Nº 32 2009 CADERNOS DISCENTES COPPEAD N° 32 2009 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO EDITORIAL Internacionalização como Estratégia Competitiva Henrique de Azevedo Avila O Uso de Networks no Processo de Internacionalização: Internacionalização: Aplicação a Pequenas e Médias Empresas Barbara Pagliari Levy Mariana Cantidio Mota Marta Barreto Wermelinger A relação entre as práticas de recursos humanos e a satisfação do consumidor Barbara Sá Marianna Freire Marina Pappone Marketing Marketing Boca a Boca e Lendas Urbanas Estudo de Caso: Beleza Natural Barbara Pagliari Levy Luis Carlos Costa Pinto Filho Nayara Nunes Ferreira Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 1-109 2009 7 27 51 73 Cadernos discentes COPPEAD/UFRJ/ Instituto COPPEAD de Administração. – n. 1, (2000) -- Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000 - Irregular ISSN 1983-3377 1. Administração – Periódicos. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. SUMÁRIO Editor Mauricio Mittelman Assistente do Editor Lucilia Silva Projeto Gráfico e Capa Raquele Mendes Coelho Editoração Lucilia Silva Revisão de português Argemiro Figueiredo Maria Emília Barcellos da Silva Correspondências devem ser enviadas para: para COPPEAD/UFRJ Cadernos Discentes COPPEAD Caixa Postal 68514 21941-972 – Rio de Janeiro – RJ Telefone: (21) 2598-9841 Fax: (21) 2598-9817 E-mail: [email protected] Direitos e Permissão de Utilização As matérias assinadas são de total e exclusiva responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados ao COPPEAD/UFRJ. É permitida a publicação de trechos e de artigos, com autorização prévia e identificação. . APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Os CADERNOS DISCENTES COPPEAD têm por objetivo divulgar a produção de alunos e ex-alunos latu sensu, de Mestrado e de Doutorado. Dentro de uma filosofia de integrar teoria e prática, é comum que os alunos sejam solicitados a realizar pesquisa e a escrever casos relativos aos conteúdos abordados nas diversas disciplinas. Produzem, assim, um material que, apesar de ter por objetivo primário a avaliação de desempenho, constitui, também, um esforço de investigação de alta qualidade. No entanto, nem todos os trabalhos e pesquisas apresentados nas disciplinas estão de acordo com as regras básicas e usuais de publicação de trabalho científico. A preocupação com essa questão fez com que o processo de seleção dos mesmos seguisse uma rígida metodologia. Em primeiro lugar, o professor de cada disciplina seleciona e indica aqueles trabalhos que considera terem sido os melhores da turma. O editor, por sua vez, analisa a adequação da inclusão em determinado volume. Embora não seja esse o objetivo principal dos Cadernos, alguns aprendizados adicionais estão presentes no processo. Primeiro, a compreensão, por parte dos alunos, de que a qualidade do trabalho por eles desenvolvido pode render frutos não pensados inicialmente. Segundo, o entendimento de que o mérito de ter o artigo publicado não se faz sem ônus, uma vez que podem ser necessárias algumas modificações, ou seja, faz parte do processo de aprendizado do aluno não apenas a geração de um trabalho de pesquisa em si mesmo, mas também a compreensão de que o reconhecimento decorre de um comprometimento com a excelência, necessariamente presente em todos os passos do caminho. Por fim, mas não com menor ênfase, entendemos que os artigos aqui publicados são de utilidade para as comunidades acadêmica e empresarial brasileiras. A maior parte dos trabalhos publicados diz respeito a situações de negócios relevantes para quem discute ou para quem aplica os conceitos de Administração. O Editor EDITORIAL A 32º edição dos Cadernos Discentes COPPEAD traz quatro trabalhos de qualidade que tratam de dois temas. Os dois primeiros trabalhos discutem o tema de internacionalização de empresas. O primeiro trabalho, “Internacionalização como Estratégia Competitiva”, sugere que a já consagrada teoria de estratégia que propõe que a empresa seja entendida em função dos seus recursos (em inglês esta teoria é conhecida para sigla RBV) seja, por valorizar a especificidade da empresa e a sua capacidade de interferir no ambiente, apropriada para estudar processos de internacionalização. O segundo trabalho, “O Uso de Networks no Processo de Internacionalização: Aplicação a Pequenas e Médias Empresas”, busca compreender como as networks podem auxiliar processos de internacionalização, examinado a literatura e casos onde PMEs usaram networks para se internacionalizar. Os dois últimos trabalhos discutem o tema de satisfação do consumidor. O terceiro trabalho, “A Relação entre as Práticas de Recursos Humanos e a Satisfação do Consumidor”, estuda o impacto de práticas de recursos humanos na satisfação e fidelização de clientes, examinando especificamente as práticas adotadas por uma empresa de transporte rodoviário de passageiros. O quarto trabalho, “Marketing Boca a Boca e Lendas Urbanas - Estudo de Caso: Beleza Natural” mostra a importância do marketing boca a boca para empresas de serviços, especialmente quando a empresa se torna tema de lendas urbanas, através do estudo da rede de salões de beleza “Beleza Natural”. Os leitores interessados em internacionalização de empresas e em satisfação do consumidor encontrarão nesta edição trabalhos que certamente lhes ajudarão a melhor compreender estes temas. Mauricio Mittelman INTERNACIONALIZAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA Henrique de Azevedo Avila RESUMO O presente ensaio tem como objetivo mostrar a aplicabilidade da RBV - visão da empresa baseada em recursos, aos processos de internacionalização. As duas teorias tradicionais de internacionalização, que se concentram ou em parâmetros econômicos ou em aspectos comportamentais, contêm elementos fundamentais para explicar processos de internacionalização. Contudo, vêm ocorrendo situações diversas, em que a decisão de internacionalizar segue outros princípios, vinculados à estratégia competitiva da firma. Consagrada com o artigo de Barney (1991), a RBV introduziu uma perspectiva diferente, em que as especificidades de cada empresa e a sua capacidade de interferir no ambiente são valorizadas. Desta forma, acredita-se que a RBV seja uma abordagem que responda melhor aos casos de internacionalização onde a decisão da empresa investidora é fruto de sua percepção sobre os recursos que precisa acessar e combinar para construir vantagens competitivas. Neste ensaio, realizou-se revisão de artigos que enfatizam a convergência dos conceitos da RBV com diferentes facetas dos negócios internacionais. A partir dos modelos apresentados, espera-se ampliar a compreensão dos movimentos que não se enquadram nas teorias de internacionalização tradicionais. Palavras-chave: negócios internacionais, visão baseada em recursos, recursos estratégicos, estratégias de internacionalização Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 7 1. INTRODUÇÃO Atualmente, com os acordos multilaterais e bilaterais de comércio e investimento, bem como com o progresso dos transportes e das telecomunicações, a velocidade com que os negócios podem ser realizados acelerou-se. Há padrões globais para bens de consumo e o ciclo de vida dos produtos encurtou-se; portanto, o ambiente internacional nunca apresentou condições tão favoráveis à internacionalização como agora. A internacionalização da economia, com a brutal simplificação dos procedimentos necessários à movimentação de capital, tornou muito mais simples a implantação e a compra de ativos no exterior, sejam autorizações, concessões e infra-estrutura básica para o desenvolvimento de projetos “greenfield”, sejam empresas em plena operação, que trazem “de bandeja”, como parte do “pacote”, canais de distribuição e carteiras de contratos. Destaque-se que as medidas de liberalização e desregulamentação trouxeram oportunidades de internacionalização para empresas de menor porte, com uma história completamente diferente da das líderes de seus países de origem. Nesse cenário, os casos de internacionalização vêm-se multiplicando em todos os mercados e, com frequência, repetem-se as experiências em que as empresas simplesmente aproveitam situações favoráveis. A busca por recursos não disponíveis no país de origem, que garantam maior competitividade, tem sido motivação comum para investimentos diretos no exterior e, muitas vezes, esses investimentos não estão vinculados às exportações da companhia. A ida para outros países pode ser consequência ainda de acordos de cooperação com grandes clientes, que decidem se internacionalizar ou simples oportunidade para desenvolver processo de aprendizagem. Dessa forma, além das tradicionais abordagens econômicas e comportamentais do processo de internacionalização, tem sido usual, na literatura, a inclusão de abordagens alternativas, entre outros aspectos, para melhor explicar casos mais recentes de investimentos externos, inclusive dos movimentos de empresas sediadas em países emergentes. Nesse sentido, uma terceira abordagem que se tem mostrado adequada ao cenário atual trata a internacionalização como uma decisão estratégica, seja a partir das propostas de Porter (1986, 1990), seja a partir da Visão Baseada em Recursos – RBV (Wernerfelt, 1984; Barney, 1991). A definição de estratégias competitivas, se coerente com as vantagens sustentáveis detidas pela empresa e consistente com o desenvolvimento de capacitações complementares, pode orientar a companhia a fazer os movimentos corretos no mercado mundial, tornando-se um competidor global. Não obstante, a observação das diferentes abordagens teóricas sobre internacionalização de empresas mostra que existem tratamentos Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 8 distintos quanto à aplicação, aos negócios internacionais, dos princípios que regem a formulação de estratégias competitivas sustentáveis. A RBV é uma das correntes mais adotadas na formulação de estratégias, ajudando os gestores a construir vantagens competitivas sustentáveis a partir da obtenção e desenvolvimento de recursos e capacitações que não possam ser conquistados e copiados facilmente pelos concorrentes. A sua aplicação aos processos de internacionalização merece aprofundamento pelo seu poder de modelar situações em que o ambiente é dinâmico, a competição é complexa, e as firmas mostram-se heterogêneas. Dada a diversidade de situações em que o mercado externo caracteriza uma opção estratégica da firma em busca de recursos e capacitações que ampliem a sua competitividade, acredita-se que a RBV deva ganhar especial destaque dentre as abordagens utilizadas para avaliar processos de internacionalização. Face ao exposto, o presente trabalho procura apresentar seus princípios básicos e indica artigos que já vêm utilizando essa perspectiva no tratamento de questões relativas aos negócios internacionais com o intuito de estimular a discussão do tema. 2. AS DUAS TEORIAS TRADICIONAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO Em geral, as teorias de internacionalização são classificadas em dois grandes grupos: (i) teorias econômicas, que justificam os investimentos no exterior como resultado de um processo racional de maximização de resultados; (ii) teorias comportamentais, que interpretam a decisão de investir em outros países como resultado de um conjunto de traços de personalidade, experiências e conhecimentos que formam o perfil de seus acionistas e dirigentes e, por extensão, da cultura organizacional. As teorias econômicas indicam que as empresas estão dispostas a investir em condições de produção que ofereçam retorno superior ao obtido em seu país de origem, em razão de oportunidades para utilização de vantagens competitivas e redução de custos. Essas teorias importam conceitos da Organização Industrial (Hymer, 1960) e enfatizam: (i) o ciclo de vida dos produtos no comércio internacional (Vernon, 1966); (ii) os custos de transação (Coase, 1937; Williamson, 1975); (iii) os custos de internalização (Buckley e Casson, 1976; Rugman, 1981). Cabe ressaltar o Paradigma Eclético de Dunning (1988, 2000, 2001), que se propõe a integrar esses estudos anteriores, sintetizando o padrão de produção internacional e as decisões de investimento externo a partir de vantagens de propriedade (O), localização (L) e internacionalização (I). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 9 As teorias comportamentais, originadas na Universidade de Uppsala (Johanson e Vahlne, 1977 e 1990), com o pano de fundo do movimento de internacionalização de empresas escandinavas, defendem que os investimentos externos tendem a seguir uma trajetória gradual, iniciando-se em localidades com características próximas às do país investidor, para somente, depois, se estenderem a regiões distintas. Essas teorias se baseiam na combinação dos conceitos de conhecimento e comprometimento, que se acumulam em uma espécie de círculo virtuoso, visto que a ampliação das operações internacionais trará maior conhecimento do mercado externo e estimularão as empresas a se comprometerem ainda mais com as suas atividades no exterior. Dentre as principais críticas às teorias econômicas, inclui-se o argumento de que sua visão é estática, ou seja, não considera os efeitos benéficos do processo de aprendizagem derivado dos próprios investimentos realizados no exterior, exatamente um dos pilares da abordagem comportamental. No tocante ao modelo de Uppsala, as críticas apontam que não se pode inferir um padrão de comportamento a partir de experiências de empresas escandinavas, visto que o processo gradual de internacionalização nem sempre se aplica a firmas com realidades distintas da daquela região. Nesse sentido, a trajetória de internacionalização de cada firma dependerá de fatores diversos, tais como sua origem, estrutura e especificidades de seu segmento de atuação (Andersen, 1993). Particularmente, o modelo de Uppsala não prevê os casos em que a internacionalização já faz parte da estratégia inicial das empresas, que assim já nascem globalizadas (Oviatt e McDougall, 1994). Essas empresas usualmente detêm recursos superiores, representados por conhecimentos específicos que as tornam rapidamente competitivas em nível internacional. 3. ABORDAGENS ALTERNATIVASPARA O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO Quando se apresentam as teorias de internacionalização empresarial, é comum se acrescentarem teorias alternativas às abordagens econômicas e comportamentais, na tentativa de explicar situações que fujam ao movimento de uma grande empresa, quando parte para o mercado externo, no intuito de reproduzir atividades já bem sucedidas tanto em seu mercado doméstico quanto nos casos em que os investimentos diretos no exterior ocorrem como uma etapa subsequente às exportações da companhia para o mesmo mercado. Na construção dessas vias alternativas, surgem dois conceitos cruciais para a gestão de negócios, “networks” e estratégia, que já figuram, no meio acadêmico, como âncoras de teorias próprias, pelo entendimento de que existe “algo mais” além das teorias tradicionais. Por vezes, a teoria de networks é apresentada como vertente da abordagem comportamental e, ao mesmo tempo, identificam-se fatores comuns entre as teorias Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 10 estratégicas e as abordagens econômicas, mas a situação mais comum na literatura recente é de que representem teorias à parte. A teoria de “networks” (Johanson e Mattsson, 1988) reflete um fenômeno contemporâneo no comércio internacional, pois tem sido cada vez mais frequente o desenvolvimento de alianças estratégicas, quando empresas de regiões distintas criam entre si relações de confiança e de cooperação. Para compartilhar conhecimentos e diluir riscos, alianças estratégicas podem ser extremamente interessantes ao se explorar, conjuntamente, recursos presentes em determinado território, criando-se, assim, vantagens competitivas mútuas. Ressalte-se que a cooperação entre empresas domésticas e estrangeiras é defendida tanto por Penrose (1959), considerada inspiradora da teoria comportamental, quanto por Dunning (2001), ícone da abordagem econômica. Paralelamente, a internacionalização de empresas pode ser interpretada como uma estratégia competitiva, visto que a presença da companhia no exterior amplia os seus horizontes, contribuindo não só para a firma alcançar novos consumidores, mas também permitindo acesso a recursos não disponíveis em seu país de origem. Quando a decisão de se internacionalizar provém de objetivos estratégicos definidos pela empresa, nem sempre seus investimentos externos estarão relacionados às atividades já desenvolvidas em seu país de origem ou a exportações para a região onde os investimentos são implantados. Sucede que, quando se fala em estratégia no contexto da internacionalização de empresas, reproduz-se a discussão marcante do pensamento estratégico entre a perspectiva baseada na indústria onde a firma opera e a perspectiva baseada nos seus recursos internos. Assim, recorre-se tanto ao modelo diamante de Porter (1989) como à visão baseada em recursos (RBV) para justificar a inserção de empresas no cenário internacional. 4. MICHAEL PORTER E AS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO Na construção da sua teoria sobre as estratégias competitivas, Porter (1986) adota, como unidade de análise, a indústria. Assim, para se tornar competitiva, a empresa precisa conhecer profundamente a indústria onde compete, notadamente como seus fornecedores, clientes e concorrentes atuam. Com uma percepção completa do comportamento desses atores, a empresa poderia escolher um posicionamento ideal dentro da sua indústria, optando entre estratégias de baixo custo, diferenciação ou enfoque. Porter (1989) acredita também que é fundamental a empresa investigar sua cadeia de valor para melhorar a coordenação entre suas diversas atividades e identificar os espaços para reduzir custos e criar diferenciação, inclusive com a transferência de parte das atividades para terceiros. As propostas de Porter para o posicionamento estratégico das empresas, à luz das características da indústria na qual se inserem, podem ser utilizadas também como Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 11 referência para analisar as suas estratégias de internacionalização. No âmbito internacional, Porter (1993) investigou por que empresas de determinados países se tornam multinacionais e procurou definir os fatores que as fazem competitivas internacionalmente. Sua teoria prevê que a companhia seguirá, no plano internacional, a estratégia competitiva definida em seu país de origem. Porter (1993) repetiu a idéia de apresentar seu “framework” na forma de um diamante, em que, em vez das cinco forças que determinam a competição na indústria, tem-se um conjunto de quatro determinantes nacionais que trazem vantagens ou desvantagens competitivas às nações: condições dos fatores, condições da demanda, estratégia, estrutura e rivalidade entre as empresas, e indústrias correlatas e de apoio. As condições dos fatores englobam os fatores clássicos de produção, tais como terra, recursos naturais, capital, mão-de-obra e infra-estrutura, além do o modo pelo qual cada país potencializa as suas vantagens a partir da disponibilidade desses fatores ou do desenvolvimento de alternativas para superar a sua ausência. As condições da demanda dizem respeito ao nível de exigência dos consumidores de um país e à forma como as empresas reagem às suas necessidades, preparando-se para atender tendências do mercado mundial. O determinante correspondente à estratégia, estrutura e rivalidade pressupõe que, quanto mais fortes forem as pressões competitivas impostas à empresa, mais estímulos ela terá para inovar e aprimorar seus produtos. O papel das indústrias correlatas e de apoio, por sua vez, será o de fortalecer a cadeia de valor oferecendo insumos, tecnologia e sistemas de distribuição com padrão de qualidade internacional. Porter também introduz em seu modelo dois importantes fatores complementares: o Governo, com seu poder de influenciar os quatro determinantes nacionais, e o Acaso, que responde por situações fora do controle das empresas, tais como mudanças tecnológicas e guerras. No modelo de Porter, os quatro determinantes interagem entre si, levando as nações a se especializarem em indústrias específicas, a partir das suas vantagens competitivas. Para Porter, a vantagem competitiva de um país cria um ambiente propício ao alcance de altos níveis de produtividade em determinados segmentos industriais, haja vista que nenhuma nação pode ser competitiva em tudo. As condições reinantes em seu país de origem determinam onde e como a firma terá mais chance de sucesso na competição global. Dessa forma, pela teoria de Porter, não haverá muitas oportunidades para empresas de países emergentes no mercado internacional, pois estão sediadas em regiões com condições competitivas pouco favoráveis. 5. OS PRIMÓRDIOS E OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA RESOURCERESOURCE-BASED VIEW (RBV) Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 12 A Visão Baseada em Recursos – RBV – foi consagrada com o artigo de Barney (1991). Apesar de o artigo de Barney ter sido essencial para o reconhecimento da RBV como teoria econômica, a perspectiva tem origem nos trabalhos de Penrose (1959) e Wernerfelt (1984). Em seu livro clássico, “The Theory of the Growth of the Firm”, Penrose (1959) introduziu uma nova forma de se entender o crescimento das empresas, nas quais os recursos figuram como o elemento central para o alcance de vantagens competitivas. Para Penrose, a firma deve ser vista como um conjunto de recursos (produtivos, financeiros, organizacionais e humanos), cuja utilização é definida por sua administração. Na lição de Penrose (1955), existem fatores externos e internos que facilitam ou limitam o crescimento da firma. Entre os fatores externos negativos, Penrose cita dificuldades para obtenção de capital e condições de demanda desfavoráveis. Entre os fatores externos positivos, Penrose inclui o crescimento econômico e mudanças tecnológicas impondo uma maior escala de produção. No tocante às questões internas da firma, Penrose aborda: (i) a necessidade de planejamento; (ii) a racionalidade na aquisição e utilização dos recursos; (iii) a disponibilidade de equipe gerencial eficiente; (v) a flexibilidade da produção. Quando Penrose (1956) aborda os investimentos externos, concentra suas atenções nas empresas multinacionais e nos seus efeitos para o Balanço de Pagamentos do país receptor, amparando-se, particularmente, no caso da subsidiária da General Motors na Austrália. Penrose esclarece que, quando a firma dispõe de recursos, pode mudar a amplitude e a natureza de sua linha de produtos, diversificando-se e expandindo-se em diferentes indústrias. Penrose ressalta, ainda, a importância de recursos técnicos e gerenciais para que a firma possa aproveitar as oportunidades oferecidas no exterior. Longo tempo depois, Wernerfelt (1984) consolida as idéias de Penrose em uma teoria para a formulação de estratégias, ao argumentar que a melhoria do desempenho das empresas é melhor explicada pela força de seus recursos do que pela sua posição de mercado. Wernerfelt reforça os preceitos de Penrose, mostrando que, em vez de ser vista como um grupo de produtos, a organização deverá ser percebida como um conjunto de recursos. Para Wernerfelt, as empresas se tornam mais competitivas que seus concorrentes à medida que conseguem acessar ou desenvolver recursos superiores aos que vigem no mercado. O curioso foi que, mais uma vez, muitos anos se passaram desde o trabalho de Wernerfelt até a publicação do artigo de Barney (1991), que, finalmente, tornou a teoria da RBV difundida mundialmente. De fato, somente em 1994 a importância do artigo de Wernerfelt (1984) foi reconhecida, com o prêmio de melhor artigo publicado no “Strategic Management Journal”, em anos anteriores a 1990 (Wernerfelt, 1995). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 13 Em contraposição à visão de Porter, Barney (1991) considera que a firma deva ser avaliada a partir das suas características individuais, ou seja, dos recursos de que dispõe. Dessa forma, é possível entender as diferenças de desempenho entre empresas de uma mesma indústria. Nesse sentido, os recursos deverão ser a base para a definição de estratégias competitivas sustentáveis, por levarem a estratégias mais eficientes do que as sustentadas nos fatores externos. Na literatura, há muitas classificações para os recursos de uma empresa (Wernerfelt, 1984; Barney, 1991; Fahy e Smithee, 1999). Por exemplo, os recursos podem ser subdivididos em físicos, humanos e organizacionais, ou em tangíveis, intangíveis e capacitações. Recursos tangíveis são os ativos físicos, tais como fábricas, equipamentos e estoques. Recursos intangíveis englobam marcas, patentes, relacionamentos e informações. Já as capacitações correspondem a processos organizacionais controlados pela firma, voltados à coordenação e à integração de conhecimentos e habilidades, utilizados na implantação de suas estratégias. Na abordagem de Barney (1991), o princípio é de que as firmas que compõem uma determinada indústria tenham recursos distintos, em função das suas diferentes trajetórias. Há heterogeneidade nos recursos detidos por cada empresa, o que faz com que seu desempenho organizacional seja diferenciado. Por outro lado, alguns recursos são imóveis, ou seja, não podem ser copiados por empresas concorrentes. Uma vez que uma companhia conte com recursos que não sejam facilmente imitáveis pelos concorrentes, passa a ter uma vantagem competitiva sustentável, pelo menos até o momento em que as empresas rivais consigam recursos equivalentes. Barney pondera que, para um recurso poder viabilizar uma vantagem competitiva sustentável, deve possuir as seguintes características: i) precisa ter valor, tornando possível o aproveitamento de oportunidades ou a neutralização de ameaças que surjam no ambiente da firma; ii) precisa ser raro entre as firmas concorrentes;( iii) deve ser de difícil imitação; iv) deve estar organizado para que possa ser explorado eficientemente. Constitui-se, assim, a estrutura analítica VRIO. Inicialmente, Barney (1991) tinha proposto o “framework” VRIN, em que o N significava dificuldade de se substituir o recurso, aspecto que, até certo ponto, se confunde com a dificuldade para imitá-lo. Assim, Barney (1995) decidiu incluir a variável organizacional O, pela importância da existência de condições organizacionais que permitam serem os recursos desenvolvidos e aperfeiçoados. Teece, Pisano e Shuen (1997) qualificam o conceito de capacitação dentro da formulação de estratégias, propondo a expressão “capacitações dinâmicas”, no intuito de passar a idéia de que a organização deve desenvolver habilidades capazes de renovar continuamente as suas competências, face às sucessivas mudanças do ambiente de negócios. Caberia às empresas adaptar, integrar e reconfigurar seus ativos internos e Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 14 externos, por meio de um processo de aprendizagem próprio. Os autores lembram que muitos produtos de alta qualidade acabam perdendo o seu valor de mercado por não serem atualizados tecnologicamente. Encontrando uma “fórmula” certa, a que os concorrentes não consigam imitar, a empresa poderia aproveitar oportunidades oferecidas no mercado global. Assim, a RBV conjugar-se-ia com a Teoria das Capacitações Dinâmicas, visto que os recursos detidos pela empresa, como equipamentos, tecnologia e habilidades profissionais, se associariam a capacitações distintivas, como processos de aprendizagem e experiências. Ressalte-se que a rede de relacionamentos entre empresas é um dos caminhos mais eficazes para se acelerar um processo de aprendizagem. 6. A CONVERGÊNCIA DOS CONCEITOS DA RBV COM AS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO A RBV tem sido aplicada, notadamente, como alternativa para a formulação de estratégias, quando a preocupação do gestor seja a criação de vantagens competitivas que se possam sustentar diante de reações e retaliações da concorrência. A utilização dos conceitos que constituem a RBV para explicar a internacionalização de empresas é uma frente teórica relativamente nova, que ainda apresenta espaço para diversas pesquisas, especialmente em um mundo onde os movimentos estratégicos se ampliaram, pela maior mobilidade de capitais entre os países. A aplicação da RBV ao contexto internacional sugere que a internacionalização pode ser vista como processo de desenvolvimento dos recursos da empresa, criando diferenciais competitivos que possibilitam à firma alcançar desempenho superior ao dos demais competidores. Na abordagem da RBV, a empresa sai para o mercado externo em busca de recursos específicos que, combinados às suas capacitações originais, possam ajudá-la a diferenciar seus produtos. Em tese, se é possível à empresa investidora acessar tais recursos, seus concorrentes poderão fazer o mesmo. Portanto, sendo os recursos escassos e difíceis de substituir, cabe à companhia um esforço especial para superar concorrentes que estejam seguindo o mesmo caminho. Os estudos acadêmicos que discorrem sobre teorias de internacionalização frequentemente dão destaque à escolha do modo de entrada no país estrangeiro. Erramilli e Rao (1990) apresentam uma hierarquia para os modos de entrada, que se expressa no volume de recursos requeridos e na especificidade dos mercados-alvo (Quadro 1). