Comunicação e educação: relações na gestão educacional

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Comunicação
Comunicação e educação: relações
na gestão educacional
Communication and Education: relationships
in Educational Management
Susana Goerck
Graduada em Comunicação Social – Relações Públicas pela UFRGS
Relações públicas do Instituto Porto Alegre – IPA
R e s u m o
Um cenário de profundas mudanças, introduzidas pela globalização e pelas novas tecnologias, vem alterando conceitos
e práticas da educação e da comunicação e, ao mesmo tempo, aproximando as duas áreas. As interações sociais
suscitaram revisões na ação educativa e nos métodos pedagógicos, bem como nos conceitos da comunicação social.
Nesse contexto, a comunicação, enquanto estratégia, amplia seu espaço nas instituições educacionais, tornando-se
condição necessária na busca de contextos de desenvolvimento e aprendizagem.
Unitermos: comunicação, educação, instituição educacional, estratégia
Synopsis
A set of deep changes, introduced by globalization and by new technologies, has been changing concepts and practices
in education and communications, and at the same time bringing both areas together. The social interactions have
roused reviews in educational actions and in pedagogical methods, as well as in the social communications’ concepts.
In such context, communications as a strategy expands its space in the educational institutions, becoming a necessary
condition in the search for development and learning contexts.
Terms: communications, education, educational institution, strategy
Resumen
Un escenario de profundos cambios, introducidos por la globalización y por las nuevas tecnologías, viene alterando
conceptos y prácticas de la educación y de la comunicación y, al mismo tiempo, acercando a estas dos áreas. Las interacciones
sociales suscitaron revisiones en la acción educativa y en los métodos pedagógicos, así como en los conceptos de la
comunicación social. En ese contexto, la comunicación, como estrategia, amplía su espacio en las instituciones educacionales,
convirtiéndose en condición necesaria en la búsqueda de contextos de desarrollo y aprendizaje.
Términos: comunicación; educación; institución educacional; estrategia
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Comunicação e educação
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educação e a comunicação são
duas
áreas
extremamente
abrangentes que permeiam todas as
ramificações da configuração social.
Todas as questões da sociedade são
impregnadas de um caráter educativo, pois podem ser objeto de ensino e de aprendizagem. Ao mesmo
tempo, a comunicação está presente
em todos os espaços de interação e
aprendizagem social.
Como direito instituído e adquirido, a educação é realizada por meio
das instituições educacionais, que ao
lado da família, da cultura e das
interações sociais, constituem os espaços de aprendizagem reconhecidos pela sociedade. Nesse contexto,
a escola atua como planejadora,
organizadora e fornecedora de aprendizagem via ensino.
A criação e o surgimento das instituições educacionais decorrem da
evolução cultural das civilizações e
da necessidade de sistematizar e organizar a transmissão dos conhecimentos produzidos pelo homem às
futuras gerações. Além da manutenção da herança social, a escola é a
instituição responsável pela produção de novos conhecimentos.
A comunicação, por sua vez, passou
a figurar entre os temas de maior importância na sociedade. Em livro recente, Matterlart e Matterlart salientam:
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uma figura emblemática das sociedades do terceiro milênio.”1
A
O desenvolvimento dos processos midiáticos gerados na diversificação dos meios impressos, eletrônicos e digitais determinou o avanço
de sua penetração no espaço de todas as instituições e atividades da
sociedade: na política, na saúde, nos
negócios, na literatura, na economia,
nas artes, nas ciências sociais e na
educação, para atendimento de interesses específicos. A introdução dos
meios atingiu também o nível das
interações sociais, que passam a
extrapolar a relação face a face entre
os sujeitos, e adquire nova roupagem
com a questão da interatividade,
minimizando a passividade do receptor no processo comunicativo, com
a introdução da Internet e de outros
produtos dos avanços tecnológicos.
Ao midiatizarem as relações sociais,
os veículos de comunicação são
norteados por objetivos genericamente identificados na propagação
de produtos, imagens e idéias, na informação sobre a atualidade, no entretenimento e, em menor escala, no
montante de investimentos, no conteúdo educativo, que vem sendo ponto de discussão entre diversos segmentos. Nesse contexto, as áreas
específicas da sociedade comparecem aos espaços de informação de
interesse geral – a mídia – para expor suas atividades em busca de
apoio político-social, divulgação de
ações e sondagem de necessidades.
