UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE IANANDA BARBIERI ORTIZ TRANSTORNOS MENTAIS EM UMA INDÚSTRIA DE ABATE DE AVES DA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA CRICIÚMA, JANEIRO DE 2010 1 IANANDA BARBIERI ORTIZ TRANSTORNOS MENTAIS EM UMA INDÚSTRIA DE ABATE DE AVES DA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr Felipe Dal Pizzol Co-Orientador: Prof. Dr João Quevedo CRICIÚMA, JANEIRO DE 2010 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação O77t Ortiz, Iananda Barbieri. Transtornos mentais em uma indústria de abate de aves da região Sul de Santa Catarina. Iananda Barbieri Ortiz ; orientador : Felipa Dal-Pizzol ; co-orientador : João. Quevedo. - Criciúma : Ed. do Autor, 2010. 78 f. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo Sul Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Criciúma (SC), 2010. 1. Doenças mentais. 2. Saúde do trabalhador. 3 Saúde ocupacional. 4. Epidemiologia psiquiátrica. 5. Agorafobia. I. Título. CDD. 21ª ed. 613.62 Bibliotecária Eliziane de Lucca – CRB 1101/14ª Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC 3 4 AGRADECIMENTOS A Deus, por me iluminar todos os dias e colocar em meu caminho pessoas como: O Professor Dr. Felipe Dal Pizzol, meu orientador e grande incentivador desta pesquisa, que foi o norte do meu rumo nesta caminhada até aqui. O Professor Dr. João Quevedo, co-orientador que impediu que eu abandonasse essa caminhada sem tê-la findado. Aos pacientes que aceitaram participar deste estudo e contribuir para o conhecimento. Ao Sr. Sinésio Volpato, muito mais que um empreendedor de sucesso: um visionário, um sonhador e um amante da pesquisa e do conhecimento. Aos colegas que se prontificaram a ajudar: Graziela, Liliane, Cassiana, Tina, Silvana, Adriana, Daiani, Deivid, Ágata e especialmente ao Lucas, incansável e prestativo. À minha amiga Rosana, parceira de todas as horas, cujas longas conversas tornaram esta jornada mais leve. Ao meu marido Ricardo, pela paciência nas longas horas de estudo, pelo apoio e parceria e por acreditar que eu conseguiria. E especialmente aos meus filhos, Júlia e Henrique, que mesmo tão pequenos e bem cuidados pela Vivi (um anjo em nossas vidas), foram por muitas vezes privados de minha presença física, porém nunca emocional e espiritual, e que um dia entenderão a magnitude deste esforço. Que eles também aprendam ao longo da vida que somente através de esforço, disciplina, amor ao próximo e muito trabalho é que se alcança o sucesso na vida. Muito obrigada! 5 RESUMO Os transtornos mentais, especialmente os depressivos, constituem um grave problema de saúde nas empresas devido a sua alta prevalência, impacto econômico e psicossocial. Diversos fatores ocupacionais têm sido relacionados a doenças mentais, em diferentes tipos de atividades. Entretanto estudos mostram etiologia variada, indo desde os fatores orgânicos até os essencialmente psicológicos. Pacientes com transtornos mentais costumam frequentar serviços de atendimento primário, porém nem sempre são diagnosticados. O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de transtornos mentais em duas amostras populacionais que procuraram um serviço de cuidados primários: em uma indústria de processamento de aves e em uma Universidade da região sul de Santa Catarina (UNESC). Foram avaliados 103 usuários de serviços de cuidados de saúde primários em uma indústria de processamento de aves (grupo Empresa) e 25 usuários de um ambulatório geral da Universidade (grupo UNESC). Foi aplicado um questionário, em entrevista única, para avaliar perfis econômico-demográfico, ocupacional e psicossocial dos pacientes e também aplicado o teste M.I.N.I. Plus versão 5.0.0 para diagnóstico dos transtornos mentais. A idade média dos respondentes foi 29 anos e a maioria mulheres para ambos os grupos. As principais prevalências encontradas no grupo Empresa foram: 35,9% depressão maior, risco de suicídio 33%, episódio maníaco/hipomaníaco 28,1%, agorafobia 21,4%, transtorno de pânico 12,6%, fobia social 11,7% e fobia sspecífica 10,7%. Sobre felicidade, 83,5% se sentem felizes no trabalho enquanto 77,7% se sentem felizes na vida. Não houve prevalência aumentada dos transtornos mentais mais comuns, entretanto houve para agorafobia. Já no grupo UNESC, as principais prevalências encontradas foram: 40% para episódio depressivo maior, 32% para risco de suicídio, 24% para episódio maníaco / hipomaníaco e 16% para Transtorno Obssessivo Compulsivo. As fobias não foram tão importantes quanto no grupo Empresa. Palavras-chave: Saúde mental do trabalhador, epidemiologia psiquiátrica, prevalência de transtornos mentais, indústria de aves, saúde ocupacional, agorafobia. 6 ABSTRACT Mental disorders, especially depression, are a serious health problem in companies due to its high prevalence, psychosocial and economic impact. Several occupational factors have been linked to mental disorders in different types of activities. However studies showed different etiologies, ranging from organic factors to the essentially psychological. Patients with mental disorders usually attend primary care services, but are not always diagnosed as suffering from such disorders. The aim of this study was to assess the prevalence of mental disorders in two population samples that seek primary care services: in a poultry processing industry and in a University in the southern region of Santa Catarina (UNESC). One hundred and three users of primary health care services in a poultry processing industry and twenty-five users in a control group of a University were analyzed. A questionnaire was applied in one single interview, to assess economic, demographic, occupational and psychosocial profiles of patients and also applied the test MINI Plus version 5.0.0 for the diagnosis of mental disorders. The average age of respondents was 29 years and most women in both groups.The main prevalence rates found in the Company Group (grupo Empresa) were: Major Depression 35.9%, Suicide risk 33%, Manic/Hypomanic 28.1%, Agoraphobia 21.4%, Panic Disorder 12.6%, Social Phobia 11.7% and Specific Phobia 10.7%. About happiness, 83.5% feel happy at work, while 77.7% feel happy in life. There was no increased prevalence of most common mental disorders, however there was for agoraphobia. In group UNESC, the main prevalence rates were 40% for major depressive episode, 32% for suicide risk, 24% for manic / hypomanic and 16% for Obsessive Compulsive Disorder. Phobias were not as important as the Company group. Keywords: Work-related mental ill-health, psychiatric epidemiology, prevalence of mental disorders, poultry industry, occupational health, agoraphobia. 7 LISTA DE ABREVIATURAS CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho CID - Código Internacional de Doenças CIDI - Composite International Diagnostic Interview CIS-R - Clinical Interview Schedule, Revised CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas DIS - Diagnostic Interview Schedule DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica DSM-III - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Third Edition DSM-IV - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition ECA - Epidemiologic Catchment Area EVPE - eventos de vida produtores de estresse HPQ - Health and Work Performance Questionnaire ICPE - International Consortium in Psychiatric Epidemiology INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social MINI - Mini International Neuropsychiatric Interview MPS - Ministério da Previdência Social – MPS NCS - National Comorbidity Survey NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário OPCS - Office of Population Censuses and Surveys OMS - Organização Mundial de Saúde QIDS - Quick Inventory of Depressive Symptomatology SUB - Sistema Único de Benefícios TDPM - transtorno disfórico pré-menstrual TEPT – transtorno de estresse pós-traumático TMC - transtornos mentais comuns TOC – transtorno obsessivo-compulsivo 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características sóciodemográficas ................................................................................................................. 31 Tabela 2 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características relacionadas ao trabalho .......................................................................................................................... 32 Tabela 3 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características psicossociais ........................................................................................................................................ 33 Tabela 4 - Diagnósticos segundo o Mini-International Neuropsychiatric Interwiew (MINIPLUS) ............................................................................................................................ 34 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11 1.1 Epidemiologia Geral dos Transtornos Mentais no Mundo ......................... 11 1.2 Epidemiologia dos Transtornos Mentais na população trabalhadora ...... 17 1.3 Epidemiologia dos Transtornos Mentais na população trabalhadora ...... 19 2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 25 2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 25 2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 25 3 METODOLOGIA .................................................................................................. 26 4 RESULTADOS .................................................................................................... 28 5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 35 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 52 7 REFERÊNCIaS ................................................................................................... 