Curso de Atualização para Docentes da Educação Profissional em Saúde (Versão Preliminar a ser apresentada na CTEI da EPSJV e junto às autoridades das escolas técnicas e dos governos dos países da CPLP) ANTECEDENTES A EPSJV, unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tem como missão promover a educação de técnicos em saúde, através da coordenação e da implementação de programas de ensino em áreas estratégicas para a Saúde Pública e para Ciência e Tecnologia em Saúde; da elaboração de projetos de política, regulamentação, currículos, cursos, metodologias e tecnologias educacionais; e da produção e divulgação de conhecimento na área de trabalho, educação e saúde. A EPSJV foi designada como Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde (OMS) para Educação de Técnicos em Saúde, pela primeira vez, em 20 de julho de 2004, sendo redesignada para os anos de 2008-2012. Em 19 de julho de 2012, o Opas/OMS confirmou a redesignação da EPSJV como Centro Colaborador pela terceira vez e aprovou um novo plano de trabalho na qual se propõe a colaborar com Opas/OMS nos seguintes âmbitos: fortalecimento das escolas de formação de técnicos em saúde, com ênfase nos Cuidados Primários de Saúde; análise da força de trabalho de técnicos em saúde, incluindo composição, distribuição, formação e regulação; desenvolvimento e enriquecimento de programas de educação em serviço para os técnicos em saúde, especialmente dos agentes comunitários de saúde, com ênfase na utilização das tecnologias de informação e comunicação; e divulgação e disseminação de informação técnico-científica com ênfase em educação, saúde e trabalho do pessoal sanitário, por meio da articulação e da integração de redes de escolas de formação de técnicos em saúde. Ainda no que tange à atuação da EPSJV no âmbito internacional, em maio de 2009, os Ministros da Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), reunidos no Estoril-Portugal, aprovaram o Plano Estratégico de Cooperação em Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (PECS-CPLP 2009-2012), tendo como principal meta o fortalecimento dos sistemas de saúde dos Estados Membros da CPLP, de forma a garantir o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade de suas populações. Nesse sentido, foram estabelecidos sete eixos estratégicos de atuação, dentre os quais a formação e o desenvolvimento da força de trabalho em saúde. Nesse eixo, um dos projetos pactuados dizia respeito à criação de redes estruturantes de saúde. 1 Em dezembro de 2009, durante a 2ª Reunião Geral da Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), ocorrida na EPSJV, foi criada a RETS-CPLP e realizada sua 1ª Reunião Ordinária. Na reunião, os membros aprovaram o Plano de Trabalho proposto, considerando como projeto prioritário no Eixo 1, a “Formação e desenvolvimento da força de trabalho em saúde”. Nessa reunião, com a participação de representantes dos Ministérios da Saúde e de instituições formadoras de técnicos em saúde de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, bem como do Secretariado Executivo da CPLP, do Instituto de Higiene e Medicina Tropica (IHMT), da escola Superior de Tecnologia da Sáude de Lisboa (ESTeSL) e do Alto Comissariado de Saúde de Portugal, a EPSJV foi definida como instituição coordenadora da Rede. Em 18 de abril de 2013, na Reunião Técnica para Avaliação do PECS 20092012, realizada em Lisboa, foi reconhecido um grau de sucesso apreciável na execução do projeto prioritário referente à implementação da RETS-CPLP. Na ocasião, também houve pleno consenso na continuidade do PECS 2009–2012. Em 18 de julho do mesmo ano, o Conselho de Ministros da CPLP, reunido em Maputo-Moçambique, decide dar continuidade ao PECS-CPLP 2009-2012, por um novo período de quatro anos. O plano, que passa a ser designado como PECS-CPLP 2009-2016, mantém a mesma estrutura estabelecida no plano original, com um pequeno ajuste das prioridades. Nesse sentido, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), que exerce a Coordenação da RETS-CPLP, em nome da Fiocruz, propôs para a RETSCPLP um Plano de Trabalho para o período de 2014 a 2017 que, em consonância com o PECS-CPLP, também possibilitava a continuidade de alguns projetos, bem como a conformação de novas propostas que visassem ao estabelecimento de ações de cooperação multilateral