1. INTRODUÇÃO - não será utilizado no momento para o artigo. O conceito de Paralisia Cerebral (PC) foi proposto por Little, em 1843, o qual descreveu pela primeira vez a encefalopatia crônica da infância, e a definiu como patologia ligada a diferentes causas e características, principalmente por rigidez muscular. Sendo a definição mais adotada pelos especialistas a de 1964 e caracteriza a PC como um distúrbio permanente, embora não invariável, do movimento e da postura, devido a defeito ou lesão não progressiva do cérebro no começo da vida em que o evento lesivo pode ocorrer no período pré, peri ou pós-natal. (LEITE;PRADO,2004) Segundo Lance (1984); Meythaler (2001); Mayer (2002) e Barnes et al (2003) apud Leitão et al (2006 p.3), “a espasticidade é uma alteração motora caracterizada por hipertonia e hiper-reflexia, secundárias a um aumento da respostado reflexo de estiramento, diretamente proporcional à velocidadede estiramento muscular.” A espasticidade está presente em 75% dos casos de PC, sendo uma condição clínica muito frequente entre as patologias infantis e tem incidência na população de aproximadamente2 em cada 1.000 nascidos vivos e pode chegar até 7 por 1.000 em países em desenvolvimento. (TELES; MELLO, 2011). As alterações neuromotoras da PC podem envolver partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas baseadas nas alterações clínicas do tônus muscular e no tipo de desordem do movimento, podendo produzir o tipo espástico, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto. A gravidade do processo pode ser caracterizada como leve, moderada ou grave, baseada no meio de locomoção da criança. (ASSISMADEIRA;CARVALHO, 2009) 2.1.2. Etiologia A etiologia da PC é multifatorial e vinculada a qualquer condição que leve a uma anormalidade cerebral. As causas mais comuns são: desenvolvimento congênito anormal do cérebro, particularmente do cerebelo; anóxia cerebral perinatal, especialmente quando associada com prematuridade; lesão traumática do cérebro, no nascimento, geralmente decorrente de trabalho de parto prolongado, ou uso de fórceps; eritroblastose por incompatibilidade Rh; infecções cerebrais, caracterizando as encefalites na fase inicial do período pós-natal. (LEITE;PRADO, 2004) No período pré-natal destacam-se as infecções maternas, a malformação congênita do cérebro, as anormalidades genéticas, a deficiência nutricional, a exposição à radiação, os transtornos tóxicos, dentre outros .No perinatal, pode haver o sofrimento fetal, sendo mais prevalente quadros de hipoxemia, complicações na placenta, sepse e hemorragias. Dentre as ocorrências pós-natais, são frequentes os traumas, as infecções bacterianas, entre outros. (AMARAL; MAZZITELLI, 2003) 2.1.3. Incidência Quanto à incidência da PC, manteve-se nos últimos anos sem grandes alterações. Apesar do desenvolvimento tecnológico e das melhores condições de assistência materno-infantil das últimas décadas, tem se mantido constante, atingindo 1,5 e 2,5 por 1000 nascidos vivos em países desenvolvidos e 7,0 por 1000 nascidos vivos em países em desenvolvimento. No Brasil não existem dados estatísticos precisos quanto à incidência e prevalência da PC. (CHAVES JÚNIOR et al, 2009) A taxa de incidência da PC no Brasil é difícil de ser avaliada. Provavelmente o índice deve ser alto em virtude da falta de condições satisfatórias de assistência à saúde no período pré e perinatal. (AMARAL; MAZZITELLI, 2003) 2.1.4. Classificação A classificação baseia-se em dois critérios: o primeiro envolve o tipo de disfunção motora presente, ou seja, o quadro clínico resultante, que inclui o ataxico, misto , espástico e o tipo extrapiramidal ou discinético, manifestado por quadro atetoide, coreico ou distônico. O outro critério envolve a parte comprometida do corpo, que inclui tetraplegia ou