53 10 1 INTRODUÇÃO 1.1 Epidemiologia Geral dos Transtornos Mentais no Mundo Até a década de 80, a Epidemiologia Psiquiátrica estava apenas começando. Havia investigações que sugeriam que as doenças mentais existiam, porém não estavam sendo tratadas como poderiam. Entretanto, os estudos não podiam ser comparados entre si, pois usavam critérios diferentes para o diagnóstico dos transtornos mentais, os quais não eram claros o suficiente e permitiam mais de uma interpretação. O Estudo da Área de Captação Epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Mental (Epidemiologic Catchment Area – ECA) realizado por Robins e Regier (1991) foi a primeira grande pesquisa epidemiológica de base populacional nos Estados Unidos que utilizou critérios diagnósticos padronizados para a definição de transtornos psiquiátricos – o DIS (Escala de Entrevista Diagnóstica). O estudo ECA foi conduzido em cinco centros com uma amostra de aproximadamente 20 mil pessoas e seus achados indicavam que aproximadamente um quarto das pessoas, em algum momento da sua vida, apresentaria algum transtorno de ansiedade de acordo com os critérios do DSM-III - Manual Estatístico e de Diagnóstico dos Transtornos Mentais (APA, 1980). Assim, com a elaboração do DSM-III e a realização do estudo ECA, as definições dos critérios de diagnóstico em psiquiatria começaram a se tornar mais confiáveis e permitiram as comparações entre diferentes locais do mundo (Lima 2009). Enquanto o estudo ECA foi o primeiro a avaliar a prevalência dos Transtornos Mentais, na próxima década e também nos Estados Unidos, a Pesquisa Nacional de Comorbidade (National Comorbidity Survey - NCS) foi delineada para avaliar a 11 prevalência e fatores de risco com uma amostra significativa da população (Kessler et al, 1994). Os diagnósticos foram gerados a partir de uma versão modificada do CIDI Composite International Diagnostic Interview - Entrevista Diagnóstica Internacional Composta (Robbins et al., 1989), que por sua vez é baseada no DIS. Foram entrevistadas 8.098 pessoas, com idades variando entre 15 e 54 anos. A taxa de respondentes foi de 82,4%. Esse estudo mostrou que 56% das pessoas com transtornos mentais apresentavam alguma co-morbidade com outras condições psiquiátricas, sendo que os critérios diagnósticos foram baseados no DSM-III-R (APA, 1987). A Pesquisa Nacional de Morbidade Psiquiátrica na Grã-Bretanha (The National Survey of Psychiatric Morbidity in Great Britain and Office of Population Censuses and Surveys - OPCS) foi planejada para estudar a prevalência de transtornos psiquiátricos, mas também a extensão da incapacidade associada, comorbidades e utilização dos serviços de saúde (Jenkins e Meltzer, 1995; Mason e Wilkonson, 1996). Além disso, o objetivo também era investigar fatores precipitantes das doenças e suas associações com diferentes estilos de vida. A população-alvo constituiu-se de adultos com idades entre 16 e 64 anos, vivendo na Inglaterra, País de Gales e Escócia. Quatro amostras separadas foram entrevistadas: domicílios privados, uma amostra suplementar com pessoas sofrendo de psicose e vivendo em suas residências, instituições para doenças mentais e um quarto grupo incluindo pessoas sem domicílio fixo, vivendo na rua ou em instituições próprias para indivíduos sem moradia. Os diagnósticos foram gerados a partir de entrevistas utilizando o CIS-R (Entrevista Clinica Padronizada, Revisada). Os estudos epidemiológicos conduzidos nas últimas três décadas têm proporcionado uma compreensão mais ampla da ocorrência e do curso dos transtornos 12 mentais, bem como propicia um levantamento de informações sobre os prejuízos no funcionamento individual, familiar e social que estes transtornos mentais têm sobre a vida das pessoas e que servem como base para formulação de políticas públicas na área de saúde mental (Lima, 1999). O conhecimento da epidemiologia dos transtornos mentais complementa a investigação clínica, dando-lhe amplitude e dimensão temporal para uma adequada compreensão de sua história natural, não só pelos psicólogos e psiquiatras, como também pelos clínicos que usualmente lidam com estes transtornos nos serviços de atendimento primário à saúde (Lima, 1999). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 450 milhões de pessoas no mundo sofram de afecções neuropsiquiátricas, sendo que os distúrbios mentais têm prevalência em torno de 10% em adultos (Murray & Lopez, 2000). Há mais de 120 milhões de pessoas deprimidas no planeta e até 2020 a depressão, que hoje ocupa a quarta posição entre os principais motivos de incapacitação para o trabalho, alcançará a segunda posição (WHO 2008). O estudo transcultural realizado pela OMS em 14 locais distintos (Goldberg & Lecrubier, 1995) através de três diferentes métodos de diagnóstico (triagem, entrevista e diagnóstico clínico pelo médico de atenção primária) demonstrou que em torno de 24% de todos os pacientes tinham algum transtorno mental. Os diagnósticos mais comuns foram depressão, ansiedade e transtornos por uso de substâncias, sendo que estes transtornos estão presentes isoladamente ou em conjunto com um ou mais transtornos físicos. Neste estudo, não houve diferenças significativas na prevalência entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O Grupo Internacional de Epidemiologia Psiquiátrica da OMS (International Consortium in Psychiatric Epidemiology - ICPE) comparou estudos de prevalência de 13 transtornos mentais em vários países do Mundo, através dos resultados obtidos pela Entrevista CIDI - Composite International Diagnostic Interview (OMS, 2000). Os resultados foram baseados nos critérios do DSM-III-R (APA, 1987) e DSM-IV (APA, 1994) para transtornos mentais e abuso de substâncias em sete países diferentes: dois da América do Norte (Canadá e Estados Unidos), dois da América Latina (Brasil e México) e três da Europa (Alemanha, Turquia e Países Baixos). A prevalência estimada ao longo da vida variou muito, desde acima de 40% nos Países Baixos e Estados Unidos (EUA), até 12% na Turquia e 20% no México. Estudos retrospectivos sugerem que os transtornos mentais são geralmente crônicos, principalmente no que tange a ansiedade; tem início precoce (15 anos para Ansiedade, 26 para Transtornos de Humor e 21 para Abuso de Substâncias (Kessler et al., 2002 Todos esses três transtornos tinham forte associação com algumas questões sócio-econômicas como baixo nível de instrução, baixa renda, desemprego e o fato de não estarem casados. A análise retrospectiva destes dados demonstrou que a prevalência durante a vida vem aumentando, principalmente em relação aos transtornos do humor e abuso de substâncias, bem como vem diminuindo a idade de início dos sintomas. Entretanto somente uma pequena parcela desta população recebeu tratamento adequado (Kessler et al., 2002 Ainda em relação ao fator socioeconômico, estudos populacionais sugerem que pessoas com baixa escolaridade e renda apresentam maiores prevalências de transtornos mentais. O estudo americano de co-morbidade – NCS (Kessler et al, 1994), as pessoas com menor renda apresentaram maiores prevalências de transtornos afetivos. No estudo OPCS (Jenkins e Meltzer, 1995), as pessoas com depressão maior 14 apresentaram menor escolaridade e situação econômica inativa em relação àquelas sem transtorno mental. Em 2003, Andrade e colaboradores analisaram dados epidemiológicos obtidos através deste mesmo questionário da OMS, o CIDI, porém desta vez em 10 países: América do Norte (Estados Unidos e Canadá), América Latina (Brasil, Chile, e México), Europa (República Tcheca, Alemanha, Países Baixos e Turquia), e Ásia (Japão). A amostra continha mais de 37.000 indivíduos e a prevalência estimada dos transtornos mentais baseados no DSM-III-R/DSM-IV variou bastante, desde 3% no Japão até 16,9% nos EUA, em uma média de 8 a 12%. A taxa de prevalência no último ano antes da entrevista variou de 40% a 55%, a taxa no ultimo mês variou de 45% a 65%, e a média de idade em que o transtorno iniciou ficou entre 20 e 25 anos na maioria dos países. Neste estudo, mulheres solteiras tiveram significativamente mais transtornos mentais. Além disso, verificou-se que episódio depressivo maior era fortemente associado a transtornos de ansiedade em todos os países analisados, sendo que o transtorno de pânico e transtorno de ansiedade generalizada foram os maiores fatores preditivos para o desencadeamento de depressão secundária. Diferenças entre os gêneros foram encontradas em estudos prospectivos para se determinar incidência de transtornos mentais (Andrade et al., 2006). No estudo NEMESIS (Kessler et al, 1994), uso de substâncias, particularmente abuso de álcool, foi o transtorno com maior incidência em homens (incidência de 4,09), seguido por depressão (1,72), fobia simples (1,34) e dependência ao álcool (0,82). Para mulheres, o transtorno com maior incidência foi depressão (3,9), seguida por fobia simples (3,17). A razão entre as incidências para mulheres e homens (controlada para idade), fornecendo uma medida do risco das mulheres em relação aos homens, foi de 1,54 para qualquer 15 transtorno mental. Essa razão foi maior para transtornos ansiosos (2,58), particularmente para transtorno de pânico (4,17), seguido pelos transtornos do humor (2,39). A razão se inverte para transtornos relacionados ao uso de substâncias, sendo maior o risco para homens (3,7). Mortes por suicídio são mais freqüentes em homens do que em mulheres, com a razão de 3,6 homens para 1 mulher no mundo e 3,5:1 no Brasil, em 1995. Exceto na China, com semelhantes taxas nas áreas urbanas e maior freqüência entre as mulheres nas áreas rurais. Embora as estatísticas de tentativas de suicídio sejam pouco fidedignas, estas parecem ocorrer com maior freqüência em mulheres que em homens, e entre 10 a 20 vezes mais freqüentemente do que as mortes por suicídio (World Mental Health, 1999). Os transtornos depressivos são altamente prevalentes, tendem a afetar mais adultos jovens e apresentam um curso episódico ou crônico. São geralmente mais comuns em mulheres, em pessoas de menor renda, menor escolaridade, e estão associados a uma maior utilização dos serviços de saúde em geral (Andrade et al., 2002). Desta forma, Lima (1999) conclui que os achados de estudos populacionais sugerem que maior atenção deve ser dada a transtornos de severidade e duração menor, já que essas condições também se associam à incapacidade e prejuízo social, além de constituírem-se em condições de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais mais severos. 16 1.2 Epidemiologia dos Transtornos Mentais na população trabalhadora Ainda em termos epidemiológicos, particularmente na população trabalhadora, os episódios depressivos e o estresse estão entre os mais estudados (Thomas & Morris, 2003). Estatísticas oficiais Inglesas (Office for National Statistics, 2000) estimam uma prevalência de depressão em adultos de 28 por 1000 entre mulheres e de 24 por 1000 em homens. Em maio de 2009, na reunião da Associação Psiquiátrica Americana (APA), Kenneth Kendler abordou a importância da epidemiologia genética na psiquiatria. Assim, a hereditariedade dos transtornos psiquiátricos varia de 20 a 40% na ansiedade, na depressão, bulimia e transtorno de personalidade; de 40 a 60% na dependência de álcool e drogas; de 60 a 80% na esquizofrenia e transtorno bipolar e até 80 a 100% no autismo. De acordo com este autor, todos os transtornos psiquiátricos seriam hereditários, porém em muitos deles, fatores de risco genéticos e ambientais não apenas se somariam, mas também os genes influenciariam a sensibilidade aos efeitos patogênicos de estressores ambientais e a probabilidade de exposição a ambientes de alto risco, inclusive ocupacionais (Lenroot et al., 2009). Em termos econômicos, há diversos estudos demonstrando o impacto que os transtornos mentais têm. Nos Estados Unidos, o absenteísmo e a redução de produtividade decorrente de distúrbios ansiosos atingiram 4,1 bilhões de dólares em 1990 (Greenberg et al., 1999). O absenteísmo atribuído à depressão levou a perdas anuais estimadas em 17 bilhões de dólares (Greenberg et al.,1993). Em Kessler et al. (2003), foi utilizado um instrumento de pesquisa autoaplicável chamado Questionário de Performance no Trabalho da Organização Mundial de Saúde (HPQ - World Health Organization Health and Work Performance Questionnaire), criado 17 para estimar os custos de trabalho relacionados a problemas como redução da performance, absenteísmo por doenças e acidentes e doenças relacionados ao trabalho. Para isso compararam quatro grupos: agentes de reservas de companhias aéreas (n = 441), representantes do serviço de atenção ao cliente (n = 505), executivos de companhias automobilísticas (n = 554) e engenheiros de estradas de ferro (n = 850). Apesar de áreas tão diferentes o estudo concluiu que são semelhantes no que se refere aos custos de redução de produtividade, principalmente no que tangem os transtornos mentais. Através deste