Evolução das contas externas e regimes cambiais

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I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015
Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015
UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná
CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Evolução das contas externas e regimes cambiais adotados pelo
Brasil: uma breve reflexão
Vanessa de Cassia Araujo dos Santos (Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus
Cascavel) [email protected]
Rosangela Maria Pontili (Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus Cascavel)
[email protected]
Resumo
Este trabalho teve como objetivo fazer um levantamento do comportamento histórico das
contas externas brasileiras, tendo-se como foco: o saldo da balança comercial, a evolução das
exportações e a variação da taxa de câmbio. Além disso, fez-se um breve relato das políticas
cambiais adotadas pelos governos federais do Brasil, ao longo de sua história contemporânea.
Foi demonstrado que as exportações brasileiras cresceram ao longo do período analisado e
estes resultados positivos podem ter sido fruto de políticas de incentivo ao exportador, bem
como da adoção de regimes cambiais que favoreceram a competitividade dos produtos
brasileiros no comércio internacional. No período de 1994 a 2014, o Brasil teve um cenário
macroeconômico estável, com controle da inflação, o que possibilitou a adoção de políticas de
comércio internacional mais eficazes. É evidente que os regimes cambiais são importantes
para o sucesso das exportações e consequentemente para superávits na Balança Comercial e,
desta maneira, contribuem para melhores resultados do PIB nacional.
Palavras-chave: Taxa de câmbio. Balança comercial. Política cambial.
Área Temática: Economia Internacional.
1 Introdução
Para que ocorra um equilíbrio nas economias dos países, são adotadas políticas
macroeconômicas que simultaneamente procuram realizar seus principais objetivos tais como:
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manter o Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento; minimizar as taxas de desemprego;
estabilizar os níveis de preço; equilibrar as transações externas como exportações e
importações. Para obter sucesso nestes objetivos são utilizadas as políticas: fiscal, monetária e
cambial.
Conforme Paul Krugman (2010), o mercado de câmbio é aquele no qual os agentes
econômicos, empresas e bancos compram e vendem moedas estrangeiras ou realizam
transações cambiais. Sua principal função é possibilitar a transferência de recursos entre
países. Para mediar estas transferências é utilizada a taxa de câmbio, que se refere ao preço
em moeda estrangeira de uma unidade da moeda corrente interna. Assim sendo, tais
transações entre países interferem no balanço de pagamentos.
Segundo Salvatore (2007), o balanço de pagamentos corresponde à apresentação
sumária na qual todas as transações dos residentes de uma determinada nação, realizadas com
residentes de outras nações, são registradas durante um período de tempo. Seu principal
objetivo é informar ao governo a posição internacional de um determinado país e, assim,
auxiliar na formulação de políticas monetárias fiscais e comerciais.
No Brasil o balanço de pagamentos é elaborado pelo Banco Central (BACEN), e tem
como base a metodologia definida no Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo
Monetário Internacional (FMI). O saldo do balanço de pagamentos pode ser um déficit, ou
seja, houve uma saída de moeda estrangeira maior que a entrada, ou superávit, que ocorre
quando há uma entrada de dividas estrangeiras maior que a saída. Este resultado tem ligação
direta com o saldo de reservas internacionais do país, cujo principal objetivo é servir de
instrumento regulador na ocorrência de crises financeiras. Segundo dados do BACEN (2014),
esta conta apresentava superávit desde 2001 até 2012 e, neste período, houve aumento no
volume de exportações e uma desvalorização do câmbio brasileiro.
Segundo Bresser-Pereira (2004), para países em desenvolvimento a taxa de câmbio é
um a ferramenta para o desenvolvimento econômico, por dois motivos: primeiro, a taxa de
câmbio desvalorizada favorece as exportações, resultando em melhores resultados da balança
comercial. Segundo, torna o país mais competitivo no mercado internacional, estimulando o
investimento de indústrias exportadoras. Também para o autor este pode ser o motivo do
sucesso econômico alcançado por países asiáticos como China e Coréia do Sul.
