○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Comunicação Comunicação e educação: relações na gestão educacional Communication and Education: relationships in Educational Management Susana Goerck Graduada em Comunicação Social – Relações Públicas pela UFRGS Relações públicas do Instituto Porto Alegre – IPA R e s u m o Um cenário de profundas mudanças, introduzidas pela globalização e pelas novas tecnologias, vem alterando conceitos e práticas da educação e da comunicação e, ao mesmo tempo, aproximando as duas áreas. As interações sociais suscitaram revisões na ação educativa e nos métodos pedagógicos, bem como nos conceitos da comunicação social. Nesse contexto, a comunicação, enquanto estratégia, amplia seu espaço nas instituições educacionais, tornando-se condição necessária na busca de contextos de desenvolvimento e aprendizagem. Unitermos: comunicação, educação, instituição educacional, estratégia Synopsis A set of deep changes, introduced by globalization and by new technologies, has been changing concepts and practices in education and communications, and at the same time bringing both areas together. The social interactions have roused reviews in educational actions and in pedagogical methods, as well as in the social communications’ concepts. In such context, communications as a strategy expands its space in the educational institutions, becoming a necessary condition in the search for development and learning contexts. Terms: communications, education, educational institution, strategy Resumen Un escenario de profundos cambios, introducidos por la globalización y por las nuevas tecnologías, viene alterando conceptos y prácticas de la educación y de la comunicación y, al mismo tiempo, acercando a estas dos áreas. Las interacciones sociales suscitaron revisiones en la acción educativa y en los métodos pedagógicos, así como en los conceptos de la comunicación social. En ese contexto, la comunicación, como estrategia, amplía su espacio en las instituciones educacionales, convirtiéndose en condición necesaria en la búsqueda de contextos de desarrollo y aprendizaje. Términos: comunicación; educación; institución educacional; estrategia Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 91 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Comunicação e educação ○ ○ educação e a comunicação são duas áreas extremamente abrangentes que permeiam todas as ramificações da configuração social. Todas as questões da sociedade são impregnadas de um caráter educativo, pois podem ser objeto de ensino e de aprendizagem. Ao mesmo tempo, a comunicação está presente em todos os espaços de interação e aprendizagem social. Como direito instituído e adquirido, a educação é realizada por meio das instituições educacionais, que ao lado da família, da cultura e das interações sociais, constituem os espaços de aprendizagem reconhecidos pela sociedade. Nesse contexto, a escola atua como planejadora, organizadora e fornecedora de aprendizagem via ensino. A criação e o surgimento das instituições educacionais decorrem da evolução cultural das civilizações e da necessidade de sistematizar e organizar a transmissão dos conhecimentos produzidos pelo homem às futuras gerações. Além da manutenção da herança social, a escola é a instituição responsável pela produção de novos conhecimentos. A comunicação, por sua vez, passou a figurar entre os temas de maior importância na sociedade. Em livro recente, Matterlart e Matterlart salientam: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ uma figura emblemática das sociedades do terceiro milênio.”1 A O desenvolvimento dos processos midiáticos gerados na diversificação dos meios impressos, eletrônicos e digitais determinou o avanço de sua penetração no espaço de todas as instituições e atividades da sociedade: na política, na saúde, nos negócios, na literatura, na economia, nas artes, nas ciências sociais e na educação, para atendimento de interesses específicos. A introdução dos meios atingiu também o nível das interações sociais, que passam a extrapolar a relação face a face entre os sujeitos, e adquire nova roupagem com a questão da interatividade, minimizando a passividade do receptor no processo comunicativo, com a introdução da Internet e de outros produtos dos avanços tecnológicos. Ao midiatizarem as relações sociais, os veículos de comunicação são norteados por objetivos genericamente identificados na propagação de produtos, imagens e idéias, na informação sobre a atualidade, no entretenimento e, em menor escala, no montante de investimentos, no conteúdo educativo, que vem sendo ponto de discussão entre diversos segmentos. Nesse contexto, as áreas específicas da sociedade comparecem aos espaços de informação de interesse geral – a mídia – para expor