mesmo questionário, foram encontradas diversas doenças associadas a condições de trabalho (absenteísmo, presenteísmo e incidentes críticos) tais como: artrite, asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, depressão e cefaléia crônica. Dentre elas, somente a depressão afetava as três condições, enquanto as demais afetam uma ou no máximo duas (Wang et al. 2003). Dentre os transtornos mentais, a depressão é um dos que representam maior ônus para a sociedade e os indivíduos afetados, já que pacientes deprimidos ficam incapacitados em média 35 dias/ano (Teng et al., 2009). Traz consequências na forma de perda da produtividade (Stewart et al., 2003), na piora da qualidade de vida (Murray & Lopez, 1997), na má evolução de doenças clínicas e concomitantes, já que dificulta a adesão aos tratamentos e aumentam a mortalidade dos idosos com doenças crônicas (Moussavi et al., 2007), e até na morte por suicídio, já que a depressão aumenta de 12 a 20 vezes o risco de morte por suicídio em relação à população em geral e corresponde a 20,8%-35,8% dos casos de tentativas de suicídios que se tornaram fatais (Teng et al., 2005; Teng et al., 2007). Segundo Lerner (2010), o estresse psicológico no ambiente de trabalho pode levar a um enorme custo econômico e humano, principalmente quando trabalhadores 18 são acometidos de depressão, já que muitos têm problemas em desempenhar adequadamente suas tarefas e serem produtivos para a empresa. Foram avaliados 14.268 adultos empregados, sendo que 286 trabalhadores deprimidos foram comparados a 193 não-deprimidos. Para este estudo, a equipe de pesquisadores recrutou participantes entre 2001 e 2003 em consultórios médicos. As conclusões do estudo indicam que há uma vinculação entre a produtividade de um empregado e sua capacidade para controlar seu trabalho, já que frequentemente estes trabalhadores deprimidos estavam cansados e apresentavam problemas de motivação, dificuldades para ajustar-se a um ritmo de trabalho ou rotina, bem como para desempenhar tarefas físicas e lidar com a carga de trabalho habitual. 1.3 Epidemiologia dos Transtornos Mentais na população trabalhadora No Brasil, ainda é muito pequeno o número de investigações epidemiológicas de base populacional. Entretanto, nas últimas décadas, isto vem se modificando. Iacoponi (1989) encontrou uma prevalência desses transtornos em cerca de metade dos pacientes em serviços de atenção primária à saúde em São Paulo. Em Porto Alegre e São Paulo, cerca de 50% dos pacientes que procuram os serviços primários de saúde são considerados portadores de distúrbios mentais não-psicóticos (Coutinho et al., 1999). No Rio de Janeiro, em 1995, observou-se a presença desses quadros em cerca de um terço dos pacientes de um ambulatório geral universitário. Lima (1999) comparou cinco estudos no Brasil e concluiu que as prevalências de depressão maior e de distimia, bem como a de outros transtornos depressivos, são altas, independentemente do lugar onde a pesquisa foi conduzida, tipo de instrumento 19 diagnóstico usado ou dos períodos de tempo para os quais a prevalência se aplica. Depressão é mais comum entre mulheres, pessoas divorciadas ou separadas, ou vivendo sozinhas, com baixo nível de escolaridade e renda, desempregadas e moradores de zonas urbanas (Lima et al.,1996). Além disso, pessoas deprimidas são mais sujeitas a consultarem médicos e a serem hospitalizadas. O custo e a eficácia dos tratamentos para depressão devem ser balanceados com o alto custo individual e social associados à enfermidade (Lima, 1999). A preocupação com a exposição a riscos potenciais de doenças ocupacionais vem aumentando, tanto por parte dos próprios trabalhadores e associações que os representam, quanto das empresas, dos médicos e dos próprios órgãos governamentais que fiscalizam e regem leis sobre estas questões (MPS, 2007). Entretanto, o trabalho só foi reconhecido mais efetivamente como possível causador de doença mental nas últimas três décadas, principalmente graças ao crescimento da Ergonomia que, apesar de reconhecer a inexistência de um consenso em relação à classificação dos distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho, também admite a existência do reconhecimento dos cientistas quanto à importância dessa relação (Seligmann-Silva, 2003). Cientificamente, diversos fatores ocupacionais têm sido relacionados a doenças mentais, principalmente atividades socialmente desprestigiadas como pessoas que mantém contato com cadáveres, esgoto e lixo; também atividades em que a tensão gerada é constante e elevada, especialmente quando não ocorre apoio social e reconhecimento, como é o caso de atividades perigosas, ou com grande densidade de atividade mental, ou ainda trabalhos monótonos ou trabalhos que gerem isolamento ou afastamento prolongado do lar (Seligmann-Silva, 2003). 20 Desta forma, cada vez mais tem sido discutida a questão destes transtornos mentais nas empresas – seriam fatores pessoais predisponentes os causadores destes transtornos ou a influência do meio ambiente, dentre eles o trabalho? No entanto a doença mental/comportamental possui etiologia variada, indo desde os fatores orgânicos até os essencialmente psicológicos (Kendler 1999). Nesse sentido, o Ministério da Saúde (2001), no livro Doenças Relacionadas com o Trabalho - Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde, relaciona uma série de exemplos de produtos químicos passíveis de causarem transtorno mental, destacando-se monóxido de carbono, sulfeto de hidrogênio, sulfeto de carbono, metais pesados, tricloroetileno, tolueno, brometo de metila, entre outros. Um estudo epidemiológico realizado por Barbosa-Branco et al. (2003), realizado com dados provenientes do Sistema Único de Benefícios – SUB do Ministério da Previdência Social – MPS (2003), utilizou informações referentes aos registros de pagamentos de benefícios para trabalhadores no período de 1999 a 2002, relacionando a Doença (CID-10) e o ramo de atividade econômica – CNAE. A análise dos dados foi estruturada em quatro eixos: morbidade; custos, perda de produtividade e reconhecimento formal da relação doença mental – trabalho – calculada pela proporção entre os benefícios acidentários por doença mental e os benefícios acidentários por todas as causas. Estes autores encontraram uma prevalência de benefícios por doença mental de 10,04 por 1000 vínculos no período e concluíram que as doenças mentais representam uma importante causa de incapacidade para o trabalho, com elevado impacto social e econômico. Além disso, essas doenças distribuem-se de formas diferentes entre os ramos de atividade, sendo que aqueles com maior participação do sexo feminino são mais atingidos pelos distúrbios afetivos, enquanto os com 21 predominância masculina sofrem maior impacto dos distúrbios mentais devido ao uso de substâncias psicoativas. Assim, os distúrbios afetivos foram as doenças mentais e comportamentais mais prevalentes, tanto em quantidade de benefícios quanto em custos previdenciários. Entretanto, para estes autores, ocorre forte subnotificação, já que a caracterização destas doenças como relacionadas ao trabalho pode depender mais da organização da classe do que necessariamente dos fatores de risco (BarbosaBranco et al.,2003). Entretanto, uma das características da doença mental, principalmente na sua relação com o trabalho, é a invisibilidade, pois grande parte das alterações psíquicas envolve processos crônicos, cumulativos e multicausais, já que doenças como hipertensão arterial, úlcera gástrica e doenças de pele têm grande relação com problemas mentais como depressão, alcoolismo, ansiedade generalizada e reações ao estresse (Barbosa-Branco et al., 2003). Em relação à saúde do trabalhador no Brasil, para Wünsch-Filho (2004), asma e os transtornos mentais deverão assumir gradativamente maior relevância na nosologia ocupacional nas próximas décadas, de acordo com as tendências observadas. Para o Ministério da Saúde (2001), fatores econômicos como a insegurança no emprego, o próprio desemprego em si, o subemprego e a segmentação crescente do mercado de trabalho podem contribuir com os processos psicopatológicos desenvolvidos pelo trabalhador. Assim, o INSS elaborou as Diretrizes de Conduta Médico-Pericial em Transtornos Mentais, por meio da Orientação Interna nº 203, de 19 de novembro de 2008, aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (PARECER CFM Nº 22/08). Esse documento auxilia os médicos peritos do INSS a enquadrar os transtornos mentais como decorrentes do trabalho, bem como avaliar o grau de incapacidade, levando-se em consideração limitações da vida diária e funções sociais. 22 Além disso, até o mês de abril de 2007, era obrigatória a existência de uma Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, protocolada junto ao INSS. A partir desta data, com a implementação do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) houve a possibilidade de caracterização da natureza acidentária a partir da anamnese do caso efetuada pela perícia médica do INSS, mesmo sem a CAT, de acordo com Anexo II. (Decreto Nº 3.048/1999). Isso provocou uma mudança radical no perfil da concessão de auxílios-doença de natureza acidentária: houve um incremento da ordem de 148%. Segundo relatório do MPS (Ministério da Previdência Social), a quantidade de afastamentos por distúrbios mentais e comportamentais cresceu 22 vezes entre 2006 e 2009. Foram 612 profissionais afastados em 2006 e 13.478 em 2009, dos quais 12.277 (cerca de 90% do total) apresentavam estresse e transtorno de humor. O aumento no índice pode ser atribuído tanto ao real crescimento das fontes de mal-estar no emprego quanto à falha nas notificações anteriores à criação do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário em 2007. Entretanto há ainda muita dificuldade em realizar o diagnóstico desse tipo de transtorno, já que os trabalhadores podem ter medo de serem estigmatizados, demitidos ou terem o salário reduzido. Em 2007, com base no Código Internacional de Doenças (CID), os diagnósticos psiquiátricos mais frequentemente associados ao trabalho foram F43 (reação ao estresse grave) e F32 (episódios depressivos). Em 2008, estes mesmos diagnósticos relacionados ao trabalho sofreram um aumento de 33% e 44% respectivamente (MPS, 2010). Os casos de acidentes de trabalho/doenças ocupacionais, não-psiquiátricos, aumentaram apenas 13% no mesmo período. Significativa parcela deste aumento deveu-se a benefícios sem emissão de CAT, ou seja, com nexo firmado baseando-se exclusivamente em associações do anexo II do Decreto 3048/99 ou do cruzamento entre CID e CNAE (NTEP). Percebe-se 23 que houve nos últimos anos um importante aumento das enfermidades psiquiátricas consideradas como ocupacionais pela Previdência Social. Nesse cenário de maior preocupação com a saúde dos trabalhadores e com maiores investimentos em prevenção é que se incluem as Agroindústrias. A avicultura é um setor que cresceu rapidamente e despontou em meio ao progresso do Brasil e de diversos países. Desta forma, o mundo passou a contar com um setor fornecedor de alimentos de qualidade, porém muito parecidos entre si, demandando uma ampliação considerável do quadro de trabalhadores, o que apesar de ter favorecido milhares de pessoas também pode ter sido prejudicial para alguns trabalhadores de frigoríficos, expostos à ambientes com baixas temperaturas, repetitividade, monotonia, trabalhos em turnos e alta demanda de trabalho (Mosisa, 2002; Tossi, 2002). Portanto, em função de todo este contexto de ocupações em frigoríficos de aves e sua possível relação com doenças mentais determinada pelo NTEP, e mesmo já havendo vários estudos demonstrando alta prevalência de transtornos mentais no Mundo, no Brasil e relacionados ao Trabalho, é que se justifica a realização desta pesquisa, já que até o presente momento não há um estudo de prevalência de transtornos mentais com base populacional que pudesse comparar trabalhadores do segmento frigorífico em relação à população da região de Criciúma em Santa Catarina. Assim, espera-se com este trabalho verificar se existe realmente uma maior prevalência de sintomas psíquicos dentro de uma população de trabalhadores de um Frigorífico do Sul de Santa Catarina em relação ao grupo controle - uma população de um ambulatório geral ligado à Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina. Isto propiciará um maior entendimento das doenças psíquicas em um contexto ocupacional, e auxiliará novos projetos. 