O rico não se dá conta de que vive encerrado em si mesmo

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18º Domingo do Tempo Comum - C
DESMASCARAR A INSENSATEZ
O protagonista da pequena parábola do «rico insensato» é um proprietário de terras como
aqueles que conheceu Jesus na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade
os camponeses, pensando só em aumentar o seu benestar. As pessoas temiam-nos e
invejavam-nos: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais insensatos.
Surpreendido por uma colheita que ultrapassa as suas expectativas, o rico propietário vê-se
obrigado a refletir: «¿Que farei?». Fala consigo mesmo. No seu horizonte não aparece
ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos
camponeses que trabalham as suas terras. Só o preocupa o seu benestar e a sua riqueza: a
minha colheita, os meus celeiros, os meus bens, a minha vida…
O rico não se dá conta de que vive encerrado em si mesmo, prisionero de uma lógica que o
desumaniza esvaziando-o de toda a dignidade. Só vive para acumular, armazenar e
aumentar o seu benestar material: «Construirei celeiros maiores, e armazenarei alí todo o
grão e o resto da minha colheita. E então direi a mim mesmo: Homem, tens bens
acumulados para muitos anos; deita-te, come e dá-te boa vida».
De repente, de forma inesperada, Jesus faz intervir ao mesmo Deus. O seu grito interrompe
os sonhos e ilusões do rico: «Nescio, esta noite vão exigir-te a vida. O que acumulas-te, de
quem será?». Esta é a sentênça de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma insensatez.
Aumenta os seus celeiros, mas não sabe ampliar o horizonte da sua vida. Acrescenta a sua
riqueza, mas despreza e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade,
o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar nem partilhar, só comprar.
Que há de humano nesta vida?
A crise económica que estamos a sofrer é uma «crise de ambição»: os países ricos, os
grandes bancos, os poderosos da terra… temos querido viver acima das nossas
possibilidades, sonhando com acumular benestar sem limite algum e esquecendo cada vez
mais os que se afundam na pobreza e na fome. Mas, de repente a nossa segurança veio-se
abaixo.
Esta crise não é uma mais. É um «sinal dos tempos» que temos de ler à luz do evangelho.
Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo das nossas consciências: «Basta já de tanta
insensatez e tanta falta de solidariedade cruel». Nunca superaremos as nossas crises
económicas sem lutar por uma mudança profunda do nosso estilo de vida: temos de viver
de forma mais austera; temos de partilhar mais o nosso benestar.
José Antonio Pagola
HOMILIA:
“Meu Deus, vinde libertar-me, apressai-vos, Senhor, em socorrer-me. Vós sois o meu
socorro e o meu libertador; Senhor, não tardeis mais”(cf. Sl 69,2.6).
Meus queridos Irmãos,
Neste domingo do tempo quotidiano, chamado 18o Domingo do Tempo Comum,
celebramos o inicio do mês de agosto, na Igreja Católica, dedicado a refletirmos, domingo a
domingo, uma vocação específica de nossa fé cristã. Assim, hoje junto com a dignidade do
trabalho humano, onde o importante é SER RICO PARA DEUS, tema central de nossa
reflexão, vamos elevar nossos olhares sobre os presbíteros e bispos, tendo em vista que
celebramos no dia 04 de agosto, a memória de São João Maria Vianney, patrono de todos
os presbíteros, exemplo de dignidade sacerdotal e de pastor de virtudes peregrinas no
carinho do trabalho pastoral e na solicitude para com os fiéis.
Irmãos e Irmãs,
A liturgia de hoje nos lembra que basta uma crise financeira para que os homens e mulheres
se lembrarem da precariedade dos tesouros deste mundo. O Evangelho de hoje nos fala de
atitudes comezinhas na vida familiar: A briga de irmãos sobre uma herança; querem que
Jesus resolva o impasse. Jesus não se interessa: sua missão é outra. Que adiantaria, para o
Reino de Deus, impor a esses dois irmãos uma solução que, provavelmente, não os
reconciliaria? Para Jesus interessa que a pessoa se converta para os valores do Reino de
Deus. Jesus, no seu modo simples de colocar os tesouros eternos, conta à parábola do rico
insensato, que depois de uma boa safra achou que poderia descansar para o resto de sua
vida e viver daquilo que guardara em toda a sua vida. Coitado, na mesma noite Deus viria
reclamar sua vida... Jesus não quis denunciar o desejo de viver decentemente, mas a mania
de colocar sua esperança nas riquezas e poderes deste mundo, esquecendo reunir tesouros
junto a Deus. As riquezas não são um mal em si, mas desviam a nossa atenção da
verdadeira riqueza, a amizade com Deus, que alcançamos pela dedicação a seus filhos.
