UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE IURA GONZALEZ NOGUEIRA ALVES INFLUÊNCIA DO HIPOTIREOIDISMO GESTACIONAL EXPERIMENTAL NA NOCICEPÇÃO E DESEMPENHO MOTOR DA PROLE DE RATOS ARACAJU 2012 IURA GONZALEZ NOGUEIRA ALVES INFLUÊNCIA DO HIPOTIREOIDISMO GESTACIONAL EXPERIMENTAL NA NOCICEPÇÃO E DESEMPENHO MOTOR DA PROLE DE RATOS Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de mestre em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Valter Joviniano de Santana Filho ARACAJU 2012 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE A474i Alves, Iura Gonzalez Nogueira Influência do hipotireoidismo gestacional na nocicepção e desempenho motor da prole de ratos / Iura Gonzalez Nogueira Alves. – Aracaju, 2012. 119 f. : il. Orientador (a): Prof. Dr. Valter Joviniano de Santana Filho . Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Sergipe, PróReitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Núcleo de Pós-Graduação em Medicina. 1. Hipotireoidismo congênito 2. Gestação 3. Distúrbios neurológicos 4. Pesquisa experimental em ratos 5. Endocrinologia 6. Obstetrícia I. Título CDU 616.441-008.64:618.2 IURA GONZALEZ NOGUEIRA ALVES INFLUÊNCIA DO HIPOTIREOIDISMO GESTACIONAL EXPERIMENTAL NA NOCICEPÇÃO E DESEMPENHO MOTOR DA PROLE DE RATOS Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de mestre em Ciências da Saúde. Aprovada em: ____/_____/____ __________________________________________________ Orientador: Prof. Dr.Valter Joviniano de Santana Filho __________________________________________________ 1ª Examinadora: Profa. Dra. Josimari Melo de Santana __________________________________________________ 2º Examinador: Prof. Dr. Waldecy de Lucca Júnior PARECER _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, fonte constante de inspiração e apoio, que sempre me fizeram acreditar que eu chegaria longe. Amo vocês! E, também, ao meu Daniel, que esteve comigo, dia-a-dia, neste longo caminho até chegar aqui. AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus por não ter me deixado perder as forças e esperanças, mesmo com tantos obstáculos que encontrei até chegar aqui hoje. Agradeço, também, aos meus pais, pelos bons princípios ensinados e pelo grande exemplo de força e de luta que sempre foram para minha vida. Vocês me ensinaram que caráter é fundamental, me mostraram que as coisas na vida não são tão complicadas quanto parecem, basta ter coragem e força para conseguir alcançar. Estiveram ao meu lado quando eu quase troquei os pés pelas mãos e mostraram o melhor caminho a seguir. É a vocês que devo todos os bons valores aprendidos e é por vocês que eu quero chegar longe. É nos olhos de vocês que eu quero ver brilhar a felicidade e o orgulho de cada conquista que eu alcançar na minha vida. Dizer que vocês são insubistituíveis e essenciais seria pouco. AMO VOCÊS DEMAIS e isso é pra sempre, esteja onde eu estiver! Ao meu marido, o meu eterno agradecimento pelo amor a mim dedicado e pelo apoio emocional e científico constante. Saiba que, para mim, você é um grande exemplo. Alguém em quem me espelho. Obrigada por sempre me olhar deste jeito único que me impulsiona e me faz sentir diferente, especial. Suas palavras de incentivo me fazem acreditar que eu posso chegar onde quero. Te amo, forever! Agradeço também aos meus queridos avós, Pepe- in memoriam- e Lola, pelo exemplo de serenidade e amor que sempre foram para toda a família. Obrigada por terem sempre me amado. A minha única e querida irmã, obrigada sempre ter torcido por mim e pelo auxílio “computadorlístico”, isso fez toda diferença. Love you pequena. Aos meus padrinhos, Bel e Luquinhas, e a minha tia Ginha, agradeço a torcida e as palavras de incentivo constantes. Vocês também fazem parte desta conquista. Ao meu querido orientador e também chefe, por sempre ter demonstrado confiança no meu trabalho com gestos e palavras. Sua tranqüilidade me inspira e o seu respeito e atenção para com os outros são grandes exemplos. Te respeito e te admiro muito. Obrigada por estar sempre ao meu lado. A Tia Josi, minha madrinha e amiga, o meu agradecimento pelo carinho e entusiasmo constante. Ouvir elogios seus ao meu respeito me engradece e me faz acreditar que estou no caminho certo. Obrigado, pelas palavras de incentivo quando mais precisei. Aos alunos do LAPENE, que me receberam de braços abertos, em especial, a Kamilla e Clarissa, pela grande participação na coleta dos dados e, mais do que isso, pelo empenho para que este trabalho se tornasse realidade. Valeu, meninas! A todos os alunos do LANBAC, que torceram sempre e que também me ensinaram tanto. Em especial, a Sheyla, Danilo, Cibelle e Danielle, que me auxiliaram na realização deste trabalho. Agradeço, também, ao Prof. Ângelo, que me proporcionou a oportunidade única de poder ingressar no mestrado. Os meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Luís Carlos Reis e ao Prof. Dr. Waldecy de Lucca Júnior pela contribuição científica neste trabalho. A todos os meus alunos (orientandos ou não), com os quais aprendi e descobri o verdadeiro gosto pela academia. Não poderia esquecer de agradecer ao “Seu Osvaldo”, pela atenção e carinho no atendimento a todas as solicitações. Quando as ratas estavam danadas, só ele conseguia segurá-las e com tamanha presteza ele jamais hesitou em auxiliar. Por fim, aos amigos novos e antigos e a todos aqueles que torceram por mim, o meu muito obrigado. Agora, enfim, o meu sonho se tornou realidade! i RESUMO INFLUÊNCIA DO HIPOTIREOIDISMO GESTACIONAL EXPERIMENTAL NA NOCICEPÇÃO E DESEMPENHO MOTOR DA PROLE DE RATOS, Iura Gonzalez Nogueira Alves, Universidade Federal de Sergipe, 2012. Os hormônios tireoideanos são essenciais para o desenvolvimento normal do cérebro. Portanto, doenças da tireóide podem ser responsáveis pelo aparecimento de graves distúrbios neurológicos. O bom funcionamento da glândula tireóide materna, especialmente durante os primeiros meses da gravidez, desempenha um papel importante para garantir que os filhotes apresentem adequado desenvolvimento corporal e cerebral. No presente estudo, investigou-se o impacto do hipotireoidismo gestacional experimental (HGE) na sensibiliade mecânica e térmica e desempenho locomotor na prole em diferentes idades pós-natais (7, 15, 23, 30, 60 e 120 dias pós-natais; DPNs). O HGE foi induzido adicionando metimazol (MTZ), a uma concentração de 0,02%, em água potável a partir do dia 9 de gestação até o parto. A prole foi avaliada para sensibilidade térmica e mecânica através dos testes tail-flick e vonFrey, respectivamente. Os testes Rota-Rod e o Grip Strength Meter foram utilizados para avaliar a função motora da prole. Assim, nossos dados demonstraram que o HGE não alterou a sensibilidade mecânica, no entanto, reduziu a latência térmica até o 1º mês de vida dos filhotes (7, 15, 23 e 30 DPN). Aos 60 DPNs, somente os filhotes machos de mães tratadas com MTZ durante o período gestacional apresentaram redução na latência térmica (p<0,05). Acrescido a isto, estes mesmos machos apresentaram desempenho locomotor deficiente aos 60 DPNs e força de preensão reduzida aos 120 DPNs (p<0,01 e p<0,05, respectivamente), em comparação com filhotes de mães eutireóideas. As mesmas alterações não foram observadas na prole do sexo feminino. Em conclusão, o HGE não altera a sensibilidade mecânica da prole, porém promove hipersensibilidade a estímulos térmicos nocivos, sendo que, na fase adulta (60 DPN), apenas os machos são afetados. Ademais, o desempenho motor é reduzido somente em machos, sugerindo a presença de algum fator de proteção no sexo feminino. Palavras-chave: hipotireoidismo congênito, nocicepção, ratos, diferenças sexuais, controle motor. ii ABSTRACT INFLUENCE OF EXPERIMENTAL HYPOTHYROIDISM DURING PREGNANCY IN NOCICEPTION AND MOTOR PERFORMANCE IN OFFSPRING OF RATS, Iura Gonzalez Nogueira Alves, Federal University of Sergipe, 2012. Thyroid hormones are essential for normal brain development. Therefore thyroid disease may be responsible for the onset of severe neurological disorders. The proper functioning of the maternal thyroid gland, especially during the early stages of pregnancy, plays an important role in ensuring that the offspring have normal brain and body development.We aimed to investigate the impact of experimental gestational hypothyroidism (EGH) on nociceptive threshold and motor activity in the offspring at different postnatal ages (7th, 15th, 23rd, 30th, 60th and 120th postnatal days; PND) in rats. EGH was induced with methimazole (MMI) 0.02% in drinking water from day 9 of gestation until birth. The offspring was assessed for thermal and mechanical nociception using the tail-flick test and vonFrey filaments. Rota-Rod test and grip strength were used to assess motor function. EGH reduced thermal, but not mechanical threshold at all ages studied (p <0.05). Differently, 60 days old females offspring from MMI-treated dams (f-OMTD) were not affected by EGH when tested in the tail-flick. Only males OMTD presented a deficient locomotor performance using the Rota-Rod test (p < 0.01 at 60th PND), and the grip strength meter (p < 0.05 at 120th PND), in comparison to offspring from water-treated dams (OWTD). In conclusion, EGH promotes hypersensitivity to noxious thermal, but not mechanical stimulus, whereas motor performance is reduced and thermal hypernociception remains present, both only in mature males OMTD, suggesting the presence of a protective factor in females. Keywords: congenital hypothyroidism, nociception, sexual dimorphism, rats, motor control. iii LISTA DE TABELAS E FIGURAS Figura1.Estrutura química dos hormônios da tireióide (triiodotironina-T3 e tetraiodotironina-T4). ..................................................................................................... 18 Figura 2. Controle da síntese e secreção de hormônio tireoideano por feed back positivo e negativo. ....................................................................................................................... 19 Figura 3. Potenciais de ação gerados pelos diferentes tipos de fibras ........................... 29 Figura 4. Diagrama sistemático de controle da dor via teoria das comportas. SG (substância gelatinosa); T (neurônio de transmissão)..................................................... 36 Figura 5. Desenvolvimento do SNC em ratos e humanos. ............................................ 43 Figura 6. Aparato para avaliação do limiar mecânico para retirada da pata (vonFrey). Filamentos de vonFrey (A); Figuras representativas dos procedimentos de habituação (B) e teste em filhotes aos 30 (C) e 120 dias pós-natais (D). ......................................... 55 Figura 7. Aparato para avaliação do limiar de sensibilidade térmica (tail flick). Avaliação do filhote nos dias 7 (A) e 60 pós-natais. ...................................................... 56 Figura 8. Aparato para a avaliação do desempenho motor (Rota-Rod). ....................... 57 Figura 9. Aparato necessário para realização do teste de força de preensão (Grip Strength Meter eletrônico). ............................................................................................. 58 Figura 10. Procedimento experimental adotado nas mães (A) e na prole (B). MTZ: metimazol; DPN: dia pós-natal ...................................................................................... 59 Figura 11. Desenho experimental do estudo. ................................................................ 59 Figura 12. Efeito do HGE no número de filhotes paridos. Foram incluídas 5 fêmeas eutireóideas (FE) e 7 fêmeas hipotireóideas (FH). Teste t de Student. .......................... 61 Figura 13. Efeito do HGE no peso corporal das mães, antes (A) e onze dias após o tratamento com MTZ (B). Foram incluídas 5 fêmeas eutireóideas (FE) e 7 fêmeas hipotireóideas (FH). Teste t de Student.. ........................................................................ 62 Figura 14. Efeito do HGE no tempo de abertura ocular da prole. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=24). (*) p<0,05. Teste t de Student. ....................................... 62 Figura 15. Efeito do HGE no peso corporal da prole. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas iv (PMH), n=24). (**) p<0,01; (***) p<0,001, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. ........................................................................................................ 63 Figura 16. Efeito do HGE no peso corporal da prole aos 60 e 120 DPN. m-PMH: machos da prole de mães hipotireóideas, n=9; f-PMH: fêmeas da prole de mães hipotireóideas, n=9; m-PME: machos da prole de mães eutireóideas, n=13; f-PME; fêmeas da prole de mães eutireóideas, n=8. (**) p<0,01, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. ................................................................................. 63 Figura 17. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade térmica, avaliado pelo método Tail-Flick, aos 7 ,15, 23 e 30 DPN comparados aos respectivos controles. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=20) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=23). (*) p<0,05; (**) p<0,01; (***) p<0,001, Anova twoway, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal......................................................... 64 Figura 18. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade térmica da prole aos 60 DPN. (*) p<0,05, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=13 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=11 para machos e n=12 para fêmeas). ........... 64 Figura 19. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade mecânica da prole, medido pelo método vonFrey, aos 7, 15, 23 e 30 DPN. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=24). Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal ...................................... 65 Figura 20. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade da prole, medido pelo método vonFrey, aos 60 e 120 DPN. m-PMH: machos da prole de mães hipotireóideas, n=9; fPMH: fêmeas da prole de mães hipotireóideas, n=9; m-PME: machos da prole de mães eutireóideas, n=13; f-PME; fêmeas da prole de mães eutireóideas, n=9. Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. ............................................................... 65 Figura 21. Efeito do HGE no desaempenho motor, medido pelo método Rota-Rod, da prole aos 60 dias de nascidos. Grupo Controle (filhos de mães eutireóideas (PME), n=12 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (filhos de mães hipotireóideas (PMH), n=11 para machos e n=13 para fêmeas). (**) p<0,01, Anova twoway, Bonferroni post hoc test. ........................................................................................ 66 Figura 22. Efeito do HGE na força de preensão, medido pelo método Grip Strength Meter. Grupo Controle (filhos de mães eutireóideas (PME), n=13 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (filhos de mães hipotireóideas (PMH), n=9 para machos e n=9 para fêmeas). (*) p<0,05, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. ..... 66 v LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACC- córtex cingulado anterior ACh- acetilcolina AchE- acetilcolinesterase ANOVA- análise de variância BDNF- fator neurotrófico derivado do cérebro AMPA- ácido-α-amino-2,3,-dihidro-5-metil-3-oxo-4-isoxazolepropiônico CA- cornu ammonis CEPA- Comitê de ética em pesquisa com animais CGS12066B - 7-tnfluoromethyl-4 (4-metil-1 -piırazinyl)-pyrroIo (1 ,2-la) quinoxaiine DITs –diiodotirosinas DLF- funículo dorsolateral DN- dia de nascimento DNA - ácido desoxirribonucléico DNM- doença do neurônio motor DNPM - desenvolvimento neuropsicomotor DG- dia de gestação DPN- dia pós nascimento EGF- fator de crescimento epidermal EPM- erro padrão da média f-PME- fêmeas da prole de mães eutireóideas f-PMH- fêmeas da prole de mães hipotireóideas GABA- ácido gama-aminobutírico GABAA -Receptor GABA tipo A GABAB - Receptor GABA tipo B GABAC- receptor GABA tipo C GD- giro denteado GH- hormônio do crescimento hCG - gonadotrofina coriônica HGE – hipotireoidismo gestacional experimental H2O2- peróxido de hidrogênio vi HTs – hormônios tireoideanos HU- hospital universitário LAPENE- laboratório de pesquisa em neurociências LC- locus ceruleus mGlu- receptor de glutamato metabotrópico MITs- monoiodotirosinas m-PME- machos da prole de mães eutireóideas m-PMH- machos da prole de mães hipotireóideas MTZ- metimazol NA – noradrenalina NADH- dinucleotidio de nicotinamida-adenina NDR- núcleo dorsal da rafe NMDA- receptor N-Metil-D-Aspartato NMR- nucleo magno da rafe nNOS- enzima óxido nítrico sintase neuronal NO- oxido nítrico NON-NS- neurônio não nocicpetivo NOS- óxido nítrico sintase PAG- substância cinzenta periaquedutal PBN- núcleo parabraquial pCPA- p-clorofenilanina PET- tomografia por emissão de pósitrons PME- prole de mães eutireóideas PMH- prole de mães hipotireóideas PTU- propiltiouracil QI- quociente de inteligência RN- recém- nascido RNAm - ácido ribonucléico mensageiro rpm – rotações por minuto RT-PCR -reverse transcription polymerase chain reaction rT3- triiodotironina reverso RVM- bulbo ventro-medial rostral vii SNC- sistema nervoso central SS- somatostatina TBG - globulina ligadora de tiroxina TFMPP- m-trifluoromethylphenyl-piperazina TG - tireoglobulina TRα - receptores para hormônios tireoidianos α TRβ- receptores para hormônios tireoidianos β TRH - hormônio liberador de tireotrofina TSH- hormônio tireoestimulante T3- triiodotironina T4-tiroxina UFS- Universidade Federal de Sergipe 5-CT- 5- carboxamidotryptamine 5´D1- desiodase tipo 1 5´D2- desiodade tipo 2 5´D3- desiodase tipo 3 5-HT- serotonina 5-HT1- receptor de serotonina tipo 1 5-HT2- receptor de serotonina tipo 2 5-HT3- receptor de serotonina tipo 3 5-HT4- receptor de serotonina tipo 4 5-HT5- receptor de serotonina tipo 5 5-HT6- receptor de serotonina tipo 6 5-HT7- receptor de serotonina tipo 7 6-OHDA- 6- hydroxydopamine 8-OH-DPAT - 8-Hydroxy-2-(di-n-propylamino) tetralin SUMÁRIO RESUMO...........................................................................................................................i ABSTRACT.....................................................................................................................ii LISTA DE TABELAS E FIGURAS.............................................................................iii LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................iv 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 16 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 18 2.1. Regulação neuroendócrina da função tiroideana ................................................. 18 2.2. Sistema hipotálamo-hipófise-tireóide .................................................................. 19 2.3. Geração periférica de T3 apartir de T4 ................................................................ 20 2.4. Desenvolvimento da tireóide ............................................................................... 21 2.4.1.Humanos ............................................................................................................ 21 2.4.2. Ratos ................................................................................................................. 23 2.5. Desenvolvimento do sistema nervoso sensorial .................................................. 24 2.6. O Metimazol ........................................................................................................ 26 2.7. Mecanorreceptores e termorreceptores ................................................................ 26 2.8. Áreas encefálicas responsáveis pela nocicepção ................................................. 29 2.8.1. Vias ascendentes ............................................................................................... 29 2.8.2.Modulação da dor .............................................................................................. 35 2.9. Hipotireoidismo e sua ação no sistema nervoso central e periférico ................... 41 2.10. Hipotireoidismo e gestação ................................................................................ 44 2.10.1. Hipotireoidismo materno e nocicepção da prole ............................................ 47 2.10.2. Hipotireoidismo e controle motor ................................................................... 48 2.11. Considerações finais .......................................................................................... 51 3. OBJETIVOS ............................................................................................................. 52 3.1. Objetivo geral ...................................................................................................... 52 3.2. Objetivos específicos ........................................................................................... 52 4.MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 53 4.1.Animais utilizados ................................................................................................ 53 4.2. Drogas utilizadas e protocolo de indução do hipotireoidismo gestacional experimental................................................................................................................ 54 viii 4.3. Acompanhamento das mães ................................................................................. 54 4.4. Acompanhamento da prole .................................................................................. 54 4.5. Avaliação do limiar mecânico para retirada da pata ............................................ 55 4.6. Avaliação da latência para a retirada da cauda .................................................... 55 4.7. Avaliação do desempenho motor ......................................................................... 56 4.8. Avaliação da força de preensão ........................................................................... 57 4.9. Desenho Experimental ......................................................................................... 58 4.10. Análise estatística .............................................................................................. 60 5. RESULTADOS ......................................................................................................... 61 6. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 67 7. CONCLUSÃO........................................................................................................... 74 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 75 APÊNDICE A ............................................................................................................... 92 ANEXO A .................................................................................................................... 118 16 1. INTRODUÇÃO Inúmeras desordens orgânicas, comumente diagnosticadas atualmente, não têm etiologia seguramente determinada. Neste contexto, recentes abordagens experimentais têm imputado valor aos eventos ocorridos durante a vida intra uterina como decisivos no surgimento destas doenças em diferentes momentos da vida pós-natal.1–4 O desenvolvimento intra uterino é um processo complexo e dinâmico que se caracteriza pela interação de fatores maternos e fetais. O desenvolvimento fetal adequado depende de condições ideais para a manutenção dos altos índices de proliferação, crescimento e diferenciação celular, característicos desse processo. Assim, distúrbios no suprimento de macro e micro nutrientes, oxigênio e hormônios durante a gestação, ou a exposição indevida a agentes potencialmente tóxicos, podem comprometer o desenvolvimento do feto e resultar em conseqüências na sua vida adulta. 