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 15 Quadro 1 - Nível de Envolvimento Associados aos Modos de Entrada MODO DE ENTRADA NO MERCADO EXTERNO Subsidiária integral instalada pela empresa investidora Subsidiária integral adquirida Joint-venture com participação majoritária VOLUME DE RECURSOS REQUERIDOS ESPECIFICIDADE NÍVEL DE DOS RECURSOS ENVOLVIMENTO NECESSÁRIOS Muito alto Alta 9 (maior) Alto Alta 8 Moderado a alto Alta 7 Jont-venture com controle compartilhado Moderado Alta 6 Joint-venture com participação minoritária Moderado Alta 5 Moderado Moderada 4 Baixo a moderado Baixa 3 Exportações Através de Agentes ou Distribuidores Baixo Baixa 2 Licenciamento ou Franquia Muito baixo Muito baixa 1 (menor) Escritório de comercialização no exterior Exportações Diretas para os clientes Fonte: Erramilli e Rao (1990) Segundo Andersen e Kheam (1998), a teoria RBV revela não apenas as possibilidades de crescimento da firma, mas oferece também explicações sobre a estratégia de diversificação da empresa. Acredita-se que a diversificação de uma companhia seja influenciada pela natureza dos recursos disponíveis e pelas oportunidades de mercado. Dessa forma, as firmas tendem a desenvolver novos produtos e a entrar em novos mercados em que os recursos requeridos sejam condizentes com as suas capacitações. Andersen e Kheam (1998) avaliam em que medida a perspectiva da RBV pode ser utilizada para identificar firmas que tenham ambições de crescimento no mercado internacional e suas estratégias de atuação no exterior. Com base em dados relativos a 697 pequenas e médias empresas exportadoras norueguesas, Andersen e Kheam (1998) verificaram que as firmas com propósito de crescer no mercado externo se depararam com condições de demanda positivas, mas rentabilidade um pouco baixa, nos três últimos anos, em seu principal mercado internacional. A questão dos recursos estratégicos também se mostra essencial na principal teoria econômica de internacionalização, o Paradigma Eclético de Dunning (2001): o fato de a empresa investidora deter recursos que signifiquem vantagens de propriedade, localização e internalização, é fundamental para o investimento ser bem sucedido. Assim, os recursos raros e difíceis de imitar constituirão a essência das vantagens de propriedade, e o acesso a Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 16 recursos que minimizem os custos de produção e comercialização traduzirão as vantagens de localização. Note-se que a decisão de operar em outros países já exige, na partida, que a empresa disponha de recursos estratégicos que possam lhe conferir vantagens competitivas necessárias ao enfrentamento da concorrência no mercado internacional. Dunning (2001) identifica que uma das principais razões para uma empresa se internacionalizar é a procura por recursos tais como recursos naturais ou mão-de-obra a custos mais baixos. Para Dunning (2000), a percepção de que as vantagens de propriedade podem ser constituídas a partir da posse de recursos e de capacitações singulares é uma contribuição da RBV às teorias de internacionalização. Nesse sentido, a estratégia de construir vantagens a partir do acesso a recursos e capacitações raros poderia levar à decisão de internacionalização, pois a empresa estaria preparada para atuar com destaque no mercado internacional. Segundo Dunning (2000), a RBV agregaria também um componente dinâmico ao conceito de vantagens específicas. Dunning (2003) ressalta a contribuição de Penrose aos estudos de negócios internacionais, uma vez que a teoria de que as firmas crescem pela obtenção de vantagens competitivas sustentáveis está diretamente relacionada à formação de grandes empresas multinacionais após a Segunda Guerra Mundial. Dunning (2003) lembra que Penrose é frequentemente enaltecida como a “mãe da teoria baseada em recursos”, posto que, para crescer e prosperar, as firmas devem reunir vantagens competitivas raras e sustentáveis, não disponíveis a seus concorrentes. Kor e Mahoney (2004) também atestam a relevância da obra de Penrose para a moderna RBV, haja vista a sua contribuição ao conectar o crescimento e a diversificação da firma à criação de vantagens competitivas. Fahy (1996) utiliza a RBV para discutir como empresas prestadoras de serviço podem obter vantagens competitivas sustentáveis. O autor entende que recursos internos e externos à empresa são determinantes do seu nível de desempenho. Fahy (1996) enfatiza as diferenças entre recursos específicos dos países e recursos específicos da firma, indicando que as subsidiárias podem utilizar recursos específicos da firma transferidos por sua controladora ou adquiri-los no país onde o investimento estiver sendo realizado (Figura 1). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 17 Figura 1 Modelo para Vantagem Competitiva em Negócios Internacionais Baseado em Recursos País Receptor Pa ís de Origem Recursos e Ca pa cita ções Específicos da Firma Recursos específicos de localizaçã o Escolhas Estra tégicas Desempenho Superior Meca nismos de Proteçã o Reinvestimento Fonte: Fahy (1996) Fahy e Smithee (1999) atestam que, dependendo da estratégia de internacionalização, a relevância dos recursos tangíveis e intangíveis, bem como das capacitações organizacionais, pode variar. Os autores sustentam que a RBV é um “framework” poderoso para se entender questões ligadas a marketing estratégico, tais como a análise estratégica, o posicionamento e a estratégia de marketing internacional. Fahy e Smithee (1999) propõem um modelo básico no qual revelam que os recursos-chave da firma, se trabalhados adequadamente por seu corpo gerencial, podem se transformar em vantagens competitivas e, consequentemente, levar a empresa a obter desempenho superior ao dos demais competidores (Figura 2). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 18 Figura 2 Modelo Baseado em Recursos para Vantagem Competitiva Sustentável RECURSOS-CHAVE Ativos Ativos Capacitações Tangíveis Intangíveis Valores Barreiras à Imitação Apropriabilidade ESCOLHAS ESTRATÉGICAS Identificação de Recursos Proteção e Desenvolvimento de Recursos Organização dos Recursos VANTAGEM COMPETITIVA SUSTENTÁVEL DESEMPENHO SUPERIOR Valor para os Clientes Desempenho de Mercado Desempenho Financeiro Fonte: Fahy e Smithee (1999) No caso das multinacionais, a sua competitividade deriva do fato de deterem vantagens específicas (Peng, 2001), construídas a partir de recursos e competências capazes de adicionar valor efetivo a seus produtos e serviços. Segundo Peng (2001), a aplicação dos conceitos básicos da teoria RBV ao estudo dos negócios internacionais temse estendido a quatro áreas: (i) gestão de multinacionais; (ii) alianças estratégicas; (iii) modos de entrada; (iv) empreendimentos internacionais. Na opinião de Peng (2001), a teoria RBV comporta desde estratégias globais de multinacionais até estratégias de empresas iniciantes em países emergentes, conforme indica a Figura 3 a seguir. A RBV identifica que conhecimento e experiência sobre o mercado internacional são valores únicos e difíceis de imitar, capazes de diferenciar vencedores e perdedores no cenário de competição global (Peng, 2001). Desde que prevaleceu a idéia de que os recursos detidos pela empresa eram determinantes para o seu bom desempenho, tornou-se necessário avaliar em que circunstâncias e de que forma esses recursos influenciavam a competitividade da firma. Há que se descobrir como gerar resultados a partir desses recursos, particularmente no caso de empresas com atuação global (Peng, 2001). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 19 Figura 3 A RBV na Pesquisa sobre Negócios Internacionais SOFISTICAÇÃO DAS OPERAÇÕES INTERNACIONAIS GESTÃO DE MULTINACIONAIS Maduras ALIANÇAS ESTRATÉGICAS Iniciantes EMPREENDIMENTOS INTERNACIONAIS Peqena MODOS DE ENTRADA Grande TAMANHO DA FIRMA Fonte: Peng (2001) Westhead, Wright e Ucbasaran (2001) investigam se as características pessoais do fundador da companhia encorajam a firma a se tornar exportadora e se a exportação permite que as firmas cresçam, melhorem o seu desempenho e tenham mais chance de sobreviver no mercado. Com base em 621 empresas pequenas e médias empresas localizadas em regiões distintas do Reino Unido, os autores verificam que as companhias com acionistas mais experientes, disponibilidade de recursos, informações de melhor qualidade, redes de relacionamento e conhecimento específico da indústria têm probabilidade muito maior de se tornarem exportadoras. Uma constatação interessante é a de que os recursos associados com a propensão a exportar e a expressividade das vendas externas não são exatamente os mesmos que afetam o crescimento, a rentabilidade financeira e a sobrevivência da empresa. Rhee e Cheng (2002) confirmam a ideia de que quando as empresas dispõem de recursos valiosos, tornam-se mais competitivas e preparadas para atuar no mercado internacional. Dessa forma, a internacionalização estará vinculada às estratégias da companhia, independentemente da distância psíquica em relação ao país receptor dos investimentos. A atratividade do país hospedeiro será decorrência das suas vantagens de localização, representadas pela demanda de seus consumidores e pelos recursos oferecidos à empresa investidora, tais como mão-de-obra e matérias-primas a custos favoráveis. Dhanaraj e Beamish (2003) discorrem sobre o relacionamento entre recursos, estratégias e desempenho no âmbito internacional. A partir de 157 empresas (87 canadenses e 70 norte-americanas), Dhanaraj e Beamish (2003) constroem um modelo causal, com origens na RBV, que conecta comportamento exportador com desempenho. Dhanaraj e Beamish (2003) utilizam o tamanho da firma, a sua capacidade empreendedora e o seu nível de intensidade tecnológica como elementos para influenciar o Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 20 seu grau de internacionalização e, consequentemente, o seu desempenho (Figura 4). O tamanho da firma será expresso pelo número de empregados e seu volume de vendas. A capacidade empreendedora compreende questões relativas à liderança, inovação e comprometimento. Já o nível de intensidade tecnológica relaciona-se às atividades de pesquisa e de desenvolvimento. Figura 4 Desempenho e Comportamento Exportador: um Modelo Causal TAMANHO DA FIRMA Intensidade Diversida de Vendas Emprega dos GRAU DE INTERNACIONALIZAÇÃO INTENSIDADE TECNOLÓGICA CAPACIDADE EMPREENDEDORA DESEMPENHO Pesquisa e Desenvolvimento Lidera nça Comprometimento Lucro Pa rticipação Inovação Crescimento Fonte: Dhanaraj e Beamish (2003) Sharma e Erramilli (2004) utilizam os conceitos da RBV para mostrar que o modo de entrada em um país estrangeiro depende dos recursos detidos pela empresa investidora e da sua habilidade para transferi-los a parceiros no exterior. Sharma e Erramilli (2004) lembram que o fato de a RBV enfatizar o caráter dinâmico da competição entre as empresas torna a teoria mais condizente com o ambiente competitivo atual. Baseados na teoria da firma e na RBV, Sharma e Erramilli (2004) propõem um arcabouço teórico que oferece novas explicações para a escolha dos modos de produção e comercialização no país receptor. O arcabouço de Sharma e Erramilli (2004) foi concebido com base em quatro grandes conceitos: probabilidade de a firma estabelecer vantagens comparativas nas operações de produção no país receptor, probabilidade de a firma estabelecer vantagens comparativas nas operações de comercialização no país receptor, habilidade de transferir recursos que gerem vantagens para parceiros no exterior em suas atividades de produção, e habilidade de transferir recursos que gerem vantagens para parceiros no exterior em suas atividades de comercialização. Sharma e Erramilli (2004) conectam esses conceitos às decisões de localização e à propriedade dos investimentos voltados ao mercado Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 21 internacional, além de apresentarem sete proposições para explicar diferentes modos de entrada, tais como exportações indiretas, exportações diretas via intermediários, exportações diretas via canais próprios, licenciamento, “joint-venture” para produção, “joint-venture” para comercialização e subsidiária integral (Quadro 2). Quadro 2 Indicação de Modos de Entrada pela RBV ATIVIDADES DE PRODUÇÃO ATIVIDADES DE COMERCIALIZAÇÃO Probabilidade de a firma estabelecer vantagens comparativas no país receptor Habilidade da firma para transferir recursos que gerem vantagens a parceiros no país receptor Baixa Não se aplica Baixa Não se aplica Baixa Não se aplica Alta Alta Baixa Não se aplica Alta Baixa Alta Alta Alta Alta Probabilidade de a firma Habilidade da firma para estabelecer vantagens transferir recursos que gerem comparativas no país vantagens a parceiros no país receptor receptor MODO DE ENTRADA INDICADO PELA RBV Não entrar Exportação indireta Exportação direta através de intermediários Exportação direta através de canais próprios Licenciamento ou Franquia Alta Alta Alta Baixa Joint- venture para produção Alta Baixa Alta Alta Joint- venture para comercialização Alta Baixa Alta Baixa Subsidiária integral Fonte: Sharma e Erramilli (2004) Cuervo-Cazurra (2004, 2007) tem utilizado a RBV para mostrar as dificuldades que as empresas enfrentam em seu processo de internacionalização. Cuervo-Cazurra (2004) cita três tipos de dificuldades vinculadas aos recursos existentes na empresa, quando da sua transferência ao exterior, e três outros tipos de dificuldades associadas à carência de recursos. Na mesma linha de pesquisa, Cuervo-Cazurra, Maloney e Manrakhan (2007) analisam as causas das dificuldades observadas quando a companhia busca novos mercados no exterior e aprofundam a discussão de como a firma pode solucioná-las. Apoiando-se na RBV, os autores constatam que, muitas vezes, o impacto das dificuldades se manifesta na redução das receitas da subsidiária, e não apenas no acréscimo de seus custos. O artigo dedica especial atenção aos problemas decorrentes da ausência de recursos e mostra que vantagens no país de origem podem-se transformar em desvantagens no país receptor, quando os recursos são transferidos. 7. CONCLUSÃO No âmbito acadêmico, o processo de internacionalização de empresas tem sido objeto de centenas de estudos teóricos e empíricos, porém não há uma teoria única que consiga explicar todos os casos de internacionalização. Qualquer teoria apresenta Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 22 limitações e, por maior que seja o seu grau de flexibilidade, não terá poder para responder a todas as situações. Com uma visão mais conservadora, algumas teorias convergem para o entendimento de que o processo segue estágios sequenciais. No entanto, com uma visão mais pragmática e mais voltada a experiências recentes, outras teorias mostram que a internacionalização não necessariamente obedece a um processo evolutivo. Na realidade, ao longo da sua trajetória de internacionalização, uma mesma empresa pode apresentar aspectos que se encaixam em distintas teorias, de tal sorte que, ao explicar aquele caso específico, faça sentido considerarem-se diferentes teorias em conjunto. Nesse sentido, as tradicionais abordagens econômicas e comportamentais parecem não conseguir mais explicar todos os processos de internacionalização de empresas. Grande parte dos estudos realizados até os anos 90 voltou-se à internacionalização de firmas de maior porte, oriundas de países desenvolvidos. Com a diversidade dos casos de internacionalização, sejam empresas menores com alta densidade tecnológica, sejam companhias sediadas em países emergentes capazes de se tornarem superiores aos líderes mundiais, há um esforço na literatura para identificar outras teorias que consigam captar elementos não presentes nas abordagens tradicionais. Dentre as abordagens alternativas, a teoria de networks e a teoria da RBV parecem mais próximas a movimentos recentes de internacionalização, caracterizados por uma ousadia muito maior em termos de investimentos diretos em países distintos, na busca de recursos diferenciados, onde exatamente a formação de alianças estratégicas tem sido um importante facilitador. O presente trabalho revela a convergência dos conceitos da RBV com as estratégias de internacionalização, mostrando diversos artigos que já têm sido publicados sobre o assunto, desde os anos 90. Todavia, acredita-se que haja ainda amplo espaço para a criação de novos modelos, a partir dessas teorias, com o objetivo de captar a racionalidade de decisões de investimento no exterior, cada vez mais surpreendentes. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSEN, O. On the internationalization process of firms: a critical analysis. Journal of International Business Studies, Studies v. 24, n. 2, p. 209-231, 1993. ANDERSEN, O.; KHEAM, L. S. 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Even though they have noteworthy elements to describe internationalization phenomena, we have seen several examples where the internationalization has been associated with other principles, closely related to firm’s competitive strategy. Since the publication of Barney’s article (1991), the RBV has been recognized as a useful perspective for strategic management research, where the firm internal characteristics and its ability to mobilize environmental factors are highlighted. Therefore, it seems that the RBV is an approach that better explains internationalization experiences where the foreign investment decisions depend on the core resources the firm is able to develop and combine to build competitive advantages. This article is helpful in establishing the extent to which the RBV principles can be applied to the international business research. Based on the review of the existing literature, we intend to improve the understanding of the internationalization process that does not fit well with conventional theories. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 7-26 2009 26 O USO DE NETWORKS NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO: APLICAÇÃO A PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Barbara Pagliari Levy Mariana Cantidio Mota Marta Barreto Wermelinger RESUMO Teóricos, como Coviello e Munro (1995, 1997), Ghemawat e Ghadar (2000) e Cruz-Carreon (2007), defendem que está aumentando a visibilidade e a importância dada às pequenas e médias empresas (PMEs). Alguns autores argumentam, inclusive, que o crescimento das PMEs é reconhecido como fator crucial para o desenvolvimento econômico de uma nação. O objetivo deste trabalho é o de compreender como as networks podem auxiliar a internacionalização das PMEs. Este estudo realiza uma abordagem teórica da teoria de networks, analisando os cenários de aplicação, as suas vantagens e desvantagens e casos publicados que auxiliam a compreensão das implicações daí decorrentes. Foram encontrados indícios de uso de networks pelas PMEs para a sua internacionalização. Observa-se ainda a relevância do papel dos gestores nas decisões de expansão internacional e na formação das networks. Por fim, conclui-se que esse recurso vem-se demonstrando cada vez mais valioso para as PMEs. Palavras-chave:: internacionalização, networks, pequenas e médias empresas Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 27 91 1. INTRODUÇÃO Há uma tendência, na Economia, de se valorizarem as empresas grandes e dizer que elas contribuem para a força econômica de um país. As pequenas e médias empresas (PMEs), neste caso, acabavam tendo a sua importância diminuída e sendo marginalizadas naqueles espaços do mercado ou interstícios da Economia, deixados livres pelas empresas maiores por serem menos lucrativos. Segundo Penrose (1980), o número de pequenas e médias empresas, ao longo dos últimos séculos, tem-se mantido relativamente estável. Entretanto, teóricos, como Coviello e Munro (1995, 1997), Ghemawat e Ghadar (2000) e Cruz-Carreon (2007), ressaltam estar havendo um aumento na visibilidade e na importância dada a esse tipo de empresas nas últimas duas décadas do século XX e no início do século XXI. Coviello e Munro (1995) argumentam ainda que o crescimento das pequenas e médias empresas é reconhecido como fator crucial para o desenvolvimento econômico de uma nação. Ao falar sobre o potencial do poder econômico das PMEs, Cruz-Carreon (2007) mostra que, em 2003, 99,8% dos empreendimentos da União Européia eram relativos a pequenas e médias empresas. No Brasil, a situação não é diferente: de acordo com o IBGE, existem 14,8 milhões de micro e pequenas empresas – 4,5 milhões formais – e 10,3 milhões informais, que respondem por 28,7 milhões de empregos e por 99,2% dos negócios do País (SEBRAE, 2008). Além dessa questão relativa ao crescimento da importância e da visibilidade das PMEs, observa-se ainda um acréscimo do envolvimento dessas empresas nos negócios internacionais. No Brasil, segundo fontes governamentais, a média anual de 9,1% de crescimento das exportações brasileiras, em grande parte, pode ser atribuída às ações de 10 mil micro, pequenas e médias empresas brasileiras exportadoras (MELO, 2008). Na contramão desta declaração, estão as informações coletadas por Bonelli (2006), referentes ao final da década de 90 e ao início da década seguinte, indicando que grande parte do aumento do valor exportado no período foi devido às grandes empresas exportadoras que já atuavam neste mercado, não a empresas que, então, iniciavam suas exportações. Guimarães (2002) também afirma que as PMEs têm tido pouca participação relativa no aumento das exportações brasileiras, estando primordialmente orientadas ao mercado interno, com volumes menores de produção. Conforme a indústria e o mercado em que as PMEs atuam, assim como as características específicas destas empresas, a internacionalização pode ser uma forma de ganhar competitividade. Cruz-Carreon (2007) sugere que, frequentemente, estas empresas têm concorrido no mesmo mercado em que atuam empresas grandes e, muitas vezes, multinacionais. Dessa forma, para sobreviverem, elas precisam tornar-se competitivas globalmente, independentemente de atuarem de forma direta ou indireta em mercados internacionais. Para algumas PMEs, pode ser que a competição global não seja uma Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 28 91 opção, mas uma necessidade econômica para promover a sua autossustentação (FLECK, 2006). Coviello e Munro (1995) e Coviello (2006) ressaltam a necessidade da expansão internacional como forma de crescimento das PMEs, dado que essas empresas podem atuar em nichos ou em mercados domésticos pequenos e limitados. Portanto, fazem-se necessários aqui alguns questionamentos relevantes para o problema de pesquisa deste artigo, tais como dadas as dificuldades e barreiras inerentes à internacionalização de empresas, por que as PMEs se interessam por este processo? Como elas conseguem desenvolvê-lo, tendo em vista as suas restrições de acesso a recursos gerenciais e financeiros? Nesse caso, o interesse volta-se para a questão de como ocorre o processo de internacionalização de pequenas e médias empresas, no Brasil, em especial, e demais países da América Latina, região que possui, ao mesmo tempo, oportunidades de expansão e dificuldades sociais, financeiras, gerenciais e políticas. Alguns estudos demonstram que a abordagem tradicional de internacionalização gradual nem sempre é adequada para as pequenas e médias empresas (por exemplo: COVIELLO e MUNRO, 1995; COVIELLO e MCAULEY, 1999, REZENDE, 2002; COVIELLO, 2006) e sugerem que a teoria de Networks seja mais útil para entender o processo de internacionalização dessas empresas. Em estudos de casos, por exemplo, vê-se que as redes de relacionamentos oferecem a essas empresas oportunidades e potenciais parceiros para a entrada em mercados externos, motivando e dando forma ao seu processo de internacionalização (COVIELLO e MCAULEY, 1999; COVIELLO, 2006). Ressalta-se ainda que a literatura atual sobre o papel das networks no crescimento e na internacionalização de mercados tem analisado esse processo sob o ponto de vista das empresas focais, isto é, aquelas que coordenam e orientam as ações em uma network estruturada, e não sob o ponto de vista das pequenas e médias empresas que, em geral, não ocupam esse papel em uma rede desse tipo (COVIELLO, 2006). Ademais, nota-se nos últimos anos uma crescente atividade de internacionalização de empresas tanto na América Latina quanto no Caribe e, em especial, de investimentos provenientes de empresas brasileiras; entretanto, evidencia-se que esse processo tem sido liderado por poucas e grandes empresas por meio de fusões, aquisições ou investimento externo direto – IDE (CEPAL, 2008). Portanto, a questão central a ser respondida pelo presente artigo é a de como as pequenas e médias empresas utilizam networks em sua estratégia de entrada no mercado internacional. Além do mais, em termos empíricos, o objetivo deste artigo é o de analisar e o de compreender o uso de networks no processo de internacionalização de PMEs latinoamericanas, lançando especial atenção para a) os tipos mais frequentes de networks utilizadas pelas empresas; b) as motivações para a utilização dessa estratégia e c) as vantagens e as desvantagens encontradas pelas empresas nesse processo. Para tanto, realizou-se uma revisão da literatura publicada sobre o assunto, de onde foram extraídos os Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 29 91 casos de PMEs originárias da América Latina que tenham utilizado networks em seu processo de internacionalização. Após esta introdução, que ilumina o contexto sobre o qual se discutirá no presente trabalho, apresenta-se, na segunda seção, uma revisão da literatura com foco especial sobre PMEs e seu processo de internacionalização mediante o uso de networks; em seguida, na terceira seção, discutem-se a aplicabilidade prática e as implicações gerenciais; e, finalmente, são expostas algumas considerações finais sobre este assunto. 2. REVISÃO REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Conceituação de Networks A literatura sobre o processo de internacionalização de empresas pode ser dividida em três grandes correntes de pesquisas: escolas econômicas, comportamentais e estratégicas (COVIELLO e MCAULEY, 1999). As teorias comportamentais, como o Modelo de Internacionalização de Uppsala, Teoria de Networks, Born Globals e Empreendedorismo Internacional contribuíram para a análise deste processo na medida em que aliaram indicadores puramente econômicos a aspectos relacionados à teoria do comportamento organizacional (HILAL e HEMAIS, 2003). Após o desenvolvimento do modelo de Uppsala, a teoria de Networks também contribui para uma análise mais rica do processo de internacionalização por ter reconhecido que decisões empresariais são influenciadas pelo contexto sócio-culturaleconômico em que a empresa se encontre e, principalmente, pelos relacionamentos que ali são estabelecidos. Apesar de ser um tema relativamente novo na literatura, as networks vêm sendo utilizadas há muito tempo, possivelmente desde o surgimento das organizações (GHAURI et al., 2003). Em especial em alguns países com culturas mais relacionais, como é o caso, por exemplo, do Brasil e da Argentina, entre outros, as negociações são realizadas com base nos relacionamentos, e constituem um ponto de início para abertura de negócios, fechamento de contratos, estabelecimentos de parceria, entre outras negociações. A teoria de Networks tem sua origem no Paradigma da Interação, resultado de pesquisas do Industrial Marketing and Purchasing Group, IMP (IMP GROUP, 2006). Formado em meados da década de 70 por pesquisadores de universidades em diferentes países (França, Alemanha, Itália, Suécia e Inglaterra), alguns deles ligados à Universidade de Uppsala (Suécia), esse grupo focava seus estudos nos relacionamentos e interações entre empresas e acreditava que haveria outros fatores determinantes na escolha de um fornecedor por um cliente, além do custo de transação (CUNNINGHAM, 1985). Dessa Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 30 91 forma, eles pesquisaram sistemas de distribuição, processo de internacionalização de firmas industriais, de compras e as estratégias de marketing como interações entre firmas, e concluíram que outro fator determinante neste tipo de escolha relaciona-se aos complexos relacionamentos que são estabelecidos entre os atores do mercado e que tendem a ser de longo prazo, estáveis e dinâmicos simultaneamente (CUNNINGHAM, 1985; JOHANSON e MATTSON, 1988; COVIELLO, 2006). Ao acreditar na estabilidade de estruturas de mercado e na interdependência entre compradores e vendedores, o grupo sugeriu que havia uma inter-relação entre as estratégias de marketing e de compras. Para entender esta questão, investigou-se como fornecedores e clientes lidavam com relacionamentos nacionais versus internacionais, os fatores que influenciavam no estabelecimento, no desenvolvimento e na manutenção destes relacionamentos dentro e entre as fronteiras nacionais e, ainda, pesquisou-se como atitudes e experiência afetavam o comportamento da interação (CUNNINGHAM, 1985). Dessa forma, em meados da década de 80, surgiu a base para uma teoria sobre as redes de relacionamentos e de interações entre organizações e mercados industriais – a Teoria de Networks. Uma network é constituída por vasto número de links e conexões que existem entre organizações que participam direta ou indiretamente de um mercado, tais como clientes, fornecedores, distribuidores, fornecedores complementares, entre outros (CUNNINGHAM, 1985). Entre esses atores ocorrem interações que formarão relacionamentos duradouros criados, desenvolvidos, mantidos e rompidos dentro da network. A network pode ser constituída por pequenos grupos de empresas e até mercados inteiros, que serão descritos como complexas redes de relacionamentos entre firmas (JOHANSON e MATTSON, 1988). Uma questão explicitada por estes autores é a de que firmas individuais são dependentes de recursos controlados por outras firmas. Logo, para conseguir realizar as suas atividades, as empresas precisam interagir entre si, realizar trocas de mercadorias, de canais de distribuição, de conhecimento explícito ou tácito e, ainda, trocas sociais (JOHANSON e MATTSON, 1988; CUNNINGHAM, 1985). Para isso, torna-se necessária a construção de uma base de conhecimento e confiança mútuos (BARNIR e SMITH, 2002) que ocorre de forma gradual e cumulativa. Dessa forma, costuma-se falar em investimentos em networks ou nos relacionamentos entre firmas (JOHANSON e MATTSON, 1988; MATTSSON, 1989), pois o tipo de contato de uma network demanda tempo e dedicação para ser estabelecido. O modelo de Network proposto por Johanson e Mattson (1988) sugere que as atividades de uma empresa são processos cumulativos pelos quais os relacionamentos são estabelecidos, mantidos, desenvolvidos ou rompidos. As empresas possuem uma posição em determinada rede de relacionamentos, que pode mudar ao longo do tempo (evoluir ou involuir). Esta posição caracteriza o papel que a firma desempenha na network, bem como a quais recursos ela terá acesso (JOHANSON e MATTSON, 1988; MATTSSON, 1989). Dessa forma, estabelece-se uma correlação entre posição da empresa, possibilidades e Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 31 91 restrições estratégicas para seu desenvolvimento futuro, nomeado por alguns teóricos como path dependence (PENROSE, 1980; BURLAMAQUI e PROENÇA, 2003). À medida que as empresas mudam de posição na rede, a network muda. Logo, ela é, simultaneamente, estável e dinâmica (JOHANSON e MATTSON, 1988). Também conhecida como teoria de redes industriais (REZENDE, 2002), a teoria de Networks “é considerada uma evolução natural do pensamento da escola nórdica” (HILAL e HEMAIS, 2003, p.113). Em vez de se ater a questões econômicas ou à distância psíquica, essa linha de pensamento utiliza os relacionamentos empresariais, sociais e pessoais de uma empresa e de seus executivos com outros atores do mercado e das indústrias em que atua para explicar o seu processo de internacionalização. A empresa opera em um contexto social (BARNIR e SMITH, 2002), de relacionamentos interorganizacionais e interpessoais (COVIELLO e MUNRO, 1995). Como atividades econômicas não podem ser analisadas sem a consideração do contexto social em que ocorrem, segundo a embeddedness theory (BARNIR e SMITH, 2002), para uma melhor compreensão da conduta e da performance de uma dada empresa, faz-se necessário o entendimento do seu ambiente e de seus relacionamentos (CHETTY e HOLM, 2000; COVIELLO, 2006). O comportamento e as decisões das empresas são influenciados pelos membros da rede de relacionamento (JOHANSON e MATTSSON, 1988; COVIELLO e MCAULEY, 1999); a natureza desses relacionamentos influencia e, muitas vezes, dita as opções estratégicas futuras (COVIELLO, 2006). Consequentemente, o sucesso de cada empresa é o resultado do comportamento de todas as firmas da rede e da sua competência de estabelecer uma posição na rede de forma vantajosa (BARNIR e SMITH, 2002). Dada essa interdependência entre os atores e a influência de um ator sob a decisão de outros atores, a teoria de Networks consegue explicar alguns processos de empresas que não se enquadram estritamente no modelo de Uppsala, principalmente no caso das pequenas e médias empresas, cujo desenvolvimento e crescimento tende a ser dependente de recursos externos e de relacionamentos com outros atores (COVIELLO, 2006). A entrada rápida e não relacionada de PMEs em alguns mercados externos, contrariando o modelo nórdico tradicional, pode gerar a impressão de ausência de racionalidade por parte da empresa, entretanto torna-se compreensível quando analisado à luz da rede de relacionamentos estabelecida. A dispersão das atividades é resposta às oportunidades que emergiram das networks nas quais a empresa está inserida (COVIELLO e MUNRO, 1995), pois os relacionamentos em um mercado podem servir de “ponte” para a entrada em novos mercados ou novas networks (HILAL e HEMAIS, 2003). Portanto, Johanson e Mattsson (1988) sugerem que, no processo de internacionalização, os relacionamentos de uma empresa, dentro dos mercados em que ela atuar, podem ter uma relevância maior do que os fatores culturais ou característicos do mercado do novo ambiente competitivo. Percebe-se, dessa forma, a influência das redes de relacionamento nas decisões sobre a forma de entrada e em quais novos mercados entrar Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 32 91 (COVIELLO, 2006). Para Coviello e McAuley (1999), essa teoria fornece insights valiosos para a dinâmica do processo de internacionalização, mais do que o faria uma simples descrição das etapas do processo, pois a visão relacionada a networks está ligada às direções estratégicas e às ações de como a empresa faz os seus negócios na realidade. Johanson e Vahlne (1990) explicam que as interações entre atores, mais do que o processo de decisão estratégica dão forma às estruturas da network. Uma network pode ser composta por diferentes nets, e empresas podem participar de mais de uma network ao mesmo tempo (JOHANSON e MATTSON, 1988). As redes podem ser bastante diferentes em termos das características dos relacionamentos entre as empresas (MATTSSON, 1989) e há uma grande diversidade de tipos e nomenclaturas para diferentes networks: constelações competitivas, foreign network relationships, egocentered networks, national net, production networks, entre muitos outros termos (Barnir e Smith, 2002; Prasantham, 2004). Em geral, uma network pode ser caracterizada por sua estrutura (formal ou informal), pela força e frequência das suas interações (firmes e frequentes ou frouxas e infrequentes) e pelo tipo de relação que estabelece. Nas networks estruturadas e com laços fortes entre as empresas, há uma definição das posições de cada empresa e uma clara divisão do trabalho entre elas. Logo, a interdependência é alta entre os membros (JOHANSON e MATTSSON, 1988). Já nas networks pouco estruturadas e com ligações fracas entre as empresas, há baixo grau de interdependência entre as firmas, papéis pouco claros quanto a funções a serem por elas desempenhadas. Não há uma estrutura ótima de redes de relacionamento. Enquanto laços fortes permitem a troca de informações refinadas, de conhecimento tácito, governança baseada em confiança e resolução de problemas de forma conjunta, contribuindo, assim, para economia de tempo das empresas que se relacionam, laços fracos permitem o acesso a novas informações e a novos contatos de negócios, pois, em geral, essas networks são compostas por pessoas que trabalham em contextos diferentes, aumentando a diversidade e as oportunidades de conhecer novas pessoas (ELFRING e HULSINK, 2003). Vê-se, dessa forma, que ambas as configurações possuem benefícios para situações ou objetivos diferentes; logo, sugere-se que o ideal é que haja um mix entre essas estruturas nas networks de uma firma (ELFRING e HULSINK, 2003). Há, ainda, autores que caracterizam essas duas formas de networks como estruturadas formalmente e desenvolvidas organicamente (CHETTY e HOLM, 2000). Na primeira, costuma-se observar a liderança de uma empresa, a empresa focal dentro da network, passando a coordenar as atividades da rede (COVIELLO, 2006). Outra distinção é realizada entre networks horizontais e verticais (GHAURI et al, 2003). A primeira situação é a da cooperação entre empresas numa cadeia horizontal com o objetivo de resolver um problema comum: melhorar a eficiência produtiva, aproveitar uma oportunidade de mercado através da mobilização e compartilhamento dos recursos, entre outras atividades. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 33 91 Um exemplo muito frequente dessa situação, no caso de pequenas e médias empresas, é o compartilhamento de frete e de containers para exportação (GHAURI et al, 2003); já na segunda situação, também são relacionamentos cooperativos entre clientes, fornecedores e produtores, isto é, no transcurso de uma cadeia produtiva. Esta é uma forma de agregar valor ao produto ao longo da cadeia e de dividir lucros e riscos com os parceiros ao longo do canal de produção e distribuição. No tocante ao tipo de relacionamento estabelecido entre os atores da network, há as redes de relacionamento pessoais (personal network – ELFRING e HULSINK, 2003), sociais (social network – CHETTY e HOLM, 2000) e de negócios ou empresariais (business network – CHETTY e HOLM, 2000; market network – JOHANSON e MATTSON, 1988). No primeiro caso, encontram-se as relações familiares e as com os amigos íntimos; no segundo, estão as relações e contatos estabelecidos pelos gestores com outras pessoas da sociedade (BARNIR e SMITH, 2002), enquanto, no terceiro caso, são as relações entre empresas conectadas comercialmente de forma direta ou indireta, mas informalmente. Logo esse relacionamento do tipo business network é oposto àqueles estabelecidos entre grupos formais de cooperação ou associações para a promoção da exportação, por exemplo (CHETTY e HOLM, 2000). Johanson e Mattsson (1988) sugerem que, conforme as firmas se internacionalizam, o número e a força dos relacionamentos entre os diferentes atores em uma business network aumentam. Por isso, esses autores desenvolveram um modelo que sugere quatro formas diferentes por meio das quais as empresas se internacionalizam: a “early starter”, a “late starter”, a “lonely international” e a “international among the others”. No caso das pequenas e médias empresas, nota-se a utilização de alguns tipos de networks com freqüência, como “joint action group”, “hard business network” e “industry cluster” (COVIELLO e MCAULEY, 1999). No primeiro caso, empresas de uma mesma indústria cooperam umas com as outras em mercados de exportação; no segundo, empresas de indústrias similares ou diferentes combinam seus recursos para alcançar resultados que não serão atingidos de forma individual; no terceiro, são firmas similares ou relacionadas que se estabelecem fisicamente em uma mesma área geográfica para atingir sinergias. No Brasil, pode-se citar como exemplos dessas redes de relacionamento, a parceria Sadia e Perdigão no início deste século (“joint action group”); a cooperação entre empresas exportadoras de Caxias do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, na década de 1970 (“hard business network”) e o cluster moveleiro de São Bento do Sul, no Estado de Santa Catarina (“industry cluster”). 2.2 Importância das Networks para a Internacionalização de PMEs A análise da utilização das networks nos negócios é um tema relativamente novo na literatura e, como mencionado anteriormente, ainda vem sendo pouco estudado à luz das pequenas e médias empresas. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 34 91 Antes de serem discutidos os benefícios proporcionados pelas networks no processo de internacionalização deste tipo de empresa, cabe ressaltar as razões pelas quais este processo, já imbuído naturalmente de dificuldades e de barreiras para qualquer empresa, torna-se ainda mais complexo e desafiante para as PMEs na América Latina. Alguns autores, como Yang (1992), relatam que comumente há uma organização deficiente dos departamentos de exportação e uma falta de pessoas competentes na administração destes departamentos. Soma-se a isso o volume insuficiente de informações sobre os mercados nos quais as empresas estão entrando; portanto algumas das barreiras internas à expansão internacional são a insuficiência de recursos administrativos, gerenciais e financeiros (PENROSE, 1980). Para pequenas e médias empresas, estas dificuldades são ainda mais evidentes, dadas a sua maior restrição de recursos e menor grau de especialização das atividades. As barreiras externas são relacionadas a desafios na indústria e ao macro ambiente. Inúmeros autores, entre eles Porter (1980), ressaltam a importância da indústria nas decisões estratégicas gerenciais, tendo em vista que boa parte das ações organizacionais pode ser considerada como resposta às determinações do ambiente. Aspectos como a ausência de legislação regulamentadora para as relações internacionais, os problemas diplomáticos entre duas nações ou as fracas vantagens de país podem prejudicar imensamente a entrada das empresas em outros países. Outros desafios externos, como o da existência de uma tecnologia adequada e um preço competitivo de toda a indústria nacional, importantes fatores para a determinação da estratégia de marketing do país ou da network também restringem e limitam a atuação das PMEs. Essas exigências, se não forem solucionadas de forma adequada, podem se tornar barreiras de entrada em outros países. Pode-se perceber, portanto, que os desafios e as barreiras para a internacionalização se maximizam quando se trata de pequenas e médias empresas. Para superar ou minimizar esses desafios, várias delas têm utilizado de forma deliberada ou fortuita as suas networks. Dado que essas empresas têm maiores restrições de acesso a recursos (humanos, financeiros, de sistemas de informação, entre outros) em relação às empresas maiores, torna-se mais fácil entender a razão pela qual as PMEs utilizam essas redes de relacionamentos para realizar a sua expansão internacional (COVIELLO e MUNRO, 1995), a qual não ocorre necessariamente de forma gradual como previsto no modelo de Uppsala, conforme exposto anteriormente. Identifica-se que há uma utilização ativa e passiva das redes de relacionamentos como forma de acesso ao mercado internacional, isto é, ora a empresa utiliza esses relacionamentos para estimular a sua internacionalização e, talvez, a dos demais atores da network, ora ela é carregada a reboque dos demais atores que já estão se internacionalizando. Assim sendo, uma das formas básicas de se beneficiar das redes de relacionamento é passar a ter acesso a recursos externos, tais como capital, matéria-prima, Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 35 91 novos parceiros e novas redes em mercados externos e, principalmente, ter acesso a informações e a experiências de mercado. Empresas que se internacionalizam de forma pioneira em alguns países utilizam relações existentes nos novos mercados para desenvolver novas relações nos mesmos. Vê-se que a empresa pode utilizar a sua posição em uma rede como uma espécie de “ponte” para outras redes de outros mercados (CHETTY e HOLM, 2000). As trocas de informações e aprendizados dentro da rede, bem como a simples observância das ações das demais empresas põem a firma em contato com novas oportunidades de mercado, obtendo conhecimento e tendo a oportunidade de aprender com experiências próprias e das demais empresas (CHETTY e HOLM, 2000; COVIELLO e MUNRO, 1995). No caso específico de PMEs, as redes de relacionamentos as ajudam a “pular etapas”, visto que elas fornecem acesso a informações relevantes sobre mercados, formas de servi-los e de lidar com os clientes (ELFRING e HULSINK, 2003). Além disso, ao se internacionalizarem as empresas, principalmente aquelas de países em desenvolvimento, precisam de legitimidade junto ao novo mercado, o que muitas vezes é alcançado pela mobilização de sua network (ELFRING e HULSINK, 2003). A network pode também ser utilizada para facilitar o acesso a determinados mercados mais difíceis de entrar, tal como é utilizado por alguns países em desenvolvimento para quebrar algumas barreiras de “export marketing” (GHAURI et al., 2003). Como indicou um dos entrevistados na pesquisa de Chetty e Holm (2000, p.86), os relacionamentos já estabelecidos de longo prazo são uma espécie de carimbo de confiança entre as empresas. Nota-se ainda que, em especial para as pequenas e médias empresas, a network pessoal e social é muito importante no processo de expansão. Estes relacionamentos frequentemente oferecem ao gestor-fundador de PMEs o acesso a recursos críticos e não disponíveis internamente na empresa. Principalmente nestes casos que resultam de ações empreendedoras pessoais, segundo Ostgaard e Birley (1994), o networking pessoal desse gestor é, talvez, o recurso mais importante de que ele pode dispor, especialmente nos estágios iniciais de uma empresa. Portanto, a network torna-se uma vantagem competitiva (COVIELLO e MUNRO, 1995). Aquele que possuir uma maior ou uma melhor rede de relacionamentos terá acesso a mais oportunidades de negócios. Ainda com relação a este processo mais ativo de internacionalização, vê-se que as empresas podem utilizar seus relacionamentos como forma de externalizar aquelas atividades em que não possuem expertise. Isso costuma ocorrer, por exemplo, com empresas de alta tecnologia que deixam nas mãos de seus parceiros as atividades de marketing internacional (COVIELLO e MUNRO, 1995; COVIELLO, 2006). As empresas podem ainda utilizá-los como forma de diminuir os custos (compra em pool), compartilhar recursos (CHETTY e HOLM, 2000) ou alcançar objetivos que não serão atingidos de forma solitária por cada empresa. Assim, as empresas podem vir a organizar grupos cooperativos, mais ou menos formalizados e estruturados hierarquicamente. O conhecimento tácito de Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 36 91 cada empresa passa a ser compartilhado em benefício do todo, e o quebra-cabeça vai sendo transformado em uma imagem mais nítida ao ser desenvolvido em conjunto com outros atores pertencentes à rede de negócios (REZENDE, 2002). Por outro lado, as empresas também podem ter seu processo de internacionalização estimulado e moldado pela rede. Isso ocorre, por exemplo, quando a líder da network se internacionaliza e impulsiona a internacionalização das demais, principalmente, de seus fornecedores. Neste caso, PMEs podem internacionalizar-se como resultado de uma integração internacional de outra empresa presente em uma de suas networks (JOHANSON e MATTSSON, 1988; CHETTY e HOLM, 2000). Algumas oportunidades surgem, portanto, através dos relacionamentos estabelecidos (PRASHANTHAM, 2004) e muitas decisões são tomadas com base nestes mesmos relacionamentos. As empresas também podem iniciar esta expansão através de um processo de mimetismo das demais empresas que se estão internacionalizando na sua network, uma possível espécie de the late starter, segundo o framework de Johanson e Mattsson (1988). Portanto, a contribuição da network para o processo de internacionalização de uma empresa é muito importante, pois a posição da firma, antes de se internacionalizar, indica os ativos de mercado a que tem acesso e que podem influenciar o processo de expansão (JOHANSON e MATTSSON, 1988). De acordo com o framework desses autores, o desenvolvimento futuro de uma empresa é dependente da sua posição no mercado e da forma como ela utiliza os ativos internos e externos do mercado (MATTSSON, 1989). Este modelo usa a teoria de trocas sociais para ilustrar o modo pelo qual as firmas desenvolvem organicamente relacionamentos de network para se internacionalizar (CHETTY e HOLM, 2000). De acordo com esta teoria, é possível distinguir estratégias de entrada em novos mercados que diferem no tocante às características e ao número de relacionamentos que a firma entrante deseja estabelecer com outras firmas na rede. Logo, não é incomum encontrar networks presentes no início da ação internacional de organizações. Ghauri et al. (2003) relatam a frequente utilização destas redes de relacionamento por países em desenvolvimento, como é o caso dos países latino-americanos. Tal aspecto é justificável por diversas alternativas. Primeiramente, pode ser um traço da cultura relacional destas nações, tendo em vista traços socioculturais de maior proximidade entre os negócios e os relacionamentos pessoais. A segunda justificativa pode ser a própria necessidade de ascensão e de identificação de oportunidades através destes relacionamentos por parte da população em desenvolvimento. A terceira e última justificativa possível é o reconhecimento da importância desses países para a Economia mundial, o que gera maior interesse por parte dos mais desenvolvidos, que também querem estabelecer relações nestes países para explorar o potencial desses grandes mercados. Prashantham (2004) ressalta, como vantagens da formação de uma network, fatores como o surgimento de oportunidades, partilha de informações e atenção aos riscos de cada negócio. Além destas vantagens, as redes de relacionamento também facilitam a ação proativa das empresas, estimulam a identificação de oportunidades e, por último, Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 37 91 permitem a entrada em mercados diferente dos locais (PRASHANTHAM, 2004). Johanson e Mattsson (1988) e Chetty e Holm (2000) contribuem com essa relação de vantagens do estabelecimento de networks ao chamarem a atenção para o acesso a recursos valiosos e a inserção em importantes espaços para a venda dos produtos e serviços. Outras duas vantagens a serem destacadas, quando há cooperação, são o aumento da produção, podendo agora atender a um mercado externo, e o compartilhamento de conhecimento entre as empresas envolvidas (JOHANSON e MATTSSON, 1988). Autores como Coviello e Munro (1995), contudo, ressaltam que é possível que as networks exerçam um impacto negativo no processo de internacionalização. Se, por um lado, uma empresa pode internacionalizar-se através de relacionamentos já existentes que lhe irão ajudar a desenvolver parceiros e posições em novos mercados, por outro, os relacionamentos e a sua posição de mercado podem restringir a natureza das iniciativas de crescimento da firma (path dependence). Outra desvantagem citada por Ghauri et al. (2003) que pode prejudicar a realização de negócios em mercados externos é o desenvolvimento de conflitos interpessoais. A ausência de um consenso sobre as decisões a serem tomadas pela rede, tais como o alvo do mercado estrangeiro que deva ser atingido ou, ainda, qual distribuidor deva ser utilizado, podem desencadear conflitos entre os membros da network. Portanto, o uso das networks tem de ser feito de forma cautelosa, porquanto não é apenas por existirem mais relações envolvidas que essas relações serão melhores do que as anteriores, pois há também os aspectos negativos e as redes que não trazem qualquer vantagem às firmas (PRASHANTHAM, 2004). Ao analisar o número e a qualidade das redes sociais de executivos de PMEs, BarNir e Smith (2002) demonstram que, como essas relações dependem de confiança, algo desenvolvido a longo-prazo, a qualidade e a credibilidade são os fatores mais importantes para os executivos no momento de decisão sobre entrar, ou não, em mais uma network. Prashantham (2004) ressalta ainda a falta de estímulo do Governo, que poderia se utilizar destas formas de cooperação para desenvolvimento local e inserção do país nas relações exteriores. 3. APLICABILIDADE PRÁTICA E IMPLICAÇÕES GERENCIAIS Diferentes autores (BARRETTO, 1998; GHAURI et al. 2003; (entre outros) citam inúmeros casos de empresas que utilizaram as suas networks como vantagem para a sua inserção no mercado internacional. Em busca de uma melhor compreensão, foram extraídos da literatura examinada alguns exemplos práticos de uso de networks por pequenas e médias empresas latino-americanas, em especial as brasileiras, tanto para networks horizontais, quanto verticais (GHAURI et al., 2003). Utilizou-se uma amostragem teórica ou intencional para a escolha dos casos (GALLINA, FLEURY e BULBA, 2005); Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 38 91 portanto, a seleção procedeu-se de acordo com a sua relevância teórica e a diversidade para que fosse sugerida a variedade de situações e derivações que o uso de networks pudesse envolver. Ainda que muitas PMEs latino-americanas ainda estejam em seu processo inicial de internacionalização, já existem algumas experiências interessantes que podem ser analisadas (CYRINO e OLIVEIRA, 2002). Os casos, as motivações para o uso de networks, assim como as vantagens obtidas pelas empresas analisadas são organizados e sintetizados nos Quadros 1, 2 e 3 reproduzidos ao final desta seção. O primeiro caso entre as networks horizontais foi o de um cluster de empresas moveleiras brasileiras, descrito por Rocha et al. (2007) e doravante denominado Grupo A. Formado principalmente por pequenas e médias empresas familiares, o cluster tinha o objetivo de unir forças para melhor aproveitar as oportunidades de exportação, a partir das primeiras iniciativas de internacionalização de uma das suas empresas participantes, atraindo compradores da Alemanha, Holanda e França, entre outros países. Além disso, as empresas buscavam ganhar conhecimento e experiência de técnicas européias. Outro caso, o Grupo B, trata de um cluster de empresas brasileiras do agronegócio, produtoras de uvas de mesa, no Vale do Rio São Francisco, reuniram-se em torno de uma cooperativa para exportar seus produtos, facilitando o acesso a mercados internacionais. A ação conjunta não só permitiu a entrada em mercados externos, como também o marketing conjunto no exterior, além de permitir o desenvolvimento do cluster, que se tornou responsável por parcela substancial das exportações brasileiras do produto (ROCHA et al., 2007). A Empresa C, uma agência de propaganda, desde cedo com contato internacional através da sociedade com uma empresa americana, após ter esta parceria desfeita, optou por se tornar uma multinacional brasileira, formando uma network horizontal através da criação de parcerias com agências em diferentes países, incluindo a Colômbia e o México. Nesta expansão, a Empresa C entrava como sócio majoritário e fornecia o conhecimento empresarial, enquanto as parceiras locais tinham um perfil publicitário, altamente criativo, e forneciam o conhecimento do mercado local (SACRAMENTO, 2004). Um dos casos latino-americanos que ocorreram fora do Brasil diz respeito à Empresa D – um grupo exportador da Nicarágua, que focou as suas atividades a partir de 1995, para buscar a produção em escala que fosse capaz de sustentar as exportações e manter o padrão de qualidade exigido pelo mercado. Ações conjuntas da rede de relacionamentos horizontal do grupo permitiram a exportação para os Estados Unidos, adquirindo assim um status de legalidade. Esse grupo contratou um gestor específico para a network, como uma forma de compartilhar recursos e diminuir os custos das empresas que, sozinhas, não teriam condições financeiras para pagar um profissional específico só para si. As vantagens obtidas por este grupo constituíram-se no treinamento adequado e padronizado dos trabalhadores, na conquista do sustento financeiro e tecnológico para Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 39 91 essas firmas que eram pequenas e médias e, ainda, no alinhamento da estratégia de marketing entre as empresas da rede (GHAURI et al., 2003). Um grupo de produtores da indústria têxtil do Peru (Grupo E) iniciou a cooperação entre si com dois objetivos: o de atender um pedido de exportação para a Alemanha, o qual as empresas sozinhas não teriam capacidade de suprir e o de garantir um padrão de qualidade uniforme aos produtos das empresas da rede. O grupo, apesar de não ter contratado alguém de fora para promover a colaboração entre os envolvidos, conseguiu estabelecer produção de escala com qualidade adequada para atender a demanda externa (GHAURI et al., 2003). A Empresa familiar F da indústria metal-mecânica brasileira estabeleceu um relacionamento de longo prazo com uma empresa argentina, a partir da década de 80. Motivada pela busca de melhorar a sua qualidade técnica, desenvolver uma linha de novos produtos aliada à redução de investimentos, riscos e custos para este desenvolvimento e lançamento, a empresa gostaria de expandir as suas vendas no Brasil e na Argentina. A partir desta parceria, a empresa conseguiu trocar informações e conhecimentos entre as empresas, desenvolver e lançar novos produtos, reduzindo o prazo de implantação do projeto. A parceria para a empresa argentina também foi benéfica na medida em que ela conseguiu entrar no mercado brasileiro sem precisar realizar um investimento externo direto. Entretanto, os executivos da Empresa F comentaram ter tido alguns conflitos com os executivos da empresa argentina, em alguns momentos, por falta de identificação entre os executivos, o que prejudicou o aprofundamento e a integração das relações entre as partes (PIPKIN, 1998). Outro ponto negativo no caso desta parceria foi o seu término após a aquisição da empresa argentina por uma multinacional. Após o término desta parceria, a Empresa F teve de procurar um novo parceiro no país e, após experiências ruins, a empresa procurou estabelecer uma central de distribuição própria naquele país (CEPAL, 2008). Além desta parceria, a mesma empresa brasileira já aproveitou outros relacionamentos horizontais para crescer. Estabeleceu, por exemplo, uma parceria com uma empresa alemã para transferências de tecnologia e com um fabricante europeu para cooperação técnico-comercial para distribuição e posterior integração local das peças da empresa brasileira (PIPKIN, 1998). Em relação às networks verticais, é relatada também uma série de casos na literatura. A Empresa G, fabricante de autopeças da indústria automobilística brasileira, iniciou seu processo de internacionalização para ser aceita como fornecedora por uma das principais montadoras mundiais. Primeiramente, a Empresa G buscou uma parceria com uma empresa americana e, posteriormente, formou com esta mesma empresa uma jointventure, que lhe permitiu o acesso a crédito mais barato e a facilitação da importação de componentes pela subsidiária americana (BARRETTO, 1998; BARRETTO e ROCHA, 2003). A Empresa H, uma agência de propaganda brasileira ligada a um grupo europeu, realizou a sua expansão para diferentes países da América Latina, a partir da Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 40 91 internacionalização de grandes clientes internacionais, os quais exerceram pressão para que a Empresa H os acompanhasse. O presidente da empresa era um estrangeiro com ampla experiência internacional, tendo ele participado ativamente na expansão latinoamericana da empresa a partir do escritório brasileiro. Partindo do Cone Sul (Chile e Argentina), a expansão abrangeu diferentes países e prolongou-se até o México. De uma forma geral, a agência de propaganda em questão adquiria ou estabelecia parcerias com agências locais para melhor atender aos clientes de diferentes características, realizando, portanto, sua expansão internacional através de networks tanto verticais quanto horizontais (SACRAMENTO, 2004). A Empresa I, brasileira do ramo de informática, iniciou seu processo de internacionalização incentivada por um de seus fornecedores, de origem suíça; conjuntamente, participaram de uma licitação realizada pelo Governo Suíço. Mesmo não tendo sido vencedora da licitação, a Empresa I ganhou experiência internacional e ampliou seus conhecimentos técnicos através da empresa suíça. Posteriormente, por meio do convite de uma empresa australiana, formaram parceria para uma concorrência feita pelo Governo do Rio de Janeiro (network horizontal), gerando oportunidades de negócios conjuntos também em outras partes do mundo, como Suíça, Austrália, Itália e Estados Unidos (ROCHA et al., 2004). O caso do Grupo J trata da subcontratação de mão-de-obra para a produção de calçados entre o Brasil e o México. Esta rede obteve sucesso e tornou-se capaz de enviar 70% da sua produção para os Estados Unidos. Os produtores de calçados passaram as suas experiências para os fornecedores, para os produtores de maquinarias e para os prestadores de serviços, além de compartilharem informações com outros produtores e compradores. Além disso, devido à parceria vertical e a criação da network entre as empresas, o grupo conseguiu auxílio de instituições governamentais responsáveis pelo desenvolvimento local (GHAURI et al., 2003). Em vista dos diversos exemplos mencionados, podem-se elencar diversas implicações gerenciais. Primeiramente, conforme destaca Coviello (2006), os gestores devem dar mais atenção à construção e à manutenção de seus relacionamentos sociais e de negócios da empresa, dado que muitas oportunidades surgem a partir desses relacionamentos na network. A capacidade de manter e construir novas redes deve de ser considerada uma vantagem competitiva da empresa (COVIELLO e MUNRO, 1995). Os gestores devem, ainda, esforçar-se para posicionar a empresa em um local na rede de relacionamentos de forma que possa oferecer uma vasta opção de atores com os quais se estabeleçam relacionamentos, bem como uma variedade interessante de recursos. Além do mais, deveriam atentar para como e com quem estes relacionamentos serão estabelecidos (COVIELLO e MUNRO, 1995). Como foi comentado anteriormente, essas relações devem priorizar qualidade, confiança e credibilidade em vez de quantidade (BARNIR e SMITH, 2002), na medida em que as networks também possam trazer barreiras ao crescimento da firma (COVIELLO e MUNRO, 1995). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 41 91 Por fim, cabe aqui chamar a atenção dos gestores para a excessiva dependência da sua empresa, em especial no caso das PMEs, à network no mercado internacional (COVIELLO, 2006). Ainda que ela, empresa, em um primeiro momento, possa externalizar algumas atividades para se internacionalizar, deve-se ter cuidado, principalmente com atividades-chave como o marketing, uma vez que as networks podem ser rompidas e, caso isso aconteça, a empresa não possa conseguir atender sozinha às exigências do mercado (CHETTY e HOLM, 2000), dificilmente conseguindo manter-se viva neste ambiente. No caso das PMEs, o tomador de decisão das empresas assume um papel crucial na busca por oportunidades em suas redes (CHETTY et al., 2000). Este é, inclusive, um dos pontos das críticas ao modelo de Johanson e Mattsson de 1988 feitas pelos autores supracitados, já que, segundo a sua opinião, o modelo proposto por aqueles autores não discute a importância dos tomadores de opinião e as características da empresa em relação a decidir pelas oportunidades a serem consideradas para a penetração, extensão e integração internacional que surgem das networks. Por exemplo, se uma oportunidade não for reconhecida como tal pelo tomador de opinião (oportunidade produtiva – PENROSE, 1980), ou ele se sentir ameaçado (em relação a seu controle sobre as operações da empresa), ele (o tomador de opinião) poderá agir de forma diferente à prevista no modelo mencionado. Ainda segundo Chetty e Holm (2000), os gerentes devem coordenar a interação entre os diferentes atores da network; devem perceber, também, que a sua empresa e o ambiente não são entidades separadas; não devem focar nas barreiras internas à internacionalização, e sim, pensar na criação do valor que estas oportunidades podem trazer; finalmente, devem perceber ainda que as suas capacidades são limitadas, mas que podem ser complementadas pela colaboração de outras empresas. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 42 91 Quadro 1 Casos de uso de networks para internacionalização Empresa / Grupo Indústria Local de origem Novo mercado Tipo de Network A Moveleira Brasil Alemanha, Holanda e França Horizontal B Agronegócio Brasil Países europeus Horizontal C Comunicação, Publicidade e Propaganda Brasil Diversos países Horizontal D Artesanal Nicarágua Estados Unidos E Têxtil Peru Alemanha F Metal-mecânica Brasil Argentina G Autopeças Brasil Estados Unidos Horizontal Horizontal Horizontal Horizontal e Vertical H Comunicação, Publicidade e Propaganda Brasil América Latina Horizontal e Vertical I Informática Brasil Suíça, Austrália, Itália, Estados Unidos Horizontal e Vertical J Calçadista Brasil e México Estados Unidos Vertical Fonte: elaboração dos autores Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 43 91 Quadro 2 Motivações para o uso de networks na internacionalização Empresa / Grupo A B C D E F G H I J M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 X X X X X X X X X X X X X X X X Legenda das Motivações: M1: Atendimento de demanda M2: Busca de novos mercados M3: Resposta à iniciativa de cliente M4: Resposta à iniciativa de fornecedor M5: Alcance do objetivo de ser multinacional Fonte: elaboração dos autores X X X M6: Redução de investimentos, custos e riscos M7: Compartilhamento de recursos M8: Garantia da qualidade dos produtos M9: Atendimento à exigência de cliente M10: Busca de produção de escala M11: Troca de informações e de experiências Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 44 91 Quadro 3 Vantagens do uso de networks na internacionalização Empresa / Grupo Vantagens A B C Compartilhar recursos Reduzir custos de exportação Fazer marketing conjunto Acessar informações do mercado local Gerar novas oportunidades de negócios Compartilhar recursos Padronizar produtos Sustentar a rede financeiramente D Adequar-se tecnologicamente Alinhar à estratégia de marketing Produzir em escala E Alcançar a qualidade adequada Trocar informações e conhecimentos F Desenvolver e lançar novos produtos em menos tempo Acessar crédito mais barato G Facilitar a exportação de componentes Melhorar a qualidade do atendimento a clientes H Acessar informações do mercado local Obter experiência internacional I Acessar novas tecnologias (parceiros) Participar de licitações em novos mercados Transferir experiência J Compartilhar informações Acessar auxílio governamental Fonte: elaboração dos autores 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão de literatura apresentada no presente trabalho trouxe diferentes conceitos e exemplos da importância das networks para a internacionalização de empresas, tendo estabelecido, como foco de análise, as empresas de pequeno e médio porte em países em desenvolvimento. As PMEs competem pelo mercado entre si e com grandes empresas, muitas vezes multinacionais, porém, comumente com recursos muito mais limitados. Para o crescimento das PMEs é cada vez mais necessária a expansão internacional, em que podem sofrer desvantagens por terem um menor acesso ou conhecimento destes mercados. O desenvolvimento de networks é um recurso utilizado na internacionalização de empresas, Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 45 91 cujo valor vem-se comprovando cada vez mais, sendo estudado por diversos autores, tal como está apresentado pela revisão de literatura realizada para o presente estudo. Em especial no caso das PMEs, os gestores assumem um papel de extrema relevância nas decisões de expansão internacional e na formação de networks de diferentes tipos. A dependência de percurso não é sinônimo de “obrigação de destino” (BURLAMAQUI e PROENÇA, 2003), ou seja, os gestores têm a possibilidade de desenhar o futuro da sua empresa, mesmo dadas as restrições de recursos que possam enfrentar em seus países em desenvolvimento, caracterizados por possuírem, ao mesmo tempo, oportunidades e dificuldades sociais, financeiras, gerenciais e políticas. O estabelecimento de networks para estas empresas, portanto, vem diminuir as barreiras e as dificuldades de operação nacional e, principalmente, internacional. Os recursos são muitas vezes supridos pelos outros integrantes da rede, ou compartilhados de forma a torná-los viáveis para um maior grupo de empresas associadas à rede. É responsabilidade do gestor identificar as oportunidades, decidir em quais networks entrar e em quais permanecer, além de definir o rumo a ser dado para a sua empresa, visto que essas redes podem trazer vantagens e desvantagens para as empresas que a integram. Para futuras pesquisas, sugere-se um estudo qualitativo sobre o uso de networks por empresas brasileiras e por outros países em desenvolvimento, dado que tais nações costumam ter dificuldades adicionais na exportação de seus produtos. Por fim, recomendam-se estudos futuros similares que abranjam a perspectiva longitudinal, que podem ser reveladores tanto do desenvolvimento de networks por PMEs quanto da caracterização destas networks ao longo do tempo, por se tratar em termos, da formação e da modificação dos laços fortes e fracos, da horizontalidade e verticalidade, e das suas consequências práticas na internacionalização destas empresas. Por outro lado, uma vez feitas as escolhas, deve-se levar em conta que o sucesso de cada empresa da network é o resultado do comportamento de todas as firmas da rede e dos resultados conjuntamente obtidos; por isto existe a necessidade de o gestor estar permanentemente atento ao desempenho de suas redes. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, T. R.; FULLER, T.; FERREIRA, C. R. The role of networks on the internationalisation process of small and medium-sized companies: propositions for theory development. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29, 2005, Brasília, DF. Anais… Anais Brasília, DF.: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 46 91 BARNIR, A.; SMITH, K. A. Interfirm alliances in the small business: the role of social networks. Journal of Small Business Management, Management Oxford, v. 40, n. 3, p. 219-232, 2002. BARRETTO, A. 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This study found evidence of use of networks by SMEs for their internationalization, as well as the relevance of the role of managers in the decisions of international expansion and the formation of networks. Finally, it is concluded that the development of networks has been showing increasingly valuable to SMEs. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 49 91 Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 27-50 2009 50 91 A RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS E A SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR Barbara Sá Marianna Freire Marina Pappone RESUMO O objetivo deste trabalho é investigar as práticas de recursos humanos adotadas por uma empresa de serviços e seu impacto na satisfação e fidelização de seus consumidores. Primeiramente, a partir do artigo base de Namasivayam (2005), foram discutidos os elementos considerados de maior impacto na produtividade dos serviços prestados: poder, percepção de controle, autonomia dos funcionários, liderança, empowerment e inteligência emocional demonstram ter grande influência na entrega de um serviço de acordo com as especificações desejadas pelo cliente, e na sua consequente satisfação e fidelização. Após esta abordagem teórica, realizou-se um estudo de caso na Auto Viação 1001, empresa do Rio de Janeiro de transporte rodoviário de passageiros, com o objetivo de investigar suas práticas de recursos humanos e como elas podem influenciar na satisfação do consumidor. Constatou-se que a existência de contato direto dos clientes com a produção da oferta e, consequentemente, com as pessoas responsáveis por ela, torna esta uma das características mais importantes e merecedoras de maior atenção por parte das empresas de serviços. È fundamental, portanto, uma melhoria constante na qualidade na prestação de serviços, e as práticas de recursos humanos exercem influência direta neste sentido. Palavras-chave: serviços, recursos humanos, satisfação, fidelização, lealdade Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 51 91 1. INTRODUÇÃO As empresas estão sempre em busca de melhorias em seus resultados, de forma a manter os shareholders dispostos a realizar investimentos na organização. Inevitavelmente, atingir este objetivo depende de algo que está fora do pleno domínio gerencial: a satisfação e fidelização dos consumidores. Como os desejos e anseios dos clientes não podem ser precisamente previstos nem minuciosamente controlados, não é possível ter certeza se esta meta será alcançada. Em empresas de serviços, a gestão destes consumidores torna-se particularmente complexa, uma vez que há características bastante peculiares inerentes a este tipo de oferta. Segundo Haksever et al (2000), diferentes de produtos ou bens, os serviços são intangíveis; sua qualidade não é auferida com um simples toque ou pela sua aparência. É preciso experimentar o serviço para diagnosticar se está adequado às expectativas prévias ou não, como ocorre, por exemplo, em um corte de cabelo. O mesmo exemplo nos leva, ainda, à segunda característica do serviço: a simultaneidade da preparação com a entrega. Os cortes são realizados a partir da solicitação do consumidor, são feitos mediante a demanda do cliente. Essa necessidade ocorre porque os serviços não podem ser estocados, o que nos aponta a sua terceira característica: a perecibilidade. Por fim, como os serviços dependem de uma série de processos que ocorrem simultaneamente às solicitações do cliente – e estas frequentemente são distintas – a variabilidade da oferta resultante é esperada. Estas características, aliadas ao fato de que muitas vezes os clientes fazem parte do processo – como nos salões de beleza, nos exames de sangue ou em uma academia de ginástica –, tornam a gestão de serviços uma atividade repleta de desafios para o corpo gerencial. Os clientes estão em contato direto com a produção da oferta, ou seja, têm acesso a processos, normas e pessoas que fazem parte da organização e são diretamente responsáveis pela entrega dos serviços. É, portanto, tarefa das empresas rever a qualidade interna de sua oferta, verificando a eficiência das atividades exercidas no back-office, bem como aquelas que ocorrem aos olhos do cliente, realizadas pelos funcionários da linha de frente. Desse modo, já que serviços são realizados por pessoas e para pessoas – diferentemente dos produtos estocados em prateleiras, que os clientes escolhem e adquirem –, parece adequado pensar nos recursos humanos da organização como elementos essenciais à geração de uma oferta de qualidade, resultando na satisfação e fidelização daqueles que são responsáveis pelo sucesso da empresa: os clientes. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 52 91 2. A RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS E A SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR Muito se ouve falar sobre a busca incessante das empresas pela superação das expectativas de seus consumidores. Tem sido comum encontrar organizações que investem pesado em práticas de recursos humanos como forma de alcançar este objetivo. Isto ocorre porque as empresas têm reconhecido a importância dos funcionários na garantia da satisfação dos clientes e sua consequente fidelização. Uma vez que muitos dos processos dos serviços ocorrem na presença ou mesmo com a participação do cliente, os funcionários, principalmente os da linha de frente, devem estar preparados para lidar com expectativas, exigências, frustrações, enfim, toda sorte de demanda e reações dos clientes atendidos. A satisfação e lealdade dos clientes, por anos renegadas a segundo plano pelas empresas, têm ganhado cada vez mais destaque na estratégia das organizações. Isso porque elas descobriram a estreita relação da lealdade dos clientes com a sua lucratividade e seu crescimento. De acordo com Heskett et al (1994), a cadeia serviços-lucro, desenvolvida a partir da análise de organizações de sucesso, mostra a relação entre a lucratividade e a lealdade dos clientes e sua satisfação, além da lealdade e produtividade dos empregados. Segundo os autores, o lucro e o crescimento provêm da lealdade dos clientes, que, por sua vez, é resultado direto de sua satisfação com a empresa. A satisfação é diretamente influenciada pelo serviço prestado, que, para ter valor para o cliente, demanda empregados satisfeitos, leais e produtivos. Isso, no entanto, só se alcança por meio de serviços e políticas de recursos humanos de alta qualidade, que apoiem e permitam que empregados atendam adequadamente os consumidores. Namasivayam (2005) explora essas relações em seu artigo “Connecting organizational human resource practices to consumer satisfaction”. De acordo com o autor, vários são os fatores relativos ao gerenciamento de recursos humanos que influenciam na produtividade dos serviços prestados. Namasivayam foca seu trabalho, no entanto, em três elementos que considera mais relevantes: o poder, a percepção de controle e a autonomia. Ele explora algumas práticas organizacionais vinculadas a estes elementos, relacionando-as com resultados satisfatórios para os clientes em empresas de serviços. O autor identifica uma importante dinâmica psicológica que é inerente à relação de troca na prestação de serviços e apresenta como alguns aspectos no nível do indivíduo podem impactar no resultado da satisfação dos consumidores. 2.1 Poder O primeiro elemento individual abordado no artigo é o poder, que o autor identifica como a habilidade de uma pessoa conseguir que outra faça aquilo que ela Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 53 91 deseja. Assim, o poder é sempre percebido na relação com o outro, sendo decorrente de trocas sociais: em seus relacionamentos, os indivíduos estimam a quantidade de poder que possuem e tentam tirar proveito desta situação para atingir seus objetivos individuais. Outro ponto importante levantado pelo artigo é a inerência do poder às estruturas das organizações – elas não só distribuem e atribuem poder, como também o legitimam. Hardy e Leiba-O’Sullivan (1998) consideram o poder um conceito complexo e multidimensional e, portanto, tentam organizá-lo em quatro dimensões: na primeira, o poder é exercido ao empregar vários recursos para influenciar os resultados de determinados processos; na segunda, ele existe para controlar o acesso ao processo; em outra, é exercido para evitar conflitos; e na última dimensão, os autores falam que o poder está embutido no próprio sistema, que controla o que fazemos, o que vemos e como pensamos. De qualquer modo, o poder pode ter grande influência sobre os resultados e sucesso de uma organização. Em uma empresa, quando os indivíduos percebem que seus recursos e influência são limitados, eles podem sentir-se desprovidos de poder. Isso se explica porque o poder está intimamente relacionado com controle e autonomia, ambos fundamentais para que os funcionários da linha de frente de uma empresa estejam preparados para fornecer o melhor atendimento aos clientes. 2.1.1 Controle e Autonomia O controle pode ser entendido como o exercício do poder, ou seja, é a capacidade que um indivíduo tem de influenciar decisões. Já a autonomia, ainda que ligada à percepção de controle e poder, é identificada como a capacidade que um funcionário tem de tomar suas próprias decisões. A relação direta entre controle e poder se verifica quando o funcionário se percebe em uma situação de decisão. É nessa hora que ele julga o quanto de controle o outro ou a situação permitem que tenha. Assim, é criada uma expectativa em relação ao poder que ele tem para participar de decisões com o objetivo de obter os resultados desejados para si e para o cliente. A percepção de controle é, portanto, situacional, subjetiva e imediata. A autonomia, por outro lado, tem caráter menos temporal porque diz respeito a quanto o funcionário se sente capaz de atingir seus próprios objetivos mediante controle de suas atividades e de acordo com o poder a ele delegado, independente de um acontecimento específico. Ao mesmo tempo em que o funcionário de uma organização sente a necessidade de ter controle, de forma a prestar o serviço que melhor atenda o consumidor, este último também tem a sua necessidade de ter controle nesta relação de troca, pois é uma forma de assegurar que o serviço será entregue como desejado. O resultado de tal serviço, por sua vez, é composto de elementos tangíveis e intangíveis. Sobre os elementos intangíveis, é possível afirmar que o comportamento de quem atende o consumidor é crucial para a sua Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 54 91 satisfação – além de consistir no serviço em si, é uma evidência de que o provedor de serviços tem em mente atender aos interesses dos seus consumidores da melhor maneira possível. Assim, o consumidor exerce o seu controle nesta relação de troca à medida que suas demandas relacionadas ao processo em si e ao seu resultado são atendidas de forma a garantir a sua satisfação. No fim, o que ocorre é que quanto maior o controle que ele tem nesse processo, maior também a sua satisfação. 2.2 A Prestação Prestação de Serviço como um um Jogo de Poder Os elementos acima descritos estão intrinsecamente presentes em todas as relações de serviços. Poder, controle e autonomia misturam-se num jogo entre o consumidor e o prestador de serviços. Do lado do consumidor, quanto mais controle consegue exercer sobre o resultado do processo, maior será sua garantia de obtenção do serviço desejado e, consequentemente, sua satisfação. Do lado do prestador, a busca por autonomia está diretamente relacionada à necessidade de controle que o funcionário possui sobre seu próprio trabalho. Uma vez sentindo-se com poder em nível reduzido – powerless – estes colaboradores acabam buscando remediação para a situação em que se sentem inferiores, e isso é comumente feito por meio do exercício do controle sobre os consumidores no momento em que a troca de serviços acontece. Assim, quando ambos – consumidor e prestador – estão em busca do mesmo objetivo comum de controle do evento, uma situação de conflito tem grande potencial de ocorrência. Neste cenário, a prestação do serviço adquire a forma extremamente competitiva de um zero-sum game. 2.2.1 ZeroZero-Sum Game Na teoria dos jogos, o zero-sum descreve uma situação na qual o ganho de um participante é compensado pela perda do outro participante, e vice-versa, atingindo, portanto, um ponto de equilíbrio. No caso da prestação de serviços, este conceito aplica-se da seguinte forma: à medida que o consumidor percebe um maior controle seu na relação de troca com o prestador de serviço, este percebe que o seu nível de controle neste processo é reduzido. Como a satisfação do consumidor está diretamente ligada à maximização do resultado do serviço demandado, e isto está ligado ao seu maior controle do processo, acredita-se que o ponto de equilíbrio ideal nesta relação de troca é aquele que favorece o cliente – independente do que o provedor de serviço possa ganhar nesta situação. Consequentemente, o funcionário da linha de frente, impossibilitado de exercer o controle desejado sobre o cliente, procura outra fonte alternativa sobre a qual ele possa obter a sua percepção de controle, tais como colegas, subordinados ou até mesmo pessoas fora do âmbito profissional, como seus familiares. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 55 91 2.3 Implicações Em uma situação como a relatada acima, em que o funcionário não tem controle sobre o cliente e, em virtude disso, tem a percepção de controle sobre suas atividades reduzida, é comum observar que a satisfação em relação a sua função fica comprometida, bem como sua produtividade. Em virtude disso, naturalmente, o controle dado ao consumidor na relação de troca não passará de uma ilusão, já que o resultado do serviço desejado ficará aquém de sua expectativa, implicando um menor nível de satisfação. Para resolver esta questão, Namasivayam (2005) ressalta a importância de fazer os funcionários entenderem que “o cliente tem sempre razão”, ou seja, é preciso realmente fazê-lo ter um determinado grau de controle no processo de troca. Ao mesmo tempo, no entanto, o autor argumenta que igualmente importante é a autonomia dos prestadores de serviços, alcançada mediante uma política da empresa de suporte à atuação de seus funcionários. Uma política adequada engloba o desenho de funções que permitam ao funcionário ter maior flexibilidade em seu papel, sentindo-se com mais poder em razão do equilíbrio das demandas e do controle permitido de sua função. De modo a conseguir alcançar a plena satisfação e produtividade de seus funcionários, uma empresa deve olhar, porém, além da questão de seu empowerment. Ela deve procurar, fora dos limites da organização, onde se encontram as fontes de stress que possam exercer influência no ambiente de trabalho, como, por exemplo, problemas familiares. É cada vez maior o número de empresas que demonstram preocupação com o papel do funcionário em sua família, verificando se este conflita com o seu papel como empregado. Por fim, a partir dessas considerações do autor, e com base nas ideias apresentadas por Heskett et al (1994), podemos concluir que um zero-sum game a favor do cliente não significa que a empresa prestadora do serviço sai perdendo. Afinal, o cliente que tem suas demandas atendidas fica mais satisfeito, e com isso são maiores as chances de ele ser fidelizado e fazer divulgação boca a boca do bom serviço recebido. Este cliente, além de passar a consumir mais, trazendo assim uma maior rentabilidade para a empresa, trará também novos clientes, que representarão uma receita adicional para ela. Ao final, saem ganhando tanto a organização quanto o consumidor, e não só este último como se costuma pensar. 3. A PERSPECTIVA GERENCIAL E ORGANIZACIONAL O artigo de Namasivayam (2005) demonstra um potencial mecanismo causal entre práticas organizacionais e a satisfação do consumidor com o serviço prestado. Mais Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 56 91 especificamente, o autor foca na autonomia do funcionário como o principal elemento para a entrega de um serviço de acordo com as especificações desejadas pelo cliente. Acreditamos ser interessante, portanto, aprofundar nosso estudo na importância do empowerment para a satisfação do consumidor. Antes, no entanto, é fundamental observar o papel da liderança na qualidade dos serviços prestados, servindo como inspiração, inclusive, para a própria autonomia do empregado. 3.1 A Importância da Liderança Vários artigos ressaltam a relação entre o comportamento de liderança e a performance na prestação de serviços. Em um deles, Church (1995) ressalta que a baixa qualidade do serviço prestado significa consumidores insatisfeitos, implicando menor número de vendas, lucratividade reduzida e, por fim, perda gradativa de clientes. Em uma situação dessas, o autor afirma que, apesar de a função gerencial ser primordialmente a de coordenar as tarefas sob sua gestão, o gestor deve agir como coach e modelo das principais práticas e princípios relacionados à prestação de um serviço de alta qualidade. Quando ele demonstra forte liderança, os funcionários têm a oportunidade de aprender o comportamento apropriado para lidar com as situações corriqueiras de seu trabalho – como, por exemplo, ser flexível na hora de responder às demandas dos consumidores ou em situações de crise. Outro ponto importante relacionado ao gestor e que Church (1995) levanta é a sua habilidade em criar e manter um bom ambiente de trabalho que estimule a atividade em grupo e, consequentemente, mantenha os funcionários satisfeitos e motivados a prestar o melhor serviço para os seus clientes. Rausch (1999), em seu artigo, corrobora Church (1995) ao falar que gestores que são efetivamente líderes produzem um ambiente de trabalho que, ao mesmo tempo, traz satisfação aos membros do staff e é orientado para resultados de qualidade. Church (1995) ainda lista em seu artigo cinco valores centrais de um líder: o cliente, os funcionários, o trabalho em grupo, o emporwerment e a qualidade. Respectivamente, o líder deve demonstrar flexibilidade em atender às demandas dos clientes, construir uma relação próxima e de suporte aos funcionários, certificar-se de que os membros de um time conheçam o papel de cada um, delegar autoridade aos funcionários para que eles possam agir no timing adequado e encorajar as pessoas a prestar um serviço de qualidade, prevenindo problemas em vez de remediá-los. O comportamento do líder em relação a estes valores acaba por reforçar alguns outcomes positivos, como a rentabilidade e a satisfação dos consumidores, enquanto reduz aqueles Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 57 91 negativos, como turnover, atrasos na prestação dos serviços e quaisquer danos que possam ser causados ao cliente durante este processo. 3.2 Empowerment Equilibrar os poderes entre os atores das relações de trocas em serviços é fundamental para que os resultados alcançados pela empresa e cliente saiam conforme desejados (Namasivayam, 2005). Os clientes precisam sentir-se com poder e controle suficientes para que o serviço atenda às suas expectativas e os funcionários também desejam o mesmo para que tenham autonomia suficiente sobre suas próprias atividades, de modo que seja possível executá-las com o máximo de eficiência e eficácia. Como uma prática eficaz aplicada em recursos humanos que busca garantir essa autonomia para o prestador de serviços, o empowerment – dar poder, autoridade – merece cuidado especial do corpo gerencial. Para o empregado, significa maior controle sobre seu trabalho, mais consciência de seu papel na prestação do serviço, mais responsabilidade sobre o resultado do que executa, corresponsabilidade sobre os resultados da empresa e sentimento de equidade de recompensas de acordo com o desempenho. Para a empresa, é uma excelente forma de tirar proveito das oportunidades junto ao cliente na prestação do serviço, aumentar a motivação e produtividade individual e incrementar a qualidade do serviço prestado por meio de maior satisfação dos clientes. Além das razões anteriormente mencionadas, o empowerment tem grande importância para as empresas porque atua como grande responsável pela redução de conflitos. Quando o prestador ou a situação demanda empowerment e a necessidade não é atendida, a percepção de insatisfação é inevitável. Alguns exemplos observados em empresas são os procedimentos inflexíveis de trocas com prazos inadequados e ou regras impossíveis de se cumprir – que reduzem a autonomia e ampliam conflitos com os clientes e geram insatisfação. Lojas de roupas de bebês frequentemente experienciam estas situações, com mães que não percebem o rápido crescimento dos filhos e precisam trocar as roupas quando o prazo já está expirado. Uma vendedora da Raffa’s, localizada no shopping Via Parque, na zona oeste do Rio de Janeiro, recusou-se a atender a um desses pedidos, afirmando estar cumprindo o procedimento determinado pela organização, deixando a cliente irritada de modo tal que garantiu nunca mais voltar a comprar no local. Casos como este podem significar a perda de um cliente – e todo o seu valor futuro – que dificilmente será conquistado novamente. Soma-se a isso o fato de que situações críticas estão gravemente conectadas à explosão de estresse (service burnout) por que pode passar um funcionário da linha de frente. Como convive diariamente com as pessoas, esse colaborador acaba vivenciando conflito de papéis, o que o exaure emocionalmente e, eventualmente, ocasiona redução de seu compromisso, trazendo sentimentos negativos e perda de respeito pelos clientes. O resultado disso é um efeito negativo na qualidade do serviço prestado. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 58 91 Há muitos aspectos positivos na prática do empowerment junto aos funcionários de empresas de serviços. Isso se deve a duas perspectivas gerais distintas que explicam a importância e a razão da aplicação. A primeira, relacional, compreende as quatro dimensões de poder – fit entre valores e objetivos do individuo; confiança em executar determinada tarefa; determinação ou escolha, quando o sujeito acredita que tem controle sobre seu comportamento no trabalho; impacto de seu esforço no resultado final da companhia – e seus efeitos na execução das atividades ligadas à prestação de serviços. Um funcionário que acredita ter escolha na execução de seu trabalho, que sente ser capaz de controlá-lo, comumente se mostrará eficiente na resposta às exigências dos clientes, porque estas percepções melhoram suas interpretações sobre os impactos, a eficácia e o significado do serviço. A segunda perspectiva diz respeito aos aspectos motivacionais da prestação de serviços. Segundo as teorias psicológicas, a motivação dos indivíduos é construída quando se tem um objetivo a ser alcançado, uma forte relação com o envolvimento do indivíduo e sua meta ou, ainda, com o desejo de influenciar os outros – a necessidade de obtenção de poder (Yagil, 2006). Quando uma organização formaliza demais as tarefas e impede que o funcionário enxergue o impacto de seu trabalho nos resultados finais da companhia, o sentimento de perda de poder (powerless) ou fracasso se sobressai, reduzindo a capacidade de resposta deste empregado. De maneira oposta, entregar empowerment pode ser uma forma de dar mais responsabilidade a cada empregado sobre o resultado final de seu trabalho, aumentando a qualidade do serviço prestado pela empresa. Principalmente no setor de serviços, os representantes da linha de frente têm papel fundamental na satisfação, fidelização e retenção dos clientes, ainda mais quando as demandas do mundo moderno se mostram tão exigentes. Ampliar a sensação de poder destes colaboradores é, portanto, primordial para que a eficiência no atendimento e o comprometimento aumentem a cada encontro. Dependendo da necessidade de poder demandada pelos funcionários e situações, dar empowerment pode trazer consequências negativas (Yagil, 2006). Isso acontece porque nem todas as organizações ou serviços requerem o mesmo nível de autonomia e controle. Tomemos como exemplos os serviços de restaurante. Quando a produção tem baixo custo e alto volume, como os sanduíches do McDonald’s, tanto clientes como funcionários sabem que a uniformidade e padronização do processo são o que garante que o resultado seja sempre o mesmo, sem surpresas, em qualquer lugar do mundo. Assim, nem o cliente extrapolará em suas solicitações, nem o prestador se colocará em uma situação que exija maior autonomia. Numa situação como essas, dar mais poder à linha de frente pode significar redução na eficiência do processo e na rapidez do atendimento, prejudicando o serviço de qualidade por que o estabelecimento é reconhecido. Por outro lado, quanto mais diferenciação a empresa busca, mais necessário será o empowerment. Se olharmos um restaurante como o Satirycon, em Ipanema, no Rio Janeiro, veremos quão fundamental é esta prática. Por ser um serviço requintado, caro e exclusivo, os clientes se sentem à vontade para as mais diversas solicitações. Desde a quantidade de cadeiras em uma mesa até a escolha do tipo de carne, acompanhamento e combinações de cardápio ou misturas Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 59 91 de bebidas. Os garçons do estabelecimento estão preparados para ouvir as necessidades e fazer o possível para atendê-las, mesmo que, para isso, precisem realizar alguma ação que esteja fora do procedimento padrão do restaurante. Antes de decidir sobre o empowerment, é preciso ter em mente a natureza do serviço, o grau de liberdade que se deseja dar a quem está na ponta, a complexidade e intensidade do trabalho e a natureza da própria marca. As decisões vão depender das percepções da gerência sobre estes aspectos (Lashley, 1999).1 Empowerment pode ser dado através de: participação – por meio de autoridade para tomada de decisão em algo que seria uma decisão gerencial; envolvimento – por meio de mais experiência e expertise para lidar com os problemas, ou seja, o empregado é consultado para solucionar uma questão ou o problema é resolvido junto com ele; compromisso – conquistado com muito treinamento sobre todos os aspectos do serviço; e delayering – quando um cargo é eliminado e o que restou acumula funções e poder (Lashley, 1998). Escolher os níveis apropriados e os tipos de empowerment depende de uma combinação da complexidade (ou variabilidade) das necessidades dos consumidores e o grau de complexidade da tarefa (ou variabilidade) envolvida na entrega destas necessidades (Rafic & Ahmed, 1998).2 Esta prática, porém, apresenta alguns perigos, principalmente quando, para recuperar um cliente, o funcionário extrapola a liberdade a ele condicionada. Segundo Rafic e Ahmed (1998), há três tipos frequentes de respostas às situações em que o funcionário tem poder suficiente para decidir o que deve ser feito. A primeira é a rotina, quando existem alternativas preestabelecidas e o prestador escolhe uma das opções. Se o cliente de uma livraria como a Eldorado, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, por exemplo, deseja trocar um produto por outro que não existe em estoque, o funcionário pode oferecer outras mercadorias ou pode entregar-lhe um vale no valor da primeira compra para que a troca seja feita em outra ocasião. Na resposta criativa, diferentemente, o funcionário desenvolve soluções para o problema do cliente. É o que se observa quando o garçom de um restaurante como o Tizziano, do Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, sugere novas combinações de pratos de modo que o cliente sinta sua necessidade sendo atendida. Finalmente, na resposta deviant, o funcionário se afasta dos padrões normais de comportamento desejados pela empresa e extrapola sua liberdade, podendo ocasionar, inclusive, a demissão do prestador. As cortesias de cinema do Grupo Estação são um bom exemplo de resposta desviada das normas, já que muitas vezes são utilizadas de forma inadequada em razão de procedimentos exageradamente flexíveis e funcionários despreparados. 