Artigo Técnico Endocrinologia – Abril / 2007 O tônus simpático vasomotor determina a resposta da pressão arterial ao tratamento com a sibutramina em longo prazo. A sibutramina é um agente antiobesidade amplamente usado. O objetivo desse estudo foi o de avaliar se a resposta pressórica à terapia com a sibutramina a longo prazo pode ser relacionada à atividade simpática antes do tratamento. Fármaco em estudo: sibutramina Original: Sympathetic Vasomotor Tone Determines Blood Pressure Response to Long-term Sibutramine Treatment Autoria: Heusser, K.; Engeli, S.; Tank, J.; Diedrich, A.; Wiesner, S.; Janke, J.; , Friedrich C. Et al. . J Clin Endocrin Metab February 6, 2007. Resumo Introdução A sibutramina é um fármaco antiobesidade amplamente utilizado que media a saciedade. Um leve aumento no gasto energético também pode contribuir para a perda de peso com o fármaco. Teoricamente, a inibição do transporte de noradrenalina e serotonina com a sibutramina poderia aumentar ou piorar a hipertensão arterial. Em uma análise recente de dois estudos placebocontrolados, a sibutramina não resultou em um aumento pressórico inapropriado. A observação pode ser explicada pelo efeito complexo da sibutramina no sistema nervoso simpático. A inibição do transporte de noradrenalina e serotonina em tecidos periféricos tende a aumentar o fluxo de noradrenalina. Entretanto, o bloqueio desse transporte no cérebro atenua o fluxo simpático através da ativação de receptores alfa-2 adrenérgicos. De fato, o uso de sibutramina por poucos dias atenua a resposta pressórica ao estimulo simpático em indivíduos com peso normal e diminui a atividade simpática gerada centralmente em mais de 50% em indivíduos obesos. O efeito simpatolítico central pode atenuar a ação estimulatória periférica da sibutramina. O mecanismo pode ser particularmente relevante em pacientes com aumento da atividade simpática. Nesse artigo foi testada a hipótese que a resposta pressórica ao uso crônico da sibutramina é relacionada à atividade simpática antes do tratamento. Além disso, foram dosadas as catecolaminas plasmáticas e a expressão gênica de receptores adrenérgicos no tecido adiposo, antes e durante o tratamento com a sibutramina. Materiais e métodos Foram recrutados 20 pacientes obesos atendidos na clínica de obesidade da Universidade de Charité (7 homens, 13 mulheres, 42 ± 2 anos, 35 ± 0,7 Kg/m²). Foram excluídos pacientes com causas secundárias de obesidade, diabetes mellitus, e outras comorbidades. Os pacientes foram submetidos a uma avaliação cardiovascular inicial incluindo medidas de atividade simpática e biópsia do tecido adiposo, após cinco dias de tratamento com o placebo. Foi feito ainda ECG, medidas da PA, e a atividade muscular simpática foi avaliada através do registro de eletrodos unipolares do nervo peroneal direito. Após a avaliação cardiovascular, os pacientes foram tratados por três meses com 15 mg de sibutramina por dia, de forma aberta. Os pacientes receberam aconselhamento nutricional antes do estudo e mensalmente (déficit de 600 kcal/dia). Foram determinadas a pressão arterial e a freqüência cardíaca durante cada visita. Os pacientes com um aumento na pressão arterial maior que 15 mmHg ou aumento de freqüência cardíaca maior ou igual a 15 bpm em duas visitas consecutivas foram excluídos do estudo. Foram dosadas as catecolaminas plasmáticas e a atividade simpática muscular (ASM) na posição supina antes do tratamento com a sibutramina e de novo ao final do período de tratamento. Foram feitas biópsias do tecido adiposo subcutâneo antes do tratamento, após 5 dias de tratamento, e após 12 semanas. A expressão do RNAm dos receptores adrenérgicos foi avaliada por PCR. 1 Resultados: Durante o tratamento com a sibutramina, sete pacientes foram excluídos porque a pressão arterial e/ou freqüência cardíaca excederam a margem especificada. Com a sibutramina, o peso corpóreo diminuiu em 4.1 ± 0.8 Kg. As mudanças na pressão arterial com o tratamento com a sibutramina foram correlacionadas negativamente com a atividade