Para que o mercado de divisas e o balanço de pagamentos estejam em equilíbrio é
possível adotar vários tipos de regimes cambiais. Para Zini A. Junior (1995) o regime cambial
possui duas acepções. A primeira é chamada de regime cambial e é o conjunto de
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características resultantes das leis, normas e práticas, que regulamentam as transações com
moedas estrangeiras na economia. A segunda acepção faz menção ao sentido econômico de
regime cambial e, neste, tem-se a regra básica de como se estabelece a taxa de câmbio do
país, ou seja, de que regime o governo optará. Atualmente pode ser observado que grande
parte dos Estados tem optado pelo regime cambial-flutuante ou fixo e até uma variação entre
estas duas opções.
O Brasil, ao longo do tempo, utilizou-se de vários tipos de regimes cambiais como o
câmbio fixo, as bandas cambiais e o câmbio flutuante, que tem sido a opção do governo
brasileiro na última década.
Ao adotar uma determinada política cambial o país sofre efeitos que repercutem de
maneira direta na economia interna e, indiretamente, também interferem nas economias dos
países que se relacionam comercialmente com o mesmo. Em 2011 foi publicado um relatório
da Organização Mundial do Comércio (OMC, 2011), no qual países como o Brasil
questionaram a forma prática com que outros países como China e Estados Unidos da
América atuam no mercado cambial, pois se suspeita que estes podem estar utilizando-se de
mecanismos de desvalorização cambial, que causariam efeitos negativos na economia de
países parceiros. Segundo este mesmo relatório, a este respeito a OCDE, em particular,
estudou o impacto do comércio de mudanças nas taxas de câmbio para três maiores
economias do mundo, ou seja, os Estados Unidos, a zona do euro e China (OECD, 2011).
Este estudo apresentou o seguinte resultado: em detalhes, mostrou que o valor do comércio
entre os Estados Unidos e China seria mais afetado por mudanças de moeda diferente da área
EUA-euro ou da área China-euro. Assim, o desequilíbrio comercial entre os Estados Unidos e
a China seria devido a uma série de fatores, dos quais a taxa de câmbio é (apenas) um.
Diante deste contexto, a questão cambial é um fator de grande importância no
crescimento da economia dos países e está ligada diretamente a variáveis como taxa de
câmbio, balanço de pagamentos, além de outras variáveis que podem indiretamente alterar a
economia do país e o cenário internacional do mesmo.
Em vista disso, este trabalho teve como objetivo fazer um levantamento do
comportamento histórico das contas externas brasileiras, tendo-se como foco: o saldo da
balança comercial, a evolução das exportações e a variação da taxa de câmbio. Além disso,
fez-se um breve relato das políticas cambiais adotadas pelos governos federais do Brasil, ao
longo de sua história contemporânea.
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2 Metodologia e dados
A proposta desta pesquisa permitiu o uso de duas diferentes metodologias: o
levantamento bibliográfico das políticas cambiais brasileiras; a realização de estatísticas
descritivas para o saldo da balança comercial, o resultado das exportações e as taxas de
câmbio que vigoraram no país entre 1980 e 2015.
Como fonte de dados buscou-se as informações disponíveis nas páginas eletrônicas do
Banco Central do Brasil (BACEN) e do IPEADATA, em séries temporais trimestrais das
variáveis observadas. Além disso, para a descrição histórica das políticas cambiais, fez-se uso
de livros texto e artigos científicos.
3 Resultados e discussões
3.1 Políticas cambiais do Brasil: um breve relato
Segundo Zini (1995), o mercado de câmbio brasileiro possui uma lógica
intervencionista em sua essência, pois as oscilações nas exportações principalmente de
commodities, como café e soja, sempre tiveram papel fundamental na economia do país. Tais
oscilações podem causar crises no mercado de divisas, bem como no saldo do Balanço de
pagamentos.
Neste aspecto, o Brasil passou por vários regimes cambiais, desde o padrão ouro, ao
Breton Woods, entre outros. Por isso, serão apresentados, de maneira breve, os principais
regimes cambiais adotados pelo país ao longo de sua trajetória econômica.
Segundo Suzigan (1975), de 1889 até outubro de 1917, o mercado cambial gozava de
completa liberdade nas operações. De outubro de 1917 a novembro de 1926 iniciaram-se os
sistemas de controle cambial das operações financeiras, que objetivavam diminuir as remessas
de valores para o exterior, em decorrência da situação de guerra. Além disso, buscava-se
acabar com as especulações exercidas pelos bancos privados no mercado cambial.
