Análise in vitro da participação do colesterol na interação de macrófagos peritoneais de camundongos com Bacteroides fragilis. Kayo Cesar Bianco Fernandes Rio de Janeiro 2012 ii KAYO CESAR BIANCO FERNANDES Aluno do Curso de Tecnologia em Biotecnologia Matrícula 0913800113 Análise in vitro da participação do colesterol na interação de macrófagos peritoneais de camundongos com Bacteroides fragilis. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Graduação em Tecnologia em Biotecnologia da UEZO como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Tecnólogo em Biotecnologia, sob a Orientação da Profª. Jessica Manya Bittencourt Dias Vieira. Rio de Janeiro Julho de 2012 iii Dedico esse trabalho aos meus pais que me ajudaram durante esta caminhada. iv Agradecimentos Gostaria de agradecer aos meus pais que estiveram ao meu lado me apoiando em todos os momentos me dando carinho e suporte emocional para que eu conseguisse vencer todos os desafios que surgiram durante todo este percurso. Obrigado por sempre acreditarem na minha capacidade (mesmo quando eu mesmo duvidava) e por me ensinarem que o esforço e a perseverança são capazes de superar qualquer limitação. Ter vocês como pais é meu maior orgulho, espero poder lhes trazer alegrias sempre. Ao meu irmão, que me apoiou em cada passo da minha vida. À minha namorada Meire Watanabe, por me apoiar em muitas decisões, ouvir meus problemas, minhas inseguranças, meus medos e por sempre me mostrar o caminho certo sem perder o sorriso no rosto. Às minhas amigas e companheiras, Barbara Succar, Juliana Succar, Juciara Batista, que sempre estiveram ao meu lado em todos os momentos bons e ruins me ouvindo e dando apoio moral. Por me acompanhar ao longo dessa jornada, exercitando a paciência, além de boas risadas. À minha orientadora, Dr.ª Jéssica Manya, por ter me concedido um voto de confiança. Tendo sempre se demonstrado gentil e compreensiva em todas as vezes que precisei de sua ajuda. Obrigada por esta oportunidade, sei que ainda tenho muito que aprender. Ao meu co-orientador, Dr. Sérgio Seabra, por me ensinar tudo procurando ter paciência nos momentos em que eu olhava para ele no final da explicação e dizia “Não entendi nada” e pelos gritos de estímulo. À Aline Lorete, minha companheira de Iniciação que sempre me ajudou no trabalho além de ser uma ótima companhia. A meu colega de estágio, Pedro Rodrigues, por dizer sempre a coisa errada na hora certa. Ao Prof. Fabio Fortes que sempre mostrou a solução óbvia dos problemas. v Ao Prof. Carlos Falcão, que sempre tinha uma frase épica, “O Quê?”. Agradeço a minhas companheiras de laboratório, Juliana Chal, Adriana Sacramento e Ezaine Torquato, por tornarem minha estada no laboratório muito agradável com as gargalhadas que arrancaram de mim e pelo apoio que me deram quando necessitei. Agradeço a todos do LTBM, LTCC e do Setor de Microbiologia do LTCC, que ajudaram na confecção deste trabalho. vi Lista de Figuras Figura 1 – Classificação de cepas, produtoras e não produtoras de TBF 05 Figura 2 – Molécula de β-ciclodextrina 06 Figura 3 – Micrografia eletrônica de varredura de macrófago sadio apresentando em sua superfície ondulações na membrana 07 Figura 4 – Representação do mecanismo de fagocitose em macrófago ativado por interferon-Ɣ 08 Figura 5 – Representação do animal no lavado peritoneal para obtenção de macrófagos 14 Figura 6 – Esquema representando os insertos de 0,4µm 16 Figura 7 – Ensaio de viabilidade celular após tratamento com βCD 19 Figura 8 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa de B. fragilis ATCC 25285 20 Figura 9 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ELI1.1 21 Figura 10 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ES31.3 22 Figura 11 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa 078320 23 Figura 12 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ATCC 43859 24 Lista de Tabelas Tabela 1: Classificação dos diferentes tipos de respiração 01 Tabela 2: Informações clínicas de algumas das espécies do genero Bacteroide 02 Tabela 3: Impacto do uso de antibióticos e sepse intra-abdominal e formação de abscessos em ratos E F Tabela 4: Cepas de B. fragilis utilizadas neste estudo 03 13 E F E F vii Tabela 5: Analise dos dados obtidos nos resultados 18 Lista de Siglas TBF Toxina de B. fragilis BFET B. fragilis enterotoxigênico BFNT B. fragilis não-toxigênico βCD β-ciclodextrina MØ Macrófagos INF-ɣ Interferon-ɣ LPS NO Lipolissacarídeo Óxido Nítrico iNOS Enzima a síntese do óxido nítrico induzida MEV Microscopia Eletrônica de Varredura BHI–PRAS ATCC Brain Heart Infusion Pre-Reduced Anaerobically Sterilized Ameican Type Cell Culture ASS Ágar Sangue Suplementado PBS Phosphate Buffered Saline DMEM SFB DMSO CaCo Dulbelco’s modified Eagle’s Médium Soro Fetal Bovino Dimetilsulfóxido Cacodilato de Sódio viii Resumo Bacteroides é um gênero bacteriano composto por bastonetes gramnegativos, não esporulados, anaeróbios estritos. A espécie B. fragilis é componente da microbiota intestinal, beneficiando seus hospedeiros, já que fisicamente excluem os patógenos em potencial de colonizar o intestino. Além disso, tal espécie é considerada patógeno oportunista em humanos, com a capacidade de causar infecções na cavidade peritoneal e levar à formação de abscessos quando ocorre um trauma, por exemplo, no sítio de colonização. Em um processo infeccioso, as bactérias precisam burlar o sistema imune a fim de manter a infecção ativa, ou seja, necessitam escapar da atividade microbicida das células que o compõem, tais como os macrófagos. Estes últimos atuam pela produção de radicais livres como o óxido nítrico (NO), o qual é sintetizado pela enzima NO sintase induzida (iNOS). Dados anteriores indicam que a espécie B. fragilis é capaz de alterar a atividade microbicida de macrófagos, causando danos não só à membrana