Figura 7: Estudos Fronteiriço, detalhes

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ESCALAS E PROVOCAÇÃO DO LUGAR: ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE TEMAS
ABORDADOS NOS ESTUDOS FRONTEIRIÇOS NO BRASIL
Adriana Dorfman
Professora adjunta no Depto. de Geografia e no Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil –
[email protected]
Arthur Luna Borba Colen França
Bacharel em Relações Internacionais – [email protected]
Rafael Port da Rocha
Professor do Depto. de Ciências da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Brasil – [email protected]
Resumo
O Unbral Fronteiras - Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre
Fronteiras e Limites (http://unbral.nuvem.ufrgs.br/site/) permite análises quantitativas e
qualitativas de uma base de dados em que foram classificadas, até o momento, 583
teses, dissertações e monografias produzidas no Brasil entre 2000 e 2014. Esses textos
discutem “fronteiras”, ainda que em diferentes conceituações.
Pesquisas anteriores descreveram os Estudos Fronteiriços mostrando 1. Uma marcante
interdisciplinaridade e 2. Um campo emergente, uma vez que novas instituições têm se
agregado e a produção têm se elevado ano a ano, com um crescimento de 1000% no
período. Esse crescimento parece demonstrar vínculo entre o volume de trabalhos e as
políticas públicas federais para educação.
Outras informações dos Estudos Fronteiriços representados no Unbral Fronteiras dizem
respeito à localização geográfica da produção científica sobre fronteiras no Brasil.
Também dispomos de dados sobre os temas e locais tratados. No presente trabalho,
buscamos relacionar local de produção e abrangência geográfica do estudo.
Os Estudos Fronteiriços brasileiros refletem, hoje, as políticas federais que privilegiaram
a instalação de universidades públicas em regiões periféricas do Brasil. A produção de
instituições de ensino superior situadas nas regiões Norte e Centro Oeste do Brasil se
destaca e programas de pós-graduação interdisciplinares em universidades nas fronteiras
se sobressaem.
O exame dos aspectos temáticos da distribuição espacial da produção científica brasileira
sobre fronteiras envolve duas hipóteses. A primeira busca verificar se existe uma relação
entre situação geográfica e escala escolhida para a pesquisa, de modo que estudos na
escala internacional e nacional sejam feitos mais frequentemente em centros de
pesquisa de destaque nacional e internacional, localizados no centro do país, enquanto a
abordagem de temas locais predomine nas universidades de fronteira. A segunda
hipótese é que os Estudos Fronteiriços respondem à provocação do lugar, tendendo a
tratar do que é próximo.
Ambas hipóteses se confirmam ao examinarmos a produção, após classificá-la como
voltada à escala local, regional ou nacional. De fato, as universidades mais estabelecidas
(USP, UFRJ, UFRGS), localizadas nas capitais dos estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre), tendem a produzir mais trabalhos voltados à escala nacional ou internacional
(identificados pelo uso de nomes de países, como Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai, nessa
ordem), enquanto universidades novas, ou situadas na fronteira (é o caso de Boa Vista,
Corumbá, Macapá, Dourados, Goiânia, Aquidauana) dedicam mais trabalhos à escala
local (aqui identificados pelo uso dos nomes de municípios). Da mesma forma, o local em
que se insere a universidade é frequentemente tratado, mais ainda nas universidades de
fronteira.
Por fim, cabe discutir quanto essa distribuição geográfica de temas de pesquisa espelha
ou reverte a situação “marginal” – em relação ao centro econômico, político, cultural e
científico nacional – da fronteira. Uma análise mais acurada do conteúdo, das referências
bibliográficas e das conclusões a que chegam as pesquisas se faz necessária. Em
perspectiva, a incerteza diante da redução de verbas para a desconcentração do ensino
superior, poderá mostrar se desconcentração ou repolarização da produção.
Palavras-chave: Estudos Fronteiriços – Base de dados – Unbral Fronteiras – Margem –
Cientometria – Situação – escala
Apresentação
O Unbral Fronteiras - Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre
Fronteiras e Limites (http://unbral.nuvem.ufrgs.br/site/) vem sendo implementado
desde 2014 por uma equipe interdisciplinar que inclui geógrafos, internacionalistas,
comunicólogos, documentalistas e cientistas da informação.