Assim, é possível constatar que as
mediações tecnológicas criadas para
desenvolver as interações sociais possibilitaram à sociedade disponibilizar
A introdução dos
meios atingiu
também o nível das
interações sociais
A escola atua como
planejadora,
organizadora e
fornecedora de
aprendizagem via
ensino
A escola é
a instituição
responsável pela
produção de novos
conhecimentos
“A noção de comunicação recobre
uma multiplicidade de sentidos. Se isso
vem sendo assim há muito, a proliferação das novas tecnologias e a profissionalização das práticas acrescentaram
novas vozes a essa polifonia, num final de século que faz da comunicação
1
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Armand Matterlart; Michéle Matterlart. A história das teorias da comunicação
comunicação, 1999, p. 9.
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novos instrumentos que aceleram e
diversificam seus próprios processos,
modificando impreterivelmente toda
sua estrutura e suas ramificações. Essas mudanças, aliadas a outros fatores,
abalaram os paradigmas e modelos
dos sistemas educacionais, que suscitaram novos questionamentos e a definição de novas linhas de atuação no
plano pedagógico e administrativo.
Ao abordarmos as interfaces entre a comunicação e a educação
quanto aos aspectos pedagógicos,
verifica-se que, em decorrência do
caráter abrangente e complexo das
duas áreas, são diversas as perspectivas de análises e proposições.
De acordo com Braga e Calazans,
“geralmente as interações mais evidentes entre comunicação e educação são
propostas a partir das intencionalidades
educativas – no esforço de aperfeiçoar
os processos comunicativos necessários à observação da aprendizagem” 2 .
Nessa perspectiva, inserem-se os estudos sobre o uso dos meios tecnológicos como agregadores pedagógicos no
processo de aprendizagem. Cardoso3
defende o abandono de métodos e teorias tradicionais, que englobam até aspectos como o quadro negro e a disposição da sala de aula, pela construção
de uma escola cujas práticas sejam
condizentes com os avanços tecnológicos e suas implicações nas relações
sociais e políticas e promovam a valorização e participação dos alunos
como sujeitos do processo de construção do conhecimento.
A abordagem da educação da escola voltada para a sociedade midiatizada é outra linha de análise, genericamente denominada “educação para
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Inserem-se os estudos
sobre o uso dos meios
tecnológicos como
agregadores
pedagógicos no
processo de
aprendizagem
Os comunicadores
almejam aperfeiçoar
os processos de
comunicação
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os meios”. Sua finalidade é fornecer ao
aluno conhecimentos e competências para uma leitura crítica da mídia e
participação efetiva nessa sociedade.
Nesse mesmo enfoque está a necessidade de adequação e atualização dos
processos escolares à agilidade e à
estética dos meios de comunicação
que, diariamente, disponibilizam informações aos jovens e agem como
formadores de opinião.
No estudo das interfaces entre comunicação e educação, além do
enfoque que privilegia a relação dos
meios de comunicação com a educação das escolas, uma outra perspectiva é centrada no processo de comunicação e em suas semelhanças e
ligações com o processo educativo.
Nesse sentido, identificamos duas
vertentes de análise:
a) o enfoque educativo como objetivo do processo de comunicação;
b) o processo de comunicação
como determinante e viabilizador do
processo educativo.
O enfoque educativo como objetivo dos processos e meios de comunicação está presente na abordagem
de Braga e Calazans 4 . Segundo esses
autores, os comunicadores, a partir
da difusão de informações, almejam
aperfeiçoar os processos de comunicação e voltá-los para aspectos positivos e agregadores. Além de propiciar
divulgação de produtos e idéias, informação e entretenimento, os meios de
comunicação, tanto em âmbito organizacional como social, podem revelar seu potencial educativo por meio
da circulação de saberes favorecedores de uma aprendizagem no espaço
das interações sociais.
José Luiz Braga; Regina Calazans. Comunicação e educação
educação, 2001, p.57.
Onésimo de Oliveira Cardoso. “Comunicação e educação: novos meios e novas idéias”. In: Comunicação e Sociedade
Sociedade, 1994.
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educação, 2001.
