVIN, 2000 observa-se num trabalho hospitalar interdisciplinar a importância da educação psicomotora junto às artes, auxiliando os pacientes que visivelmente estão carentes de movimento, de gestualidade, onde suas estruturas tônicas encontram-se quase sempre na defensiva, sem desejos de movimentos, de brincar, ou qualquer outra coisa. Seus corpos cansados abúlicos precisam de motivação. O processo de hospitalização causa sérias alterações e rupturas no relacionamento com a família, escola, amigos, impondo à criança um ambiente desconhecido, sem ludicidade e estímulos e permeado por normas e limites. Segundo VIEGAS ( 1999:101) “Cada criança internada deixa para trás o mundo das coisas comuns: os pais, a casa, os irmãos, os bichos de estimação, os brinquedos”. As mães participantes estão presentes, mas há angústia. Por isso normalmente as crianças hospitalizadas são muito tristes”. 21 Por tudo isso as aulas de arteterapia são feitas sempre com a participação de pacientes e acompanhantes, onde se podem notar a interação e integração entre todos os presentes. Figura 15 - Trabalhos realizados por pacientes e acompanhantes. O pedagogo observa as dificuldades físicas de seus alunos/pacientes, tendo a sensibilidade de trabalhar respeitando-se as limitações provenientes dos curativos, quimioterpia, punção das veias, etc. Através das artes e vivências, cada paciente pode livremente dialogar com sua obra: sofrer; sorrir; cantar, gritar, calar, aliviando assim de uma forma consciente ou inconsciente seu coração e sua mente, superando a dor física e moral que vêm muitas vezes mescladas com insegurança e incerteza do futuro. Essa catarse é necessária para que se dê andamento ao tratamento, pois do contrário a presença da equipe de psicólogos será uma constante. Muitas vezes ao se perguntar a um adolescente com câncer sobre sua vida, pode-se tirar a seguinte conclusão: Para ele o presente torna-se estático, o passado inaccessível e o futuro inimaginável. Essa fala deve ser considerada com muita sutileza, e através do resgate de sua autoestima este paciente poderá vislumbrar um futuro, bem como lhe reintegrar a um espaço de convívio social do qual ele foi abruptamente afastado. Esse raciocínio pode ser também evidenciado em MATOS e MUGGIATI (2001:39), que assim afirmam: “evidencia-se que a continuidade dos estudos incluindo as artes, paralelo à internação traz maior vigor às forças vitais do enfermo, como estímulo motivacional induzindo-o a se tornar mais participante e produtivo com vistas a uma efetiva recuperação”. Conclusão 22 Conclui-se que os hospitais não só podem como devem ser ambientes que apresentem estímulos para o aluno/paciente, implementando em sua prática diária, cuidados que vão além da doença. O objetivo principal é trabalhar com um vasto repertório de modalidades expressivas de materiais artísticos como instrumentos que auxiliam na educação, reeducação ou terapia psicomotora, possibilitando que o aluno/paciente se reconheça nas imagens e dialogue com sua produção, consciente ou inconscientemente. O educador deve entender que tudo que é positivo se edifica com maior facilidade dentro de cada um, portanto deve fornecer subsídios para que este aluno/paciente e seu acompanhante através das artes tenham a capacidade de mudar os pensamentos que permeiam a sua mente criando um sistema imunológico. Para isso é importante que no mapa amplo da vida desse aluno/paciente se crie estratégias para lidar melhor com a doença de uma forma positiva, comparando e ajudando os próprios colegas que se encontram na mesma situação. Essa forma positiva de enfrentar a vida com todos os percalços é o objetivo principal da psicomotricidade inserida no contexto da classe hospitalar que numa simples frase resume o seu pensamento: “Não podemos dirigir o vento, mas podemos regular as velas”. (Sêneca) REFERÊNCIAS AMARAL, D. P; SILVA, M.T.P. Formação e prática pedagógica em classes hospitalares: respeitando a cidadania de crianças e jovens enfermos. Disponível em http;//www.malhatlantica.pt/ecae-cm/Daniela.htm. Acesso: 9 mar 2007. ARRAZTOA, J. Câncer, diagnóstico y tratamiento. Chile: Editorial Mediterrâneo, 1997. p ARNHEIM, DUDOLF. Intuição e intelecto na Arte, 2º ed. São Paulo, Martins Fontes, 2004. ANTUNES, CELSO. A Construção do afeto. São Paulo: Augustus, 1999. 23 BILBAO, GUILIANA. Psicologia e Arte. São Paulo, Alínea, 2004. p 86. COSTALLAT, DALILA MOLINA de, 1992: Psicomotricidade: a coordenação visomotora e dinâmica manual da criança infradotada, método de avaliação e exercitação gradual básica. (capítulo IV). 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