em saúde no âmbito da Comunidade. Esta proposta de Plano de Trabalho, discutida e aprovada em uma Reunião Extraordinária da Rede de Escolas Técnicas de Saúde da CPLP, ocorrida nos dias 28 a 30 abril de 2014, na cidade Lisboa, Portugal, foi encaminhada ao Secretariado Executivo da CPLP para sua apreciação, viabilização e implementação. Durante esses anos, várias ações de cooperação têm sido demandadas à EPSJV – seja no âmbito da RETS-CPLP, seja nas cooperações bilaterais desenvolvidas com os países africanos de língua portuguesa, mas sempre almejando desenvolvê-las a partir do respeito à autonomia dos países e visando contribuir para o fortalecimento das 2 instituições estruturantes1 dos países parceiros, por meio de programas planejados e desenvolvidos em conjunto com as autoridades locais e respeitando as agendas políticas de saúde dos países. Além das ações de cooperação bilaterais desenvolvidas com os países africanos destinadas à formação docente, a EPSJV realizou também, no âmbito da RETS-CPLP, o Curso de Especialização em Educação Profissional em Saúde para os Palop, que teve por objetivo especializar docentes e dirigentes na área da Educação Profissional em Saúde, mediante o aprofundamento das bases teórico-metodológicas que fundamentam as políticas de educação e suas relações com a saúde e com o trabalho em saúde, possibilitando a compreensão histórica de tais políticas e potencializando práticas transformadoras capazes de contribuir para a estruturação e consolidação das instituições públicas de formação de técnicos em saúde dos países africanos de língua portuguesa, no âmbito da cooperação técnica internacional. O presente curso, fruto desses processos de cooperação, está em consonância com o que foi planejado na referida Reunião Extraordinária da Rede de Escolas Técnicas de Saúde da CPLP, anteriormente citada, mais especificamente no OBJETIVO 2. “Qualificar os docentes das escolas técnicas de saúde, tanto nos aspectos técnicos quanto pedagógicos”. Tal proposta pretende contribuir na qualificação pedagógica de docentes das escolas técnicas de saúde dos países da CPLP, buscando aprofundar as bases teórico-metodológicas que fundamentam as práticas de educação e suas relações com a saúde. Nesse sentido, visa possibilitar uma formação crítico-emancipatória, em contraste com a racionalidade utilitarista instrumental que vem imperando na formação docente. OBJETIVOS DO CURSO Objetivo Geral: Apresentar as concepções de educação e de educação técnica em saúde e sua correspondência nos âmbitos do currículo, do processo de ensino-aprendizagem, do planejamento pedagógico e da avaliação. A cooperação estruturante em saúde visa “à colaboração na criação e/ou no fortalecimento e na sustentabilidade das instituições estruturantes dos sistemas de saúde, como são chamados os próprios ministérios da Saúde (autoridade sanitária nacional) e os institutos e escolas nacionais de saúde pública, escolas técnicas de saúde e institutos de atenção à saúde e pesquisa clínica, além das graduações nas profissões em saúde” (BUSS, P. M.; FERREIRA, J. R. “Brasil e saúde global”. In: PINHEIRO, L.; MILANI, C. R. S. (Org.). Política externa brasileira: as práticas da política e a política das práticas. Rio de Janeiro: FGV, 2012, pp. 241-265). 1 3 Objetivos Específicos: Proporcionar a compreensão das diferentes dimensões (psicológica, social e política) envolvidas no processo de ensino e de aprendizagem, considerando as especificidades da educação técnica em saúde. Analisar as concepções de ensino e de aprendizagem expressas nas práticas educativas em saúde, a fim de contribuir para a efetiva participação da comunidade e da problematização da realidade. Conhecer as diferentes concepções de formulação do currículo que impactam o cotidiano do processo de ensino-aprendizagem. Debater as concepções e sentidos da avaliação da aprendizagem, com o propósito de realizá-la de forma processual e diagnóstica para reorientar o trabalho docente. Estruturar o planejamento pedagógico – plano de curso e plano de aula – considerando seus distintos componentes (objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação), com vistas a organizar a prática pedagógica. REQUISITOS DE ACESSO Ser profissional que trabalhe nas escolas técnicas de saúde dos países da CPLP e que demonstre experiência e/ou interesse na docência. O processo de seleção estará a cargo das autoridades das escolas e/ou dos governos dos referidos países. PERFIL PROFISSIONAL DE CONCLUSÃO DO DOCENTE O egresso deverá estar apto a: Atuar na docência, desenvolvendo processos educativos no âmbito da formulação do currículo, do plano de aula, das estratégias metodológicas de ensino e da aprendizagem na área da Educação Profissional em Saúde. Identificar as necessidades pedagógicas dos discentes, buscando instituir estratégias que contemplem a sua diversidade. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA CURRICULAR O curso será desenvolvido em Guiné Bissau, por docentes brasileiros, sendo organizado em duas semanas, contabilizando 80 (oitenta) horas/aula. Abaixo 4 apresentamos os temas a serem trabalhados, assim como os objetivos e seus conteúdos específicos. OBJETIVOS TEMAS Possibilitar a reflexão sobre Formação e expropriação a própria formação e do trabalho docente. atuação docente, debatendo sobre o seu papel social e sua organização enquanto classe trabalhadora. CONTEÚDOS Profissionalização docente: professor enquanto um intelectual orgânico (Gramsci) das classes trabalhadoras. Educadores e estudantes são produtores e problematizadores do conhecimento. Compreender que o trabalho do professor tem um cunho intelectual, não Concepções pedagógicas e Prática pedagógica como ato se restringindo a questões o diálogo com a visão de político. tecnocráticas e sociedade. Expropriação do trabalho docente. instrumentais. Relações entre visões de mundo e Concepções pedagógicas e visões pedagógicas. as implicações para a prática docente. Panorama e análise crítica das Debater a interrelação principais concepções pedagógicas: existente entre as visões de educação bancária; mundo e as concepções educação tecnicista; pedagógicas. educação baseada em competências; Refletir sobre as educação crítica. concepções pedagógicas e suas implicações para a Currículo como campo de Teorias do currículo prática docente. conhecimento. As diferentes concepções de currículo Discutir o currículo como Currículo: um campo de filosóficos conhecimento, assim como sociais. as diferentes concepções sobre este artefato cultural. aspectos Os determinantes sociais do históricos e currículo: interculturalidade, território e a condição de classe. Refletir sobre a relação Concepções pedagógicas: entre escola e currículo, a educação popular em destacando-se os aspectos saúde. filosóficos históricos e sociais. Debater os princípios e a relevância da educação A educação popular como uma modalidade de educação crítica: - contextualização histórica da educação popular na África; - os princípios da educação popular: problematização, diálogo, valorização da cultura popular. 5 popular na formação em Políticas de educação e os As diretrizes curriculares oficiais. saúde. currículos de educação A relação do currículo com o profissional em saúde. processo de trabalho em saúde. Realizar uma reflexão Concepções pedagógicas e crítica sobre as políticas de implicações para a prática educação e os currículos de docente educação profissional em saúde. Relações entre as concepções pedagógicas e os processos de ensino-aprendizagem: - a compreensão dos processos cognitivos e da aprendizagem, e o desenvolvimento de práticas Identificar as diferentes Planejamento: integração pedagógicas. concepções pedagógicas entre a instituição Planejamento, escola e a estrutura que orientam as práticas educativa e o contexto social: docentes. social. - A relação do território com a escola na construção do planejamento. - Território educativo: para além do muro da escola. Considerar o planejamento como um processo integrador entre a instituição educativa e o contexto social. Organização de um planejamento de ensino: metodologia, fases e elementos componentes. Possibilitar a reflexão e a organização de um planejamento de ensino: metodologia, fases e elementos componentes. Plano de curso, plano de Pressupostos filosóficos. aula, a seleção do Metodologia de construção. conteúdo e dinâmicas de Fases e elementos componentes. ensino. Metodologia de construção. Fases e elementos componentes. Critérios de seleção dos conteúdos. Discussão crítica de dinâmicas de ensino: trabalho em grupo, exposição dialogada, roda de conversa, debates a partir de recursos