plasmática bem como alterações aos filamentos de actina. O objetivo deste trabalho foi analisar os efeitos da interação de B. fragilis com macrófagos peritoneais de camundongo (MØ) a fim de esclarecer de forma mais detalhada os resultados obtidos anteriormente. Para tanto, foram realizados ensaios de depleção parcial de colesterol bem como análises com utilização de insertos de 0,4µm após eventos de interação, associados à microscopia eletrônica de varredura. Os resultados apontam que a depleção de colesterol potencializa os efeitos da interação e, ainda, que tais efeitos independem do contato B.fragilis:MØ. Palavras-chave: Bacteroides fragilis, macrófagos peritoneais de camundongo, ensaios de interação, colesterol, β-ciclodextrina, microscopia eletrônica de varredura. ix Abstract Bacteroides is a bacterial genus composed of gram-negative, nonsporulated and strict anaerobes rods. The B. fragilis species is an intestinal microbiota component, wich brings benefits to the host since it physically excludes the potential pathogens from colonizing the gut. Besides, such species is considered an human opportunistic pathogen with the ability to cause infection on peritoneal cavity inducing abscess formation when occurs a trauma, for example, in the colonization site. During an infection process bacteria need to escape from immune system in order to maintain the infection active, wish means, they need to avoid microbicide activity of the immune system cells like macrophages. The latter act by free radicals production such as nitric oxide (NO), which is synthesize by NO synthase inducible (iNOS). Previous data showed that B. fragilis species is capable of modify macrophages (MØ) microbicide action, causing not only plasmatic membrane damages as also alteration on actin filaments. The aim of this work was analyze B. fragilis effects on macrophages after interaction events to clarify in detail the results obtained before. To do so, it was realized partial cholesterol depletion essays as well analyses using transwell after interaction events, associated to scanning electron microscopy. The results indicate that cholesterol depletion potentize the interaction effects and, also such effects are independent from B. fragilis:MØ contact. Key-worlds: Bacteroides fragilis, mice peritoneal macrophages, bacteria/macrophages interaction, cholesterol, β-ciclodextrin, analysis by electron microscopy. x “Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos.” Albert Einstein xi Sumário Lista de Figuras vi Lista de Tabelas vi Lista de Siglas vii Resumo viii Abstract ix Epígrafe x 1- Introdução 01 1.1 – Aeróbios x Anaeróbios 01 1.2 – Gêneros Bacteroides 02 1.3 – Bacteroides Fragilis 03 1.4 – O colesterol de membrana 05 1.5 – Macrófagos 06 1.6 – Macrófago e o óxido nítrico 09 1.7 – Escapando da fagocitose 09 2 - Objetivos 11 2.1 – Objetivo Geral 11 2.2 – Objetivos Específicos 11 3 - Material e Métodos 12 3.1. Cepas bacterianas 12 3.2. Obtenção de Macrófagos Peritoneais de Camundongos (MØ) 13 3.3. Interação in vitro 14 . 3.4. Ensaio com β-ciclodextrina 15 3.4.1. Analise da viabilidade celular 15 3.4.2. Depleção parcial do colesterol pré-interação 15 3.5. Ensaio com Insertos 0,4µM 15 3.6. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) 16 xii 4- Resultados 17 5- Discussão 25 6- Conclusões 28 7- Referências Bibliográficas 29 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. AERÓBIOS X ANAERÓBIOS Todo organismo realiza um tipo de respiração para manter-se vivo. Alguns organismos realizam a respiração aeróbia; enquanto que outros realizam a respiração anaeróbia (Tabela 1). Tabela 1: Classificação dos diferentes tipos de respiração. Adaptado de http://users.med.up.pt/cc04-10/Microdesgravadas/12_Anaerobias.pdf Aeróbios Necessitam de O2 para desenvolvimento e multiplicação. Anaeróbios Estritos Anaeróbios Extremamente sensíveis a Não necessitam de O2 para desenvolvimento e multiplicação. Tolerantes Anaeróbios Facultativos concentração de O2. Moderadamente sensíveis: toleram baixas concentrações de O2. Podem ou não utilizar O2 para seu crescimento e multiplicar. Crescem em aerobiose e são capazes de obter energia pela fermentação de compostos orgânicos. A respiração aeróbica se desenvolve principalmente nas mitocôndrias e requer oxigênio. Ela é formada por três fases: glicólise, ciclo de Krebs e cadeia respiratória. Já a respiração anaeróbia, também chamada de respiração anaeróbica, ou também de fermentação, ocorre apenas na ausência de oxigênio. Contudo, a sensibilidade dos microrganismos ao oxigênio varia, sendo classificados como anaeróbios estritos, anaeróbios facultativos e anaeróbios tolerantes (ENGELKIRK et al., 1992). A bactéria responsável por causar o botulismo, Clostridium botulinum, só sobrevive na ausência de oxigênio sendo assim classificada como anaeróbia estrita. Essa bactéria produz algumas toxinas que podem levar à morte do hospedeiro. Mas as bactérias anaeróbias não causam somente prejuízos. O gênero Lactobacilos, anaeróbios facultativos, são utilizados na produção de 2 iogurtes e coalhadas, além disso, essas mesmas bactérias são encontradas em nosso intestino e auxiliam na fabricação de algumas vitaminas. 