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Torquato , a partir da perspectiva organizacional, também ressalta o
caráter educativo da comunicação. O
olhar sistêmico e integrado aponta
alternativas para potencializar os instrumentos de comunicação disponíveis nas organizações, atribuindolhes objetivos que transcendem a
informação e o envolvimento e
enfatizam a educação e obtenção de
conhecimento pelos públicos receptores. Nesse sentido, o autor sublinha
que os conteúdos abordados devem
ultrapassar os fatos do cotidiano da
organização e abranger outros aspectos que permeiam a vida do cidadão.
As mensagens devem propiciar a
compreensão dos contextos e integrar a comunidade com um mundo
em permanente mudança.
A segunda perspectiva refere-se
ao processo de comunicação como
determinante e viabilizador da educação e tem atraído olhares tanto de
comunicadores quanto de educadores. Georgen 6 destaca que o caráter
de reciprocidade que permeia a comunicação revela uma interação que
é qualitativamente determinante
para a comunicação educativa. A comunicação efetiva é caracterizada
por um caráter de reciprocidade que
implica na ocorrência de interação
entre receptor e emissor, com base
na participação, no entendimento
das características e dos conhecimentos daquele com se estabelece o
processo de comunicação e na existência de um repertório comum e favorável à compreensão das mensagens. Assim, ela se desenvolve
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mediante três competências: de conteúdo (objeto da comunicação); de
relacionamento (estimativa correta
do outro); e de manifestação (código e canal compartilhados). O processo educativo também reúne essas
condições, como bem explica
Goergen:
O olhar sistêmico e
integrado aponta
alternativas para
potencializar os
instrumentos de
comunicação
disponíveis nas
organizações
“Surpreendentemente estas dimensões cobrem perfeitamente as dimensões esperadas pelo educador, conhecimento de conteúdo, conhecimento do
educando no seu contexto psicossocial
e conhecimentos didáticos no seu sentido mais amplo dos códigos, técnicos
e meios adequados.” 7
Contudo, o autor esclarece que
esses encontros conceituais e estruturais da comunicação e da educação
ainda caminham para uma absorção
mais efetiva pelas faculdades de educação. Esse atraso é atribuído, em
parte, à compartimentalização das
áreas do saber nas universidades e
pela falta de entendimento de que
educar, além de ensinar, pesquisar e
prestar serviços, é realizar processos
especiais de comunicação.
Nesse mesmo enfoque, a comunicação e a participação são aspectos
muito presentes na obra do educador
Paulo Freire8 , enquanto viabilizadoras
do processo educativo. Para o autor,
educar não é transferência de saber,
mas construção de saberes com base
na participação ativa do educando no
processo de construção do conhecimento, com ênfase na valorização das
suas vivências.
A comunicação
efetiva se desenvolve
mediante três
competências:
de conteúdo;
de relacionamento;
e de manifestação
5
Francisco Gaudêncio do Rego Torquato. Comunicação empresarial/comunicação institucional
institucional, 1986.
Pedro Georgen. “A comunicação nas faculdades de educação”. In: Margarida M. Kroling Kunsch (org.). Comunicação e
educação
educação: caminhos cruzados, 1986.
7
Idem, Ibidem, p. 160.
8
Paulo Freire. Extensão ou comunicação?
comunicação?, 1983.
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A importância da comunicação no
processo educativo, na ótica de Paulo Freire, advêm das especificidades
humanas de relacionamento, aprendizado e intervenção que diferem os
homens dos demais animais e revelam sua dimensão criadora e produtora nas relações sociais. É por meio
do processo comunicativo que o indivíduo interage nos espaços sociais e exerce sua capacidade política
de intervenção e transformação da
realidade.
Para Freire, a educação é um processo dinâmico, democrático, construtivo e reflexivo, que concebe o
conhecimento como matéria em
construção, que se estabelece por
meio da relação dialógica entre professor e aluno. Nesse sentido, ele afirma que “a comunicação verdadeira
não nos parece estar na exclusiva
transferência ou transmissão de conhecimento de um sujeito a outro, mas em
sua co-participação no ato de compreender a significação do significado”9 .
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Para Freire, a
educação é um
processo dinâmico,
democrático,
construtivo e reflexivo
Um ponto de encontro:
a participação
De acordo com as interfaces aqui
apresentadas, é possível constatar
que tanto a perspectiva da educação
quanto a da comunicação enfatizam
e valorizam o fator participação para
a efetividade dos processos. Para
Bordenave, a participação “é o caminho natural para o homem exprimir
sua tendência inata de realizar, fazer
coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo”10 .