Caros irmãos,
A Primeira Leitura(cf. Ecl 1,2; 2,21-23) nos interpela com a seguinte pergunta: Para que a
riqueza e o saber? O Antigo Testamento gosta geralmente da vida. O Livro do Eclesiastes,
porém, dedica-se ao ceticismo. Ataca o leitor com perguntas inoportunas. Que é o homem?
Por que existe? Aonde vai? Para que servem a riqueza e o saber, dificilmente alcançados e
tão facilmente perdidos na hora da morte? É como um vento que passa. Que sobra? Estas
perguntas nos preparam para valorizar o “tesouro junto de Deus” que nos aponta Lucas na
missa de hoje.
A Segunda Leitura(cf. Cl. 3,1-5.9-11) nos apresenta uma nova vida em Cristo. No final de
sua epístola, São Paulo mostra aos colossenses as exigências que coloca ao cristão a vida
nova, que é: morrer e corressuscitar com Cristo. A comunhão com Cristo não é só para a
vida futura; já somos nova criação em Cristo, embora esteja ainda escondida em Deus,
como o próprio Cristo. Mas já age, já tem a sua forma definida. Para isso, o velho homem
deve morrer, não por uma mortificação que diminui o homem, mas pela vida nova na
comunhão, isto é que nos garante um tesouro junto a Deus.
Queridos Irmãos,
A cobiça deve, também, ser considerada nesta liturgia. Junto da cobiça a ganância. A
cobiça é a irmã gêmea da avareza que Santo Antônio chamou de “comida do diabo”. Tudo
isso porque os bens que amealhamos aqui neste mundo são transitórios e precários. Não se
trata de condenar a riqueza em si mesma, criatura boa de Deus ou da inteligência humana.
Trata-se de examinar o comportamento em sua dimensão horizontal – para o mundo e para
a sociedade – e vertical – para Deus e a eternidade.
Assim o Evangelho de hoje(cf. Lc. 12,13-21) é atualíssimo. Vivemos uma sociedade
voltada para o bem estar absoluto, para o hedonismo, para uma vida totalmente sem
sofrimento, com a busca desenfreada do ter, do prazer e do consumismo desvairado. As
famílias não querem mais filhos. O que se busca é o prazer pelo prazer, um consumismo
terrível e um bem-estar eterno.
O Evangelho vai na contra-mão: a felicidade humana não está nem no muito possuir e nem
no prazer de dominar.
A ganância é precária e os bens deste mundo somente servem se estiverem a serviço dos
irmãos e da edificação de uma vida comunitária. Segundo a lei mosaica para os
camponeses, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho, herdava ainda
dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em torno do terço sobrante.
Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, uma espécie de advogado, teólogo e juiz. Vemos,
então, que Jesus era considerado pelo povo como um advogado, ou como uma pessoa justa.
Mas Jesus, evitando tomar o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de
usurpar poderes, fala da cobiça e da avareza. O episódio de hoje é fascinante: alguém
herdara todos os bens, menos uma pequena parte, que devia ser repartida entre os irmãos, e
negava-se a fazê-lo, porque queria a herança inteira para si. Uma ganância forte, que não só
feria os direitos dos outros, mas também, e, sobretudo, o amor fraterno, sobre o qual Jesus
queria construir o novo povo de Deus.
Irmãos e Irmãs,
A ganância sempre deixa o homem desassossegado. Santo Agostinho disse que a ganância
não respeita nem Deus, nem o homem, não perdoa nem o pai nem o amigo, não considera
nem a viúva e nem o órfão. Em torno de nós está a confirmação. Para se compreender e
viver o Evangelho temos que ser desapegados. Deus primeiro nos criou. Depois do direito a
vida nos deu a liberdade. A vida pertence a Deus. Ele a dará e ele a tirará. Os grandes
mestres da vida, quando falam da precariedade dos bens, costumam apontar o dedo para o
mistério da morte, que nos quer nus, como nus saímos do ventre de nossa mãe. Mas do que
riquezas neste mundo devemos ser ricos diante de Deus, sempre procurando a misericórdia
e a caridade.