1.2. GÊNERO Bacteroides Dentre as bactérias anaeróbias, se encontra o gênero Bacteroides formado por bastonetes Gram-negativos anaeróbios estritos, não esporulados, bileresistentes e que podem ou não apresentar motilidade. São componentes predominantes da microbiota das membranas mucosas (BROOK, 1995; FERREIRA et al., 2003), colonizam a orofaringe e os tratos gastrintestinal e genital feminino de seres humanos. As doenças infecciosas causadas por tais microrganismos originam-se, principalmente, de sua disseminação endógena, a partir de superfícies mucosas colonizadas para locais do organismo normalmente estéreis (FINEGOLD & GEORGE, 1989; GOLDSTEIN, 1995; FERREIRA et al., 2003). As espécies de Bacteroides têm se destacado pela sua alta incidência de isolamento, como é o caso, principalmente, da espécie B.fragilis (Tabela 2). Além disso, as espécies deste gênero normalmente apresentam resistência a antimicrobianos (FERREIRA et al., 2003). Estudos realizados por SEARS, C.L. (2012), utilizando dois antibióticos diferentes, gentamicina e clindamicina, demostraram a resistência do B. fragilis aos mesmos (Tabela 3). Tabela 2: Informações clínicas de algumas das espécies do genero Bacteroides, (PAUL G. ENGELKIRK). Espécies Informação clinica Espécies mais isoladas de processos infecciosos dos B. fragilis B. ovatus B. thetaiotaomicron tecidos moles (61%) Ocasionalmente isoladas de amostras clínicas (5%) Freqüentemente encontradas em amostras clínicas (17%) Ocasionalmente isoladas de processos infecciosos (6%) B. vulgatus 3 Tabela 3: Impacto do uso de antibióticos e sepse intra-abdominal e formação de abscessos em ratos (Adaptado de SEARS, C.L. 2012). Condições Formação de abscessos Mortalidade Controle 100% 37% Gentamicina 98% 4% Clindamicina 5% 35% Gentamicina/Clindamicina 6% 7% A mucosa intacta representa uma importante barreira que previne microrganismos de se espalharem para outros sítios. Portanto, as infecções anaeróbias ocorrem normalmente na presença de fatores que são predisponentes como necrose tecidual, causada por trauma ou cirurgia, insuficiência vascular ou a presença de tumores (BROOK, 1987). 1.3. Bacteroides fragilis A espécie B. fragilis apesar de minoritária na microbiota intestinal, é a mais frequentemente associada a processos infecciosos, tais como bacteremias (GOLDSTEIN & CITRON, 1988), infecções intra-abdominais (CRABB et al, 1990), abscessos (BROOK & FINEGOLD, 1981) e infecções em tecidos moles (BROOK, 1987). Além disso, apesar de centenas de espécies bacterianas colonizarem o trato gastrintestinal, o predomínio da espécie B. fragilis e da espécie anaeróbia facultativa Escherichia coli em peritonites secundárias é comum (ONDERDONK et al., 1974), reiterando o conceito de que as infecções anaeróbias são geralmente polimicrobianas. Acredita-se que tal espécie se destaque como um dos principais patógenos em infecções anaeróbias devido a sua versatilidade em causar processos infecciosos distintos (ONDERDONK et al., 1977a; 1990; ONDERDONK, 2005). 4 Neste contexto, alguns fatores de virulência têm sido propostos a fim de explicar o seu comportamento patogênico e o destaque de B. fragilis em relação aos demais componentes da microbiota intestinal em função da expressão de fatores de virulência que poderiam conferir a espécie vantagens ecológicas (KASPER et al., 1979; MYERS & SHOOP, 1987). Dentre os fatores de virulência já descritos, a cápsula tem sido um dos mais estudados pela sua atuação como evasina bacteriana e como participante da formação de abscessos (LINDBERG et al., 1990; HOSFTAD, 1992; DUERDEN, 1994; KALKA – MOLL et al., 2001). Uma observação importante foi a de que a cápsula de B. fragilis sozinha foi suficiente para induzir a formação de abcessos em murinos (SEARS, C.L. et al. 2012). Estudos anteriores realizados por COMSTOCK et al. (1999) constataram que o B. fragilis possui o sistema de polissacarídeo mais complexo já descrito. Verificou-se que B. fragilis apresenta a capacidade de sintetizar oito polissacarídeos capsulares distintos. No entanto, curiosamente, cada cepa de B. fragilis apresenta apenas um único membro desta família de polissacarídeos sobre a sua superfície. Algumas cepas de B. fragilis podem secretar uma potente toxina, denominada Toxina de B. fragilis (TBF), que rapidamente induz alterações na biologia e transdução de sinal nas células epiteliais do cólon, bem como estimula a resposta inflamatória neste sítio, tanto em humanos quanto em modelos experimentais (SEARS, C.L. et al., 2008). A espécie B. fragilis pode ser dividida em dois grupos com base na expressão de TBF. As BFNT (B. fragilis nãotoxigênico) não possuem o gene para expressão da TBF que promove a saúde da mucosa e aquelas consideradas BFET (B. fragilis enterotoxigênico) expressam o TBF (Fig. 1). Embora todos os B. fragilis têm a capacidade de induzir a formação de abcesso em seres humanos, apenas as cepas BFET têm sido associadas com doença diarréica humana. Além disso, até o presente o gene TBF não foi identificado em quaisquer outros Bacteroides ou espécies microbianas (SEARS, C.L. 2012). A expressão do gene TBF ocasiona a doença diarreica em humanos, porém cepas BFET podem colonizar de forma exacerbada indivíduos, os quais permanecem assintomáticos. Um estudo realizado por WU et al. (2006) demostra que o receptor de TBF é uma proteína de membrana sensível à depleção de colesterol. Os mesmos estudos ainda sugerem que os receptores de TBF estejam localizados em jangadas lipídicas, ricas em colesterol (WU et al., 2006). 5 Fig. 1 – Classificação de cepas, produtoras e não produtoras de TBF (Adaptado de SEARS, C.L. 2012). 1.4. O COLESTEROL DE MEMBRANA O colesterol é um lipídio encontrado nas membranas de células de mamíferos. Este lipídio é componente essencial das membranas celulares estando envolvido na regulação da fluidez das mesmas, assim como em processos de sinalização celular, quando este se encontra associado a jangadas lipídicas. Vários estudos têm demonstrado que o colesterol pode ser utilizado para auxiliar na entrada de inúmeros patógenos em seus hospedeiros (WU et al., 2006). O colesterol de membrana presente em células eucarióticas poder ser depletado pela ação da droga β-ciclodextrina (βCD) (Fig. 2), ou de seus derivados, o que ocasiona a desestruturação das jangadas lipídicas e consequentemente bloqueio de diversos processos biológicos. (VENTURINI et al., 2008). As ciclodextrinas são polímeros formados por monômeros de glicose que são obtidos a partir da degradação de amido. As mais conhecidas são de origem natural e classificadas como α (alfa), β (beta), ou γ (gama), de acordo com a quantidade de monômeros de glicose que as formam (VENTURINI et al., 2008). 