24 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral: • O objetivo geral deste estudo é avaliar se existe uma maior prevalência de transtornos mentais em uma população de indústria de Abate e Processamento de Aves na região de Criciúma em relação à população de um ambulatório geral. 2.2 Objetivos específicos: • Conhecer o perfil epidemiológico e avaliar a prevalência de transtornos mentais nesta indústria frigorífica; • Conhecer o perfil epidemiológico e avaliar a prevalência de transtornos mentais numa amostra da população de Criciúma, que procuram o ambulatório geral da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC); • Correlacionar e comparar estas prevalências. 25 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, realizado em uma amostra de 103 colaboradores de uma Indústria de Abate de Aves localizada no Sul de Santa Catarina, designada neste trabalho como “grupo empresa” e em uma amostra de 25 pacientes do ambulatório geral da Universidade do Extremo Sul Catarinense, designada “grupo ambulatório geral”. Durante o período do estudo, foram elegíveis todos os funcionários entre 18 e 50 anos da referida empresa, e todos os pacientes entre 18 e 50 anos do ambulatório geral da UNESC. Foram excluídos pacientes em acompanhamento em ambulatório de referência de Saúde Mental, ou já com diagnóstico confirmado de Transtorno Mental, realizado por Psiquiatra. Os participantes foram incluídos somente após consentimento livre e informado (Anexo I). Antes de sua execução este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense sob o protocolo número 220/2010. A coleta de dados foi feita através de um questionário padronizado, com informações sócio-demográficas (idade, sexo, renda, nível de instrução, estado civil, número de filhos) e ocupacionais (local de trabalho, tempo de empresa) relacionadas a possíveis sintomas de Transtornos Mentais. Para diagnóstico de doenças psiquiátricas utilizou-se o M.I.N.I. Plus versão 5.0.0, validado no Brasil por Amorim (2000). O MINI é uma entrevista diagnóstica padronizada breve (15-30 minutos), compatível com os critérios do DSM-III-R/IV e da CID-10, destinada à utilização na prática clínica e na pesquisa em atenção primária e em psiquiatria, e pode ser utilizada por clínicos após um treinamento rápido (de 1 a 3 horas). A versão Plus foi usada neste estudo por ser 26 mais detalhada e incluir sintomas imputáveis a uma causa orgânica ou ao uso de medicamentos, droga ou álcool, além de gerar diagnósticos positivos dos principais transtornos psicóticos e do humor do DSM-IV. O presente estudo não interferiu negativamente nos cuidados dos pacientes, nem de forma alguma serviu ou servirá para prejudicar a empresa ou seu colaborador. Após a coleta, os dados foram inseridos em planilha eletrônica, para posterior análise estatística. Após a digitação dos dados, houve um procedimento de checagem em duplicata de uma amostra aleatória de 10% do total de pacientes incluídos na amostra da empresa. As comparações de variáveis categóricas foram feitas com o teste do qui-quadrado. As variáveis contínuas foram apresentadas na forma de média ± desvio padrão ou de mediana (intervalo interquartil) e comparadas com o teste tStudent ou o teste U de Mann-Whitney Rank-sum conforme indicado. Em todas as análises, foi adotado como nível para significância estatística um valor de P <0,05 bicaudado. O planejamento amostral foi baseado na seguinte composição: Desvio padrão: 20.0000; diferença a ser detectada: 10.0000; nível de significância: 1%, poder do teste: 90%; tamanho da amostra calculado para grupo empresa: 103. 27 4 RESULTADOS Foram aplicados 103 questionários socioeconômicos na empresa (grupo Empresa) e 25 no ambulatório da Universidade do Extremo Sul Catarinense (grupo UNESC), após orientação e assinatura do Termo de Consentimento (Anexo 1), em salas individuais, através de alunos treinados do Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Após a aplicação dos questionários socioeconômicos (Anexo 2), foi feita a aplicação do M.I.N.I. Plus versão 5.0.0 (Anexo 3). Os resultados serão apresentados em quatro tabelas, comparando-se os dados do grupo empresa e do grupo UNESC. Inicialmente são apresentados os dados sóciodemógraficos (Tabela 1), as características relacionadas ao trabalho (Tabela 2), o perfil psicossocial (Tabela 3) e os diagnósticos segundo o Mini-International Neuropsychiatric Interwiew (MINI-PLUS). No próximo capítulo serão analisados mais profundamente. A idade média da população estudada foi de 29,28 anos (DP 7,63), idade mínima de 18 (limite inferior para ambos os grupos) e idade máxima de 48 e 50 anos respectivamente, no grupo Empresa e grupo UNESC. Com relação ao gênero, as mulheres corresponderam a 68,9% no grupo empresa e a 80% na UNESC. Como atividade principal do grupo Empresa, a maioria era assistente de produção (P = 0,000), principalmente na Sala de Cortes (62,1%), e abaixo de 30 anos. Dentre os setores com maior número de respondentes estão, nesta ordem: Sala de Cortes (64), Abate (18), Áreas de Apoio (15) e Área Fria (06). No grupo Empresa, em relação ao gênero, os homens correspondem a 31,1% (32) e as mulheres correspondem a 68,9%. No grupo UNESC, 20 e 80%, respectivamente. Quanto ao estado civil, no grupo Empresa 45% eram solteiros, 41% 28 casados, 7% separados e 7% referiram "outro". No grupo UNESC, 64% casados e 24% solteiros. A maior parte dos entrevistados provinham de área urbana (89,3% e 100%, respectivamente), principalmente da cidade de Criciúma (56.4% e 88%). No grupo Empresa a maioria tem renda familiar entre um e dois salários mínimos (P = 0,051) e é bastante comum os casos de marido e mulher trabalhando em turnos diferentes para poder cuidar das crianças. No grupo UNESC, houve diversos tipos de ocupação, inclusive casos de estagiários (32%) ou pessoas que ficavam em casa (do lar 44%, autônomos 4% e não trabalham 8%), por isso na tabela 2 colocou-se N/A (Não se aplica). Somente 28% tinham carteira assinada. Já em relação à renda, 60% entre 2 e 4 salários mínimos e 20% de 1 a 2 salários. A maioria respondeu que apenas trabalha e que é o principal responsável pelo sustento da família (P = 0,000). Por se tratar de uma empresa privada, o tipo de vínculo é o contrato formal (P = 0,000), pois só haviam 2 estagiários. Quanto à escolaridade, houve mais tempo de estudo em relação aos pais (P <0,001) nos dois grupos. Em relação ao número de filhos, não houve significância estatística (P = 0,342), e a taxa média ficou entre 0 e 2 filhos para ambos os grupos. Nos dois grupos houve baixas taxas de atividades em geral, quer desportivas, recreativas, culturais ou artísticas (P = 0,953), entidades (P = 0,417) ou de ajuda financeira ou voluntariado (P = 0,059). No que tange à religiosidade, dentro do grupo Empresa, 42,7% se disseram católicos, 32% evangélicos ou protestantes e 22,3% acreditam em Deus, mas não seguem uma religião específica (P = 0,129). No grupo UNESC, 64% se disseram católicos, 32% evangélicos ou protestantes e 4% acreditam em Deus, mas não seguem uma religião específica. No total, 85,4% e 88%, respectivamente, receberam algum tipo de educação religiosa na infância (P = 0,371) 29 sendo que 93,2% e 100% costumam orar ou rezar regularmente (P = 0,180). Entretanto não houve significância estatística com as doenças investigadas. Quando questionados se já haviam feito algum tratamento psiquiátrico ou psicológico, 76,7% no grupo Empresa e 60% no grupo UNESC responderam que nunca o fizeram. Dentre os que responderam sim, houve referência a motivos diversos como depressão, ansiedade e problemas de relacionamento familiar. Entretanto, no presente estudo, mais de 80% em ambos os grupos referiram nunca ter sofrido algum tipo de ato violento como sequestro, espancamento, estupro ou violência doméstica. Apesar disso, 17 pessoas do grupo empresa (16,5%) e 5 do controle referiram já ter vivenciado alguma destas situações. Ao serem perguntados sobre felicidade de maneira geral, no grupo Empresa 83,5% (P = 0,000), enquanto que 77,7% (P = 0,001) disseram se sentir felizes na vida. No grupo UNESC, 52% disseram se sentir felizes no trabalho, porém 44% disseram não trabalhar. Dos que responderam não se sentir felizes na vida, a maioria referiu motivos ligados aos inter-relacionamentos familiares (relação difícil com parceiro, filhos e outros parentes, solidão, falta de afeto e falta de sentido na vida) e condições financeiras (baixa remuneração, dívidas). Em relação aos diagnósticos avaliados pelo M.I.N.I. Plus, no grupo UNESC não houve prevalência aumentada dos transtornos mentais pesquisados. Já no grupo Empresa houve prevalência aumentada apenas para agorafobia (P = 0.043). As prinicpais prevalências encontradas no grupo empresa foram: 35,9% para episódio depressivo maior, 33% para risco de suicídio, 28,1% para episódio maníaco / hipomaníaco, 21,4% para agorafobia, 12,6% para transtorno de pânico, 11,7% para fobia social e 10,7% para fobia específica. Já no grupo UNESC, as principais prevalências encontradas foram: 40% para episódio depressivo maior, 32% para risco de suicídio, 24% para episódio maníaco / 30 hipomaníaco e 16% para Transtorno Obssessivo Compulsivo. As fobias não foram tão importantes quanto no grupo Empresa. Tabela 1 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características sócio-demográficas. (n = 103 Grupo Empresa/ n= 25 Grupo ambulatório geral) Indicador n (%) N (%) Sexo P 0,273 Masculino Feminino 32 71 31,1% 68,9% 18 64 06 15 17,5% 62,1% 5,8% 14,6% 39 41 5 1 17 37,9% 39,8% 4,8% 1,0% 16,5% 5 20 20% 80% 6 16 2 1 24% 64% 8% 4% Setor Abate Sala de Cortes Área fria Apoio Estado civil Solteiro Casado Separado/Divorciado Viúvo Vive c/ companheira Região em que mora Urbana Rural Cidade Criciúma Nova Veneza Forquilhinha Outras Filhos Nenhum Um Dois Três Quatro ou mais Escolaridade Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Especialização 0,130 0,087 92 11 89,3% 10,7% 25 100% 58 26 14 5 56,4% 25,2% 13,6% 4,8% 22 88% 3 12% 0,456 0,342 40 31 18 9 5 38,8% 30,1% 17,5% 8,7% 4,9% 8 32% 6 6 5 24% 24% 20% 36 12 22 25 6 1 1 35,0% 11,6% 21,4% 24,2% 5,8% 1,0% 1,0% 7 2 4 7 5 28% 8% 16% 28% 20% 0,410 31 Tabela 2 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características