quadriplegia, monoplegia, paraplegia ou diplegia e hemiplegia. (TELES; MELLO, 2011) Quanto aos sinais clínicos, classificam-se em cinco grupos: atáxica, hipotônica, atetósica, espástica na forma de tetraplegia, diplegia, hemiplegia e mista. A forma espástica é a mais comum, a qual pode ser definida como uma resistência ao estiramento passivo de um músculo ou de um grupo muscular caracterizando a hipertonia devido ao acometimento do neurônio motor superior do Sistema Nervoso Central (SNC) dos pacientes. (RESENDE et al, 2005) A modalidade Espástica: apresenta as características da lesão do primeiro neurônio motor, levando à hiperreflexia, à hipertonia e à fraqueza muscular, sendo comum cursar com acometimento articular. A Atetóide: ocorre por causa da lesão no sistema extrapiramidal, a qual cursa com o desequilíbrio da atividade dos músculos agonistas e antagonistas, por conseguinte evolui com movimentos involuntários e lentos nas extremidades. A Atáxica: é muito rara na PC com lesão cerebelar e a criança apresenta hipotonia, perturbação de equilíbrio, disartria e tremor intencional. E a ultima forma é a Mista com a associação dos tipos citados anteriormente, com envolvimento tanto do sistema piramidal como do extrapiramidal. (AMARAL; MAZZITELLI, 2003) O tipo espástico é classificado topograficamente em Hemiplegia com acometimento de um lado do corpo; geralmente o membro superior é mais afetado que o membro inferior. A Diplegia: acometendo principalmente os membros inferiores. A Tetraplegia: quando afeta todos os membros. A Total: além dos quatro membros, o tronco também é acometido. (ibid) 2.1.5. Diagnóstico O diagnóstico de PC é clínico-neurológico e definido pelas alterações observadas. Quanto à forma clínica de manifestação classifica-se a PC de acordo com o tipo de comprometimento motor e a distribuição do mesmo. A desordem motora está intimamente relacionada com a área do SNC lesado. Dessa forma, são os seguintes quadros clínicos: espástica, discinética, atáxica, hipotônica e mista. Sendo a primeira na forma hemiplégica, diplégica e quadriplégica. (CHAVES JÚNIOR et al, 2009) O diagnóstico de PC usualmente envolve retardo ou atraso no desenvolvimento motor, persistência de reflexos primitivos, presença de reflexos anormais, e o fracasso do desenvolvimento dos reflexos protetores, tal como a resposta de pára-quedas, caracterizada pela extensão dos braços como se a criança fosse apoiar-se e com isso apoio do corpo sobre os braços (LEITE;PRADO,2004). Durante a avaliação ambulatorial,a anamnese e o exame físico devem eliminar a possibilidade de distúrbios progressivo do SNC, incluindo as doenças degenerativas, tumor da medula espinhal ou distrofia muscular. De acordo com a intensidade e a natureza do quadro clinico, solicita-se um eletroencefalograma (EEG) e tomografia computadorizada (TC) para determinar a localização e extensão das lesões estruturais ou malformações congênitas associadas.(ibid) O prognostico da PC pode se associar a marcha ,sendo que a aquisição da deambulação dependente diretamente do tipo e da gravidade do comprometimento motor e indiretamente da função cognitiva e visual (CHAVES JÚNIOR et al, 2009) 2.1.6 Avaliação da espasticidade Para avaliar a espasticidade é imprescindível detectar o padrão clínico de disfunção motora, se o paciente consegue ou não controlar músculos e o papel da espasticidade em eventuais contraturas no nível funcional.Para essa avaliação, utilizam-se indicadores quantitativos e qualitativos mensuradores da espasticidade (tônus muscular) em si e de sua repercussão funcional, que identificam os padrões clínicos de disfunção. (BAIOCATO; ROZESTRATEN; OLIVEIRA, 2000; FONSECA et al, 2001 apud FELICE; SANTANA, 2009) Há várias escalas que podem servir de ferramenta para avaliação da espasticidade, sendo a Escala Modificada