a missão da igreja em 7 movimentos

IMPACTO
GLOBAL
A MISSÃO DA IGREJA
EM 7 MOVIMENTOS
IMPACTO GLOBAL
A MISSÃO DA IGREJA EM 7 MOVIMENTOS
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1. O DESAFIO
O Problema Global em 3 Dimensões
2. A CONDIÇÃO
As Preocupações de Jesus ao Enviar Missionários
3. A RESPOSTA
Como Cada Cristão Precisa RESPONDER?
4. O CHAMADO
Entendendo a Questão da Vocação
5. O PAPEL
Como Identificar o Chamado Específico?
6. A COMUNICAÇÃO
Princípios de Contextualização
7. A TAREFA
O Conceito de Missão Integral
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INTRODUÇÃO
A Grande Comissão: “Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade
no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. (Mateus 28:18-20).
Por muitos anos o Brasil foi campo missionário. Hoje, em pleno século XXI, muitos já nos consideram um dos maiores celeiros missionários do mundo. Já não recebemos missionários, mas os enviamos. Ainda assim, há paradigmas que precisam ser quebrados no que diz respeito à postura missionária da igreja brasileira.
Um desses paradigmas equivocados diz respeito à vocação missionária. A tarefa missionária
não pode ser tratada como uma responsabilidade de alguns poucos que abdicam de uma vida ou carreira “secular” para cruzar o planeta. A ordem missionária foi dada à igreja como um todo, e embora
isso tenha se tornado um cliché para muitos, todo cristao é um missionário.
Nesse estudo, nosso objetivo é incluir você, que é parte da igreja brasileira, nesse sonho global
que é o cumprimento da obra missionária. Deus nos tem dado o chamado de despertar o povo de Deus
em terras tupiniquins, e há muito o que precisa ser feito ainda nessa direção. Procuramos ser pedagógicos e práticos, informando e formando pessoas que serão parte importante nesse projeto de Reino.
Vale lembrar que muitos pontos expostos nessa apostila só fazem sentido mediante a ministração presencial. Em sua maior parte, o estudo toma por base o texto bíblico de Lucas 10.
Esse treinamento é o primeiro passo. Deus conta com você para passos seguintes, e para vôos
mais altos.
Um abraço!
(Assinatura)
(FOTO P&B)
Mário Freitas é pastor, missionário e missiólogo. Serviu na China, no Brasil e atualmente dirige a organização MAIS – Missão em Apoio à Igreja Sofredora, que apóia cristãos no Haiti, África, Ásia Central
e Oriente Médio. Ele e sua esposa Giovana têm 3 filhos.
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1. O DESAFIO
O problema global em 3 Dimensões
O desafio missionário é tão árduo e grandioso que muitos não sabem por onde começar. Para
facilitar nosso estudo, vamos afirmar que o desafio missionário precisa ser visto sob a ótica de 3 dimensões: o desafio étnico, o desafio linguístico e o desafio sócio-econômico.
O Desafio Étnico
O que vem à sua mente quando você pensa na idéia de nação? Na língua portuguesa, costumamos nos referir às nações como sendo as pátrias ou países formalmente reconhecidos e organizados.
Brasil, Estados Unidos, Argentina, China: essas são algumas das nações da Terra, segundo esse conceito. No entanto, não é assim que a Bíblia entende as nações.
O texto de Mateus 24:14 diz: “E será pregado esse evangelho do Reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações, então virá o fim”. Dentre as muitas características dos últimos dias, tais
quais guerras e catástrofes, o mais importante critério para a volta de Jesus é que o evangelho seja
pregado às nações. A questão aqui, no entanto, é que o termo original para nação no grego é ethné, que
quer dizer etnia. Uma etnia é um grupo que possui a mesma língua, história e cultura.
Portanto, quando falamos do mundo atual, não há simplesmente os 192 países reconhecidos
pela ONU. Muito além dessa organização, há no planeta aproximadamente 16.598 grupos étnicos. São
povos e raças que estão entre os países organizados, mas que possuem suas próprias características.
Somente no Brasil há mais de 250 grupos étnicos, sendo que os povos indígenas são a grande maioria.
A igreja não pode olhar para o mundo institucionalmente ou politicamente na hora de se organizar para missões, visto que Deus olha para o mundo etnicamente. Dentre os povos citados, existentes
hoje no planeta, cerca de 40% continua sem acesso ao evangelho. Quem irá até eles? Como essa obra
deve ser feita?
O Desafio Linguístico
Em Romanos 10:14, o apóstolo Paulo questiona: “Como, pois, invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar?”. Ou seja, ouvir o evangelho é fundamental. E podemos concluir que, para que o evangelho atinja o coração, este deve ser pregado na língua do
ouvinte. O segundo desafio, portanto, é o desafio linguístico.
Há aproximadamente 6.900 línguas no mundo, sendo que cerca de 400 são consideradas “semi-extintas” pelo guia Etnologue. Cerca de 2.500 línguas possuem a Bíblia inteira ou parcialmente. Cerca
de 4.400 línguas não possuem porções da Bíblia traduzida. A tradução está em processo em cerca de
1.600 línguas. Cerca de 2.500 línguas ainda precisam que o trabalho de tradução bíblica seja iniciado.
Alguns podem não priorizar a tradução bíblica como tarefa missionária, já que 95% das línguas
do mundo são faladas por apenas 5% da população. Ou seja, muitos idiomas ainda não alcançados são
falados por etnias compostas por poucas pessoas.