suas atividades em busca de apoio político-social, divulgação de ações e sondagem de necessidades. Assim, é possível constatar que as mediações tecnológicas criadas para desenvolver as interações sociais possibilitaram à sociedade disponibilizar A introdução dos meios atingiu também o nível das interações sociais A escola atua como planejadora, organizadora e fornecedora de aprendizagem via ensino A escola é a instituição responsável pela produção de novos conhecimentos “A noção de comunicação recobre uma multiplicidade de sentidos. Se isso vem sendo assim há muito, a proliferação das novas tecnologias e a profissionalização das práticas acrescentaram novas vozes a essa polifonia, num final de século que faz da comunicação 1 ○ Armand Matterlart; Michéle Matterlart. A história das teorias da comunicação comunicação, 1999, p. 9. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 92 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ novos instrumentos que aceleram e diversificam seus próprios processos, modificando impreterivelmente toda sua estrutura e suas ramificações. Essas mudanças, aliadas a outros fatores, abalaram os paradigmas e modelos dos sistemas educacionais, que suscitaram novos questionamentos e a definição de novas linhas de atuação no plano pedagógico e administrativo. Ao abordarmos as interfaces entre a comunicação e a educação quanto aos aspectos pedagógicos, verifica-se que, em decorrência do caráter abrangente e complexo das duas áreas, são diversas as perspectivas de análises e proposições. De acordo com Braga e Calazans, “geralmente as interações mais evidentes entre comunicação e educação são propostas a partir das intencionalidades educativas – no esforço de aperfeiçoar os processos comunicativos necessários à observação da aprendizagem” 2 . Nessa perspectiva, inserem-se os estudos sobre o uso dos meios tecnológicos como agregadores pedagógicos no processo de aprendizagem. Cardoso3 defende o abandono de métodos e teorias tradicionais, que englobam até aspectos como o quadro negro e a disposição da sala de aula, pela construção de uma escola cujas práticas sejam condizentes com os avanços tecnológicos e suas implicações nas relações sociais e políticas e promovam a valorização e participação dos alunos como sujeitos do processo de construção do conhecimento. A abordagem da educação da escola voltada para a sociedade midiatizada é outra linha de análise, genericamente denominada “educação para 2 3 4 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Inserem-se os estudos sobre o uso dos meios tecnológicos como agregadores pedagógicos no processo de aprendizagem Os comunicadores almejam aperfeiçoar os processos de comunicação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ os meios”. Sua finalidade é fornecer ao aluno conhecimentos e competências para uma leitura crítica da mídia e participação efetiva nessa sociedade. Nesse mesmo enfoque está a necessidade de adequação e atualização dos processos escolares à agilidade e à estética dos meios de comunicação que, diariamente, disponibilizam informações aos jovens e agem como formadores de opinião. No estudo das interfaces entre comunicação e educação, além do enfoque que privilegia a relação dos meios de comunicação com a educação das escolas, uma outra perspectiva é centrada no processo de comunicação e em suas semelhanças e ligações com o processo educativo. Nesse sentido, identificamos duas vertentes de análise: a) o enfoque educativo como objetivo do processo de comunicação; b) o processo de comunicação como determinante e viabilizador do processo educativo. O enfoque educativo como objetivo dos processos e meios de comunicação está presente na abordagem de Braga e Calazans 4 . Segundo esses autores, os comunicadores, a partir da difusão de informações, almejam aperfeiçoar os processos de comunicação e voltá-los para aspectos positivos e agregadores. Além de propiciar divulgação de produtos e idéias, informação e entretenimento, os meios de comunicação, tanto em âmbito organizacional como social, podem revelar seu potencial educativo por meio da circulação de saberes favorecedores de uma aprendizagem no espaço das interações sociais. José Luiz Braga; Regina Calazans. Comunicação e educação educação, 2001, p.57. Onésimo de Oliveira Cardoso. “Comunicação e educação: novos meios e novas idéias”. In: Comunicação e Sociedade Sociedade, 1994. José Luiz Braga; Regina Calazans. Comunicação e educação educação, 2001. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 93 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 5 Torquato , a partir da perspectiva organizacional, também ressalta o caráter educativo da comunicação. O olhar sistêmico e integrado aponta alternativas para potencializar os instrumentos de comunicação disponíveis nas organizações, atribuindolhes objetivos que transcendem a informação e o envolvimento e enfatizam a educação e obtenção de conhecimento pelos públicos receptores. Nesse sentido, o autor sublinha que os conteúdos abordados devem ultrapassar os fatos do cotidiano da organização e abranger outros aspectos que permeiam a vida do cidadão. As mensagens devem propiciar a compreensão dos contextos e integrar a comunidade com um mundo em permanente mudança. A segunda perspectiva refere-se ao processo de comunicação como determinante e viabilizador da educação e tem atraído olhares tanto de comunicadores quanto de educadores. Georgen 6 destaca que o caráter de reciprocidade que permeia a comunicação revela uma interação que é qualitativamente determinante para a comunicação educativa. A comunicação efetiva é caracterizada por um caráter de reciprocidade que implica na ocorrência de interação entre receptor e emissor, com base na participação, no entendimento das características e dos conhecimentos daquele com se estabelece o processo de comunicação e na existência de um repertório comum e favorável à compreensão das mensagens. Assim, ela se desenvolve ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mediante três competências: de conteúdo (objeto da comunicação); de relacionamento (estimativa correta do outro); e de manifestação (código e canal compartilhados). O processo educativo também reúne essas condições, como bem explica Goergen: O olhar sistêmico e integrado aponta alternativas para potencializar os instrumentos de comunicação disponíveis nas organizações “Surpreendentemente estas dimensões cobrem perfeitamente as dimensões esperadas pelo educador, conhecimento de conteúdo, conhecimento do educando no seu contexto psicossocial e conhecimentos didáticos no seu sentido mais amplo dos códigos, técnicos e meios adequados.” 7 Contudo, o autor esclarece que esses encontros conceituais e estruturais da comunicação e da educação ainda caminham para uma absorção mais efetiva pelas faculdades de educação. Esse atraso é atribuído, em parte, à compartimentalização das áreas do saber nas universidades e pela falta de entendimento de que educar, além de ensinar, pesquisar e prestar serviços, é realizar processos especiais de comunicação. Nesse mesmo enfoque, a comunicação e a participação são aspectos muito presentes na obra do educador Paulo Freire8 , enquanto viabilizadoras do processo educativo. Para o autor, educar não é transferência de saber, mas construção de saberes com base na participação ativa do educando no processo de construção do conhecimento, com ênfase na valorização das suas vivências. A comunicação efetiva se desenvolve mediante três competências: de conteúdo; de relacionamento; e de manifestação 5 Francisco Gaudêncio do Rego Torquato. Comunicação empresarial/comunicação institucional institucional, 1986. Pedro Georgen. “A comunicação nas faculdades de educação”. In: Margarida M. Kroling Kunsch (org.). Comunicação e educação educação: caminhos cruzados, 1986. 7 Idem, Ibidem, p. 160. 8 Paulo Freire. Extensão ou comunicação? comunicação?, 1983. 6 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 94 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A importância da comunicação no processo educativo, na ótica de Paulo Freire, advêm das especificidades humanas de relacionamento, aprendizado e intervenção que diferem os homens dos demais animais e revelam sua dimensão criadora e produtora nas relações sociais. É por meio do processo comunicativo que o indivíduo interage nos espaços sociais e exerce sua capacidade política de intervenção e transformação da realidade. Para Freire, a educação é um processo dinâmico, democrático, construtivo e reflexivo, que concebe o conhecimento como matéria em construção, que se estabelece por meio da relação dialógica entre professor e aluno. Nesse sentido, ele afirma que “a comunicação verdadeira não nos parece estar na exclusiva transferência ou transmissão de conhecimento de um sujeito a outro, mas em sua co-participação no ato de compreender a significação do significado”9 . ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Para Freire, a educação é um processo dinâmico, democrático, construtivo e reflexivo Um ponto de encontro: a participação De acordo com as interfaces aqui apresentadas, é possível constatar que tanto a perspectiva da educação quanto a da comunicação enfatizam e valorizam o fator participação para a efetividade dos processos. Para Bordenave, a participação “é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo”10 . Ao interagirem em sociedade, os indivíduos participam de grupos pri- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mários como a família e a vizinhança; grupos secundários, quando se vinculam a organizações, sindicatos e associações; e grupos terciários, como partidos e movimentos de classe. Ao traçarmos um paralelo entre educação e comunicação – da mesma forma que ensinar, na concepção de Freire, não é transferir conhecimento e o processo educativo não é caracterizado pela existência de um professor que ensina e um aluno que aprende, e sim, um processo em que ambos participam do processo de construção do conhecimento – verificamos que comunicar também não significa apenas transmitir mensagens de um emissor que as comunica a um receptor que as assimila passivamente. O estabelecimento da comunicação se dá mediante o feedback do receptor, ou seja, a sua resposta em forma de conhecimento, participação ou envolvimento em relação à informação comunicada. Nesse sentido, Lima ressalta o caráter ambíguo que habita o conceito de comunicação: “Essa ambigüidade é representada, em seus extremos, por transmitir, que é um processo unidirecional, e compartilhar, que é um processo comum ou participativo” 11 . A distinção de ambos, segundo o autor, reside de um lado na comunicação manipulatória e, de outro, na comunicação participativa. A partir dessa segunda perspectiva, o processo de comunicação escapa do reducionismo do esquema linear composto pelo emissor, codificador, canal, mensagem, decodificador e receptor, e passa a inte- 9 Idem. Pedagogia da autonomia autonomia, 1971, p.72. Juan E. Díaz Bordenave.. O que é participação? participação?, 1985, p.16. 11 Venâncio A. de Lima. Mídia Mídia: teoria e política, 2001, p. 24-25. 10 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 95 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ grar a perspectiva do feedback , em que o receptor participa ativamente do processo, por meio de seu envolvimento, sua manifestação e seu conhecimento. Diante da possibilidade de participação e resposta, o processo de comunicação ganha nova dimensão na Teoria do Interacionismo Simbólico, corrente que integra as sociologias interpretativas12 e concretiza-se nas relações e interações da prática cotidiana, mediante a existência de significados compartilhados entre os atores para a construção de novos conhecimentos e atribuição de novos significados. Da mesma forma, a educação distanciase do aspecto unidirecional atrelado à transmissão de conhecimentos e ganha uma dimensão dialógica, ou interativa, que otimiza o processo de ensino-aprendizagem. Este breve passeio teórico sobre as interfaces entre a comunicação e a educação é pressuposto importante para contextualizar a comunicação no âmbito das organizações educacionais, cuja implementação deve abrigar orientações geradas nas diretrizes, na filosofia e no projeto pedagógico da instituição. A clareza dessas relações torna-se mais evidente uma vez que a finalidade dessas instituições é a ação educativa, que permeia o estilo de gestão e até mesmo as práticas de comunicação. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A ênfase na participação pode abranger a construção da proposta pedagógica da instituição O conceito de democracia está relacionado à distribuição eqüitativa e à divisão de poderes de decisão As tendências contemporâneas da educação aliadas às transformações tecnológicas suscitaram readequações 13 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ não só no processo educativo, mas na forma de administrar as organizações educacionais, cuja tendência caminha para implementação de sistemas democráticos e participativos de gestão e de comunicação. A comunicação e a participação são apontadas como ingredientes importantes na relação do professor com o aluno para a efetivação do processo educativo. Dessa maneira, elas estendem-se aos demais públicos e orientam o estilo de gestão dessas organizações. A ênfase na participação pode abranger, inclusive, a construção da própria proposta pedagógica da instituição. Referindo-se às formas de gestão praticadas nas organizações educacionais, diversos autores criticam a burocracia que permeia o processo decisório e operacional e destacam a questão da gestão participativa e democrática das escolas. Wittmann e Cardoso salientam que “participação significa comunicação, engajar-se, comprometer-se, buscar espaço para agir em prol de uma modificação da escola e, conseqüentemente, do processo educativo”13 . O conceito de democracia, por sua vez, está relacionado à distribuição eqüitativa e à divisão de poderes de decisão, sob a vista de uma liderança a quem compete o controle dinâmico das ações desenvolvidas. Em qualquer contexto, a participação efetiva ocorre quando o indivíduo, além de fazer parte, toma parte e tem parte no grupo e nas decisões. A efetividade da participação pode ser medida por meio de dois fatores: o grau de controle dos A comunicação na gestão das instituições educacionais 12 ○ Armand Matterlart; Michéle Matterlart. A história das teorias da comunicação comunicação, 1999. Wlittmann e Cardoso apud Salete Cleusa Bona; Jerônimo Sartoni. Espaço pedagógico pedagógico, v. 5, n. 1, 1998, p. 120. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 96 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ membros sobre as decisões e quão importantes são as decisões de que se pode participar. Nesse enfoque, a comunicação, além de privilegiar espaços para a efetiva participação, deve contemplar canais para disponibilização ágil de informações para conhecimento e posicionamento dos receptores acerca da realidade que os cerca. Para Bordenave, “sem comunicação não pode existir participação” 14 . A participação democrática se baseia em canais institucionais para divulgação de informações e estímulo ao diálogo, à troca, à expressão de opiniões. Depreende-se que o conhecimento dos indivíduos sobre a organização também é determinante para a participação efetiva. Para participar e agir sobre uma realidade, é preciso conhecê-la. A comunidade tem de conhecer a si mesma, percepções, valores, aspirações, aptidões. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A comunicação deve contemplar canais para disponibilização ágil de informações ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “A comunicação organizacional é considerada como um processo dinâmico por meio do qual as organizações se relacionam com o meio ambiente e por meio do qual as subpartes da organização se concertam entre si. Por conseguinte, a comunicação organizacional pode ser vista como o fluxo de mensagens dentro de uma rede de relações interdependentes.”15 Ao abordar a comunicação organizacional, Corrado enfatiza a participação e o envolvimento dos públicos nas práticas organizacionais: “A comunicação organizacional já não se concentra apenas em transmitir informações, mas também em mudar o comportamento dos empregados para que realizem um melhor trabalho, impulsionando a organização em direção a sua metas.”16 Na comunicação com a sociedade em geral, a imagem da organização projetada é fruto da definição da identidade organizacional que tem relação direta com os aspectos inerentes à cultura da instituição. A imagem é um atributo organizacional relacionado à percepção dos públicos sobre a organização, decorrente de suas formas de exposição e visibilidade junto à opinião pública, determinadas pelo planejamento de comunicação estratégica17 . Sua construção é resultado da elaboração de uma política de comunicação integrada, construída a partir dos aspectos cul- A comunicação como estratégia nas instituições educacionais A comunicação é um aspecto inerente à dinâmica e ao funcionamento das organizações e determinante para a realização de atividades e consecução de objetivos. Igualmente, as escolas são organizações compostas de pessoas, estruturas, processos e recursos, cuja coordenação possibilita a realização de sua finalidade educativa. Goldahober compartilha dessa concepção, ao afirmar: ○ A imagem da organização projetada é fruto da definição da identidade organizacional 14 Juan E. Díaz Bordenave. O que é participação? participação?, 1985, p. 68. Goldhaber apud Margarida M. Krohling Kunsch. Comunicação e Sociedade Sociedade, 1997, p. 68. 16 Frank M. Corrado. A força da comunicação comunicação: quem não se comunica... Como utilizar e conduzir as comunicações internas e externas para criar valores e alcançar os objetivos nas empresas, 1994, p. 07. 17 Francisco Gaudêncio do Rego Torquato. Comunicação empresarial/comunicação institucional institucional, 1986. 15 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 97 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ turais que atribuem significado às organizações e revelam o que elas são, ou seja, a sua identidade. Diante desse contexto, as instituições educacionais privadas descobriram o potencial da comunicação também como estratégia de desenvolvimento. Ao lado da qualificação da proposta educacional e pedagógica, a comunicação organizacional concretizada por meio da combinação das comunicações mercadológica, institucional e interna, quando implementada de forma integrada, figura como ferramenta estratégica na gestão educacional. A perspectiva da comunicação integrada possibilita a unificação de ações e a construção de um discurso único e coerente com os pressupostos filosóficos e administrativos, em vista da diversidade de públicos e segmentos que compõem o cenário organizacional. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A comunicação organizacional figura como ferramenta estratégica na gestão educacional A comunicação nas Instituições Metodistas de Educação: possíveis norteadores A estruturação da comunicação estratégica nas instituições educacionais metodistas deve ser uma prática vinculada aos pressupostos filosóficos e pedagógicos que orientam sua atuação. A filosofia institucional das escolas metodistas, oriunda dos documentos da Igreja Metodista, enfatiza a democratização das decisões na prática das instituições e a superação da simples transmissão de conhecimentos para a busca de novas expressões do saber, a partir da realidade e das expectativas do povo. Partindo dessas proposições, identificamos dois aspectos norteadores das práticas de comunicação e das Revista de Educação do Cogeime A filosofia institucional das escolas metodistas enfatiza a democratização das decisões ○ ○ ○ 98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ relações da instituição: a participação e a valorização do ser humano e de seus conhecimentos. A partir dessas definições, as ações e os projetos de comunicação a ser implantados devem ser destinados a promover a integração da instituição com a comunidade, bem como possibilitar, estimular e valorizar a participação dos segmentos nas iniciativas e decisões institucionais. A ênfase na integração com a comunidade também advém do caráter filantrópico das instituições que priorizam o desenvolvimento de ações voltadas para o benefício e qualidade de vida de entidades e iniciativas comunitárias como prática decorrente de sua confessionalidade. Esses três aspectos – participação dos segmentos, integração com comunidade e valorização do ser humano – devem ser refletidos na comunicação e nortear seus objetivos, suas práticas, seus instrumentos e suas ações. Além da orientação participativa, integradora e valorizadora dos atores no contexto escolar, consonante com a realidade, as práticas da comunicação na instituição educacional vêm gradualmente absorvendo influências inerentes à própria finalidade da instituição que reside na sua ação educativa. Assim, o processo de comunicação deve envolver não apenas a transmissão de informações, mas o estímulo ao feedback, ou seja, a resposta manifestada por meio de conhecimento, expressão de opinião, de entendimento, de participação e de envolvimento no processo. A consciência crítica da realidade e o potencial transformador de cada cidadão almejados no plano pedagógico precisam ser refletidos nas ações de comunicação. Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Assim como a educação não é um produto, a escola também se difere de outras organizações, como lojas, supermercados ou indústrias, já que tem por finalidade cumprir um papel muito importante na sociedade, que é a educação e a formação dos indivíduos para melhor interagirem nos espaços e nas relações sociais. Diante desses apontamentos, identificamos o quão determinante é a filosofia institucional e a proposta pedagógica da instituição educacional nas ações de comunicação de âmbito interno e externo. O entendimento dessas relações e interdependências com os pressupostos filosóficos e pedagógicos constituem indícios para a formulação de uma política de comunicação, condizente com os valores e conceitos que regem a vida da escola, integrando e norteando todas as ações, as campanhas e os instrumentos de comunicação estrategicamente gerados para a consecução dos objetivos traçados. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A participação, a valorização do cidadão, o incentivo de iniciativas voltadas para a construção do conhecimento evidenciam que a comunicação em uma instituição educacional reveste-se de características que a difere de outras organizações como supermercados e indústrias, por exemplo. A ação educativa, mesmo que comunicada estrategicamente, abriga uma finalidade social e política que determina especificidades na comunicação com os públicos. Para atingir os objetivos estratégicos vinculados à obtenção de conhecimento, apoio, participação e formação de uma imagem positiva pelos públicos, a comunicação estratégica nas instituições educacionais também deve apropriar-se da concepção de comunicação na educação para nortear suas práticas. A comunicação, em uma instituição educacional, tem um compromisso com a ação educativa. Assim como a educação não é um produto, a escola também se difere de outras organizações ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências bibliográficas BONA, Salete Cleusa; SARTONI, Jerônimo. “Administração escolar: concentração ou descentralização”. In: Espaço pedagógico pedagógico. Porto Alegre, v. 5, n. 1, 1998. BORDENAVE, Juan E. Díaz.. O que é participação? São Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção Primeiros Passos) BRAGA, José Luiz; CALAZANS, Regina. Comunicação e educação educação. São Paulo: Hacker, 164 p., 2001. 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