4,4,5 A carência na produção ou na atuação dos hormônios tireoidianos (HTs) promove o quadro de hipotireoidismo.6 A disfunção tireoidiana é um problema de saúde comum, para o qual ainda existem inúmeras controvérsias acerca da triagem, avaliação e controle da doença.7 A prevalência do hipotireoidismo é variável e depende de alguns fatores, tais como localidade, sexo e faixa etária. Na população em geral, essa prevalência gira em torno de 4% a 10%, sendo sua maior ocorrência no sexo feminino. Durante a gestação, de maneira geral, as anormalidades da função tireoidiana podem acometer 10% das gestantes.8 Durante a gestação, o feto ainda se encontra inapto a suprir, sozinho, as suas necessidades de HTs, sendo os HTs maternos essencias para o adequado desenvolvimento do feto. Assim, quando o hipotireoidismo ocorre durante o período gestacional, o sistema nervoso central (SNC) fetal é acometido, visto que este depende de iodo e tiroxina para o seu desenvolvimento durante toda a gestação.9 17 Inúmeros estudos têm buscado compreender a neurobiologia do desenvolvimento das vias de percepção e modulação descendente da dor em animais e seres humanos.10– 13 As principais vias, regiões encefálicas e neurotransmissores deste circuito já estão bem descritos. Ademais, alguns relatos já demonstram o efeito do hipotireoidismo no desenvolvimento do SNC e em diversos outros orgãos e sistemas. Mais recentemente, alguns estudos experimentais têm sido desenvolvidos a fim de avaliar a resposta a estímulos nociceptivos térmicos, químicos e mecânicos em ratos filhos de mães hipotireóideas.14,15 Porém, até o presente momento, a maioria dos estudos têm utilizado modelos de indução de hipotireoidismo nos períodos pré e pós-natal (i.e.: desde a gestação, continuando durante a lactação). Diferentemente, em nosso estudo, a indução do hipotireoidismo materno foi realizada exclusivamente durante o período gestacional. Apesar da busca recente pela compreensão dos mecanismos que expliquem as repercussões da vida pré e/ou perinatal na ocorrência de distintas doenças, pouco se tem feito para investigar o papel dos hormônios tireoideanos no desenvolvimento de circuitos encefálicos importantes, como aqueles envolvidos na regulação da percepção nociceptiva e do controle motor. Assim este estudo se justifica devido a prevalência considerável de hipotireoidismo gestacional, reconhecida influência dos desenvolvimento fetal, sobretudo do sistema nervoso central, HTs maternos no a carência de dados correlacionando hipotireoidismo gestacional e nocicepção, em diferentes fases da vida pós-natal da prole, ausência de dados associando hipotireoidismo gestacional e alterações mecanoceptivas na prole, carência de dados correlacionando hipotireoidismo gestacional e de desempenho motor na prole, e devido a carência de informações sobre a existência de dimorfismo sexual nas desordens geradas,pelo HGE, na prole. 18 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Regulação neuroendócrina da função tiroideana Os HTs desempenham um papel essencial no crescimento e desenvolvimento de diversos órgãos e tecidos, tanto na vida embrionária quanto após o nascimento. A larga distribuição de receptores de HTs em todos os tecidos do organismo representa a importância destes hormônios no desenvolvimento e função dos mesmos. A tireóide produz tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) que são lançados na corrente sanguínea. No entanto, a maior parte do T3 circulante deriva da desiodação do T4, dada principalmente pela desiodase tipo 1 (5´D1) e em menor grau pela desiodade tipo 2 (5´D2). Apesar disso, o T3 possui atividade cerca de 5 vezes maior que T4, sendo assim o principal hormônio tireodiano circulante responsável pelo crescimento e diferenciação dos órgãos e tecidos na vida adulta.16,17 . Figura 1. Estrutura química dos hormônios da tireióide (triiodotironina-T3 e tetraiodotironina-T4). Oliveira,AS. (2009)]18 Neste contexto, a manutenção de taxas adequadas de T3 torna-se essencial para a qualidade de vida do indivíduo. A manutenção dos níveis adequados circulantes deste hormônio depende de dois mecanismos: 1. mecanismos centrais de controle da atividade tireoidiana, o que requer o bom funcionamento do eixo hipotálamo-hipófisetireóide e; 2. da geração periférica de T3 a partir de T4 promovida pelas enzimas 5´D1 e 5´D2, que estão expressas em diversos tecidos incluindo o SNC.16 19 2.2. Sistema hipotálamo-hipófise-tireóide A circulação porta-hipotálamo-hipofisária, composta por duas redes de capilares localizadas na eminência mediana (base do hipotálamo), conecta duas estruturas essenciais para o controle da função tireoidiana, o hipotálamo e glândula hipófise. Neurônios localizados nos núcleos paraventriculares e periventriculares do hipotálamo, estabelecem sinapses com estes capilares. Sob o estímulo adequado, estes neurônios liberam hormônio liberador de tireotrofina (TRH) e somatostatina (SS) para os capilares, que levam estes hormônios hipotalâmicos para a adeno-hipófise (hipófise anterior). Lá eles se ligam aos receptores de membrana presentes nos tireotrofos (células da hipófise). Os tireotrofos são responsáveis, a partir do estímulo do TRH, por produzir hormônio tireoestimulante (TSH) ou tireotrofina. Em contrapartida a síntese de TSH é inibida pela SS. A tireotrofina estimula os tireócitos (células da tiróide) a produzir T3 e T4, que em concentrações elavadas, através do mecanismo de feedback negativo, inibem a liberação de TRH, pelo hipotálamo, e de TSH, pela hipófise, e desta forma a homeostase é mantida.16 Figura 2. Controle da síntese e secreção de hormônio tireoideano por feed back positivo e negativo. [Oliveira,AS. (2009)]18 Toda esta regulação neurohumoral encontra-se integrada a sinais centrais (provenientes de áreas do sistema nervoso central) e periféricos (representados por 20 metabólitos e hormônios), que desencadeiam a resposta de ativação ou inibição das atividades deste sistema. 2.3. Geração periférica de T3 apartir de T4 O TSH interfere em todas as etapas da biossíntese e secreção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4). A biossíntese dos HTs ocorre nas células foliculares tireoidianas e se inicia com o transporte ativo de iodeto, dado pelo estímulo do TSH. Este processo ocorre por meio de uma proteína localizada na membrana basolateral, o cotransportador Na+/I-, conhecido como NIS, que transporta 2 íons de Na+ e 1 de iodeto para o interior da célula tireoidiana, a favor do gradiente de concentração do Na+. Neste, o TSH induz a expressão gênica do NIS, aumentando o simporte Na+/I-. Na sequência, o iodeto citoplasmástico adentra a luz folicular após oxidação do mesmo a iodo, pela enzima peroxidase e pelo peróxido de hidrogênio (H2O2). Mais uma vez, o TSH também ativa este mecanismo. Ademais, vale ressaltar que a pendrina é a proteína responsável pelo transporte de iodo para a luz folicular e ao que parece, a expressão desta não é regulada pelo TSH.19–21 O peróxido de hidrogênio, como visto anteriormente, é essencial para a oxidação de idodeto em iodo. A geração deste composto é estimulada pelo TSH. Este estimula a captação de glicose pela célula folicular, sendo ela metabolizada gerando assim NADPH a partir de NADP. O NADP e a dinucleotidio de nicotinamida-adenina (NADH) oxidase são os responsáveis pela geração de H2O2.16 Preenchendo a luz dos folículos tireoidianos existe o colóide cuja principal proteína componente é a tireoglobulina (TG). Esta substância serve de “molde” para a biossíntese dos hormônios tireoidianos. A iodinação especificamente dos aminoácidos tirosina da TG, resulta na formação das monoiodotirosinas (MITs) e diiodotirosinas (DITs). As MITs e DITs se acoplam no interior do colóide folicular para a formação das iodotironinas (T3 e T4). Vale ressaltar que é essencial para esta fase que o iodeto, captado pelas células foliculares, seja oxidado pela enzima peroxidase e pelo H2O2, a iodo. Este processo ocorre na célula folicular tireoidiana e se dá graças a ação estimulatória do TSH.19–21 21 Após a contribuição do TSH na formação de T3 e T4, este agora participa na secreção destes hormônios. Sob ação do TSH, ocorre aumento do número e da motilidade das microvilosidades da membrana apical da célula folicular tireoidiana, que endocitam o colóide intrafolicular. Assim, o interior da célula folicular passa a possuir vesículas contendo colóide. O TSH estimula a migração de lisossomos em direção a estas vesículas e estes se fundem as mesmas formando os fagolisossomos. Proteases presentes nestes lisossomos hidrolisam a TG presente no colóide destas vesículas, promovendo assim a liberação de T3, T4, MITs e DITs para o citoplasma, bem como de T3 e T4 para a circulação. Parte do T4 presente no citoplasma sofre desiodação em T3 e este processo é também estimulado pelo TSH.22,23 A ação do HT é mediada principalmente por receptores nucleares na célula-alvo. Alguns estudos indicam a existência de ação não-genômica dos HTs, na membrana celular, envolvendo proteínas dependentes de cálcio e AMPc.24 A família de receptores para HTs compreende duas isoformas: receptores para hormônios tireoidianos α (TRα) e β (TRβ).25 Os receptores TRα, divide-se ainda em TRα1, TRα2 e TRα3. As três isoformas diferem entre si na sua porção carboxiterminal, somente a TRα1 se liga ao T3.26 Outras duas variantes dos TRα, TRα1 e TRα2 que foram identificadas aparentam não ligarem-se nem a T3 nem ao ácido desoxirribonucléico (DNA), demonstrando serem inibidores dos TR.27 O segundo grupo de receptores, os TRβ, compreendem as variantes TRβ1, TRβ2 e TRβ3.25 Essas três proteínas demonstraram exercer papéis diferentes entre si. Na verdade, podemos considerar receptores para hormônios tireoidianos, no sentido literal da palavra, somente as isoformas TRα1, TRβ1 e TRβ2, por se ligarem ao T3 e ativarem ou inibirem a transcrição gênica.28 2.4. Desenvolvimento da tireóide 2.4.1.Humanos A tireóide, primeira glândula a se desenvolver no embrião humano, surge por volta do 22° dia após a concepção a partir do espessamento do assoalho da faringe, entre a bifurcação da aorta. Por volta do 29º dia de gestação células que serão futuramente chamadas de foliculares adquirem a capacidade de formar TG. Por volta do 22 48° dia de gestação a tireóide finalmente atinge a sua posição em frente à traquéia e abaixo da cartilagem cricóide e então começa a formar folículos. Assim, por volta da 10ª-11ª semana após a concepção, a tireóide torna-se hábil a incorporar iodo aos hormônios tireoidianos e sintetizar T4. Mais adiante, com a evolução da gestação, o volume da tireóide aumenta progressivamente.29,30 Aparentemente, todo o desenvolvimento da tireóide visto até então, parece ser independente do TSH, já que a presença deste só pode ser detectada por volta da 10ª-12ª (11ª-24ª)31 semana de vida do embrião.32,33 A partir de então,com o desenvolvimento do eixo hipotalamo-hipofise-tireóide, é possivel constatar níveis crescentes de TSH circulantes até o final do segundo trimestre.33,34 Após este periodo segundo ThorpeBeeston et al. (1991)6 há manutenção dos níveis de TSH enquanto que Ballabio et al.(1989)7 relatam aumento ainda maior neste com a evolução do desenvolvimento fetal. Apesar da divergência encontrada quanto aos níveis de TSH após o final do segundo trimestre, o que se sabe de fato é que as concentrações plasmáticas de TSH fetal são maiores do que o da mãe após este período. Os resultados do estudo desenvolvido por Ballabio et al. (1989)35 sugerem uma resposta incompleta da glândula tireóide fetal ao TSH. Tudo indica que o sistema de controle do feedback entre hipófise e tireóide está operando em um ponto de ajuste diferente do que na vida pós-natal. Ademais, até o 1º-2º mês de vida do recém-nascido não será observado normalização deste feedback.36 Dados publicados por Thorpe-Beeston et al., (1991)31 demonstram que os níveis fetais de T4 na 12ª semana são de 26 nmol/L e estes se elevam para 240nmol/L até o nascimento. A elevação das concentrações séricas de hormônios tireoideanos ocorre devido ao aumento da estimulação e maturação da glândula tireóide bem como ao aumento das concentrações séricas da globulina ligadora de tiroxina (TBG) e alcança os níveis adultos no terceiro trimestre.31,37 Este aumento provavelmente reflete a maturação funcional do fígado para produzir proteína. A globulina ligadora de tiroxina (ou TBG, do inglês thyroxine-binding globulin) é uma das três proteínas (juntamente com a transtirretina e a albumina) responsáveis pelo transporte dos hormônios tireoidianos, T4 23 e T3 na corrente sanguínea. Ao longo da gestação, também há aumento nas taxas de albumina fetal.31 Em contrapartida os níveis fetais de T3 não são detectáveis ou são muito baixos até a 20ª semana de gestação. A partir daí, os valores de T3 elevam-se devido a deiodação placentária e hepática de T4 para T3 reverso, mas ainda assim estes são baixos até o parto.31,34,38 A função do eixo hipófise-tireóide fetal é em grande parte independente do da mãe. Considerando que a entrega de TSH maternos para o feto, via passagem transplacentária, é desprezível, baixos níveis de T3 e T4 fetal são diretamente influenciados pelas fontes disponíveis de hormônio na circulação materna. Uma deficiência T4 na mãe vai levar a uma deficiência de T3 do feto no primeiro trimestre, mesmo se o T3 materno estiver normal. Assim, a disponibilidade reduzida de T4 de origem fetal (hipotireoidismo fetal) é largamente compensada pelo hormônio tireoideano materno que atravessa a barreira placentária. Este efeito é possível apesar do fato de que apenas 1% do T4 materno pode passar a barreira placentária.39 Para garantir a respectiva síntese dos hormônios tireoidianos materno e fetal, um adequado nível de iodo é obrigatório. Isto é especialmente importante para o desenvolvimento do cérebro fetal pois os hormônios tireoidianos são essenciais para tal fato. Deficiência de iodo pode induzir hipotiroxinemia e levar a danos cerebrais com seqüelas neurológicas severas.40Estudos apontam que a deficiência de iodo leve ou limítrofe tem sido associada com anomalias do desenvolvimento e deficiências intelectuais.41–43 2.4.2. Ratos Em ratos, a glândula tireoide já se encontra bem formada, porém não completamente, no 17° dia embrionário e neste periodo ela já é capaz de concentrar tireoglobulina e iodeto, apesar do conteúdo ainda muito pequeno.44,45 Estudo demonstrou que a tireóide do rato encontra-se pronta para a produção hormonal por volta do vigésimo dia embrionário, quando esta adquire a maior parte das características de uma glândula adulta.45 24 Basicamente, a fonte hormonal do embrião é materna. Assim, experimentos demonstraram que até mesmo pequenas deficiências de iodo materno são capazes de diminuir os níveis de T4 do feto, demonstrando que os níveis sorológicos normais maternos de T4 são fundamentais para a manutenção dos níveis adequados deste hormônio no embrião e uma adequada conversão local em T3.46 A detecção do hormônio no embrião do rato acontece já no nono dia embrionário, com níveis diferentes de T3 e T4, sendo o T3 mais abundante. Relatos experimentais demonstraram que os embriotrofoblastos do rato apresentavam uma concentração de 21% do valor de T4 e 54% do valor de T3 materno.47 Os níveis totais de T3 e T4 aumentam significativamente do 18º dia gestacional até o nascimento devido a maturação da glândula tireóide. Após o nascimento, os níveis plasmáticos de T4 sobem de forma acentuada até atingir um pico no décimo sétimo dia pós-natal48, seguidos por uma elevação, em paralelo, dos níveis de T3, que irão atingir seu pico por volta do vigésimo oitavo dia pós natal . Os níveis totais de T3, que serão padrão em ratos adultos são alcançados no quadragésimo dia pós-natal. Os hormônios tireoideanos são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro49. O início do desenvolvimento do tubo neural em ratos, por volta do oitavo dia embrionário, coincide com o início do desenvolvimento da tireóide e, de certa forma, com o surgimento dos receptores para hormônios tireoideanos. O ácido ribonucléico mensageiro (RNAm) responsável pela produção dos receptores para HTs, foi detectado no SNC de ratos, durante o desenvolvimento embrionário, por volta do décimo primeiro e décimo quinto dia de gestação, e a proteína foi detectada em diferentes regiões do cérebro de ratos no décimo quarto dia embrionário.50 Durante o mesmo período, décimo dia embrionário, inicia-se a neurogênese central. 2.5. Desenvolvimento do sistema nervoso sensorial No rato, a maturação estrutural e funcional da elaboração de processos nociceptivos inicia no periodo pré-natal e continua no período pós-natal. Desordens que afetem o desenvolvimento do sistema somatossensorial durante o período pré- e pósnatal podem determinar modificações do limiar de sensibilidade a dor e aos demais 25 sinais sensoriais.51 O momento em que esta desordem se apresenta também pode resultar em manifestações distintas destes limiares.51 Em roedores a indução do hipotireoidismo durante o período pré-natal até o desmame resulta em uma série de efeitos sobre o desenvolvimento e função do sistema nervoso central e periférico.52,53 Portanto, o hipotireoidismo congênito pode alterar a maturação das vias somatossensoriais, mudando respostas nociceptivas e o processamento da dor induzida. Em estudos experimentais, prole de ratas com hipotireoidismo gestacional experimental [i.e., tratadas com agentes antitireóideos; e.g.: propiltiouracil (PTU) ou MTZ, do 10° dia de gestação até a 11ª semana pós-natal, mostraram retardo no desenvolvimento cerebral. Redução na área do corpo caloso e no número de oligodendrócitos no córtex cerebral foram vistas tanto no hipotireoidismo induzido por PTU quanto por MTZ. 54 O hipotireoidismo induzido por metimazol afeta os níveis séricos de TSH e a arquitetura histológica da glândula tireóide da prole. O hipotireoidismo materno induzido, do 1° dia de prenhez até a 3ª semana de lactação, diminui na prole a atividade da acetilcolinesterase (AchE) e aumenta de maneira concomitante o conteúdo de ácido gama-aminobutírico (GABA), com supressão de Na+-ATPase, K+-ATPase, Ca2+ATPase, Mg2+-ATPase, no cérebro, cerebelo e bulbo. Assim o hipotireoidismo materno, induzido, promove efeitos inibitórios na excitabilidade e neurotransmissão sináptica nestas regiões encefálicas. Ademais foi observado, de maneira mais pronunciada na prole de mães hipotireóideas, que com a progressão da idade dos filhotes os níveis de 5´DI foram reduzidos no cérebro, cerebelo e bulbo. 55 Sinha et al. (2008)56 demonstaram o papel indispensável do T4 materno no desenvolvimento do cérebro do feto. Foi demonstrado que a deficiência de HTs materno durante o período gestacional precoce provoca elevação prematura maciça na expressão da enzima óxido nítrico sintase neuronal (nNOS), e morte neuronal no neocórtex embrionário de ratos. Neste estudo, o hipotireoidismo materno foi induzido pela administração de metimazol na água de beber ratas fêmes prenhas desde o 6º dia de gestação até a lactação. 26 Apesar de se conhecer estes aspectos, pouco se sabe ainda sobre os mecanismos celulares, moleculares e vias pelas quais os hormônios da tireóide atuam na regulação do sistema nervoso. Portanto, ainda existem várias questões relativas aos fenômenos envolvidos nestes processos. A determinação precisa dos mecanismos fisiopatológicos dos distúrbios até agora encontrados permanecem desconhecidos e parecem ser provenientes do déficit de HT materno57. 2.6. O Metimazol Drogas antireoidianas (e.g.: MTZ e PTU) têm valioso uso clínico para o tratamento de desordens relacionadas ao hipertireoidismo. Experimentalmente, no entanto, constituem importantes ferramentas para simulação de condições de hipotireoidismo. O MTZ reduz as concentrações plasmáticas de HTs por inibir a incorporação de iodo em resíduos tirosil de tireoglobulina, o acoplamento de resíduos tirosil iodados, e assim impedindo a formação de iodotironinas.58 Vale ressaltar que seus efeitos só se tornam aparentes quando o hormônio pré-formado é metabolizado. 58 Ambos, o PTU e o MTZ, atravessam igualmente a barreira placentária e também podem ser encontradas no leite materno. Estudo realizado por Diav-Citrin & Ornoy (2002)59 não encontrou diferença entre o estado da tireóide fetal de filhos de mulheres tratadas com PTU ou tratadas com MTZ. No entanto, ambas causam hipotireoidismo fetal em humanos. Este é geralmente transitório com um retorno ao estado eutireóideo dentro de alguns dias ou semanas após o nascimento.60,61 Como pode ser visto no estudo de Calvo et al. (1990)62 o tratamento com MTZ, concentração de 0,02%, é efetivo para induzir hipotireoidismo materno visto que em sete dias de tratamento, tal droga, diminuiu os níveis de T4 e T3 no plasma materno e em todos os tecidos estudados. 2.7. Mecanorreceptores e termorreceptores A sensibilidade somática consiste em um conjunto de submodalidades pressórica/táctil, térmica dolorosa e proprioceptiva. Os receptores somáticos podem ser 27 sensíveis a estimulações mecânicas, térmicas ou químicas. Embora a sensibilidade de um determinado receptor seja alta para apenas um tipo de estimulação, especificamente no caso da dor, existem receptores que são considerados polimodais, visto que podem responder a estímulos de naturezas distintas. As diferenças constitucionais na membrana do neurônio e as estruturas acessórias que os envolvem determinam a sua sensibilidade quanto à natureza e intensidade do estímulo que recebem. Assim, além das terminações nervosas livres na pele e nos folículos pilosos, existem terminações nervosas envolvidas por diversas estruturas. As informações aferentes são conduzidas até o SNC através de fibras periféricas primárias cujos corpos celulares formam gânglios próximos da raiz dorsal da medula espinhal.17,63 A sensibilidade táctil e de pressão pode ser definida pela capacidade de detecção de deformações na superfície corporal, induzidas por objetos e superfícies que pressionam o tecido cutâneo ou subcutâneo. Os receptores para pressão e tato possuem sensibilidade às deformações mecânicas e, por isso, são chamados de mecanorreceptores. Os mecanorreceptores variam em sua forma anatômica e morfológica e, assim, existem receptores para tato e pressão do tipo: 1. terminações nervosas dos folículos pilosos; 2.terminações nervosas livres; 3. córpusculos de Pacini; 4. córpusculos de Meissner; 5.disco de Merkel; 6. córpusuclos de Ruffini; e 7.bulbos de Krause. Sendo que para este último mecanorreceptor ainda não existe uma função claramente definida.17 Dentre os tipos de mecanorreceptores, ressaltam-se as terminações nervosas livres que são estruturas ramificadas e morfologicamente indiferenciadas, sensíveis também aos estímulos térmicos ou químicos e responsáveis por gerar as sensações de calor, frio ou dor. Estas estruturas são encontradas na pele e em todos os tecidos do organismo. Estas terminações nervosas livres estão associadas às fibras de pequeno calibre Aδ e C, respectivamente fibras milenizadas e não mielinizadas que conduzem o potencial de ação em baixas velocidades. Ademais, os corpúsculos de Meissner são mecanorreceptores de adaptação rápida e com campos receptivos pequenos. As fibras do tipo Aβ acabam em terminações nervosas receptoras e noveladas no invólucro de tecido conjuntivo. Estes receptroes são encontrados na transição da derme com a epiderme na pele desprovida de pelo. Os discos de Merkel também constituem 28 terminações nervosas com pequenos campos receptivos de fibras mielínicas que formam discos que se associam as células de Merkel. As células de Merkel são células epiteliais, e discute-se a possibilidade delas serem as células receptoras do estímulo de tato/pressão. Assim, por contato, semelhante à sinapse, possivelmente as células de Merkel retransmitiram as informações para a fibra mielinizada do tipo Aβ. Os discos de Merkel são encontrados na epiderme da pele glabra com ou sem pelo. Estes receptores repondem de forma tônica à compressão da pele e estão envolvidos com o processamento do tato e da pressão contínuos. 