Outro problema é que muitas das línguas do mundo são ágrafas. Ou seja, não são escritas. Antes
do trabalho de tradução, o missionário precisaria antes criar o código escrito, e em seguida alfabetizar
a etnia, para que tenham acesso às escrituras.
Das línguas sem tradução bíblica, 40% estão na África subsaariana; 33% estão no nordeste da
Índia e/ou sudoeste da China; 20% estão na Papua Nova Guiné, Indonésia e outros arquipélagos do
Pacífico. Os maiores desafios etno-linguísticos do planeta estão em locais remotos, de difícil acesso, e
longe da prioridade da igreja urbana. Quem irá?
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O Desafio Sócio-Econômico
Por ultimo, ao considerarmos os locais onde a igreja deve precupar-se no que tange ao foco
missionário, é imprescindível levar em conta os pobres. O mundo sem o evangelho é também um mundo sem recursos. O desafio é étnico e linguístico, mas também é socio-econômico.
A desigualdade social nunca foi tão aguda: 40% da população global utiliza somente 5% dos
recursos do globo, enquanto 20% da população global usa ¾ dos recursos disponíveis no mundo.
Dados da UNICEF indicam que 22.000 crianças morrem por dia, em função da pobreza e desnutrição.
Cerca de 1% do investimento global em armamento seria suficiente, no ano 2000, para ter colocado na
escola TODAS AS CRIANÇAS DO MUNDO em idade escolar.
São também alarmantes os dados anuais relacionados às doenças: há ainda 40 milhões de casos
de HIV por ano, apesar de todas as campanhas globais. Quanto à malária, o mundo computa entre 350
e 500 milhões de casos anuais, sendo que 80% das vítimas são crianças. Mais de 2 bilhões de pessoas
têm acesso restrito a água potável e saneamento básico.
É esse o mundo que precisa ser conquistado pelo Evangelho do Reino. Certamente, nosso chamado não é somente para anunciar uma mensagem, mas para transformar comunidades com a Verdade. Quem aceita o desafio?
Que faremos?
Apesar de todo o desafio global, o mundo possui esperança: a igreja de Cristo está a postos! É
dela a responsabilidade pelo encaminhamento das nações, pela transformação social e moral e pelo
acesso à salvação. Nenhuma organização, governo ou entidade conseguirá dar ao mundo o rumo necessário: somente a igreja possui a carta de libertação dos povos!
Ao trabalhar a mentalidade missionária da igreja local, estamos já formando um mundo novo, e
promovendo a transformação do evangelho. Nos próximos capítulos, outros parâmetros da obra missionária serão expostos, para que possamos atender com emergência o chamado da grande comissão. Vamos juntos!
Recapitulando…
De acordo com o texto de Mateus 24:14, Deus vê o mundo etnicamente.
O desafio étnico diz respeito aos mais de 16.000 grupos que ainda existem na face da Terra, dos
quais mais de 40% ainda não teve acesso ao evangelho.
Há aproximadamente 6.900 línguas no mundo. Cerca de 4.400 idiomas não possuem porções da Bíblia
traduzida. Esse é o desafio linguístico.
O desafio sócio-econômico também é tremendo. A desigualdade social nunca foi tão aguda:
40% da população global utiliza somente 5% dos recursos do globo.
Nenhuma organização, governo ou entidade conseguirá dar ao mundo o rumo necessário: somente a igreja possui a carta de libertação dos povos
2. A CONDIÇÃO
As preocupações de Jesus ao enviar missionários
A partir deste capítulo, o texto de Lucas 10:1-9 servirá como a principal base de estudo. Nesse
episódio da Bíblia, Jesus está enviando 70 missionários ao campo. No momento do envio, Ele traz aos
obreiros algumas recomendações. Portanto, ao enviar missionários, a igreja deve possuir as mesmas
preocupações que Cristo esboçou quando enviou os seus. É por isso que Lucas 10 é um texto importante, porque expressa as condições necessárias para o trabalho missionário.
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Inicialmente, vamos extrair do texto de Lucas 10:1 apenas dois conceitos, que são vitais para
compreendermos a grandeza do envio missionário da igreja: apostolicidade e cumplicidade.
Apostolicidade
“Depois disto, o Senhor designou outros setenta e os enviou de dois em dois” (Lucas 10:1)
O texto começa dizendo que Jesus designou e enviou os setenta. No grego original, a palavra enviar é
apostelló, de onde é originário o termo apóstolo. Aqui, não iremos nos referir à função de apóstolo que
é exercida inicialmente pelos 12, depois por Matias e Paulo no Novo Testamento (Atos 1:26; Romanos
11:13; 1 Coríntios 5:5-9). Se focarmos na etimologia do termo, todo missionário é um apóstolo, porque
é um enviado.
Assim, os missionários são apóstolos, não como os doze (ou catorze), mas no sentido de serem
comissionados pelo próprio Deus para a pregação do evangelho. Se foram enviados, seus ministérios
contam com a apostolicidade bíblica.
Portanto, se estamos avaliando a possibilidade de investir num jovem da igreja, por exemplo,
para que este se dirija ao campo missionário, precisamos analisar, antes de enviá-lo, se Cristo o enviou. Essa é a grande pergunta: quem o enviou? O coração de Cristo é indubitavelmente voltado para
missões, e Ele comissiona toda a igreja para o cumprimento desta obra. Mas Ele envia especificamente
alguns. Terá Ele enviado a pessoa que está sendo por nós re-encaminhada? Essa será sempre uma pergunta necessária.