Seu propósito é reunir, organizar e dar visibilidade à produção acadêmica sobre os limites
e as fronteiras do Brasil. O portal se apoia nos princípios do Acesso Aberto à informação,
disponibilizando conteúdo online, de forma georreferenciada, gratuita e transparente,
experimentando metodologias ligadas à construção de bases de dados. A coleção
permite análises qualitativas e quantitativas, consolidadas no Anuário Unbral das
Fronteiras Brasileiras (Dorfman, 2015; Unbral, 2016).
Na base de dados estavam classificadas, no momento de escrita desse trabalho, 583
teses, dissertações e monografias produzidas no Brasil entre 2000 e 2014. Esses textos
discutem “fronteiras”, ainda que em diferentes conceituações.
Naquele momento, o Portal Unbral Fronteiras continha teses e dissertações de nove
universidades, escolhidas pela relevância de sua produção no campo dos Estudos
Fronteiriços. São elas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Grande Dourados
(UFGD), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de Brasília (UnB),
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Pesquisas anteriores descreveram os Estudos Fronteiriços no Brasil, a partir dessa base
de dados, mostrando 1. Uma marcante interdisciplinaridade e 2. Um campo emergente,
uma vez que novas instituições têm se agregado e a produção têm se elevado ano a ano,
com um crescimento de 1000% no período 2000-2014.
Esse crescimento parece demonstrar vínculo entre o volume de trabalhos e as políticas
públicas federais para educação. Os Estudos Fronteiriços brasileiros refletem, hoje, as
políticas federais que privilegiaram a instalação de universidades públicas em regiões
periféricas do Brasil. A produção de instituições de ensino superior situadas nas regiões
Norte e Centro Oeste do Brasil se destaca e programas de pós-graduação
interdisciplinares em universidades nas fronteiras se sobressaem (Dorfman, Rocha,
França, 2016).
Outras informações dos Estudos Fronteiriços representados no Unbral Fronteiras dizem
respeito à 3. Localização geográfica da produção científica sobre fronteiras no Brasil.
Também dispomos de dados sobre 4. Os temas tratados.
No presente trabalho, buscamos examinar aspectos temáticos da distribuição espacial da
produção científica brasileira sobre fronteiras, testando duas hipóteses: a primeira
examina a relação entre situação geográfica e escala escolhida para a pesquisa, de modo
que estudos na escala nacional e internacional seriam feitos mais frequentemente em
centros de pesquisa de destaque nacional e internacional, localizados nos centros
socioeconômicos do país, enquanto a abordagem de temas locais predominaria nas
universidades de fronteira.
Para testar isso, nos propomos a descrever a relação entre local de produção e
abrangência geográfica do estudo, após classificá-la como voltada à escala local
(municípios), regional (Unidades da Federação, i e., os estados do Brasil) ou nacional
(Países).
A segunda hipótese testada nesse artigo é que os Estudos Fronteiriços responderiam à
provocação do lugar, tendendo a tratar do que é próximo. Esse fenômeno é descrito em
estudos de relações interpessoais como propinquidade. Para sabê-lo, descreve-se a
correspondência entre a localização dos campi das instituições de ensino e os locais
abordados na teses e dissertações nelas realizadas.
Por fim, cabe discutir quanto essa distribuição geográfica de temas de pesquisa espelha
ou reverte a situação “marginal” – em relação ao centro econômico, político, cultural e
científico nacional – de seu objeto, a fronteira.
Metodologia
O Unbral Fronteiras dedica-se a formular metodologias claras para descrever os Estudos
Fronteiriços Brasileiros. Primeiramente definimos
a comunidade dos Estudos Fronteiriços brasileiros (com base nos
diretórios e plataformas das agências de fomento); em seguida
investigamos os limites teóricos do termo fronteira;
estabelecemos o recorte temporal da pesquisa (entre 2000 e
2014) e elencamos universidades prioritárias (Rocha, Dorfman,
França, 2016, p. 13).
Feito isso, passamos a “definir como representar teses, dissertações e monografias:
como localizá-las nos repositórios, quais dados selecionar, como registrar esses
metadados etc.” (idem, p.14).