Ao interagirem em sociedade, os
indivíduos participam de grupos pri-
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mários como a família e a vizinhança; grupos secundários, quando se
vinculam a organizações, sindicatos
e associações; e grupos terciários,
como partidos e movimentos de
classe.
Ao traçarmos um paralelo entre
educação e comunicação – da mesma forma que ensinar, na concepção
de Freire, não é transferir conhecimento e o processo educativo não é
caracterizado pela existência de um
professor que ensina e um aluno que
aprende, e sim, um processo em que
ambos participam do processo de
construção do conhecimento – verificamos que comunicar também
não significa apenas transmitir mensagens de um emissor que as comunica a um receptor que as assimila
passivamente.
O estabelecimento da comunicação se dá mediante o feedback do receptor, ou seja, a sua resposta em
forma de conhecimento, participação
ou envolvimento em relação à informação comunicada. Nesse sentido,
Lima ressalta o caráter ambíguo que
habita o conceito de comunicação:
“Essa ambigüidade é representada, em
seus extremos, por transmitir, que é um
processo unidirecional, e compartilhar,
que é um processo comum ou participativo” 11 . A distinção de ambos, segundo o autor, reside de um lado na
comunicação manipulatória e, de outro, na comunicação participativa.
A partir dessa segunda perspectiva, o processo de comunicação escapa do reducionismo do esquema linear composto pelo emissor,
codificador, canal, mensagem, decodificador e receptor, e passa a inte-
9
Idem. Pedagogia da autonomia
autonomia, 1971, p.72.
Juan E. Díaz Bordenave.. O que é participação?
participação?, 1985, p.16.
11
Venâncio A. de Lima. Mídia
Mídia: teoria e política, 2001, p. 24-25.
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grar a perspectiva do feedback , em
que o receptor participa ativamente
do processo, por meio de seu
envolvimento, sua manifestação e
seu conhecimento. Diante da possibilidade de participação e resposta,
o processo de comunicação ganha
nova dimensão na Teoria do Interacionismo Simbólico, corrente que integra as sociologias interpretativas12
e concretiza-se nas relações e interações da prática cotidiana, mediante a existência de significados compartilhados entre os atores para a
construção de novos conhecimentos
e atribuição de novos significados. Da
mesma forma, a educação distanciase do aspecto unidirecional atrelado
à transmissão de conhecimentos e
ganha uma dimensão dialógica, ou
interativa, que otimiza o processo de
ensino-aprendizagem.
Este breve passeio teórico sobre as
interfaces entre a comunicação e a educação é pressuposto importante para
contextualizar a comunicação no âmbito das organizações educacionais,
cuja implementação deve abrigar orientações geradas nas diretrizes, na filosofia e no projeto pedagógico da instituição. A clareza dessas relações torna-se
mais evidente uma vez que a finalidade
dessas instituições é a ação educativa,
que permeia o estilo de gestão e até
mesmo as práticas de comunicação.
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A ênfase na
participação pode
abranger a
construção da
proposta pedagógica
da instituição
O conceito de
democracia está
relacionado à
distribuição
eqüitativa e à divisão
de poderes de decisão
As tendências contemporâneas da
educação aliadas às transformações
tecnológicas suscitaram readequações
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não só no processo educativo, mas na
forma de administrar as organizações
educacionais, cuja tendência caminha
para implementação de sistemas democráticos e participativos de gestão
e de comunicação.
A comunicação e a participação
são apontadas como ingredientes
importantes na relação do professor
com o aluno para a efetivação do processo educativo. Dessa maneira, elas
estendem-se aos demais públicos e
orientam o estilo de gestão dessas
organizações. A ênfase na participação pode abranger, inclusive, a construção da própria proposta pedagógica da instituição.
Referindo-se às formas de gestão
praticadas nas organizações educacionais, diversos autores criticam a
burocracia que permeia o processo
decisório e operacional e destacam
a questão da gestão participativa e
democrática das escolas. Wittmann
e Cardoso salientam que “participação significa comunicação, engajar-se,
comprometer-se, buscar espaço para
agir em prol de uma modificação da
escola e, conseqüentemente, do processo educativo”13 . O conceito de democracia, por sua vez, está relacionado à distribuição eqüitativa e à
divisão de poderes de decisão, sob a
vista de uma liderança a quem compete o controle dinâmico das ações
desenvolvidas.