A Grande Comissão é dada à igreja, através dos apóstolos, e não a indivíduos. A apostolicidade
do envio missionário é crucial: Deus é quem envia, e o faz através da igreja. Não há projetos missionários autônomos, à parte da igreja de Cristo, que sejam aprováveis biblicamente. É preciso sondar,
portanto, se é Cristo que está enviando e se é a igreja que está homologando.
Na Bíblia, há alguns exemplos de empreendimentos ministeriais sem apostolicidade. O caso do
jovem Moisés é um dos mais chocantes. Ele se viu como uma espécie de enviado por Deus para julgar
os egípcios e, como uma espécie de justiceiro, livrar seu povo do jugo da escravidão. Por conta desse
“auto-envio”, ele toma uma decisão equivocada e mata um egípcio, quando vê que este oprimia um de
seus conterrâneos hebreus. No dia seguinte, sua vocação é confrontada: “Quem o nomeou líder e juiz
sobre nós?” (Êxodo 2:14). Por não ter sido enviado por Deus, nem mesmo pelo povo de Deus, ele foi
desmascarado e envergonhado pelo inimigo. Precisou fugir.
Quando o povo de Jerusalém vivia cativo em Babilônia, Deus escreveu através de Jeremias uma
carta ao povo (Jeremias 29). Na carta, ele aponta que vários profetas vinham surgindo no meio do
povo, em pleno cativeiro, profetizando libertação precoce e atraindo assim o povo com suas promessas
descabidas. A resposta de Deus é clara: “Não deixem que os profetas e adivinhos que há no meio de vocês os enganem. Não dêem atenção aos sonhos que vocês os encorajam a terem. Eles estão profetizando mentiras em meu nome. Eu não os enviei, declara o Senhor” (Jeremias 29:8-9). Deus jamais haverá
de homologar propostas ministeriais sem apostolicidade.
Ainda, no Novo Testamento, há um episódio que talvez seja, dentre todos, o mais embaraçoso.
Sete jovens estabeleceram-se como exorcistas, e se auto-enviaram para um ministério de libertação.
Certo dia, sua apostolicidade foi posta à prova pelo próprio demônio:
Alguns judeus que andavam expulsando espíritos malignos tentaram invocar o nome do Senhor
Jesus sobre os endemoninhados, dizendo: “Em nome de Jesus, a quem Paulo prega, eu lhes ordeno que
saiam!” Os que estavam fazendo isso eram os sete filhos de Ceva, um dos chefes dos sacerdotes dos
judeus. Um dia, o espírito maligno lhes respondeu: “Jesus, eu conheço, Paulo, eu sei quem é; mas vocês,
quem são?” Então o endemoninhado saltou sobre eles e os dominou, espancando-os com tamanha
violência que eles fugiram da casa nus e feridos. (Atos 19:13-16).
A apostolicidade ministerial é o envio claro de Deus, testificado pela igreja. Sem apostolicidade,
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o ministério sofrerá danos. Não há resistência, não há anticorpos, não há verdade, não há coerência. A obra missionária já é suficientemente difícil quando há envio. Falaremos adiante sobre a dureza do campo e a seriedade que o mesmo demanda. O envio não é facultativo, mas mandatório.
Cumplicidade
“Depois disto, o Senhor designou outros setenta e os enviou de dois em dois” (Lucas 10:1)
Na sequência do mesmo versículo, Lucas afirma que Jesus enviou os missionários “de dois em
dois”. Se pensarmos estrategicamente, talvez fosse mais coerente que Jesus tivesse enviado cada missionário para uma cidade, pois o alcance teria sido maior. Mas o Mestre se preocupa com a qualidade
da obra e dos obreiros.
No caso da apostolicidade, ao ser enviado pela igreja, o missionário vê a igreja “por cima” dele,
como sua cobertura. A cumplicidade, porém, é outro tipo de relação. O missionário vê pessoas ao seu
lado, não somente por cima. Cada vez mais, a obra missionária só tem sido admissível dentro do conceito de equipe e parceria.
A cumplicidade ajuda a manter foco, auxilia na prestação de contas, evita que o obreiro seja
vencido pelo pecado. Em muitos casos, grandes líderes que caíram estavam caminhando sozinhos.
Em qualquer contexto o ministério é árduo, e as dificuldades são potencializadas em campo missionário. Através do exercício da cumplicidade espiritual, temos que nos diga ‘sim’ nos acertos e ‘não’ nos
erros. Pecados, equívocos e muitas crises podem ser evitadas. Quando um cair, lá estará o outro para
levantar (Eclesiastes 4:10). A cumplicidade é uma característica do envio de Cristo, e Ele quer que trabalhemos em segurança no ministério.
Recapitulando…
• No grego original, a palavra apostelló quer dizer enviar.
• Afirmar que a missão precisa ser realizada com apostolicidade significa dizer que somente a
igreja de Cristo tem a autonomia de efetuar a obra missionária.
• Outra condição importante para a efetivação da obra missionária é a cumplicidade.
• A cumplicidade ajuda a manter foco, auxilia na prestação de contas, e evita que o obreiro seja
vencido pelo pecado.
3. A RESPOSTA
Como cada cristão precisa REAGIR?
Ainda observando o texto de Lucas 10:1-9, podemos afirmar que todo cristão deve reagir às
instruções missionárias de Cristo. Nossa reação positive deve expressar nossa disponibilidade, e ressaltar nossa prioridade. Como se segue abaixo.
