ANÁLISE TERMODINÂMICA DE FLUIDOS REFRIGERANTES EM UM REATOR CSTR D. O. DAMASCENO, J. S. AVILA, T. K. O. COSTA, H. BISPO Universidade Federal de Campina grande, Centro de Ciências e Tecnologia, Unidade Acadêmica de Engenharia Química E-mail para contato: [email protected] RESUMO – Diversas técnicas de otimização são utilizadas na tentativa de minimização de perdas energéticas. Como resultado, observa-se um considerável ganho, tanto do ponto de vista econômico quanto do ambiental, principalmente quando se fala em descarte industrial. Nesse contexto, uma análise do comportamento de um reator CSTR para uma reação elementar é utilizada como caso base para o estudo desenvolvido. O reagente foi considerado como um orgânico leve, resultando em um processo exotérmico resfriado por uma jaqueta. Análises iniciais, para determinação de condições operacionais ótimas, foram realizadas através de análise fenomenológica diferencial. O balanço de energia revelou a condição operacional ótima para cada fluido refrigerante analisado. Sendo assim, pode-se eleger aquele que melhor atende a relação custo/beneficio de acordo com a toxicidade, miscibilidade, inflamabilidade e outros pontos que tornam viável a execução do projeto garantindo a segurança na condução do processo. 1. INTRODUÇÃO Atualmente, com o aumento do custo energético brasileiro, é cada vez mais interessante, nas indústrias, o estudo do comportamento dos seus equipamentos. Visando diminuir as perdas energéticas e melhorar as condições de operação do sistema de acordo com as normas de proteção ao meio ambiente, este trabalho apresenta uma analise de diferentes fluidos refrigerantes que operam numa jaqueta em um reator do tipo CSTR. Neste contexto, é importante saber que o reator do tipo CSTR (Continuous Stirred Tank Reactor), será utilizado como objeto para análise de uma reação genérica, exotérmica e de primeira ordem. Para assegurar o ponto operacional do processo, tais reatores são geralmente envolvidos por uma jaqueta, como está apresentado na Figura 1, que tem a função de manter o reator a uma temperatura constante e favorável para que ocorra a reação (FOGLER, 1999). Figura 1- Reator CSTR com jaqueta. A jaqueta exerce sua função através de um fluido refrigerante que passa pelo seu interior. Este fluido é um composto químico capaz de ceder ou remover calor do sistema dependendo do tipo de reação que esta ocorrendo, exotérmica ou endotérmica (FOGLER, 1999). A escolha deste fluido deve seguir alguns critérios, os quais devem promover bom desempenho da reação. Alguns pontos devem ser observados durante o processo de análise do fluido refrigerante, tais como toxidez, propriedades corrosivas, risco de explosão, futuro descarte, entre outros para que garanta a segurança do trabalho (SMITH, 2012). 2. MODELAGEM MATEMÁTICA Considerando-se uma reação elementar, irreversível, de primeira ordem, onde o reagente A produz B, uma modelagem clássica do processo é utilizada para a determinação do comportamento dos seus componentes. Através desse modelo, pode-se facilmente analisar a quantidade de calor removida e gerada pelo sistema em determinadas condições operacionais. Os balanços fenomenológicos diferenciais revelam os pontos operacionais do processo sob análise, tais equacionamentos são apresentados a seguir: 2.1. Balanço de Massa Global: dM = ṁe − ṁs dt (1) Por Componentes : Componente A: 𝑑𝑁𝐴 = 𝐹(𝐶𝐴𝑒 − 𝐶𝐴𝑠 ) − 𝑟𝑉 𝑑𝑡 (2) Componente B: 𝑑𝑁𝐵 = −𝐹𝐶𝐵 + 𝑟𝑉 𝑑𝑡 2.2. (3) Balanço de Energia Sabendo que a entalpia é função da temperatura, pressão, número de mol dos componentes A e B, assumindo-se uma