audiovisuais, estudos de caso, dentre outros. Possibilitar a reflexão e a organização de um plano de curso, de um plano de aula, a seleção de conteúdos e as dinâmicas de ensino. Planejamento educacional na perspectiva da escola de formação integral. Planejamento dialógico e projeto político pedagógico da escola. A dimensão pedagógica do planejamento escolar para o corpo docente. Debater sobre a relação Avaliação e sua Historicidade da avaliação. entre a concepção de imbricação com as Relação entre concepções sociedade e as práticas concepções pedagógicas pedagógicas e avaliação. avaliativas na instituição escolar. Discutir as concepções de Concepções de avaliação. avaliação. Panorama e análise crítica das principais concepções de avaliação: 6 - avaliação classificatória, avaliação diagnóstica, avaliação dialógica, avaliação por competências. Analisar alguns avaliativos. criticamente Instrumentos avaliativos. instrumentos Análise crítica de instrumentos avaliativos: prova, auto-avaliação, ficha de observação, dentre outros. Refletir coletivamente sobre Avaliação do saber técnico Desafios da avaliação do saber os desafios de se avaliar o em saúde. técnico; estágio como espaço de saber do técnico em saúde. formação e avaliação. METODOLOGIA: Serão realizadas aulas expositivas dialogadas, buscando propiciar a participação dos discentes, valorizando as experiências formativas, de trabalho e de vida. É importante que haja um compartilhamento das ideias no coletivo, de modo a estabelecer relações entre as discussões desenvolvidas e as atividades educativas que realizarão em sua atuação profissional. Esse movimento coletivo de discussão visa possibilitar uma análise criticada práxis educativa, a fim de ressignificar o conhecimento trabalhado em sala de aula e seus desdobramentos na vivência dos estudantes. SISTEMA DE AVALIAÇÃO O processo de avaliação do curso está de acordo com a compreensão que a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz tem sobre o trabalho educativo, no qual concebe o educador como um intelectual que reflete sobre sua prática, embasado em teorias e sobre o sujeito e a sociedade, trazendo uma determinada concepção de mundo. Neste sentido, a avaliação não se apresenta segmentada do processo educativo em toda a sua complexidade. Mais importante que atribuir conceitos e notas que explicitem um poder e um controle, ensejamos constituir um processo de avaliação que contribua para a construção de conhecimentos sobre a educação – e especialmente sobre a educação profissional em saúde. A avaliação se constitui como um momento de reflexão sobre os caminhos que o estudante está construindo, demonstrando suas dificuldades, suas possibilidades, seu caminhar no processo, sempre transitório, do saber (Estéban, 1997). 7 Buscamos instituir um trabalho pedagógico em que a escola organize a mediação entre sujeitos coletivos e conhecimento, a fim de que estes tenham acesso ao saber e à cultura produzidos pela humanidade (Kostiuk, 1991). A avaliação será processual e se dará ao longo do curso, tomando como referência a experiência dos discentes e sua trajetória ao longo do processo formativo: avanços teórico-conceituais e sua aplicação prática, produções, participação individual e em grupo, dentre outros. CERTIFICAÇÃO Os certificados serão expedidos pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz. CORPO DOCENTE Será composto por professores pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz, com experiência na formação docente, conforme explicitado no quadro a seguir: Nome do Docente Titulação do Brasil Anakeila de Barros Pedagoga (UERJ); Mestre em Educação (UERJ); Doutora em Stauffer Educação e Ciências Sociais (PUC-RJ); Professora Pesquisadora da EPSJV/Fiocruz; Coordenadora da Cooperação Internacional da EPSJV/ Fiocruz. Cristina Morel Psicóloga; Mestre em Educação IESAE/FGV; Doutoranda Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ); Professora Pesquisadora da EPSJV/Fiocruz. Marcia Lopes Psicóloga; Mestre em Saúde Coletiva (UERJ); Doutora em Psicologia Social (UERJ); Pós-Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ); Professora Pesquisadora da EPSJV/Fiocruz. Ronaldo Travassos Pedagogo; Mestre em Educação (UFSCAR); Especialista em Educação em Saúde Pública (UFF); Doutor em Educação (Unicamp); Professor Pesquisador da EPSJV/Fiocruz. 8