Disponibilidade
“Rogai ao Senhor da Seara que mande trabalhadores para Sua seara. Ide!” (Lucas 10:2 e 3)
É comum ouvirmos nas conferências missionárias o discurso de que podemos contribuir com a
obra missionária de três maneiras, a saber, indo, orando ou investindo financeiramente. Esse “desafio
tri-partido” não deixa de ser verdadeiro, considerando que há mesmo essas alternativas. Mas a igreja
deve responder à obra missionária com disponibilidade plena, com todas as oportunidades que se
fizerem presentes.
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Em Lucas 10, conforme temos analisado, Jesus está reunido com os seus missionários desejando enviá-los. No versículo 2, Ele denuncia que há poucos trabalhadores no campo. Mas o coração
de Jesus pulsa por missões. Então ele pede que orem. Para a surpresa geral, porém, a intercessão não
termina aí, pois Ele pede um envolvimento prático. “IDE!” – é assim que começa o versículo seguinte
(v.3).
Se fosse numa das nossas conferências de hoje em dia, talvez alguém tivesse levantado e dito:
“Ué, mas o meu papel era só orar. E orei para que outro fosse!”. Mas está justamente aqui a questão. Jesus quer enviar pessoas que sirvam de resposta para sua própria oração. Pessoas que amem o campo,
que sejam apaixonadas pelos perdidos, que orem e chorem pela causa, mas que estejam dispostas a
abdicar de toda uma vida em função do projeto do Reino de Deus. Essa é a verdadeira disponibilidade
missionária.
Há muitas pessoas que estariam dispostas a orar por missões, a dedicar até alguns dias de suas
férias, ou a investir recursos. Mas não são todos que entregariam os filhos para uma obra missionária
integral e (humanamente) inglória. O desafio de Jesus é que, ao envolvermo-nos com a obra missionária, o envolvimento seja integral.
Precisamos e devemos orar por missões, mas temos que estar preparados para arcar com esse desafio
dispndo da nossa própria vida. Respaldados pelo conceito de intercessão, alguns se sentem no direito
de orar sem se entregar. A Bíblia não apresenta essa opção. A oração intercessória é uma tarefa básica
e natural de todo crente. Mas a Grande Comissão é uma conclamação vocacional legítima. O chamado
já está lá. Não é para alguns, é para a igreja. É preciso estar disposto e disponível para o seu cumprimento. O coração de Jesus é missionário, e Ele irá utilizar-se das pessoas que orarem com esse mesmo
coração.
Prioridade
“Não levem bolsa, nem saco de viagem, nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho.”
(Lucas 10:4)
No episódio do envio dos setenta, Jesus orienta seus missionários a não levarem nada que lhes
servisse por distração, mas que viajassem na simplicidade da roupa do corpo para cumprirem sua
missão. Ele ordena até mesmo que eles não parem pelo caminho para conversar excessivamente, mas
que cheguem direto às cidades onde estavam sendo enviados.
Jesus não era anti-social. Ele não está propondo que essas pessoas não se relacionem. Pelo
contrário, há momentos na Bíblia em que Jesus simplesmente parou para conversar. João capítulo 4 é
um bom exemplo disso: ele conversa por muito tempo com a mulher samaritana. No fim do evangelho
de Lucas, ele caminha com dois discípulos por vários quilômetros, na direção de Emaús, conversando
e compartilhando. Jesus era relacional e travava diálogos.
Mas aqui, ele dera aos seus comissionados uma tarefa. A tarefa era clara, direta. Não havia tempo a perder. Ele sabia que o seu tempo de ministério seria curto e que Ele haveria de aproveitar ao máximo cada dia. Portanto, ele instaura sobre os missionários esse senso de emergência – não deveriam
parar, teriam de vencer qualquer proposta de morosidade e mergulhar na tarefa. Teriam de manter a
prioridade sobre aquilo que Ele designara.
Prioridade é a palavra, visto que o ministério é tão repleto de distrações. Por um lado há sempre a
dimensão do pecado, que distrai e rouba o foco daqueles que, um dia, se propuseram a cumprir a vontade de Deus. Missionários e pastores já se distraíram com relações extra-conjugais, com problemas de
ordem financeira, com crises de poder e assim por diante. Mas essas são as distrações mais óbvias, sobre as quais todos os ministros devem estar cientes mesmo antes do início de seus ministérios. Muitos
livros, grupos de apoio e esforços diversos têm sido deliberados em torno dos perigos da vida pastoral
e ministerial. Glorifico a Deus porque muito se tem falado nisso, o que nos serve de alerta.
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Há outro perigo grave na vida de pessoas que se envolvem com missões. Esse problema nem
sempre é visto como um problema. Muitas vezes vemo-no positivamente, mas é extremamente perigoso. Trata-se da falta de foco ministerial. Pela graça de Deus, muitos vocacionados não têm caído em
adultério nem se envolvem em escândalos financeiros. Mas ainda assim se distraem, visto que não
conseguem concluir tarefas ministeriais, fechar ciclos, concretizar sonhos, porque sempre um outro
desafio surge no caminho.
Portanto, uma das distrações mais vorazes de alguns ministérios são outras propostas ministeriais, fora da vocação. Qualquer projeto ou ministério que esteja fora do chamado específico de Deus
na nossa vida pode acabar roubando nossa prioridade, e tirando de nós a paixão missionária.
Recapitulando…
• Precisamos estar dispostos e disponíveis para o cumprimento da Grande Comissão.
• Muitos têm se distanciado do propósito de Deus para suas vidas por falta de foco.
• Há muitas distrações no ministério, e nem todas elas são necessariamente pecaminosas. Ainda assim, nos distraem no que tange ao cumprimento da obra que Deus tem para nós.
• Uma das distrações mais vorazes de alguns ministérios são outras propostas ministeriais, fora
da vocação.