Assim, para levar a sério à advertência do Evangelho e necessário rever os critérios de
nossas vidas. Precisamos acreditar que nossa vida é diferente daquilo que o materialismo
nos propõe. A Segunda Leitura, retirada da carta aos Colossenses, nos fornece uma base
sólida para tal fé. Co-ressuscitados com Cristo devemos procurar as coisas do alto: o que é
de valor definitivo, junto de Deus. E isso não está muito longe de nós. Nossa verdadeira
vida é Cristo, que está escondido junto a Deus, na glória que se há de manifestar no dia sem
fim.
Vamos, pois, usar os bens que Deus nos concede com liberdade e liberalidade, colocando
tudo em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade. Com os bens materiais as
pessoas podem fazer o bem. Para isso é preciso que elas vivam em atitude de jejum, numa
atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem a eles se escravizar e partilhando-os
com o próximo.
Irmãos e Irmãs,
Rezemos com fé no dia de hoje pelos presbíteros que Deus nos concedeu, como
dispensadores dos mistérios de nossa fé. Que nós nunca esqueçamos em todos os dias de
agosto de rezar pelo Papa, pelo nosso amado Bispo Diocesano, Dom Frei Diamantino, pelo
nosso Pároco e pelo nosso clero de nossa amada e centenária Diocese da Campanha. A
Igreja nos convoca e nos exorta como missão desta semana e deste mês: É dever da Igreja
assumir a sua missão geradora e educadora das vocações. Desprendidos dos bens deste
mundo sejamos generosos e misericordiosos em rezar pelas vocações sacerdotais. Amém!
Tema do 18º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens
deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e
convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa
existência e que nos garantem a vida em plenitude.
No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma
vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que
esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência.
Na primeira leitura, temos uma reflexão do “qohélet” sobre o sem sentido de uma vida
voltada para o acumular bens… Embora a reflexão do “qohélet” não vá mais além, ela
constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para
encontramos aí o sentido último da nossa existência.
A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os
“deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o
Homem Novo, que é “imagem de Deus”.
LEITURA I – Co (Ecle) 1,2; 2,21-23
Leitura do Livro de Coelet
Vaidade das vaidades – diz Coelet –
vaidade das vaidades: tudo é vaidade.
Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito,
tem de deixar tudo a outro que nada fez.
Também isto é vaidade e grande desgraça.
Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho
e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol?
Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores
e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações;
e nem de noite o seu coração descansa.
Também isto é vaidade.
AMBIENTE
O Livro de Qohélet é um livro de carácter sapiencial, escrito pelos finais do séc. III a.C..
Não sabemos quem é o autor… Em 1,1, apresenta-se o livro como “palavras de qohélet”;
mas “qohélet” é uma forma participial do verbo “qhl” (“reunir em assembleia”): significa,
pois, “aquele que participa na assembleia” ou, numa perspectiva mais activa, “aquele que
fala na assembleia”. O nome “Eclesiastes” (com que também é designado) é a forma
latinizada do grego “ekklesiastes” (nome do livro na tradução grega do Antigo
Testamento): significa o mesmo que “qohélet” – “aquele que se senta ou que fala na
assembleia” (“ekklesia”).
Este “caderno de anotações” de um “sábio” é um escrito estranho e enigmático, sarcástico,
inconformista, polémico, que põe em causa os dogmas mais tradicionais de Israel. A sua
preocupação fundamental, mais do que apontar caminhos, parece ser a de destruir certezas
e seguranças. Levanta questões e não se preocupa, minimamente, em encontrar respostas
para essas questões.
O tom geral do livro é de um impressionante pessimismo. O autor parece negar qualquer
possibilidade de encontrar um sentido para a vida… Defende que o homem é incapaz de ter
acesso à “sabedoria”, que não há qualquer novidade e que estamos fatalmente condenados a
repetir os mesmos desafios, que o esforço humano é vão e inútil, que é impossível conhecer
Deus e que, aconteça o que acontecer, nada vale a pena porque a morte está sempre no
horizonte e iguala-nos com os ignorantes e os animais… Não é um livro onde se vão
procurar respostas; é um livro onde se denuncia o fracasso da sabedoria tradicional e onde
ecoa o grito de angústia de uma humanidade ferida e perdida, que não compreende a razão
de viver.