6 Fig. 2 – Molécula de β-ciclodextrina (VENTURINI et al., 2008) 1.5. MACRÓFAGOS Diferentes mecanismos de defesa atuam concomitantemente e de forma complementar em vários sítios, inclusive na cavidade peritoneal. Nesta última, numa primeira etapa ocorre a depuração pelos vasos linfáticos e a fagocitose, o que parece ser o principal mecanismo antimicrobiano no sítio da infecção (DUNN et al., 1985; 1987), por macrófagos residentes (MØ). Os MØ são formas diferenciadas de monócitos originários da medula óssea, que logo após sua produção migraram pela corrente sanguínea para os tecidos, onde se fixaram e sofreram diferenciação. MØ são células componentes do sistema imune de mamíferos, integrando o sistema mononuclear fagocítico (VAN FURTH et al., 1972)(Fig. 3). Sabe-se que os MØ são células fagocíticas profissionais que participam de forma relevante na imunidade inata e adquirida dos organismos, sendo caracterizadas como células apresentadoras de antígenos (MACMICKING. et al. 1997). Deste modo, nas primeiras horas do desafio microbiano, os MØ são os responsáveis pela atividade fagocítica na cavidade peritoneal (DUNN et al., 1985; 1987). 7 Fig. 3 – Micrografia eletrônica de varredura de macrófago sadio apresentando em sua superfície ondulações na membrana. O processo de fagocitose tem inicio quando as células microbianas são reconhecidas pelos MØ, logo após são englobadas e degradadas em seu interior, ocorrendo à formação de vesículas especializadas, denominadas fagossomos. Estes por sua vez se fundem aos lisossomos, vesícula contendo enzimas produtoras de radicais óxidos, formando o fagolisossomo. Simultaneamente, receptores que participam da fagocitose mandam sinais que ativam diversas enzimas no interior do fagolisossomo, as quais têm por fim degradar a bactéria (Fig. 4). 8 Fig. 4 – Representação do mecanismo de fagocitose em macrófago ativado por interferon-Ɣ. Adaptado de http://classes.midlandstech.edu/carterp/Courses/bio225/chap16/lecture3.htm MØ expressam receptores de citosinas, tal como o interferon-ɣ (INF-ɣ). Esta citosina quando se liga aos receptores dos MØ torna-os ativados, o que aumenta a atividade microbicida do mesmo, por exemplo, pela produção de óxido nítrico. A ativação do MØ também pode correr através da injeção em camundongos de tioglicolato ou LPS (lipolissacarídeo), agentes pró-inflamatórios, é possível fazer com que os MØ entrem num estado funcional intermediário entre residente e ativado, estado este designado como elicitado ou estimulado (COHN, 1978). O IFN- ɣ quando se liga aos receptores dos MØ torna-os ativados, levando a ativação da enzima a síntese do óxido nítrico induzida (iNOS) , por exemplo, responsável pela produção de óxido nítrico (NO). Posteriormente, outros mecanismos são mobilizados, incluindo o bloqueio mecânico do processo infeccioso na tentativa de impedir sua disseminação, o que se traduz na formação de abscessos (DUNN et al., 1985; 1987; MADDAUS et al., 1988). 9 1.6. MACRÓFAGO E O OXIDO NÍTRICO A ativação dos MØ leva a sinalização intracelular que induz a translocação de um fator de transcrição, o que resulta na expressão de várias enzimas, como a iNOS que sintetiza NO (BUTCHER et al, 2001). O NO, juntamente com outros radicais superóxido e hidroxila, está relacionado ao mecanismo antimicrobiano dos macrófagos chamado “burst” oxidativo ou estresse oxidativo. Neste caso os MØ utilizam os efeitos citotóxicos de vários tipos de oxidantes como mecanismo de defesa a favor do hospedeiro (HURST & BARRETTE, 1989; MILLER & BRITIGAN, 1997). NO é um radical gasoso solúvel em água e lipídios, reage na água com oxigênio e seu produto reativo gera outros radicais (ex. dióxido de nitrogênio, NO2), anions moderadamente estáveis (ex. nitrito, NO 2-), anions muito estáveis (ex. nitrato, NO3-), óxidos altamente estáveis (ex. trióxido de dinitrogênio, N2O3) e peróxidos instáveis (ex. peroxinitrito, ONOO -). Biologicamente, a maioria dessas formas é passível de surgir em poucos segundos após a ativação da iNOS (MACMICKING, XIE & NATHAN, 1997). Dados da literatura demonstraram que alguns patógenos têm a capacidade de inibir a produção de NO por MØ (SEABRA. et al., 2002), assim como o contato inicial entre as células, determinando uma vantagem na sua sobrevivência durante o processo infeccioso (MACMICKING. et al., 1997). 1.7. ESCAPANDO DA ATIVIDADE MICROBICIDA DOS MØ Estudos que analisaram os efeitos da interação de MØ com cepas da espécie B. fragilis, utilizando imunocitoquímica e microscopia eletrônica de transmissão e varredura, mostraram que tais bactérias são capazes de gerar alterações em tais fagócitos (VIEIRA et al, 2005, VIEIRA et al, 2009). Ensaios in vitro de imunocitoquímica demostraram extravasamento dos filamentos de actina, os quais foram coincidentes com a marcação para iNOS. Além disso, análises da resposta dos MØ infectados demonstrou que houve uma queda na produção de NO nos MØ infectados (VIEIRA et al, 2005), o que também já foi observado para outros patógenos (DAMATTA et al, 2000; SEABRA. et al., 2002; LÜDER et al, 2003). 