Entre 1927 a 1930, houve uma crise na produção interna, levando o governo a um
saneamento monetário, pelo qual se deram a quebra do padrão da moeda brasileira e a
estabilização do câmbio pela criação da Caixa de Estabilização. Neste momento, a política
monetária adotada foi a de fixação da taxa cambial a um alto nível de desvalorização.
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Nos anos de 1931 a 1938, adotou-se a política cambial de controle direto do mercado
de câmbio, com o monopólio cambial sendo exercido através do Banco do Brasil. No período
de 1939 a 1946 ocorreu o retorno à liberdade cambial.
Para Huddle (1972), o sistema vigente, antes de 1953, era o de taxas fixas e
supervalorizadas, com licenças de importação e muitos controles. Neste período, as operações
de câmbio baseavam-se em um sistema de múltipla licitação e tinham como base a
diferenciação de taxas cambiais para incentivar as exportações. Já as importações passaram
para o sistema por vendas em leilão de licenças de câmbio.
Em razão desta política cambial, os exportadores sentiram-se desestimulados e isto
levou o governo a adotar políticas de estímulo às exportações. Este período foi marcado pelo
desestímulo da produção nacional de alguns bens.
Para Leão Júnior (1986), a partir de 1961, o Brasil adequou-se ao sistema Bretton
Woods e adotou a taxa de câmbio fixa com ajustamentos esporádicos e, em algumas situações,
utilizava-se mecanismos para desvalorizar o câmbio em até 10% se necessário. Havia
intervalos entre as variações cambiais e, nestes momentos, a taxa cambial ficava defasada em
relação à inflação interna, causando instabilidade nas importações e nas exportações. Os
reajustes ocorriam por períodos de 10 meses em média, deixando as exportações brasileiras
relativamente mais caras entre os ajustamentos. Dada a previsibilidade de novas
desvalorizações, os parceiros comerciais do Brasil acabavam por adiar ou paralisar as
importações do mercado brasileiro, esperando que taxas mais atrativas fossem estabelecidas.
As importações, por sua vez, tornavam-se relativamente mais baratas e acabavam subsidiadas
por uma queda real da proteção tarifária.
O período de vigência do sistema Bretton Woods, no Brasil, foi marcado pela
especulação, o que pode ser explicado pela fixação das taxas de câmbio por longos períodos,
as quais eram acompanhadas por taxas de inflação contínuas. A desvalorização cambial
acontecia para minimizar os efeitos nocivos da inflação e isto permitiu a elevação
significativa de entrada de capital estrangeiro no país. As desvalorizações ocorriam sempre no
início do ano e, prevendo novas desvalorizações cambiais, era comum acontecerem saídas de
capital esporádicas.
Em decorrência de um processo inflacionário, em agosto de 1968, o governo brasileiro
apresentou um novo sistema cambial, baseado em minidesvalorizações, ou seja, variações
pequenas e frequentes na taxa cruzeiro/dólar, com o objetivo de extinguir as especulações do
período anterior. A partir deste período, o Banco Central passou a informar as variações
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cambiais, por meio de comunicados nos quais informavam sobre novas taxas de venda e
compra para o dólar. Segundo Zinni (1995), este mecanismo era o mais adequado para
neutralizar os efeitos nocivos da inflação sobre o balanço de pagamentos. A política cambial
de minidesvalorizações tinha como método a Paridade de Poder de Compra relativa (PPC).
Também para Zini (1995), dentro dos critérios da PPC, a desvalorização da moeda tem que
ser igual à diferença entre a inflação doméstica e a internacional, com os outros fatores
constantes. Estes critérios evitam a deterioração nas contas externas, preservando uma taxa de
câmbio real constante.
De 1984 a fevereiro de 1986, a política foi suspensa pelo Plano Cruzado e, a partir
deste momento, a frequência das desvalorizações aumentou. Ao fim de 1985, as
desvalorizações eram pré-anunciadas diariamente. Entretanto, no fim de 1986, a política
cambial de minidesvalorizações retornou.