17,63 Os termorreceptores são responsáveis pela detecção da temperatura e de suas variações. São constituídos histologicamentemas que por se terminações diferenciam nervosas livres funcionalmente. indiferenciadas Assim, alguns termorreceptores possuem maior sensibilidade térmica por temperaturas estáveis próximas a 25ºC sendo que estes são sensiveis as perdas de temperatura e, por isso, são chamados de receptores para o frio. Outros termorreceptores são sensíveis as elevações de temperatura com uma sensibilidade máxima por temperaturas estáveis entre 40ºC e 45ºC. São chamados receptores de calor que, como os receptores de frio, estão distribuídos por toda a superfície corporal. Estes receptores, diferentemente dos de frio que estão associados às fibras Aδ, estão associados às fibras do tipo C. Outros receptores são sensíveis ao calor e ao frio e não geram sensações conscientes de calor ou de frio, mas sim saão responsáveis por gerar sensações de dor. Estes receptores são ativados ao ultrapassar os 45ºC ou ao reduzir a temperatura abaixo de 10ºC. Assim, as extremidades neurais receptoras, mecanoceptores e termoceptores, ao serem deformadas mecanicamente ou estimuladas por temperaturas extremas, aumentam a condutância da membrana neural aos cátions, o que gera potenciais de ação. Desta forma, as informações mecanoceptivas são carreadas via fibras do tipo Aβ (conhecidas por serem condutoras de informações mecânicas de baixo limiar) e as informações termoceptivas são carreadas pelas fibras do tipo Aδ e C. Estas fibras fazem sinapse com os neurônios secundários do corno dorsal da medula (lâminas de Rexed) e, assim, ascendem via sistema ântero-lateral contralateral (informações referentes aos termorreceptores) e via sistema lemniscal medial ipsilateral da coluna dorsal (informações referentes aos mecanoceptores) e são transmitidas para o SNC, mais 29 precisamente para o tálamo. No tálamo, ocorre a sinapse com os neurônios de terceira ordem e estes emitirão os seus axônios ao córtex somatossensorial, onde ocorre a somatização deste estímulo, bem como para o giro cingulado anterior.17,63 2.8. Áreas encefálicas responsáveis pela nocicepção 2.8.1. Vias ascendentes Para que qualquer impulso nervoso seja transmitido desde a periferia dos tecidos até o SNC, é necessária a comunicação intra e interneuronal.63 A sensação dolorosa se inicia com a percepção de um estímulo nocivo ou potencialmente nocivo, de origem térmica, mecânica ou química, pelos nociceptores. Estes são terminações nervosas livres associadas a fibras aferentes primárias finas (0,4-1,2 μm de diâmetro) não mielinizadas (fibras C) com baixa capacidade de condução (0,5-2 m/s) ou associadas as fibras mielinizadas de médio calibre Aδ (2-6 μm), que conduzem o impulso nervoso com maior velocidade (12-30 m/s) ou as fibras mielinizadas de grande diâmetro tipo Aβ (>10 μm) que são capazes de conduzir rapidamente o estímulo doloroso (30-100 m/s).10,12,63 Figura 3. Potenciais de ação gerados pelos diferentes tipos de fibras [Kandel et al. (1991)] 80. Mais especificamente os nociceptores térmicos são ativados por temperaturas extremas (> 45 ° C ou <10 ° C) e inervados por fibras mielinizadas finas do tipo Aδ. Os nociceptores mecânicos são ativados por pressão intensa aplicado sobre a pele e também são inervados por fibras mielinizadas do tipo Aδ. Nociceptores polimodais são ativados por alta intensidade de estímulo mecânico, químico ou térmico (quente e frio). Esses 30 nociceptores têm pequeno diâmetro e são inervados por fibras não mielinizadas e de condução nervosa lenta do tipo C.63 Estas três classes de nociceptores estão distribuidos na pele e em tecidos profundos e muitas vezes trabalham em conjunto. 63 As maiorias destas fibras, citadas anteriormente, se originam de neurônios cujos corpos celulares estão localizados nos gânglios das raízes medulares dorsais, fazem sinapse com neurônios secundários do corno medular dorsal da medula, onde os neurotransmissores são sintetizados e liberados. Os neurônios secundários do corno dorsal da medula dão origem as vias ascendentes de dor (ipsilateral) que são responsáveis pela transmissão do impulso para as regiões supraespinhais. De modo geral, após a exposição da pele a um estímulo nocivo, fibras mielinizadas do tipo Aδ provocam uma fase rápida, de dor primária, aguda de natureza “cortante”, enquanto que as fibras amielinzadas do tipo C evocam uma segunda fase de dor denominada “maçante”, sendo esta crônica.11 A substância cinzenta da medula espinal pode ser divida em 10 lâminas, com base na sua citoarquitetura ou com base nas caracteristicas citológicas dos neurônios residentes. Destas 6 compõem o corno dorsal da medula espinhal, são elas: a lâmina I (camada marginal), lâmina II (substância gelatinosa), Lâmina III e IV (núcleo propius) e V e VI (camadas profundas).11,63. A lâmina VII corresponde à massa cinzenta intermediária, as lâminas VIII e IX compõem o corno ventro-medial e o corno ventrolateral, respectivamente, enquanto a lâmina X é a região em torno do canal.11 As duas lâminas mais superficiais I e II0 (a parte mais externa da lâmina II), juntamente com as lâminas V, VI e X constituem as regiões predominantemente implicadas na recepção, processamento e transmissão das informações nociceptivas. Assim, classes de neurônios aferentes primários, que conduzem informações distintas terminam em lâminas diferentes do corno dorsal da medula espinhal. Há uma estreita correspondência entre a organização anatômica e funcional dos neurônios no corno dorsal da medula espinhal.63 As fibras aferentes do tipo Aδ e C são responsáveis por enviar a informação do estímulo nocivo a partir do tecido injuriado até principalmente as lâminas superficiais (I, camada marginal e II, substância gelatinosa) do corno dorsal da medula espinhal. 31 Sendo que as fibras tipo C projetam-se predominantemente para a lâmina II (II0) e as fibras Aδ para a lâmina I. As fibras Aβ são responsáveis por levar informações referentes aos estímulos mecânicos não nocivos para as lâmias III, IV (nucleos propius) e V (camada profunda) do corno dorsal da medula espinhal. Sendo que as lâminas III e V também recebem informações da fibra do tipo Aδ. Os neurônios que inervam os nociceptores (corpo celular localizado no gânglio dorsal da medula espinhal) fazem sinapse com neurônios de segunda ordem localizados no corno dorsal da medula espinhal. Os neurônios de segunda ordem ascendem via medula espinhal projetando suas fibras, principalmente para o tálamo. No tálamo, neurônios de terceira ordem emitem axônios para o córtex somatosensorial, onde a somatização do estímulo nocivo acontece, ou emitem projeções ao giro cingulado anterior, responsável pelo componente emocional da dor. Esta constitui a via clássica da dor, porém existem outras vias e estruturas nervosas envolvidas neste processo.64,65 A informação referente à lesão tecidual ascende a partir da medula espinhal até o cérebro via sistema ântero-lateral através de cinco grandes vias ascendentes: 1. Espinotalâmico; 2.espinorreticular; 3. tratos espinomesencefálicos; 4.cervicotalámico; e 5. Espinohipotalâmico. As principais vias ascendentes nociceptivas são as vias espinotalamicas ventrais e dorsais. As ventrais constituem os tratos neoespinotalâmico e cervicoespinotalâmico, que terminam nos núcleos talâmicos, principalmente os núcleos ventrocaudais de onde partem axônios para o córtex somestésico. Estas vias são responsáveis pelo aspecto sensitivo-descriminativo da dor. Já as vias do grupo espinotalâmico dorsal incluem os tratos paleoespinotalâmico e paleotrigemiotalâmico que emitem suas projeções até os núcleo mediais e intralaminares do tálamo, bem como incluem os tratos espinorreticular e espinomesencefálico.63 As vias espinotalâmicas dorsais fazem sinapse com tálamo. O trato espinorreticular faz sinapse com os neurônios da formação reticular do tronco cerebral e o trato espinomesencefálico faz sinapse com os neurônios da substância cinzenta periaquedutal (PAG) e núcleo parabraquial (PBN). Sendo que acredita-se que o trato espinoanular, componente do trato mesencefálico, é o que de fato se projeta para o PAG.11 Da PAG ventral partem também as vias reticulotalâmicas que constituem projeções para regiões diversas do sistema límbico.10,11 Esses axônios projetam-se para o lado contralateral da medula 32 espinhal e ascendem na matéria branca ântero-lateral, terminando no tálamo. Ademais o PBN também recebe os tratos espinobraquioamigdalóide e o espinobraquihipotalâmico (ambos originam-se das lâminas I e II do corno dorsal da medula espinhal).63 O trato espinorreticular compreende os axônios dos neurônios nas lâminas VII e VIII. Esta via ascende no quadrante ântero-lateral da medula espinhal e terminam na formação reticular e no tálamo. Em contraste com o trato espinotalâmico, muitos dos axônios do trato espinorreticular não cruzam a linha média. O trato espinomesencefálico compreende os axônios dos neurônios nas lâminas I e V. Esta via projeta-se para o quadrante ântero-lateral da medula espinhal, para a formação reticular mesencefálica e substância cinzenta periaquedutal, e através do trato espinoparabraquial, se projeta para os núcleos parabraquiais. Por sua vez, os neurônios dos núcleos parabraquiais enviam projeções para a amígdala, um componente importante do sistema límbico, envolvido com o comportamento emocional da dor. Assim, é sugerido que o trato espinomesencefálico contribui com componente afetivo da dor. 63 O trato cervicotalâmico ascende a partir dos neurônios do núcleo cervical lateral, localizada na substância branca lateral, acima de dois segmentos cervicais da medula espinhal. O núcleo cervical lateral recebe entrada de neurônios nociceptivos nas lâminas III e IV do cordão espinhal. A maioria dos axônios cervicotalâmicos cruzam a linha média e ascendem para os núcleos no mesencéfalo e os núcleos ventro-posteriores laterais e póstero-mediais do tálamo. Alguns axônios das lâminas III e IV projetam-se através das colunas dorsais da medula espinhal (em conjunto com os axônios de grande diâmetro mielinizadas, fibras aferentes primárias) e terminam nos núcleos grácil e cuneiforme da medula. O trato espinohipotalâmico compreende os axônios dos neurônios nas lâminas I, V e VIII. Esta via se projeta diretamente para os centros de controle autonômico supra-espinhais e é sugerido que esta seja a via responsável por ativar complexas respostas neuroendócrinas e cardiovasculares.63 Vários núcleos talâmicos são responsáveis por processar informações nociceptivas. No interior da lâmina medular interna, separando a massa talâmica lateral da medial, existem pequenas massas de substância cinzenta que constituem os núcleos intralaminares do tálamo. Medialmente à lâmina medular interna ficam os grupos 33 medial e mediano (ou núcleos da linha média) e lateralmente os núcleos laterais. Lateralmente e posteriormente a medula interna situam-se os núcleos posteriores.66 O grupo nuclear lateral do talamo compreende o nucleo ventro-posterior medial e o nucleo posterior. Sendo importante salientar que o complexo de núcleos talâmicos posterior incorpora o oralis pulvinar, o núcleo posterior e o núcleo posteriolateral. Esta região é um local importante para a integração do input nociceptivo e termosensorial, e sua desregulação funcional tem sido implicado na dor talâmica.11 O tálamo tem sido considerado como a estrutura chave para o recebimento supraespinhal, integração e transferência de informação nociceptiva. No entanto o tálamo não é apenas alvo do trato espinotalâmico ventral, mas também, direta e indiretamente, é alvo de outras vias que carregam informações nociceptivas. Na verdade, o tálamo codifica a informação sobre o tipo, padrão temporal, a intensidade de entrada cutânea e a localização topográfica da dor. Além disso, articula com as estruturas corticais e límbico responsável pela dimensão tanto o sensório-discriminativo e emocionais da dor. O tálamo também desempenha um papel ativo e adaptável no processamento de informação nociceptiva.11 Até recentemente a maioria das pesquisas sobre o processamento central da dor se concentravam no tálamo. No entanto, hoje se sabe que neurônios em várias regiões do córtex cerebral respondem seletivamente a entrada nociceptiva. Alguns desses neurônios estão localizados no córtex somatossensorial e tem pequenos campos receptivos.11 Regiões tais como o córtex cingulado anterior (ACC) e o PBN são regiões importantes para a entrada de informação nociceptiva. O ACC tem sido apontado como uma estrutura fundamental no componente afetivo da dor. Através de tomografia por emissão de pósitrons (PET) em seres humanos foi possível observar que duas outras regiões do córtex, o giro cingulado e o córtex insular, estão envolvidos na resposta à nocicepção. O giro do cíngulado anterior compõe o sistema límbico e foi sugerido que este possa estar envolvido no processamento do componente emocional da dor. O córtex insular recebe projeções diretas dos núcleos mediais do talamo e dos nucleos ventroposteriores do tálamo.67–69 Clinicamente, a ablação cirúrgica do tecido cortical do ACC 34 e arredores, diminui a sensação desagradável de dor, sem afetar a habilidade do paciente para discriminar a intensidade ou a localização do estímulo nocivo.70 Acredita-se que o córtex insular pode, portanto, integrar os componentes a afetivos, sensoriais e cognitivos, componentes responsáveis para a resposta dolorosa normal. O PBN constitui também um alvo central importante para as informações ascendentes nociceptivas da medula espinhal.71–73 Resultados publicados por Coizet et al. (2010)74 demonstraram que a inatividade do PBN atenua e em alguns casos elimina respostas nociceptivas. Ademais, outras regiões do SNC podem ser acessadas diretamente por neurônios espinhais nociceptivos tais como: a amígdala, o globo pálido / putamen (estriado de ratos e núcleo lenticular no homem), núcleo accumbens e septo, bem como o frontal, orbital (cíngulo) e o córtex infralimbico. Determinados alvos límbico das informações ascendente nociceptivas estão intimamente interligados através do trato com o hipotálamo, outra região imprtante para o processamento das informações dolorosas.11 A transmissão química da dor através das vias aferentes depende da liberação de neurotransmissores tais como: acetilcolina (ACh), aminoácidos excitatórios (glutamato e aspartato), histamina, óxido nítrico (NO), prostraglandinas e peptídeos sensoriais, tais como a substância P. Transmissão sináptica entre os nociceptores e neurônios do corno dorsal é mediada por neurotransmissores químicos liberados do centro de terminações nervosas sensoriais. O aminoácido excitatório glutamato, não é apenas a classe principal de neurotransmissor excitatório no sistema nervoso central, mas também é liberado por fibras aferentes primárias. O principal neurotransmissor excitatório liberado pelas fibras Aδ e C é o aminoácido glutamato. A liberação de glutamato a partir de terminais sensoriais evoca potenciais sinápticos rápidos nos neurônios do corno dorsal, ativando os receptores de glutamato tipo ácido-α-amino-2,3,-dihidro-5-metil-3-oxo-4- isoxazolepropiônico (AMPA) e receptor N-Metil-D-Aspartato (NMDA).12 Ademais, estudos eletrofisiológicos sugerem que o glutamato (além de outros aminoácidos excitatórios) através da ação em ambos os receptores, ionotrópicos e metabotrópicos, estão envolvidos na transferência de informação nociceptiva do trato espinotalâmico para o tálamo e do trato espinomesencefálico para a PAG.12 35 2.8.2.Modulação da dor Vias descendentes originárias do tronco cerebral e em outras estruturas cerebrais têm papel importante na modulação e integração de mensagens nociceptiva no corno dorsal da medula espinal.11 Estudos científicos mostraram que o cérebro tem circuitos modulatórios cuja principal função é regular a percepção da dor. Sistemas modulatórios diversos dentro do SNC afetam as respostas a estímulos nocivos. O sítio inicial da modulação encontra-se na medula espinhal, onde as interconexões entre vias aferentes nociceptivas e não-nociceptivas podem controlar a transmissão de informação nociceptiva para centros superiores no cérebro. Sistemas modulatórios diversos, dentro do sistema nervoso central, também alteram/atenuam as respostas a estímulos nocivos. Este controle pode ser originado no córtex, tálamo ou no tronco encefálico, sendo que os núcleos encefálicos, mais importantes, envolvidos com este controle são a PAG, núcleos da rafe e o locus ceruleus (LC). A dor não é apenas um produto direto da atividade de fibras aferentes nociceptivos. Esta é regulada pela atividade de outras fibras aferentes mielinizados que não estão diretamente envolvidas com a transmissão da informação nociceptiva. A teoria dos portões ou teoria das comportas foi formulada por Melzack e Wall (1965) e esta descreve a dor como resultado da atividade de fibras aferentes nociceptivos e nãonociceptivas. Esta teoria incorpora diversas observações importantes tais como: 1.os neurônios da lâmina V, e, possivelmente, lâmina I, recebem entradas excitatórias convergentes das fibras Aβ (não-nociceptivas) e das fibras Aδ e C (nociceptivas); 2. as fibras de grande diâmetro Aβ inibem o disparo de neurônios da lamina V, do corno dorsal da medula espinhal, ativando interneurônios inibitórios na lâmina II; e 3.as fibras Aδ e C excitam os neurônios da lâmina V, mas também inibem o disparo dos interneurônios inibitórios na lâmina II, que são ativadas pelas fibras Aβ.13 36 Figura 4. Diagrama sistemático de controle da dor via teoria das comportas. SG (substância gelatinosa); T (neurônio de transmissão). [Melzack e Wall (1965)] 13 Assim, como pôde ser observado, já na década de sessenta estudos estabeleceram que vias descendentes encontravam-se tonicamente ativas, vias estas descritas como inibitórias visto que após transsecção da medula espinhal os reflexos nociceptivos foram exageradas.75 O estímulo à investigação desta circuitaria descendente de modulação da dor veio através do trabalho de Reynolds (1969)76, que demonstrou que a estimulação elétrica focal no mesencéfalo, em ratos, mais precisamente a estimulação da PAG permitiu a cirurgia abdominal na ausência de anestesia geral. Este bloqueio ocorre porque a estimulação desta região é responsável por recrutar vias neurais descendentes que inibe a atividade dos neurônios nociceptivos da medula espinhal. A substância cinzenta periaquedutal também inibe o disparo de neurônios nociceptivos nas lâminas I e V, reduzindo o processo álgico. Este fato também foi demonstrado a partir da estimulação eletrica desta região em humanos, promovendo de forma eficaz o alivio a dor sob várias condições.63 A partir deste primeiro relato, o conceito de sistemas endógenos envolvidos na modulação da dor evoluiu. E como consequencia dos estudos de Reynolds (1969), o PAG ventrolateral foi rapidamente estabelecida como uma importante área para inibição descendente e para o processamento nociceptivo espinal. 76 Além disto, esta região foi descrita também por Yaksh e Rudi (1978) como um sítio importante de ação dos opióides, após microinjeção direta, visto que o efeito da estimulação elétrica era replicado.77 Com o avançar das pesquisas também ficou claro que a estimulação elétrica 37 em diferentes locais no cérebro, incluindo o córtex sensorial, tálamo, hipotálamo, mesencéfalo, ponte e bulbo, de forma semelhante, foi responsável por produzir efeitos inibitórios sobre o processamento nociceptivo espinal. Como conseqüência destes estudos envolvendo estímulos eletrofisiológicos, estudos anatômicos e farmacológicos sobre as vias descendente de modulação da dor foram realizados, sendo assim determinado a influência destas processamento nociceptivo espinal. Especificamente, vias sobre o a influência do bulbo rostroventral (RVM), incluindo o núcleo magno da rafe medial.75 As vias recrutadas pela estimulação da PAG produzem alívio da dor pois poucos neurônios na substância cinzenta periaquedutal se projetam diretamente para o corno dorsal da medula espinhal. Em vez disso, fazem conexões com os neurônios excitatórios do bulbo rostroventral, em particular com neurônios serotoninérgicos na linha média do núcleo magno da rafe. Neurônios deste núcleo, projetam-se para a medula espinhal através da parte dorsal do funículo lateral e fazem conexões com os neurônios inibitórios das lâminas I, II e V do corno dorsal da medula espinhal que bloqueiam a passagem do estimulo doloroso proveniente da periferia através da liberação de encefalina, pepitideos com atividade opióide.78 A estimulação do bulbo rostroventral, inibe neurônios do corno dorsal, incluindo os neuronios do trato espinotalâmico que respondem aos estímulos nocivos. Os núcleos da rafe se subdividem de vários grupamentos ao longo do mesencefálo, ponte e bulbo, dentre os quais o núcleo dorsal da rafe (NDR) e núcleo magno da rafe (NMR), estão envolvidos com o controle descendente da dor. 79 O NMR recebe input diretamente do PAG e essa conxão evoca analgesia. Já foi demonstrado, em estudo prévio, que a estimulação elétrica do NMR reduz a resposta das células do corno dorsal para calor nocivo.80 O NDR se situa próximo a substância cinzenta periaquedutal, mas é funcionalmente uma região distinta desta. É sabido que a estimulação elétrica do NDR promove analgesia. Tem sido sugerido que o NDR pode ser o mais efetivo núcleo para iniciar a estimulação analgésica.65,79 Este consiste no mais importante núcleo serotoninérgico do encéfalo. O papel da serotonina (5-HT) nas vias descendentes de controle da dor é largamente estudado. Assim, já foi observado em 38 estudos prévios que paraclorofenilalanina promove inibição na síntese de serotonina no NDR e assim abole a analgesia induzida por estimulação central.79 A analgesia do núcleo magno da rafe ou dos sítios laterais do bulbo ventro-medial rostral, produziu bloqueio parcial da inibição da dor gerada pelo PAG. Tais estudos demonstraram que tanto o núcleo medial quanto os núcleos laterais do RVM precisam ser inativados simultaneamente para bloquear completamente o efeito inibitório descendente efeitos a partir do PAG.81,82 Considera-se agora que o RVM é o resultado final comum para as influências das vias descendente dos sítios ventrais no cérebro. Assim, até a década de 1990, o foco da investigação estavam voltado para as vias descendentes responsáveis pela inibição do processamento nociceptivo espinal no RVM. Porém, contrariamente, estudos demonstraram a presença de vias descendentes facilitatórias provenientes do RVM que eram responsáveis pelo estado de hiperalgesia após lesão do tecido periférico.75 Neste sentido, estudo realizado por Gebhart (2004)75 com eletroestimulação