1 2 Tradução livre das autoras. Tradução livre das autoras. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 60 91 Para que as empresas evitem as respostas que extrapolam seu planejamento e apliquem o empowerment de maneira eficiente, grandes investimentos são necessários (Rafic & Ahmed, 1998). Dar mais liberdade implica treinar muito bem seus funcionários, para que continuem trabalhando em prol do bem comum da empresa. Os gastos com recrutamento e seleção também são imprescindíveis, porque é preciso garantir que haja funcionários suficientemente habilidosos para lidar bem com as questões do dia-a-dia e com maior liberdade. Como consequência da liberdade, os serviços tornam-se mais personalizados e cada empregado mais produtivo. Mesmo assim, uma vez que suas responsabilidades são maiores, os salários tendem a aumentar. Além destes custos, o empowerment pode trazer outros menos tangíveis, como a frustração dos funcionários. Mesmo sabendo da confiança da empresa em sua habilidade de satisfazer os clientes, alguns funcionários podem sentir-se fracassados por quase nunca conseguirem cumprir os procedimentos planejados. Isso potencializa o efeito do conflito de papéis – role conflict – porque o colaborador acaba sem saber se deve atender às expectativas da empresa ou do cliente. Em resumo, a medida adequada de empowerment requer que o funcionário possua todas as informações de que precisa para a execução de seu trabalho e compreenda seu exato papel na organização. Somente assim será capaz de desenvolver todas as habilidades necessárias para agir da maneira mais apropriada nos momentos da verdade que tiverem com os clientes, fazendo o melhor uso possível do poder que lhe é delegado. 4. A PERSPECTIVA INDIVIDUAL E DO FUNCIONÁRIO Além da perspectiva organizacional, Namasivayam (2005) também aborda em seu artigo a perspectiva individual. Neste nível, variáveis tais como personalidade, grau de inteligência emocional e aspectos culturais vão influenciar o nível de qualidade do serviço prestado. Aspectos comportamentais, cujo conteúdo emocional abrange empatia, paciência, compreensão e autocontrole, são requisitos fundamentais na relação cliente-prestador de serviço. Nesse sentido, o trabalho emocional, que procura elevar o grau de inteligência emocional dos prestadores de serviço, é refletido, em um ambiente de serviços, no nível de satisfação do cliente. 4.1 A Inteligência Emocional Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 61 91 Inteligência Emocional é a habilidade em adaptar e manejar emoções. É perceber nossas emoções e as emoções dos outros, e expressar assertivamente nossa própria emoção, percebendo suas causas e relações entre elas e permitindo uma melhor capacidade de solução de problemas (Goleman, 1998). A Inteligência Emocional não está apenas relacionada às experiências emocionais, mas também aos sentimentos, pensamentos e comportamentos subsequentes a certos estímulos. Diz respeito a habilidades tais como: motivar a si mesmo e persistir mediante frustrações; controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificação prorrogada; motivar pessoas, ajudando-as a liberar seus melhores talentos; e conseguir seu engajamento em objetivos de interesses comuns. A Inteligência Emocional é mapeada em cinco áreas de habilidades (Goleman, 1998): 1. Autoconhecimento Emocional – reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre; 2. Controle Emocional – habilidade em lidar com seus próprios sentimentos, adequando-os para a situação; 3. Automotivação – dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca; 4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas; 5. Habilidade em relacionamentos interpessoais. As três primeiras áreas mencionadas acima se referem à Inteligência Intrapessoal. As duas últimas, à Inteligência Interpessoal. A Inteligência Interpessoal é a habilidade de entender outras pessoas: o que as motiva, como trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas. Inteligência Intrapessoal é a mesma habilidade, só que voltada para si mesmo. É a capacidade de formar um modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e construtiva. A satisfação do consumidor está relacionada à experiência emocional que ele passa durante a prestação de serviço: o prestador de serviço com um alto grau de inteligência emocional é capaz de criar uma experiência emocional positiva para os clientes, e assim gerar um alto grau de satisfação com o serviço prestado (Schutte e Kernbach, 2005). Os autores Schutte e Kernbach (2005) indicam que, numa relação de troca, é o prestador de serviços quem tem que procurar o equilíbrio emocional da situação. E, para que esse equilíbrio seja atingido, deve-se procurar desenvolver um alto grau de inteligência emocional, reconhecer e dar valor às qualidades dos outros para assim facilitar a relação e o grau de conexão com o cliente. Portanto, qualidades como cortesia, atenção, preocupação e simpatia deverão ser trabalhadas e estimuladas no prestador de serviço. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 62 91 Tendo como base a relação prestador de serviço-cliente, três níveis de condição de inteligência emocional foram testados por Schutte e Kernbach (2005) e correlacionados com o nível de satisfação do serviço: - Alta condição de inteligência emocional leva a um alto grau de satisfação do cliente: prestador de serviço tem a habilidade de perceber as emoções do consumidor e expressar as suas próprias. Ele trabalha a expressão facial, o tom de voz e o modo de falar além de ser capaz de compreender a consequência de seus atos. - Baixo nível de inteligência emocional leva à satisfação baixa do cliente: o prestador de serviço não tem a percepção, expressão e entendimento de suas emoções e, portanto, não consegue administrá-las. Outro aspecto importante relacionado à inteligência emocional está na necessdade de aprender a manejar a dissonância emocional que incide quando a pessoa é obrigada a demonstrar o que não está sentindo. Quando há alto grau dessa dissonância, o estresse no trabalho é elevado, impactando no nível de satisfação do consumidor. Assim, a dica que é dada para que se atinja um conforto emocional é trabalhar a autoconsciência, o selfawareness (Bradizil e Slaski, 2003). A partir da elaboração de uma consciência emocional, o indivíduo pode tornar-se capaz de obter uma mudança de atitude e de comportamento. As pessoas não desenvolvem habilidades sociais sem promover um mínimo de autoconsciência. (Bradizil e Slaski, 2003). Assim, a empresa tem que procurar trabalhar esses aspectos em seus empregados, procurando fazer a integração entre comportamento e emoção para que seja, dessa forma, criado um clima positivo de serviços. De acordo com Bradizil e Slaski (2003), organizações modernas já estão fazendo inúmeras ações no intuito de trabalharem os níveis de inteligência emocional e incentivar o estímulo à experiência emocional, como por exemplo: projetos de gestão da mudança, empowerment, apoio ao trabalho em equipe, estímulos à criatividade, atividades de gestão do conhecimento, ações que promovam o clima organizacional de confiança e respeito e gestão da comunicação. O Ritz Carlton Hotel, hotel cinco estrelas, líder nas pesquisas de satisfação dos clientes, é um exemplo de sucesso na administração do comportamento de seus prestadores de serviço. Todos os funcionários do hotel são orientados a estarem disponíveis para a resolução de qualquer solicitação de clientes, mesmo que não faça parte das tarefas deste prestador. Ou seja, se um funcionário do restaurante for requisitado para resolver um problema relacionado à lavanderia ou ao serviço de quarto, ele deverá procurar a solução, sem que a reclamação do cliente tenha que passar por diversos setores. Bacon (2004) defende essa estratégia usada pelo Ritz como uma estratégia comportamental, em que a diferenciação de uma empresa deverá estar na capacidade de desenvolver habilidades do Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 63 91 comportamento interpessoal. Segundo o autor, no nível comportamental é possível se diferenciar da concorrência, pois muitas das atitudes exigidas por um consumidor numa relação de prestação de serviços são impossíveis de fingir. Clientes não acreditam no que você diz a eles. Eles acreditam no que você faz. O comportamento é algo genuíno. É a pura expressão de suas intenções, suas prioridades e seus sentimentos. Não importa a linguagem que você usa para descrever seu negócio ou produto, não importa quais promessas você fará ou com quanta sinceridade você falará aos seus consumidores. A verdade sobre você sempre emerge da sua ação, como você efetivamente se comporta. Você existe através do seu comportamento (Bacon, 2004).3 Assim, parece apropriado que o papel da inteligência emocional deva ser levado em consideração nas políticas, processos e procedimentos organizacionais. Pelas questões acima apresentadas, sugere-se que os gestores estejam atentos e ajam sempre em direção à melhoria do clima de serviços, criando e suportando experiências emocionais positivas e reduzindo e minimizando as negativas. Estas ações trarão benefícios não só para os seus clientes e funcionários, mas em última instância para a própria empresa. 5. ESTUDO DE CASO Para ilustrar alguns aspectos abordados em nosso estudo, resolvemos investigar como as práticas de recursos humanos podem auxiliar ou não no aumento da quantidade de aspectos positivos percebidos pelos clientes e, em consequência, na melhoria da sua satisfação. Escolhemos pesquisar a Auto Viação 1001, empresa de transportes urbanos com sede em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, em virtude de sua significante atuação neste mercado. Nas duas visitas que realizamos ao escritório da empresa, tivemos acesso aos membros da alta gerência da organização, os quais nos forneceram informações preciosas a respeito do retorno dos investimentos em recursos humanos, bem como das dificuldades de elaboração e implementação de determinadas práticas nesta mesma área. 5.1 Auto Viação 1001 5.1.1 A Empresa A Auto Viação 1001 é uma empresa fluminense de transporte de passageiros que atua, principalmente, no setor rodoviário intermunicipal e interestadual, além de possuir linhas urbanas intra e intermunicipais. Sua frota é composta por cerca de 700 ônibus que 3 Tradução livre das autoras. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 64 91 atendem a mais de 100 municípios, a maioria no Rio de Janeiro. A 1001 transporta mais de 1 milhão de passageiros rodoviários todos os anos, chegando a percorrer 21 milhões de quilômetros nas estradas brasileiras, gerando um faturamento anual de mais de R$ 235 milhões (em 2006). Uma das seis empresas de um grande grupo do setor de transportes – o JCA –, a 1001 estabeleceu-se como a mais importante do ramo no estado do Rio de Janeiro a partir de 1968, quando foi adquirida pelo idealizador e então dono do grupo, Jelson da Costa Antunes. Atualmente, o grupo se expandiu e é proprietário também da Rápido Macaense, Expresso do Sul, Rápido Ribeirão Preto, Viação Cometa e Auto Viação Catarinense, além de ser um dos principais acionistas da Barcas S/A – concessionária de transporte hidroviário – e de operar a 1001 Turismo e Viagens Ltda. – agência que negocia passagens aéreas, reservas e outros serviços, no Brasil e no exterior. A vasta experiência no setor de transportes, adquirida ao longo dos seus 60 anos de existência, fez da 1001 uma empresa respeitada dentro do grupo JCA e em todo o setor de transportes. Os resultados financeiros indicam que os serviços oferecidos têm tido retorno crescente nos últimos anos, mesmo frente a um mercado reconhecidamente competitivo. Somente no setor rodoviário, há 217 outras empresas permissionárias – selecionadas em processos licitatórios – que agem como organizações responsáveis pela exploração do serviço de deslocamento de passageiros entre cidades e estados. Além disso, concorrentes indiretos como vans, lotadas, táxis e até mesmo aviões também têm grande representatividade no transporte de passageiros. Em virtude de tantas adversidades, o resultado crescente da 1001 mostra-se ainda mais significativo. 5.1.2 Oferta Para chegar ao patamar em que hoje se encontra, a 1001 desenvolveu um serviço que se distingue pela qualidade na oferta e no atendimento. A oferta diferenciada está profundamente ligada a questões operacionais e de investimento na frota de ônibus – que a empresa renova a cada cinco anos – e outros equipamentos. Já a excelência almejada no atendimento tem relação direta com os recursos humanos da empresa. Para alcançar este objetivo, a 1001 hoje conta com mais de 2.400 funcionários que atuam nas funções operacionais e administrativas da empresa. 5.1.3 Recursos Humanos Como em qualquer prestadora de serviços, a 1001 tem grande parte de seus recursos humanos atuando na linha de frente da empresa, em contato direto com os clientes finais: nos guichês das rodoviárias, na ocasião da compra da passagem; nas plataformas, quando ajudam os passageiros no embarque e acomodação das malas; ao telefone, quando são procurados para a compra de passagem ou alguma reclamação; e Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 65 91 até mesmo durante o transporte, como no caso dos motoristas e cobradores. Cada um destes funcionários precisa estar devidamente habilitado para o exercício de sua função, ou o resultado para o cliente será diferente do desejado. Reconhecendo a importância deste grupo que participa de tantos momentos de verdade, a 1001 tem o costume de ministrar treinamentos, fiel na crença de que a adequada capacitação de sua equipe é fundamental para garantir a qualidade, eficiência e competitividade da empresa no concorrido mercado de transportes. Uma das principais questões para a empresa está exatamente nesta capacitação. Por oferecer um serviço que não exige grande qualificação, muitas vezes a empresa precisa lidar com profissionais despreparados, os quais precisa “moldar” de forma que sejam capazes de desenvolver as habilidades necessárias ao trato adequado do cliente. Assim, ainda no processo admissional, todos os novos funcionários são submetidos a cinco dias de treinamento em salas de aula, para que conheçam a cultura e as práticas da empresa. Posteriormente, de dois em dois anos, os colaboradores devem passar por uma reciclagem, de modo que possam relembrar os conceitos transmitidos na ocasião da admissão, além de receber novos treinamentos que porventura possam ter sido desenvolvidos nos últimos anos. Ao procuramos entender o conteúdo desses treinamentos, tanto dos iniciais quanto dos de rotina, percebemos que eles abordam não só aspectos técnicos e operacionais de cada função, mas também aspectos comportamentais. O treinamento comportamental é de suma importância, pois o seu conteúdo trabalha diretamente com os aspectos emocionais do funcionário, permitindo que ele desenvolva a sua inteligência emocional e se torne mais atento e consciente em relação a ela. Tal treinamento ganha ainda mais importância no contexto da 1001 devido à enorme pressão emocional envolvida no trabalho daqueles que representam a maior parte de seus funcionários: os motoristas de ônibus. Estes, devido à natureza do seu trabalho, estão sujeitos a passar períodos afastados de suas famílias. Além disso, convivem com o estresse e a preocupação inerentes da sua função, uma vez que precisam estar o tempo todo atentos aos possíveis perigos das estradas brasileiras (má conservação, outros motoristas imprudentes), sendo responsáveis não só pelas suas vidas, mas também pela de todos os passageiros que transportam. Como se tamanha responsabilidade já não bastasse, o motorista ainda tem que prestar assistência aos passageiros durante a viagem, atendendo a toda e qualquer solicitação que possa surgir durante o período em que o transporte é realizado. Portanto, práticas, procedimentos e normas da empresa são passados em todos os treinamentos, ao mesmo tempo em que o aspecto do atendimento ao cliente é focado para que os funcionários criem uma cultura na qual “o cliente tem sempre a razão”. Esta questão é abordada por Namasivayam (2005) como central, pois a partir do momento em que a empresa dá subsídios para os funcionários agirem de forma mais autônoma em relação aos seus clientes, ela estará permitindo que eles tenham maior flexibilidade em seu papel, de forma que se sintam com maior poder pelo equilíbrio das demandas e controle permitidos de sua função. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 66 91 Mesmo demonstrando interesse no desenvolvimento de seus funcionários, as iniciativas da 1001 são reconhecidamente insuficientes para trazer excelência nos serviços prestados pela empresa. O gerente operacional da empresa, há pouco mais de um ano responsável pelos treinamentos oferecidos, admite que ainda há muito a ser feito em prol desta meta. Ainda que acredite na importância do investimento nos funcionários, o gestor encontra-se permanentemente envolvido com outros problemas ligados à operação dos carros da empresa, sua principal função: “Nossos treinamentos ainda são bastante falhos, o que dificulta até a retenção de nossos motoristas. Dois anos é muito tempo entre cada reciclagem, mas tem sido complexo gerenciar o tempo necessário para desenvolver mais este projeto. Existem outras prioridades para a empresa neste momento.” Apesar disso, a 1001 demonstra ser bastante evoluída para o setor. “Somos quem mais faz treinamentos”, complementa o gestor, que segue explicando as outras iniciativas da empresa em prol de seus funcionários. 5.1.4 Benefícios Além de oferecer treinamentos que visam ao aperfeiçoamento das habilidades, a 1001 também se interessa pelo bem-estar e lazer de seus colaboradores por acreditar ser esta uma forma de manter a sua satisfação e motivação elevadas. Para tanto, a empresa conta com uma ampla área de lazer para funcionários, com mais de 28 mil m², às margens da Lagoa de Saquarema, com sede, suítes, bicicletas para passeios à beira da lagoa, playground, salões comunitários, estacionamento, lanchonete, piscina, churrasqueiras e sauna. Estas são apenas algumas iniciativas, e a empresa reconhece que ainda terá que melhorar se quiser incrementar aspectos motivacionais de seus empregados, e consequentemente a qualidade de seus serviços. 5.1.5 Foco Foco no Cliente Todas essas ações, voltadas para os seus funcionários, refletem uma característica importante e bastante enfatizada pelos gerentes da 1001: o valor que a empresa dá aos seus clientes. A organização dá voz aos consumidores por meio de cartas, telemarketing e através de seu site na internet, sendo que o objetivo é aproveitar cada oportunidade identificada de melhoria dos serviços prestados. As sugestões e reclamações são distribuídas aos seus respectivos setores e as soluções são discutidas semanalmente nas reuniões entre gerentes de área. É por meio de muitas destas cartas que a empresa fica sabendo de algum incidente envolvendo seus funcionários, tanto os que merecem elogios quanto aqueles que ficam completamente fora dos padrões e normas da organização: “Já aconteceu de um carro da linha Gávea-Charitas pegar o Rebouças direto só para fugir do engarrafamento na saída do Rio. No dia seguinte, um monte de clientes que ficaram esperando o ônibus na praia de Botafogo entraram em contato conosco para reclamar”, explica o gerente operacional da empresa. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 67 91 A área de operações é, aliás, a que mais se beneficia das dicas dos clientes, chegando a alterar os horários dos ônibus para melhor satisfazê-los. O gerente responsável conta que apenas dez minutos alterados no horário de saída de um ônibus do Rio podem significar uma hora a mais de trânsito para determinada viagem, gerando grande descontentamento por parte dos clientes. “Houve uma semana em que decidimos experimentar passar pela rodoviária de Niterói para pegar mais passageiros antes de seguir para a Região dos Lagos. Atrapalhamos tanto os horários dos clientes frequentes desta linha que rapidamente tivemos que voltar atrás na decisão e colocar um carro saindo direto de Niterói, mesmo com menos passageiros.” 5.1.6 Empowerment na 1001 A 1001 também dá espaço para que seus próprios colaboradores possam levar sugestões à gerência. Muitas vezes é o motorista ou o cobrador quem acaba escutando as reclamações e avisando à empresa sobre os problemas. Esta abertura é importante tanto para a própria 1001, que tem acesso a importantes informações sobre passageiros que utilizam os seus serviços, quanto para os funcionários, que reconhecem a importância dos papéis que desempenham na empresa. Dependendo do cargo ocupado, essa liberdade é maior ou menor, assim como o empowerment recebido. Um caso frequentemente comentado na empresa para descrever a importância da autonomia dada a quem está de frente com os problemas do cliente ocorreu nas linhas que atravessam Campos em direção a outras cidades mais ao norte do estado do Rio de Janeiro, passando pela BR-101. Em novembro de 2005, uma das três pontes sobre o rio Paraíba do Sul – a única com infraestrutura para suportar o peso de um ônibus – caiu, impossibilitando a passagem dos carros da empresa. O trajeto pelo caminho alternativo, via BR-116, implicava a perda de quatro horas adicionais em cada viagem. Observando a insatisfação dos passageiros, o gerente responsável pela região reuniu sua equipe. Juntos chegaram a uma proposta para resolver o problema que estava completamente fora do controle da empresa. O trajeto entre as duas cidades passou a ser feito com a utilização de dois ônibus – um com saída no local do embarque até um dos lados da ponte e o outro iniciando no lado oposto e terminando no local de destino previsto na passagem adquirida. A travessia dos cerca de 200 metros da ponte passou a ser feita a pé, com o auxílio de um carrinho originalmente utilizado para o transporte de peças, que foi adaptado e devidamente caracterizado com a logomarca da 1001 para carregar as bagagens dos passageiros. Com apenas um telefonema, o gerente operacional e gerente local discutiram a melhor forma de resolver a questão que implicaria na sincronização de horários dos dois lados do rio. Segundo relato do gerente operacional, dois fatores foram fundamentais para a tomada de decisão: ter havido uma ampla discussão entre empregados locais e todos estarem do outro lado da linha quando as dúvidas estavam sendo discutidas ao telefone. Toda a equipe envolvida no processo decisório ajudou na implantação e seu feedback foi fundamental para se ter a certeza de que a empresa havia tomado as decisões mais Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 68 91 acertadas. A implantação foi gradual para que as imperfeições pudessem ser corrigidas Tamanho foi o sucesso da iniciativa que houve reportagens nos jornais locais e no jornal interno da 1001, dando prestígio e reconhecimento aos colaboradores da empresa. Outras empresas operadoras na região tentaram copiar a iniciativa, sem obter o sucesso alcançado pela 1001 pois, aparentemente, não houve envolvimento das equipes locais. Os processos dessas empresas apresentaram seguidas falhas de execução como extravio de bagagens, por exemplo. 5.1.7 Inteligência Emocional na 1001 Para finalizar, é importante reforçar que, dentro do ambiente organizacional da 1001, os indivíduos que ali trabalham têm um grande número de papéis a cumprir. Além disso, no atual cenário, a figura do cliente cada vez mais exigente e central para a sobrevivência das empresas gera uma maior sobrecarga aos profissionais de linha de frente, que em muitas ocasiões devem disfarçar suas verdadeiras emoções para entregar o melhor serviço possível aos consumidores. Considerando este contexto, não identificamos nas práticas da 1001 uma política consistente de treinamentos, tampouco pesquisas de satisfação e gestão de equipes voltadas para a criatividade, que pudessem trazer como pano de fundo o trabalho com as emoções. As ações de treinamento existentes, levando em consideração a enorme carga de responsabilidade e estresse diários envolvendo os seus funcionários, mostram-se insuficientes para o alcance total do objetivo de controle emocional por parte destes últimos. Como os próprios executivos da empresa reconhecem, ainda há muito que se fazer neste sentido. Em contrapartida, a 1001 busca trabalhar em sua liderança a proximidade e abertura, fundamentais na figura do líder coach, que acompanha e supervisiona, mas que também dá dicas e trabalha contingências conjuntamente com seus funcionários. É através das reclamações e elogios dos clientes que os líderes recebem insumos para que aspectos comportamentais sejam trabalhados com seus funcionários e prestadores de serviço. Dessa forma, a liderança da 1001 se mostra aberta para ouvir os funcionários, seus fornecedores e clientes, ainda que seja uma ação reativa e não proativa. 6. CONCLUSÃO Os serviços, conforme já mencionado, possuem características que tornam a sua comercialização mais difícil do que a de um produto propriamente dito. Eles são intangíveis, seu consumo é simultâneo à sua preparação, são perecíveis e, por fim, Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 69 91 variáveis. Neste contexto, a gestão dos consumidores de serviços torna-se ainda mais complexa, fazendo com que o desafio de satisfazê-los e fidelizá-los seja ainda maior. Dentre todas as características dos serviços, no entanto, a existência de contato direto dos clientes com a produção da oferta e, consequentemente, com as pessoas responsáveis por ela, torna esta uma das características mais importantes e merecedoras de maior atenção por parte das empresas. Afinal, a interação entre prestador de serviço e consumidor pode representar tanto uma ameaça quanto uma oportunidade para as organizações – no caso de um serviço bem prestado, o consumidor sai satisfeito, e maiores são suas chances de fidelização e de contribuição para a conquista de novos clientes. O contrário, no entanto, faz com que o cliente saia com uma má impressão da empresa e seu serviço, diminuindo as suas chances de retorno. Assim, é de fundamental importância para as empresas a preocupação com a qualidade do atendimento e serviço prestados pelos seus funcionários da linha de frente, bem como das atividades exercidas no back-office e que têm impacto direto nesta relação. Existem várias maneiras de se alcançar uma melhor qualidade na prestação de serviços e, assim, aumentar a satisfação dos clientes. Neste artigo, abordamos como as práticas de Recursos Humanos têm impacto neste objetivo. Basicamente, vimos que os funcionários de empresas de serviços têm uma grande demanda por maior poder, controle e autonomia em suas funções. E é o contexto no qual eles se encontram inseridos que contribui para aumentar esta necessidade: como em qualquer empresa, os funcionários de serviços possuem um job description indicando quais são as tarefas inerentes à sua função – ou seja, definindo e limitando a sua atuação; nesta indústria, no entanto, o contato direto com o cliente contribui para o surgimento de demandas ou problemas que não foram antecipados pela empresa, e que, portanto, muito provavelmente estarão fora do escopo da função do funcionário que está na linha de frente, cara a cara com o consumidor. Como consequência, este funcionário não tem autonomia ou poder suficientes para entregar o serviço como o cliente gostaria. Tal situação, além de deixar o cliente insatisfeito por não ter sua demanda atendida, é frustrante para o próprio funcionário, que se vê de mãos atadas e impossibilitado de cumprir a sua verdadeira função: atender os clientes em suas necessidades, prestando o melhor serviço possível. Para solucionar tal problema, e aumentar a satisfação tanto dos clientes finais quanto dos seus próprios funcionários, várias são as medidas que podem ser tomadas por uma empresa. Para começar, a liderança desempenha um importante papel neste objetivo: líderes servem de inspiração e modelo para um comportamento apropriado em relação aos clientes e, ao agirem como coaches, ajudam a proliferar as principais práticas e princípios relacionados à prestação de um serviço de alta qualidade. Paralelamente, é fundamental que a empresa busque o emporwerment de seus funcionários, de forma a dá-los autonomia suficiente para desempenhar sua função de forma flexível o bastante para atender às demandas dos consumidores, e, assim, satisfazê-los. Por último, menos popular, o trabalho Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 70 91 da inteligência emocional dos funcionários também é uma maneira de influenciar o nível de qualidade do serviço prestado: ao saber controlar e manejar suas emoções, os funcionários se tornam mais bem preparados para enfrentar situações que fogem ao seu controle e buscar soluções para elas. Várias empresas, felizmente, já reconheceram a relação positiva existente entre suas práticas de recursos humanos e o nível de satisfação de seus clientes – ou melhor, o retorno financeiro proporcionado por esta satisfação. Assim, posturas como a do Ritz-Carlton e a da 1001 em relação aos seus funcionários são cada vez mais comuns de serem encontradas, embora o número de empresas de serviços que não conseguem prestar o nível de atendimento desejado pelos clientes ainda seja grande. Em um ambiente onde a competição se dá no nível global e as incertezas são cada vez maiores, é cada vez mais difícil uma empresa se destacar de suas concorrentes e garantir a sua sobrevivência. Mas um caminho para as empresas de serviço é apostar em ações direcionadas para os seus funcionários, de forma a transformar a experiência da prestação de um serviço em algo único e bom o suficiente para garantir a sua fidelização. No Brasil ou em qualquer lugar do mundo, apesar de suas diferenças, o interesse dos consumidores de serviços é um só: ter um atendimento de qualidade. Então, por que não oferecê-lo? 