relacionadas ao trabalho. (n = 103 Grupo Empresa/ n = 25 Grupo ambulatório geral) Indicador Situação de trabalho Trabalha e estuda Apenas trabalha Apenas estuda Desempregado Licença/incapacitado para o trabalho Aposentado Nem trabalha/nem estuda Ocupação principal Ajudante geral Outros N % N % 13 90 12,6% 87,4% 6 4 1 5 3 1 5 24% 16% 4% 20% 12% 4% 20% 0,000 0,000 86 17 83,5% 16,5% N/A* N/A* Condição Trabalhista 0,000 Carteira assinada Estágio remunerado Do lar Não trabalham Autônomo Renda familiar (Base Salário Mínimo) Menos de 1 salário De 1 a 2 salários De 2 a 4 salários De 4 a 6 salários Mais de 6 salários Participação na renda Não trabalha/Sustentado Trabalha/Sustentado Somente próprio sustento Sustento parcial de outros Principal responsável sustento outros Quantas pessoas ajudam na renda 101 2 9 14 71 9 8,7% 13,6% 68,9% 8,7% Uma Duas Três Quatro Mais de Cinco Quantas pessoas vivem da renda Uma Duas Três Quatro Cinco Mais de cinco 27 58 14 3 1 26,2% 56,3% 13,6% 2,9% 1,0% *N/A: Não se aplica P 98,0% 2,0% 7 4 11 2 1 28% 32% 44% 8% 4% 1 5 15 4 4% 20% 60% 16% 0,051 37 47 10 9 35,9% 45,6% 9,7% 8,7% 0,000 12 6 7 - 48% 24% 10 10 5 40% 40% 20% 28% 0,567 0,498 14 23 29 22 11 4 13,6% 22,3% 28,2% 21,4% 10,7% 3,9% 1 2 6 6 8 1 4% 8% 24% 24% 32% 4% 32 Tabela 3 - Freqüência dos sujeitos de acordo com as características psicossociais (n = 103 Grupo Empresa/ n = 25 Grupo ambulatório geral ) Indicador n (%) N (%) Atividades desportivas ou artístico-culturais Sim Não Participa em entidades Sim (Associação bairro,Sindicato Partido, associação política, time de futebol, grupo religioso) Não Trabalho voluntário 28 75 27,2% 72,8% 4 21 16% 84% 0,417 27 26,2% 4 16% 76 73,8% 21 84% Sim Não Religiosidade 15 88 14,6% 85,4% 6 19 24% 76% Acredita Deus, mas sem religião definida Católico Protestante/Evangélicos Espírita Outra religião Educação religiosa na infância 23 44 33 2 1 Sim Não 0,059 0,129 22,3% 42,7% 32,0% 1,9% 1,0% 1 16 8 4% 64% 32% 0,371 88 15 85,4% 14,6% 22 3 88% 12% 0,180 Reza ou ora Sim Não 96 7 93,2% 6,8% 25 100% 15 2 85 1 14,6% 1,9% 82,5% 1,0% 1 2 22 4% 8% 88% Vítima de Ato Violento Sim, uma vez Sim, mais de uma vez Não Prefere não declarar Vítima de Violência Doméstica 0,215 0,328 Sim, uma vez 5 4,9% Sim, mais de uma vez 11 10,7% Não 86 83,5% Prefere não declarar 1 1,0% Tratamento com psicólogo ou psiquiatra alguma vez na vida Sim, apenas terapia Sim, apenas medicação Sim, terapia e medicação Não 3 10 11 79 2,9% 9,7% 10,7% 76,7% 2 8% 23 92% 0,249 4 2 4 15 16%% 8% 16% 60% Você se sente feliz no trabalho Sim Não Não trabalha ou não respondeu 0,000 86 17 83,5% 16,5% 13 1 11 52% 4% 44% Você se sente feliz na vida Sim Não P 0,953 0,001 80 23 77,7% 22,3% 23 2 92% 8% 33 Tabela 4 - Diagnósticos segundo o Mini-International Neuropsychiatric Interwiew (MINI-PLUS). (n = 103 Grupo Empresa/ n= 25 Grupo ambulatório geral ) Presença do transtorno % n Empresa (%) % n Ambulatório geral (%) P Episódio Depressivo Maior (atual ,2 sem ou passado) 37 35,9% 10 40% 0,093 Transtorno Distímico (atual, últimos 2 anos ou passado) 6 5,8% 1 4% 0,711 Risco de suicídio (Baixo, médio, alto) 34 33,0% 8 32% 0,923 Episódio Maníaco/Hipomaníaco (atual ou passado) 29 28,1% 6 24% 0,093 Transtorno de Pânico (atual, último mês ou passado) 13 12,6% 2 8% 0,711 Agorafobia (atual) 22 21,4% 1 4% 0,043 Fobia Social (atual – último mês) 12 11,7% 1 4% 0,256 Fobia Específica (atual) 11 10,7% 2 8% 0,691 TOC (atual – último mês) 9 8,7% 4 16% 0,906 TEPT (atual – último mês) (atual – Dependência/Abuso de Álcool (Vida inteira ou últimos 12 m) Dependência/Abuso de substância não álcool (Vida inteira ou últimos 12 m) 6 5,8% 0 6 5,8% 2 1 1,0% 0 Transtornos Psicóticos (atual ou vida inteira) 10 9,7% 1 Anorexia nervosa 0 Bulimia nervosa 0 Transtorno de Ansiedade Generalizada 1 1% 0 0,781 Transtorno de Personalidade Anti-social 1 1% 0 0,621 Transtorno de Somatização 0 0 1 4% 0,621 Hipocondria 6 5,8% 2 8% 0,719 Transtorno Dismórfico Corporal 15 14,6% 6 12% 0,502 Transtorno Doloroso 0 1 4% 0,428 Transtorno da Conduta 0 0 Transtorno de Déficit de Atenção 0 1 4% 0,042 Transtorno Disfórico Pré-menstrual (Entre mulheres que menstruam) 13 12,6% 2 8% 0,509 Transtorno misto de Ansiedade-depressão 4 3,9% 1 4% 0,999 0,216 8% 0,216 0,621 4% 0,378 0 0 34 5 DISCUSSÃO É extremamente preocupante a magnitude epidemiológica dos transtornos mentais das populações no mundo. A OMS estima que a depressão, por exemplo, acometa em média 16% da população em alguma fase da vida (Waraich et al., 2004) e afete pelo menos 50 milhões de pessoas, considerada um dos transtornos mentais mais incapacitantes em função da sua duração, recorrência e multiplicidade de indicadores de disfunção e sofrimento.No Brasil, levantamentos epidemiológicos populacionais apontam para uma prevalência de transtornos mentais aproximada de 30% na população adulta, no período de um ano, e 20% destes precisariam de atenção especializada em serviços de saúde mental, ou seja, um em cada cinco adultos com algum tipo de transtorno mental necessita de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico (Almeida-Filho et al.,1997). Estes transtornos mentais são mais frequentes na população feminina, aumentam com a idade e predominam no estrato de baixa renda (Lima, 1999). Fleck et al. (2002) foi o primeiro estudo no Brasil que mostrou associação de sintomas depressivos e maior procura por serviços de cuidados primários em saúde e também relacionou depressão a um pior funcionamento no trabalho e concluiu que é uma das maiores causas de afastamento no trabalho, demonstrando mais dias perdidos no trabalho também observado por Simon et al. (2002). Desta forma, também no presente estudo, objetivou-se conhecer o perfil da população da região de Criciúma que procura por serviços de cuidados primários em saúde, no que diz respeito aos transtornos mentais, quer seja através de um ambulatório geral de universidade ou num ambulatório de um frigorífico. 35 A idade média de 29,28 anos demonstra uma população relativamente jovem, o que poderia explicar o grande número de solteiros nos dois grupos. Segundo AlmeidaFilho et al., (2004), a condição marital poderia influenciar na prevalência de transtornos mentais, o que não parece ter sido o caso, já que não houve associação com o fato de estar sozinho ou com parceiro. A grande maioria respondeu que não participa de qualquer atividade desportiva, recreativa, artístico-cultural, entidade ou associações. Da mesma forma, basicamente não prestam serviços assistenciais, de ajuda financeira ou trabalhos voluntários. Esse resultado pode demonstrar falta de tempo em realizar tais atividades, ou pelo excesso de obrigações ou pelo próprio cansaço. Isso é preocupante, já que é fundamental para a qualidade de vida do ser humano o equilíbrio entre prazer e obrigação. Segundo Cañete (1996), as pessoas que praticam atividade física, por exemplo, são mais saudáveis e muito menos propensas a adoecer, pois segundo Shephard (1999), existem fortes e comprovadas evidências de que a prática de atividade física regular atua contrariamente às doenças renais e artério-coronarianas, hipertensão, diabetes mellitus tipo II, osteoporose, traumas cirúrgicos e alguns tipos de câncer, e que podem inclusive atuar contra desordens neuro-musculares, problemas lombares, obesidade e transtornos emocionais, principalmente depressão e ansiedade. No que tange à religiosidade, em ambos os grupos a maioria recebeu algum tipo de educação religiosa na infância e quase todos costumam orar/rezar com frequência. No Brasil, vários autores têm estudado a religiosidade nas suas relações com o sofrimento individual e os transtornos mentais (Dalgalarrondo, 2007). Lotufo Neto (1996) avaliou a prevalência de transtornos mentais em ministros religiosos cristãos (nãocatólicos) no Brasil e observou que cerca da metade dos ministros religiosos (47%) 36 apresentou algum transtorno mental durante a vida e 12,5%, no mês precedente à entrevista. Os transtornos mais freqüentes foram os depressivos (16,4%), do sono (12,9%) e ansiosos (9,4%). Os principais fatores associados à presença destes transtornos foram: problemas financeiros, conflitos com outros pastores ou os líderes leigos da Igreja, dificuldades conjugais, problemas doutrinários na Igreja e sobrecarga de trabalho. Fleck (2002) identificou numa amostra de 242 sujeitos (122 pacientes psiquiátricos e 119 controles normais), que, de modo geral, as dimensões espiritualidade e religiosidade associaram-se à melhor qualidade de vida. Volcan et al. (2003) investigaram em 464 jovens universitários de Pelotas (RS) a relação entre bemestar espiritual e prevalência de possível transtorno mental e verificaram que jovens com bem-estar espiritual baixo ou moderado apresentavam o dobro de chances de apresentar também transtorno mental. A empresa avaliada iniciou suas atividades em 1997 no município de Nova Veneza, no sul do Estado de Santa Catarina, uma cidade com forte tradição italiana. Especializada em cortes de frango, exporta 75 % de seus produtos para vários países e atualmente são cerca de 1700 trabalhadores. Por se tratar de um frigorífico de abate e processamento de aves, tem seu ponto de maior concentração de funcionários na Sala de Cortes, cuja temperatura varia de 10 a 12 graus Celsius. O processo inicia no setor de Recepção de Aves, onde os caminhões descarregam as aves que são penduradas em ganchos de nóreas para serem abatidas, sangradas, escaldadas, depenadas, evisceradas e pré-congeladas no setor de Evisceração/Schiller. Após esse processo, e conforme o mix de produção, essas aves vão então para a Sala de Cortes através de nóreas aéreas onde são cortadas, desossadas, pesadas, embaladas e encaminhadas para o setor de Congelamento que envolve os setores de Armário de Placas, CMS e 37 Expedição, de onde o produto é despachado por caminhões até o seu destino. Em relação às práticas de Gestão de Recursos Humanos, possui diversos programas e a preocupação com o meio ambiente é um ponto forte e já renderam prêmios e certificações. A grande maioria deste grupo Empresa atualmente apenas trabalha, já que a carga horária é extensa: são 44 horas semanais, divididas em mais de 8 horas diárias e mais o tempo gasto com deslocamento que em alguns casos chega a ser de 1 hora. A grande maioria dos respondentes que buscam a assistência médica ambulatorial da empresa vem do setor de produção (cargo ajudante geral). Dentre os setores com maior número de respondentes estão, nesta ordem: Sala de Cortes (64), Abate (18), Áreas de Apoio (15) e Área Fria (06). Foram agrupados desta forma, pois as atividades e os riscos são diferentes. Por exemplo, na Sala de Cortes a temperatura é de 10 a 12 graus, é o setor onde ocorre o corte e o processamento da carne, é onde tem maior número de funcionários e também onde ocorre o maior absenteísmo e a maior procura ambulatorial. É considerada ergonomicamente como atividade de estresse moderado, pois envolve atividades com faca, sob roupas especiais para frio, com muitas pessoas e ao mesmo tempo permeadas por diversos tipos de máquinas ruidosas, onde não há controle da velocidade pelo colaborador, com diversas chefias e com riscos iminentes de acidentes pérfurocortantes, quedas pelo piso escorregadio, traumas com bacias ou máquinas, além, é claro, da monotonia, da pressão por resultados, do trabalho em turnos e do ambiente