10 Analises realizadas com o objetivo de testar o tipo de morte, apoptose ou necrose, sofrida pelos macrófagos após os ensaios de interação com B. fragilis, indicaram que a morte dos mesmos estaria ocorrendo por um processo similar à necrose, com a formação de poros na membrana dos fagócitos (VIEIRA et al, 2009). Ainda, análises in vivo apresentaram resultados similares às análises in vitro (VIEIRA et al, 2009). As infecções causadas por bactérias anaeróbias são eventos clínicos comuns e algumas se manifestam de forma muito grave, resultando em altas taxas de letalidade. Além disso, as infecções anaeróbias facilmente escapam ao diagnóstico laboratorial devido às precauções especiais necessárias à coleta e transporte dos espécimes clínicos. Essas condições são indispensáveis à realização de estudos bacteriológicos adequados, e em particular para esses microrganismos. Adicionalmente, muitos laboratórios estão despreparados para o manejo de alguns ou da maioria dos anaeróbios. A biologia da espécie B. fragilis tem sido objeto constante de investigações nos últimos anos e, apesar, de já serem conhecidos alguns dos aspectos relativos às interações com o hospedeiro, muito ainda falta para o completo entendimento dos processos causados por este importante patógeno anaeróbio. Dessa forma, mostra-se importante avaliar a interação de B. fragilis com células hospedeiras de maneira a complementar o conhecimento já adquirido, assim como elucidar os mecanismos envolvidos nos eventos de interação. 11 2. OBJETIVO 2.1. OBJETIVO GERAL Tendo em vista os resultados previamente observados para a espécie B.fragilis com relação às alterações ocasionadas aos MØ infectados, o objetivo deste estudo foi aprofundar as análises realizadas a fim de compreender de forma mais precisa as moléculas e mecanismos envolvidos no processo de interação bactéria: MØ. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisar através do tratamento com β-ciclodextrina a importância do colesterol de membrana na interação B. fragilis: MØ; Avaliar a necessidade do contato B. fragilis:MØ para observação dos efeitos citotóxicos, através da utilização de insertos de 0,4µm durante os ensaios de interação B. fragilis:MØ; Realizar ensaios de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) após os ensaios com β-ciclodextrina com a finalidade de observar os efeitos ocasionados à topologia dos MØ. 12 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. CEPAS BACTERIANAS As cepas 078320, ES 31.1, ELI 1.1 foram obtidas a partir da Coleção de Cultura do Laboratório de Biologia de Anaeróbios (IMPPG/UFRJ). Tais cepas foram reativadas em caldo BHI–PRAS (Brain Heart Infusion Pre-Reduced Anaerobically Sterilized) (HOLDEMAN, KELLY & MOORE, 1984) a partir de estoque em meio de Chopped meat, sendo incubadas por 24h a 37ºC. As cepas ATCC (Ameican Type Cell Culture) 43859 e ATCC 25285 foram obtidas da Coleção de Cultura Bacteriana do Laboratório de Microrganismos de Referência (INCQS/FIOCRUZ) e reativadas em caldo Tioglicolato a partir de estoque liofilizado, sendo incubadas por 48h a 37ºC. Critérios de viabilidade e pureza foram utilizados, após semeadura em placas de ágar sangue suplementado (ASS) com vitamina K (10 μg/mL) e hemina (5 μg/mL). Após o período de incubação, em ambiente de anaerobiose (80% de N 2, 10% de H2 e 10% de CO2), as colônias foram repicadas para novo caldo BHI-PRAS, para avaliação morfo-tintorial pelo método de Gram, modificado por Kopeloff, e confirmação do tipo respiratório (JOUSIMIES-SOMER et al., 2002; FERREIRA. et al., 2003). As suspensões bacterianas usadas nos experimentos foram obtidas por cultura em caldo BHI-PRAS a 37°C. Brevemente, as células foram centrifugadas por 10 min a 3600rpm após crescimento por 24 horas, lavadas com PBS 8 (Phosphate Buffered Saline), e ressuspensas a uma concentração de 6x10 UFC/mL, usando a escala 2 de McFarland . 13 Tabela 4: Cepas de B. fragilis utilizadas neste estudo. CEPA ESPÉCIE ATCC 43859 ORIGEM Processo diarréico Abscesso de apêndice ATCC 25285 B. fragilis ES 31.3 ELI 1.1 078320 Processo diarréico Microbiota intestinal normal Processo diarréico 3.2. OBTENÇÃO DE MACRÓFAGOS PERITONEAIS DE CAMUNDONGOS Os macrófagos (MØ) foram obtidos como descrito por SEABRA et al. (2002). Os MØ foram estimulados pela inoculação intraperitoneal de 30mg/mL de tioglicolato em camundongos suíços de 48 dias. Após 72h, foi realizado lavado peritoneal nos camundongos com 5mL de DMEM gelado (Dulbelco’s modified Eagle’s médium / Sigma® - St Louis, MO/USA). O protocolo de estudos com animais foi revisto e aprovado pelo comitê de ética de experimentos animais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro(número de permissão 98). 14 Fig. 5 – Ilustração do procedimento de obtenção dos MØ – lavado peritoneal de camundongo. Adaptado de http://www.scielo.br/img/revistas/acb/v20s1/25565f1.gif As células peritoneais, obtidas através do lavado peritoneal, foram incubadas em gelo apenas até o momento da centrifugação, centrifugadas a 3600rpm por 10 min a 4°C, ressuspensas em meio DMEM gelado, contadas com 6 auxílio de microscópio óptico, e ajustadas para 2x10 células/mL em meio DMEM gelado. Para a obtenção de células aderentes, 180 μl de suspensão foram espalhados sobre lamínulas em cada orifício de placa de 24 poços. Após 1 hora de incubação a 37°C numa atmosfera a 5% de CO , os poços foram lavados com 2 DMEM sem soro por duas vezes, para remoção das células não aderentes em seguida a placa foi incubada, por 24 horas, com 500 μl de DMEM suplementado com 5% de soro fetal bovino inativado por calor (SFB / Laborclin® - Pinhais, Paraná, Brasil) e 2 μl/ml de interferon- (IFN- / Sigma®) para ativação dos macrófagos. 3.3. INTERAÇÃO IN VITRO As interações bactérias-macrófagos foram realizadas por 2 horas em estufa a 37C numa atmosfera a 5% de CO2, usando uma proporção de 1:200, macrófago:bactérias. Após o período de incubação, os poços foram lavados duas vezes com DMEM sem soro. 15 3.4. ENSAIO COM β-CICLODEXTRINA (βCD) 3.4.1. ANÁLISE DA VIABILIDADE CELULAR A concentração adequada para o tratamento com βCD deve ser controlada de acordo com a linhagem celular, para que o tratamento com a droga não afete a morfologia e a viabilidade da célula. Por este motivo, foi necessário definir a concentração adequada de βCD a ser utilizada no tratamento dos macrófagos de forma a depletar uma quantidade significativa de colesterol sem comprometer a viabilidade da célula. Para este fim, as células foram obtidas como descrito no item 3.2. E logo após, as mesmas foram tratadas com concentrações de 5, 10, 20, 30 e 40mM (milimolar) de βCD. As alíquotas foram diluídas de um estoque de 100mM, preparado com 3ml de DMSO (Dimetilsulfóxido) filtrado e 7ml de DMEM estéril. A viabilidade celular foi avaliada após 24 e 48h, através de ensaio com azul de Trypan na concentração de 0,4% em PBS, foi possível avaliar que a concentração de 10mM, depletou uma maior quantidade de colesterol sem afetar a viabilidade das células. 