4. O CHAMADO
Entendendo a Questão do Chamado
“Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando
em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes
suplicamos: Reconciliem-se com Deus”. (2 Co.5:18-20).
“Vocação” (do latim evocare) é o mesmo que “chamado”. É a razão para a qual nós fomos efetivamente criados por Deus. Deus nos dá condições de realizar e efetivar tarefas e projetos, através dos
dons e virtudes que nos concede. Mas a vocação é a direção rumo ao cumprimento do nosso propósito
de vida; ela é abrangente – diz respeito ao que nós somos diante de Deus, dos homens, no tempo e no
espaço. É a nossa resposta positiva acerca da utilização dos recursos que Ele nos deu.
Há alguns conceitos básicos sobre o chamado cristão. Atentemos para alguns deles:
1. O chamado ministerial ocorre como parte do chamado salvífico. É muito importante que
saibamos disso. O correto não seria pensar que Deus nos livra do inferno num determinado dia, quando o aceitamos, e anos depois Ele pode (ou não) chamar-nos para o ministério. Na Bíblia, o chamado
ministerial caminha junto com a vocação salvífica. Ou seja, precisamos compreender que, na Escritura,
ser chamado para a salvação já implica num chamado para salvar outros. Quem foi reconciliado foi
chamado também para reconciliar, e isso ocorre no mesmo evento (2 Co.5:18-20).
O professor Américo Justiniano Ribeiro afirma:
“Vocação é o chamado de Deus ao homem para que ele, primeiramente, se torne parte do corpo de
Cristo, que é a igreja, e, em segundo lugar, para que o sirva em todas as suas relações com o próximo”.
2. Todo crente é um sacerdote, porque possui um ministério. Obviamente, se o chamado ministerial não ocorre na vida do cristão como um segundo evento, mas já faz parte do “pacote” da salvação,
então não há como ser crente em Jesus e não ter um chamado.
Um dos valores mais celebrados e doutrinariamente básicos da igreja cristã é o conceito do
sacerdócio universal dos crentes. Na Idade Média, a igreja católica estabeleceu de forma acentuada a
distinção entre clérigos e leigos, criando uma classe sacerdotal à parte. Foi nesse tempo que os “sacer-
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dotes” passaram a gozar de direitos exclusivos referentes à ministração dos sacramentos, por exemplo. O papel do cristão cotidiano, não ordenado, limitou-se muitas vezes a assistir aos cultos ou
missas.
A proposta bíblica, no entanto, é outra. Desde o Antigo Testamento, embora houvesse certa
ênfase na tribo de Levi no que diz respeito ao exercício sacerdotal, todo o povo de Israel por vezes é
conclamado a viver e exercer seu papel sacerdotal (Êxodo 19:5-6 e Isaías 61:6).
No Novo Testamento, o sacerdócio é demandado de forma ainda mais veemente:
“Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” (I
Pedro 2.5).
Um dos pontos centrais do pensamento reformado, oriúndo da Reforma Protestante do século
XVI, é o Sacerdócio Universal do Crente. Ou seja, todo cristao possui um ministério, em todos os lugares da Terra, e em todas as épocas.
3. Tudo aquilo que é executado para a Glória de Deus e para o serviço ao próximo será um
desdobramento vocacional. Em qualquer forma de trabalho, mesmo considerando aquilo que se faz
profissionalmente, nosso chamado pode ser exercido. No cotidiano, o cristão pode estar trabalhando
na construção do Reino na Terra (1 Cor. 10:31).
Em uma de suas obras sobre o tema vocacional, o professor Greg Clapper afirma que os cristãos
são todos chamados, independente do que façam. Isso ocorre porque somos chamados para Deus, não
para qualquer tarefa ou trabalho.
“Todos os cristãos têm um chamado – o chamado para Deus. Nenhuma circunstância do mercado de empregos ou da economia nacional podem impedir-nos de cumprir esse chamado. Esta verdade
implica que um foco específico da nossa energia – quer uma profissão, carreira ou tarefa em particular –
pode ser concomitante com nosso chamado ou mesmo expressar nosso chamado, mas nunca será idêntico
ao chamado em si... Cristãos não são chamados prioritariamente para fazer alguma coisa ou para ir a
algum lugar, somos chamados a Alguém”.
Recapitulando…
• Na Bíblia, vocação e chamado possuem significados semelhantes.
• Talentos e dons são atributos dados por Deus. Chamado é a direção que se dá a esses atributos.
• Quando você é salvo do inferno, você também é salvo de uma vida sem propósitos, pois seu
chamado ministerial já vem como parte do projeto de salvação.
• Não é admissível que um cristão não tenha um chamado.
• Apesar disso, é possível que não se conheça especificamente esse chamado.
• O chamado pode ser exercido no cotidiano, pois todo cristão é um sacerdote.
• O chamado não é exercido somente por pastores e missionários. O sacerdócio pode ser exercido no mercado de trabalho, na vizinhança ou em qualquer outro campo missionário.
5. O PAPEL
Chamado Específico: Como identificar?
A essa altura você já aprendeu que, necessariamente, todo cristão possui um chamado. Servir a
Deus faz parte do maravilhoso presente que é a salvação. No entanto, é comum que muitos não consigam distinguir a especificidade de seu chamado com tanta facilidade. Essa tem sido a crise de muitos.
Seguem, portanto, cinco afirmações sobre o chamado específico. Vale dizer que essas afirmações não são normativas, nem devem ser usadas isoladamente para definir a vocação de alguém. Mas é
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provável que lhe ajudem a discernir o tipo de ministério ao qual Deus lhe tem convocado.