MENSAGEM
Em concreto, no texto que hoje a liturgia nos propõe, o “qohélet” proclama a inutilidade de
qualquer esforço humano. A partir da sua própria experiência, ele foi capaz de concluir
friamente que os esforços desenvolvidos pelo homem ao longo da sua vida não servem para
nada. Que adianta trabalhar, esforçar-se, preocupar-se em construir algo se teremos, no
final, de deixar tudo a outro que nada fez? E o “qohélet” resume a sua frustração e o seu
desencanto nesse refrão que se repete em todo o livro (25 vezes): “tudo é vaidade”. É uma
conclusão ainda mais estranha quanto a “sabedoria” tradicional “excomungava” aquele que
não fazia nada e apresentava como ideal do “sábio” aquele que trabalhava e que procurava
cumprir eficazmente as tarefas que lhe estavam destinadas.
A grande lição que o “qohélet” nos deixa é a demonstração da incapacidade de o homem,
por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. O pessimismo do “qohélet”
leva-nos a reconhecer a nossa impotência, o sem sentido de uma vida voltada apenas para o
humano e para o material. Constatando que em si próprio e apenas por si próprio o homem
não pode encontrar o sentido da vida, a reflexão deste livro força-nos a olhar para o mais
além. Para onde? O “qohélet” não vai tão longe; mas nós, iluminados pela fé, já podemos
concluir: para Deus. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da
vida e preencher a nossa existência.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão e actualização, as seguintes linhas:
• Quase poderíamos dizer que o “qohélet” é o precursor desses filósofos existencialistas
modernos que reflectem sobre o sentido da vida e constatam a futilidade da existência, a
náusea que acompanha a vida do homem, a inutilidade da busca da felicidade, o fracasso
que é a vida condenada à morte (Jean Paul Sartre, Albert Camus, André Malraux…). As
conclusões, quer do “qohélet”, quer das filosofias existencialistas agnósticas, seriam
desesperantes se não existisse a fé. Para nós, os crentes, a vida não é absurda porque ela não
termina nem se encerra neste mundo… A nossa caminhada nesta terra está, na verdade,
cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida
caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno
do nosso ser e da nossa existência.
• A reflexão do “qohélet” convida-nos a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança
em coisas falíveis e passageiras. Quem vive, apenas, para trabalhar e para acumular, pode
encontrar aí aquilo que dá pleno significado à vida? Quem vive obcecado com a conta
bancária, com o carro novo, ou com a casa com piscina num empreendimento de luxo,
encontrará aí aquilo que o realiza plenamente? Para mim, o que é que dá sentido pleno à
vida? Para que é que eu vivo?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90)
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.
Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite.
Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
de tarde ela murcha e seca.
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos.
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.
LEITURA II – Col 3,1-5.9-11
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno:
imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza,
que é uma idolatria.
Não mintais uns aos outros,
vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções
e vos revestistes do homem novo,
que, para alcançar a verdadeira ciência,
se vai renovando à imagem do seu Criador.
Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso,
bárbaro ou cita, escravo ou livre;
o que há é Cristo,
que é tudo e está em todos.
AMBIENTE
A segunda leitura deste domingo é, mais uma vez, um trecho dessa Carta aos Colossenses,
em que Paulo polemiza contra os “doutores” para quem a fé em Cristo devia ser
complementada com o conhecimento dos anjos e com certas práticas legalistas e ascéticas.
Paulo procura demonstrar que a fé em Cristo (entendida como adesão a Cristo e
identificação com Ele) basta para chegar à salvação.
Este texto integra a parte moral da carta (cf. Col 3,1-4,1): aí Paulo tira conclusões práticas
daquilo que afirmou na primeira parte (que Cristo basta para a salvação) e convoca os
Colossenses a viverem, no dia a dia, de acordo com essa vida nova que os identificou com
Cristo.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto está dividido em duas partes.
Na primeira (vers. 1-4), Paulo apresenta, como ponto de partida e como base sólida da vida
cristã, a união com Cristo ressuscitado. Os cristãos, pelo baptismo, identificaram-se com
Cristo ressuscitado; dessa forma, morreram para o pecado e renasceram para uma vida
nova. Essa vida deve crescer progressivamente, mas manifestar-se-á em plenitude, quando
Cristo “aparecer” (a Carta aos Colossenses ainda alimenta nos cristãos a espera da vinda
gloriosa de Cristo).