em 36 regiões distintas no núcleo magno da rafe, demonstrou que após a estimulaçao de 50% das regiões neste núcleo foi observado aumento e redução na latência no tail-flick quando a intensidade das correntes eletricas eram, respectivamente, altas (≥50-200 μA) e baixas (5-25μA). Tal efeito foi replicado quando ao invés de estimulação elétrica foi realizada microinjeção intra-RVM de glutamato. Altas (50nmol) e baixas (5nmol) concentrações deste neurotransmissor, foram responsáveis por aumentar e reduzir, respectivamente, a latência ao tail-flick. Sabe-se que a microinjeção de antagonista serotoninérgico ou inibidores da síntese neuronal deste neurotransmissor, na PAG, inibe a analgesia obtida por estimulação eletrica desta região. À nível de medula espinhal, parece que a modulação da sinapse entre neuronios de primeira e segunda ordem também pode envolver além das encefalinas, outros neurotransmissores tais como dopamina e GABA.83 A modulação da dor através de fibras eferentes depende da liberação de neurotransmissores que contribuem alterando o limiar doloroso tais como: a noradrenalina, dopamina e serotonina que atuam em vias e receptores especificos e ainda opioides endógenos como algumas encefalina e endorfinas.11,84 39 Ademais, alguns neurotransmissores estão envolvidos no controle descendente da dor, sendo os principais a noradrenalina, os opioides endógenos, a 5-HT e o GABA, embora outros também desempenham papel importante.79 A inibição descendente da dor tem na PAG um importante núcleo de integração. Esta foi a primeira região onde, a partir de estimulação elétrica, foi demostrado que era possível evocar hipoalgesia adequada para intervenção cirúrgica. O neurotransmissor serotonina, desempenha um papel importante na modulação da transmissão nociceptiva. A maioria das evidências indicam que a medula espinal é o principal sítio de ação da 5-HT e esta é liberada a partir de fibras descendentes provenientes do RVM. O papel da 5-HT na modulação da dor já se encontra muito bem descrito. Estudo evidenciou que o paraclorofenilanina (pCPA), bloqueador da síntese de 5-HT, é responsável por abolir a analgesia induzida por estimulação elétrica no SNC. 85 Ademais, ja foi demonstrado que a estimulção elétrica do núcleo magno da rafe promove aumento na produção e liberação de 5-HT no corno dorsal da medula espinhal de ratos, o que abole o efeito do pré-tratamento com pCPA. Porém, apesar disso, a neurotransmissão serotoninérgica é bastante complexa, já que é composta por sete classes de receptores (5-HT1, 5-HT2, 5-HT3, 5-HT4 ,5-HT5, 5HT6 e 5-HT7 , sendo estes ainda subdivididos em 5-HT1A, 5-HT1B , 5-HT1D ,5-HT1F, 5HT2A, 5-HT2B, 5-HT2C, 5-HT5A,5-HT5B).86 Dentre esses subtipos, estudo desenvolvido por Alhaider et al. (1993)87 investigou o efeito modulatório espinhal do receptor de serotonina tipo 5-HT1 na nocicepção em ratos. Para tanto foi utilizados conhecidos agonistas do receptor 5-HT1A [8-Hydroxy-2-di-n-propylamine, a tetrailin (8-OH- DPAT) e a buspirona], agonistas do receptor tipo 5-HT1B [m-trifluoromethylphenylpiperazina (TFMPP) e 7-tnfluoromethyl-4 (4-metil-1 -piırazinyl)-pyrroIo (1 ,2-la) quinoxaiine (CGS 1 2066B)] bem como um agonista misto de receptor tipo 5-HT1A e 5HT1B [5-carboxamidotryptamine (5-CT)]. Assim, foi constatado que a administração intratecal de 8-OH-DPAT, buspirona e 5-CT facilitou significativamente o reflexo de retirada da cauda, durante o teste de tail-flick, enquanto as drogas TFMPP e CGS 1 2066B foram responsáveis por prolongar o tempo de latência ao tail-flick. Estes resultados confirmam outros achados sobre o papel facilitatório do receptor 5-HT1A 40 sobre as respostas nociceptivas e apoia o envolvimento do receptor 5-HT1B na ação antinociceptiva da serotonina. Neste sentido, estudo desenvolvido por Tood e Millar (1983)88 observou em seu estudo que a 5-HT também estimula interneurônios GABAérgicos o que por sua vez auxiliaria na redução da dor. Isto ocorre, visto que o GABA, por sua vez, também constitui um aminoácido inibitório. Trata-se do neurotransmissor mais amplamente distribuído no sistema nervoso. Aproximadamente 40% das terminações nervosas no PAG são GABAérgicas. Atua primariamente na redução da excitabilidade neuronal através da ligação a receptores GABA (GABAA, GABAB e GABAC), os quais promovem a abertura de canais de Cl- ou de K+ na membrana do nervo destes receptores. O influxo de Cl- ou o efluxo de K+ na célula pós-sináptica hiperpolariza a membrana celular, reduzindo a propagação do potencial de ação, e assim, inibindo a transmissão nociceptiva. Acrescido a isto, existem fortes evidências relacionando a noradrenalina (NA), um dos neurotransmissores mais abundantes no cérebro89,90, não apenas com a analgesia induzida por estimulação central, mas sugerindo também que os efeitos da NA são mediados por vias descendentes. Sagen e Proudfit (1984) demonstraram que a lesão espinhal induzida pela neurotoxina 6- hydroxydopamine (6-OHDA) promove redução drástica do conteúdo de NA promovendo hiperlagesia.91 Além disso já foi demonstrado por Reddy e Yaksh (1980) que a administração intratecal de NA promove analgesia em ratos e isto parece ser mediado por receptor α-adrenérgico visto que o efeito antinociceptivo da NA foi antagonizado pela administração sistêmica prévia ou intratecal de fentolamina (α-bloqueador), mas não foi afetado pelo pré-tratamento com propranolol (β-bloqueador).92 A nível supra-espinhal, a NA também regula antinocicepção através de sua ação sobre α-adrenoceptores localizados em núcleos cerebrais e da medula espinhal. È sabido que um número de regiões do cérebro recebem inervação noradrenérgica e expressam RNAm para alfa- adrenoceptor. Estas estruturas cerebrais incluem o RVM, núcleo reticular lateral bulbar, amígdala, LC, hipotálamo entre outras.93 41 Outra via descendente inibitórias que bloqueia a atividade dos neurônios nociceptivos no corno dorsal tem origem no LC noradrenérgico e em outros núcleos do bulbo e da ponte. Essas projeções descendentes bloqueiam, direta e indiretamente, a saída de neurônios nas lâminas I e V por ações inibitórias. O LC, composto por 6 subnúcleos , está localizado na ponte dorsolateral e estudos demonstrarma que esta região envia projeções noradrenérgicas para a medula espinhal por meio das vias descendentes. 66,94,95 Ativação do LC eletricamente ou quimicamente pode produzir antinocicepção profunda96,97 e pode inibir a atividade nociceptiva em neurônios do corno dorsal.94,98–100 Já foi demonstrado também que a via descendente do LC para a a medula espinhal é ativada durante a inflamação periférica e que a ativação deste sistema ceruleo-espinhal diminui o desenvolvimento da hiperalgesia.101 Diversos estudos tem evidenciado que o LC envia uma projeção bilateral para o corno dorsal da medula espinhal.94,102,103Assim, axônios dos neurônios contralaterais provenientes das projeçoes do LC, cruzam a linha média dentro do cérebro e descendem através do funículo dorsolateral (DLF) para terminar no corno dorsal da medula espinhal.102,103 Este achado sugere que a via descendente proveninete do LC deve ser ativada bilateralmente durante a inflamação. 2.9. Hipotireoidismo e sua ação no sistema nervoso central e periférico Vários fenômenos do desenvolvimento (e da vida adulta) são influenciados pelos HTs, como: crescimento axonal e neurítico, sinaptogênese, migração e sobrevivência neuronal, mielinização e eficácia sináptica52. Na ontogênese cerebelar, por exemplo, experimentos demonstraram que os hormônios tireoidianos atuam pela mediação do fator de crescimento epidermal (EGF), propiciando um aumento no número de astrócitos104. A regulação da liberação de neurotransmissores no hipocampo também se mostrou influenciada pela presença de HTs.105. Investigações sobre a proliferação celular na zona sub-ventricular do hipocampo também demonstraram que o T3 e seu receptor TRα desempenham um importante papel na neurogênese desta região106. Efeitos sobre a síntese de matriz extracelular também foram observados no cerebelo. A 42 ausência dos hormônios tireoidianos, no cerebelo, foi responsável por atraso na expressão de laminina (proteína da lâmina basal) e redução nos seus níveis, quando comparado ao grupo controle.107. A deficiência dos HTs durante a vida intra-uterina e no período pós-natal mantém a imaturidade do SNC, leva a hipoplasia dos neurônios corticais, atrasa a mielinização e reduz a vascularização encefálica.108,109 Se a reposição hormonal não se fizer de imediato após o nascimento, essas lesões podem tornar-se irreversíveis, com prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). 43 Mesmo quedas sutis de T4 associado a elevados níveis de TSH na gestante, podem resultar em prejuízo cognitivo na prole 110,111 Clinicamente, vários estudos indicam que filhos de mães com hipotireoidismo descompensado durante a gestação podem apresentar significante decréscimo do quociente de inteligência (QI).43,112,113 Ademais, neonatos expostos a níveis consideravelmente reduzidos de HTs durante a vida uterina apresentam posteriormente retardo no crescimento, defeitos neurológicos e desempenho reduzido em diversas habilidades cognitivas.54 A ação dos hormônios da tireóide sobre o sistema nervoso central ocorre, principalmente, do período intra-uterino até os dois primeiros anos de vida na espécie humana. As conseqüências específicas à deficiência dependem do período e severidade da exposição.114 Adicionalmente, a deficiência de HTs durante a gestação reduz o número de células neuronais e afeta severamente as suas interações sinápticas.115 Há mais de 30 anos, estudos pioneiros sobre os efeitos da deficiência dos HTs no desenvolvimento do cérebro utilizaram ratos como modelo experimental. Diferentemente do que ocorre em humanos, em ratos, um grau significativo de desenvolvimento do cérebro ocorre após o nascimento.116 A figura 2 ilustra uma comparação simplificada entre o desenvolvimento do SNC do rato e do humano. No rato, o efeito da privação dos hormônios da tireóide tem sido estudada no período neonatal precoce, pois este corresponde à fase final de desenvolvimento intra-uterino nos seres humanos. Os hormônios tireoidianos são primeiramente fornecidos pela mãe para o feto (área mais escura sombreada) até que a função da tireóide fetal inicia (17º 43 dia embrionário, no rato), e, posteriormente, ambos contribuem para manter o nível de hormônio tireoidiano no cérebro fetal.117 O número de receptores para hormônios da tireóide aumenta durante as primeiras duas semanas pós-natal no rato, coincidindo com o aumento dos HTs plasmáticos e a grande onda de mielinização do SNC. 117 Nível de hormônio tireoideano tireoideano Mielinização Córtex cerebral Striatum Corpo caloso Cerebelo Nascimento Humano Idade gestacional em meses Período embrionário Nascimento Ratos Dias pós-natais Figura 5. Desenvolvimento do SNC em ratos e humanos. [Rodriguez-Peña et al. (1999)]52 Trabalho desenvolvido por Madeira et al. (1991)118,119 evidenciou que a deficiência dos hormônios tireoideanos no período pós natal imediato e tardio reduz a proliferação neuronal e também leva ao aumento da morte celular. Estes eventos são subjacentes à mudanças irreversíveis morfológicas observadas no cérebro de ratos com hipotireoidismo, durante o desenvolvimento ou na maturidade. As alterações estruturais observadas estão provavelmente relacionadas com os déficits funcionais observados nesta condição. Ademais dados publicados por Hasegawa et al. (2010)120 indicam que o hipotireoidismo perinatal reduz o volume cerebral como um todo. Como dito anteriormente, a deficiência hormonal durante o desenvolvimento do SNC provoca anormalidades neurológicas no cérebro como a perda neural. O hipocampo é uma das regiões do cérebro vulneráveis à deficiência hormonal e o volume do giro denteado (GD) e do cornu ammonis (CA) são reduzidos no hipotireoidismo transitório, durante o desenvolviemento do SNC.121 Essas anormalidades neurológicas das estruturas do hipocampo e a perda neuronal são irreversíveis, mesmo quando os 44 níveis de hormônios tireoideanos eram revertidos à níveis normais após o desenvolvimento do SNC, como mostrado por Madeira et al. (1992). 118 Além disso, estudo desenvolvido por Pathak et al. (2011)122 com ratas prenhas tratadas com metimazol (MTZ) do 6º de gestação até o final da lactação ou eutanásia observou que níveis adequados de HTs maternos asseguram adequada citoarquitetura fetal neocortical ressaltando a importância da reposição de tiroxina precocemente. 2.10. Hipotireoidismo e gestação Durante a gestação, de maneira geral, as anormalidades da função tireoidiana podem afetar 10% das mulheres gestantes.8,112 A prevalência de hipotireoidismo durante a gestação varia em cada país, porém estima-se que esta varie de 0,3% a 25%.123 Para o hipotireoidismo subclínico, estima-se que a prevalência seja de 4% segundo estudo desenvolvido com gestantes no estado da Bahia.124 A deficiência de HTs, como no hipotireoidismo congênito, é uma das causas mais comuns e tratáveis de deficiência mental no recém-nascido (RN). 36,125,126 Durante o período gestacional, é importante o diagnóstico precoce do hipotireoidismo, uma vez que este pode trazer consequências para o concepto e para a própria gestante.8 Na gravidez, o organismo materno sofre uma série de modificações hormonais e metabólicas e a ocorrência de alguma falha na adaptação dessas mudanças fisiológicas resulta em disfunções tireoidianas.127 Tem sido demonstrado que adequadas concentrações de HTs fetais são necessárias desde o início da gestação para se atingir um desenvolvimento neurológico adequado.128 No início da vida fetal, o organismo é dependente dos HTs da mãe por volta da 11ª semana, a tireóide fetal começa a captar iodeto e, no meio da gestação, por volta da 18ª-20ª semana, passa a secretar seus próprios hormônios.38 Precocemente, já no início da gestação, os níveis elevados de estrógeno determinam aumento das concentrações séricas da proteína transportadora de T4, TBG, particularmente por estímulo à sua síntese. 129 Em conseqüência há aumento das concentrações séricas de T4 e T3 totais que atingem um plateau por volta de 12 a 14 45 semanas da gestação. Este aumento rápido e marcante da TBG (2 a 3 vezes do normal) é acompanhado por tendência à diminuição do T4 e do T3 livres e resulta em estímulo do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide.130,131 Estas alterações nas concentrações de T4 livre seguidas de aumento de TSH para novo equilíbrio não são usualmente detectadas nos testes de rotina, porém, nas mulheres gestantes que vivem em áreas carentes em iodo, ficam bem evidentes.132 No primeiro trimestre da gestação, ocorre estimulação direta da tireóide materna pelas concentrações elevadas de gonadotrofina coriônica (hCG). Este aumento, que atinge valores de pico entre a 8ª e a 14ª semana de gestação, é acompanhado por inibição do eixo hipotálamo-hipófise e, em face da reatividade cruzada com o receptor de TSH, promove aumento temporário do T4 livre.133,134 Além disso, durante toda a gestação, ocorre modificação do metabolismo dos hormônios maternos por meio de sua desiodação pela placenta. Três enzimas catalisam a desiodação dos hormônios tireoidianos (HT) nos tecidos humanos.135,136 A atividade da desiodase tipo 1 parece não ser modificada na gestação, enquanto a do tipo 2 é expressa na placenta, porquanto sua atividade representa mecanismo homeostático para manter a produção maior de T3 local, quando as concentrações de T4 maternas são reduzidas. A placenta contém grandes quantidades de desiodases tipo 3 que convertem T4 em T3 reverso (rT3) e T3 em T2. Esta alta atividade durante a vida fetal pode explicar as concentrações baixas de T3 e altas de rT3, que são características do metabolismo dos HTs fetais. Durante muito tempo se acreditou que a placenta era impermeável aos HTs, embora estudos iniciais com marcação radioativa destes hormônios sugerissem que alguma porcentagem de T3 e T4 atravessasse lentamente a barreira placentária.6,137 A baixa permeabilidade desta barreira para o HT foi inicialmente atribuída às propriedades físico-químicas de T3 e T4. No entanto, a descoberta de que a placenta contém abundantes desiodases tipo 3 (5D´3), responsáveis por converter T4 em T3 reverso (biologicamente inativo), sugeriu que a desiodação intraplacentária pode desempenhar um papel importante para a disponibilidade de HTs.138 Corroborando com estes dados, Vulsma et al., 198939 demonstraram que fetos com agenesia da glândula ou defeitos 46 completos de organificação, portanto incapazes de produzir hormônios tireoidianos, apresentavam concentrações de T4 correspondentes a 30% dos níveis normais circulantes. Estes dados então demonstraram que a transferência transplacentária continua até o nascimento. Ademais, a identificação da presença de receptores de T3 no cérebro fetal por volta da décima semana139 e a observação da primeira fase de rápido desenvolvimento cerebral no segundo trimestre, período no qual o suprimento de hormônios tireoidianos se faz principalmente às custas da passagem materna, sugerem que baixas concentrações maternas de T4 podem resultar em déficit neurológico irreversível na criança. 140–142 Em humanos, tem sido confirmada a presença de ambos os hormônios, T3 e T4, nos tecidos fetais no início do primeiro trimestre, bem antes do início da produção dos HTs pelo feto. Estes começam a ser formados no início do segundo trimestre.32,143,144 Assim, existem evidências clínicas que até mesmo reduções leves nos níveis de HTs materno no início da gestação, podem levar ao desenvolvimento neuropsicológico inadequado, destacando, assim, a importância de quantidades adequadas de T4 materno para o desenvolvimento fetal normal.140,145–147 Na última década, o conhecimento acerca da capacidade dos HTs maternos atravessarem a barreira placentária tem aumentado significativamente. Vários transportadores de membrana placentário para hormônios tireoidianos têm sido descritos.148 Loubière et.al. (2010)148 descreveram a ontogenia dos transportadores dos hormônios tireoidianos MCT8, MCT10, LAT1, LAT2, OATP1A2 e OATP4A1 em uma grande série (n = 110) de placentas humanas normais em toda a gestação. Assim o método quantitativo RT-PCR (reverse transcription polymerase chain reaction) revelou, neste estudo, que todos os RNAms que codificam estes transportadores de HTs estavam expressos na placenta humana a partir da 6ª semana de gestação e durante toda a gravidez. Em conclusão, este estudo demonstrou que transportadores para HTs estão presentes na placenta humana a partir do inicio do primeiro trimestre com diferentes padrões de expressão durante a gestação. Seus efeitos coordenados podem regular tanto a passagem transplacentária quanto o fornecimento de HTs para o trofoblasto, ambos essenciais para o desenvolvimento normal do feto e da placenta. 148 47 Estudo desenvolvido por Burns et al. (2011)149 postulou que a biodisponibilidade de iodo placentário contribui significativamente para a proteção contra hipotireoidismo neonatal. Estes achados sugerem que a placenta tem um papel não só na captação, mas também no armazenamento de iodo como um meio possível de proteger o feto de inadequações na ingestão de iodo na dieta materna. 149 É interessante ressaltar que a placenta parece ser incapaz de compensar o hipotireoidismo materno. No início da gravidez quando os níveis adequados de HTs fetal são cruciais para o desenvolvimento neurológico normal, os níveis de T4 que serão encontrados no cérebro fetal refletem os níveis de T4 maternos.150,151 Isto sugere a ausência de um mecanismo de feedback dos níveis de HT materno na transferência materno-fetal de HT.150,151 Assim, redução de hormônios tireoidianos maternos pode promover danos encefálicos importantes no feto. Desta forma, é possível notar que a placenta é responsável por regular a passagem dos HTs maternos para o feto através da interação complexa dos transportadores de membrana, enzimas e desiodades.150,151 2.10.1. Hipotireoidismo materno e nocicepção da prole Especula-se que o hipotireoidismo congênito pode alterar a maturação das vias somatossensoriais, alterando as respostas nociceptivas e o processamento da dor induzida. Alguns estudos em animais têm tentado estabelecer o papel do hormônio tireoidiano na nocicepção. Bruno et al. (2005)152 relataram que hipotireoidismo induzido no periodo pré-natal e pós-natal reduziu o limiar nociceptivo térmico, induzida pelo tail-flick, em ratos recém nascidos e idosos, mas aumentou a resposta nociceptiva em ratos adultos jovens.152 Neste contexto, Edmondson et al. (1990) também constataram que ratos hipertiroideos apresentam maior sensibilidade à estimulação térmica.153 Animais filhos de mães com hipotireoidismo, 7 e 15 dias após o nascimento, foram submetidos ao teste de formalina (injeção) na pata direita. Neste estudo, foi possível observar que os filhotes de mães hipotireóideas demonstraram maior sensibilidade a doses menores de formalina, quando comparados com o controle.154 48 Os achados supracitados sugerem que o hormônio da tireóide desempenha um papel fundamental na resposta a dor aguda a estímulos breves de caráter tanto mecânico quanto térmico. Vale ressaltar que, em todos os estudos supracitados, os autores induziram o hipotireodismo através da adição de propiltiuracil na água de beber de ratas gestantes e mantiveram este tratamento ainda durante os primeiros dias de lactação. Estudo realizado por Akbari et. al. (2009)155, demonstrou redução particular da expressão óxido nítrico sintase (NOS) no corno dorsal da medula espinhal em filhos de mães hipotireóideas (induzido por meio de PTU do 16º dia de gestação até o 23º dia pós-natal). Esta diferença parece explicar a modificação da sensibilidade nociceptiva observada pelos autores. Em suma, a ocorrência de hipotireoidismo materno durante a gestação apresenta grande potencial em gerar desordens transitórias ou definitivas ao longo da vida da prole. Neste contexto, há indícios de que o desenvolvimento da circuitaria neuronal somatossensorial fetal é claramente dependente de HTs de origem materna. Por isso, a deficiência destes hormônios durante a vida intra-uterina pode ser a origem de doenças hiper ou hipoalgésicas crônicas, sem causa aparente, e que acomentem indivíduos mais tardiamente em suas vidas. 