3.4.2. DEPLEÇÃO PARCIAL DO COLESTEROL PRÉ-INTERAÇÃO Os MØ foram obtidos como descrito no item 3.2. E, logo após o período de incubação por 24 horas com DMEM suplementado, as células foram lavadas duas vezes com DMEM sem soro e incubadas novamente com DMEM, contendo βCD a uma concentração de 10mM, por 24h, a fim de obter o maior depleção possível de colesterol. Após a incubação por 24 horas com a βCD, as células foram lavadas duas vezes com DMEM. As interações bactérias-macrófagos foram realizadas como descrito no item 3.3. Após o período de incubação, os poços foram lavados duas vezes com DMEM sem soro. 3.5. ENSAIO COM INSERTOS 0,4µM Estes ensaios foram realizados a fim de avaliar a necessidade do contato para ocorrência dos efeitos que porventura sejam observados após os eventos de interação. Os ensaios de interação foram realizados conforme item 3.3 e 3.4.2 da seção Material e Métodos, porém foram utilizados insertos 0,4µm (fig. 6). 16 Os insertos não permitem que haja o contato direto da B. fragilis com o macrófago, a membrana permite apenas a passagem de possíveis substratos produzidos pelas células. Após os ensaios, os MØ foram analisados por microscopia eletrônica de varredura de acordo com o protocolo descrito na seção 3.6 do Material e Métodos. Fig. 6 – Esquema representando os insertos de 0,4µm. Adaptado de: http://wires.wiley.com/WileyCDA/WiresArticle/wisId-WNAN53.html 3.6. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) Após os eventos de interação de cepas de B. fragilis com macrófagos nos tempos determinados para cada experimento, as células foram lavadas com DMEM sem soro, fixadas em Karnovsky, (2,5% [v/v] de glutaraldeído e 4% [v/v] de paraformaldeído em tampão CaCo (Cacodilato de Sódio) 0,1 M), por 40 min, e lavadas com PBS. As células foram pós-fixadas em solução de tetróxido ósmio e tampão CaCo na proporção 1:1, a temperatura ambiente, por 40 min, protegidas da luz e posteriormente lavadas em PBS. As células foram desidratadas em série gradual de acetona (40-100% / 15 min cada), secas através de ponto crítico usando CO2, montadas em suportes de alumínio, e cobertas com ouro (20-30nm) para observação em microscópio eletrônico de varredura JEOL (VIEIRA et al., 2009). 17 4. RESULTADOS No ensaio de viabilidade celular com βCD foi possível averiguar que a concentração mais adequada de βCD foi 10mM por fornecer depleção eficiente do colesterol celular sem comprometer a viabilidade celular (Fig. 7). Os MØ foram tratados com 10 mM da droga e infectadas com as diferentes cepas de B. fragilis. Juntamente foi realizado controle das infecções sem a βCD, ambas foram observadas com auxílio de MEV. Foi observado que após os ensaios, MØ não infectados estavam íntegros (Fig. 8 - 12, A), apresentando ondulações de membrana plasmática, típicos destas células. Contrariamente, os MØ não infectados, porém tratados com βCD (Fig. 8 - 12, B) apresentaram diminuição do numero de ondulações de membrana (Fig. 8 - 12, B cabeça de setas). MØ infectados com as cepas ATCC 25285, ELI 1.1, ES31.3, 078320 e ATCC 43859 de B. fragilis, mas não tratados com βCD (Fig. 8 - 12, C) apresentaram poucas ondulações. Observou-se ainda a formação de lesões na superfície dos macrófagos infectados com as cepas de B. fragilis e a presença de bactérias aderidas aos fagócitos (Fig. 8 - 12, C). MØ tratados com βCD e infectados com as cepas ATCC 25285, ELI 1.1, ES31.3, 078320 e ATCC 43859 de B. fragilis (Fig. 8 - 12, D), apresentaram maior adesão bacteriana (Fig. 8 - 12, D). Nas mesmas imagens nota-se que a membrana dos macrófagos apresentava formação de estruturas parecidas com poros. Com a utilização dos insertos 0,4um, nos ensaios de interação não tratados com βCD (Fig. 8 - 12, E), a menor formação das ondulações de membrana foi aparente. Da mesma forma nos ensaios de interação nos quais os insertos foram utilizados, juntamente com βCD, a membrana dos MØ infectados não apresentou as ondulações características (Fig. 8 - 12, F). Houve também o aumento do número de poros nas células tratadas e com insertos (Fig. 8 - 12, F) em comparação com as células não tratadas (Fig. 8 – 10 e 12, A). Na cepa 078320, os efeitos foram observados em menor escala (Fig. 11), se comparado com as outras cepas. 18 Após a analise dos dados obtidos através das imagens, foi possível expressa-las através da seguinte tabela (Tabela 5). Tabela 5: Analise dos dados obtidos nos resultados. Condições MØ não infectado (Pranchas 1-5, A) MØ não infectado + βCD (Pranchas 15, B) MØ infectados (Pranchas 1-5, C) MØ infectados + βCD (Pranchas 1-5, D) MØ não infectados + Insertos de 0,4µm (Pranchas 1-5, E) MØ infectados + βCD + Insertos de 0,4µm (Pranchas 1-5, F) Membrana Interação + Ondulações Sem ondulações Poucas ondulações (Lesões) Poros + aumento da adesão bacteriana Sem ondulações Ondulações não características + poros 19 % de MØ % de MØ A B Fig. 7 - Ensaio de viabilidade celular após tratamento com βCD. Painel A – MØ tratados com βCD por 24h. Painel B - MØ tratados com βCD por 48h. . 