Em qualquer contexto, a participação efetiva ocorre quando o indivíduo, além de fazer parte, toma parte e tem parte no grupo e nas
decisões. A efetividade da participação pode ser medida por meio de
dois fatores: o grau de controle dos
A comunicação na
gestão das instituições
educacionais
12
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Armand Matterlart; Michéle Matterlart. A história das teorias da comunicação
comunicação, 1999.
Wlittmann e Cardoso apud Salete Cleusa Bona; Jerônimo Sartoni. Espaço pedagógico
pedagógico, v. 5, n. 1, 1998, p. 120.
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membros sobre as decisões e quão
importantes são as decisões de que
se pode participar. Nesse enfoque, a
comunicação, além de privilegiar espaços para a efetiva participação,
deve contemplar canais para disponibilização ágil de informações para
conhecimento e posicionamento dos
receptores acerca da realidade que
os cerca.
Para Bordenave, “sem comunicação não pode existir participação” 14 .
A participação democrática se baseia
em canais institucionais para divulgação de informações e estímulo ao
diálogo, à troca, à expressão de opiniões. Depreende-se que o conhecimento dos indivíduos sobre a organização também é determinante para
a participação efetiva. Para participar
e agir sobre uma realidade, é preciso
conhecê-la. A comunidade tem de
conhecer a si mesma, percepções,
valores, aspirações, aptidões.
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A comunicação deve
contemplar canais
para disponibilização
ágil de informações
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“A comunicação organizacional é
considerada como um processo dinâmico por meio do qual as organizações se relacionam com o meio ambiente e por meio do qual as subpartes
da organização se concertam entre si.
Por conseguinte, a comunicação organizacional pode ser vista como o fluxo de mensagens dentro de uma rede
de relações interdependentes.”15
Ao abordar a comunicação organizacional, Corrado enfatiza a participação e o envolvimento dos públicos nas práticas organizacionais:
“A comunicação organizacional já
não se concentra apenas em transmitir informações, mas também em mudar o comportamento dos empregados
para que realizem um melhor trabalho, impulsionando a organização em
direção a sua metas.”16
Na comunicação com a sociedade em geral, a imagem da organização projetada é fruto da definição da
identidade organizacional que tem
relação direta com os aspectos inerentes à cultura da instituição. A imagem é um atributo organizacional relacionado à percepção dos públicos
sobre a organização, decorrente de
suas formas de exposição e visibilidade junto à opinião pública, determinadas pelo planejamento de comunicação estratégica17 . Sua construção
é resultado da elaboração de uma
política de comunicação integrada,
construída a partir dos aspectos cul-
A comunicação como
estratégia nas instituições
educacionais
A comunicação é um aspecto inerente à dinâmica e ao funcionamento das organizações e determinante
para a realização de atividades e consecução de objetivos. Igualmente, as
escolas são organizações compostas
de pessoas, estruturas, processos e
recursos, cuja coordenação possibilita a realização de sua finalidade
educativa.
Goldahober compartilha dessa
concepção, ao afirmar:
○
A imagem da
organização projetada
é fruto da definição da
identidade
organizacional
14
Juan E. Díaz Bordenave. O que é participação?
participação?, 1985, p. 68.
Goldhaber apud Margarida M. Krohling Kunsch. Comunicação e Sociedade
Sociedade, 1997, p. 68.
16
Frank M. Corrado. A força da comunicação
comunicação: quem não se comunica... Como utilizar e conduzir as comunicações internas
e externas para criar valores e alcançar os objetivos nas empresas, 1994, p. 07.
17
Francisco Gaudêncio do Rego Torquato. Comunicação empresarial/comunicação institucional
institucional, 1986.
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turais que atribuem significado às
organizações e revelam o que elas
são, ou seja, a sua identidade.