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICAS BACON, T. You are how you behave: customers can’t be fooled.. Journal of business strategy. v. 25[4], 2004. strategy BRADIZIL, P. & SLASKI, M. Emotional intelligence: fundamental competencies for enhanced service provision. Managing Service Quality. Quality v . 13[2], 2003. CHURCH, A. Linking leadership behaviours to service performance: do managers make a difference? Managing Service Quality. Quality v. 5, n. 6, 1995. GOLEMAN, D. Inteligência emocional. emocional Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. HAKSEVER; RENDER; RUSSEL; MURDICK. Service management and operations. operations PrenticeHall, Inc. 2000. HARDY, C. & LEIBA O’SULLIVAN, S. The power behind empowerment: implications for research and practice. Human Relations. Relations v. 32, 1998. HESKETT, J.L.; JONES, T; LOVEMAN, G.; SASSER, W.; SCHLESINGER, L. Putting the service profit chain to work. Harvard Business Review. Review Mar-Abr, 1994. KERNBACH, S.; SCHUTTE, N. S. The impact of service provider emotional intelligence on customer satisfaction. Journal of Services Marketing. 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From Namasivayam’s (2005) article, we conclude that certain elements have a stronger impact on service provider employee productivity: power, control perception, employee autonomy, leadership, empowerment, and emotional intelligence - all of which influence the delivery of services and the subsequent customer satisfaction and loyalty. We noted that the direct client contact by human resource agents, is a defining characteristic of service firms. Following these parameters and assumptions, we conducted a case study at Auto Viação 1001, a road transportation company based in Rio de Janeiro. Our focal point was an investigation of their human resource practice and its immediate influence on consumer satisfaction. From this we determined, it is critical to maintain and foster development of the current quality standards by developing the human resource function at Auto Viação 1001. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 51-72 2009 72 91 MARKETING BOCA A BOCA E LENDAS URBANAS ESTUDO DE CASO: BELEZA NATURAL Barbara Pagliari Levy Luis Carlos Costa Pinto Filho Nayara Nunes Ferreira RESUMO O marketing boca a boca pode ser uma poderosa ferramenta de Marketing (e.g., SERNOVITZ, 2006; WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006; SOLNET e KANDAMPULLY, 2008), em especial quando a empresa consegue se tornar tema de lendas urbanas que sejam positivas para a sua imagem. Tendo em vista a importância do tema, em especial para provedores de serviços, por sua intangibilidade, o presente trabalho faz uma revisão da literatura sobre o tema e apresenta uma pesquisa exploratória realizada na rede de salões de beleza conhecida como Beleza Natural. Foram encontradas diversas evidências da força do marketing boca a boca em relação ao Beleza Natural, assim como a presença de lendas urbanas constituintes da imagem do salão, contribuindo positivamente para o grande sucesso da rede. Palavras-chave: marketing boca a boca, lendas urbanas, intangibilidade do serviço, foco no cliente, foco no funcionário Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 73 1. INTRODUÇÃO O marketing boca a boca tem se revelado poderosa ferramenta de comunicação para as empresas. Mas, ao contrário das demais ferramentas de marketing, esta não está em poder dos gerentes e sim das pessoas comuns que iniciam e replicam o boca a boca. Se positivo, contribui para a formação de uma boa imagem da organização e até mesmo na captação e fidelização de clientes; se negativo, pode, em casos extremos, determinar o término das operações de uma empresa ou a retirada de produtos ou serviços do mercado. O impacto pode ser ainda maior para provedores de serviços, dadas principalmente as suas características de intangibilidade. Uma das fontes mais procuradas para a escolha de provedores de serviços é a recomendação feita por terceiros – ou, em outras palavras, baseada no boca a boca. Alternativamente, a escolha também pode ser feita pelo imaginário que ronda a empresa em questão, constituído em grande parte do que se pode chamar de lendas urbanas. Tendo em vista a importância deste tema para as empresas em geral, em especial as da área de serviços, o presente trabalho tem como objetivo percorrer diferentes referências na literatura a respeito de boca a boca e de lendas urbanas, e sua relação com o foco nos clientes e nos funcionários e a satisfação dos clientes. Adicionalmente, é também objetivo deste trabalho realizar um estudo de caso com uma empresa prestadora de serviços para a avaliação dos conceitos estudados, tendo sido escolhido para este fim o Instituto Beleza Natural. O estudo está organizado em três grandes blocos. Primeiramente, após esta introdução, será apresentada no capítulo dois a revisão de literatura dos conceitos supracitados. O estudo de caso se encontra no capítulo três, seguido de uma série de conclusões obtidas a partir dos blocos anteriores, com algumas recomendações práticas para as empresas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Boca Boca a Boca e Lendas Urbanas 2.1.1 Marketing Marketing Boca a Boca A Associação do Marketing Boca a Boca americana (Word of Mouth Marketing Association – WOMMA) define o boca a boca como “o ato de consumidores proverem informações a outros consumidores e o Marketing boca a boca como “dar razões às pessoas para falarem sobre seus produtos e serviços, e facilitar que esta conversação aconteça” (WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006, p. 2). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 74 A razão para que exista uma associação voltada para este tema, assim como a preocupação do trato do assunto como parte da estratégia de empresas, é devido ao reconhecimento da importância do boca a boca (BAB, ou WOM – word of mouth4) sobre as atitudes dos consumidores em relação aos produtos e serviços e seus comportamentos de compra (BROWN et al., 2000, apud SOLNET e KANDAMPULLY, 2008). Segundo Solnet e Kandampully (2008), o boca a boca dá credibilidade à comunicação feita pelas empresas, pois é de consumidor para outro consumidor, sem que o interlocutor tenha nada a ganhar pela propaganda realizada de um produto ou um serviço. Possivelmente por este motivo, foram encontradas evidências de que os consumidores acreditem mais nas recomendações de outros consumidores, do que nas campanhas feitas pelas empresas. De forma intencional ou não, uma empresa pode ser alvo de BAB, podendo ele ser positivo ou negativo. Brown et al. (2005) realizaram um estudo utilizando concessionárias de automóveis americanas, as quais comercializavam tanto produtos quanto serviços. Puderam observar que a disposição dos clientes em realizar um boca a boca positivo sofria uma forte influência proveniente de sua satisfação, do compromisso sentido na relação clientefornecedor e da sua sensação de identificação com a concessionária e com os seus funcionários. Já Ranaweera e Prabhu (2003) usaram o contexto de telefonia fixa no Reino Unido para verificar que tanto a satisfação quanto a confiança têm fortes associações positivas com a retenção de clientes e o BAB. Eles encontraram também indícios de que uma recuperação satisfatória de um serviço não necessariamente recupera a confiança do cliente. Diferentes autores defendem o Marketing Boca a Boca como uma poderosa ferramenta de Marketing (e.g., SERNOVITZ, 2006; WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006; SOLNET e KANDAMPULLY, 2008), em especial quando a empresa consegue tornar-se tema de lendas urbanas que sejam positivas para a sua imagem. No caso dos serviços, a recomendação feita por outros clientes parece fazer ainda mais diferença, provavelmente por conta da natureza intangível dos serviços, em uma tentativa de se reduzir os riscos envolvidos na escolha da empresa ou profissional. Sernovitz (2006) faz diferentes recomendações às empresas para obterem boca a boca positivo. Dentre elas, o autor destaca a necessidade de a empresa ser interessante, para que as pessoas queiram falar sobre ela; fazer as pessoas felizes, provendo produtos e serviços de excelência; fazer jus à inteligência das pessoas, ouvindo-as e atendendo às suas necessidades; e facilitar para que elas falem bem da empresa, gerando mensagens simples de fácil replicação para terceiros. O boca a boca pode ser classificado em orgânico ou amplificado (WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006). O primeiro tipo é normalmente gerado de 4 Os termos “boca a boca” e “word of mouth”, e suas respectivas siglas, “BAB” e “WOM”, podem ser utilizados mantendo-se o mesmo significado original empregado neste estudo. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 75 modo espontâneo pelos clientes por estarem extremamente satisfeitos com a empresa em questão, e terem um desejo natural de compartilhar sua experiência com outras pessoas. Já o BAB amplificado é gerado a partir de campanhas desenhadas para estimular e acelerar o BAB dentro de comunidades. Ambos os tipos podem ser considerados dentro da estratégia de Marketing das empresas. Contando com grandes empresas de consumo entre seus mais de 330 associados, a WOMMA propõe os limites éticos do uso do boca a boca, recriminando iniciativas como o spam, as inverdades, a infiltração (adoção de identidade falsa em comunidades para promoção de produtos ou serviços) e a contratação de mercenários (pagos para dar falso depoimento sobre suas supostas experiências de excelência) (ibid, p. 7). Esta associação listou diferentes tipos de Marketing boca a boca, incluindo o Buzz Marketing (ou Marketing de guerrilha), o Marketing Viral, de Comunidades (como, por exemplo, o Orkut), o Evangelizador, entre diversos outros (ibid, p. 3). Dentro do conceito de Marketing Evangelizador, por exemplo, Schmitt (2008) destaca o WOM feminino na decisão de compra de produtos e serviços voltados às mulheres – neste caso, concessionárias de motos que comercializam modelos femininos. A autora recomenda que os concessionários prestem especial atenção e tratem especialmente bem as mulheres evangelizadoras de seus produtos, ou seja, aquelas que têm satisfação de falar sobre os seus produtos para outras mulheres. O potencial do boca a boca pode ser bastante significativo. Bailey (2007) elabora um exemplo hipotético, imaginando que um cliente comente com duas outras pessoas sobre um produto ou serviço. Se cada um destes comentarem com outras duas pessoas, e assim sucessivamente, ao final de 30 dias, potencialmente, meio bilhão de pessoas teriam participado deste BAB. O autor usa esta projeção para chamar a atenção para o fato de que o efeito que uma empresa exerce sobre o cliente não é necessariamente pontual, podendo ser projetado pelo BAB para muitos outros clientes, em cadeia. Em razão disto, as empresas não devem apenas se preocupar em amplificar o boca a boca positivo, mas também evitar o boca a boca negativo. Wangenheim (2005) publicou um estudo realizado com clientes que haviam trocado de provedores de telefonia fixa na Alemanha, revelando que a perda de clientes pode ir muito além do valor que se deixa de receber ao longo de sua vida como cliente, pois eles podem também realizar o boca a boca negativo após a realização da troca de fornecedor (PNWOM – “postswitching negative word of mouth”). O estudo sugere que clientes que trocam de fornecedor devido à insatisfação com a empresa anterior apresentam maior chance de fazerem PNWOM do que clientes que trocam buscando apenas preços mais baixos. Parte da explicação estaria na tentativa de estes clientes reduzirem sua dissonância cognitiva, sentindo-se motivados a falar mal da fornecedora anterior para justificar para si e para outros que a sua troca foi acertada (RICHINS e BLOCH, 1986, apud WANGENHEIM, 2005). 2.1.2 Mensuração do Boca a Boca Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 76 O gerenciamento do Marketing Boca a Boca envolve, assim como no caso das demais ferramentas de Marketing, uma mensuração ao longo do tempo. Goodman (2005) propõe um método para esta mensuração que, segundo ele, não seria muito diferente do que é utilizado para as demais mídias de comunicação. São quatro as medidas que propõe que se estude: • Número de pessoas que ouviram o boca a boca (“volume de BAB”): obtido em pesquisas nas quais é perguntado aos respondentes a quantos amigos ou conhecidos eles falaram sobre sua experiência com a empresa em questão (ou produto ou serviço específico, dependendo do objetivo da pesquisa). • Impacto sobre a opinião a respeito da empresa: é uma medida do impacto que o boca a boca causa sobre o cliente, por exemplo, em comparação com outras formas alternativas de mídia utilizadas pela empresa (propagandas, anúncios, entre outros). Uma alternativa seria medir a resposta dos entrevistados para cada uma das formas de formação de opinião, pedindo-lhe que classifique cada uma em relação ao impacto (desde muito impactante até nada impactante). • Número de pessoas que tomaram alguma ação em decorrência de ouvir um BAB. Apesar de ser uma medida mais subjetiva, é um importante indicativo do efeito do boca a boca sobre as atitudes reais dos clientes. • Porcentagem de novos clientes que procuraram a empresa baseados em uma referência pessoal. 2.1.3 Lendas Urbanas Com colocações realizadas há diversas décadas, porém de significado ainda corrente, La Piere e Farnsworth (1936, apud DONAVAN et al., 1999) definiram lenda como “um rumor que se torna parte da herança verbal de um povo”, enquanto que Allport e Postman (1947, apud DONAVAN et al., 1999) disseram que “rumores são proposições específicas de crença, passadas adiante de pessoa para pessoa, normalmente por boca a boca, sem que evidências estejam presentes”. Donavan et al. (ibid) complementam que as lendas urbanas seguem os critérios de ambas as definições, mas destacam que as lendas urbanas costumam ser mais críveis do que os rumores, tomadas por quem propaga as histórias como sendo verdadeiras. Solnet e Kandampully (2008) destacam que, se feito de forma sistemática, o boca a boca pode acabar gerando uma lenda urbana, a qual é ainda mais forte do que o BAB, pois passa a ser perpetuada por qualquer pessoa, independentemente de ela ter estado em contato com aquele produto ou serviço. “Na sociedade pós-moderna, estas lendas urbanas podem logo se tornar ‘verdades’ do cliente” (ibid, p. 181). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 77 Frost (2002) declara que rumores, boatos e lendas urbanas têm como única diferenciação para as notícias o fato de não se poder comprovar se são verdadeiros. Frost realizou um estudo para verificar a credibilidade de lendas urbanas conhecidas, e os resultados sugeriram que as pessoas não são totalmente céticas sobre a veracidade das histórias que ouvem, muitas vezes acreditando em informações que seriam consideradas “fantásticas” por outras pessoas. Há indícios provenientes dos dados deste estudo indicando que a credibilidade das histórias seja afetada por três fatores: a credibilidade da fonte, o nível de ameaça envolvido e a probabilidade de o evento acontecer com quem ouve a história. Outra conclusão do estudo foi a indicação de, ao se passar adiante uma lenda urbana, haver uma certa expectativa de que os receptores da história façam eles mesmos seus testes da verdade para o que ouvem de outros. Em linha com estes conceitos, Macintosh (2007) realizou um estudo com funcionários de uma universidade canadense e seu relacionamento com a agência de viagens que lhe prestava serviços de forma não exclusiva. Dentre as conclusões do estudo, foi encontrada uma ligação significativa entre a qualidade dos relacionamentos no nível interpessoal e os resultados obtidos no nível organizacional (resultados da agência de turismo em questão). A qualidade das relações interpessoais não só aumentava a satisfação do cliente com os serviços, como também estava diretamente ligada à lealdade do cliente e divulgação de BAB positivo sobre a empresa. O foco de Donavan et al. (2001) é principalmente nas lendas urbanas negativas, definindo-as finalmente como sendo “narrativas ficcionais ou folclóricas que contêm uma trama, relatadas durante um período de tempo considerável e usam um desfecho irônico para alertar consumidores de perigos” (ibid, p. 521). Segundo eles, as lendas urbanas são comumente mostradas na forma de alertas de perigos de supostos golpes sendo executados junto a pessoas desavisadas, ou mesmo na forma de denúncias da suposta presença de componentes perigosos para a saúde na formulação de produtos de consumo comuns. Como recomendação para os gerentes de Marketing, Donavan et al. (ibid) recomendam que se busque entender as razões pelas quais o seu público está criando ou repassando estas histórias para seus conhecidos, além de buscar meios de dirimir possíveis dúvidas através, por exemplo, de enredos de seus comerciais. O fenômeno da internet potencializou a multiplicação deste tipo de divulgação, sendo facilmente replicado de uma única fonte para dezenas de outras pessoas. Os autores colocam a divulgação eletrônica como sendo diferente e sucessora da divulgação boca a boca, em oposição aos demais autores comentados anteriormente. 2.1.4 Exemplos de Lendas Urbanas Positivas Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 78 No estudo realizado por Solnet e Kandampully (2008), foram selecionadas dez empresas relatadas consideradas empresas de excelência e foco de lendas urbanas positivas. Uma delas, a Nordstrom, é citada em dezenas de livros e artigos escritos sobre o tema. Collins e Porras (1994) fazem um apanhado de algumas das lendas urbanas da Nordstrom: “o nordie [funcionário da Nordstrom] que tinha passado uma camisa recémcomprada para um cliente que precisava dela para uma reunião na mesma tarde; o nordie que, sorridente, embrulhou para presente produtos comprados por um cliente na Macy’s; o nordie que ficava esquentando os carros dos clientes no inverno enquanto eles terminavam de fazer compras; a nordie que tricotou pessoalmente um xale para uma cliente idosa que precisava de um que tivesse um comprimento especial para que não ficasse preso nos raios de sua cadeira de rodas; o nordie que fez uma entrega de última hora de roupas para a festa de uma anfitriã nervosa; e até o nordie que devolveu dinheiro por um conjunto de correntes antiderrapantes – apesar de a Nordstrom não vender correntes antiderrapantes” (ibid, p. 118). Os funcionários se sentem orgulhosos de pertencer ao grupo de nordies, buscando manter viva a lenda que cerca a empresa, promovendo a maior satisfação possível de seus clientes. Outra empresa colocada como exemplo tanto na seleção feita por Collins e Porras (ibid), como por Solnet e Kandampully (2008), entre tantos outros autores, é a Disney. Entre as inúmeras histórias que relatam a inseparabilidade na satisfação de clientes e funcionários encontrada pelos autores no referido estudo, estão relatos como o suposto evento de uma criança que derrubou o seu sorvete, caindo sobre a sua camiseta. Um funcionário teria então socorrido a criança, comprando com seu próprio dinheiro um novo sorvete e uma camiseta para ela. Além disso, com o consentimento dos pais, teria mandado lavar a camiseta suja para ser posteriormente entregue em seu hotel. Independentemente do relato das lendas urbanas sobre a Disney, ela é uma instituição renomada em termos de excelência de serviços, colocando grande foco no treinamento de seus funcionários e na contratação de “sorrisos” – pessoas que estão felizes de servir aos “hóspedes” (clientes) que visitam os parques de diversão do grupo. Aqui, novamente, há o círculo virtuoso relatado pelos autores. Finalmente, outro exemplo que pode ser dado é o do Hotel Ritz Carlton, onde o lema é “somos damas e cavalheiros servindo damas e cavalheiros”, de forma a acentuar o profissionalismo esperado na prestação de serviços do hotel. Uma das lendas urbanas que circulam é a de um funcionário no final do seu turno de trabalho que, ao saber ao acaso que um hóspede planejava pedir sua namorada em casamento naquela noite, na praia do hotel, vestiu um smoking e os levou até as cadeiras deixadas por ele para o evento. Trouxe então flores, champagne e velas. Mesmo não se comprovando a veracidade da história, ela contribui para a imagem que se tem dos hotéis Ritz Carlton. 2.2 Foco em Funcionários e Clientes e o Marketing Boca a Boca Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 79 Solnet e Kandampully (2008) estudaram um grupo de empresas e tentaram identificar características comuns a elas que pudessem explicar por que são mais suscetíveis ao marketing boca a boca e à criação de lendas urbanas. Os primeiros atributos percebidos pelos autores como comuns às empresas selecionadas foram: presença de uma marca forte, liderança de mercado, foco no cliente, nos funcionários e no processo de serviço, utilização de métricas não financeiras para avaliação, liderança no uso de tecnologia, forte aderência a padrões estabelecidos, políticas de recompensa aos funcionários, liderança exercida efetivamente e, geralmente, realizada pelos fundadores ou empreendedores do negócio. A partir desses atributos identificados inicialmente, os autores apontaram como ponto chave, para a realização e amplificação do marketing boca a boca, o fato de essas empresas terem um compromisso e um relacionamento bastante acentuados com seus funcionários e clientes (clientes internos e externos). Segundo Lovelock (2001), as filosofias adotadas pelas empresas podem levá-las a percorrer trajetórias bastante distintas e, consequentemente, a obterem resultados bem diferentes, sendo eles: • “Ciclo de fracasso”, em que uma busca míope de produtividade faz com que a empresa gere grande insatisfação dos funcionários, má qualidade de serviço prestado, insatisfação e pouca retenção de clientes, levando a uma necessidade contínua de buscar novos clientes. • “Ciclo de mediocridade”, em que impera na empresa o rigor das regras e manuais de procedimentos. Nesse ciclo são atribuídas aos funcionários responsabilidades restritas e os aumentos salariais são concedidos, preferencialmente, por tempo de empresa e não por mérito. • “Ciclo do sucesso”, em que, entre outras coisas, a visão do desempenho financeiro é de longo prazo, é concedido empowerment aos funcionários e há a valorização dos mesmos, o que contribui para que a rotatividade seja reduzida. Algumas empresas pioneiras optaram por trilhar o ciclo do sucesso e, conforme explicado por Schlesinger e Heskett (1991), um novo modelo de serviço começa a emergir por meio da substituição do antigo modelo de industrialização. Nesse novo modelo, as empresas valorizam os investimentos em pessoas, usam a tecnologia para apoiar os esforços do pessoal de linha de frente, tornam o recrutamento e o treinamento ferramentas cruciais e vinculam a remuneração ao desempenho para empregados de todos os níveis. Corroborando com essa ideia, Heskett et al. (1994) afirmam que, para atuar na nova economia de serviços, os executivos compreenderam que os funcionários da linha de frente e os clientes têm que estar no centro das preocupações da empresa. Nas últimas décadas, segundo Kurtz e Clow (1996), empenhados em encontrar formas de prestar serviços de qualidade, aumentar a produtividade e reter clientes, executivos de diversas Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 80 áreas de negócio começaram a dar crescente importância a um ativo que vinha sendo relegado a segundo plano: sua equipe de funcionários. Com base no framework desenvolvido por Heskett et al. (1994), é possível sintetizar as relações de causalidades existentes entre a promoção, por parte da empresa, da satisfação dos funcionários e a obtenção da satisfação e fidelidade dos clientes. Esta relação de causalidade, como sugerido por Solnet e Kandampully (2008), poderá resultar no boca a boca positivo para a empresa. Esse framework consiste na cadeia serviço-lucro e estabelece os relacionamentos entre a lucratividade, lealdade dos clientes e a satisfação, lealdade e produtividade dos funcionários. Os elos na cadeia são estabelecidos da seguinte forma: o lucro e o crescimento são estimulados, basicamente, pela lealdade do cliente e esta resulta, diretamente, de sua satisfação. A satisfação é, em grande medida, influenciada pelo valor dos serviços prestados aos clientes. O valor, por sua vez, é gerado através de funcionários satisfeitos, leais e produtivos. A satisfação dos funcionários, por seu turno, provém de principio de serviços e políticas de apoio de alta qualidade, que permitem que os empregados atendam adequadamente os clientes (HESKETT et al., 1994). Em consonância com essas relações de causalidade, Reinchheld et al. (2000) afirma que as empresas que apresentam as maiores taxas de retenção de clientes tendem também a auferir os maiores lucros. Desta forma, os autores sugerem que a retenção relativa de clientes explica os lucros melhor do que a participação no mercado, a escala, a posição de custos ou quaisquer das variáveis normalmente associados à vantagem competitiva. Diante desse novo modelo de serviços, as empresas tentam dimensionar o impacto causado pela satisfação, lealdade e produtividade dos empregados sobre o valor dos serviços prestados, satisfação e lealdade dos clientes e buscam avaliar também o impacto correspondente na lucratividade e no crescimento da empresa (HESKETT et al., 1994). Nesse contexto, um estudo britânico mostrou que 92% das pessoas entrevistadas afirmaram que a forma na qual os funcionários se comportam e que se vestem afeta, decisivamente, a percepção que elas têm quanto ao serviço prestado. Foi ressaltado no estudo, por exemplo, que os funcionários que apresentam uma “aparência profissional” inspiram maior confiança e maior percepção, por parte dos clientes, de excelência na prestação do serviço. Esse estudo indicou, ainda, que 36% dos entrevistados alegavam que a interação realizada com funcionários amigáveis, entusiasmados e atentos é determinante para proporcionar uma ampla experiência ao cliente (BROOKS, 2007). Com base em outro estudo realizado com 8 mil clientes de investimento e seguradoras, foi demonstrado que o fomento a uma experiência agradável e ampla ao cliente pode estar vinculado e proporcionar um aumento de 12 a 32% do número de clientes que vão fazer as recomendações positivas da empresa. Na Tabela 1 é apresentado Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 81 este resultado, mostrando o aumento percentual do que pode ser obtido no número de pessoas que vão realizar o boca a boca comparando-se um consumidor normal a um consumidor que reporte uma experiência agradável (GOODMAN, 2005). Tabela 1 – Aumento Esperado do Boca a Boca Experiência Agradável Média de Aumento do No de Pessoas que Realizam o BAB Positivo Serviço supera as expectativas 12% Assistência durante todo o ciclo 14% Não ocorrência de surpresas desagradáveis 22% Interação amigável com os funcionários 25% Relacionamento pessoal 26% Consistência no oferecimento de um bom serviço 32% Indicação dos funcionários de novas oportunidades 30% Proatividade dos funcionários em dar informações 32% Fonte: Baseada em John Goodman, “Treat your customers as prime media reps”, 2005 A mudança para o novo modelo de serviços centrado no cliente também requer investimento intensivo no treinamento dos funcionários e na comunicação com eles. O treinamento, além de instruí-los e motivá-los, proporciona o contexto em que os funcionários se comprometem com a empresa e com suas expectativas de serviço. O intuito desses treinamentos consiste em fixar padrões e expectativas de desempenho, assim como transmitir as informações, habilidades que os trabalhadores precisam para satisfazer às expectativas (SCHLESINGER e HESKETT, 1991). Sintetizando, Solnet e Kandampully (2008) ressaltam que as implicações decorrentes da orientação no cliente e nos funcionários é a expansão do conceito de “inseparabilidade”.5 Em outras palavras, as empresas estudadas pelos autores suscetíveis ao boca a boca, não apenas apresentavam o alinhamento interno de suas funções, como também as lendas urbanas contadas a seu respeito faziam com que se reforçasse a noção de foco nas pessoas. Os efeitos de tais práticas eram percebidos tanto dentro das empresas como fora delas, contribuindo para a formação de uma imagem de empresa de excelência. Os funcionários comumente sentiam orgulho de pertencer a estas empresas, motivando-os ainda mais a buscar a satisfação de seus clientes. Os clientes, notando um diferencial nos serviços prestados, novamente contribuíam para a manutenção do boca a boca e das lendas urbanas. 2.3 O Processo e Resultado do Serviço no Contexto da Satisfação do Cliente Conforme mencionado anteriormente, um dos atributos identificados como comum a empresas que são mais suscetíveis ao marketing boca a boca e lendas urbanas, é o foco 5 Em serviços, o termo “inseparabilidade” é usado para descrever a relação entre produção e consumo de serviços, que ocorrem simultaneamente. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 82 no processo de serviço (SOLNET e KANDAMPULLY, 2008). Da mesma forma, Goodman (2005) identificou evidências de que uma experiência agradável, percebida ao longo do processo do serviço, pode estar vinculada ao desenvolvimento do boca a boca. O processo de serviço é definido por Mohr e Bitner (1995) como a maneira com que o resultado é transferido ao cliente e esses autores, por seu turno, definem o resultado do serviço em si como aquilo que o cliente recebe como contrapartida pelo seu pagamento. Nesse sentido, Johnson et al. (1998), por meio de um estudo experimental desenvolvido em lavanderias e em firmas de serviços legais, verificaram que tanto o resultado final do serviço quanto o processo do serviço têm significativo efeito no processo de recomendação boca a boca, porém o efeito atinente ao processo do serviço é mais significativo. Analogamente, o estudo de Dabholkar e Walls (1999, apud DABHOLKAR e OVERBY, 2005) identificou que a avaliação do serviço e as mudanças do comportamento de consumo estão conectadas aos dois fatores mencionados; no entanto, estes autores avaliam que o resultado final do serviço é o fator, usualmente, mais crítico para o desencadeamento do BAB. Outra pesquisa (RICHARD e ALLAWAY, 1993, apud DABHOLKAR e OVERBY, 2005), por outro lado, mostrou que o processo e o resultado do serviço são igualmente importantes para o processo decisório de escolha. Desta forma, embora haja divergências relevantes entre os estudos desenvolvidos, as pesquisas sugerem que a avaliação do serviço e, consequentemente, o boca a boca decorrente dela, é influenciada, de maneira conjunta, pelos aspectos relacionados ao resultado final do serviço e ao processo do serviço, merecendo, portanto, atenção das empresas prestadoras (BABHOLKAR e OVERBY, 2005). Babholkar e Overby (2005) apresentam diversos estudos que demonstram a importância de ambos os aspectos para a avaliação, pelo cliente, do serviço prestado; no entanto, os efeitos específicos de cada um deles não estão delimitados. Em outras palavras, a literatura, até então, tem dificuldades em oferecer adequada compreensão em como o processo e o resultado do serviço impactam na avaliação dos serviços prestados, tais como: na percepção da qualidade e na satisfação do cliente. Grande parte dos estudos desenvolvidos traz a abordagem de que a qualidade do serviço, tipicamente, toma como foco os atributos relacionados ao processo do serviço, tais como: empatia, responsividade, segurança e tangibilidade (PARASURAMAN et al., 1991, apud HARVEY, 1998). Corroborando esta ideia, Grönroos (1984, apud DABHOLKAR e OVERBY, 2005) propôs que a qualidade do serviço leva em conta os aspectos do processo de serviço, no que se refere a sua qualidade funcional, e do resultado final do serviço, no que se refere a sua qualidade técnica. Tendo como base o suporte empírico de inúmeras pesquisas, os autores Babholkar e Overby (2005) sugerem que a satisfação do cliente é consequência da qualidade do Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 83 serviço, persistindo, no entanto, o questionamento quanto à possibilidade de generalização de tal afirmação. Em oposição, Oliver (1997, apud DABHOLKAR e OVERBY, 2005) afirma que a avaliação da satisfação do cliente está mais relacionada a aspectos afetivos e emocionais, enquanto que uma avaliação da qualidade do serviço está mais relacionada a aspectos cognitivos. Segundo Dabholkar e Overby (2005), alguns autores sugerem, a partir de evidências empíricas, que a satisfação do cliente está relacionada a uma avaliação mais global do serviço, indicando uma grande conexão com o resultado total do serviço entregue ao cliente. Os autores indicam, ainda, que pesquisadores verificaram que o resultado do serviço está intimamente associado com a emoção, assim como com o processo de interação ocorrido na prestação do serviço. Desta forma, pode ser considerada como evidência de uma conexão entre o resultado do serviço e a satisfação do cliente. Como mencionado anteriormente, a avaliação da satisfação do cliente está relacionada a um componente emocional, o qual, quando em situações de experiências extremamente positivas ou negativas leva as reações emocionais a sobrepujarem as avaliações cognitivas existentes. Dessa forma, as avaliações da satisfação do cliente, baseadas em aspectos afetivos e emocionais, influenciarão a avaliação da qualidade final do serviço, baseada nos aspectos cognitivos. Em situações não extremas, por outro lado, haverá possivelmente uma maior racionalidade por parte do cliente ao avaliar o serviço. Com isso, há evidências que as avaliações da qualidade do serviço precederão e influenciarão a satisfação do cliente (DABHOLKAR, 1995a, apud DABHOLKAR e OVERBY, 2005). Ao longo da pesquisa de Dabholkar e Overby (2005), aproximadamente três quartos dos respondentes avaliaram a qualidade do serviço primeiro e, em seguida, decidiram se estavam realmente satisfeitos, corroborando, dessa forma, a literatura precedente. Em suma, o estudo de Dabholkar e Overby (2005) identificou que os fatores do processo de serviço eram mais intimamente ligados com a qualidade do serviço, enquanto que os fatores relacionados ao resultado final do serviço demonstram maior conexão com a satisfação do cliente. Assim, caso uma imagem associada a um serviço de altíssima qualidade seja importante para o negócio, deve-se direcionar o foco no processo do serviço, garantindo que as expectativas dos clientes estejam sendo verificadas no que tange aos fatores do processo de maior relevância para eles. Por outro lado, caso o objetivo do negócio seja alcançar a satisfação do cliente, deve-se focar mais intensamente em garantir que os resultados finais do serviço sejam excelentes. Caso o resultado do serviço seja extremamente positivo, o serviço prestado é, de certa forma, irrelevante. Caso na prática haja um esforço por um resultado final excelente, pode-se compensar por um baixo nível de qualidade do serviço associado ao processo. Isto não significa, por sua vez, que se deva prestar um serviço de baixa qualidade, mas, se houver problemas ou erros, possivelmente serão superados pela entrega de um resultado final do serviço de altíssimo nível (DABHOLKAR e OVERBY, 2005). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 84 3. ESTUDOS DE CASO – BELEZA NATURAL 3.1 Metodologia da Pesquisa A metodologia utilizada neste trabalho foi uma pesquisa exploratória na rede de salões de beleza conhecida como Beleza Natural. A escolha dessa empresa se baseou, principalmente, no fato de que o Instituto Beleza Natural (doravante chamado de Beleza Natural) possui, inerentemente, um marketing boca a boca bastante intenso, sendo esta basicamente a forma de marketing mais eficaz utilizada. Outro aspecto relevante para a escolha da empresa foi a facilidade de acesso a empresa. O primeiro passo para a realização da pesquisa foram as entrevistas semiestruturadas com uma das sócias da empresa, Leila Velez (Anexo I), e com duas assistentes de comunicação social da empresa. Essas interações preliminares tinham como intuito compreender como se deu o processo de desenvolvimento do Beleza Natural, o tipo de marketing utilizado pela empresa, entender como é a dinâmica da interação da empresa com seus funcionários, avaliar como a empresa entende o processo de entrega de valor ao cliente e o atendimento de suas expectativas. Posteriormente, foram feitas duas visitas a dois institutos do Beleza Natural, localizados em Ipanema e Tijuca, nos quais os gerentes das unidades conduziram a apresentação das instalações e do processo completo de um dos principais serviços prestados pelos institutos. Nessas visitas foram aplicados dois tipos de questionários a cinco funcionários (Anexo II) e a sete clientes (Anexo III). O objetivo era entender a operação do salão em si, avaliar possíveis pontos de insatisfação, buscar indícios do marketing boca a boca e outras informações que se provassem relevantes em relação à percepção tanto dos clientes como dos funcionários da empresa. Cabe destacar que ao longo do trabalho, a título de ilustração, foram inseridos depoimentos dos entrevistados e, para manter sigilo da identidade dos mesmos, foi utilizada a seguinte nomenclatura: F1, F2 até F5 como referência a cada um dos cinco funcionários e C1, C2 até C7 para cada um dos sete clientes entrevistados. 3.2 Apresentação da Empresa e Descrição da Operação O Beleza Natural iniciou suas atividades em 1993 com um pequeno salão de cabeleireiro no subúrbio do Rio de Janeiro. A empresa surgiu do sonho empreendedor de um de seus sócios, Heloisa Assis (conhecida como Zica), de criar um negócio que pudesse proporcionar uma verdadeira mudança na vida das pessoas por meio de elevação de sua autoestima. O Beleza Natural se tornou, ao longo de quinze anos de existência, a maior rede brasileira de institutos de beleza especializados em soluções para cabelos crespos e Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 85 ondulados, com serviços com enfoque em qualidade e preços acessíveis. Além de desenvolver soluções para cabelos crespos, possui tratamentos convencionais de um salão de beleza, como corte, tintura, maquiagem, penteado, manicure e pedicure. Pode-se dizer que o Beleza Natural mudou o conceito de institutos de beleza, elevando-o a um patamar de profissionalização, de gestão empresarial e de inovação em processos e produtos. A empresa conta, atualmente, com oito institutos no Rio de Janeiro (Madureira, Ipanema, Tijuca, Campo Grande, Jacarepaguá, Caxias, Niterói e Nova Iguaçu) e um no Espírito Santo. Segundo dados da própria empresa,6 mensalmente cerca de 60 mil clientes frequentam os institutos do Beleza Natural, caracterizados por amplas lojas de, em média, 1.000 m2. O principal serviço oferecido pelos institutos é a aplicação do tratamento conhecido como Super-Relaxante. Uma das características deste serviço é que não pode ser agendado, ou seja, a prestação do serviço ocorre sob demanda. As etapas de prestação do serviço estão ilustradas na Figura 1 e, como pode ser observado, estão dispostas em forma de “U”. Este formato foi implantado recentemente pela empresa com o objetivo de propiciar um melhor desenvolvimento e controle do fluxo do serviço. 6 Dados fornecidos pela empresa durante as entrevistas e em materiais de comunicação interna, além das informações disponíveis no site www.belezanatural.com.br – acessos diversos em setembro e outubro de 2008. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 86 Figura 1 – Mapa Ilustrativo do Processo de Serviço O fluxo do processo tem por característica um alto grau de padronização, sendo que cada etapa é executada por funcionários que são especializados nas respectivas tarefas que compõem cada etapa. Cabe ressaltar que o processo foi projetado para que ao término da última etapa do tratamento a cliente saia em frente à loja de produtos de tratamento de beleza do Beleza Natural. Como a operação demonstra certa complexidade, devido às quantidades vultosas de clientes simultaneamente, o fluxo de processamento das Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 87 clientes é coordenado por um centro de controle operacional, que atua no planejamento e controle de processamento das clientes e alocação de recursos. O processo tem início na recepção do instituto, na qual a cliente informa o serviço desejado, recebe uma senha de atendimento e paga o serviço antecipadamente. Caso seja a primeira vez que a cliente vai receber um serviço do Beleza Natural, esta será encaminhada para uma entrevista com uma das assistentes de atendimento para uma avaliação de seus cabelos e adequada orientação quanto aos serviços (cinco minutos de duração). Em seguida a cliente é encaminhada para a primeira sala de espera. O fluxo do processo do tratamento Super-Relaxante, por exemplo, consiste basicamente de quatro etapas que agregam valor ao cliente e duas etapas de espera. O fluxo contempla, portanto, uma primeira etapa de espera (acima de 40 min), uma etapa de repartição do cabelo (10 min de duração), outra etapa de espera (acima de 20 min), aplicação do Super-Relaxante (30 min), hidratação e vaporização (20 até 40 min) e penteado final (10 a 15 min). O serviço completo possui uma duração total, em média, de três horas, mas há inúmeros registros de que clientes, em dias de alta demanda, levam por volta de oito horas para passar por todas as etapas. Os sócios, preocupados com o elevado tempo de espera das clientes, programam atividades e entretenimentos, baseados no modelo da Disney, tais como: palestras sobre beleza, saúde, educação, orientação sexual, entre outros, de forma a transformar os tempos de espera em mais uma etapa do serviço prestado. Esta prática culmina em uma possível minimização da percepção do tempo em espera por parte do cliente. Uma solução apresentada aos clientes como forma de minimizar os tempos de espera foi a criação do Espaço VIP, um espaço desenvolvido como uma réplica menor do mesmo fluxo acima mencionado, com a única diferença de que a cliente pode agendar o seu tratamento, mediante pagamento de uma taxa adicional. 3.3 Prestação de Serviços – Abordagem Gerencial Prevalece o entendimento entre os sócios do Beleza Natural de que o valor do serviço prestado a seus clientes é muito superior do que apenas a qualidade do produto ou a aplicação de técnicas pelas colaboradoras. Compreender a forma de pensar dos clientes, entender suas especificidades e anseios, saber desenvolver na equipe de colaboradores a orientação ao cliente, motivar constantemente a equipe, são alguns dos grandes diferenciais do Beleza Natural, conforme preconizado por Heskett et al. (1994). Essa filosofia de atendimento ao cliente e o culto ao prazer de servir faz com que os sócios do Beleza Natural não se sintam ameaçados por concorrentes já estabelecidos no mercado de cabelos afro, tampouco em relação àqueles que tentam copiar o Beleza Natural. Ao contrário, a melhor forma que eles utilizam para lidar com a concorrência, tal como indicado por Heskett et al. (1994), é continuar se aprimorando internamente, Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 88 investindo na capacitação da equipe de colaboradores e reforçando a orientação ao cliente, bem como no desenvolvimento de novos produtos e técnicas. Recentemente, o Beleza Natural passou por um processo de reestruturação interna que teve como intuito trazer, para o corpo gerencial da empresa, pessoas com expertise em administração de múltiplas unidades de negócios. Essa iniciativa foi premente, uma vez que, à medida que o Beleza Natural se expande, surge a necessidade de manter o mesmo nível de atendimento ao cliente e o mesmo padrão de relações humanas entre colaboradores e clientes em todas as filiais da empresa. Em outras palavras, há a preocupação por parte dos sócios de que cada nova unidade inaugurada (que contém em média 100 a 150 colaboradores) tenha capacidade de gerar o valor esperado pelos clientes. Para tal, é necessário treinar e imergir os novos colaboradores na cultura de servir da empresa, conforme sugerido por Schlesinger e Heskett (1991), sendo este, sem dúvida, um dos fatores que tornam o Beleza Natural mais suscetível ao marketing boca a boca. Entender por que uma empresa como o Beleza Natural desenvolve o marketing boca a boca e tem essa forma de divulgação como sua principal estratégia de marketing, passa pela compreensão de sua orientação ao funcionário e orientação ao cliente, como será explorado nos tópicos a seguir. 3.3.1 3.3.1 Orientação ao funcionário Entendendo o papel do funcionário na geração de valor ao cliente, o Beleza Natural tem preocupação em ter um processo consistente de seleção e treinamento de seus colaboradores (SCHLESINGER e HESKETT, 1991). No que tange ao processo de seleção, este é baseado, principalmente, em dinâmicas de grupo aperfeiçoadas constantemente. Segundo uma das sócias, o objetivo é selecionar pessoas que gostem da interação humana e que tenham prazer de servir. Elas devem também ser pessoas vaidosas, uma vez que o trabalho exige que andem maquiadas, com cabelos e uniformes impecáveis, até como forma de inspirar as clientes. A maioria das nossas colaboradoras tem cabelos cacheados porque eram ex-clientes. Eram fãs da marca, já conheciam e usavam os produtos e serviços. Quando elas passam pro outro lado do balcão, sabem qual é a expectativa e o desejo da cliente. E isso é um fator muito bom pra gente (Leila Velez). O fundamental é ter prazer no serviço, brilho no olho, gostar de ver gente de perto. Tem dia que são 400, 500, até 1.000 pessoas numa loja. É muita gente circulando. Tem que gostar dessa interação humana. Tem que estar feliz ali para funcionar (Leila Velez). Depois de selecionadas, as consultoras, como são chamadas as funcionárias, passam por três meses de aprendizado no Centro de Desenvolvimento Técnico (CDT) e são avaliadas por um rigoroso teste. A equipe de Desenvolvimento Humano organiza uma Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 89 festa, tal qual uma formatura, na qual as consultoras prometem levar a sério o juramento e serem ótimas profissionais. A interação da nova funcionária com o pessoal interno da empresa é iniciada nesta etapa. Nesse momento especial para a recém-contratada, estão presentes não só seus familiares como também a própria Zica, o Diretor-Geral, alguns gerentes e parte do corpo técnico. Durante toda a permanência das funcionárias na empresa, estas são incentivadas a estudar e a crescer com a própria empresa, são motivadas também pela história de conquistas da Zica. A elevação da autoestima dos funcionários é um fator bastante enfatizado no Beleza Natural. As colaboradoras são constantemente sensibilizadas de que precisam: estabelecer metas pessoais, se aprimorar e refletir o treinamento teórico que recebem na excelência da prestação de serviço ao cliente. Muitas que são gerentes hoje começaram no lavatório ou na limpeza. Pra elas é uma oportunidade imensa. (...) A empresa está crescendo, então elas podem vir junto nesse sonho. Ano passado nós fizemos um encontro chamado “Nem o céu é o limite” para mostrar que elas podem muito mais do que pensam. No final do evento, nós mostramos os planos da empresa. Elas receberam uma espécie de placa imantada para colocarem suas metas. Nós explicamos como se estabelece uma meta. (...) Interessante é que, de certa forma, elas almejam alguns cargos. Por exemplo, ela inicia e vai ser auxiliar de cabeleireira. Ela já espera o dia em que vai ser consultora. E, quando consegue, aquilo é uma vitória pra ela (Leila Velez). O foco no funcionário também é refletido na política de atualização do conhecimento adquirido pelas colaboradoras. A empresa entende que, por exemplo, para uma consultora de beleza ter credibilidade e gerar valor para o cliente, ela deve ter conhecimento e informações sobre todos os produtos e tratamentos disponíveis. Desta forma, a empresa implementa programas, como a gincana chamada “Show do Milhão”, na qual as consultoras recebem uma apostila sobre os produtos e tratamentos, estudam, aprendem de uma maneira divertida e competem para ganhar mil reais. Todo mundo se diverte e aprende... Porque para jogar, elas têm que decorar toda a apostila com informação dos produtos e serviços. E quem ganha é o cliente porque tem colaboradoras mais bem preparadas. A cliente acaba sendo beneficiada, tendo mais confiança. A confiança é a base de todo nosso serviço (Leila Velez). O foco no funcionário, como parte fundamental para obter a lealdade dos clientes, também passa por uma política de remuneração adequada e por uma sensibilização quanto aos diferenciais, em termos de benefícios, que a empresa oferece. Cabe destacar que, desde o primeiro dia que as colaboradoras recebem as instruções de treinamento, já recebem seu salário, apesar de não terem atendido ainda nenhum cliente. Segundo uma das sócias do Beleza Natural, a empresa proporciona todo o material necessário ao Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 90 desempenho das atividades das profissionais, apresenta altos percentuais de comissões, além de disponibilizar muitos outros benefícios, não frequentes em salões de beleza convencionais, tais como: plano de saúde, ticket alimentação, tratamentos e produtos de beleza gratuitos, auxílio para pagamento de faculdade, entre outros. Uma consultora chega a ganhar mais de dois mil reais. É um salário bem interessante pra uma menina que tem apenas o segundo grau completo (Leila Velez). As consultoras também têm parte de seu salário condicionado à realização de um bom atendimento. Dito de outra forma, se ela faz um atendimento e a cliente não fica satisfeita, ela perde a comissão referente àquele serviço. Então, seu resultado financeiro está associado não apenas ao quantitativo de clientes que atende, mas também ao desempenho qualitativo desse atendimento. Estando, portanto, a empresa em consonância com o conceito de remuneração vinculada ao desempenho proposto por Schlesinger e Heskett (1991). Paralelamente à política salarial, a empresa tem, ainda, um calendário especial de atividades voltado aos funcionários, chamado de endomarketing. Estas atividades são realizadas, em média, uma vez por mês e consistem no desenvolvimento de dinâmicas e disponibilização de informações, para fomentar a cultura, o relacionamento da equipe e criar relacionamentos internos. A valorização da experiência de servir é outro aspecto fomentado no Beleza Natural, por meio de programas, como, por exemplo, o da “Cantina da Mamãe Zica”. Esse programa é realizado, com certa periodicidade, por um dos quatro sócios da empresa, que se dispõe a preparar e servir pizzas, durante todo o horário de funcionamento do salão, à equipe de funcionários. O objetivo é demonstrar às colaboradoras aquilo que a empresa espera que elas repliquem para os clientes, que, apesar de extremamente cansativo, o espírito de servir deve prevalecer no atendimento do primeiro ao último cliente do dia. 3.3.2 Orientação ao cliente A visão do Beleza Natural, amplamente divulgada nos vários ambientes das lojas, constitui-se em transformar as clientes. Como explicado por uma das sócias, não basta que a cliente saia com o cabelo bonito; após ser submetida ao tratamento, ela deve passar por uma mudança de autoestima e em seu comportamento. A proposta do Beleza Natural é levar a suas clientes um motivador para que elas aceitem o tipo de cabelo que têm e valorizem sua beleza. Nossas clientes entravam em outro salão de beleza, muitas vezes, vestidas de maneira mais simples e encontravam todas as demais clientes com seus cabelos escovados e, por isso, tinham dificuldade em se aceitar. O nosso propósito é trazer a beleza natural (Leila Velez). Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 91 Visando estar cada vez mais perto dos clientes e, assim, compreender e atender às suas necessidades e expectativas, o Beleza Natural conta com um programa de visita à casa dos clientes. Esse programa é desenvolvido mensalmente, através da realização de um questionário, e visa avaliar, por exemplo, onde as clientes guardam os produtos, como elas os guardam e como os utilizam para, em última instância, tentar entender o processo de consumo das clientes e, a partir disso, desenvolver novas ideias de produtos e serviços. Adicionalmente, a empresa tenta minimizar os efeitos decorrentes da sua opção pelo atendimento sem hora marcada. Para tal, implementa formas alternativas de processamento e entretenimento de seus clientes durante o tempo de espera, semelhantes às utilizadas pela Disney, além de estar sempre atenta aos pequenos detalhes que podem ser decisivos no atendimento ao cliente. A espera por que passam as clientes e a relevância, em termos financeiros, do tratamento no orçamento das clientes são fatores que podem ser considerados como alavancadores das expectativas e que precisam ser gerenciados e superados pelo serviço prestado pelo Beleza Natural. Seguindo, ainda, a proposta de levar valor superior ao cliente, nas lojas estão instalados pontos de reclamação (Anexo IV) em que os clientes podem escrever sugestões e reclamações do atendimento recebido. Os clientes podem optar, também, por efetuar a reclamação diretamente com o gerente da loja, que está apto para contornar qualquer problema. Quando detectada a insatisfação do cliente com o resultado do serviço prestado, seja devido a ineficiências do produto ou falhas das atendentes, o Beleza Natural entra em contato com essa cliente e tenta reverter a situação (Leila Velez). Com a expansão da empresa, identificou-se a necessidade de ampliar também o sistema de coleta de reclamações dos clientes e, para tal, contratou-se um serviço terceirizado de call center. Contudo, a empresa impôs uma série de exigências para contratação desse serviço, uma vez que acredita que os atendentes são a “imagem” da empresa e que um bom relacionamento destes com o cliente deve ser prioritário. Nesse sentido, a empresa exigiu que os atendentes do call center tivessem o mesmo perfil dos clientes do Beleza Natural e que fossem escolhidos pela equipe do Beleza Natural. A empresa também se preocupou com a ambientação das cabines de trabalho. As pessoas responsáveis pelo call center dizem que Beleza Natural é um case, porque eles nunca viram antes os clientes ligarem para um serviço de call center para elogiar um serviço. (...) Nós entendemos de relacionamento, então, para terceirizar, estabelecemos alguns critérios. Mandamos fazer toda uma ambientação do local de trabalho. (...) Todas têm um espelho na frente Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 92 porque acreditamos que quando você está sorrindo na frente do espelho, a voz fica diferente. O call center tem a nossa cara (Leila Velez). Podem ser citadas inúmeras outras formas que o Beleza Natural utiliza para estreitar o relacionamento com cliente: promoção de encontros entre seus colaboradores e os clientes, seleção de modelos entre as clientes para capas de revistas, sites e telas promocionais e espaço reservado para depoimentos de clientes no site da empresa. Estas iniciativas buscam, em última instância, demonstrar ao cliente que ele é o grande foco das atenções da equipe do Beleza Natural. 3.3.3 Marketing Boca a Boca O Beleza Natural, claramente, utiliza como estratégia o marketing boca a boca, conforme conceituação de Solnet e Kandampully (2008). Esse fato está muito associado às características do seu público-alvo, como explica uma das sócias da empresa. Nossas clientes já viram muita propaganda da L’Oréal dizendo que vão ficar com o cabelo igual ao da Juliana Paes. Elas não acreditam mais. Quando elas veem alguém, que é parecido com elas, falando que o serviço é bom e que o produto funciona... Aí sim, ganha credibilidade... É uma credibilidade que propaganda nenhuma consegue atingir. Porque você acredita nas informações passadas por alguém que você confia (Leila Velez). Também pode-se dizer que esse tipo de marketing é resultado da própria proposta da empresa de orientar sua atenção aos funcionários, como forma de gerar valor para o cliente, lealdade dos mesmos e criar clientes apóstolos. O desafio para a empresa é fazer com que os clientes, após a prestação do serviço, sintam-se autoconfiantes, orgulhosos do resultado e que o processo seguinte de recomendação a amigos seja realizado naturalmente. Alguns componentes podem ser identificados como facilitadores da propagação do marketing boca a boca. Dentre os componentes tangíveis estão: a sacola com a logo marca do Beleza Natural, que a cliente recebe ao adquirir os produtos e reutiliza no seu dia a dia; o próprio cabelo, que é o resultado da prestação do serviço; e a revista disponibilizada exclusivamente para as clientes. Além disso, existem outras formas de amplificar o marketing viral como: a inserção de comentários, no site da empresa, de sugestões das clientes e a presença de comunidades do Beleza Natural em sites de relacionamentos (Orkut). Essas duas iniciativas permitem que as clientes estabeleçam vínculos entre si, bem como convidem outras pessoas a participar da comunidade, mostrando um motivo a mais para se tornar clientes do Beleza Natural: pertencerem àquela estrutura social. De fato, como mencionado por Donavan et al. (1999), o fenômeno da internet tem potencializado o marketing boca a boca das empresas. 3.4 Apresentação e Discussão dos Resultados da Pesquisa Pesquisa Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 93 Durante as entrevistas realizadas com funcionárias e clientes, houve evidências da força do marketing boca a boca ao se falar do Beleza Natural (WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006). Todas as clientes entrevistadas conheceram o salão através do relato de familiares e amigos, que não apenas falavam bastante bem do atendimento e dos resultados, como podiam comprovar visualmente em seus próprios cabelos os benefícios conseguidos. Estas mesmas entrevistadas declararam que comentam sobre o Beleza Natural para outras pessoas, repetindo e reforçando o ciclo de BAB, também falando dos serviços e mostrando o resultado em seus próprios cabelos, tornando sua recomendação de alguma forma tangível para estas pessoas. [Tinha ouvido falar] que era bom, que gostaram. Eu também vi o resultado neles, era interessante (C3). Falo coisas boas. transformação (C4). Faço propaganda mostrando meu cabelo, a Em linha com as recomendações feitas por Sernovitz (2006), também por parte das funcionárias entrevistadas houve indícios de fazerem boca a boca para o público em geral, em duas frentes diferentes: para potenciais clientes, elas falam sobre os benefícios dos tratamentos e sobre o ambiente do salão, além de se mostrarem também usuárias dos serviços oferecidos; para potenciais colegas de trabalho, falam sobre como gostam de trabalhar no Beleza Natural, do clima amistoso e da satisfação que têm em fazer parte do time. Todo mundo, que sabe que eu trabalho aqui, me param na rua para perguntar sobre o Beleza Natural. Não faço marketing, acho que fica chato, mas indico que a pessoa faça uma pré-avaliação. Eu indico porque eu uso. Faço o que fizeram comigo antes. Indico sempre que possível (F2). No entanto, há também alguma parcela de boca a boca negativo entre as clientes, ao comentarem suas insatisfações em relação ao tempo de espera para serem atendidas e, em alguns casos, em relação aos preços cobrados. Da mesma forma, algumas das entrevistadas relataram terem ouvido de terceiros o mesmo tipo de comentário, reforçando o efeito do BAB. As minhas amigas falavam muito bem, que dava bom crescimento [ao cabelo], que o atendimento era muito bom, apesar de demorado (C1). A demora no atendimento e o preço dos serviços e produtos foram inclusive os únicos itens que tiveram uma avaliação mais negativa, quando perguntado às clientes entrevistadas. Os demais itens perguntados, como o atendimento dos funcionários, o ambiente do salão, os resultados dos serviços e os produtos em si tiveram avaliações bastante altas. Ou seja, para estas clientes, o custo e o tempo de espera parecem ser compensados pela entrega final do serviço (DABHOLKAR e OVERBY, 2005). No entanto, este fato poderia ser considerado um ponto de atenção para o Beleza Natural, na Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 94 eventualidade do surgimento de um concorrente que provesse o mesmo tipo de entrega e com estas outras questões melhor equacionadas. Afinal, conforme relatados pelos autores mencionados na revisão de literatura, o boca a boca positivo apenas se sustenta se há efetiva entrega de produtos e serviços de excelência (e.g., SOLNET e KANDAMPULLY, 2008; SERNOVITZ, 2006). Para uma grande parcela das clientes, os valores dos serviços e dos produtos beiram o proibitivo, tendo algumas declarado os esforços que fazem para não deixarem de ir ao Beleza Natural. Ao serem questionadas sobre sua inclinação a pagarem mais por um atendimento com horário marcado e não esperar tanto tempo – motivo principal das reclamações nas entrevistas e confirmadas pela própria empresa –, as entrevistadas não se mostraram tão receptivas a fazê-lo de forma habitual. Declararam não poder arcar com este custo extra, mas algumas, desejando utilizar este serviço nas épocas de maior movimento no salão, como o final de ano, demonstraram maior interesse. Foram entrevistadas apenas clientes na área de espera comum, fora do serviço VIP. Só vou pagar nas festas: Natal, Carnaval. Por enquanto, não dá (C7) A questão da “inseparabilidade” na excelência dos serviços (SOLNET e KANDAMPULLY, 2008) parece estar indicada nas declarações de clientes a respeito de como veem os prestadores de serviço do Beleza Natural – satisfeitos, motivados, bem treinados – e também nas declarações das funcionárias entrevistadas – gostar de lidar com o público, promover a satisfação dos clientes, além de se mostrarem muito satisfeitas com o ambiente de trabalho e o convívio com os colegas e orgulhosas de trabalhar no Beleza Natural. Ou seja, parece haver um reforço positivo na satisfação de clientes e de funcionários, colaborando para que o Beleza Natural tenha um dos elementos encontrados pelos autores em empresas de excelência. Funcionários satisfeitos ajudam a promover a satisfação dos clientes. [Os funcionários] são tranquilos, muito profissionais, realizam o trabalho com prazer. Dá pra ver (C7). Gosto muito do meu trabalho, me sinto muito bem em atender a cliente, e ver que a cliente fica satisfeita com o meu trabalho (F4). É interessante notar que todas as funcionárias entrevistadas vieram de atividades não relacionadas a salões de beleza. Foram recrutadas e treinadas em suas funções, mas, acima de tudo, são pessoas que se declaram gostar de servir aos clientes e de satisfazer suas necessidades e expectativas. Estes depoimentos estão em linha com as diretrizes de recrutamento e seleção manifestadas por uma das sócias do Beleza Natural, conforme comentado anteriormente, e com o exemplo dado pela Disney nos casos práticos estudados por diferentes autores (e.g., COLLINS e PORRAS, 1994; SOLNET e KANDAMPULLY, 2008). O incentivo dado pela empresa para o crescimento profissional e o desenvolvimento pessoal dos funcionários parece ter eco junto a eles. Pelo depoimento das Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 95 entrevistadas, todas colocaram como suas metas para dali a dois anos – e também para dali a cinco anos, em outra pergunta – atingir posições mais altas dentro do Beleza Natural ou progredir em seus estudos na faculdade, sendo esta apoiada pela empresa onde trabalham. Este pode ser um indicativo do comprometimento conseguido junto aos funcionários para o seu desenvolvimento, podendo gerar maior satisfação no trabalho e maior lealdade dos mesmos para com a empresa. As funcionárias entrevistadas mostraram-se satisfeitas com quase todos os quesitos perguntados mais diretamente: o emprego, o relacionamento com os colegas de trabalho, com os chefes, com os clientes, e em relação a trabalhar no Beleza Natural. No entanto, o quesito satisfação em relação ao salário não obteve respostas tão positivas, tendo havido demonstração de insatisfação por parte de algumas das entrevistadas. Não foi objeto de estudo deste presente trabalho a averiguação mais profunda das razões desta relativa insatisfação, mas aponta uma certa discordância com a percepção dos empregadores, que acreditam que os salários pagos sejam um diferencial em relação à concorrência. 