fechado, sem janelas e sem contato com o exterior – não sabem se é dia ou noite, sol ou chuva. De acordo com NogueiraMartins (1998), a privação de sono pode acarretar dificuldade de concentração, depressão, irritabilidade, inadequação afetiva e déficit de memória. Já no setor de Abate é aonde o frango chega vivo para ser abatido e posteriormente escaldado, 38 depenado, eviscerado e pré-congelado. Podemos dividi-lo em Recepção de Aves e Evisceração. Aqui os funcionários ganham insalubridade, pois lidam com o risco biológico das aves e com a umidade constante. As áreas frias incluem Armário de Placas (no qual chega o mix proveniente da Sala de Cortes para ser congelado), CMS (estocagem nas câmaras frias) e Expedição (de onde é despachado o produto para os caminhões contêineres. Nestes setores a temperatura fica abaixo de 10 graus. Entretanto, nestes setores insalubres onde se esperaria um maior índice de absenteísmo, não foi o que ocorreu, e sim no setor de Sala de Cortes. Talvez pelo fato de haver muito mais mulheres neste setor, ao contrário dos demais onde predomina o sexo masculino. Lerner et al., (2010), avaliaram 286 empregados deprimidos e observaram que estes faltavam mais ao trabalho e tinham também uma saúde física mais debilitada. Em relação à felicidade, Diener et al., (2010) realizaram um estudo para explorar as razões pelas quais a felicidade está associada com maior renda, incluindo o atendimento às necessidades básicas, satisfação das necessidades psicológicas, aumentando a satisfação com a qualidade de vida, e os bens públicos . Em todo o mundo, a associação de renda com bem-estar subjetivo foi linear, mas convexo com rendimento bruto, indicando o efeito marginal decrescente da renda em bem-estar subjetivo. A renda foi um preditor moderadamente forte de avaliação da vida, mas um indicador muito mais fraco dos sentimentos positivos e negativos. Assim, pode-se dizer que existem dois tipos distintos de percepção do bem-estar: prosperidade econômica, medida por padrão de vida e conveniências de luxo, que denota uma espécie de evolução na vida, enquanto que prosperidade psicossocial reflete-se em sentimentos positivos, medidos principalmente por satisfação de necessidades psicológicas básicas, 39 como aprendizagem, autonomia, uso da própria capacidade/habilidades, respeito e possibilidade de contar com os outros em caso de emergência. Também Deaton (2008) já havia observado que há alguma relação entre renda e satisfação na vida e com a própria saúde. Esse resultado de felicidade e satisfação na vida é um fato interessante de se ser observado, já que trabalhar neste segmento costuma estar associado com adoecimento pelos órgãos governamentais brasileiros (MPS, 2007). Embora a natureza dos tipos de trabalho esteja mudando de acordo com o crescimento e evolução da economia mundial, e apesar do aumento da profissionalização em alguns casos, houve aumento de funções que praticamente não requerem muita formação ou treinamento (Hecker, 2005). Por exemplo nos Estados Unidos, o segmento que mais cresce é o de trabalhadores latinos, muitos deles na indústria de processamento de aves (Mosisa, 2002; Tossi, 2002). Grzywacz et al, (2008) realizaram um dos primeiros estudos sistemáticos abordando conflito família-trabalho entre imigrantes latinos nos EUA neste tipo de ocupação. Os resultados indicam uma questão fortemente cultural envolvida nisso, já que não se observou incidência aumentada de conflito família-trabalho entre trabalhadores de indústria de processamento de aves, ao longo de toda a cadeia produtiva (foram avaliados inclusive trabalhadores do campo). Houve diferença de gênero entre os que tiveram mais conflito, pois demandas físicas contribuiram para maior conflito entre as mulheres (provavelmente devido à dupla jornada). Também houve fraca evidência de associação entre conflito família-trabalho com a saúde desta população. A análise feita pelos autores indica que há uma tendência dos imigrantes latinos em ver trabalho e família de uma forma mais integrada e não dissociada (Spector et al., 2004), além disso, o mercado de trabalho americano é bastante restrito e há relativamente poucas oportunidades de trabalho formal para imigrantes latinos 40 (Catanzarite, 2002), portanto uma das hipóteses é que o trabalho em indústria de aves seja uma forma de gerar estabilidade e segurança financeira, mais do que em outras atividades sasonais, como agricultura e construção civil (Grzywacz et al., 2008). Também neste estudo pode-se supor que, apesar das longas jornadas de trabalho, do pouco tempo disponível para outras atividades como lazer e estudo, o tempo disponível seja usado para estar com a família e, da mesma forma que os imigrantes latinos nos EUA, os trabalhadores da indústria de aves sentem que é melhor ter um trabalho “de carteira assinada, com todos os direitos”, do que estar inseguros em atividades menos estáveis ou informais. No presente estudo encontrou-se prevalência aumentada para agorafobia (P = 0.043). De acordo com a literatura, sua prevalência estimada para 12 meses varia entre 5 e 12%. É duas vezes mais freqüente entre as mulheres (Magee et al., 1996). Já para Goodwin et al (2005), a prevalência de 12 meses de transtorno do pânico e agorafobia sem história de pânico foram estimadas em 1,8% (0,7-2,2) e 1,3% (0,7-2,0), respectivamente. A diferença entre os sexos poderia ser atribuível a fatores sócioculturais que permitem uma maior expressão de estratégias de enfrentamento de esquiva por mulheres (DSM-IV), embora outras explicações sejam possíveis. A etiologia da agorafobia não está totalmente identificada ou compreendida, mas parece envolver uma combinção de fatores genéticos (Kessler et al., 1998; Smoller & Tsuang, 1998; Maciejewski et al., 1999;), neuroendócrinos (Rush et al., 1998), sociais e psicológicos (Barlow & Lehman, 1996; Coplan et al., 1997; Thorn et al., 1999 Kandel, 1999). Como conseqüências, trazem enorme prejuízo pessoal e social, principalmente quanto mais precoce for o início dos sintomas fóbicos, levando a maiores taxas de absenteísmo, maior amplitude dos sintomas fóbicos e mais complicações psiquiátricas 41 (Menezes et al., 2005). Há diversas escalas de avaliação, dentre elas o Inventário de Ansiedade e Fobia Social (Social Phobia and Anxiety Inventory), validada em diferentes países e línguas, que demonstraram idade de início bastante variada, porém com predomínio em jovens (Turner et al., 1989; Clark et al., 1994; Osman et al., 1996; Boegels & Reith, 1999; Olivares et al., 1999; Picon et al., 2005 – este último no Brasil, com 1014 estudantes universitários do Rio Grande do Sul). Nas últimas décadas, os estudos epidemiológicos têm contribuído de forma significativa para uma melhor compreensão dos elos entre fatores do ambiente social e a origem e o curso de distúrbios psiquiátricos. Grande parte desta produção acadêmica está voltada para o papel dos chamados eventos de vida produtores de estresse (stressful life events) como fatores de risco para transtornos mentais não-psicóticos (Paykel, 1978; Surtees et al., 1986; Brown & Harris, 1989; Kendler et al., 1995). Numerosos estudos indicam que os eventos estressantes são a chave dos distúrbios psicológicos. Estresse severo geralmente precede o aparecimento ou agravamento da doença em indivíduos vulneráveis e pode ser de primordial importância na gênese de algumas perturbações mentais. Vários autores têm sugerido que os eventos de vida desempenham um importante papel no desenvolvimento de sintomas relacionados a fobias/agorafobia e pânico. Pollard, et al. (1989) avaliaram 50 indivíduos com agorafobia e 62% reportaram eventos de vida prévios e desencadeantes que envolviam perda, separação ou conflitos. Além disso, 12% tinha tido algum tipo de lesão ou doença, 54% novas responsabilidades e 56% eventos múltiplos e diversos. Rapee et al. avaliaram 64 indivíduos que sofriam de transtorno do pânico com agorafobia e quase todos (98,4%) relataram pelo menos um acontecimento importante na vida que havia ocorrido no período de 6 meses antes do início de sua doença: 42 60,9% destes acontecimentos relacionados à saúde, 73,4% devido aos relacionamentos interpessoais, 78,1% relacionados à carreira ou financeiros. Kleiner & Marshall (1987) observaram que no ano anterior ao aparecimento do transtorno, 84% apresentaram grave ou prolongado conflito relatados casamento foram (22%), conflitos isolamento conjugal. Outros estressores comuns família social (22%), (64%), morte divórcio de um ente (26%), querido (22%), e mudança de residência (18%). Todos os precipitantes envolviam mais de um estressor, com pelo menos um sendo de natureza interpessoal. Roy-Byrne et al. (1986), examinou os eventos de vida durante o ano anterior ao início dos sintomas e os mais freqüentemente relatados foram: mudança de de rotina, mudança para uma casa/bairro melhor, ou mudança de cidade, aumento da carga de trabalho. Faravelli & Pallanti concluiram que os pacientes experimentaram uma quantidade significativamente maior de estresse durante os 12 meses anteriores ao aparrecimento dos sintomas, medida pela escala de Paykel et al. (1971). Scooco et al.(2007) analisaram 55 pacientes que sofrem de transtorno do pânico, com ou sem agorafobia, em conformidade com os critérios diagnósticos especificados no MINI PLUS, e analisaram problemas interpessoais e a capacidade de se adaptar e obter satisfação do ambiente social através da Escala Social de Reajustamento (Holmes et al., 1967). Observaram que todos os indivíduos tinham problemas interpessoais relevantes no ano anterior ao início do transtorno: 92,7% haviam experimentado uma transição de papéis, 85,5% tiveram déficits interpessoais, 74,5% disputas de papéis e 38,2% haviam sofrido a perda de um ente querido. Estes resultados também foram confirmados pela escala Paykel et al., (1971). 