Ao encontrar meu Chamado Específico, alcanço um senso de propósito
É aquilo que me faz perceber que, independente da suposta grandeza da atividade, eu sou
relevante na confecção e concretização do plano de Deus na história. Pode ser a atividade mais simples
do mundo, mas faz-me sentir como se eu estivesse no topo do mundo. Faz-me sentir honrado, como se
o Deus absoluto expressasse Sua glória incomparável, em parte, através de mim. Posso ser chamado
para enrolar cabos de microfone ou repor água no púlpito para o pregador – não importa! A vocação
faz com que eu me sinta parte integrante do plano salvífico de Deus para a humanidade.
A vocação específica é essa voz que me diz: “Que bom servir assim! Nasci pra isso!”.
Chamado Específico é o que eu faço naturalmente, sem precisar de grandes estímulos, ordens
ou esforços
É algo automático, e não mandatório, que eu incluiria no meu cotidiano com facilidade, sem
precisar forçar. Minhas aptidões desembocam naturalmente no cumprimento do meu chamado. Nas
palavras de Aristóteles, “onde uma necessidade do mundo e os seus talentos se cruzarem, aí está
sua vocação”.
Por mais que um servo de Deus aceite todos os desafios que lhe são propostos, há tarefas que
exigem menor esforço, por se tratarem de características naturais do indivíduo. O desgaste é menor,
porque é natural. E muitas vezes é natural, porque é um chamado.
Chamado Específico é quando um problema do mundo me tira o sono.
Chamado Específico é o que eu faria ainda que precisasse pagar para fazer
A vocação é aquilo que me faz responsável por uma necessidade, uma demanda ou um problema do mundo. Nem todas as necessidades globais vão me tirar o sono. Mas há causas específicas que
fazem o coração pesar de maneira especial.
Alguns se sentem responsáveis por resolver o problema da fome no mundo. Outros se sentem responsáveis por recuperar usuários de drogas. Outros podem sentir grande peso no coração por missões aos
índios. Isso pode caracterizar um chamado específico.
Esse “peso” que espreme o coração em torno de uma causa pode se manifestar de diferentes
formas. A causa pode ser geográfica: há pessoas que sentirão dor pelos que morrem sem Deus na África, mas não sentirão o mesmo quanto a Ásia. A causa pode ser ainda referente à sua natureza: alguns
podem sentir dor no peito ao ver meninos de rua, enquanto outros sentem desespero ao ver mulheres
se prostituindo. E Deus usa a todos quantos chama para os mais diversos desafios.
Aqui, é importante configurar a diferença básica entre profissão e chamado. Essas duas realidades são discernidas pelo fator financeiro. Sim, dinheiro determina, e muito, aquilo que desejamos ser,
viver e fazer. Até mesmo no próprio ministério, há muitas tarefas que configuram parte das atribuições
profissionais de um ministro. Há pastores, por exemplo, se reunem para tratar de assuntos contábeis,
embora muitas vezes o façam somente porque seu trabalho exige aquilo. Não haveria problema em
afirmar que, nesse caso, fazem porque ganham para fazer. São os chamados “ossos do ofício”.
Mas há tarefas que faríamos ainda que pagássemos para fazer. Aliás, muitos pagam altíssimo
preço para realizá-las. Enquanto há outras que, honestamente, nem pagando! Assim, tarefas que nos
causam esse despreendimento, essa capacidade de agir sem pensar no que estamos recebendo em
troca, e que nos levariam até a investir o que temos para concretizá-las, configuram nossa vocação
específica.
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Quando exerço meu Chamado Específico, pessoas glorificam a Deus
Aqui, não se trata da aprovação de homens. A bajulação não representa uma vocação. Dizer que
alguém canta bem não quer dizer necessariamente que ele seja ou não chamado por Deus para ser um
ministro de adoração.
No entanto, há tarefas que, quando executamos, o mover de Deus pode ser notado com maior
clareza. Isso ocorre independente de mim, mas por ação exclusiva da graça de Deus. E, consequentemente, as pessoas atestam e respondem. Deus usa, sim, a reação dos homens para aprovar ministérios.
É possível perceber, pela reação das pessoas e a aprovação da igreja, até que ponto Deus está ou não
atestando um chamado específico.
Deus é a fonte da vocação!
Assim como a salvação eterna, o chamado é também fruto da graça de Deus. Ninguém jamais
mereceu ou merecerá ser chamado ou usado por Ele, mesmo para os menores ofícios. Ao chamar-nos,
Ele desconsidera nossos deméritos, limitações e equívocos, e simplesmente confia-nos Sua palavra e o
ministério. A vocação é um gesto de confiança de Deus para conosco (2 Co.5:19). Ele também não leva
em conta nosso histórico pecaminoso, como claramente é o caso do apostolo Paulo (At.9:15-16).
Recapitulando…
• Ao encontrar meu Chamado Específico, alcanço um senso de propósito
• Chamado Específico é o que eu faço naturalmente, sem precisar de grandes estímulos, ordens
ou esforços
• Chamado Específico é quando um problema do mundo me tira o sono
• Chamado Específico é o que eu faria ainda que precisasse pagar para fazer
• Quando exerço meu Chamado Específico, pessoas glorificam a Deus
6. A COMUNICAÇÃO
Princípios de Contextualização
“Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido” (Lucas 10:8)
No texto de nossa análise (Lucas 10), Jesus transmite princípios elementares para a realização
da obra missionária. No v.8, uma instrução específica chama a atenção. Jesus prevê que os discípulos
teriam de lidar com uma gastronomia diferente, proveniente de culturas com as quais eles não estavam acostumados. Mas do que uma preocupação gastronômica, Jesus aqui estabelece um dos mais
importantes princípios missiológicos, a saber, a contextualização.