pressão constante, obtêm-se seguinte equação: 𝑑𝑇 𝐹 𝑒 𝑐 −∆𝐻 𝐸 (𝑇 − 𝑇) + ( = ) 𝑘𝑜 exp (− ) − 𝑄̇ 𝑑𝑡 𝑉 𝜌𝐶𝑃 𝑅𝑇 (4) Onde a equação de transferência de calor linearizada em torno da temperatura de operação e a vazão mássica do fluido refrigerante (Manzi et al. 2010) pode ser dada pela seguinte relação, 𝑄̇ (𝑚̇𝑐 , 𝑇) = 𝑚̇𝑐 (𝑇 𝑒 − 𝑇 𝑐 ) [𝑐𝑝𝑐 − 𝑐𝑝𝑐 𝑒 𝑈𝐴 − 𝑒 𝑚̇𝑐 𝑐𝑝𝑐 𝑈𝐴 −𝑚̇𝑈𝐴 𝑒 − ( 𝑒 ) 𝑒 𝑐 𝑐𝑝𝑐 ] 𝑚̇𝑐 +𝑈𝐴(𝑇 𝑒 − 𝑇 𝑐 )𝑒 𝑈𝐴 − 𝑒 𝑚̇𝑐 𝑐𝑝𝑐 + 𝑚̇𝑐𝑒 𝑐𝑝 (𝑇 − 𝑇 𝑒 ) [1 − 𝑒 𝑈𝐴 − 𝑒 𝑚̇𝑐 𝑐𝑝𝑐 ] (5) A partir da Equação 4 é possível relacionar a variação de temperatura com o tempo, a qual nos fornece os valores do calor removido pelo fluido refrigerante e do calor gerado pela reação, os quais são representados pelas Equações 6 e 7. −∆𝐻 𝐸 𝐶𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 = ( ) 𝑘𝑜 exp (− ) 𝜌𝐶𝑃 𝑅𝑇 (6) 𝐹 𝑄̇ (𝑇 𝑐 − 𝑇) − 𝐶𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑟𝑒𝑚𝑜𝑣𝑖𝑑𝑜 = 𝑉 𝜌𝐶𝑃 𝑉 (7) 𝑒 As intersecções entre as duas equações revelam os pontos operacionais para o processo. Uma análise mais rigorosa, com determinação de restrições do processo, indicará quais dos pontos poderão ser utilizados como o ponto operacional para o sistema reativo (STEPHANOPOULOS, 1984). A partir desse ponto, um projeto para a determinação das especificações do sistema de resfriamento deve ser realizado. Vários tipos de fluidos refrigerantes podem ser aplicados no processo de resfriamento, tais como, hidrocarbonetos halogenados ou puros, compostos orgânicos e misturas azeotrópicas ou não. Com isso, tornam-se necessárias análises: econômica, para operação, selecionando os possíveis fluidos de refrigeração, bem como ambiental, para verificação dos impactos na utilização de tais fluidos antes, durante e após o processamento industrial. 3. METODOLOGIA A implementação da Equação 3 revela a variação da concentração do reagente em função do tempo, Figura 2. A temperatura do processo deve ser então especificada, e os pontos estacionários apresentam possíveis pontos operacionais para o processo reativo. Através dos valores obtidos podese analisar a conversão do reagente A em B de acordo com a variação da temperatura. Fluidos de resfriamento candidatos foram: propano, amônia e água. Inicialmente, o reator será considerado de aço carbono revestido a vidro, visto que esta camada pode proporcionar resistência a corrosão, bem como incrustação, (PERRY, 2008). A partir desses dados os valores do coeficiente de troca térmica para cada fluido foram obtidos. Em seguida, a área de contato do fluido com as paredes do reator foi calculada a partir de referências disponíveis na literatura (Manzi e Carrazoni, 2008) . Definida a área, a Equação 5 foi utilizada para a determinação do calor gerado e do calor removido no processo reativo. Em seguida, o gráfico com as curvas de calor, gerado e removido, em relação à temperatura operacional, revelou os possíveis pontos ótimos de operação. Com a definição da temperatura de processo, a vazão volumétrica para cada um dos possíveis fluidos de refrigeração foi definida. Finalmente, foi feito um comparativo entre as vazões e determinou-se custo e benefícios para a operação do processo. Os dados e parâmetros necessários para os cálculos estão listados na Tabela 1 abaixo. Tabela 1- Parâmetros e condições iniciais para o processo PARÂMETROS E CONDIÇÕES INICIAIS 1 mol/L 1000 g/L 𝐶𝐴0 𝜌 0 0 mol/L 0.239 J/gK 𝐶𝐵 𝑐𝑝 350 K 8750 K 𝑇𝑒 𝐸𝑅 100 L/min -52000 J/mol 𝐹𝐶 𝐻 100 L 106,7 J/min.m2.K 𝑉 𝑈 𝑊 𝑘 𝑇𝐶 7,2.10 min-1 300 K 10 𝑈𝐴 𝑈𝑃 84,15 J/min.m2.K 62,7 J/min.m2.K 4. RESULTADOS A partir dos balanços de massa, Eqs. 2 e 3, pode-se observar o comportamento do