43 Lopes et al., (2003) avaliaram a associação entre eventos de vida produtores de estresse (EVPE) e transtornos mentais comuns (TMC) em 4.030 indivíduos. Após ajuste por sexo, idade, renda e situação conjugal, problemas financeiros graves foram os eventos associados a uma chance mais elevada de TMC (OR = 2,6; IC95%: 2,2-3,0), seguidos de agressão física (OR = 2,1; IC95%: 1,5-2,9), mudança forçada de moradia (OR = 1,9; IC95%: 1,5-2,4), doença grave (OR = 1,8; IC95%: 1,5-2,1), rompimento de relação amorosa (OR = 1,9; IC95%: 1,6-2,3), internação hospitalar (OR = 1,4; IC95%: 1,1-1,8) e assalto ou roubo (OR = 1,5; IC95%: 1,2-1,8). Assim, possivelmente a maior dificuldade em se avaliar o papel dos determinantes sociais na iniciação e curso dos distúrbios psiquiátricos encontra-se na possibilidade de causalidade bidirecional associada a estes eventos. Fatores ambientais desfavoráveis estão sabidamente associados ao aparecimento e/ou à maior severidade no curso de grande parte dos distúrbios psiquiátricos. Por outro lado, a doença mental pode provocar uma série de prejuízos sociais na vida do indivíduo, como baixo nível educacional, desemprego, ruptura de relações pessoais (Lopes et al., 2003). Na América Latina, e no Brasil especificamente, existem vários fatores que contribuem para a elevada prevalência de eventos de vida estressantes e de transtornos mentais na população, tais como processos acelerados de urbanização e industrialização, acesso desigual aos cuidados de saúde, condições de moradia inadequadas, distribuição desigual da renda, desemprego, altas taxas de violência e criminalidade (Lopes et al., 2003). Portanto, distinguir fatores de risco de efeitos adversos constitui um dos grandes desafios da área e por esse motivo talvez seja difícil julgar o quanto o fator ocupacional influencia nos transtornos mentais a ponto de imputar às empresas o ônus referente ao NTEP. 44 Apesar de “depressão ansiosa” não estar especificamente listada entre as doenças do DSM-IV, este termo tem sido constantemente usado para descrever pacientes depressivos com uma gama enorme de sintomas ansiosos (Kenedy, 2008). Ansiedade está associada com depressão entre 50% e 60% dos casos (Fava et al.,1997; Gaynes et al., 2007), pode ser exacerbada por relações familiares pobres e variar conforme raça, sexo e classes sociais (Weisberg, 2009), além de estar associada a transtornos concomitantes (Angst et al., 2009) e a uma menor taxa de resposta nos pacientes depressivos, principalmente nos casos de Depressão refratária a tratamento (Souery et al., 2007). A Pesquisa Nacional de Comorbidade (National Comorbidity Survey – NCS) mostrou que os transtornos de ansiedade e depressão frequentemente estão associados e grande parte dos casos de depressão é secundária a um transtorno de ansiedade (67,9%), especialmente o transtorno de pânico e, além disto, 35% a 91% dos pacientes com transtorno do pânico também apresentam pelo menos um episódio de depressão ao longo da vida (Kessler et al., 1994). A chance de os pacientes deprimidos apresentarem transtorno do pânico comórbido foi 12 vezes maior, sendo que nos pacientes com transtorno de ansiedade generalizada foi 7 vezes maior (RoyByrne et al.,2000). O transtorno do pânico também está associado com outros transtornos mentais como fobias ou abuso de álcool e benzodiazepínicos, o que pode aumentar o risco de suicídio nestes pacientes (Nardi & Valença, 2005). Em relação ao consumo de álcool, também não houve prevalência aumentada em nenhum dos grupos. Ezzati et al., (2002), referem que este é um dos principais fatores para o ônus das doenças em nível global e regional, principalmente nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. 45 Apesar de não ter havido significância estatística, houve maior prevalência de indivíduos do sexo feminino que buscaram atendimento tanto no grupo Empresa quanto no grupo UNESC. Da mesma forma, dados da empresa mostram que por se tratar de demanda espontânea de procura ambulatorial, esses dados corroboram com a literatura no que diz respeito a uma maior procura do sexo feminino pelos serviços de saúde, especialmente ambulatoriais, já que estudos mostram até uma prevalência de 79,8% de mulheres em serviços de atendimento primário (Schwenk et al.,1996). Rocha e Ribeiro (2001), num estudo comparativo de gêneros sobre analistas de sistemas, observaram a existência de fatores de incômodo predominantes em mulheres, tais como: postura desconfortável, maior exposição ao computador, e presença de equipamento obsoleto. Além disso, mulheres relataram maior freqüência de sintomas visuais, musculares e relacionados ao estresse; maior insatisfação com o trabalho, bem como maior fadiga física e mental. Existem hipóteses que tentam explicar as diferenças entre os sexos, ressaltando que as mulheres são mais vulneráveis à depressão do que os homens. O aspecto mais aceito e discutido está na importância de variáveis sociais, como gestação, jornada de trabalho, estado marital e número de filhos (Ware e Sherboune, 1992). Estudos também mostram a associação entre oscilações de humor e alterações hormonais (Parry, 1995). Outros estudos mostram que os homens reagiriam abusando de bebidas alcoólicas e através de outros comportamentos antisociais, ao passo que as mulheres reagiriam com depressão (Harris et al., 1991). Estudos populacionais normalmente evidenciam ocorrência de depressão de duas a três vezes maiores entre as mulheres (Riolo et al., 2005). Em 2005, Wang e colaboradores realizaram um estudo em ambulatórios de psiquiatria e verificaram predomínio de pacientes do sexo feminino, principalmente 46 mulheres com queixas depressivas e ansiosas. Estas pacientes costumam tanto frequentar os serviços de atendimento médico primário (Toney, 2007) quanto os serviços ginecológicos, cardiológicos, neurológicos e outros, sendo que ocorre maior prevalência de depressão entre pacientes com doenças crônicas (Agatisa et al., 2005). No Brasil, num estudo sobre prevalência de transtornos depressivos durante um ano na cidade de Salvador (BA), foi demonstrado que o que estava mais fortemente relacionado à presença dos transtornos depressivos em mulheres em relação aos homens era o menor nível educacional (Almeida-Filho et al., 2004), em concordância com outros estudos conduzidos no Brasil (Ludermir & Lewis, 2001; Lima et al., 1998). Também no presente estudo, apesar de não ter havido prevalência aumentada de casos de Episódio Depressivo Maior entre os respondentes, dentre os 37 que preencheram critérios para este diagnóstico no grupo Empresa, apenas 5 eram do sexo masculino, enquanto que 32 eram do sexo feminino (P = 0.004). Já na amostra do ambulatório geral, não houve diferença estatística, talvez pelo n ser muito pequeno. Embora as bases neurobiológicas da depressão não estejam totalmente esclarecidas, vários pesquisadores da área destacam o aspecto multifatorial desse transtorno, incluindo influências genéticas (Mc Guffin & Katz, 1991; Bierut et al., 1999), biológicas (Steiner et al., 2003; Buist et al.,2006), ambientais e psicológicas (Kendler et al.,1993; Kendler e Prescott 1999). Por exemplo, há determinados transtornos do humor que ocorrem exclusivamente na mulher e apesar de receberem tratamentos semelhantes, cada um deles tem sua particularidade clínica, já que o grande diferencial biológico entre homens e mulheres sem dúvida é o ciclo reprodutivo feminino e suas diferentes fases. Além das oscilações mensais dos hormônios sexuais regulados pelo eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, a mulher passa por intensas alterações de seu perfil 47 hormonal na puberdade (menarca), na gravidez, no puerpério e no climatério (Veras et al., 2006). Ainda em relação à influência dos fatores hormonais, indivíduos do sexo feminino que apresentam menarca precoce ou tardia têm uma taxa de depressão ainda mais elevada (30% e 34%, respectivamente). Assim, existe um transtorno chamado disfórico pré-menstrual (TDPM), um transtorno variante da síndrome pré-menstrual, mais severa ou extrema, cujos sintomas de disfunção serotoninérgica são comuns também para ansiedade e depressão (Veras et al., 2006; Rennó et al., 2007; Valadares et al., 2006) Em geral, os sintomas pioram com a aproximação da menstruação e usualmente cessam de forma imediata ou logo a seguir (um a dois dias) ao início de fluxo menstrual (Thys-Jacob et al., 1998; Parry, 1999). Hylan et al. (1999) avaliaram a prevalência e o impacto desses sintomas peri-menstruais em mulheres de 18 a 49 anos da população geral em três países: Estados Unidos, Inglaterra e França. Os resultados foram consistentes entre eles, com 80% das mulheres tendo relatado irritabilidade/raiva, fadiga e sensação de inchaço ou ganho de peso. Esses sintomas foram incapacitantes e provocaram perdas de dias de trabalho, porém poucas receberam tratamento adequado. Apesar de haverem procurado especialistas, muitas tinham a crença de não existir tratamento para os seus sintomas. Angst et al. (2001) descreveram a prevalência de alguns sintomas no período peri-menstrual em 299 mulheres de uma coorte em Zurich, entre as idades de 21 e 35 anos, sendo este o primeiro estudo prospectivo, na população geral, no qual foram avaliados sintomas perimenstruais, sua duração, padrão de comorbidade, interferência nas atividades e grau de sofrimento, uso de medicações e procura de tratamento, além de determinadas características de personalidade. Irritabilidade e humor depressivo foram os sintomas mais comuns do período prémenstrual (44,6% e 29,1%), seguidos por nervosismo e tensão (23,3% e 22,3%), 48 enquanto humor irritável e depressivo foram os sintomas mais freqüentes no período menstrual. A comorbidade mais comum dos sintomas perimenstruais foi com transtornos do humor (depressão breve recorrente) e de ansiedade (generalizada). Foi importante a associação com abuso/dependência de álcool (OR = 4,2), mas não foi verificada associação com dependência de tabaco. O presente estudo também avaliou estes sintomas perimenstruais através do MINI-Plus e demonstrou que entre as mulheres que menstruavam no grupo Empresa (70), 18,5% delas apresentaram critérios diagnósticos positivos para transtorno disfórico pré-menstrual, concordando com a literatura. Em relação aos fatores ambientais e psicológicos, as mulheres parecem ser mais afetadas por relacionamentos interpessoais e mostram-se mais expostas a eventos traumáticos como abuso físico e sexual (Golding, 1999; Keita, 2007). A prevalência de depressão é duas vezes maior entre pacientes que sofreram estupro na infância (52%), comparadas às que não sofreram estupro (27%) (Saunders et al.,1999). Além disso, existem diferenças culturais na criação de meninos e meninas e maior exposição do sexo feminino a estressores crônicos como a pobreza e a discriminação de gênero, que reforçam a lista de fatores de risco para depressão (Belle & Doucet, 2003). Entretanto, no presente estudo, a grande maioria referiu nunca ter sofrido algum tipo de ato violento como seqüestro, espancamento, estupro ou violência doméstica. Algumas limitações do estudo referem-se à população, já que o tamanho da amostra do grupo UNESC ficou bastante reduzida, por questões da própria estrutura da universidade alheias ao estudo. Além disso, a população é restrita geograficamente, com predomínio europeu (italiano), e pode não se aplicar para toda uma população. Além disso, a utilização de dados seccionais, que não permitem investigar a 49 possibilidade de causalidade reversa. Outra limitação refere-se ao instrumento utilizado o MINI desenvolvido por Sheehan et al., (1998) e validado no Brasil por Amorim (2000), pois apesar de poder ser utilizado para avaliação breve de critérios diagnósticos em estudos longitudinais e permitir a coleta sistemática de informações necessárias ao estabelecimento ou à confirmação de hipóteses diagnósticas, ele é o único questionário padronizado de aplicação rápida atualmente disponível para a avaliação dos transtornos psicóticos, e portanto ele seria melhor adaptado ao contexto clínico e à avaliação de pacientes mais graves, o que não era o caso. Entretanto este instrumento representa uma alternativa econômica para a seleção de pacientes, segundo critérios internacionais, além de ser breve, simples e bastante abrangente, o que é bom para aplicação em locais como empresas, onde não é possível permanecer longos períodos fora do posto de trabalho. Em 2007, Wang e seus colaboradores realizaram um estudo randomizado envolvendo 604 trabalhadores que preenchiam critérios para depressão, e os resultados demonstraram que no grupo onde houve intervenção (tratamento farmacológico e/ou psicoterapia), houve significativamente redução da severidade da doença, bem como maior retenção no trabalho e mais horas efetivamente trabalhadas do que no grupo controle, concluindo que valeria a pena investir no