No presente artigo, extraímos da base de dados uma lista dos “editores”, isto é, das
“entidades responsáveis por disponibilizar os itens” (Dublin Core, 2014), nesse caso, uma
lista de universidades em que foram defendidas teses e dissertações classificadas como
pertencentes aos Estudos Fronteiriços. As cidades que hospedam os campi dessas
universidades foram listadas e classificadas como fronteiriças ou não, de acordo com o
conceito de Faixa de Fronteira (BRASIL, 1979). Os tópicos espaciais, isto é, as regiões
abrangidas em cada item classificado, foram coletados e identificados como voltados à
escala local, regional ou nacional, conforme tenham citado nomes de municípios, estados
ou países, respectivamente. Cabe lembrar que um item pode tratar e ser classificado
como abrangendo mais de um tópico espacial.
Além disso, uma análise com o emprego do software Gephi permitiu visualizar gráficos e
redes que sumarizam a produção nas suas principais características (Bastian, Heymann,
Jacomy, 2009). Os gráficos gerados expõem as relações mais frequentes entre editor e
tópico espacial, o que permite identificar os lugares mais recorrentemente tratados em
cada universidade. Essas representações facilitam também que identifiquemos o grau em
que cada universidade se volta para o estudo do espaço próximo, o que chamamos
anteriormente de “provocação do contexto” (Dorfman, França, 2016a) e que agora
identificamos como propinquidade.
Resultados - Características dos EF
Os Estudos Fronteiriços podem ser caracterizados pela observação de elementos
disciplinares, históricos e geográficos. A caracterização que sintetiza resultados obtidos
em estudos anteriores e explora novos aspectos da base de dados.
Disciplinares
Trazemos aqui uma descrição dos pesquisadores (ou dos programas de pós-graduação)
que se dedicam a estudar a fronteira. Pesquisa anterior permitiu listar as áreas de
conhecimento que se dedicam aos Estudos Fronteiriços no Brasil e que estão
representadas na coleção organizada no Portal Unbral Fronteiras (Dorfman, Rocha,
França, 2016b). Naquele momento, consultas na Plataforma Sucupira foram feitas para
determinar o enquadramento disciplinar das fontes, isto é, dos programas de pósgraduação em que foram defendidos os itens (Sucupira, 2016).
Tais resultados foram analisados, definindo os percentuais relativos a cada disciplina,
conforme mostra a figura 1.
Figura 1: Disciplinas das teses e dissertações no Portal Unbral Fronteiras – 2000 a 2014
(% de 544 itens)
Fonte: Rocha, Dorfman, França, 2016, p. 7.
Conforme mostra o gráfico, a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade são
características marcantes dos Estudos Fronteiriços. Destacam-se, em volume, as
disciplinas Geografia (96 trabalhos, ou 18%), História (86 itens, equivalendo a 16%),
Letras (58 trabalhos ou 11%), Ciência Política (41 = 7%), Antropologia/Arqueologia (32 =
6%) e Planejamento Urbano e Regional/Demografia (22 = 4%). Somadas, essas 6 áreas de
concentração correspondem a 335 ou 61,6% dos 544 artigos classificados pelo Portal
Unbral Fronteiras no momento da coleta dos dados para este artigo.
Além disso, os trabalhos originados em programas de pós-graduação classificados como
“Interdisciplinares” na Plataforma Sucupira somam 75 itens, ou 14% dos trabalhos
catalogados no Portal Unbral Fronteiras, o terceiro maior grupo.
Outras disciplinas minoritariamente presentes são Economia, Direito, Ciências
Ambientais e Arquitetura e Urbanismo. Os Estudos Fronteiriços, assim, são um campo
que se alimenta de diferentes teorizações e metodologias.
Históricos
Uma característica evidente dos Estudos Fronteiriços no Brasil é o volume crescente da
produção científica. Na base de dados do Portal Unbral Fronteiras, e analisadas de forma
conjunta, as teses e dissertações do Portal Unbral Fronteiras revelam a dinâmica
temporal expressa na figura 2. Há um vertiginoso aumento da produção na área; em
2000 foram defendidas 8 teses e dissertações, e em 2014, um total de 80.
