Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas LGN 5799 - SEMINÁRIOS EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS Fungos mutualistas x patogênicos: Genômica estrutural e sua contribuição para o entendimento das relações fungo-planta Doutoranda: Léia Cecília de Lima Fávaro Orientador: Dr. Welington Luiz de Araújo Departamento de Genética Avenida Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 83, CEP: 13400-970 - Piracicaba - São Paulo - Brasil Telefone: (0xx19) 3429-4250 / 4125 / 4126 - Fax: (0xx19) 3433-6706 - http://www.genetica.esalq.usp.br/semina.php Discuta, do ponto de vista evolutivo, o fato de que um microrganismo endofítico pode se tornar patogênico. (Exame de Qualificação) Tema do seminário Fungos mutualistas x patogênicos: Genômica estrutural e sua contribuição para o entendimento das relações fungo-planta SUMÁRIO Genomas: aspectos gerais Fungos: importância Simbiose entre plantas e fungos Mutualismo X Parasitismo Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Considerações / Desafios / Perspectivas Genomas: aspectos gerais Algumas definições... Genômica Estrutural O genoma de um organismo representa o complemento total de genes e é portanto, um estoque de informação biológica independente do contexto. Genômica Funcional Uma abordagem holística (baseada em sistemas) para estudar o fluxo de informação dentro de uma célula; Aplicação de métodos de alto processamento e tecnologias automatizadas à biologia, permitindo análise funcional do genoma, proteoma e metaboloma de um organismo. Transcriptoma Proteoma Metaboloma Contêm informação biológica altamente dependente do contexto - dinâmica Talbot (2003) Genomas: aspectos gerais Genomas completamente seqüenciados Junho = 819 Janeiro 2008 Publicados Fonte: http://www.genomesonline.org Genomas: aspectos gerais Projetos de seqüenciamento de genomas Janeiro 2008 – 3520 projetos Junho = 3823 Fonte: http://www.genomesonline.org Genomas: aspectos gerais Projetos de seqüenciamento de acordo com o grupo filogenético - Janeiro 2008 Fonte: http://www.genomesonline.org Genomas: aspectos gerais Grupos de eucariotos com projetos genoma Janeiro 2008 Fonte: http://www.genomesonline.org Genomas: aspectos gerais Análise genômica comparativa de todo um reino eucariótico van Baarlen et al (2007) Base genética e evolutiva dos diferentes estilos de vida dos fungos patogênese mutualismo saprofitismo Acúmulo de seqüências genômicas Ferramentas de bioinformática e de genômica funcional microarranjos proteoma metaboloma Um melhor entendimento da biologia de fungos não somente facilita o uso inteligente dos fungos benéficos, mas também permite avanços no controle de espécies patogênicas. Fungos: importância Organismos Modelo 1941: Teoria um gene, uma enzima Neurospora crassa Prêmio Nobel em 1958: Beadle, Tatum e Lederberg - Estudos pioneiros com o fungo Neurospora e a bactéria E. coli. Genética Bioquímica George W. Beadle 1996: Primeiro organismo eucariótico a ter o genoma seqüenciado Levedura - Saccharomyces cereviseae Fungos: importância Produção de fármacos: penicilina, cefalosporina, taxol, proteínas heterólogas Produção de álcool Indústria Produção de vinhos Produção de ácidos orgânicos – ácido cítrico Controle biológico de insetos praga Cogumelos comestíveis Fungos: importância Em contraste aos benefícios... Patógenos de animais e plantas Antracnose do milho – Ferrugem asiática na soja - Colletotrichum graminicola Phakopsora pachyrhizi Carvão do milho – Vassoura de bruxa do cacau- Mancha preta do Citrus – Ustilago maydis Crinipellis perniciosa Guignardia citricarpa Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo A simbiose entre fungos e plantas é um fenômeno amplamente distribuído na natureza. O resultado desta interação pode variar mutualismo - comensalismo - parasitismo Continuum simbiótico Na maioria dos casos, a planta hospedeira não sofre danos, e de fato, pode ter vantagem com a colonização pelo fungo. Exemplo: micorrizas e fungos endofíticos Kogel et al (2006) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Associação micorrízica: Interação mutualística entre fungos e raízes de plantas – mais intensamente estudada. Endomicorriza (Micorriza Arbuscular) Filo Zigomicetos Ectomicorriza Principalmente