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Igreja Local, sujeito primeiro da Missão
Podemos, sem receio de erro, definir a Igreja como Comunhão.
Quando afirmamos isto, queremos certificar a Igreja como a comunidade daqueles
que, partilhando a mesma fé em Jesus Cristo, se amam como verdadeiros irmãos. A
Igreja alimenta-se desta comunhão e não outra coisa senão ela é a vida da sua vida.
Esta Comunhão entre os membros que formam a Igreja só é possível, só é verdadeira e
só persiste no tempo se nascer e crescer da comunhão com o próprio Cristo. A Igreja
não vem de si, mas de Cristo; não é para si, mas para Cristo e para o mundo para onde
Ele veio, como Missionário do Pai, e por quem Ele se entregou em amor jamais
igualado.
É exactamente aqui, e por causa disto, que aparece a Missão como característica
idiossincrática da Igreja.
Primeiro, envio para dentro, isto é, todos os cristãos são-no a partir de outro e para
outro, como acontece na vida íntima da Santíssima Trindade, onde o Espírito procede
do Pai e do Filho e onde o Filho é do Pai e do mundo, para onde o Pai O envia.
Depois, envio para fora, ou seja, a Igreja é fundada por Cristo e, por isso, não existe por
si; é animada pelo Espírito e, em razão disto, não existe para si. Tem vida que lhe veio
de fora de si para dar vida ao que está fora dela, ao que ainda não é dela, ao mundo
que Deus quer salvo. É isto que constitui a dimensão missionária da Igreja e é o
esquecimento disto que a torna infiel ao projecto dAquele que a fundou.
Mas quando estamos a falar de Igreja não afirmamos um “ente de razão”, mas, antes,
uma COMUNIDADE DE PESSOAS que nunca existe fora dos limites de espaço e de
tempo.
Assim sendo, falar de Igreja como dinâmica de relações humanas numa orientação
vertical, significa falar de Comunidades Humanas que habitam espaços e tempos
próprios. É exactamente a isso que chamamos IGREJA LOCAL.
Neste sentido, podemos dizer que toda a Igreja é local e a única que verdadeiramente
existe. Por outras palavras: toda a Igreja e a Igreja toda existe como comunidade local,
que se traduz nas comunidades básicas chamadas Paróquias que, por sua vez,
formam, sob a presidência do Bispo, a Diocese ou Igreja Particular sem prejuízo da
Igreja universal , que outra coisa não é que a grande família destas pequenas famílias,
a que preside o Bispo de Roma.
Sendo as Dioceses Igrejas Particulares que revelam a Igreja Universal, não podem descorar a
consciência e a prática Missionária, sob pena de serem infiéis ao mandato de Jesus. Diz o
Decreto sobre a Actividade Missionária da Igreja: “ a Igreja Particular, pela obrigação que tem
de representar o mais perfeitamente possível a Igreja Universal, deve ter consciência que foi
também é enviada…”
Na verdade, as Dioceses têm de ser a face visível da fecundidade Missionária da Igreja.
Serve este intróito para percebermos o título deste artigo. Na verdade, a Igreja Local é,
pelo exposto, o sujeito primeiro da Missão, incumbência a que não se pode subtrair
nem mesmo relegar.
O recente documento dos Bispos Portugueses sobre a evangelização aborda, de forma
aturada, esta problemática, tendo o texto tanto de beleza literária como de
clarividência sobre este aspecto, pelo que se aconselha, vivamente, a sua integral
leitura.
Como pode esta Igreja Local ser realmente Missionária?
Sem esquecer a importância, oportunidade e conveniência dos aspectos mais teóricos,
limitar-me-ei a apresentar algumas linhas operativas muito práticas para uma pastoral
missionária nas nossas Dioceses:
1 – Despertar e alimentar a consciência de Missão
Convém que nas nossas Dioceses se invente, recupere e apure a consciência de que
somos enviados por Deus à sociedade actual para a evangelizarmos. E é preciso fazer isto com
a alegria de um dever e o júbilo de um dom.
As Dioceses deveriam fazer um esforço urgente para desenvolver o dinamismo
apostólico despertando esta consciência de Missão nas pessoas, nas paróquias, nos grupos,
nas estruturas. Para isto é preciso:
 Despertar e fortalecer a vocação missionária ou apostólica dos Leigos em todos os
processos catequéticos, formativos e celebrativos
 Impulsionar o anúncio e a irradiação pessoal da fé
 Promover o valor do testemunho da vida pessoal, grupal e comunitário
 Elaborar e desenvolver, pouco a pouco, um projecto Missionário que ajude a superar
planificações de carácter puramente sacramentalista ou catequético e nos faça
caminhar em direcção a um plano e desígnio Missionário.
2 - Desenvolver uma Pastoral mais diversificada
Normalmente oferece-se a todos o mesmo e de maneira indistinta.
Uma diocese para ser missionária tem de:
 Oferecer possibilidades catequéticas distintas
 Adaptar as celebrações ao nível da fé dos participantes
 Sair ao encontro dos que estão adormecidos para a fé ou a perderam
 Não deixar de fora algum extracto da população nem nenhuma faixa etária
 Fazer séria opção pelos mais desfavorecidos ou desafortunados
 Continuar a ocupar-se da ética, mas preocupar-se também com a estética
 Não ter medo do mundo, não desconfiar da ciência, procurar, encontrar e amar as
pessoas deste tempo como elas são e não como gostaríamos que elas fossem
3 - Desenvolver uma Catequese Missionária
Impõe-se inventar formas novas de catequese missionária que leve a todos a sair de
dentro para fora, ao jeito de aspiral.
Existe, actualmente, na maior parte das Dioceses, uma excelente pastoral sacramental
e multiplicam-se, nesse campo, as possibilidades. O que falta é uma sólida catequese
missionária que leve a uma arejada e apaixonada consciência missionária e a uma
profícua e efectiva prática.
Concretamente dever-se-iam realizar:

Acções de primeiro anúncio

Desenvolver uma pastoral pré-catecumenal de carácter evangelizador

Promover catecumenatos para pessoas afastadas

Possibilitar, nas Paróquias, uma catequese de adultos de cariz missionário(não
para aprender e depois esquecer ou celebrar etapas festivas da vida, mas
saber para depois comunicar como quem oferece um dom).
4 - Celebrar a Eucaristia com intenção Missionária
A Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a
evangelização e constitui o meio por excelência para relançar, de modo audaz, a
Missão ad Gentes. É na Eucaristia que havemos de encontrar o impulso dinamizador
da acção evangelizadora da Igreja. No “ Ide…”, com que sempre se conclui a Eucaristia,
temos de perceber a actualização permanente do mandato de Cristo: “Ide pelo mundo
e anunciai o Evangelho…”.
Para isto é preciso:

Promover a participação plena, activa e consciente dos fieis

Preparar bem as celebrações

Ser mestre na arte de bem acolher quem chega pela primeira ou milésima vez

Promover a qualidade

Tirar partido da estética

Valorizar a força expressiva dos sinais e gestos

Cuidar da linguagem

Ter em conta a sensibilidade, as preocupações e as inquietações das pessoas deste
tempo
5 - Ousar ir mais longe…
Elenco, aqui, de forma aleatória e sem uma ordem valorativa, alguns aspectos que
poderão contribuir também para que a Igreja Local seja mais missionária:

Criação de Institutos Missionários de cariz Diocesano

Maior mobilidade do clero e, quanto possível, dispensar temporariamente sacerdotes
diocesanos para a Missão ad Gentes

Consciencialização e formação missionária nos seminários diocesanos

Convidar missionários para os Conselhos Presbiterais e para os Conselhos de Pastoral

Em parceria com os Institutos Missionários organizar e subsidiar Voluntariado Laical ad
Gentes

Intercâmbios e geminações, sobretudo com África

Potenciar o Dia Mundial da Missões e criar o Dia Diocesano das Missões

Desenvolver uma Pastoral dos Enfermos com sentido Missionário, pois muito teria a
ganhar a causa missionária com as orações e a dor de tantos

Criar nos Fieis Leigos a consciência de que ser Missionário poderá implicar percorrer
milhares de Kms ou, simplesmente, percorrer meia dúzia de metros, atravessar a Rua e
ir ao encontro do outro levando-lhe a Boa Nova ao jeito de Jesus Cristo.
Que o Espírito Santo nos presenteie com a lucidez necessária e as forças que são precisas para
fazermos das nossas Igrejas Locais sujeitos primeiros da Missão e verdadeiras instâncias do
amor de Cristo, o Missionário do Pai.
Pe Almiro Mendes
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