Na segunda parte (vers. 5.9-11), Paulo descreve as exigências práticas dessa identificação
com Cristo ressuscitado. O cristão deve fazer morrer em si a imoralidade, a impureza, as
paixões, os maus desejos, a cupidez, numa palavra, todos esses falsos deuses que enchem a
vida do homem velho; e, por outro lado, deve revestir-se do Homem Novo – ou seja, deve
renovar-se continuamente até que nele se manifeste a “imagem de Deus” (“sede perfeitos
como perfeito é o vosso Pai do céu” – cf. Mt 5,48). Quando isso acontecer, desaparecerão
as velhas diferenças de povo, de raça, de religião e todos serão iguais, isto é, “imagem de
Deus”. Foi isso que Cristo veio fazer: criar uma comunidade de homens novos, que sejam
no mundo a “imagem de Deus”.
A identificação com Cristo ressuscitado – que resulta do Baptismo – é, portanto, um
renascimento contínuo que deve levar-nos a parecer-nos cada vez mais com Deus.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e actualização podem partir das seguintes questões:
• Ser baptizado é, na perspectiva de Paulo, identificar-se com Cristo e, portanto, renunciar
aos mecanismos que geram egoísmo, ambição, injustiça, orgulho, morte – os mesmos que
Jesus rejeitou como diabólicos; e é, em contrapartida, escolher uma vida de doação, de
entrega, de serviço, de amor – os mecanismos que levaram Jesus à cruz, mas que também o
levaram à ressurreição. Eu estou a ser coerente com as exigências do meu Baptismo? Na
minha vida há uma opção clara pelas “coisas do alto”, ou essas “coisas da terra” (brilhantes,
sugestivas, mas efémeras) têm prioridade e condicionam a minha acção?
• O objectivo da nossa vida (esse objectivo que deve estar sempre presente diante dos
nossos olhos e que deve constituir a meta para a qual caminhamos) é, de acordo com Paulo,
a renovação contínua da nossa vida, a fim de que nos tornemos “imagem de Deus”.
Aqueles que me rodeiam conseguem detectar em mim algo de Deus? Que “imagem de
Deus” é que eu transmito a quem, diariamente, contacta comigo?
• A comunidade cristã é essa família de irmãos onde as diferenças (de raça, de cultura, de
posição social, de perspectiva política, etc.) são ilusórias, porque o fundamental é que todos
caminham para ser “imagem de Deus”. Isto é realidade? Nas nossas comunidades (cristãs
ou religiosas), todos os membros são tratados com igual dignidade, como “imagem de
Deus”?
• Convém não esquecer que a construção do “Homem Novo” é uma tarefa que exige uma
renovação constante, uma atenção constante, um compromisso constante. Enquanto
estamos neste mundo, nunca podemos cruzar os braços e dar a nossa caminhada para a
perfeição por terminada: cada instante apresenta-nos novos desafios, que podem ser
vencidos ou que podem vencer-nos.
ALELUIA – Mt 5,3
Aleluia. Aleluia.
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
EVANGELHO – Lc 12,13-21
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
alguém, do meio da multidão, disse a Jesus:
«Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe:
«Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?»
Depois disse aos presentes:
«Vede bem, guardai-vos de toda a avareza:
a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola:
«O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo:
‘Que hei-de fazer,
pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim:
Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores,
onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo:
Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos.
Descansa, come, bebe, regala-te’.
Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma.
O que preparaste, para quem será?’
Assim acontece a quem acumula para si,
em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
AMBIENTE
Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém” e a escutar as lições que preparam os
discípulos para serem as testemunhas do Reino. A catequese, que Jesus hoje apresenta, é
sobre a atitude face aos bens.
A reflexão é despoletada por uma questão relacionada com partilhas… Um homem queixase a Jesus porque o irmão não quer repartir com ele a herança. Segundo as tradições
judaicas, o filho primogénito de uma família de dois irmãos recebia dois terços das
possessões paternas (cf. Dt 21,17. É possível que só fossem repartidos os bens móveis e
que, para guardar intacto o património da família, a casa e as terras fossem atribuídas ao
primogénito). O homem que interpela Jesus é, provavelmente, o irmão mais novo, que
ainda não tinha recebido nada. Era frequente, no tempo de Jesus, que os “doutores da lei”
assumissem o papel de juízes em casos similares… Como é que Jesus Se vai situar face a
esta questão?