Em 1990, o governo estabeleceu o regime de câmbio flutuante administrado, modelo
em que o BACEN interviu nas oscilações para manter o preço esperado do dólar. Para Zini
(1995), a diferença entre o sistema de minidesvalorizações cambiais e o sistema de câmbio
flutuante administrado é que, até 1989, o BACEN estabelecia diariamente as taxas a serem
praticadas pelo mercado de divisas e, após 1990, a responsabilidade de manter a paridade
cambial ficou mais elástica.
No período entre 1990 a 1994, a política cambial baseou-se em um regime de câmbio
semi-fixo e, neste, ocorriam desvalorizações diariamente. De 1994 a janeiro de 1999, período
em que foi implantado o Plano Real na busca da estabilidade monetária, o regime utilizado
pelo governo foi o de bandas cambiais. Segundo Baumann (2004), este regime de bandas de
flutuação foi uma tentativa de introduzir flexibilidade na taxa de câmbio nominal, com o
intuito de responder às mudanças nas condições externas e internas do país para que o
mercado estivesse ciente do valor do câmbio. Desta maneira, poder-se-ia estabilizar as
expectativas.
Além disso, no Plano Real, o regime cambial possuía o papel de âncora e, assim, uma
vez fixada a taxa de câmbio, outras variáveis macroeconômicas nominais se ajustavam, não
afetando as variáveis reais, o que contribuiria para a estabilização dos preços. Para garantir a
âncora cambial necessária para a manutenção da estabilidade econômica e contenção da
inflação, seria necessária a livre entrada de importados para fazer frente aos abusos de preços,
o que, certamente, era facilitado pela apreciação do real.
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Após a crise cambial de janeiro de 1999, resultante, entre outros fatores, da elevada
vulnerabilidade externa do país, o Brasil adotou um novo modelo de política econômica,
baseado nas seguintes características: regime de câmbio flutuante e sistema de metas de
inflação conforme publicação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES, 2008).
Segundo Cardoso (2001) ao fim do regime de bandas cambiais, o mercado de divisas
no Brasil passou a apresentar livre flutuação, diminuindo a previsibilidade de comportamento
da taxa. No entanto, como se sabe, a livre flutuação impõe riscos aos agentes econômicos,
desta maneira necessitando a utilização do mercado futuro de taxas de câmbio. No primeiro
mês e meio que se seguiu à mudança, a taxa de câmbio disparou, impulsionada pelo
desequilíbrio no mercado de câmbio, desvalorizando-se em cerca de 60%. Nos anos seguintes,
houve a introdução da política de câmbio flutuante “sujo”, quando o Brasil passou a
apresentar resultados positivos em sua balança comercial. Após 2003, o Governo Federal
adotou uma política de estímulo às exportações, o que conduziu a resultados melhores,
conforme citou Souza (2008).
Em uma publicação do Banco Central do Brasil, em janeiro de 2009, este órgão
federal ressaltou a importância do estabelecimento da taxa de câmbio, que é certamente o
regime mais adequado para uma economia grande e relativamente fechada como a brasileira.
Se o Brasil não tivesse flutuado o real em 1999, teria certamente seguido o mesmo caminho
nos anos seguintes e, possivelmente, em condições muito piores (BACEN, 2009).
Para ressaltar a importância desta variável macroeconômica tem-se um estudo
realizado pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP, 2013), em uma amostra de
dados de 188 países, no período de 1950 a 2010. Evidências mostram que desvalorizações
cambiais podem ter efeito positivo sobre o crescimento econômico. Segundo as estimativas,
uma desvalorização cambial da ordem de 10% resultaria, em média, no aumento de 0,17
pontos percentuais da taxa de crescimento do PIB per capita. As alterações seriam mais
expressivas nos países de menor renda: elevação de 0,25 pontos percentuais na taxa de
crescimento de países com renda de até US$ 2.000,00 e de 0,12 pontos percentuais em países
com renda superior a US$ 10.000,00.
Para o caso brasileiro, o estudo mostrou que o grau de repasse estimado aos preços de
importação situou-se em torno de 75% da variação cambial. Já o repasse cambial ao Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) correspondia a 7,9%, isto é, uma desvalorização de
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10% do câmbio que aumentaria a inflação ao consumidor em 0,79 pontos percentuais, no
decorrer de 12 meses.