20 A B C D E F Figura 8 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa de B. fragilis ATCC 25285. A - MØ controle, não infectado, apresentando típicas ondulações de membrana (setas). B MØ controle tratados com βCD, aparente perda das ondulações é notada (cabeça das setas). C MØ infectados com a cepa ATCC 25285 sem tratamento com βCD. O rompimento da membrana é aparente (seta). D – MØ tratados com βCD e infectados com a cepa ATCC 25285. Nota-se a presença de bactérias aderidas (seta) e redução significativa de ondulações na membrana, o rompimento da membrana é aparente (cabeça de seta). E – Ensaio de Insertos 0,4µm de MØ não tratados com βCD, infectados com a cepa ATCC 25285. Nota-se a ausência de ondulações características (seta) F – Ensaios de Insertos 0,4µm de MØ tratados com βCD, infectados com a cepa ATCC 25285 formação de pseudopodes é notada (seta). 21 A B C D E F Figura 9 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ELI 1.1. A - MØ controle, não infectados, apresentando típicas ondulações de membrana (setas). B – MØ controle tratados com βCD, nota-se ausência de ondulações na membrana (seta). C - MØ infectados com a cepa ELI 1.1, poros na membrana são aparentes. D – MØ tratados com βCD e infectados com a cepa ELI 1.1. Apresentando extravasamento de citoplasma celular e redução significativa de ondulações na membrana (setas). E - MØ infectados não tratados com βCD, utilizando-se do insertos, ausência de ondulações características é notada. F – MØ infectados tratados com βCD, utilizando insertos, observa-se ausência de ondulações. 22 A B C D E F Figura 10 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ES 31.3 de B. fragilis. A - MØ controle, não infectados, apresentando típicos ondulações de membrana (setas). B – MØ controle tratados com βCD nota-se a redução de ondulações na membrana. C - MØ infectados com a cepa ES 31.3, apresentam poros na membrana (setas). D – MØ tratados com βCD e infectados com a cepa ES 31.3 com redução de ondulações características na membrana plasmática (seta). E - MØ infectados não tratados com βCD, utilizando insertos. Poros na membrana são notáveis (seta). F – MØ infectados tratados com βCD, utilizando insertos. Poros de membrana aparentes (setas) e redução de ondulações. 23 A B C D E F Figura 11 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa 078320 de B. fragilis. A - MØ controle, não infectados, apresentando típicos ondulações de membrana (setas). B – MØ controle tratados com βCD. Nota-se a ausência de ondulações tipícas. C - MØ infectados com a cepa 078320, apresentam poros na membrana (setas). D – MØ tratados com βCD e infectados com a cepa 078320, nota-se grande numero de bactérias aderidas. E - MØ infectados não tratados com βCD, utilizando-se do insertos. Nota-se a formação de pseudopodes (setas). F – MØ infectados tratados com βCD, utilizando insertos, formação de pseudopodes é observado (seta), mas em menor quantidade, do que as células não infectadas. 24 A B C D E F Figura 12 – Micrografia Eletrônica de Varredura de MØ infectados com a cepa ATCC 43859. A MØ controle, não infectados, apresentando típicos ondulações de membrana (setas). B – MØ controle tratados com βCD. Ausência de ondulações tipicas é observado. C - MØ infectados com a cepa ATCC 43859, apresentam poros na membrana(setas). D – MØ tratados com βCD e infectados com a cepa ATCC 43859, nota-se a presença de bactéria aderida ao MØ. E - MØ infectados não tratados com βCD, utilizando-se do insertos. Apresenta a formação significativa de poros na membrana (seta). F – MØ infectados tratados com βCD, utilizando insertos, apresentando poro na membrana (seta). 25 5. DISCUSSÃO Microrganismos que constituem parte da microbiota normal têm papel importante na manutenção da saúde do organismo hospedeiro através da produção de vitaminas essenciais, como a vitamina K, cofatores e ácidos graxos. As bactérias anaeróbias são componentes das microbiota de humanos, animais e outros, predominando no trato gastrintestinal, principalmente no cólon, além de também colonizarem regiões como pele, cavidade oral, trato respiratório superior e trato urogenital (FINEGOLD & GEORGE, 1989; SHAH et al., 2009). Já se sabe que a espécie B. fragilis é causadora de algumas infecções como formação de abcessos, sepse, infecções abdominais, entre outros (TALLY & HO, 1987). Neste âmbito, vários mecanismos bacterianos vêm sendo apontados como atuantes, inclusive aqueles relacionados com a resistência à fagocitose. Além disso, alguns fatores de virulência têm sido propostos a fim de explicar o comportamento patogênico da espécie. Foi observado que a composição química da cápsula polissacarídica de B. fragilis é diferente de outros polissacarídeos bacterianos (KASPER, 1976), além de ter sido mostrado que a imunização de ratos com essa cápsula purificada conferia proteção aos animais frente a novas infecções (KASPER et al., 1979; SHAPIRO et al., 1982; 1986). Estudos em animais mostraram que somente cepas encapsuladas eram virulentas (ONDERDONK et al., 1974; 1976; 1977a). Estudo mais recente demonstrou que a cápsula de B. fragilis sozinha é capaz de induzir a formação de abscessos em murinos (SEARS, C.L. 2012). Os autores deste estudo sugeriram que o B. fragilis possui o sistema de polissacarídeo mais complexo conhecido até o momento. Algumas cepas de B. fragilis podem secretar TBF que, rapidamente, induz uma resposta inflamatória no cólon, tanto em humanos quanto em modelos experimentais (SEARS, C.L. et. al 2008). Também já foi demonstrado que o receptor de TBF é sensível à depleção do colesterol de membrana, o que indicou que receptores da TBF estão ligados a jangadas lipídicas, ricas em colesterol (WU et al., 2006). A capacidade dos microrganismos de aderir a tecidos do hospedeiro é considerada um fator determinante para colonização e infecção (BEACHEY, 1981). Adicionalmente, foi visto que a produção de enzimas hidrolíticas capazes 26 de degradar diferentes componentes dos tecidos, também vêm sendo descritas como potenciais fatores de virulência