Figura 2: Teses e Dissertações no Portal Unbral Fronteiras – 2000 a 2014.
Fonte: Rocha, Dorfman, França, 2016, p. 6.
Este é um crescimento que significa 1000%, bem superior à média de 130% crescimento
em doutoramentos no Brasil em período semelhante (2000 a 2011). Se considerado o
recorte igual ao estudo de Pian e Santa-Cruz, obtemos o total de 1350% (Pian; SantaCruz, 2013).
As razões desse crescimento também carecem de discussão com a comunidade para
melhor compreensão, mas elencamos hipóteses. A primeira consiste em relacionar a
criação de universidades e centros de pesquisa em regiões fronteiriças e o aumento da
produção sobre o tema. Acreditamos que as universidades de fronteira impulsionam a
produção sobre sua situação geográfica (como discutido na subseção “Geográficas”).
A segunda diz respeito à responsividade dos Estudos Fronteiriços às políticas públicas. O
gráfico mostra um crescimento expressivo a partir de 2011, ano em que foi publicado o
PEF, Plano Estratégico de Fronteiras, pela então presidenta Dilma Roussef (Brasil, 2011).
Acredita-se que grande parte dos pesquisadores dedica-se a comentar, avaliar e
acompanhar as políticas públicas para os territórios fronteiriços.
Geográficos
Outro dado interessante sobre os Estudos Fronteiriços brasileiros diz respeito à
localização dos centros de pesquisa que produzem trabalhos sobre “fronteiras”. A figura
3 representa o mapa do Brasil e as UFs, classificadas de acordo com o número de linhas
de pesquisa que tratam dos territórios fronteiriços.
Figura 3: Brasil - UFs, linhas de pesquisa sobre fronteira e localização das sedes de
universidades selecionadas. Fonte: Dorfman, França, 2016, p. 71.
Na figura 3 observamos grande destaque dado ao Mato Grosso do Sul, sendo que o Rio
Grande do Sul, o Paraná e o Rio de Janeiro também são protagonistas. Este grupo não
representa os locais tradicionais de pesquisa no país, e nem se aproxima da localização
das principais universidades do país em termos de orçamento, volume de produção e
impacto acadêmico (notoriamente, universidades do sudeste e Distrito Federal). O
quadro fica ainda mais diverso quando observamos que o Mato Grosso, o Pará, o Amapá
e Roraima estão na mesma faixa de classificação do que o estado de São Paulo.
Assim, os Estudos Fronteiriços brasileiros se caracterizam como um campo marginal.
Com isso queremos dizer que as margens geográficas do Estado apresentam importantes
contribuições e são locais de destaque da produção científica sobre o tema.
No entanto, as margens e os centros da pesquisa acadêmica não estudam a fronteira da
mesma maneira. A primeira distinção que notamos são os recortes escalares. Ao
classificarmos os estudos como locais, regionais ou nacionais, observamos
comportamentos distintos entre estes grupos de universidade. A figura 4 representa
estes dados.
Figura 4: Estudos Fronteiriços: universidades e escalas de análise - valores absolutos.
Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
Na figura acima vemos os resultados quantitativos da classificação escalar. Os campi da
USP, por exemplo, dedicam-se principalmente a estudos na escala nacional
(representadas pelas barras cinzas) enquanto os campi da UFMS, UNIFAP e UFRR
dedicam-se majoritariamente à escala local (representada pelas barras azuis). Na figura 5
apresentamos os mesmos dados da figura 4, mas dessa vez com o percentual dos
trabalhos dedicados às diferentes escalas em cada centro de pesquisa.
Figura 5: Estudos fronteiriços: Universidades e escalas de análise - Valores relativos.
Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
A figura 5 confirma o exposto na figura 4, e evidencia o caráter local das pesquisas
realizadas, por exemplo, na UFMS, UNIFAP e UFRR, enquanto deixa claro o recorte
escalar nacional das universidades mais centrais. Isso nos leva a crer que existe uma
correspondência entre os temas e a posição dos centros de pesquisa na rede de
influência: instituições com influência nacional e internacional possuem ambição,
tradição e orçamento para pesquisas de alcance mais amplo.