Diante desse contexto, as instituições educacionais privadas descobriram o potencial da comunicação também como estratégia de
desenvolvimento. Ao lado da qualificação da proposta educacional e
pedagógica, a comunicação organizacional concretizada por meio da
combinação das comunicações
mercadológica, institucional e interna, quando implementada de forma
integrada, figura como ferramenta estratégica na gestão educacional. A
perspectiva da comunicação integrada possibilita a unificação de ações e a
construção de um discurso único e
coerente com os pressupostos filosóficos e administrativos, em vista da diversidade de públicos e segmentos que
compõem o cenário organizacional.
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A comunicação
organizacional figura
como ferramenta
estratégica na gestão
educacional
A comunicação nas
Instituições Metodistas
de Educação: possíveis
norteadores
A estruturação da comunicação
estratégica nas instituições educacionais metodistas deve ser uma prática vinculada aos pressupostos filosóficos e pedagógicos que orientam sua
atuação.
A filosofia institucional das escolas metodistas, oriunda dos documentos da Igreja Metodista, enfatiza
a democratização das decisões na
prática das instituições e a superação da simples transmissão de conhecimentos para a busca de novas
expressões do saber, a partir da realidade e das expectativas do povo.
Partindo dessas proposições, identificamos dois aspectos norteadores
das práticas de comunicação e das
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A filosofia
institucional das
escolas metodistas
enfatiza a
democratização das
decisões
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relações da instituição: a participação e a valorização do ser humano
e de seus conhecimentos. A partir
dessas definições, as ações e os projetos de comunicação a ser implantados devem ser destinados a promover a integração da instituição com a
comunidade, bem como possibilitar,
estimular e valorizar a participação
dos segmentos nas iniciativas e decisões institucionais.
A ênfase na integração com a comunidade também advém do caráter
filantrópico das instituições que
priorizam o desenvolvimento de
ações voltadas para o benefício e
qualidade de vida de entidades e iniciativas comunitárias como prática
decorrente de sua confessionalidade.
Esses três aspectos – participação
dos segmentos, integração com comunidade e valorização do ser humano
– devem ser refletidos na comunicação e nortear seus objetivos, suas práticas, seus instrumentos e suas ações.
Além da orientação participativa,
integradora e valorizadora dos atores no contexto escolar, consonante
com a realidade, as práticas da comunicação na instituição educacional vêm gradualmente absorvendo
influências inerentes à própria finalidade da instituição que reside na sua
ação educativa. Assim, o processo de
comunicação deve envolver não apenas a transmissão de informações,
mas o estímulo ao feedback, ou seja,
a resposta manifestada por meio de
conhecimento, expressão de opinião,
de entendimento, de participação e
de envolvimento no processo. A
consciência crítica da realidade e o
potencial transformador de cada cidadão almejados no plano pedagógico precisam ser refletidos nas ações
de comunicação.
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Assim como a educação não é um
produto, a escola também se difere
de outras organizações, como lojas,
supermercados ou indústrias, já que
tem por finalidade cumprir um papel
muito importante na sociedade, que
é a educação e a formação dos indivíduos para melhor interagirem nos
espaços e nas relações sociais.
Diante desses apontamentos, identificamos o quão determinante é a filosofia institucional e a proposta pedagógica da instituição educacional nas
ações de comunicação de âmbito interno e externo. O entendimento dessas
relações e interdependências com os
pressupostos filosóficos e pedagógicos
constituem indícios para a formulação
de uma política de comunicação, condizente com os valores e conceitos que
regem a vida da escola, integrando e
norteando todas as ações, as campanhas e os instrumentos de comunicação estrategicamente gerados para a
consecução dos objetivos traçados.
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A participação, a valorização do
cidadão, o incentivo de iniciativas
voltadas para a construção do conhecimento evidenciam que a comunicação em uma instituição educacional
reveste-se de características que a
difere de outras organizações como
supermercados e indústrias, por
exemplo. A ação educativa, mesmo
que comunicada estrategicamente,
abriga uma finalidade social e política que determina especificidades na
comunicação com os públicos.
Para atingir os objetivos estratégicos vinculados à obtenção de conhecimento, apoio, participação e
formação de uma imagem positiva
pelos públicos, a comunicação estratégica nas instituições educacionais
também deve apropriar-se da concepção de comunicação na educação
para nortear suas práticas. A comunicação, em uma instituição educacional, tem um compromisso com a
ação educativa.
Assim como a
educação não é um
produto, a escola
também se difere de
outras organizações
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