Com isso, pode-se afirmar que a relação entre taxa de câmbio e comércio internacional
pode resultar em melhores ou piores resultados para a balança comercial brasileira alterando,
indiretamente o PIB do país.
3.2 Contas externas do Brasil: algumas estatísticas
Neste tópico, serão analisados os resultados da balança comercial brasileira de 1959 à
2014, as exportações do país de 1889 à 2014 e, finalizando, a taxa de câmbio efetiva real INPC – exportações de 1980 à janeiro de 2015.
O gráfico 1 apresenta os resultados da balança comercial brasileira no período de
1959 à 2014. Nesta serie histórica é possível observar que entre 1959 e 2001 os saldos
seguiram com oscilações de superávits e déficits e, a partir do ano de 2003, houve um salto
com superávits expressivos. Estes resultados podem ser explicados por a junção de políticas
de incentivo a exportações, cenário econômico favorável e taxa de câmbio competitiva.
Para Meyer (2007), A balança comercial brasileira apresentou comportamento
diferenciado durante a década de 90. Depois da implementação do Plano Real em 1994, as
contas externas do país apresentaram déficits significativos, por exemplo, em 1997 chegou a
ser US$ 6,7 bilhões de saldo negativo da balança comercial. No entanto, após a crise
econômica de 1998, que levou a mudança do regime cambial, no início de 1999, a balança
comercial passou a ter um melhor desempenho, destacando-se o observado a partir de 2002,
quando começou a apresentar superávits significativos.
Gráfico 1: Saldo da Balança Comercial brasileira – 1959 a 2013
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Fonte: Elaborado a partir dos dados do IPEADATA (2015)
O gráfico 2 apresenta a evolução das exportações brasileiras, sendo possível observar
que o saldo de exportações aumentou substancialmente após o estabelecimento do Plano Real,
pois nos últimos vinte anos o país tem adotado políticas que estimulam os exportadores.
Segundo o IPEA (2010) essa evolução reflete o desempenho da economia doméstica e
mundial e as políticas adotadas internamente.
Conforme o Boletim do BACEN (2012), as exportações brasileiras apresentaram
crescimento contínuo e expressivo nos últimos anos e a exceção foi 2009, em razão da crise
financeira internacional. Esse movimento, favorecido, sobretudo, pela elevação dos preços
das principais commodities negociadas pelo país no mercado internacional, traduziu-se em
aumento persistente na participação de produtos básicos na pauta exportadora brasileira.
Gráfico 2: Evolução das exportações brasileiras no período de 1889 a 20014
Fonte: Elaborado a partir dos dados do IPEADATA (2015)
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O gráfico 3 demonstra o quanto as taxas de câmbio adotadas pelo país, são
competitivas, tendo como base a média ponderada do índice de paridade do poder de compra
(PPC), isto para os 17 principais parceiros comerciais do Brasil.
Para Gala (2006), o crescimento econômico depende da capacidade que a estrutura
produtiva do país tem para ajustar-se às oportunidades observadas no comércio internacional.
O sucesso das exportações está correlacionado a vários elementos e, conforme os fatos
históricos indicam, é afetado pela utilização de políticas que abrangem tanto a dimensão
macroeconômica quanto a microeconômica. Dentre os inúmeros incentivos adotados para as
exportações do país, salienta-se a administração de taxas de câmbio competitivas que
favoreçam a dinâmica dos setores exportadores.
Gráfico 3: Taxa de câmbio - efetiva real - INPC - exportações
Fonte: Dados IPEADATA, 2015. Elaborado pelo autor.
4 Considerações finais
Conforme fora apresentado neste trabalho, é fato que as exportações brasileiras
cresceram ao longo do período analisado e estes resultados positivos refletem diretamente no
saldo do Balanço de Pagamentos. Estes bons resultados são fruto de políticas de incentivo ao
exportador, bem como da adoção de regimes cambiais que favoreceram a competitividade dos
produtos brasileiros no comércio internacional.
No período de 1994 a 2014, o Brasil teve um cenário macroeconômico estável, com
controle da inflação, o que possibilitou a adoção de políticas de comércio internacional mais
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eficazes. É evidente que os regimes cambiais são importantes para o sucesso das exportações
e consequentemente para superávits na Balança Comercial e, desta maneira, contribuem para
melhores resultados do PIB nacional.
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