Os judeus observavam inúmeras regras alimentares. Além disso, possuíam também seus hábitos e preferências. Jesus os instrui a simplesmente comer o que lhes fosse oferecidos. Saindo do campo da alimentação, podemos afirmar que, numa cultura diversa à nossa, elementos estranhos serão
expostos diante de nós, ou oferecidos à nossa mesa.
A essa altura você já aprendeu que, necessariamente, todo cristão possui um chamado. Servir a
Deus faz parte do maravilhoso presente que é a salvação. No entanto, é comum que muitos não consigam distinguir a especificidade de seu chamado com tanta facilidade. Essa tem sido a crise de muitos.
E é uma tarefa muito difícil abrir mão de meu próprio costume por conta dos valores de outra cultura.
Lloyd E. Kwast diz que “ninguém jamais conseguirá se divorciar de sua própria cultura”. É justamente
por isso que trata-se de um processo doloroso.
A contextualização, na verdade, é um ato de amor. Cristo abriu mão de toda a sua condição di12 ||
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vina para adentrar o contexto humano e comunicar-nos a verdade (Filipenses 2:5-11). Trata-se desse
ato de esvaziar-se. E é uma necessidade crucial na pregação, tanto em contexto transcultural quanto
em nossa própria cidade.
Até que ponto devemos contextualizar?
Qual é o critério?
Embora o tema da Contextualização seja vasto, e demande pesquisas e estudos constantes e
densos, poderemos sumarizar alguns princípios importantes aqui. Há três formas básicas de interagirmos com um fator cultural diferente do nosso. Observemos os conceitos de assimilação, absorção e
contraposição.
A assimilação é quando o fator cultural que difere do missionário é totalmente abraçado por
ele. Quando o comunicador começa a vestir-se ou desnudar-se como o ouvinte, no intuito de aproximar-se. Notemos que a contextualização possui limites, já que jamais nos desvencilharemos daquilo
que originalmente somos. A assimilação é a amorosa tentativa de, ao máximo possível, parecer-se com
aqueles a quem anunciamos o evangelho.
A absorção é semelhante à assimilação, mas um pouco menos corajosa em termos de adaptação
cultural. É quando o missionário decide não agir em total acordo com aquela diferença cultural, mas
tolera a diferença e não atenta para ela como um ponto desagregador. Trata-se de compreender aquele
fator cultural sem necessariamente adequar-se a ele.
Por ultimo, a contraposição é o ato do missionário de combater aquele fator cultural, quando
se conclui que trata-se de um erro, de algo que diminui o ser humano ou desonra a Deus. Até mesmo
a contraposição deve ser exercida com amor e sensibilidade cultural, sem violência e sem a presunção
de que um fator cultural arraigado numa cultura há anos será abolido em pouco tempo.
A grande questão, portanto, é: o que determina qual dos três caminhos devemos tomar, quando
nos deparamos com um fator cultural diverso? Qual o critério para dizer se devemos agir com assimilação, absorção ou contraposição? Embora a prática dessa resposta seja difícil, a resposta é extremamente é simples. A Bíblia é o critério. A Escritura Sagrada é a cultura magna. Ela determina aquilo que
pode ou não ser abraçado culturalmente.
Embora todas as culturas sejam valiosas, e os fatores culturais sejam fruto da diversidade que
Deus deu à raça humana, todos fomos criados à imagem de Deus, e essa deveria ser nossa cultura
primária (Gênesis 1:27). A verdade não é subjetiva, nem pode ser subordinada a fatores culturais. A
verdade é absoluta (João 17:17). Além disso, há um padrão moral ao qual todos os povos de todas as
culturas serão subordinados (Apocalipse 20:11-12).
Há muitos fatores culturais que podem ser passíveis de diferentes interpretações bíblicas, como
questões referentes a piercing, tatuagens, enfeites no corpo, etc. Há outros, porém, que contam com
clareza bíblica e que precisam ser combatidos pela força missionária. A Bíblia é clara quanto ao trato
com crianças, por exemplo. O infanticídio indígena, embora aceitável em diversas etnias brasileiras,
contrapõe-se radicalmente ao projeto de Deus para a humanidade.
Contextualização X Secularização
A contextualização sofre um grave risco: ser confundida com a secularização. Contextualizar
é observar a cultura receptora, respeitando-a ao máximo, abraçando os fatores culturais viáveis, sem
distorcer, em nenhum momento, os conteúdos basilares da Bíblia Sagrada. Na tentativa de ser aceito
pelo povo em questão, o missionário não pode negociar verdades eternas.
Por outro lado, a secularização acontece quando a fé deixa de influenciar o mundo e passa a
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ser influenciada por ele. Em nome da aceitabilidade e da comunicação cultural, há muitos que passam
adiante uma mensagem adaptada, com variações questionáveis, distinta do verdadeiro evangelho do
Reino. Isso precisa ser evitado sob qualquer circunstância.
Recapitulando…
• Ninguém jamais conseguirá se divorciar de sua própria cultura.
• A contextualização é um ato de amor. Contextualizar é observar a cultura receptora, respeitando-a ao máximo, abraçando os fatores culturais viáveis.
• Ao lidar com um fator cultural diferente do seu, o missionário possui três opções básicas no
que diz respeito à contextualização: assimilação, absorção e contraposição.