de Ashworth e o Índice de Barthel as que mais se destacam no Brasil devido à confiabilidade e reprodutividade destas. (TEIVE; ZONTA; KUMAGAI, 1998; LEITÃO et al, 2006 apud FELICE; SANTANA, 2009) A escala de Ashworth foi descrita como uma escala ordinal de 5 pontos onde o grau 0 corresponde a um tônus normal, e o grau 4 corresponde a um tônus tão severo que a articulação se torna rígida (Quadro 1) (LIANZA, 2001; CRUZ, 2003; LIMA, 2005 apud MARTINS; CARVALHO, 2008). Para que a escala se tornasse mais sensível a mudanças, Bohannon e Smith em 1987, modificaram a escala de Ashworth, e foi acrescentado nesse momento o grau 1+ mudando discretamente as definições (TEIXEIRA, 1998; LIMA, 2005; CRUZ, 2003 apud MARTINS; CARVALHO, 2008). Atualmente, segundo Cruz (2003) apud Martins e Carvalho (2008 p. 30-31): A escala de Ashworth modificada (quadro 01) é […] realizada por meio de um examinador, em que o mesmo ficará próximo da articulação do paciente com um dos membros estabilizando-o, enquanto o outro ficará distalmente para realizar o movimento passivamente de forma rápida e brusca, provocando estiramento reflexo, não havendo nenhum tipo de padronização em relação à velocidade, posicionamento e amplitude articular resultando na dificuldade de quantificar o grau correto dessa hipertonia espástica. Porém devido a essa subjetividade da escala de Ashworth modificada durante a avaliação da espasticidade, existem outros métodos de avaliação, como o dinamômetro isocinético, o qual é um aparelho que pode quantificar a espasticidade. Quadro 1: Esacala de Ashworth modificada Fonte: Franco (2005) apud Martins; Carvalho (2008 p. 31) A espasticidade também pode ser avaliada pela escala de espasmos (Quadro 2) que quantifica o tônus muscular frente à ocorrência de espasmos. (TEIXEIRA; FONOFF, 2004; MARTINS; CARVALHO 2008) Quadro 2: Escala de espasmos musculares Fonte: Teive, 1998 apud Martins; Carvalho (2008 p. 32) De acordo com Teixeira e Fonoff (2004 p. 20): Há outras escalas que graduam a dependência do indivíduo com espasticidade quanto ao cuidado próprio e manipulação de sonda vesical de alivio como a Escala de Higiene Pessoal (Quadro 3). O índice de Bartel (Quadro 4) leva em conta atividades da vida diária, desde a capacidade de alimentarse, higiene, posicionamento no vaso sanitário, banho, locomoção até controle esfincteriano. A escala de Tardieu gradua a rigidez elástica conforme o ângulo de maior resistência e presença de clônus como gravidade de espasticidade (Quadro 5). Quadro 3: Escala de higiene pessoal Fonte: Teixeira e Fonoff (2004 p. 20) Quadro 4: Índice de Bartel Fonte: TeixeiraeFonoff (2004 p. 20) Quadro 5: Escala de Tardieu. Análise quantitativa da reação muscular Fonte: Teixeira e Fonoff (2004 p. 20) 2.2.4. Tratamento da espasticidade As condutas utilizadas no tratamento da espasticidade visam corrigir e prevenir alterações anormais do movimento, sendo as mais usadas: o tratamento medicamentoso, o tratamento cirúrgico, o bloqueio neuromuscular, o tratamento com toxina botulínica A e o tratamento fisioterapêutico (SOUZA; FERRARETO, 1997 apud FELICE; SANTANA, 2009) O objetivo principal em qualquer programa de tratamentopara crianças com Paralisia Cerebral (PC) é melhorar odesempenho na mobilidade, funcionalidade nas atividades davida diária, e proporcionar condições para educação e participação social. (MSALL; PARK, 2008 apud ZONTA; JÚNIOR; SANTOS, 2011) O alongamentoativo e passivo, o posicionamento,a facilitação do desenvolvimento do equilíbrio e coordenação,o fortalecimento muscular, o uso de gessos e órteses para prevenir deformidades secundárias, e o uso da Toxina Botulínica do TipoA (TBA) para diminuição temporária da espasticidade, são os métodos não cirúrgicos que podem ser utilizados no tratamento do paciente com PC. (ZONTA; JÚNIOR; SANTOS, 2011)