simpática muscular antes do tratamento. Os tratamentos agudo e crônico com a sibutramina levaram a uma up-regulation similar do RNAm dos receptores adrenérgicos beta-1 (p<0.05). A expressão de receptores adrenérgicos beta-2 foi aumentada com o tratamento agudo, mas não com o tratamento crônico com a sibutramina. A expressão de receptores adrenérgicos beta-3 não foi afetada. Os principais resultados estão expostos na tabela 1. Tab.1 – Resultados com o tratamento com a sibutramina Parâmetro PA (mm Hg) FC (bpm) Atividade simpática muscular Noradrenalina Plasmática (pg/mL) Adrenalina Plasmática(pg/mL) Antes do tratamento 123 ± 4/69±2 69 ± 2 26 ± 4 197 ± 24 9,3 ± 1,4 Após o tratamento 128 ± 7/72±3 75±2 9±2 332 ± 27 18,8 ± 1,7 Discussão Foi testada a hipótese de que a atividade simpática gerada centralmente influencia a resposta cardiovascular ao tratamento com a sibutramina a longo prazo. A ASM antes do tratamento e a resposta pressórica durante o tratamento com a sibutramina foram inversamente correlacionadas. Além disso, foram observadas mudanças nas catecolaminas plasmáticas e na expressão de receptores adrenérgicos, que podem dar um esclarecimento adicional no mecanismo de ação da sibutramina e da contribuição do transporte de noradrenalina e serotonina à regulação simpática a longo prazo. Estudos prévios demonstraram redução do drive simpático com a inibição sistêmica do transporte de catecolaminas por um mecanismo central. Assim, a resposta da pressão arterial e da freqüência cardíaca à inibição aguda desse transporte pode ser a soma da estimulação simpática periférica e da inibição simpática central. O balanço entre ambos os mecanismos diferem entre os órgãos. No coração, a inibição do transporte de catecolaminas resulta em estimulação simpática. No rim e na vasculatura, a inibição simpática prevalece. Em estudos prévios, a redução de peso de 16 Kg e 7 Kg através de restrição calórica reduziu a ASM em 35,5% e 15,0% respectivamente. Em nosso estudo, uma redução muito menor no peso corpóreo foi associada com uma redução de 65% na ASM sugerindo que a ação simpatolítica central é sustentada com o tratamento crônico. O mecanismo é relevante em como os pacientes individuais respondem ao tratamento crônico com a sibutramina. Em um paciente com baixa atividade simpática, a atividade simpática não pode ser diminuída adicionalmente. A inibição periférica do transporte de catecolaminas predomina e tende a aumentar a pressão arterial. Em contraste, em um paciente com uma atividade simpática muito maior, o efeito simpatolítico central pode ser completamente expresso. Nesse paciente, a pressão arterial pode aumentar em menor grau, ou mesmo diminuir. As concentrações de noradrenalina e adrenalina aumentaram com o tratamento crônico com a sibutramina. Já com o tratamento agudo, as concentrações não aumentaram ou até mesmo diminuíram com a inibição aguda do transporte de catecolaminas. Os dados sugerem que o aumento de catecolaminas plasmáticas com o uso crônico da sibutramina pode ser explicado por mecanismos periféricos , mais do que a taquifilaxia à ação simpatolítica central. O presente estudo sugere que a sibutramina resulta em um efeito simpatolítico central, contrabalançando em parte uma estimulação simpática periférica. Além disso, a inibição do transporte de catecolaminas altera a expressão de receptores adrenérgicos pós-sinápticos pelo menos no tecido adiposo. A complexa interação do sistema nervoso central e dos mecanismos periféricos pode explicar a grande variabilidade nas respostas cardiovascular e metabólica a esse fármaco. 2 Exemplificação de Fórmula 01. Sibutramina - cápsulas Sibutramina .......................... 5 a 15 mg Excipiente qsp ........................1 cápsula M Posologia: 1 dose entre 5 a 15 mg ao dia ou a critério médico. A exemplificação de formulação contida neste artigo é apresentada como sugestão, podendo ser modificada a critério médico. Artigo Técnico Endocrinologia é parte integrante do SAP®, produto exclusivo da Racine Consultores Ltda. 3