2.10.2. Hipotireoidismo e controle motor A presença de RNAm para receptores de hormônios tireoideanos no cerebelo foi determinada pela técnica de biologia molecular RT-PCR no estudo de Habas et al. (2011)156. Ao cerebelo, são tradicionalmente atribuídas funções tais como coordenação, equilíbrio da marcha e controle motor fino. A falta de TH no início da vida tem um efeito marcante sobre o desenvolvimento do cerebelo de ratos.157 Hasebe et al. (2008) estudaram o efeito da indução do hipotireoidismo durante o período gestacional e lactação na atividade locomotora na prole de ratos machos por meio do teste Rota-Rod. Os cérebros dos animais foram removidos nos 6, 9, 12, 15, 25 e 30 dias pós-natais e foram analisados, utilizando-se cortes sagitais do cerebelo. Os autores verificaram que o desempenho motor dos filhos 49 de mães hipotireóideas foi significativamente pior quando comparado ao grupo controle e que estes animais apresentaram alteração morfológica no cerebelo.157 Corroborado com estes achados, estudo desenvolvido por El-Bakry et al. (2010)158 com ratos visou estudar o efeito na prole do hipo e hipertireoidismo experimental gestacional a nível do SNC. Os dados deste estudo evidencaram que tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo materno são responsáveis por malformações e defeitos no desenvolvimento do córtex cerebelar e cerebral. Foi demonstrado a presença de degeneração, deformação e retardo no crescimento grave em neurônios dessas regiões em ambos os grupos tratados durante todo o período experimental. Neste contexto, estudo em humanos, tal como o que foi realizado por Tajima T. (2007)159, também identificaram casos de atrofia cerebelar associado ao hipotireoidismo congênito. Fuggle et al. (1991)160 avaliaram 57 crianças com hipotireoidismo congênito e identificaram déficit importante nas habilidades motoras destas crianças, particularmente em relação ao equilíbrio. Assim, os autores sugeriram que tal déficit foi encontrado em virtude de um comprometimento inicial do sistema vestibular, que pode ocorrer apesar do tratamento precoce com T4. É sabido que o controle de equilíbrio exato requer a integração, no tronco encefálico, de informações neurossensoriais de boa qualidade fornecidas pelos sensores visual, vestibulares e somestésicos, bem como requer processamento central eficiente para gerar respostas motoras adequadas, incluindo movimentos oculares compensatórios pelo reflexo vestíbulo-ocular e ajuste no corpo pelo reflexo vestíbulo-espinhal.161 Assim, a alteração em qualquer um destes componentes pode ser responsável por gerar importante prejuízo motor e do equilibrio. Alguns achados mais recentes têm demonstrado que o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) promove a sobrevivência dos neurônios motores in vitro e resgata os neurônios motores da morte celular induzida por axotomia in vivo. Neste estudo, desenvolvido por Ikeda et al. (1995), objetivou-se examinar os efeitos da administração de BDNF exógeno sobre a progressão da doença do neurônio motor (DNM) em ratos. Assim identificou-se que o tratamento com BDNF foi responsável por aumentar a 50 mielinização em neurônios motores na raiz cervical quando comparado ao grupo controle.162 Sabendo da importância do BDNF no cerebelo para a sobrevivência e diferenciação circuitaria neuronal motora, bem como para o desenvolvimento do SNC como um todo, diferenciação neuronal, sinapse, plasticidade neural e para o aprendizado.163 Sinha et. al. (2009)164 avaliaram o efeito do hipotireoidismo gestacional nos níveis de BDNF na prole. Assim, os autores constataram redução nos níveis de BNDF no cerebelo da prole em diferentes fases do desenvolvimento pós-natal. Além do BDNF, tem sido sugerido que a acetilcolinesterase (AchE), independentemente da sua função catalítica, está envolvido na regulação da proliferação celular e crescimento neurítico durante o desenvolvimento do sistema nervoso central de ratos165 e do embrião de galinhas156. Também foi relatado que em roedores, há uma relação entre HT e AchE e que ratos com hipotireoidismo apresentam um declínio da atividade da AchE no cerebelo165. Estudo desenvolvido por Haba et al. (2011)156 avaliou as conseqüências prejudiciais do hipotireoidismo durante a embriogênese do embrião da galinha, que é descrito como um modelo animal apropriado para investigar o estado do hipotireoidismo durante a embriogênese. Para tanto, foi realizada inibição da biossíntese de hormônio tireoidiano em embriões de galinha através do uso do MTZ. Assim, identificou-se que a atividade da acetilcolinesterase cerebelar foi reduzida após tratamento com MTZ e esta alteração foi relacionada pelos autores com o déficit motor e cognitivo encontrado em individuos com hipotireoisimo congênito. Diante do exposto, é possível compreender que distúrbios motores podem ser observados quando o cérebro se desenvolve às custas de aporte insuficiente de HT. Assim, sabendo da importância do hormônio tireoidiano para o desenvolvimento do sistema nervoso central e da coordenação motora, torna-se essencial investigar os efeitos do hipotireoidismo materno no que tange a atividade locomotora da prole. 51 2.11. Considerações finais Em suma, a ocorrência de hipotireoidismo materno durante a gestação, sobretudo na forma subclínica, apresenta grande potencial em gerar desordens transitórias ou definitivas ao longo da vida da prole. Neste contexto, há indícios de que o desenvolvimento da circuitaria neuronal, somatossensorial e motora, fetal é claramente dependente de HTs de origem materna. Por isso, a deficiência destes hormônios durante a vida intra-uterina pode ser a origem de doenças hiper ou hipoalgésicas crônicas ou gerar problemas motores ou de equilíbrio , sem causa aparente, e que acomentem indivíduos mais tardiamente em suas vidas. No entanto, até o presente momento, muitas lacunas acerca dos mecanismos fisiopatológicos desta deficiência permanecem obscuras. 52 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo geral Investigar as repercussões da carência dos hormônios tireoideanos maternos durante o período gestacional na nocicepção e no desempenho motor em diferentes etapas da vida da prole. 3.2. Objetivos específicos Investigar o efeito da carência dos HTs durante a gestação: 1. no limiar mecânico ao longo da vida da prole de ratas, na latência térmica ao longo da vida da prole de ratas; 2. no desempenho locomotor ao longo da vida da prole de ratas com hipotireoidismo gestacional experimental; 3. no ganho de peso da prole; 4. no tempo de abertura ocular da prole. 5. na duração da gestação, no número de filhotes por ninhada e no peso corporal das mães. 53 4.MATERIAL E MÉTODOS 4.1.Animais utilizados Foram utilizadas três categorias de ratos Wistar obtidos do Biotério Central da Universidade Federal de Sergipe. São elas: Categoria I. onze fêmeas adultas (200 a 250 g) que foram acompanhadas para acasalamento programado. Destas, sete emprenharam e tiveram suas gestações concluídas para a produção do número necessário de filhotes. Confirmadas as sete gestações, quatro fêmeas foram submetidas ao protocolo de indução de hipotireoidismo durante a gestação (grupo FH) e três receberam água de torneira (grupo FE); Categoria II. seis machos adultos (250 a 300 g), para acasalamento com as fêmas adultas da categoria I; Categoria III. 46 ratos neonatos, sendo 22 (13 machos e 9 fêmeas) filhos de mães eutireóideas e 24 (11 machos e 13 fêmeas) neonatos filhos de mães com hipotireoidismo gestacional experimental. Enquanto não estavam gestantes, as fêmeas da categoria I foram mantidas em caixas de policarbonato coletivas com 2 animais por caixa. Diariamente, tiveram seu ciclo estral acompanhado por análise colpocitológica para que, na fase do proestro, fossem expostas a rato Wistar adulto para acasalamento. A confirmação da cópula foi feita pela detecção microscópica de espermatozóide no lavado vaginal. Confirmado a cópula, cada fêmea foi acondicionada individualmente em caixa de policarbonato, onde permaneceram por toda a gestação, parto e lactação. No dia 3 após o nascimento, os filhotes foram sexados e mantidos em amamentação em ninhadas com, no máximo, oito animais. No dia 21 após o nascimento, a ninhada foi desmamada e os filhotes transferidos para caixas coletivas, com até seis animais do mesmo sexo por caixa. Durante todo o período, os animais tiveram livre acesso à água e comida. As salas de manutenção dos animais e experimentação, localizadas no Laboratório de Pesquisa em Neurociências (LAPENE, HU), tinham luminosidade controlada com ciclo claro-escuro de 12/12h (luz das 6 às 18 horas), e temperatura de 23 + 2 oC, tendo livre acesso à alimentação e água. Os animais receberam água de torneira e foram alimentados com ração especifica para roedores. 54 Todos os procedimentos aos quais os animais utilizados neste estudo foram submetidos estão de acordo com as normas e princípios éticos preconizados pela International Guiding Principles for Biomedical Research Involving Animals e foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Animais (CEPA) da Universidade Federal de Sergipe, sob o nº88/11. 4.2. Drogas utilizadas e protocolo de indução do hipotireoidismo gestacional experimental Para a indução de hipotireoidismo gestacional experimental, foi utilizado o inibidor da iodoperoxidase, metimazol (MTZ), administrado ad libitum na concentração de 0,02% na água de beber (água de torneira), a partir do nono dia de gestação (DG) até o dia do parto.166 Esta concentração ofertada por 10 dias é hábil para gerar hipotireoidismo em ratas prenhas, visto que se evidencia redução nos níveis circulantes de T3 total e T4 total.55 Esta solução foi protegida da luminosidade e trocada a cada três dias. As fêmeas controles (eutireóideas) receberam água de torneira ad libitum. 4.3. Acompanhamento das mães Desde o momento da aquisição no Biotério Central da Universidade Federal de Sergipe (UFS), as fêmeas foram pesadas em dias alternados até o parto. Foi utilizado, para fins estatísticos, o peso das fêmeas no dia do acasalamento e onze dias após o ínicio do tratamento com MTZ (20º dia de gestação). Acrescido a isto, foi avaliado o tempo de gestação das ratas prenhas de ambos os grupos, bem como o número de filhotes por ninhada. 4.4. Acompanhamento da prole Foi realizada a pesagem diária dos filhotes do 3º ao 30º dia pós-natal. A partir de então, a avaliação do peso corporal dos filhotes de ambos os grupos passou a ser mensal até 120 dias pós-natais. Além disso, os filhotes de ambos os grupos foram avaliados diariamente, desde o nascimento, a fim de se verificar o momento em que realizariam a abertura ocular. 55 4.5. Avaliação do limiar mecânico para retirada da pata Para a avaliação do limiar mecânico de retirada da pata, foram utilizados os filamentos de vonFrey aplicados diretamente nas patas traseiras. Inicialmente, os animais foram ambientados em suas caixas por 30 minutos na sala de comportamento. Na sequência, os animais foram transferidos para caixas transparentes com piso de tela de metal vasada, onde foram mantidos por 30 minutos para nova ambientação. Este procedimento foi repetido por dois dias consecutivos. Séries de filamentos com forças crescentes (em mN), calibrados em balança semi-automática de precisão, foram aplicados, em duplicata, na superfície plantar da pata traseira até que o animal manifestasse o comportamento de retirada da pata mediante o estímulo.167 A menor força na qual o animal retirasse a pata de uma das duas aplicações foi registrada como limiar mecânico de retirada da pata, e interpretada como sensibilidade mecânica secundária (cutânea). Esse método tem demonstrado extrema confiabilidade estatística.168 Os filhotes de mães eutireóideas, bem como os das mães com hipotireoidismo gestacional, foram submetidos a este procedimento aos 7, 15, 23, 30, 60 e 120 dias de nascidos. Tal procedimento já se encontra consolidado na literatura, inclusive para faixas etárias iniciais (7, 15, 23 e 30 dias).169–172. Porém, até o presente momento nenhum estudo utilizou o teste de sensibilidade mecânica de vonFrey em filhotes de mães hipotireóideas nas idades mencionadas (figura 6). A B C D Figura 6.4.6. Aparato para avaliação do limiar mecânico para retirada da pata (vonFrey). Filamentos de Avaliação da latência para a retirada da cauda vonFrey (A); Figuras representativas dos procedimentos de habituação (B) e teste em filhotes aos 30 (C) e 120 dias pós-natais (D). 56 Para avaliação do limiar térmico, foi utilizado o tail-flick. Neste modelo, foi realizado um estímulo térmico acima de 49oC aplicado à cauda dos ratos, desencadeando o reflexo da retirada da mesma por flexão predominantemente em direção rostral. A avaliação destas respostas foi realizada por meio da medida da latência (em segundos) entre o início da aplicação do estímulo térmico e o momento de afastamento da cauda da fonte de calor. Foi adotado o ponto de corte de 20 segundos. Foi registrado o limiar térmico por meio do tempo de latência do reflexo de retirada da cauda. Esse modelo permite obter informações sobre o mecanismo de regulação da sensibilidade térmica, uma vez que o parâmetro avaliado (i.e.: reflexo de retirada da cauda) é de integração medular e supra-medular.173 Os filhotes de mães eutireóideas bem como os das mães com hipotireoidismo foram submetidos a este procedimento aos 7, 15, 23, 30 e 60 dias de nascidos. Tal procedimento já se encontra consolidado na literatura em todas as faixas etárias utilizadas neste estudo15,152,174–176(figura 7). A B Figura 7. Aparato para avaliação do limiar de sensibilidade térmica (tail flick). Avaliação do filhote nos dias 7 (A) e 60 pós-natais. 4.7. Avaliação do desempenho motor Os possíveis efeitos no desempenho motor promovidos pelo hipotireoidismo materno na prole foram testados através do aparato Rota-Rod. Especificamente, os animais foram colocados no Rota-Rod rodando a uma velocidade de 10 rotações por minuto (rpm) por 120 segundos e mantida por outros 30 segundos em 18 rpm.177 Para habituação, os ratos foram treinados durante os dois dias anteriores ao dia do teste. Aos 60 dias de vida, foram submetidos a três sessões com três tentativas cada, em intervalos 57 de 15 minutos entre as sessões e intervalos de 5 minutos entre as tentaivas. O tempo de performance foi registrado em segundos (figura 8). Figura 8. Aparato para a avaliação do desempenho motor (Rota-Rod). A prole de mães eutireóideas e hipotireóideas foi submetida a tal procedimento 60 dias após o nascimento. A utilização do Rota-Rod em ratos jovens, também já se encontra padronizado na literatura e é bastante utilizado em animais com idades inferiores a 30 dias.178–181 4.8. Avaliação da força de preensão Os possíveis efeitos na força de preensão (em gramas) promovidos pelo hipotireoidismo gestacional foram avaliados na prole através do Grip Strength Meter. O teste de força de preensão constitui um método não invasivo amplamente utilizado projetado para avaliar a força dos membros dos ratos. Tal método tem sido frequentemente utilizado para investigar os efeitos de doenças neuromusculares e drogas.182,183 Este se baseia na tendência natural do animal para agarrar uma barra ou grade quando suspenso pela cauda. O animal agarra uma barra de metal horizontal enquanto é puxado levemente pela cauda. A barra ou grade é acoplada a um transdutor de força que mede o pico da força de tração (em gramas), que pode ser visualizado em uma tela digital. O objetivo deste teste é avaliar o tônus dos animais e/ou a força dos membros anteriores e posteriores ao mesmo tempo ou separadamente. Este método pode ser útil 58 para medir a progressão de uma disfunção neuromuscular em ratos. Alterações na força de preensão avaliada pelo Grip Strength Meter eletrônico (figura 9) tem sido interpretadas como evidência de redução ou aumento da força muscular.184 O teste foi realizado com um animal por vez, sendo obtidas, para cada animal, três medidas com intervalos de 5 minutos entre as mensurações. Para cada animal, foi escolhido o melhor valor alcançado entre as três medidas. Tal teste foi realizado aos os 120 dias pós-natais. Figura 9. Aparato necessário para realização do teste de força de preensão (Grip Strength Meter eletrônico). Uma vez que todos os testes comportamentamentais in vivo, por sua natureza, apresentam variabilidade, a fim de reduzir tal fenômeno o mesmo examinador realizou todos os testes descritos anteriormente. Para impedir a influência do experimentador nos testes comportamentais realizados, estes não tinham conhecimento dos grupos aos quais pertenciam os animais (estudo cego). 4.9. Desenho Experimental Os experimentos seguiram o seguinte cronograma experimental: 1. As fêmeas foram acompanhadas para detecção do estro e acasalamento. 2. No nono dia de gestação foi iniciado o protocolo de indução do hipotireoidismo gestacional experimental (HGE); 3. Ao final da gestação (parto), foi interrompida a administração de MTZ; 4. No 21º DPN os filhotes foram desmamados e separados por sexo; 5. Aos 7, 15, 23, 30, 60 e 120 dias de vida, os animais foram submetidos aos testes de sensibilidade mecânica e 59 térmica. Aos 60 dias de vida, foi testada a atividade locomotora dos filhotes por meio do Rota-Rod. Aos 120 dias, os filhotes foram submetidos ao teste para avaliação da força de preensão das patas (figura 10). A B Figura 10. Procedimento experimental adotado nas mães (A) e na prole (B). MTZ: metimazol; DPN: dia pós-natal Os filhos de mães HGE ou controle foram distribuídos nos seguintes grupos: Grupo 1. 11 machos MTZ (i.e.: filhos de mães hipotireóideas) para o teste de sensibilidade mecânica, térmica, Rota-Rod e grip strength meter; Grupo 2. 13 machos controle (i.e.: filhos de mães eutireóideas) para o teste de sensibilidade mecânica, térmica, desempenho motor e força de preensão; Grupo 3. 9 fêmeas controle (i.e.: filhas de mães eutireóideas) para o teste de sensibilidade mecânica, térmica, desempenho motor e força de preensão; Grupo 4. 13 fêmeas MTZ para o teste de sensibilidade mecânica, térmica, desempenho motor e força de preensão. Todos os dados referentes aos dias 60 e 120 dias após o nascimento foram analisados dissociando os machos das fêmeas. Tal procedimento se justifica pois, a partir de 60 dias de vida, ratos machos e fêmeas já se encontram sob grande interferência de hormônios gonadais, que sabidamente afetam a nocicepção.185,186 60 Assim, pretendemos investigar a existência de um possível presença de dimorfismo sexual, tornando ainda mais intrigante este estudo. 4.10. Análise estatística Os dados referentes aos testes de sensibilidade (vonFrey e tail-flick), desempenho motor ( Rota-Rod) e força de preensão (Grip Strength Meter) foram analisados por meio do teste estatistico ANOVA two-way de amostras repetidas, seguido do post hoc test de Bonferroni. O teste T foi utilizado para analisar os dados referentes a abertura ocular dos filhotes, duração da gestação, número de filhotes por mães e peso corporal das mães. O nível crítico fixado foi de 5% para se admitir uma diferença de médias como estatisticamente significante. Os resultados foram expressos em média ± erro padrão da média (EPM). 61 5. RESULTADOS Neste estudo, não foram identificadas diferenças no tempo de gestação (22±0 versus 21,75± 0,25 dias, FH e FE respectivamente) bem como no número de filhotes por ninhada das fêmeas hipotireóideas (FH) quando comparadas as fêmeas eutireóideas Tempo de gestação (dias) (FE) (9,14±0,96 versus 7,6±0,92, respectivamente) (figuras 11 e 12). TEMPO DE GESTAÇÃO 25 20 FE FH 15 10 5 0 Figura 11. Efeito do HGE na duração da gestação. Foram incluídas 5 fêmeas eutireóideas (FE) e 7 fêmeas hipotireóideas (FH).Teste t de Student. Nº de filhotes 15 FE FH 10 5 0 Figura 12. Efeito do HGE no número de filhotes paridos. Foram incluídas 5 fêmeas eutireóideas (FE) e 7 fêmeas hipotireóideas (FH). Teste t de Student. Ademais, não houve diferença significativa no peso corporal das ratas alocadas em ambos os grupos, FH e FE (196,4±13,84 versus 197,49±12,2 gramas, respectivamente), bem como no peso destas após onze dias de tratamento com MTZ (239± 17,7 versus 227±12,7 gramas, respectivamente) (figura 13). 62 Observou-se que a prole de mães hipotireóideas (PMH), quando comparada a prole de mães eutireóideas (PME), apresentou um retardo significativo no tempo necessário para abertura ocular após o nascimento (15,42±0,19 versus 14,41±0,22 dias, respectivamente, p<0,05) (figura 14). Os mesmos animais também apresentaram peso corporal inferior no 15º e 30º DPN quando comparados a PME (22,03±0,65 versus 25,87±0,42 gramas, 45±1,42 versus 73,58±1,3 gramas, respectivamente) (p<0,01 e p<0,001, respectivamente) (figura 15). Não houve diferença significativa no peso corporal da PMH quando comparada a PME, no 3º DPN (6, 51±0,18 versus 8,53±0,19 gramas, respectivamente). A B 300 Controle Hipotireoidismo Peso corporal (g) Peso corporal (g) 300 200 100 FE FH 200 100 0 0 Figura 13. Efeito do HGE no peso corporal das mães, antes (A) e onze dias após o tratamento com MTZ (B). Foram incluídas 5 fêmeas eutireóideas (FE) e 7 fêmeas hipotireóideas (FH). Teste t de Student. Abertura ocular (dias) 20 15 * PME PMH 10 5 0 Figura 14. Efeito do HGE no tempo de abertura ocular da prole. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=24). (*) p<0,05. Teste t de Student. 63 *** Peso corporal (g) 80 PME PMH 60 40 ** 20 0 3 DPN 15 DPN 30 DPN Figura 15. Efeito do HGE no peso corporal da prole. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=24). (**) p<0,01; (***) p<0,001, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. No que tange a influência do HGE sobre o peso corporal dos animais aos 60 e 120 DPNs foi observado que apenas os machos da prole de mães hipotireóideas (m-PMH), possuem peso significativamente inferior quando comparados aos machos da prole de mães eutireóideas (m-PME) (202,3±5,8 versus 223,8±5,1 gramas, respectivamente) (p<0,01 para ambas as idades estudadas) (figura 16). ** Peso corporal (g) 300 m-PME m-PMH f-PME f-PMH ** 200 100 0 60 DPN 120 DPN Figura 16. Efeito do HGE no peso corporal da prole aos 60 e 120 DPN. m-PMH: machos da prole de mães hipotireóideas, n=9; f-PMH: fêmeas da prole de mães hipotireóideas, n=9; m-PME: machos da prole de mães eutireóideas, n=13; f-PME; fêmeas da prole de mães eutireóideas, n=8. (**) p<0,01, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. 64 Os animais da PMH apresentaram latência reduzida quando comparados a PME, para o 7º (10,93±1,4 versus 17,76±0,84 segundos), 15º (11,77±1,13 versus 16,08±1,0 segundos), 23º (13,45±1,36 versus 18,31± 0,82 segundos) e 30º DPN (15,37± 0,96 versus 19,42± 0,3 segundos) (p<0,001, p<0,05, p<0,01, p<0,05, respectivamente) (figura 17). 25 *** Latência (s) 20 ** * 23 DPN 30 DPN * PME PMH 15 10 5 0 7 DPN 15 DPN Figura 17. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade térmica, avaliado pelo método Tail-Flick, aos 7 ,15, 23 e 30 DPN comparados aos respectivos controles. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=20) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=23). (*) p<0,05; (**) p<0,01; (***) p<0,001, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. Para os dados de sensibilidade térmica, aos 60 dias pós-natais, foi possível observar que apenas os m-PMH permaneceram hipersensíveis (15,05±1,41 versus 18,65±1,07 segundos) (p <0,05) (figura 18). 25 PME PMH * Latência (s) 20 15 10 5 0 Machos Fêmeas Figura 18. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade térmica da prole aos 60 DPN. (*) p<0,05, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=13 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=11 para machos e n=12 para fêmeas). 65 Os animais da PMH apresentaram maior limiar mecânico de retirada da pata em todos os dias estudados porém esta diferença não foi significativa ( 7,96±1,07 versus 5,18±0,9mN no 7º DPN; 15,43±1,11 versus 12,40±1,49 mN no 15º DPN; 15,34±1,17 versus 14,06±1,15 mN no 23º DPN; 22,29±2,89 versus 18,93±2,74 mN no 30º DPN). (figura 19 e 20). Limiar mecânico (mN) 30 PME PMH 20 10 0 7 DPN 15 DPN 23 DPN 30 DPN Figura 19. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade mecânica da prole, medido pelo método vonFrey, aos 7, 15, 23 e 30 DPN. Grupo Controle (prole de mães eutireóideas (PME), n=22) e Grupo Hipotireoidismo (prole de mães hipotireóideas (PMH), n=24). Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal Limiar mecânico (mN) 250 m-PME m-PMH f-PME f-PMH 200 150 100 50 0 60 DPN 120 DPN Figura 20. Efeito do HGE no limiar de sensibilidade da prole, medido pelo método vonFrey, aos 60 e 120 DPN. m-PMH: machos da prole de mães hipotireóideas, n=9; f-PMH: fêmeas da prole de mães hipotireóideas, n=9; m-PME: machos da prole de mães eutireóideas, n=13; f-PME; fêmeas da prole de mães eutireóideas, n=9. Anova two-way, Bonferroni post hoc test. DPN: dia pós-natal. No estudo da atividade locomotora, por meio do Rota Rod, observa-se que os mPMH, apresentaram menor tempo de permanência na plataforma giratória quando 66 comparados aos m-PME (27,45±6,57 versus 93,91±14,53 segundos, respectivamente) (p<0,01). Entretanto, nenhuma diferença foi demonstrada entre as fêmeas (96,46±13,61 versus 93,22±13,11 segundos, f-PMH e f-PME respectivamente) (figura 21). 150 PME PMH Duração (s) ** 100 50 0 Machos Fêmeas Figura 21. Efeito do HGE no desaempenho motor, medido pelo método Rota-Rod, da prole aos 60 dias de nascidos. Grupo Controle (filhos de mães eutireóideas (PME), n=12 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (filhos de mães hipotireóideas (PMH), n=11 para machos e n=13 para fêmeas). (**) p<0,01, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. Os dados referentes à avaliação do efeito do HGE sobre a força de preensão, através do grip strength meter, em filhotes machos e fêmeas, aos 120 dias pós-natal, podem ser visualizados na figura 22. Nestes podemos observar que os m-PMH apresentaram força de preensão significativamente menor em comparação aos m-PME (1103,88±44,56 versus 1329±68,66 gramas, respectivamente) (p<0,05). No entanto, não houve diferença entre as fêmeas (993,55±38,01 versus 1149,55±93,19 gramas, f-PMH e f-PME, respectivamente.). Força (g) 1500 * PME PMH 1000 500 0 Machos Fêmeas Figura 22. Efeito do HGE na força de preensão, medido pelo método Grip Strength Meter. Grupo Controle (filhos de mães eutireóideas (PME), n=13 para machos e n=9 para fêmeas) e Grupo Hipotireoidismo (filhos de mães hipotireóideas (PMH), n=9 para machos e n=9 para fêmeas). (*) p<0,05, Anova two-way, Bonferroni post hoc test. 67 6. DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou que a administração de MTZ, para induzir HGE em ratas prenhas, não alterou o peso corporal, tempo de gestação e número de filhotes por ninhada. Entretanto, alterações importantes foram observadas no desenvolvimento corporal e nos sistemas sensorial e motor da prole. Os hormônios tireoidianos são responsáveis por mediar importantes efeitos fisiológicos em diferentes sistemas biológicos ao longo da vida. Hipotireoidismo durante um período crítico de desenvolvimento tem sido associado com retardo mental irreversível e profundo distúrbio neurológico.187 Além disso, tanto anormalidades puramente neurológicas quanto as neuro-comportamentais são comuns em disfunções da tireóide no adulto.187 Lasley et al. (2011)188, utilizaram PTU a uma concentração de 0,001% e evidenciaram redução discreta, porém significativa, do peso corporal de ratas tratadas a partir do 17º dia de gestação. No entanto, refletindo os nossos achados, vanWijk et al. (2008) demonstraram que a indução do hipotireoidismo materno não foi responsável pela redução do peso corporal das mães tratadas durante o período gestacional189. Isto aponta para a enorme possibilidade de que uma hipofunção tireoideana não gere, necessariamente, sinais e sintomas clássicos nas gestantes. No que diz respeito à duração da gestação, não encontramos diferenças entre as ratas tratadas com MTZ e as controles. Estes achados corroboram os de Pancieira et al. (2007)190 que identificaram que cadelas tratadas com iodeto radioativo durante a gestação, para induzir hipotireoidismo, não apresentaram tempo prolongado de gestação quando comparado as cadelas do grupo controle. Contrariamente, Hapon et al. (2003)191 induziram hipotireoidismo em ratas oito dias antes do acasalamento com PTU na água de beber e identificaram aumento no tempo de gestação das ratas tratadas. Adicionalmente, a chegada com êxito ao termo, ou seja, o parto de um produto vivo, também pode coexistir com o hipotireoidismo gestacional, apesar da alta correlação entre hipotireoidismo e aborto.192–195 Similarmente a Calvo et al. (1990)62 e 68 Hapon et al. (2003)191, nossos dados demonstraram que o tratamento com MTZ, a 0,02%, não afeta o número de fetos por ninhada, uma vez que o número de filhotes nascidos vivos não diferiu entre os grupos. Estudo prévio evidenciou que a deficiência de iodeto durante a gestação promove morte precoce ou aborto, aumenta a ocorrência de natimortos ou promove o nascimento de filhotes fracos.195,196 Contrariamente, não identificamos a ocorrência de abortos ou natimortos com a concentração de MTZ de 0,02%. Tal achado pode estar correlacionado com a dosagem utilizada, visto que Behzadi e Ganji (2005)197 demonstraram que as concentrações de 0,05% e 0,075% de PTU, adicionadas a água de beber de ratas prenhas, aumentaram a mortalidade dos filhotes na segunda semana pós natal diferente do que foi visto com a concentração de 0,005% de PTU, que também gerou hipotireoidismo nas ratas prenhas, no entanto, reduziu a mortalidade fetal e pósnatal. Curiosamente, a avaliação da prole de mães com HGE demonstrou que ocorrem claras e importantes modificações na prole, sobretudo no que diz respeito ao peso corporal, tempo de abertura ocular, sensibilidade mecânica e térmica e desempenho motor durante as diferentes fases de desenvolvimento pós-natal. Portanto, apesar de não termos realizado dosagens dos HTs e do TSH nas mães, as razões apontadas anteriormente nos permitem, de forma segura inferir que o MTZ, administrado por via oral, conforme o protocolo adotado neste estudo, induz hipotireoidismo em ratas gestantes. Acrescido a isto, estudo desenvolvido por Ahmed et al. (2010)55 aponta que esta concentração de MTZ adicionada a água de beber por 10 dias é capaz de gerar, nas ratas prenhas, redução dos níveis circulatentes de T3 total e T4 total. Segundo Rohani et al. (2009)154, a indução do hipotireoidismo materno (PTU a 0,005%) impede o adequado desenvolvimento corporal da prole, o que pode ser evidenciado pelo baixo peso corporal dos filhos de mães hipotireóidieas a partir da segunda semana de vida154,196–198, corroborando nossos achados. De forma mais específica, assim como em nosso estudo, Lasley et al. (2011)188 evidenciaram redução no peso corporal da prole a partir do 15º DPN, no entanto, a redução de peso corporal observada por estes autores foi mantida apenas até o 35º DPN, diferentemente do 69 presente estudo, em que os animais mantiveram peso corporal menor em relação aos controles até os 120 dias pós-natais. Neste contexto, os estudos clínicos com humanos são divergentes. Em um estudo caso-controle, foi evidenciado que o peso médio ao nascimento dos neonatos, em gestações cujas mães apresentam hipotireoidismo subclínico, foi significativamente menor quando comparado aos neonatos filhos de mães eutiróideas.199 Contrariamente, Casey et al. (2007) demonstraram que a prevalência de recém nascidos com baixo peso (< 2,5kg) não foi significativamente diferente para mães eutireóideas e hipotireóideas.200 A diminuição do peso corporal e do crescimento tem sido comumente encontrado em experimentos nos quais o hipotireoidismo foi induzido em ratos durante o desenvolvimento.201–205 Assim, tem sido demonstrado que déficits dos HTs afetam negativamente o crescimento ósseo através de um efeito sobre a produção e ação do hormônio de crescimento (GH).206 Além disso, Van Vliet et al (2009) 207 constataram que o impacto causado pelo hipotireoidismo congênito na maturação esquelética do RN, apresenta dimorfismo sexual, sendo os machos mais afetados. Tal achado pode justificar o fato de ter sido observado, apenas nos machos filhos de mães hipotireóideas, redução no peso corporal aos 60 e 120 dias pós-natais, quando comparado ao grupo controle. Similarmente aos nossos achados, Rohani et al. (2009) e Sawin et al. (1998) demonstraram que os filhotes de mães hipotireóideas apresentam retardo na abertura ocular.154,198 Tal fato pode indicar atraso no desenvolvimento destes animais. Em um estudo realizado por Bruno et. al. (2005)152, induziu-se hipertireoidismo através de injeção intraperiotineal de L-tiroxina (T4) (25 μg/100g de peso) em ratos machos e analisou-se o efeito do hipertireoidismo na sensibilidade térmica nos dias 5, 60 e 330 dias após o nascimento. Os autores relataram que, com cinco dias de vida, o hipertireoidismo experimental foi responsável pelo aumento na latência da resposta ao estímulo térmico, contrastando com o que foi observado aos 60 e 330 dias pós-natais. Neste contexto, Bruno et al. (2005)15 desenvolveram, no mesmo ano, estudo a fim de avaliar a nocicepção de filhotes neonatos de mães hipotireóideas e a nocicepção de filhotes adultos com hipotireoidismo induzido pela tireoidectomia. Os resultados deste estudo demonstaram que com 14 e 420 dias de vida, os filhotes apresentaram aumento 70 na latência ao estímulo térmico medido pelo tail-flick, quando comparado ao grupo controle. Porém, de maneira contrária, aos 60 dias de vida estes animais apresentaram redução da latência térmica, caracterizando hiperalgesia. Interessantemente, em nossos achados, filhos de mães hipotireóideas apresentaram redução na latência térmica (i.e.: hiperalgesia térmica) em todas as idades estudadas (7, 15, 23, 30) quando comparado ao grupo controle. No entanto, aos 60 dias pós-natais, a redução na latência térmica foi observada apenas nas fêmeas filhas de mães hipotireóideas. Tal achado pode estar relacionado ao efeito antinociceptivo do estrógeno relatado por diversos autores185,186,208,209. Neste sentido, Okuda et al. (2011)208 verificaram que o efeito antinociceptivo produzido pelo estrógeno ocorre via interação deste hormônio com o receptor de serotonina na medula espinhal. Assim, Lawson et al. (2010)209 evidenciaram que tal efeito está relacionado ao aumento na expressão do gene do receptor opióide Kappa na medula espinhal gerado pelo estrógeno. È importante ressaltar que não há na literatura estudos para avaliar a presença de dimorfismo sexual no limiar de sensibilidade térmica na prole de mães hipotireóideas. Assim, este constitui o primeiro estudo com esta finalidade. Até o presente momento, nenhum estudo utilizou o teste vonFrey com a finalidade de aferir a sensibilidade mecânica em animais filhos de mães hipotireóideas. Portanto, não há na literatura qualquer relato a respeito de alterações na sensibilidade mecânica da prole induzida pelo HGE. Para tanto, o presente trabalho, de forma inédita, avaliou este grupo de animais com o intuito de preencher esta lacuna do conhecimento acerca da sensibilidade mecânica da prole de mães HGE. Interessantemente, nossos dados apontam que o HGE sobre a não influencia a sensibilidade mecânica na maioria das idades estudadas. A exceção foi verificada apenas para machos aos 60 dias de vida, o que demonstra que a alteração encontrada foi transitória, e mais estudos são necessários para elucidar o mecanismo para esta reposta pontual. Hasebe et al. (2008)157 demonstraram que os filhos de mães hipotireóideas apresentam tempo de permanência na plataforma do Rotarod reduzido. Assim os autores sugerem a ocorrência de alterações cerebelares como causa de tal fenômeno, visto que a presença de um defeito funcional no cerebelo, ocasionado pela redução da 71 biodisponibilidade de HTs durante o desenvolvimento cerebral, já foi demonstrado em diversos outros estudos. 157 O desenvolvimento do cerebelo em animais hipotireóideos tem sido extensivamente estudado. Trabalhos prévios revelaram que (1) o número de células de Purkinje não é diminuído, (2) a maturação do cerebelo é permanentemente afetada, refletida pela organização anormal da árvore dendrítica, hipoplasia persistente do campo dendrítico e diminuição do número de espinhas dendríticas, (3) a proliferação, a migração e a diferenciação de células granulares externas é retardada, (4) fibras paralelas são mais curtas e têm menos contato sináptico com células de Purkinje, e (5) a densidade sináptica é degradada ao longo do córtex cerebelar.210–215 Considerando estas alterações neurobiológicas, em nossos achados machos filhos de mães hipotireóideas apresentaram redução no desempenho locomotor avaliado por meio do Rotarod. Portanto, baseando-se nestes estudos prévios, é possível que a insuficiência de HTs durante a gestação determine algum déficit funcional cerebelar nestes animais. De modo intrigante, tais alterações não foram observadas em filhas de mães HGE. Isto aponta para a presença de fatores protetores presentes em fêmeas, provavelmente relacionados à ação estrogênica direta ou indireta. Foi demonstrado por diversos autores que existe uma sensibilidade diferencial sexo-dependente para as alterações no BDNF causadas pela deficiência de hormônio tireoideano. 216–219 Tal achado pode ser devido a modulação estrogênica na expressão da proteína BDNF ou a interacções dos hormônios estrogênicos com os hormônios tireoideanos no cérebro.216–219 Assim, tem sido mostrado que o estrogênio é um potente regulador de BDNF no cérebro de ratos.220,221 Mais recentemente, Aguirre e Baudry (2009)222 evidenciaram que a administração exógena de estrógeno aumenta a expressão de BDNF no hipocampo. Já está bem descrito na literatura a importância do BNDF no cerebelo para a sobrevivência e diferenciação da circuitaria neuronal motora, bem como para o desenvolvimento do SNC como um todo, diferenciação neuronal, sinapse, plasticidade neural e para o aprendizado.163 Sinha et al. (2009)164 avaliaram o efeito do 72 hipotireoidismo gestacional nos níveis de BNDF na prole de ratos, constatando redução nos níveis de BNDF no cerebelo da prole em diferentes fases do desenvolvimento pósnatal. Desta forma, não se pode excluir a possibilidade de que o estrógeno, já presente aos 60 dias de vida no organismo das ratas estudadas, possa ter aumentado a expressão do BDNF cerebelar, melhorando a eficácia sináptica e promovendo melhor performance locomotora nestas ratas. Ainda de forma semelhante, apenas os machos filhos de mães hipotireóideas, apresentaram menor força muscular quando mensurada pelo Grip Strength Meter, em relação ao grupo controle. Tal como nos dados referentes ao desempenho motor, as fêmeas não foram afetadas. Assim, considerando que o rota-rod consiste no teste mais comum para avaliar, a nível experimental, o desempenho motor de animais.223,224 e que o Grip Strength Meter fornece uma medida de força muscular e equilíbrio,225,226 habilidade neuromotora precoce se faz necessária para que os animais realizem adequadamente os testes. Portanto, tomados em conjunto, estes achados indicam que qualquer um dos componentes do circuito do controle motor, desde a aferição dos sinais proprioceptivos até a atividade contrátil muscular, pode ser afetada pela deficiência de HTs durante a vida intra-uterina. Mais que isso, estes resultados reforçam a hipótese que as fêmeas estão mais protegidas que os machos submetidos às mesmas circustâncias experimentais. Corroborando estes achados, em um estudo desenvolvido por vanWijk et al. (2008), em que o hipotireoidismo materno foi induzido por dieta pobre em iodo, constatou-se que, antes do desmame da prole (14º dia de vida), os filhotes de ambos os sexos apresentaram pior desempenho no grip strength meter quando comparado ao grupo controle. No entanto, tal diferença desapareceu, para ambos os sexos, no 29º dia de vida. 189 De modo semelhante, Darbra et al. (2003)225 também verificaram tempo de latência diminuído no "wire hanging test” no dia 21 pós-natal em ratos machos em que o hipotireoidismo foi induzido do 9º dia gestacional ao 21º dia pós-natal. Este teste também afere a atividade locomotora e o equilíbrio dos animais. No entanto, estes autores observaram que aos 40 e 60 dias pós-natal essa diferença no desempenho motor 73 desaparece. Assim, nenhuma diferença entre o grupo controle e hipotireoideo foi observada no 80º dia pós-natal no teste " wire hanging test”, segundo o estudo de SalaRocca (2002).226 Portanto, nossos resultados demonstram, pela primeira vez, que a ausência de HTs durante, exclusivamente, a vida intra-uterina, pode afetar permanentemente os mecanismos de controle nociceptivo e motor, podendo, por isso, constituir um elemento etiológico de desordens álgicas e motoras que atualmente são consideradas de origem desconhecida. 74 7. CONCLUSÃO Assim concluímos que o hipotireoidismo gestacional experimental afeta negativamente o desenvolvimento corporal da prole, bem como os sistemas sensorial e motor. Ademais, parece haver dimorfismo sexual, nas respostas encontradas, uma vez que ratos machos apresentaram pior desempenho motor e menor força de preensão do que fêmeas. Assim, os achados obtidos a partir deste trabalho abrem perspectivas para que novos estudos sejam desenvolvidos a fim de identificar o substrato neurobiológico das alterações nos mecanismos de nocicepção e controle motor encontradas nos filhos de mães hipotireóideas. 75 REFERÊNCIAS 1 ENTRINGER, S. et al. Stress exposure in intrauterine life is associated with shorter telomere length in young adulthood. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 108, n. 33, p. 513-518, 2011. 2 MCMILLEN, I. C.; ROBINSON, J. S. Developmental origins of the metabolic syndrome: prediction, plasticity, and programming. Physiological Reviews, v. 85, n. 2, p. 571-633, abr 2005. 3 PITALE, S.; SAHASRABUDDHE, A. Fetal origin of vascular aging. Indian Journal of Endocrinology and Metabolism, v. 15 Suppl 4, p. S289-297, out 2011. 4 FOWDEN, A. L.; FORHEAD, A. J. Endocrine mechanisms of intrauterine programming. Reproduction, v. 127, n. 5, p. 515 -526, 1 maio 2004. 5 WARNER, M. J.; OZANNE, S. E. Mechanisms involved in the developmental programming of adulthood disease. The Biochemical Journal, v. 427, n. 3, p. 333-347, 1 maio 2010. 6 PATEL, J. et al. Delivery of maternal thyroid hormones to the fetus. Trends in Endocrinology and Metabolism: TEM, v. 22, n. 5, p. 164-170, maio 2011. 7 GHARIB, H. et al. Consensus Statement #1: Subclinical thyroid dysfunction: a joint statement on management from the American Association of Clinical Endocrinologists, the American Thyroid Association, and The Endocrine Society. Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 15, n. 1, p. 24-28; response 32-33, jan 2005. 8 LAZARUS, J. H.; PREMAWARDHANA, L. D. K. E. Screening for thyroid disease in pregnancy. Journal of Clinical Pathology, v. 58, n. 5, p. 449-452, maio 2005. 9 GÄRTNER, R. Thyroid diseases in pregnancy. Current Opinion in Obstetrics & Gynecology, v. 21, n. 6, p. 501-507, dez 2009. 10 MILLAN, M. J. Descending control of pain. Progress in Neurobiology, v. 66, n. 6, p. 355-474, abr 2002. 11 MILLAN, M. J. The induction of pain: an integrative review. Progress in Neurobiology, v. 57, n. 1, p. 1-164, jan 1999. 12 BESSON, J. M. The neurobiology of pain. Lancet, v. 353, n. 9164, p. 1610-1615, 8 maio 1999. 13 MELZACK, R.; WALL, P. D. Pain mechanisms: a new theory. Science (New York, N.Y.), v. 150, n. 3699, p. 971-979, 19 nov 1965. 14 TENG, C. J.; ABBOTT, F. V. The formalin test: a dose-response analysis at three developmental stages. Pain, v. 76, n. 3, p. 337-347, jun 1998. 15 BRUNO, A. N. et al. Nociceptive response and adenine nucleotide hydrolysis in 76 synaptosomes isolated from spinal cord of hypothyroid rats. Neurochemical Research, v. 30, n. 9, p. 1155-1161, set 2005. 16 ANTUNES-RODRIGUES, J. Neuroendocrinologia básica e aplicada. São Paulo: Guanabara Koogan, 2005. 17 LEVY, M. N.; KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne Y Levy Fisiologia. [S.l.]: Elsevier España, 2006. 18 OLIVEIRA, ADRIANA SILVA. Transporte de hormônios tireoideanos em hemácias de pacientes com hipertireoidismo ou hipotireoidismo primário. Brasília, DF: Universidade de Brasília, 2009. 19 MORENO, J. C.; VISSER, T. J. New phenotypes in thyroid dyshormonogenesis: hypothyroidism due to DUOX2 mutations. Endocrine Development, v. 10, p. 99-117, 2007. 20 MORAND, S. et al. Identification of a truncated dual oxidase 2 (DUOX2) messenger ribonucleic acid (mRNA) in two rat thyroid cell lines. Insulin and forskolin regulation of DUOX2 mRNA levels in FRTL-5 cells and porcine thyrocytes. Endocrinology, v. 144, n. 2, p. 567-574, fev 2003. 21 DEKEN, X. DE et al. Cloning of two human thyroid cDNAs encoding new members of the NADPH oxidase family. The Journal of Biological Chemistry, v. 275, n. 30, p. 23227-23233, 28 jul 2000. 22 FRIESEMA, E. C. H. et al. Identification of monocarboxylate transporter 8 as a specific thyroid hormone transporter. The Journal of Biological Chemistry, v. 278, n. 41, p. 40128-40135, 10 out 2003. 23 SUGIYAMA, D. et al. Functional characterization of rat brain-specific organic anion transporter (Oatp14) at the blood-brain barrier: high affinity transporter for thyroxine. The Journal of Biological Chemistry, v. 278, n. 44, p. 43489-43495, 31 out 2003. 24 SILVA, F. G. DA et al. Thyroid hormone induction of actin polymerization in somatotrophs of hypothyroid rats: potential repercussions in growth hormone synthesis and secretion. Endocrinology, v. 147, n. 12, p. 5777-5785, dez 2006. 25 BERNAL, J. Thyroid hormone receptors in brain development and function. Nature Clinical Practice. Endocrinology & Metabolism, v. 3, n. 3, p. 249-259, mar 2007. 26 MORTE, B. et al. Thyroid hormone-regulated expression of RC3/neurogranin in the immortalized hypothalamic cell line GT1-7. Journal of Neurochemistry, v. 69, n. 3, p. 902-909, set 1997. 27 FRAICHARD, A. et al. The T3R alpha gene encoding a thyroid hormone receptor is essential for post-natal development and thyroid hormone production. The EMBO Journal, v. 16, n. 14, p. 4412-4420, 16 jul 1997. 28 KÖNIG, S.; MOURA NETO, V. Thyroid hormone actions on neural cells. Cellular and Molecular Neurobiology, v. 22, n. 5-6, p. 517-544, dez 2002. 29 TRUEBA, S. S. et al. PAX8, TITF1, and FOXE1 Gene Expression Patterns during 77 Human Development: New Insights into Human Thyroid Development and Thyroid Dysgenesis-Associated Malformations. Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 90, n. 1, p. 455 -462, 1 jan 2005. 30 KRATZSCH, J.; PULZER, F. Thyroid gland development and defects. Best Practice & Research. Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 22, n. 1, p. 57-75, fev 2008. 31 THORPE-BEESTON, J. G. et al. Maturation of the secretion of thyroid hormone and thyroid-stimulating hormone in the fetus. The New England Journal of Medicine, v. 324, n. 8, p. 532-536, 21 fev 1991. 32 CALVO, R. M. et al. Fetal tissues are exposed to biologically relevant free thyroxine concentrations during early phases of development. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 87, n. 4, p. 1768-1777, abr 2002. 33 GREENBERG, A. H. et al. Observations on the maturation of thyroid function in early fetal life. Journal of Clinical Investigation, v. 49, n. 10, p. 1790-1803, out 1970. 34 HUME, R. et al. Human fetal and cord serum thyroid hormones: developmental trends and interrelationships. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 89, n. 8, p. 4097-4103, ago 2004. 35 BALLABIO, M. et al. Maturation of thyroid function in normal human foetuses. Clinical Endocrinology, v. 31, n. 5, p. 565-571, nov 1989. 36 FRANCHI,S, LA. Thyroid function in preterm infant. Thyroid, v. 9, n. 1, p. 71-78, 1999. 37 FRYER, A. A. et al. Plasma protein levels in normal human fetuses: 13 to 41 weeks’ gestation. British Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 100, n. 9, p. 850-855, set 1993. 38 FISHER, D. A.; KLEIN, A. H. Thyroid development and disorders of thyroid function in the newborn. The New England Journal of Medicine, v. 304, n. 12, p. 702-712, 19 mar 1981. 