sistema reativo frente a diversas temperaturas de processo, como mostra a Figura 2. Figura 2: Comportamento do sistema reativo com a variação da temperatura operacional. Em seguida a análise do calor gerado pelo sistema reativo, um sistema de resfriamento foi analisado. Para tanto, dados dos fluidos refrigerantes candidatos, tais como, o coeficiente global de troca térmica e a capacidade calorífica, foram utilizados para a determinação da capacidade de remoção quando utilizado na jaqueta, Figura 3. As intersecções entre as curva revelam os pontos operacionais onde ocorre um equilíbrio térmico entre o reator e sistema de resfriamento Figura 3: Gráfico do calor gerado e removido para os fluidos refrigerantes candidatos. Segundo a literatura, o ponto operacional em relação a temperatura do processo deve ser de 350 K, o comportamento similar indica a capacidade dos fluidos no processo de transferência térmica, porém com quantidades mássicas diferenciadas. Logo, as seguintes vazões volumétricas para cada fluido refrigerante, pode ser utilizada para uma definição preliminar do custo para determinada vazão de acordo com o preço de mercado, como está demonstrado na Tabela 2. Tabela 2: Relação custo / vazão FLUIDO ÁGUA Vazão (L/h) 2,534595 Preço Total (US$/h) 0,076038 AMÔNIA 9084,492725 6,099010 PROPANO 13,202311 26,143190 5. CONCLUSÕES A aplicação de modelagem fenomenológica apresenta-se como um excelente ferramental para previsão e análise de processos. No estudo em questão, a determinação de pontos operacionais, bem como a adequada determinação de um sistema eficiente de troca térmica, são etapas indispensáveis para o desenvolvimento de qualquer sistema reativo. Tais considerações demonstram a possibilidade de avaliação de diversos fluidos para que uma decisão adequada possa ser feita, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. Sendo assim, de acordo com as avaliações realizadas, com os dados coletados, e baseado na relação custo/vazão é possível verificar que o fluido mais adequado para ser usado na refrigeração do sistema reativo é a água de resfriamento. Tais considerações levam em conta uma análise preliminar, que serve como orientação para um estudo mais aprofundado para a determinação de tais condições operacionais para o sistema reativo como um todo. 6. NOMENCLATURA 𝑪𝑨 Concentração do componente A na entrada do reator (mol/L) 𝑪𝑩 Concentração do componente B na entrada do reator (mol/L) 𝒄𝒑 Calor Específico Global (J/gK) 𝑼𝑾 Coeficiente de troca térmica da água (J/min.m2.K) 𝑼𝑨 Coeficiente de troca térmica da amônia (J/min.m2.K) 𝑼𝑷 Coeficiente de troca térmica do propano k Fator de frequência (J/min.m2.K) (min-1) 𝑭𝒄 Fluxo de entrada do reator ρ Gravidade especifica 𝒎̇𝒄 Fluxo mássico (L/min) (g/L) (g/min) 𝑬/𝑹 Quociente da energia de ativação pela constante dos gases ideais (K) T Temperatura de operação do reator (K) 𝑻𝒄 Temperatura de refrigeração (K) 𝑻𝒆 Temperatura de entrada do reator (K) 𝑯 Variação da entalpia da reação à 300K (J/mol) V Volume do reator (L) 7. REFERÊNCIAS FOGLER, S. H. Elements of chemical reaction engineering; 1999. MALONEY, J.; PERRY’S CHEMICAL ENGINEERING HANDBOOK, 2008. MANZI, J., CARRAZONI, Ed., Analysis and Optimization of a CSTR by Direct Entropy Minimization, 2008. MANZI, J.,BRITO, R., BISPO, H., Designing control system with entropic modeling, 2010. REKLAITIS, G. V.,1942 ;Introduction to material and energy balances. SMITH, J. M. Introdução a termodinâmica da engenharia química/ J. M. Smith, H. C. Van Ness; traduzido por Horácio Macedo. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1985.