Basidiomicetos Ampla ocorrência em todos os ecossistemas Surgimento das plantas terrestres (460 m.a.) Espécies arbóreas - florestas Biotróficos Brundrett (2001) Reinhardt (2007) Douglas fir e Laccaria bicolor. Martin et al (2001, 2008) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Anatomia de uma raiz com micorriza arbuscular. Siqueira et al (2002) Ipê: sem e com micorriza. Siqueira et al (2002) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Continuum simbiótico mutualismo - comensalismo - parasitismo Comensalismo e Mutualismo: Requerem um balanço sofisticado (sob controle genético, fisiológico e ambiental) entre as demandas do fungo e a resposta de defesa da planta. Se a interação torna-se desbalanceada: os sintomas de doença aparecem ou o fungo é excluído pelas reações de defesa da planta hospedeira. Interações microrganismo-planta Doença é exceção Considerada como um status desbalanceado da simbiose Kogel et al (2006) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Triângulo da doença. Interações compatíveis entre um patógeno e o hospedeiro somente resultam em doença se as condições ambientais forem favoráveis. van Baarlen et al (2007) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Para ilustrar como esta relação é complexa: A colonização de diferentes hospedeiros pode fazer com que um fungo adote estilos de vida contrastantes. Mutações em genes únicos: Mudanças no estilo de vida do fungo patogênico para mutualista ou mutualista para patogênico Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Science 2 April 1993: Vol. 260. no. 5104, pp. 75 - 78 Genetic Conversion of a Fungal Plant Pathogen to a Nonpathogenic, Endophytic Mutualist Stanley Freeman and Rusty J. Rodriguez Department of Plant Pathology, University of California, Riverside, CA 92521 Fungo ascomiceto Colletotrichum magna – antracnose em cucurbitáceas (melancia) - hemibiotrófico Objetivos: Analisar a genética envolvida patogenicidade e na especificidade ao hospedeiro. na Obtenção de mutantes (UV) – um mutante não patogênico (path-1) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Science 2 April 1993: Vol. 260. no. 5104, pp. 75 - 78 Genetic Conversion of a Fungal Plant Pathogen to a Nonpathogenic, Endophytic Mutualist Stanley Freeman and Rusty J. Rodriguez Department of Plant Pathology, University of California, Riverside, CA 92521 Seedlings melancia após 10 dias da inoculação (selvagem, mutante, mutante + selvagem) Monitoramento da colonização do selvagem e path-1. Atraso na colonização. Path-1: compatível para incompatível Reconhecimento do patógeno pela planta ? Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Science 2 April 1993: Vol. 260. no. 5104, pp. 75 - 78 Genetic Conversion of a Fungal Plant Pathogen to a Nonpathogenic, Endophytic Mutualist Stanley Freeman and Rusty J. Rodriguez Department of Plant Pathology, University of California, Riverside, CA 92521 E a gama de hospedeiros do mutante é igual à do selvagem? Mutante path-1 protege seedlings de melancia contra o patógeno Fusarium oxysporum f. sp. niveum Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Science 2 April 1993: Vol. 260. no. 5104, pp. 75 - 78 Genetic Conversion of a Fungal Plant Pathogen to a Nonpathogenic, Endophytic Mutualist Stanley Freeman and Rusty J. Rodriguez Department of Plant Pathology, University of California, Riverside, CA 92521 Esporulação, Adesão dos conídios, Formação de apressório, Infecção e Gama de hospedeiros Mutante não patogênico path-1: = Tipo selvagem Um fungo fitopatogênico pode ser modificado por mutação para crescer como um endofítico não patogênico (um único gene) A genética envolvida na patogenicidade e na especificidade ao hospedeiro é diferente. Um patógeno pode expressar estilos de vida simbiótico não patogênico Reavaliação da função dos fungos na estrutura e dinâmica de comunidades vegetais Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Fungo endofítico Epichloe festucae e Lolium perenne (gramínea ) Tolerância stress biótico Crescimento Objetivos: Screening de mutantes - busca de genes simbióticos Isolaram um mutante que alterou a interação: mutualística parasítica gene NoxA: NADPH oxidase Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Análise citoquímica: produção de ROS foi reduzida no mutante Expressão de PR proteínas em Lolium colonizadas com selvagem e mutante noxA Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Mudança de mutualismo para parasitismo pela mutação em um único gene do fungo. Nova função para interação mutualista. ROS na regulação da Mecanismo da simbiose: Produção de ROS pelo gene noxA de Epichloe in planta regula negativamente o desenvolvimento e ramificação das hifas, prevenindo a colonização excessiva do tecido vegetal. Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo O que faz um fungo ser patogênico? No reino Fungi, a capacidade de causar doenças em plantas parece ter originado múltiplas vezes durante a evolução. Berbee (2001) Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Capacidade de fenótipo complexo diversidade na biologia de causar doença: desenvolvimento e tipos de sintomas Cada espécie patogênica tem evoluído uma maneira especial para invadir as plantas e causar doença. Uma vez dentro da planta, três estratégias de colonização são empregadas (para o crescimento e desenvolvimento): necrotrofia biotrofia hemibiotrofia Simbiose entre plantas e fungos - Mutualismo X Parasitismo Identificação de genes envolvidos na patogenicidade: vias, proteínas e genes do processo patogênico Alvos no fungo para controle (fungicidas ou drogas antifúngicas) químico Alvos no hospedeiro podem ser modificados para reduzir sua susceptibilidade ao patógeno (plantas geneticamente modificadas) http://www.phi-base.org/ Sumário do número de espécies e genes envolvidos na patogenicidade Winnenburg et al (2008) Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Disponibilidade de seqüências genômicas Diferenças entre patógenos e não patógenos ao nível genômico É possível identificar mecanismos moleculares comuns associados com espécies de fungos que causam doenças em plantas? Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Genomas de fungos e oomicetos fitopatogênicos disponíveis publicamente Soanes et al (2007) Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Published June 4, 2008 Background - Introdução Fungos e oomicetos patogênicos: diversidade de doenças e desafio para o desenvolvimento de estratégias de controle duráveis. Principal objetivo da pesquisa atual: identificar mecanismos moleculares necessários para patogênese em várias espécies. Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Background - Introdução Esforços para identificação patogenicidade: Mutação – deleção gene alvo de determinantes de Alteração do fenótipo Somente para poucos fungos fitopatogênicos (modelo) Estudar um gene de cada vez: Processos governados por muitos genes (haustório) Patógenos biotróficos (não cultivados) Comparação de genomas de fungos patogênicos e não patogênicos Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Comparação de 36 genomas de espécies diferentes (34 fungos e 2 oomicetos) Identificação de grupos de genes ortólogos Identificação de famílias de proteínas (Pfam) (http://www.sanger.ac.uk/Software/Pfam/) Identificação de proteínas secretadas (secretoma) (SignalP 3.0/WoLF PSORT) Análise comparativa de ascomicetos fitopatogênicos e saprófitos Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Resultados Agrupamento de seqüências: Todas as proteínas preditas de 36 espécies foram agrupadas por MCL (Markov Chain Clustering). 348.787 proteínas Um total de 282.061 proteínas preditas foram agrupadas em 23.724 clusters Cada cluster representando um grupo de genes ortólogos putativos http://www.e-fungi.org.uk Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Resultados fitopatogênicos X não patogênicos: genômica comparativa Não existem fatores de patogenicidade conservados em e específicos à todas as espécies de fitopatógenos. As diferenças são devidas à expansão de certas famílias de genes nos genomas de espécies fitopatogênicas associadas com funções necessárias para a patogênese Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Resultados fitopatogênicos X não patogênicos: genômica comparativa Famílias de proteínas que foram pelo menos duas vezes mais comuns nos proteomas de fitopatógenos do que nos saprófitos: Vias de metabolismo secundário: Proteases e peptidases: Enzimas degradadoras de parede celular: NLPs: disparam respostas