39 VULSMA, T.; GONS, M. H.; VIJLDER, J. J. DE. Maternal-fetal transfer of thyroxine in congenital hypothyroidism due to a total organification defect or thyroid agenesis. The New England Journal of Medicine, v. 321, n. 1, p. 13-16, 6 jul 1989. 40 BLEICHRODT, N.; BORN, M. P. A metaanalysis of research on iodine and its relationship to cognitive development. The damaged brain of iodine deficiency. New York: Cognizant Communication, v. 195, p. 200, 1994. 41 VERMIGLIO, F. et al. Defective neuromotor and cognitive ability in iodinedeficient schoolchildren of an endemic goiter region in Sicily. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 70, n. 2, p. 379-384, fev 1990. 42 FENZI, G. F. et al. Neuropsychological assessment in schoolchildren from an area of moderate iodine deficiency. Journal of Endocrinological Investigation, v. 13, n. 5, p. 427-431, maio 1990. 78 43 GLINOER, D. What happens to the normal thyroid during pregnancy? Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 9, n. 7, p. 631-635, jul 1999. 44 THORPE-BEESTON, J. G.; NICOLAIDES, K. H.; MCGREGOR, A. M. Fetal thyroid function. Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 2, n. 3, p. 207-217, 1992. 45 FELDMAN, J. D.; VAZQUEZ, J. J.; KURTZ, S. M. Maturation of the rat fetal thyroid. The Journal of Biophysical and Biochemical Cytology, v. 11, p. 365-383, nov 1961. 46 KLEIN, R. Z. et al. Relation of severity of maternal hypothyroidism to cognitive development of offspring. Journal of Medical Screening, v. 8, n. 1, p. 18-20, 2001. 47 WOODS, R. J.; SINHA, A. K.; EKINS, R. P. Uptake and metabolism of thyroid hormones by the rat foetus in early pregnancy. Clinical Science (London, England: 1979), v. 67, n. 3, p. 359-363, set 1984. 48 FISHER, D. A. et al. Ontogenesis of hypothalamic--pituitary--thyroid function and metabolism in man, sheep, and rat. Recent Progress in Hormone Research, v. 33, p. 59-116, 1976. 49 SOLIS, J. C.; VALVERDE, C. [Neonatal hypothyroidism. pathophysiogenic, molecular and clinical aspects]. Revista De Investigación Clínica; Organo Del Hospital De Enfermedades De La Nutrición, v. 58, n. 4, p. 318-334, ago 2006. 50 BRADLEY, D. J.; TOWLE, H. C.; YOUNG, W. S., 3rd. Spatial and temporal expression of alpha- and beta-thyroid hormone receptor mRNAs, including the beta 2subtype, in the developing mammalian nervous system. The Journal of Neuroscience: The Official Journal of the Society for Neuroscience, v. 12, n. 6, p. 2288-2302, jun 1992. 51 FITZGERALD, M.; JENNINGS, E. The postnatal development of spinal sensory processing. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 96, n. 14, p. 7719 -7722, 6 jul 1999. 52 THOMPSON, C. C.; POTTER, G. B. Thyroid hormone action in neural development. Cerebral Cortex (New York, N.Y.: 1991), v. 10, n. 10, p. 939-945, out 2000. 53 GLAUSER, L.; BARAKAT WALTER, I. Differential Distribution of Thyroid Hormone Receptor Isoform in Rat Dorsal Root Ganglia and Sciatic Nerve in vivo and in vitro. Journal of Neuroendocrinology, v. 9, n. 3, p. 217-227, 1 mar 1997. 54 SHIBUTANI, M. et al. Assessment of developmental effects of hypothyroidism in rats from in utero and lactation exposure to anti-thyroid agents. Reproductive Toxicology (Elmsford, N.Y.), v. 28, n. 3, p. 297-307, nov 2009. 55 AHMED, O. M.; ABD EL-TAWAB, S. M.; AHMED, R. G. Effects of experimentally induced maternal hypothyroidism and hyperthyroidism on the development of rat offspring: I. The development of the thyroid hormones- 79 neurotransmitters and adenosinergic system interactions. International Journal of Developmental Neuroscience: The Official Journal of the International Society for Developmental Neuroscience, v. 28, n. 6, p. 437-454, out 2010. 56 SINHA, R. A. et al. Maternal Thyroid Hormone: A Strong Repressor of Neuronal Nitric Oxide Synthase in Rat Embryonic Neocortex. Endocrinology, v. 149, n. 9, p. 4396 -4401, 2008. 57 OPPENHEIMER, J. H.; SCHWARTZ, H. L. Molecular basis of thyroid hormonedependent brain development. Endocrine Reviews, v. 18, n. 4, p. 462-475, ago 1997. 58 BRUNTON, L. L. et al. Goodman and Gilman’s manual of pharmacology and therapeutics. [S.l.]: McGraw-Hill, 2007. 59 DIAV-CITRIN, O.; ORNOY, A. Teratogen update: antithyroid drugs-methimazole, carbimazole, and propylthiouracil. Teratology, v. 65, n. 1, p. 38-44, jan 2002. 60 KRIPLANI, A. et al. Maternal and perinatal outcome in thyrotoxicosis complicating pregnancy. European Journal of Obstetrics, Gynecology, and Reproductive Biology, v. 54, n. 3, p. 159-163, 18 maio 1994. 61 VANDERPUMP, M. P. et al. Consensus statement for good practice and audit measures in the management of hypothyroidism and hyperthyroidism. The Research Unit of the Royal College of Physicians of London, the Endocrinology and Diabetes Committee of the Royal College of Physicians of London, and the Society for Endocrinology. BMJ (Clinical Research Ed.), v. 313, n. 7056, p. 539-544, 31 ago 1996. 62 CALVO, R. et al. Congenital hypothyroidism, as studied in rats. Crucial role of maternal thyroxine but not of 3,5,3’-triiodothyronine in the protection of the fetal brain. The Journal of Clinical Investigation, v. 86, n. 3, p. 889-899, set 1990. 63 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Principles of neural science. [S.l.]: McGraw-Hill, Health Professions Division, 2000. 64 RUSSO, MD, C. M.; BROSE, MD, W. G. CHRONIC PAIN. Annual Review of Medicine, v. 49, p. 123-133, fev 1998. 65 OLIVERAS, J. L.; GUILBAUD, G.; BESSON, J. M. A map of serotoninergic structures involved in stimulation producing analgesia in unrestrained freely moving cats. Brain Research, v. 164, p. 317-322, 23 mar 1979. 66 JONES, S. L.; GEBHART, G. F. Quantitative characterization of ceruleospinal inhibition of nociceptive transmission in the rat. Journal of Neurophysiology, v. 56, n. 5, p. 1397-1410, nov 1986. 67 PLOGHAUS, A. et al. Dissociating pain from its anticipation in the human brain. Science (New York, N.Y.), v. 284, n. 5422, p. 1979-1981, 18 jun 1999. 68 RAINVILLE, P. et al. Dissociation of sensory and affective dimensions of pain using hypnotic modulation. Pain, v. 82, n. 2, p. 159-171, ago 1999. 69 TÖLLE, T. R. et al. Region-specific encoding of sensory and affective components 80 of pain in the human brain: a positron emission tomography correlation analysis. Annals of Neurology, v. 45, n. 1, p. 40-47, jan 1999. 70 CHEN, F.-L. et al. Activation of astrocytes in the anterior cingulate cortex contributes to the affective component of pain in an inflammatory pain model. Brain Research Bulletin, v. 87, n. 1, p. 60-66, jan 2012. 71 HYLDEN, J. L.; ANTON, F.; NAHIN, R. L. Spinal lamina I projection neurons in the rat: collateral innervation of parabrachial area and thalamus. Neuroscience, v. 28, n. 1, p. 27-37, 1989. 72 HYLDEN, J. L. et al. Expansion of receptive fields of spinal lamina I projection neurons in rats with unilateral adjuvant-induced inflammation: the contribution of dorsal horn mechanisms. Pain, v. 37, n. 2, p. 229-243, maio 1989. 73 KLOP, E. M. et al. In cat four times as many lamina I neurons project to the parabrachial nuclei and twice as many to the periaqueductal gray as to the thalamus. Neuroscience, v. 134, n. 1, p. 189-197, 2005. 74 COIZET, V. et al. The parabrachial nucleus is a critical link in the transmission of short latency nociceptive information to midbrain dopaminergic neurons. Neuroscience, v. 168, n. 1, p. 263-272, 16 jun 2010. 75 G.F, G. Descending modulation of pain. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 27, n. 8, p. 729-737, jan 2004. 76 REYNOLDS, D. V. Surgery in the Rat during Electrical Analgesia Induced by Focal Brain Stimulation. Science, v. 164, n. 3878, p. 444 -445, 25 abr 1969. 77 YAKSH, T. L.; RUDY, T. A. Narcotic analgestics: CNS sites and mechanisms of action as revealed by intracerebral injection techniques. Pain, v. 4, n. 4, p. 299-359, abr 1978. 78 BASBAUM, A. I.; FIELDS, H. L. Endogenous pain control systems: brainstem spinal pathways and endorphin circuitry. Annual Review of Neuroscience, v. 7, p. 309338, 1984. 79 STAMFORD, J. A. Descending control of pain. British Journal of Anaesthesia, v. 75, n. 2, p. 217 -227, 1995. 80 OLIVERAS, J. L. et al. Analgesia induced by electrical stimulation of the inferior centralis nucleus of the raphe in the cat. Pain, v. 1, n. 2, p. 139-145, jun 1975. 81 GEBHART, G. F. et al. Inhibition of spinal nociceptive information by stimulation in midbrain of the cat is blocked by lidocaine microinjected in nucleus raphe magnus and medullary reticular formation. Journal of Neurophysiology, v. 50, n. 6, p. 14461459, dez 1983. 82 SANDKÜHLER, J.; GEBHART, G. F. Relative contributions of the nucleus raphe magnus and adjacent medullary reticular formation to the inhibition by stimulation in the periaqueductal gray of a spinal nociceptive reflex in the pentobarbital-anesthetized rat. Brain Research, v. 305, n. 1, p. 77-87, 2 jul 1984. 81 83 SORKIN, L. S.; WALLACE, M. S. Acute pain mechanisms. The Surgical Clinics of North America, v. 79, n. 2, p. 213-229, abr 1999. 84 MOGIL, J. S.; GRISEL, J. E. Transgenic studies of pain. Pain, v. 77, n. 2, p. 107128, ago 1998. 85 BASBAUM, A. I. Descending control of pain transmission: possible serotonergicenkephalinergic interactions. Advances in Experimental Medicine and Biology, v. 133, p. 177-189, 1981. 86 ZIFA, E.; FILLION, G. 5-Hydroxytryptamine receptors. Pharmacological Reviews, v. 44, n. 3, p. 401 -458, 1992. 87 ALHAIDER, A. A.; WILCOX, G. L. Differential roles of 5-hydroxytryptamine1A and 5-hydroxytryptamine1B receptor subtypes in modulating spinal nociceptive transmission in mice. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 265, n. 1, p. 378-385, abr 1993. 88 TODD, A. J.; MILLAR, J. Receptive fields and responses to ionophoretically applied noradrenaline and 5-hydroxytryptamine of units recorded in laminae I-III of cat dorsal horn. Brain Research, v. 288, n. 1-2, p. 159-167, 12 dez 1983. 89 ASTON-JONES, G.; COHEN, J. D. An integrative theory of locus coeruleusnorepinephrine function: adaptive gain and optimal performance. Annual Review of Neuroscience, v. 28, p. 403-450, 2005. 90 BERRIDGE, C. W.; WATERHOUSE, B. D. The locus coeruleus-noradrenergic system: modulation of behavioral state and state-dependent cognitive processes. Brain Research. Brain Research Reviews, v. 42, n. 1, p. 33-84, abr 2003. 91 SAGEN, J.; PROUDFIT, H. K. Effect of intrathecally administered noradrenergic antagonists on nociception in the rat. Brain Research, v. 310, n. 2, p. 295-301, 24 set 1984. 92 REDDY, S. V.; YAKSH, T. L. Spinal noradrenergic terminal system mediates antinociception. Brain Research, v. 189, n. 2, p. 391-401, 12 maio 1980. 93 ZHANG, G. et al. Noradrenergic mechanism involved in the nociceptive modulation of nociceptive-related neurons in the caudate putamen. Neuroscience Letters, v. 480, n. 1, p. 59-63, 9 ago 2010. 94 CLARK, F. M.; PROUDFIT, H. K. The projection of locus coeruleus neurons to the spinal cord in the rat determined by anterograde tracing combined with immunocytochemistry. Brain Research, v. 538, n. 2, p. 231-245, 11 jan 1991. 95 KAYSER, V.; GUILBAUD, G. Local and remote modifications of nociceptive sensitivity during carrageenin-induced inflammation in the rat. Pain, v. 28, n. 1, p. 99107, jan 1987. 96 TSURUOKA, M.; WILLIS, W. D. Descending modulation from the region of the locus coeruleus on nociceptive sensitivity in a rat model of inflammatory hyperalgesia. Brain Research, v. 743, n. 1-2, p. 86-92, 16 dez 1996. 82 97 WEI, F.; DUBNER, R.; REN, K. Nucleus reticularis gigantocellularis and nucleus raphe magnus in the brain stem exert opposite effects on behavioral hyperalgesia and spinal Fos protein expression after peripheral inflammation. Pain, v. 80, n. 1-2, p. 127141, mar 1999. 98 CLARK, F. M.; PROUDFIT, H. K. Anatomical evidence for genetic differences in the innervation of the rat spinal cord by noradrenergic locus coeruleus neurons. Brain Research, v. 591, n. 1, p. 44-53, 18 set 1992. 99 CRAIG, A. D. Distribution of brainstem projections from spinal lamina I neurons in the cat and the monkey. The Journal of Comparative Neurology, v. 361, n. 2, p. 225248, 16 out 1995. 100 ZIMMERMANN, M. Ethical guidelines for investigations of experimental pain in conscious animals. Pain, v. 16, n. 2, p. 109-110, jun 1983. 101 TSURUOKA, M.; WILLIS, W. D., Jr. Bilateral lesions in the area of the nucleus locus coeruleus affect the development of hyperalgesia during carrageenan-induced inflammation. Brain Research, v. 726, n. 1-2, p. 233-236, 8 jul 1996. 102 JONES, S. L.; GEBHART, G. F. Characterization of coeruleospinal inhibition of the nociceptive tail-flick reflex in the rat: mediation by spinal alpha 2-adrenoceptors. Brain Research, v. 364, n. 2, p. 315-330, 5 fev 1986. 103 SLUKA, K. A.; WESTLUND, K. N. Spinal projections of the locus coeruleus and the nucleus subcoeruleus in the Harlan and the Sasco Sprague-Dawley rat. Brain Research, v. 579, n. 1, p. 67-73, 1 maio 1992. 104 MARTINEZ, R.; GOMES, F. C. A. Neuritogenesis induced by thyroid hormonetreated astrocytes is mediated by epidermal growth factor/mitogen-activated protein kinase-phosphatidylinositol 3-kinase pathways and involves modulation of extracellular matrix proteins. The Journal of Biological Chemistry, v. 277, n. 51, p. 49311-49318, 20 dez 2002. 105 VARA, H. et al. Thyroid hormone regulates neurotransmitter release in neonatal rat hippocampus. Neuroscience, v. 110, n. 1, p. 19-28, 2002. 106 LEMKINE, G. F. et al. Adult neural stem cell cycling in vivo requires thyroid hormone and its alpha receptor. The FASEB Journal: Official Publication of the Federation of American Societies for Experimental Biology, v. 19, n. 7, p. 863-865, maio 2005. 107 FARWELL, A. P.; TRANTER, M. P.; LEONARD, J. L. Thyroxine-dependent regulation of integrin-laminin interactions in astrocytes. Endocrinology, v. 136, n. 9, p. 3909-3915, set 1995. 108 ZIMMERMANN, M. B. The role of iodine in human growth and development. Seminars in Cell & Developmental Biology, v. 22, n. 6, p. 645-652, ago 2011. 109 PORTERFIELD, S. P.; HENDRICH, C. E. The role of thyroid hormones in prenatal and neonatal neurological development--current perspectives. Endocrine Reviews, v. 14, n. 1, p. 94-106, fev 1993. 83 110 GOODMAN, J. H.; GILBERT, M. E. Modest thyroid hormone insufficiency during development induces a cellular malformation in the corpus callosum: a model of cortical dysplasia. Endocrinology, v. 148, n. 6, p. 2593-2597, jun 2007. 111 PEARCE, E. N.; STAGNARO-GREEN, A. Hypothyroidism in pregnancy: do guidelines alter practice? Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 20, n. 3, p. 241-242, mar 2010. 112 GLINOER, D. The systematic screening and management of hypothyroidism and hyperthyroidism during pregnancy. Trends in Endocrinology and Metabolism: TEM, v. 9, n. 10, p. 403-411, dez 1998. 113 MORREALE DE ESCOBAR, G.; OBREGÓN, M. J.; ESCOBAR DEL REY, F. Is neuropsychological development related to maternal hypothyroidism or to maternal hypothyroxinemia? The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 85, n. 11, p. 3975-3987, nov 2000. 114 CHAN, S.; ROVET, J. Thyroid Hormones in Fetal Central Nervous System Development. Fetal and Maternal Medicine Review, v. 14, n. 03, p. 177-208, 2003. 115 KOIBUCHI, N.; CHIN, W. W. Thyroid hormone action and brain development. Trends in Endocrinology and Metabolism: TEM, v. 11, n. 4, p. 123-128, jun 2000. 116 SARLIÈVE, L. L.; RODRÍGUEZ-PEÑA, A.; LANGLEY, K. Expression of thyroid hormone receptor isoforms in the oligodendrocyte lineage. Neurochemical Research, v. 29, n. 5, p. 903-922, maio 2004. 117 RODRÍGUEZ-PEÑA, A. Oligodendrocyte development and thyroid hormone. Journal of Neurobiology, v. 40, n. 4, p. 497-512, 15 set 1999. 118 MADEIRA, M. D. et al. Selective vulnerability of the hippocampal pyramidal neurons to hypothyroidism in male and female rats. The Journal of Comparative Neurology, v. 322, n. 4, p. 501-518, 22 ago 1992. 119 MADEIRA, M. D. et al. Effects of hypothyroidism upon the granular layer of the dentate gyrus in male and female adult rats: a morphometric study. The Journal of Comparative Neurology, v. 314, n. 1, p. 171-186, 1 dez 1991. 120 HASEGAWA, M.; KIDA, I.; WADA, H. A Volumetric Analysis of the Brain and Hippocampus of Rats Rendered Perinatal Hypothyroid. Neuroscience Letters, 28 maio 2010. 121 RAMI, A.; RABIÉ, A.; PATEL, A. J. Thyroid hormone and development of the rat hippocampus: cell acquisition in the dentate gyrus. Neuroscience, v. 19, n. 4, p. 12071216, dez 1986. 122 PATHAK, A. et al. Maternal thyroid hormone before the onset of fetal thyroid function regulates reelin and downstream signaling cascade affecting neocortical neuronal migration. Cerebral Cortex, v. 21, n. 1, p. 11-21, jan 2011. 123 SMALLRIDGE,RC. Hypothyroidism and Pregnancy. Endocrinologist, v. 12, n. 5, p. 454-464, 2002. 84 124 ANDRADE, L. J. O. et al. [Detection of subclinical hypothyroidism in pregnant women with different gestational ages]. Arquivos Brasileiros De Endocrinologia E Metabologia, v. 49, n. 6, p. 923-929, dez 2005. 125 BROWN, A. L. et al. Racial differences in the incidence of congenital hypothyroidism. The Journal of Pediatrics, v. 99, n. 6, p. 934-936, dez 1981. 126 FRASIER, S. D.; PENNY, R.; SNYDER, R. Primary congenital hypothyroidism in Spanish-surnamed infants in Southern California. The Journal of Pediatrics, v. 101, n. 2, p. 315, ago 1982. 127 MÄNNISTÖ, T. et al. Thyroid dysfunction and autoantibodies during pregnancy as predictive factors of pregnancy complications and maternal morbidity in later life. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 95, n. 3, p. 1084-1094, mar 2010. 128 VIVO, A. DE et al. Thyroid function in women found to have early pregnancy loss. Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 20, n. 6, p. 633637, jun 2010. 129 GLINOER, D. The regulation of thyroid function in pregnancy: pathways of endocrine adaptation from physiology to pathology. Endocrine Reviews, v. 18, n. 3, p. 404-433, jun 1997. 130 VIEIRA, J. G. H. et al. [Free thyroxine values during pregnancy]. Arquivos Brasileiros De Endocrinologia E Metabologia, v. 48, n. 2, p. 305-309, abr 2004. 131 STRICKER, R. et al. Evaluation of maternal thyroid function during pregnancy: the importance of using gestational age-specific reference intervals. European Journal of Endocrinology / European Federation of Endocrine Societies, v. 157, n. 4, p. 509514, out 2007. 132 SMALLRIDGE, R. C.; LADENSON, P. W. Hypothyroidism in pregnancy: consequences to neonatal health. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 86, n. 6, p. 2349-2353, jun 2001. 133 GLINOER, D. et al. Regulation of maternal thyroid during pregnancy. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 71, n. 2, p. 276-287, ago 1990. 134 GLINOER, D. et al. Serum levels of intact human chorionic gonadotropin (HCG) and its free alpha and beta subunits, in relation to maternal thyroid stimulation during normal pregnancy. Journal of Endocrinological Investigation, v. 16, n. 11, p. 881888, dez 1993. 135 LARSEN, P. R.; SILVA, J. E.; KAPLAN, M. M. Relationships between circulating and intracellular thyroid hormones: physiological and clinical implications. Endocrine Reviews, v. 2, n. 1, p. 87-102, 1981. 136 BIANCO, A. C. et al. Biochemistry, cellular and molecular biology, and physiological roles of the iodothyronine selenodeiodinases. Endocrine Reviews, v. 23, n. 1, p. 38-89, fev 2002. 85 137 GRUMBACH, M. M.; WERNER, S. C. Transfer of thyroid hormone across the human placenta at term. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 16, n. 10, p. 1392-1395, out 1956. 138 ROTI, E.; GNUDI, A.; BRAVERMAN, L. E. The placental transport, synthesis and metabolism of hormones and drugs which affect thyroid function. Endocrine Reviews, v. 4, n. 2, p. 131-149, 1983. 139 MORREALE DE ESCOBAR, G.; OBREGON, M.; ESCOBAR DEL REY, F. Role of thyroid hormone during early brain development. European Journal of Endocrinology / European Federation of Endocrine Societies, v. 151 Suppl 3, p. U25-37, nov 2004. 140 POP, V. J. et al. Low maternal free thyroxine concentrations during early pregnancy are associated with impaired psychomotor development in infancy. Clinical Endocrinology, v. 50, n. 2, p. 149-155, fev 1999. 141 HADDOW, J. E. et al. Maternal thyroid deficiency during pregnancy and subsequent neuropsychological development of the child. The New England Journal of Medicine, v. 341, n. 8, p. 549-555, 19 ago 1999. 142 SMIT, B. J. et al. Neurologic development of the newborn and young child in relation to maternal thyroid function. Acta Paediatrica (Oslo, Norway: 1992), v. 89, n. 3, p. 291-295, mar 2000. 143 COSTA, A. et al. Thyroid hormones in tissues from human embryos and fetuses. Journal of Endocrinological Investigation, v. 14, n. 7, p. 559-568, ago 1991. 144 OBREGON, M. J. et al. Ontogenesis of thyroid function and interactions with maternal function. Endocrine Development, v. 10, p. 86-98, 2007. 145 LI, Y. et al. Abnormalities of maternal thyroid function during pregnancy affect neuropsychological development of their children at 25-30 months. Clinical Endocrinology, v. 72, n. 6, p. 825-829, jun 2010. 146 HERZMANN, C.; TORRENS, J. K. Maternal thyroid deficiency during pregnancy and subsequent neuropsychological development of the child. The New England Journal of Medicine, v. 341, n. 26, p. 2015; author reply 2017, 23 dez 1999. 147 POP, V. J. et al. Maternal hypothyroxinaemia during early pregnancy and subsequent child development: a 3-year follow-up study. Clinical Endocrinology, v. 59, n. 3, p. 282-288, set 2003. 148 LOUBIÈRE, L. S. et al. Expression of thyroid hormone transporters in the human placenta and changes associated with intrauterine growth restriction. Placenta, v. 31, n. 4, p. 295-304, abr 2010. 149 BURNS, R.; O’HERLIHY, C.; SMYTH, P. P. A. The placenta as a compensatory iodine storage organ. Thyroid: Official Journal of the American Thyroid Association, v. 21, n. 5, p. 541-546, maio 2011. 150 CHAN, S. Y.; VASILOPOULOU, E.; KILBY, M. D. The role of the placenta in thyroid hormone delivery to the fetus. Nature Clinical Practice. Endocrinology & 86 Metabolism, v. 5, n. 1, p. 45-54, jan 2009. 151 FERREIRO, B. et al. Estimation of nuclear thyroid hormone receptor saturation in human fetal brain and lung during early gestation. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 67, n. 4, p. 853-856, out 1988. 152 BRUNO, A. N. et al. Hyperthyroidism changes nociceptive response and ectonucleotidase activities in synaptosomes from spinal cord of rats in different phases of development. Comparative Biochemistry and Physiology. A Molecular & Integrative Physiology, v. 140, n. 1, p. 111-116, jan 2005. 153 EDMONDSON, E. A.; BONNET, K. A.; FRIEDHOFF, A. J. The effect of hyperthyroidism on opiate receptor binding and pain sensitivity. Life Sciences, v. 47, n. 24, p. 2283-2289, 1990. 154 ROHANI, M. H.; AKBARI, Z.; BEHZADI, G. Congenital hypothyroidism alters formalin-induced pain response in neonatal rats. International Journal of Developmental Neuroscience: The Official Journal of the International Society for Developmental Neuroscience, v. 27, n. 1, p. 53-57, fev 2009. 155 AKBARI, Z.; ROHANI, M. H.; BEHZADI, G. NADPH-d/NOS reactivity in the lumbar dorsal horn of congenitally hypothyroid pups before and after formalin pain induction. International Journal of Developmental Neuroscience: The Official Journal of the International Society for Developmental Neuroscience, v. 27, n. 8, p. 779-787, dez 2009. 