MENSAGEM
Jesus escusa-Se, delicadamente, a envolver-Se em questões de direito familiar e a tomar
posição por um irmão contra outro (“amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas
partilhas?” – vers. 14). O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o
apego excessivo ao dinheiro (talvez por parte dos dois irmãos em causa). A conclusão que
Jesus tira (vers. 15) explica porque é que Ele não aceita meter-Se na questão: o dinheiro
não é a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria:
não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do homem, não
conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do “Reino” não é a lógica de
quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do Reino deverá ter isto
presente.
A parábola que Jesus vai apresentar na sequência (vers. 16-21) ilustra a atitude do homem
voltado para os bens perecíveis, mas que se esquece do essencial – aquilo que dá a vida em
plenitude. Apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador (que até
podíamos admirar e louvar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os
bens que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material (e nisso, já não o podemos
louvar e admirar). Esse homem representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um
acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros;
representa todos aqueles que vivem uma relação de “circuito fechado” com os bens
materiais, que fizeram deles o seu deus pessoal e que esqueceram que não é aí que está o
sentido mais fundamental da existência.
A referência à acção de Deus, que põe repentinamente um ponto final nesta existência
egoísta e sem significado, não deve ser muito sublinhada: ela serve, apenas, para mostrar
que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e
mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.
O que é que Jesus pretende, ao contar esta história? Convidar os seus discípulos a despojarse de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o
futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para
uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus pretende é dizer-nos que não
podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa
mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva
dos bens, constitui uma experiência de egoísmo, de fechamento, de desumanização, que
centra o homem em si próprio e o impede de estar disponível e de ter espaço na sua vida
para os valores verdadeiramente importantes – os valores do Reino. Quando o coração está
cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo
“ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se
insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer
injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto-suficiente,
incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do
Reino.
Atenção: esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas destina-se a
todos aqueles que (tendo muito ou pouco) vivem obcecados com os bens, orientam a sua
vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e
o seu agir.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, ter em conta os seguintes elementos:
• A Palavra de Deus que aqui nos é servida questiona fortemente alguns dos fundamentos
sobre os quais a nossa sociedade se constrói. O capitalismo selvagem que, por amor do
lucro, escraviza e obriga a trabalhar até à exaustão (e por salários miseráveis) homens,
mulheres e crianças, continua vivo em tantos cantos do nosso planeta… Podemos,
tranquilamente, comprar e consumir produtos que são fruto da escravidão de tantos irmãos
nossos? Devemos consentir, com a nossa indiferença e passividade, em aumentar os lucros
imoderados desses empresários/sanguessugas que vivem do sangue dos outros?
• Entre nós, o capitalismo assume um “rosto” mais humano nas teses do liberalismo
económico; mas continua a impor a filosofia do lucro, a escravatura do trabalhador, a
prioridade dos critérios de planificação, de eficiência, de produção em relação às pessoas.
Podemos consentir que o mundo se construa desta forma? Podemos consentir que as leis
laborais favoreçam a escravidão do trabalhador? Que podemos fazer? Nós cristãos – nós
Igreja – não temos uma palavra a dizer e uma posição a tomar face a isto?
• Qualquer trabalhador – muitos de nós, provavelmente – passa a vida numa escravatura do
trabalho e dos bens, que não deixa tempo nem disponibilidade para as coisas importantes –
Deus, a família, os irmãos que nos rodeiam. Muitas vezes, o mercado de trabalho não nos
dá outra hipótese (se não produzimos de acordo com a planificação da empresa, outro
ocupará, rapidamente, o nosso lugar); outras vezes, essa escravatura do trabalho resulta de
uma opção consciente… Quantas pessoas escolhem prescindir dos filhos, para poder
dedicar-se a uma carreira de êxito profissional que as torne milionárias antes dos quarenta
anos… Quantas pessoas esquecem as suas responsabilidades familiares, porque é mais
importante assegurar o dinheiro suficiente para as férias na Tailândia ou na República
Dominicana… Quantas pessoas renunciam à sua dignidade e aos seus direitos, para
aumentar a conta bancária… Tornamo-nos, assim, mais felizes e mais humanos? É aí que
está o verdadeiro sentido da vida?
• O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até alguém que
fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu
interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não
deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 18º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 18º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada
dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra:
num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa
comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de
Deus.
2. ACOLHER OS NOVOS QUE CHEGAM.
Em grande parte das comunidades, neste mês de Agosto, muitos partem em férias para
outras paragens, muitos outros aparecem para participar na missa. Pode haver um
acolhimento especial para os que chegam de novo, antes da missa, durante ou depois da
missa.