3.5 Lendas Urbanas Identificadas Um dos componentes marcantes no contexto do marketing boca a boca é a existência e propagação de lendas urbanas (SOLNET e KANDAMPULLY, 2008). A história mais notável e que todos os frequentadores do Beleza Natural têm em mente é, sem dúvida, aquela que mistura a história de vida da fundadora do Beleza Natural, Zica, e a criação do próprio salão. Negra, crescida em favela e que, aos nove anos, começou a trabalhar como empregada doméstica. Foi faxineira, lavadeira e babá. É hoje dona de uma rede de salões. O negócio começou em 1993 no quintal de sua casa. Fez um curso de cabeleireira oferecido pela paróquia que frequentava. Depois de formada, passou a misturar cremes em busca de uma solução que permitisse pentear-se melhor (compilado dos depoimentos de C1, C3, C6). A identificação dos clientes com essa lenda é tão forte que, apesar de a empresa possuir, atualmente, quatro sócios, a marca continua vinculada à figura da Zica. Essa lenda é interpretada pelos clientes como a história de uma mulher batalhadora, vaidosa e de autoestima elevada, que lutou e conseguiu vencer. Essa história de vida, na verdade, remete à origem humilde da maioria das clientes e traz um vínculo emocional destas com a empresa, o que as motiva a contar a lenda com orgulho e satisfação para outras pessoas. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 96 Durante as entrevistas no Beleza Natural foi observada também a existência de outras lendas urbanas bastante citadas pelos funcionários da empresa que colaboram para a ampliação do marketing boca a boca, como as dadas pelas declarações a seguir: Uma vez chegou uma cliente para fazer o tratamento de super-relaxante com o dinheiro “contadinho”. Quando ela chegou na recepção, foi informada que, naquele dia, tinha um desconto no tratamento. Quando ela soube, ficou muito feliz e disse que, com o desconto, talvez sobrasse dinheiro para comprar um creme para o cabelo. As funcionárias, que estavam perto, se emocionaram com o jeito tão humilde da senhora e decidiram se mobilizar para ajudar a cliente. Cada funcionária ajudou com um pouco de dinheiro e compraram dois kits de cremes para tratamento do cabelo e deram para a cliente, que ficou ainda mais feliz e emocionada (F3). Teve uma vez que chegou de manhã no salão uma cliente que era de São Paulo e estava com passagem comprada para as 15 horas de volta para São Paulo. Só que ela chegou com o cabelo muito embaraçado, demais mesmo (...) Logo na recepção, ela explicou a sua situação e as consultoras que estavam próximas viram que, como o salão estava muito cheio e ela precisava fazer um tratamento especial, seria muito difícil a cliente conseguir fazer o tratamento a tempo de pegar seu voo se ela seguisse a fila normalmente. As funcionárias decidiram, por conta própria, levar a cliente para a área masculina do salão, que estava vazia naquele momento, e fazer todo o tratamento lá, sem necessidades de esperas. As funcionárias se revezavam no tratamento desta cliente, sem atrapalhar o resto da operação do salão. Por fim, por volta do meio dia, a cliente tinha conseguido fazer o tratamento todo e ficou supersatisfeita com o serviço e a tempo de viajar com calma (F5). As lendas transcritas foram confirmadas por várias funcionárias de diversos setores da empresa e, cabe destacar, essas e todas as demais histórias relatadas estão bastante associadas à ideia de excelência na prestação de serviço e à cultura enraizada nos funcionários da total orientação ao cliente. 4. CONCLUSÃO O boca a boca e as lendas urbanas são ferramentas de comunicação poderosas e, como não dependem diretamente da empresa para existirem, podem fugir ao seu controle – tanto criando expectativas acima do que a empresa está disposta a oferecer, como afastando clientes e arruinando sua imagem se a mensagem for depreciativa. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 97 O presente trabalho buscou mostrar a importância do marketing boca a boca e a relevância das lendas urbanas para as empresas de serviços. Com base na revisão da literatura foram distinguidos como alguns dos principais atributos responsáveis por significativo efeito no processo de recomendação boca a boca e no de desenvolvimento de lendas urbanas: o foco no cliente, o foco nos funcionários, o foco no processo de serviço e no resultado final do serviço. Uma vez identificados alguns dos principais atributos, foi realizado um estudo de caso em uma empresa de serviços no qual o marketing boca a boca fosse considerado de extrema relevância para o negócio, de maneira que se pudesse avaliar a forma com que os atributos identificados na literatura são abordados pela empresa. Na revisão de literatura foi possível observar que as empresas estão buscando se adaptar, cada vez mais, ao novo modelo de serviços e diversas já compreenderam que os funcionários da linha de frente e os clientes devem estar no foco de suas atenções. Na verdade, os executivos das empresas pioneiras estão atentos à relação de causalidade que existe entre a satisfação desses dois clientes: o interno e o externo. Em outras palavras, com base na cadeia de serviço-lucro, proposta por Heskett et al. (1994), as empresas trabalham para gerar satisfação, lealdade e maior produtividade de seus funcionários para, a partir daí, obter a satisfação e a lealdade de seus clientes, como forma de estimular o lucro e o crescimento da empresa. Várias implicações são decorrentes dessa adaptação ao novo modelo de serviços centrado no cliente e nos funcionários, podendo-se citar: maior investimento em treinamento e capacitação dos funcionários, maior concessão de empowerment e maior valorização da equipe de colaboradores, adoção de diferentes métricas de desempenho que não a financeira, entre outras. No caso analisado, do Instituto Beleza Natural, encontrou-se grande evidência de formação de boca a boca positivo e a construção de lendas urbanas envolvendo a empresa. Esta comunicação tem suplantado a necessidade de investimentos em comunicação da empresa, que hoje praticamente se baseia no boca a boca e na divulgação indireta através das sacolas utilizadas para os produtos comprados pelos clientes, carregadas pelas ruas por eles com uma enorme demonstração de orgulho. Orgulho este que reflete os resultados conseguidos pelo Beleza Natural em relação à satisfação dos seus clientes. A partir do estudo de caso do Beleza Natural, algumas das práticas listadas na revisão de literatura podem ser observadas, no que se refere à orientação aos funcionários e aos clientes, como uma política corrente da empresa. Com base nas entrevistas, pode-se dizer que há indícios de que um dos diferenciais da empresa seja, justamente, sua capacidade de compreender as especificidades e os anseios de seus clientes, de desenvolver na equipe de colaboradores a orientação ao cliente e de motivar constantemente essa equipe. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 98 Há fortes indícios de que a empresa tem pleno entendimento do papel do funcionário na geração de valor ao cliente e, desta forma, tem a preocupação de ter um processo consistente de seleção e treinamento de seus colaboradores, incentivando constantemente os seus funcionários a estudar e a crescer com a própria empresa, com uma política de remuneração bastante diferenciada quando comparada com a de outros salões de cabeleireiro, entre outras iniciativas adotadas. A empresa também busca estar cada vez mais perto dos clientes para melhor poder atendê-lo e superar suas expectativas. Nesse sentido, o Beleza Natural tem programas de visita à casa dos clientes, a coluna semanal da Zica no Jornal Expresso, tem a preocupação de ouvir seus clientes continuamente, por meio de seu call center ou através de pontos de reclamação espalhados por todas as unidades, promove encontros entre os colaboradores e os clientes, entre outras formas de aproximação da empresa e de seus clientes. A satisfação dos funcionários, no entanto, deriva originalmente das práticas e políticas orientadas ao desenvolvimento de alta qualidade em serviços, permitindo, desta forma, que os empregados tenham as condições adequadas de atendimento aos clientes. A satisfação do cliente parece ser, portanto, consequência da qualidade do serviço. A qualidade do serviço, por sua vez, está diretamente relacionada com os aspectos atinentes ao processo e ao resultado final do serviço. Ambos parecem ser responsáveis por significativa parcela de influência no processo de desenvolvimento do boca a boca em uma empresa prestadora de serviços. No caso do Beleza Natural, a empresa demonstra altíssima preocupação com o processo do serviço oferecido. O fluxo do processo tem por característica um alto grau de padronização, fazendo com que cada etapa seja executada por funcionárias especialistas nas suas respectivas tarefas. Ao longo do estudo de caso, foram marcantes as avaliações positivas, por parte das clientes, quanto aos resultados finais do serviço, tangibilizados pelos seus próprios cabelos. Como consequência, sentiram-se motivadas a desenvolver o boca a boca. Cabe ressaltar que estes resultados disseminados pelo boca a boca, anteriormente, as encorajaram a procurar o Beleza Natural. Ainda que tenham sido identificadas algumas possibilidades de ocorrência de boca a boca negativo entre as clientes, no que diz respeito às suas insatisfações em relação ao tempo de espera, há indícios de que esta falha no processo, já identificada pela empresa, tem sido compensada, ou tornada irrelevante, pelo resultado do serviço de altíssimo nível de qualidade. Os diversos atributos estudados na revisão de literatura e observados no estudo de caso são características realmente marcantes em empresas que apresentam, como principal veículo de comunicação, o marketing boca a boca e a propagação de lendas urbanas, como sugerido por Solnet e Kandampully (2008). Quando Sernovitz (2006) afirma que a empresa precisa ser interessante, fazer as pessoas felizes, prover serviços de excelência, fazer jus à inteligência das pessoas, entre outros, na verdade está indo ao encontro da Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 99 necessidade de valorização, por parte das empresas, de atributos como: qualidade de serviço, foco em processo, orientação aos funcionários e aos clientes como forma de amplificação do boca a boca que se cria ao redor de empresas, como o Beleza Natural. Finalmente, com base na análise dos resultados do presente trabalho, pode-se recomendar que as empresas tomem algumas precauções para tirar melhor proveito do boca a boca como forma de comunicação e construção de suas imagens. Primeiramente, para os casos de boca a boca positivo e, em especial, nos casos de lendas urbanas positivas, as empresas deveriam cuidar para não desapontar os clientes que acreditem que receberão delas um serviço acima da média, a cada vez que buscarem este serviço. Não é uma tarefa simples, e requer não apenas que a empresa constantemente se informe a respeito do boca a boca que se forma sobre ela, como também que tome ações constantes na manutenção da qualidade de seus serviços. Por outro lado, para as empresas-alvo de boca a boca negativo, pode-se recomendar que elas, além de manter-se informadas do conteúdo destas mensagens, busquem entender a origem das preocupações ou reclamações ali contidas, tratando de corrigir a operação no que for cabível e utilizando sua comunicação formal para dirimir as preocupações existentes entre consumidores atuais e potenciais. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAILEY, Robert L. Tell two people: the most powerful principle in business. 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ABSTRACT The word of mouth marketing can be a powerful tool for Marketing (e.g., SERNOVITZ, 2006; WORD OF MOUTH MARKETING ASSOCIATION, 2006; SOLNET and KANDAMPULLY, 2008), especially when the company can be associated to urban legends that would be positive for its image. Given the importance of this theme, particularly for service providers for their intangibility, this paper provides a literature revision and presents an exploratory research done at the salon chain Beleza Natural. The findings show high evidence of word of mouth marketing power for the Beleza Natural, as well as the presence of urban legends associated to its image, positively contributing to the great success of the salon chain. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 102 ANEXOS Anexo I – Roteiro de Entrevista (Sócio da Empresa) Mestrado COPPEAD - UFRJ Gerência de Serviços Beleza Natural Roteiro de Entrevista com Sócio 1. Como foi a trajetória do Beleza Natural até aqui? _________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 2. Como é o processo de seleção de funcionários? __________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 3. Como é o treinamento dos funcionários? Quanto tempo? Em que momentos? _________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 4. Como é feita a comunicação entre a administração e os funcionários? ________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 5. É feita alguma comunicação dos serviços para os clientes? E dos produtos que são vendidos? (cartazes, TV, jornais, revistas etc) _______________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 6. Como é composta a remuneração dos funcionários? Fixa x variável? Progressão? _______________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 7. Quais são os benefícios, além do salário, que os funcionários têm? ___________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 8. Os funcionários são incentivados a usarem os serviços do Beleza Natural? De que forma? ________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 9. Como é feita a avaliação de desempenho dos funcionários? ________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 10. Há alguma premiação por desempenho dos funcionários que mais se destacarem? _____________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 11. Existe uma progressão de carreira para os funcionários? Como é ela? ________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 12. Há algum tipo de trabalho para mostrar aos funcionários o quão importante é o seu trabalho para o sucesso da empresa?_________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 13. Há alguma confraternização entre os funcionários? _______________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 14. Há alguma confraternização entre clientes e funcionários? _________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 15. Como é avaliada a satisfação dos clientes? ______________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 16. Como vocês têm lidado com a questão das filas para atendimento? __________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 17. Como você avalia os resultados até agora da opção de agendamento de horário? _______________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 18. De uma forma geral, quais os desafios que hoje vocês encontram? ___________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 19. Há alguma coisa que não perguntamos e que você ache interessante comentar? _______________________________ _____________________________________________________________________________________________________ Pedir, se for possível fornecer: dados do SAC, outros dados sobre a empresa (número de lojas, número de clientes, número de funcionários, perfil dos funcionários etc) Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 103 Anexo II – Roteiro de Entrevista (Funcionários) Mestrado COPPEAD - UFRJ Gerência de Serviços Beleza Natural Questionário Tipo I: Funcionários Nome: ____________________________________________________________________ Idade: ___ anos Função: ______________________________________________ Tempo de empresa: ___ anos e ___meses 1. O que você faz nesta sua função? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 2. O que você fazia antes de trabalhar aqui? _______________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 3. Você já trabalhou em algum salão antes do Beleza Natural? (se sim:) Ele tem algo de diferente do Beleza Natural? ____ _____________________________________________________________________________________________________ 4. O que você gosta no seu trabalho? ____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 5. E o que você não gosta no seu trabalho? ________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 6. Você acha que as clientes aqui são tratadas de forma diferente de em outros salões? No que é diferente? ___________ _____________________________________________________________________________________________________ 7. Como você acha que a forma que você faz seu trabalho influencia na satisfação de suas clientes? __________________ _____________________________________________________________________________________________________ 8. Se uma cliente não estiver satisfeita, você pode fazer alguma coisa, tomar alguma decisão? ______________________ _____________________________________________________________________________________________________ 9. Você passa por alguma situação onde você faz alguma coisa diferente do normal para poder agradar uma cliente? Como é que é isto? _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 10. Quando você fala do Beleza Natural para alguém, o que é que você diz? ______________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 11. Como é seu relacionamento com seus colegas de trabalho? Vocês têm contato também fora do trabalho? Em que situações? ________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 12. Você faz os tratamentos oferecidos pelo Beleza Natural? O que acha deles? ___________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 13. Você acha que o Beleza Natural é um salão de sucesso? (se sim:) Qual o segredo do sucesso do Beleza Natural? ______ _____________________________________________________________________________________________________ 14. O que você imagina estar fazendo de trabalho daqui a 2 anos? ______________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 15. E daqui a 5 anos? __________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 16. Por último, para encerrarmos, gostaria que você me dissesse o quanto você está satisfeito em relação aos itens que vou falar, usando uma destas respostas: 1. Muito satisfeito 2. Satisfeito 3. Nem satisfeito, nem insatisfeito 4. Insatisfeito 5. Muito insatisfeito O quanto você está satisfeito ou insatisfeito com..... a) O seu emprego: ___ b) O seu salário: ___ c) Relacionamento com os colegas de trabalho: ___ d) Relacionamento com seus chefes: ___ e) Relacionamento com os clientes: ___ f) Em trabalhar no Beleza Natural: ___ Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 104 Anexo III – Roteiro de Entrevista (Clientes) Mestrado COPPEAD - UFRJ Gerência de Serviços Beleza Natural Questionário Tipo II: Clientes Nome: ____________________________________________________________________ Idade: ___ anos Quantas vezes veio ao Beleza Natural, incluindo esta: ____ vezes Há quanto tempo é cliente: ___ anos e ___meses 1. Como é que você ficou sabendo do Beleza Natural? _______________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 2. Antes de vir a primeira vez, o que você tinha ouvido falar do Beleza Natural? __________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 3. O que você achou do Beleza Natural, na primeira vez que veio? _____________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 4. E agora, o que acha? ________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 5. E o que você tem ouvido falar sobre o Beleza Natural? ____________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 6. O que os funcionários do Beleza Natural podem fazer para lhe deixar satisfeita, além do que é o trabalho normal deles?____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 7. Isto já aconteceu alguma vez? (se sim:) Conte como foi. ___________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 8. E o que poderia lhe deixar insatisfeita? _________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 9. Isto já aconteceu alguma vez? (se sim:) Conte como foi. ___________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 10. Quando você fala do Beleza Natural para alguém, o que é que você diz? ______________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 11. Você já indicou o Beleza Natural para alguma amiga? (se sim:) O que disse a ela? _______________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 12. Você já viu algum anúncio do Beleza Natural? (se sim:) Onde? Como era? _____________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 13. Você se incomoda em ter que esperar para ser atendido aqui no salão? _______________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 14. Você pagaria a mais para ser atendido com horário marcado aqui no Beleza Natural? ____________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 15. Você acha que o Beleza Natural é um salão de sucesso? (se sim:) Qual o segredo do sucesso do Beleza Natural? ______ _____________________________________________________________________________________________________ 16. Você acha o ambiente do Beleza Natural diferente dos outros salões? Em que é diferente? _______________________ _____________________________________________________________________________________________________ 17. E os funcionários do Beleza Natural, você acha que aqui são diferentes dos outros salões? Em que são diferentes? ____ _____________________________________________________________________________________________________ 18. Você acha que os funcionários do Beleza Natural gostam de trabalhar aqui? Por que você acha isto? _______________ _____________________________________________________________________________________________________ 19. Você já acessou o site do Beleza Natural? Gostou? Tem vontade de entrar no site?______________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 20. Por último, para encerrarmos, gostaria que você me dissesse o quanto você está satisfeito em relação aos itens que vou falar, usando uma destas respostas: 1. Muito satisfeito 2. Satisfeito 3. Nem satisfeito, nem insatisfeito 4. Insatisfeito 5. Muito insatisfeito 21. O quanto você está satisfeito ou insatisfeito com..... a) O atendimento dos funcionários do salão: ___ b) O ambiente do salão: ___ c) Os resultados dos serviços do salão: ___ d) O tempo que você leva no salão: ___ e) Os preços dos serviços: ___ f) Os produtos: ___ g) Os preços dos produtos: ___ Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 105 Anexo IV – Formulário de Reclamação do Beleza Natural Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 73-106 2009 106 AUTORES AUTORES Barbara Pagliari Levy Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Engenharia de Produção (POLI-USP) E-mail: [email protected] Barbara Sá Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (PUC) E-mail: [email protected] Henrique de Azevedo Avila Doutorando em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – 2008 M.Sc. em Engenharia de Transportes, COPPE/UFRJ Graduação: Engenharia (UFRJ) E-mail: [email protected] Luis Carlos Costa Pinto Filho Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – 2008 Graduação: Engenharia (ITA) E-mail: [email protected] Mariana Cantidio Mota Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – 2008 Graduação: Administração (UECE) e Economia (UFC) E-mail: [email protected] Marianna Freire Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Psicologia (UFRJ) E-mail: [email protected] Marina Pappone Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (PUC) E-mail: [email protected] Marta Barreto Wermelinger Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (UFRJ) E-mail: [email protected] Nayara Nunes Ferreira Mestranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2008 Graduação: Engenharia (ITA) E-mail: [email protected] 107 NORMAS PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS 1. OBJETIVO Estimular e divulgar a produção acadêmica do corpo discente do COPPEAD, constituída pelos alunos dos cursos latu sensu, mestrado e doutorado. 2. CARACTERÍSTICAS DOS TRABALHOS Os trabalhos publicados nos Cadernos Discentes COPPEAD deverão ser sempre inéditos, subdividindo-se em duas classes: original, quando apresenta temas ou abordagens próprias e de revisão, quando resume, analisa e discute informações já publicadas. Cada Caderno terá, em média, quatro artigos e será publicado assim que quatro artigos sejam aprovados (não existirá periodicidade). Os trabalhos deverão cobrir os tópicos e práticas de Administração, relacionados com os seguintes grandes temas: a) b) c) d) e) f) g) Economia e Finanças; Empreendedorismo; Estratégia, Sistemas de Informação e Organizações; Marketing; Negócios Internacionais; Operações, Logística e Tecnologia; Planejamento e Controle. 3. SUGESTÕES DE TRABALHOS a) Trabalhos de final de curso que tiveram, de preferência, conceito A ou equivalente; b) Revisões de literatura; c) Teses e dissertações que não viraram artigo ou livro. 3.1 Exclusões Não serão aceitos os trabalhos que forem análise de um caso didático. 4. NORMAS EDITORIAIS O conteúdo deve ser semelhante, em forma, ao de um artigo a ser submetido a qualquer revista ou congresso, não se exigindo, no entanto, a mesma profundidade teórica ou empírica. a) Os trabalhos deverão ser submetidos no formato pré-estabelecido no parágrafo 4.1; b) Os trabalhos poderão ser submetidos por um professor ou pelo próprio aluno; c) Trabalhos submetidos pelo professor já deverão vir acompanhados do formulário de avaliação proposto; d) Trabalhos submetidos diretamente pelo aluno, serão posteriormente avaliados pelo professor responsável pela disciplina ou então por um professor indicado pelo Editor; e) O Editor poderá solicitar a avaliação de um segundo docente (do Instituto ou externo); Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 1-109 2009 108 f) O Editor será escolhido pela Diretoria do Instituto, dentre os membros do seu corpo docente; g) Toda vez que o trabalho citar nomes de empresas os seguintes procedimentos serão adotados: • • • • O Aluno deve indicar se a coleta de dados foi feita na empresa e, nesse caso, solicitar a autorização da empresa para a publicação; O Professor que avalia o trabalho deve verificar se alguma empresa foi citada ou se sua identificação é óbvia (nas duas situações, somente para casos com dados primários); O Editor é responsável por verificar se a autorização foi dada (nos casos em que o professor avaliador verificar que alguma empresa foi citada a partir de dados primários); O Editor é responsável, com o auxílio do professor, de resolver os casos em que o nome da empresa não tenha sido citado, mas a identificação seja óbvia. 4.1 Estrutura dos trabalhos Sugere-se que a estrutura do trabalho siga as seguintes recomendações: a) Os trabalhos deverão ter a extensão máxima de 20 páginas incluindo notas e referências bibliográficas; b) Deverão estar em formato Microsoft Word for Windows; c) O texto deverá ser apresentado em papel A4, margens a 3,0 cm, utilizando caracteres em Futura LT BT, corpo 11, com, espaçamento múltiplo de 1,2 cm; d) Apresentar em página separada: título do trabalho, nome completo do(s) autor(es) acompanhado de breve curriculum mencionando profissão, titulação acadêmica, vinculação institucional com endereço completo, telefone, fax e e-mail; e) Título: deverá ser breve e descritivo contendo palavras que representem o conteúdo do texto; f) Deverão conter um resumo em português, de aproximadamente 100 palavras, acompanhado da versão em inglês (abstract), ressaltando objetivo, método, resultados e conclusões do trabalho; g) Palavras-chave: três a cinco termos que expressem o conteúdo do texto, com a devida versão em inglês; h) Texto: deverá apresentar introdução expondo objetivos e metodologia, desenvolvimento tratando da matéria de forma clara e objetiva e conclusões, destacando os resultados obtidos. As seções e sub-seções deverão ser numeradas com títulos próprios evitando-se símbolos e demais caracteres que não denotam estrutura hierárquica do texto; i) Deverão conter referências bibliográficas relacionadas com o assunto, seguindo as regras da ABNT; j) As citações ao longo do texto deverão conter a fonte e serem apresentadas seguindo o padrão sobrenome do autor, ano de publicação e página. Exemplo: (BETHLEM, 1999, p. 3); k) Apêndice: texto autônomo que complementa a argumentação principal; l) Anexo: texto que serve de fundamentação, comprovação ou ilustração; m) Notas deverão ser apresentadas em ordem progressiva ao longo do texto com sua respectiva lista ao final do texto, localizadas depois das referências bibliográficas. Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 32, p. 1-109 2009 109 Rua Pascoal Lemme, 355 - Ilha do Fundão CEP: 21941-918 - Rio de Janeiro - RJ Caixa Postal 68514 21941-972 Fax: (21) 2598-9848 E-mail: [email protected] site: www.coppead.ufrj.br