Como contraponto, salientamos as limitações de nosso método. Ao classificar os
municípios como assuntos “locais” e os estados como “nacionais”, acabamos por criar
algumas distorções nos estudos feitos na fronteira. Um trabalho feito em Corumbá,
fronteira Brasil - Bolívia, ao falar da Bolívia, especialmente sobre as cidades vizinhas,
estaria de fato tratando da escala nacional? Talvez a classificação de estudo local ou
regional seria mais apropriada. No entanto, o grande volume dos dados impossibilita
esse refinamento metodológico com os atuais recursos do projeto.
Outras características geográficas dos Estudos Fronteiriços podem ser apontadas a partir
da relação entre os locais de pesquisa (a cidade que abriga cada campus universitário) e
temas pesquisados. Para isso, criamos uma série de gráficos com o auxílio do software
Gephi. Este programa permite analisar relações complexas e foi útil para desenhar um
panorama das ligações entre os 15 campi e os 175 temas identificados, totalizando 332
pares diferentes e 924 conexões. A figura 6 mostra o quadro geral obtido pelas conexões.
Figura 6: Estudos Fronteiriços - Campi universitários e locais pesquisados.
Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
Para compreender os gráficos, considere que existem dois tipos de bolas: os campi, como
pontos de origem, que possuem tamanho fixo e aparecem em letra maiúsculas, e as
circunferências que representam os lugares tematizados, que variam em tamanho
segundo a média ponderada de ligações. Isso significa, por exemplo, que “Brasil” é um
local intensamente pesquisado, e pesquisado por um grande número de campi;
“Paraguai” e “Argentina” também são temas de destaque, e, apesar de serem muito
estudados, não são estudados por tantos locais, e essa concentração resulta em uma
média ponderada menor.
Na figura também é possível verificar a modularidade da rede, isto é, a maneira pela qual
é possível identificar comportamentos assemelhados internamente e dissímiles em
relação a terceiros. Formam-se assim “comunidades”, isto é, pontos e ligações que
formam grupos coesos em relação aos outros. Este comportamento de grupo é
identificado pelas cores distintas na Figura 6. É importante notar que as comunidades
não são excludentes, sendo apenas uma representação gráfica de características
determinadas matematicamente. Observe que “Brasil”, por exemplo, aparece da mesma
cor da USP, formando uma comunidade, mas aparece ligado a praticamente todos os
campi. As comunidades nos auxiliam a enxergar grupos coesos, comportamentos
semelhantes e padrões que possam subsidiar conclusões.
A título de demonstração, apresentamos a Figura 7, que retrata os campi universitários
que estudam a Bolívia.
Figura 7: Estudos Fronteiriço, detalhes - Campi universitários que estudam a Bolívia.
Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
Observamos na figura 7 que distintas universidades estudam a Bolívia, em sua maioria as
caracterizadas como grandes centros acadêmicos do país (USP, UFRJ, UFRGS, UnB),
confirmando apontamentos anteriores. A UFMS (nos campi Campo Grande e Corumbá)
também aparece conectada ao país. [Esse é um exemplo em que os estudos são ao
mesmo tempo locais (ou regionais) e internacionais.] A espessura da conexão indica o
número de trabalhos.
As figuras 8, 9, 10 e 11 mostram vínculos entre campi e temas, as comunidades. Tais
comunidades podem ser descritas tomando como critério a proximidade e o
afastamento.
Figura 8: Estudos Fronteiriços , detalhe- Campi universitários e locais pesquisados
(comunidade UFRGS). Elaborado por por Dorfman, França e Rocha, 2017.
A figura 8, comunidade que abriga a UFRGS e diversos locais pesquisados, retrata o
fenômeno interessante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul apresentar estudos
de escala nacional (notadamente Argentina e Uruguai) que, em verdade, poderiam ser
classificados como regionais, neste caso. Outras localidades, como Sant’Ana do
Livramento e Uruguaiana se destacam, e correspondem a estudos locais que
exemplificam a propinquidade, a tendência que instiga os pesquisadores a se ocuparem
da fronteira próxima.