de defesa, necrose e morte celular em plantas, podem agir como fatores de virulência Catabolismo de compostos tóxicos: Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Resultados Análise comparativa do secretoma de fitopatógenos e não patógenos Em bactérias e oomicetos: proteínas secretadas (efetores) são importantes para estabelecer a infecção da planta, desarmando as defesas e subvertendo os processos celulares para as necessidades dos patógenos invasores. % Porcentagem do proteoma total que é secretada em cada fungo (predição) Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Resultados Análise comparativa do secretoma de fitopatógenos e não patógenos Famílias de proteínas que foram exclusivas ou pelo menos duas vezes mais comuns no secretoma de fitopatógenos do que nos saprófitos: Potenciais efetores em fungos: • • • • • podem Proteases secretadas Fatores de transcrição Proteínas envolvidas em rearranjos do citoesqueleto Interações proteína-proteína Isochorisimatases secretadas específicas de patógenos: suprimir as defesas dependente de ácido salicílico da planta Genes efetores são alvo direto das forças evolutivas que dirigem a coevolução (arms race) entre patógeno e hospedeiro, pois seus fenótipos se estendem às células e tecidos da planta (seleção positiva – taxa evolutiva acelerada) Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Conclusões Embora a evolução da fitopatogenicidade tenha acontecido várias vezes e os estilos de vida destes fungos sejam diversos, as comparações genômicas permitem: Apontar novas famílias de genes que podem ter funções na virulência de fitopatógenos, permitindo sua seleção para estudos funcionais; Identificar mecanismos patogênicos conservados inovações e adaptações patogênicas linhagem-específicas; e Revelar onde eventos de transferência gênica horizontal contribuíram para aquisição de novas funções associadas à virulência Análise genômica comparativa: evolução da fitopatogenicidade Desafios e Perspectivas: Como aplicar a riqueza de informações obtidas a partir dos estudos genômicos para melhorar a produção vegetal? A descoberta de genes efetores de fungos que tem importante contribuição para virulência pode permitir a identificação dos melhores genes R a serem utilizados. Efetores podem permitir a identificação dos processos que são perturbados na planta hospedeira, permitindo a modificação destes alvos para insensibilidade, ou Utilização dos genes alvo na planta como marcadores QTL para o melhoramento vegetal. Bent & Mackey (2007) Análise genômica comparativa: estudos evolutivos Duplicação e perda de genes: inovação funcional Os princípios que governam estes processos não são entendidos Acúmulo de genomas: reconstrução da duplicação e perdas de genes entre espécies história de Análise genômica comparativa: estudos evolutivos Estudos de duplicação e perda de genes: resolução de ortologia e paralogia (difícil) Sistema computacional (SYNERGY) Resolução da história evolutiva de todos os genes de 17 genomas de fungos ascomicetos (300 milhões de anos de evolução) Análise genômica comparativa: estudos evolutivos Reconstrução dos eventos evolutivos Aparecimento Duplicação Perda Patógenos de plantas: História evolutiva complexa Transferência Horizontal Expansão e perda de genes de metabolismo secundário Expansão e perda de genes de receptores celulares Soanes et al (2007) Análise genômica comparativa: estudos evolutivos Duplicação e perda de genes: é altamente limitada pelas propriedades funcionais e padrões de interação dos genes. Genes relacionados à estress exibem mais duplicações, enquanto genes relacionados ao crescimento mostram seleção contra tais mudanças. Destino funcional de genes duplicados: raramente divergem quanto a função bioquimica, mas divergem com relação ao controle regulatório. Criação das ferramentas de análise: extensão deste tipo de análise para outros organismos (plantas e animais) Considerações / Desafios / Perspectivas Acúmulo de seqüências genômicas de fungos: Resposta da planta à colonização por fungos mutualistas e patogênicos: padrões comuns nos primeiros estágios de infecção www.plantcell.org/cgi/content/full/tpc.105.035410/DC1 Surgimento de novas linhas de pesquisa: análise in silico – biologia de sistemas OBRIGADA!