de espécies do gênero Bacteroides (BOTTA et al., 1994). Para B. fragilis, diversas estruturas de superfície também já foram descritas como possíveis adesinas (HOFSTAD, 1992; PATRICK, 1993). MØ são células fagocíticas do sistema imune de mamíferos, caracterizadas como células apresentadoras de antígenos (VAN FURTH et al.,1972; MACMICKING, XIE & NATHAN, 1997). Tais células, quando ativadas, secretam uma variedade de citocinas. A superfície dos MØ é repleta de receptores que reconhecem moléculas expressas por patógenos e auxiliam no processo de fagocitose (ESWARAPPA et al., 2008). Quando não infectados, esses fagócitos apresentam em sua superfície estruturas (projeções) denominadas ondulações de membrana, as quais estavam aparentes nos MØ controle de todos os experimentos realizados (Pranchas 1-5 A). Tais projeções já foram observadas em estudos anteriores (VIEIRA et al., 2005 e 2009). Neste estudo, cinco cepas de B. fragilis foram utilizadas a fim de analisar o papel do colesterol nos eventos de infecção dos MØ com B. fragilis. Ensaios utilizando βCD, um polímero que auxilia na depleção parcial do colesterol, e insertos 0,4µm, aparato que não permite o contato das bactérias com os MØ foram utilizados para esse fim. Os efeitos foram observados por microscópio eletrônico de varredura. A fim de compreender a relevância do colesterol no processo de infecção do B. fragilis, foi avaliado o efeito da depleção do colesterol celular no evento da infecção. A concentração adequada para o tratamento com βCD é controlada de acordo com o tipo celular, para que o tratamento com a droga não afete a morfologia e a viabilidade celular. Assim foram realizados ensaios nos quais as células foram tratadas com concentrações de 5, 10, 20, 30 e 40mM de βCD, com posterior avaliação da viabilidade utilizando Azul de Trypan. Os resultados mostram que a concentração de 10mM é a mais adequada, por proporcionar maior depleção do colesterol sem afetar a viabilidade do MØ (Fig. 7). Do ponto de vista dos aspectos morfológicos, os MØ não tratados com βCD revelaram algumas alterações, quando infectados, sugestivas de liberação de conteúdo citoplasmático por estas células (Fig 8, D). Análises dos MØ tratados 27 com βCD demonstraram que as alterações observadas anteriormente na morfologia (perda das ondulações) dos MØ ocorriam mesmo sem a interação (Fig. 8 - 12, B), sugerindo a participação do colesterol nos eventos de interação. As observações das interações de MØ tratados com βCD e infectados com as cepas ATCC 25285, ELI 1.1, ES 31.3, 078320 e ATCC 43859, todas da espécie B. fragilis, resultaram em ruptura da membrana dos MØ bem como na perda aparente das ondulações na superfície dos mesmos, além de apresentar membrana porosa e aumentar a taxa de adesão bacteriana. A MEV dos ensaios de tratamento com βCD após eventos de interação revelaram a alteração na superfície dos macrófagos infectados com todas as cepas B. fragilis estudadas, inclusive com a diminuição das ondulações na membrana (Fig. 8 - 12, D, setas). Os ensaios de tratamento com βCD mostraram que a depleção de colesterol da membrana dos MØ aumenta o dano causado ao fagócito após a interação com as cepas de B. fragilis. Tais achados sugerem que o colesterol participa do mecanismo de interação. Já foi observado anteriormente que a depleção de colesterol altera a ação da toxina TBF secretada por B. fragilis, em razão da possível presença de receptores da toxina em jangadas lipídicas ricas em colesterol. No caso deste estudo, o efeito parece ser contrário, uma vez que a depleção do colesterol potencializa a ação da molécula produzida por B. fragilis, causando aumento no número de poros na membrana e mais perda das ondulações características da mesma. Os achados obtidos sugerem que algum agente tóxico produzido por B. fragilis causa danos aos MØ com efeito potencializado pela depleção de colesterol. O aumento dos danos causados nos MØ sugerem fortemente a existência de uma molécula macrofágica capaz de protegê-los contra a ação do TBF, ou, a toxina produzida pelo B. fragilis não depende de receptores ligados às jangadas lipídicas, tendo ação independente do colesterol dos MØ. Desta forma, análises complementares, utilizando técnicas de proteômica serão necessárias para elucidar a molécula envolvida no mecanismo de interação, bem como alterações moleculares ocasionadas na superfície dos macrófagos pós-infecção. 28 6. CONCLUSÕES Nossos resultados demonstraram que a infecção de macrófagos peritoneais de camundongos com cepas de B. fragilis alteram de fato a morfologia desses fagócitos. Demostraram também que a depleção parcial do colesterol pode intensificar os efeitos da interação, além de indicarem que não há necessidade de contato célula:célula para que haja alteração na morfologia do fagócitos profissionais. Portanto, a partir dos resultados conclui-se que: 1. B. fragilis não necessita do contato direto com MØ para induzir alterações na morfologia dos mesmos, o que sugere a produção e liberação de um agente tóxico, pela bactéria. 2. A depleção parcial do colesterol afeta de forma direta a interação de MØ com B. fragilis, potencializando-a. 29 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, D.O. & HAMILTON, T.A. - The cell biology of macrophage activation. Annual Review of Immunology. 2: 283-318. 1984. ASHWELL, G. & HARFORD, J. Carbohydrate-specific receptors of the liver. Annual Review of Biochemistry. 51: 531-554. 1982. BROOK, I. Pathogenicity & Therapy of anaerobic bacteria in upper respiratory tract infections. The Pediatric Infectious Disease Journal. 6: 131-136. 1987. BROOK, I. & FINEGOLD, S. M. Aerobic & Anaerobic Bacteriology of cutaneous abcesses in children. Pediatrics. 67: 891-895. 1981. BUTCHER, B.A., KIM, L., JOHNSON, P.F. & DENKERS, E.Y. 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