Figura 9: Estudos Fronteiriços, detalhe - Campi universitários e locais pesquisados
(comunidade USP, UFGD). Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
Já na figura 9 vemos a comunidade correspondente a diversos campi da USP e à UFGD.
Diferentemente da situação anterior, nesta comunidade se destacam Brasil, Bolívia e
Mato Grosso, com forte dispersão para outras UFs e cidades brasileiras. Aqui a
propinquidade não se faz evidente, a exceção do elo UFGD - Dourados, na parte inferior
da figura. Isto comprova as hipóteses elencadas acima, e mostra que universidades
centrais, como a de São Paulo, tendem a se dedicar a temas mais amplos com pouca
correspondência com a realidade local. Parte desse fenômeno, claro, também é
explicado pela fronteira ser espacialmente distante da maioria desses campi
universitários. No entanto, a figura 10 retrata um contexto bem distinto.
Figura 10: Estudos Fronteiriços, detalhe - Campi universitários e locais pesquisados
(comunidade UNIFAP). Elaborado por por Dorfman, França e Rocha, 2017.
A figura 10 representa a comunidade em que a UNIFAP se encontra. Além de seu
tamanho reduzido, dado o menor número de trabalhos e concentração temática, esta
comunidade evidencia a propinquidade das universidades geograficamente marginais,
uma vez que a UNIFAP se dedica, basicamente, a estudar municípios próximos e a Guiana
Francesa, país com que faz fronteira o Amapá. Este, portanto, seria mais um caso em que
um estudo “nacional” seria melhor classificado como local ou regional. Situação
semelhante é retratada na figura 11.
Figura 11: Estudos Fronteiriços, detalhe - Campi universitários e locais pesquisados
(comunidade UFMS). Elaborado por Dorfman, França e Rocha, 2017.
Finalmente, a figura 11 mostra a comunidade formada pelos campi da UFMS. Mais uma
vez observamos alta propinquidade e concentração dos locais estudados. Vemos, assim,
como locais de destaque, Corumbá e Ponta Porã, municípios que a abrigam e se
avizinham de campi da UFMS.
Notas Finais e Perspectivas
Os Estudos Fronteiriços brasileiros refletem, hoje, as políticas federais que privilegiaram
a instalação de universidades públicas em regiões periféricas do Brasil. Como visto, a
produção de instituições de ensino superior situadas nas regiões Norte e Centro Oeste do
Brasil se destaca e programas de pós-graduação interdisciplinares em universidades nas
fronteiras se sobressaem.
Aqui examinamos aspectos temáticos da distribuição espacial da produção científica
brasileira sobre fronteiras, testando duas hipóteses. A primeira busca verificar se existe
uma relação entre situação geográfica e escala escolhida para a pesquisa, de modo que
estudos na escala internacional e nacional sejam feitos mais frequentemente em centros
de pesquisa de destaque nacional e internacional, localizados no centro do país,
enquanto a abordagem de temas locais predomine nas universidades de fronteira. A
segunda hipótese é que os Estudos Fronteiriços respondem à provocação do lugar,
tendendo a tratar do que é próximo.
Ambas hipóteses se confirmam ao examinarmos a produção, após classificá-la como
voltada à escala local, regional ou nacional. De fato, as universidades mais estabelecidas
(USP, UFRJ, UFRGS), localizadas nas capitais dos estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre), tendem a produzir mais trabalhos voltados à escala nacional ou internacional
(identificados pelo uso de nomes de países, como Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai, nessa
ordem), enquanto universidades novas, ou situadas na fronteira (é o caso de Boa Vista,
Corumbá, Macapá, Dourados, Goiânia, Aquidauana) dedicam mais trabalhos à escala
local (aqui identificados pelo uso dos nomes de municípios). Da mesma forma, o local em
que se insere a universidade é frequentemente tratado, mais ainda nas universidades de
fronteira. Apontamos, também, para as limitações deste método.
Uma análise mais acurada do conteúdo, das referências bibliográficas e das conclusões a
que chegam as pesquisas se faz necessária. Em perspectiva, a incerteza diante da
redução de verbas para a desconcentração do ensino superior, poderá mostrar se haverá
desconcentração ou repolarização da produção.
Referências
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