• O critério determinante acerca de qual dos 3 caminhos de contextualização deve ser utilizado
é a Bíblia.
• A contextualização é diferente da secularização, pois esta negocia e compromete características basilares da verdade bíblica.
7. A TAREFA
O Conceito de Missão Integral
“Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: a vós outros está próximo o Reino de Deus”
(Lucas 10:9)
Em Lucas 10:9, Jesus deixa claro tudo o que os seus enviados deveriam fazer em cada vila e
cidade onde chegassem. A tarefa consistia em 2 atos: curar os enfermos e anunciar o Reino. O Reino
de Deus aqui pode ser entendido como toda a amplitude da riqueza espiritual de Deus, transmitida ao
mundo a partir da Sua igreja. O Reino é o céu, a possibilidade de salvação e de vitória sobre o pecado.
Anunciar o Reino é pregar o evangelho puro da esperança, confrontando o homem corrompido
e mostrando que há somente Um Caminho. A mensagem do Reino é a mensagem do Cristo crucificado.
Mas o anúncio do Reino, nas palavras de Cristo, deveria ser acompanhado do ato de curar enfermos. Isso não minimiza o valor da mensagem do Reino, nem a torna insuficiente. Mas é incoerente.
Se a proposta do Reino é dar vida, não faz sentido que esta vida refira-se somente à eternidade. Jesus
curava pessoas sim, porque não estava preocupado somente com seu crescimento espiritual. Ele veio
para trazer vida abundante (João 10:10), o que pode ser traduzido como vida em qualidade.
Portanto, a tarefa da igreja é integral. O evangelho do Reino é inegociavelmente nossa prioridade, mas não é nossa única preocupação. Precisamos trazer vida aos lugares onde o Reino de Deus não
se estabeleceu cabalmente ainda. Onde falta esperança, nossa mensagem precisa conter mais do que
meras palavras.
Somente o Evangelho vence a Pobreza
Os países menos alcançados pelo evangelho no mundo de hoje são também países muito pobres. A necessidade de pregação do evangelho nessas áreas precisa ser acompanhada por gestos
práticos de amor, que devolvam a dignidade aos seres humanos e que complementem esta ação revitalizadora da pregação. Como já dissemos no primeiro capítulo, os recursos disponíveis no mundo não
atendem a população global, pessoas morrem há vários anos das mesmas doenças, a educação é um
desafio mundial e poucos possuem água e saneamento.
Há várias palavras para POBRE no texto bíblico original (hebraico e grego). No Antigo Testamento, há cinco palavras mais utilizadas:
- CHACER (36 vezes) – Alguém a quem falta alguma coisa. Pode tartar-se de falta de comida (Jó 30:3)
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ou mesmo de sabedoria .
- RUWSH (31 vezes) – A esse pobre, faltam posses. Geralmente refere-se à ausência de terras ou moradia (2 Sam. 12:1-4).
- DAL (57 vezes) – Provavelmente, a pobreza mais física de todas, referente à ausência de condições de
vida, como alimento e água potável (Ex. 23:3; 1 Sm 2:8; Is. 26:6).
- ANIY (80 vezes) – Oprimido, vítima de algum tipo de agente destruidor, como a Guerra (2 Sam. 22:28;
Sl. 9:18).
- EBYOWN (61 vezes) – Necessitado, dependente, aquele que não possui recurso próprio. Oprimido de
alma (Am. 4:1; Is. 14: 30; Is. 25:4). Alguém com problemas espirituais, que precisa de libertação.
De todos os termos mencionados acima, tomaremos a última, a saber, EBYOWN. No texto de
Deuteronômio 15:4, podemos ver o termo presente: “Para que entre ti não haja POBRE; pois o Senhor,
teu Deus, te abençoará abundantemente na terra que te dá por herança, para a possuíres”. Deus não
deseja que a pobreza “ebyown” esteja presente na vida de seu povo. E isso tem a ver com o significado
do termo.
O pobre EBYOWN é vítima de uma pobreza conceitual, de alma. Ele não crê em si mesmo, não
vê potencial de vida, de mudança e de transformação. Ainda que lhe dêem dinheiro, é provável que em
nada melhore sua visão de si mesmo.
Somente o evangelho pode fornecer ao ser humano uma visão adequada do que Deus tem pra
nós. Esse evangelho do Reino, da esperança e da eternidade, precisa estar alicerçado nas Escrituras,
mas precisa ser respaldado por transformação de mentalidade e cultura. Cada vez mais, a obra missionária demanda iniciativas de desenvolvimento comunitário, que trate do homem em sua integralidade.
Afinal, Jesus não nos mandou “ganhar almas”. Ele nos enviou para fazer discípulos, os quais são homens e mulheres que possuem necessidades integrais.
Recapitulando…
Em Lucas 10:9, Jesus manda que seus missionários curassem os enfermos e anunciassem o
Reino. Isso não retira do Evangelho do Reino sua legitimidade e suficiência, mas o credencia como um
projeto integral.
Em geral, os países menos alcançados pelo evangelho no mundo de hoje são também países
muito pobres. A pregação precisa ser acompanhada da ação transformadora.
Mais de 2 bilhões de pessoas têm acesso restrito a água potável e saneamento básico.
Há cinco palavras principais para o conceito de POBRE no Antigo Testamento: CHACER, RUWSH, DAL,
ANIY e EBYOWN. Esse último termo diz respeito ao oprimido de alma, necessitado espiritual, que precisa renovar sua mentalidade e passar por libertação.
Somente o evangelho pode erradicar a pobreza EBYOWN.
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