diagnóstico e tratamento deste transtorno mental. Em 2010, Zasshi conduziu um estudo no Japão que sugere que mesmo em funções de baixa autonomia, o suporte psicossocial da supervisão minimiza os efeitos dos sintomas depressivos relacionados ao trabalho. Entretanto este tema ainda parece nebuloso, já que a relação entre liderança e performance no trabalho ainda carece de estudos mais conclusivos (Kuoppala et al., 2008), apesar dos já existentes levantados nessa metanálise terem demonstrado que 50 que a liderança exerce um importante papel na satisfação e bem-estar no trabalho, na bem como na diminuição de doenças e afastamentos. Importante salientar que houve satisfação e felicidade na vida. Assim, concordando com Ventegodt et al., (2008), parece que os fatores mais importantes para a qualidade de vida do indivíduo, inclusive de sua saúde, são as boas relações com o próximo, assim como a visão global da vida. O que se possui em termos objetivos dinheiro, status, trabalho - não parece ser tão importante para a qualidade de vida global e nem para a saúde de maneira geral, indicando que o que realmente importa não é o que se tem, mas como o indivíduo vê e avalia suas experiências vividas. Um estudo publicado em dezembro de 2010 (Berry et al., 2010) é a prova conclusiva de que o investimento no bem-estar do empregado, além das exigências mínimas da lei, oferece um excelente retorno sobre o investimento financeiro das empresas. Por exemplo a multinacional Johnson & Johnson elaborou um relatório demonstrando ter economizado US $ 2,71 para cada US $ 1 gasto nos EUA, salvando a empresa de US $ 250 milhões em custos de saúde nos últimos dez anos e é possível que nos outros países da companhia o retorno seja ainda maior. A Unilever também relata um retorno de US $ 5,44 sobre cada US $ 1,55 gasto no bem-estar dos trabalhadores através do seu programa de Qualidade de Vida. Se todos os funcionários da Unilever em todo o mundo participarem deste programa, o potencial de economia para a empresa equivaleria a mais de 600.000 dólares por ano. Os custos aparecem em redução do absenteísmo, da rotatividade e de maior produtividade dos funcionários (Berry et al., 2010). 51 6 CONCLUSÃO Os transtornos mentais têm alta prevalência entre as doenças crônicas mundiais, causando um enorme impacto pessoal, social e econômico. Além disso, fazem parte do diagnóstico médico e, em termos epidemiológicos ou econômicos, são tão importantes quanto à hipertensão arterial ou o diabetes mellitus e também passíveis de tratamento. Portanto, também é dever do médico reconhecer e oferecer tratamento adequado para este transtorno, principalmente em serviços de saúde dentro das empresas. O presente estudo avaliou a prevalência dos transtornos mentais em trabalhadores de uma indústria de aves e comparou à população de um ambulatório geral e encontrou prevalência aumentada para agorafobia. Para os demais transtornos, não houve aumento. Isso é especialmente importante, já que o segmento vem sendo apontado como grande causador de depressão, o que não foi observado nesta pesquisa. Estudos como este visam conhecer melhor a população trabalhadora da indústria de aves bem como sugerem suporte às equipes de saúde e segurança do trabalho para que possam, juntamente com seus gestores, promover melhorias e prevenção de agravos à saúde do trabalhador. Sugere-se também novos estudos, principalmente multicêntricos, para avaliar se o segmento tem efetiva responsabilidade sobre o adoecimento mental de seus trabalhadores, já que a etiologia é multifatorial. 52 7 REFERÊNCIAS AGATISA P; MATTHEWS KA; BROMBERGER JT; EDMUNDOWICZ D; CHANG YF; SUTTON-TYRRELL K. Coronary and Aortic Calcification in Women With a History of Major Depression. Archives of Internal Medicine 165: 1229-1236. 2005. ALMEIDA-FILHO N; LESSA I; MAGALHÃES L; ARAÚJO MJ; AQUINO E; JAMES AS; KAWACHI I. 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O (a) sr(a). foi plenamente esclarecido de que participando deste projeto, estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem como um dos objetivos avaliar a Prevalência de Transtornos Mentais na População estudada. Embora o (a) sr(a) venha a aceitar a participar neste projeto, estará garantido que o (a) sr (a) poderá desistir a qualquer momento bastando para isso informar sua decisão. Foi esclarecido ainda que, por ser uma participação voluntária e sem interesse financeiro o (a) sr (a) não terá direito a nenhuma remuneração. Desconhecemos qualquer risco ou prejuízos por participar dela. Os dados referentes ao sr (a) serão sigilosos e privados, preceitos estes assegurados pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo que o (a) sr (a) poderá solicitar informações durante todas as fases do projeto, inclusive após a publicação dos dados obtidos a partir desta. A coleta de dados será realizada por entrevistadores e orientado pelos professores Dr Felipe Dal Pizzol e Dr João Quevedo. O telefone do Comitê de Ética é 3431.2723. _______________, ____de______________de 20___. ______________________________________________________ Assinatura do Participante Contato com os pesquisadores responsáveis: Dr Felipe Dal Pizzol 048 9988 5483 Dra Iananda B Ortiz 048 3471 2518 74 ANEXO B Questionário Sócio-Econômico – Data: ________ Setor:__________________ 1. Sexo: A ( ) Masculino B ( ) Feminino 2. Idade: 3. Estado Civil: A ( ) Solteiro(a) B ( ) Casado(a) C ( ) Separado(a) / Divorciado(a) D ( ) Viúvo(a) E ( ) Vivo com companheira (o) 4. Em que região você mora? A. ( ) Urbana (cidade) B. ( ) Rural (fazenda, sítio, chácara, aldeia, vila agrícola, etc.) _________ Anos completos. 5. Município em que mora hoje: _________________________ 6. Bairro em que mora hoje:____________________________ 7. Com quem a. ( ) Pais c. ( ) Filhos f. ( ) Amigos você mora atualmente? (pode ser mais de uma escolha) b.( ) Marido/esposa ou Companheiro (a) d.( ) Sogros e. ( ) Parentes g. ( ) Outros h. ( ) (ou) Sozinho (a) 8. Quantos irmãos ou meio-irmãos você tem? (A) Nenhum. (B) Um. (C) Dois. (D) Três. (E) Quatro ou mais. 9. Quantos filhos você tem? (A) Nenhum. (B) Um. (C) Dois. (D) Três. (E) Quatro ou mais. 10. Atualmente você: ( ) Apenas estuda ( ) Trabalha e estuda ( ) Apenas trabalha ( ) Está desempregado (a) ( ) Está de licença ou incapacitado de estudar / trabalhar ( ) Está aposentado (a) ( ) Não trabalha nem estuda 11. Qual é o seu trabalho ou ocupação principal? ______________________________________ Possui outras? (A) Sim (B) Não Quais?_______________________________________________ 12. No seu trabalho principal, você é: ( ) Empregado assalariado (exceto empregado doméstico) ( ) Empregado doméstico mensalista ou diarista ( ) Empregado que ganha por produção (comissão) ( ) Estagiário remunerado ou Bolsista 75 ( ( ( ( ( ) Trabalha por conta própria, é autônomo ) É dono de negócio, empregador ) Presta serviço militar obrigatório, assistencial ou religioso com alguma remuneração. ) Do lar, sem remuneração. ) Não trabalho. 13. Qual é a sua renda FAMILIAR mensal? ( ) Menos de 1 salário mínimo (até R$510) ( ) De um a dois salários mínimos (de R$510 até R$1020) ( ) De dois a quatro salários mínimos (de R$1021 até R$ 2040) ( ) De quatro a seis (de R$ 2041 até R$ 3060) ( ) Mais de 6 salários (acima de R$ 3061) 14. Qual a sua participação na vida econômica do grupo familiar? ( ) Não trabalho e sou sustentado por minha família ou outras pessoas ( ) Trabalho e sou sustentado parcialmente por minha família ou outras pessoas ( ) Trabalho e sou responsável apenas por meu próprio sustento ( ) Trabalho, sou responsável por meu próprio sustento e ainda contribuo parcialmente para o sustento da família ( ) Trabalho e sou o principal responsável pelo sustento da família ( ) Outra situação 15. Quantas pessoas (contando com você) contribuem para a renda da sua família (ajudam a pagar contas)? ( ) Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Quatro ( ) Cinco ( ) Mais. Quantas? ____ 16. Quantas pessoas (contando com você) vivem da renda da sua família? ( ) Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Quatro ( ) Cinco ( ) Mais. Quantas? ____ 17. Qual o seu grau máximo de escolaridade? ( ) Nunca frequentou ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ou grau mais alto 18. Qual o grau máximo de escolaridade do seu pai ? ( ) Nunca frequentou ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ou grau maior ( ) Desconheço 19. Qual o grau máximo de escolaridade da sua mãe ? ( ) Nunca frequentou ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ou grau maior ( ) Desconheço 76 20. Você participa de alguma destas atividades? (múltipla escolha) ( ) Capoeira, judô, karatê ou outras lutas ( ) Futebol, vôlei, basquete, natação ou outros esportes ( ) Atividades artísticas ou culturais (artes cênicas, dança, atividades circenses, artes musicais, literatura, artesanato, artes visuais, etc.) ( ) Outra atividade recreativa. Qual? ___________________ ( ) Não participo. 21. Você participa de alguma entidade ou associação? (múltipla escolha) ( ) Associação de bairro ou de moradores ( ) Sindicato de trabalhadores ou patronal ( ) Partido ou associação política ( ) Organização não governamental ( ) Time de futebol ou clube esportivo ( ) Escola de samba, Grupo de dança, música ou teatro ( ) Grupo religioso (Igrejas católicas, evangélicas, ou outras) ( ) Outros tipos de associações ou entidades. Quais? _______________________ ( ) Não participo. 22. Você presta algum tipo de serviço assistencial, ajuda financeira ou trabalho voluntário? (A) Não. (B) Sim. Citar: ______________________________________ 23. Em relação à religião, você diria que é: ( ) Ateu ( ) Acredito em Deus mas não sigo nenhuma religião ( ) Católico ( ) Protestante (evangélico, batista, mórmon, luterano, testemunha de Jeová ou outro) ( ) Espírita kardecista ( ) Praticante de religião afro-brasileira (umbanda, candomblé) ( ) Tenho outra religião. Qual? _______________________________ 24. Você recebeu algum tipo de educação religiosa na infância? ( ) Sim ( ) Não 25. Você reza/ora? ( ) Sim ( ) Não 26. Você já foi vítima de algum tipo de ato violento, tal como seqüestro, seqüestro relâmpago, espancamento, estupro, ou outro? ( ) Sim, uma vez ( ) Sim, mais de uma vez ( ) Não ( ) Prefiro não declarar 27. Você já foi vítima de algum tipo de violência doméstica? ( ) Sim, uma vez ( ) Sim, mais de uma vez ( ) Não ( ) Prefiro não declarar 77 28. Você já fez algum tipo de tratamento com psicólogo ou psiquiatra? ( ) Sim, apenas terapia ( ) Sim, apenas tomei medicação ( ) Sim, fiz terapia e tomei medicação ( ) Não ( ) Prefiro não declarar 29. Se respondeu sim na questão 31, escolha qual o motivo que fez buscar o tratamento (múltipla escolha) ( ) Depressão, estresse ( ) Ansiedade, dificuldade para dormir, irritação ( ) Fobias (medos) ( ) Problemas de relacionamento (Familiares, de trabalho, amigos) ( ) Outros. Qual?________________ 30. Você se sente feliz no trabalho? ( A ) sim ( B ) não ( C ) não trabalha 31. Você se sente feliz na vida? ( A ) sim ( B ) não 32. Se você respondeu não a pergunta anterior, o que mais pesa para que você não se sinta feliz? ( ) trabalho que exerço (eu gostaria de fazer outra coisa) ( ) relação com parceiro (a) ( ) relação com filho (a) ( ) relação com outros parentes ( ) condições financeiras ( ) outra: especificar________________________ Agradecemos a sua colaboração!