3. PROCLAMAR BEM A PRIMEIRA LEITURA.
O texto do Eclesiástico não precisa de grandes efeitos de voz. Leitura simples, tranquila,
sem exageros na pronunciação da palavra “vaidade” e sem ares de tristeza… É uma
chamada de atenção para a importância que se deve dar à proclamação das leituras. Não se
trata de uma simples leitura, muitas vezes incompreensível e mal preparada, mas de uma
verdadeira proclamação da Palavra!
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das
leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Deus nosso Pai, nós Te bendizemos por toda a criação. Mesmo as flores efémeras e as
vaidades dão testemunho de Ti, ensinam-nos que permaneces eternamente. Bendito sejas,
porque nos chamas a participar da tua eternidade.
Nós Te pedimos por todas as vítimas de injustiças e de catástrofes, por todos aqueles que
ficam privados do fruto do seu trabalho e do seu suor”.
No final da segunda leitura:
“Cristo Jesus, nosso Deus que fazes de nós teus irmãos, nós Te proclamamos como o
Homem Novo, e esperamos a tua vinda, quando apareceres na glória, para reunir todos os
membros do teu Corpo.
Nós Te pedimos por todos nós que fomos baptizados na tua morte e na tua ressurreição: faz
morrer em nós o que pertence à terra, refaz-nos de novo, à tua imagem”.
No final do Evangelho:
“Deus nosso Pai, bendito sejas pelo teu Filho Jesus. Ele renunciou à glória que tinha junto
de Ti para se tornar pobre e nos enriquecer com a tua própria vida.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos purifique dos ataques que nos ligam às riquezas
perecíveis, e fortifique em nós o desejo de sermos ricos aos olhos de Deus. Que Ele nos
preserve da avidez do lucro e nos abra ao sentido da partilha”.
5. BILHETE DE EVANGELHO.
Ninguém pode decidir no lugar de outro. O próprio Jesus respeita a liberdade do homem,
mas veio propor-lhe balizas para marcar o caminho sobre o qual tem escolhas a fazer. Põeno de sobreaviso em relação às riquezas materiais que podem paralisar ou cegar. De facto,
aquele que tem as mãos crispadas sobre os seus bens está impedido de partilhar, de fazer
um gesto para com aquele que tem necessidade. E depois, o seu horizonte está fechado por
todas as suas riquezas que o impedem de ver o irmão, e de se ver a si próprio na luz de
Deus. Quando nos deixamos olhar por Deus, permitimos-Lhe olhar para onde estão as
nossas verdadeiras riquezas; a oração ajuda-nos, então, a reconhecê-las para as desenvolver.
6. À ESCUTA DA PALAVRA.
Eis Jesus confrontado com um assunto de herança. Mas declara-Se incompetente para
julgar o caso, pois não é juiz, nem notário, nem advogado. Mas é uma boa ocasião para Ele,
pois conhece bem o coração de Deus e o coração dos homens! Sabe que o coração do
homem anda muitas vezes bem longe do coração de Deus, que o porta-moedas é parte
sensível do homem, enquanto Deus não tem nada disso! Aproveita a ocasião para dar
atenção ao sentido sobre as riquezas humanas. Jesus não é contra a riqueza, nem contra o
progresso, nem contra o crescimento do nível de vida. Mas ser rico para si mesmo, é
deixar-se aprisionar pelo dinheiro. A vida do homem não depende das suas riquezas. Hoje,
o que diria Jesus aos grandes poderosos do mundo, “ricos de podre”, que não têm pejo em
lançar para o desemprego milhares de pessoas sem saber qual o seu destino de vida? São
pecados graves! Pode dizer-se que se trata de política. Mas trata-se primeiro do Evangelho!
Cabe aos cristãos serem testemunhas pela própria vida, pelo próprio exemplo! E lutar
contra este estado de coisas!
7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II para a Reconciliação, que está em harmonia
significativa com a leitura de São Paulo.
8. PALAVRA PARA O CAMINHO…
O melhor celeiro? O melhor banco? Onde acumulamos as nossas riquezas? E quais são
estas riquezas? À luz da parábola de Jesus, eis-nos convidados a fazer o ponto da situação
sobre as nossas prioridades na vida – e a rectificar, talvez, o nosso uso dos bens da terra. A
vida de uma pessoa e o seu valor real não se medem pelas suas riquezas. Estamos
verdadeiramente conscientes e persuadidos disso?
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