156 HABA, G. et al. Effect of antithyroid drug on chick embryos during the last week of development: delayed hatching and decreased cerebellar acetylcholinesterase activity. The Journal of Obstetrics and Gynaecology Research, v. 37, n. 11, p. 15491556, nov 2011. 157 HASEBE, M. et al. Effects of an anti-thyroid drug, methimazole, administration to rat dams on the cerebellar cortex development in their pups. nt J Dev Neurosci, v. 26, n. 5, p. 409-414, ago 2008. 158 EL-BAKRY, A. M.; EL-GAREIB, A. W.; AHMED, R. G. Comparative study of the effects of experimentally induced hypothyroidism and hyperthyroidism in some brain regions in albino rats. International Journal of Developmental Neuroscience: The Official Journal of the International Society for Developmental Neuroscience, v. 28, n. 5, p. 371-389, ago 2010. 159 TAJIMA, T. et al. A Japanese patient of congenital hypothyroidism with cerebellar atrophy. Endocrine Journal, v. 54, n. 6, p. 941-944, dez 2007. 160 FUGGLE, P. W. et al. Intelligence, motor skills and behaviour at 5 years in earlytreated congenital hypothyroidism. European Journal of Pediatrics, v. 150, n. 8, p. 570-574, jun 1991. 161 GAUCHARD, G. C. et al. Effect of age at thyroid stimulating hormone normalization on postural control in children with congenital hypothyroidism. Developmental Medicine & Child Neurology, v. 46, n. 2, p. 107-113, 1 fev 2004. 87 162 IKEDA, K. et al. Effects of brain‐derived neurotrophic factor on motor dysfunction in wobbler mouse motor neuron disease. Ann Neurol, v. 37, n. 4, p. 505-511, 1 abr 1995. 163 LU, B.; FIGUROV, A. Role of neurotrophins in synapse development and plasticity. Reviews in the Neurosciences, v. 8, n. 1, p. 1-12, mar 1997. 164 SINHA, R. A. et al. Enhanced neuronal loss under perinatal hypothyroidism involves impaired neurotrophic signaling and increased proteolysis of p75(NTR). Molecular and Cellular Neurosciences, v. 40, n. 3, p. 354-364, mar 2009. 165 CARAGEORGIOU, H. et al. Effects of hyper- and hypothyroidism on acetylcholinesterase, (Na(+), K (+))- and Mg ( 2+ )-ATPase activities of adult rat hypothalamus and cerebellum. Metabolic Brain Disease, v. 22, n. 1, p. 31-38, mar 2007. 166 SALA-ROCA, J. et al. Effects of dysthyroidism in plus maze and social interaction tests. Pharmacology, Biochemistry, and Behavior, v. 72, n. 3, p. 643-650, jun 2002. 167 GOPALKRISHNAN, P.; SLUKA, K. A. Effect of varying frequency, intensity, and pulse duration of transcutaneous electrical nerve stimulation on primary hyperalgesia in inflamed rats. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 81, n. 7, p. 984990, jul 2000. 168 SLUKA, K. A. et al. Spinal blockade of opioid receptors prevents the analgesia produced by TENS in arthritic rats. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 289, n. 2, p. 840-846, maio 1999. 169 MIRANDA, A. et al. Neonatal nociceptive somatic stimulation differentially modifies the activity of spinal neurons in rats and results in altered somatic and visceral sensation. The Journal of Physiology, v. 572, n. Pt 3, p. 775-787, 2006. 170 MARSH, D. et al. Epidural opioid analgesia in infant rats I: mechanical and heat responses. Pain, v. 82, n. 1, p. 23-32, jul 1999. 171 WALKER, S. M. et al. Neonatal inflammation and primary afferent terminal plasticity in the rat dorsal horn. Pain, v. 105, n. 1-2, p. 185-195, set 2003. 172 SWEITZER, S. M. et al. Mechanical allodynia and thermal hyperalgesia upon acute opioid withdrawal in the neonatal rat. Pain, v. 110, n. 1-2, p. 269-280, jul 2004. 173 MITCHELL, D.; HELLON, R. F. Neuronal and behavioural responses in rats during noxious stimulation of the tail. Proceedings of the Royal Society of London. Series B, Containing Papers of a Biological Character. Royal Society (Great Britain), v. 197, n. 1127, p. 169-194, 4 maio 1977. 174 FUJINAGA, M. et al. Nitrous oxide lacks the antinociceptive effect on the tail flick test in newborn rats. Anesthesia and Analgesia, v. 91, n. 1, p. 6-10, jul 2000. 175 MAZZUCA, M. et al. Newborn Analgesia Mediated by Oxytocin during Delivery. Frontiers in Cellular Neuroscience, v. 5, p. 3, 2011. 176 HASSMANNOVÁ, J.; ROKYTA, R. The postnatal development of tail-flick 88 latencies to acute and repeated stimulation in the rat. Experimental Physiology, v. 87, n. 1, p. 63-67, jan 2002. 177 SLUKA, K. A.; KALRA, A.; MOORE, S. A. Unilateral intramuscular injections of acidic saline produce a bilateral, long-lasting hyperalgesia. Muscle & Nerve, v. 24, n. 1, p. 37-46, jan 2001. 178 TCHEKALAROVA, J.; KUBOVA, H.; MARES, P. Postnatal caffeine exposure: effects on motor skills and locomotor activity during ontogenesis. Behavioural Brain Research, v. 160, n. 1, p. 99-106, 7 maio 2005. 179 SPOOREN, W. P. et al. Effects of the prototypical mGlu(5) receptor antagonist 2methyl-6-(phenylethynyl)-pyridine on rotarod, locomotor activity and rotational responses in unilateral 6-OHDA-lesioned rats. European Journal of Pharmacology, v. 406, n. 3, p. 403-410, 20 out 2000. 180 KURIBARA, H.; HIGUCHI, Y.; TADOKORO, S. Effects of central depressants on rota-rod and traction performances in mice. Japanese Journal of Pharmacology, v. 27, n. 1, p. 117-126, fev 1977. 181 GRIEBEL, G. et al. SL651498: an anxioselective compound with functional selectivity for alpha2- and alpha3-containing gamma-aminobutyric acid(A) (GABA(A)) receptors. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 298, n. 2, p. 753-768, ago 2001. 182 ISHIYAMA, T. et al. Riluzole slows the progression of neuromuscular dysfunction in the wobbler mouse motor neuron disease. Brain Research, v. 1019, n. 1–2, p. 226236, 3 set 2004. 183 MAHMOOD, D. et al. Comparison of antinociceptive and antidiabetic effects of sertraline and amitriptyline on streptozotocin-induced diabetic rats. Human & Experimental Toxicology, v. 29, n. 10, p. 881-886, out 2010. 184 MAURISSEN, J. P. . et al. Factors affecting grip strength testing. Neurotoxicology and Teratology, v. 25, n. 5, p. 543-553, 185 STOFFEL, E. C.; ULIBARRI, C. M.; CRAFT, R. M. Gonadal steroid hormone modulation of nociception, morphine antinociception and reproductive indices in male and female rats. Pain, v. 103, n. 3, p. 285-302, jun 2003. 186 MOGIL, J. S. et al. Sex differences in thermal nociception and morphine antinociception in rodents depend on genotype. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 24, n. 3, p. 375-389, maio 2000. 187 SMITH, J. W. et al. Thyroid hormones, brain function and cognition: a brief review. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 26, n. 1, p. 45-60, jan 2002. 188 LASLEY, S. M.; GILBERT, M. E. Developmental thyroid hormone insufficiency reduces expression of brain-derived neurotrophic factor (BDNF) in adults but not in neonates. Neurotoxicology and Teratology, v. 33, n. 4, p. 464-472, ago 2011. 189 WIJK, VAN; RIJNTJES, E.; HEIJNING, BJ, VAN DE. Perinatal and chronic hypothyroidism impair behavioural development in male and female rats. 89 Experimental Physiology, v. 93, n. 11, p. 1199-1209, nov 2008. 190 PANCIERA, D. L.; PURSWELL, B. J.; KOLSTER, K. A. Effect of short-term hypothyroidism on reproduction in the bitch. Theriogenology, v. 68, n. 3, p. 316-321, ago 2007. 191 HAPON, M. B. et al. Effect of hypothyroidism on hormone profiles in virgin, pregnant and lactating rats, and on lactation. Reproduction (Cambridge, England), v. 126, n. 3, p. 371-382, set 2003. 192 WANG, S. et al. Effects of maternal subclinical hypothyroidism on obstetrical outcomes during early pregnancy. Journal of Endocrinological Investigation, 31 maio 2011. 193 SU, P.-Y. et al. Maternal thyroid function in the first twenty weeks of pregnancy and subsequent fetal and infant development: a prospective population-based cohort study in China. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 96, n. 10, p. 3234-3241, out 2011. 194 POTTER, B. J. et al. Retarded fetal brain development resulting from severe dietary iodine deficiency in sheep. Neuropathology and Applied Neurobiology, v. 8, n. 4, p. 303-313, ago 1982. 195 SUNDARI, S. B. T. et al. Chronic maternal dietary iodine deficiency but not thiocyanate feeding affects maternal reproduction and postnatal performance of the rat. Indian Journal of Experimental Biology, v. 45, n. 7, p. 603-609, jul 2007. 196 BLAKE, H. H.; HENNING, S. J. Effect of propylthiouracil dose on serum thyroxine, growth, and weaning in young rats. The American Journal of Physiology, v. 248, n. 5 Pt 2, p. R524-530, maio 1985. 197 BEHZADI, G.; GANJI, F. Morphological alteration in oro-facial CGRP containing motoneurons due to congenital thyroid hypofunction. Peptides, v. 26, n. 8, p. 14861491, ago 2005. 198 SAWIN, S. et al. Development of Cholinergic Neurons in Rat Brain Regions: Dose-Dependent Effects of Propylthiouracil-Induced Hypothyroidism. Neurotoxicol Teratol, v. 20, n. 6, p. 627-635, 1998. 199 BLAZER, S. et al. Maternal hypothyroidism may affect fetal growth and neonatal thyroid function. Obstetrics and Gynecology, v. 102, n. 2, p. 232-241, ago 2003. 200 CASEY, B. M. et al. Perinatal significance of isolated maternal hypothyroxinemia identified in the first half of pregnancy. Obstetrics and Gynecology, v. 109, n. 5, p. 1129-1135, maio 2007. 201 SUI, L.; GILBERT, M. E. Pre- and postnatal propylthiouracil-induced hypothyroidism impairs synaptic transmission and plasticity in area CA1 of the neonatal rat hippocampus. Endocrinology, v. 144, n. 9, p. 4195-4203, set 2003. 202 DONG, J. et al. Congenital iodine deficiency and hypothyroidism impair LTP and decrease C-fos and C-jun expression in rat hippocampus. Neurotoxicology, v. 26, n. 3, p. 417-426, jun 2005. 90 203 NEGISHI, T. et al. Attention-deficit and hyperactive neurobehavioural characteristics induced by perinatal hypothyroidism in rats. Behavioural Brain Research, v. 159, n. 2, p. 323-331, 30 abr 2005. 204 BROSVIC, G. M.; TAYLOR, J. N.; DIHOFF, R. E. Influences of early thyroid hormone manipulations: delays in pup motor and exploratory behavior are evident in adult operant performance. Physiology & Behavior, v. 75, n. 5, p. 697-715, 15 abr 2002. 205 AKAIKE, M. et al. Hyperactivity and spatial maze learning impairment of adult rats with temporary neonatal hypothyroidism. Neurotoxicology and Teratology, v. 13, n. 3, p. 317-322, jun 1991. 206 WEISS, R. E.; REFETOFF, S. Effect of thyroid hormone on growth. Lessons from the syndrome of resistance to thyroid hormone. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, v. 25, n. 3, p. 719-730, set 1996. 207 VLIET, G. VAN et al. Sex-specific impact of congenital hypothyroidism due to thyroid dysgenesis on skeletal maturation in term newborns. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 88, n. 5, p. 2009-2013, maio 2003. 208 OKUDA, K. et al. The antinociceptive effects of estradiol on adjuvant-induced hyperalgesia in rats involve activation of adrenergic and serotonergic systems. Journal of Anesthesia, v. 25, n. 3, p. 392-397, jun 2011. 209 LAWSON, K. P. et al. Sex-specificity and estrogen-dependence of kappa opioid receptor-mediated antinociception and antihyperalgesia. Pain, v. 151, n. 3, p. 806-815, dez 2010. 210 LAUDER, J. M.; ALTMAN, J.; KREBS, H. Some mechanisms of cerebellar foliation: effects of early hypo- and hyperthyroidism. Brain Research, v. 76, n. 1, p. 33-40, 9 ago 1974. 211 CLOS, J.; LEGRAND, J. Effects of thyroid deficiency on the different cell populations of the cerebellum in the young rat. Brain Research, v. 63, p. 450-455, 7 dez 1973. 212 RABIÉ, A. et al. Effect of thyroid deficiency on the growth of the hippocampus in the rat. A combined biochemical and morphological study. Developmental Neuroscience, v. 2, n. 4, p. 183-194, 1979. 213 XIAO, Q.; NIKODEM, V. M. Apoptosis in the developing cerebellum of the thyroid hormone deficient rat. Frontiers in Bioscience: A Journal and Virtual Library, v. 3, p. A52-57, 15 set 1998. 214 KOIBUCHI, N.; CHIN, W. W. Thyroid hormone action and brain development. Trends in Endocrinology and Metabolism: TEM, v. 11, n. 4, p. 123-128, jun 2000. 215 MUSSA, G. C. et al. Influence of thyroid in nervous system growth. Minerva Pediatrica, v. 53, n. 4, p. 325-353, ago 2001. 216 GRAUPNER, G. et al. Thyroid Hormone Receptors Repress Estrogen Receptor Activation of a TRE. Mol Endocrinol, v. 5, n. 3, p. 365 -372, 1 mar 1991. 91 217 KIA, H. K. et al. Co‐expression of estrogen and thyroid hormone receptors in individual hypothalamic neurons. J Comp Neurol, v. 437, n. 3, p. 286-295, 27 ago 2001. 218 TANG, H.-Y. et al. Thyroid hormone causes mitogen-activated protein kinasedependent phosphorylation of the nuclear estrogen receptor. Endocrinology, v. 145, n. 7, p. 3265-3272, jul 2004. 219 PFAFF, D. W. et al. Competition for DNA steroid response elements as a possible mechanism for neuroendocrine integration. The Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology, v. 49, n. 4-6, p. 373-379, jun 1994. 220 GIBBS, R. B. Treatment with estrogen and progesterone affects relative levels of brain-derived neurotrophic factor mRNA and protein in different regions of the adult rat brain. Brain Research, v. 844, n. 1-2, p. 20-27, 9 out 1999. 221 ZHU, Y. S. et al. Estrogen and thyroid hormone interaction on regulation of gene expression. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 93, n. 22, p. 12587-12592, 29 out 1996. 222 AGUIRRE, C. C.; BAUDRY, M. Progesterone reverses 17beta-estradiol-mediated neuroprotection and BDNF induction in cultured hippocampal slices. The European Journal of Neuroscience, v. 29, n. 3, p. 447-454, fev 2009. 223 BOGO, V.; HILL, T. A.; YOUNG, R. W. Comparison of accelerod and rotarod sensitivity in detecting ethanol- and acrylamide-induced performance decrement in rats: review of experimental considerations of rotating rod systems. Neurotoxicology, v. 2, n. 4, p. 765-787, dez 1981. 224 RUSTAY, N. R.; WAHLSTEN, D.; CRABBE, J. C. Influence of task parameters on rotarod performance and sensitivity to ethanol in mice. Behavioural Brain Research, v. 141, n. 2, p. 237-249, 15 maio 2003. 225 DARBRA, S. et al. Perinatal alterations of thyroid hormones and behaviour in adult rats. Behavioural Brain Research, v. 68, n. 2, p. 159-164, jun 1995. 226 SALA-ROCA, J. et al. Effects of chronic dysthyroidism on activity and exploration. Physiology & Behavior, v. 77, n. 1, p. 125-133, set 2002. 92 APÊNDICE A 93 Experimental hypothyroidism during pregnancy affects nociception and locomotor performance along the life of offspring in rats Authors: Iura Gonzalez Nogueira Alves (Alves, IGN)1 Kamilla Mayara Lucas da Cruz (Cruz, KML)2 Clarissa Maria Dias Mota (Mota, CMD)1 Luís Carlos Reis (Reis, LC)3 Kathleen A. Sluka (Sluka, KA)4 Josimari Melo de Santana (DeSantana, JM) 2 Valter Joviniano de Santana-Filho (Santana-Filho, VJ)2 Daniel Badauê-Passos Jr (Badauê-Passos, D Jr) 1 1 Departamento de Fisiologia, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brazil 2 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brazil. 3 Departamento de Ciências Fisiológicas, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brazil 4 Department of Physical Therapy and Rehabilitation, University of Iowa, Iowa City, IA, USA. *Corresponding author: Daniel Badauê Passos Jr., Departamento de Fisiologia, Universidade Federal de Sergipe. Av. Marechal Rondon, s/n. São Cristóvão, SE, BRAZIL. Zip code: 49100-000. E-mail: [email protected]. Running Title: Gestational hypothyroidism and pain in offspring Words for indexing: gestational hypothyroidism, nociception, sex dimorphism, rats 94 ABSTRACT We aimed to investigate the impact of experimental gestational hypothyroidism (EGH) on nociceptive threshold and motor activity in the offspring at different postnatal ages (7th, 15th, 23rd, 30th, 60th and 120th postnatal days; PND) in rats. EGH was induced with methimazole (MMI) 0.02% in drinking water from day 9 of gestation until birth. The offspring was assessed for thermal and mechanical nociception using the tail-flick test and vonFrey filaments. Rota-Rod test and grip strength were used to assess motor function. EGH reduced thermal, but not mechanical threshold at all ages studied (p <0.05). Differently, 60 days old females offspring from MMI-treated dams (f-OMTD) were not affected by EGH when tested in the tail-flick. Only males OMTD presented a deficient locomotor performance using the Rota-Rod test (p < 0.01 at 60th PND), and the grip strength meter (p < 0.05 at 120th PND), in comparison to offspring from watertreated dams (OWTD). In conclusion, EGH promotes hypersensitivity to noxious thermal, but not mechanical stimulus, whereas motor performance is reduced and thermal hypernociception remains present, both only in mature males OMTD, suggesting the presence of a protective factor in females. Keywords: gestational hypothyroidism, nociception, sex dimorphism, rats. Perspective: The identification of changes in the sensitivity to noxious stimulus in offspring from hypothyroid mothers may provide new insights for further studies, and then support in advancing our understanding of the mechanisms involved in the pathophysiology of some pain disorders. 95 INTRODUCTION Thyroid hormones (THs), thyroxine (T4) and 3,5,3’-triiodothyronine (T3) are essential to normal body development, especially to structural and functional formation of the central nervous system (CNS) adulthood women 4,10,26 20,37,51 5,30,31 , not only during development but also in . High prevalence of hypothyroidism has been reported in pregnant . The role of THs in mammalian brain development has been extensively studied 42. However, it is not clear how thyroid dysfunctions during intra-uterine life can affect these organisms later in life. It is known that THs act on normal neurological development in the following manner proliferation 13 differentiation 41 : (i) they increase the rate of neuronal , (ii) act as the “time clock” to end neuronal proliferation and stimulate 13,39 , (iii) once neurons are formed, they follow an orderly pattern of migration to the appropriate regions in the brain, particularly, in the cerebral and cerebellar cortex, (iv) they stimulate the formation and development of neuronal processes, axons and dendrites 28 , and consequently (v) synaptogenesis. THs have also been implicated in the control of the expression of brain-derived neurotrophic factor (BDNF) and several neurotransmitters and receptors in the brain 49. THs, synthesized in the maternal thyroid gland, can easily cross the placental barrier. Before onset of function of its own thyroid gland, maternal THs are the only source of these hormones to the fetus during a crucial period of neuronal development18,35. An inadequate support of THs from pregnant mothers can temporarily or permanently affect CNS differentiation in the offspring 17 . Cerebellum, lumbar dorsal horn and cerebral cortex constitute same examples of structures in the CNS related to the nociception and motor control that are targets for THs2,15,24,49. Thus, lower THs plasma levels during intra-uterine life may affect nociception and motor performance in the adult. In addition, it may potentially explain, at least in part, the origin of many 96 nociceptive and motor disorders, including those with unidentified etiology (e.g.: fibromyalgia). Prenatal and postnatal changes in the somatosensory system determine pain sensitivity and sensory processing at each developmental stage 16. For example, several studies show that early postnatal injury results in enhanced nociception in adult rats 3,45. Prior studies also show that alterations in THs postnatally can affect nociceptive threshold, with increases or decreases depending on the age7,8,14. Hyperthyroidism postnatally acutely reduces nociceptive thresholds7, while perinatal hypothyroidism decreases the pain sensitivity in newborn and old aged rats, but increases the nociceptive response in young adult rats 8. Taken together, these findings suggest that THs may play a key role in the neurochemical processing of acute (phasic) nociceptive information7,8,14,44. In the present study we aimed to investigate the consequences of the gestational hypothyroidism in the programming of neural circuitry involved on the nociceptive control over the offspring life in rats. Simultaneously, we characterized the presence of any sexual dimorphism in offspring from hypothyroid dams. 2. MATERIALS AND METHODS 2.1. Animals and the induction of gestational hypothyroidism All animals used were obtained from the Animal Care Facility of the Federal University of Sergipe and maintained under controlled light/dark cycle (12/12h) and room temperature (23±2 oC). They had free access to standard show and drinking solution. Female Wistar rats (~200g) had their estrus cycle followed on daily basis through vaginal smear. Once proestrus phase was detected, adult males (~300g) were 97 put in female cages for mating overnight (i.e. estrus phase). On the next morning, the presence of spermatozoid on vaginal smear was considered as day 0 of gestation (GD). To induce gestational hypothyroidism, dams were given 0.02% methyl mercaptoimidazole (methymazole, MMI, Sigma-Aldrich, Sant Louis, MO, USA) in the drinking water from GD 9 up to delivery day (GD 21-22). This concentration given for 10 days to ensures that the dams have hypothyroidism, as shown by the decrease of circulating levels of maternal total T3 and total T4 1. Offspring from MMI-treated dams (OMTD) were compared to the corresponding control offspring (offspring from watertreated dams; OWTD). Newborns were sexed on post-natal day (PND) 3, and weaned PND 21. Males and females were separated at weaning. From 60th PND, all data obtained was analyzed separately considering the gender of the offspring [male- and female-OMTD (m-OMTD and f-OMTD) or maleand female-OWTD (m-OWTD and f-OWTD)]. This procedure was adopted to avoid the well known interference of gonadal hormones on nociception, especially after puberty 34,52 . All procedures were reviewed and approved by the Ethics Committee for Animal Research (CEPA) of the Federal University of Sergipe which operates under the rules of the National Council for the Control of Animal Research (CONCEA) and International Guiding Principles for Biomedical Research Involving Animals (Protocol # 88/2011). All efforts were made to minimize animal suffering and reduce the number of animals used. 2.2. Evaluation of thermal threshold The threshold for noxious temperature was evaluated by using the Tail-Flick apparatus (AVS, São Carlos, SP, Brazil). The intensity of the heat source was about 98 49ºC and was kept constant. Cut-off time was set to 20 s to prevent damage to the skin. This procedure was performed at 7th, 15th, 23rd, 30th and 60th PND. However, on the 60th PND, males and females were separately analyzed. 2.3. Evaluation of mechanical threshold Mechanical threshold was measured by using vonFrey filaments (Ugo Basile, Milan, Italy) as described by Gopalkrishnan and Sluka et al. 201021. This procedure was performed at 7th, 15th, 23rd, 30th, 60th and 120th PND. On the 60th and 120th PNDs, males and B females were separately analyzed. Initially, the animals were placed in transparent Lucite cubicles on a wire mesh elevated plate and acclimated for another 30 minutes before testing. A series of filaments with increasing bending forces (9.4 to 495.8 mN) were applied twice on the plantar surface of the hind paw until the rat withdrew from the stimulus. The lowest force at which the rat withdrew its paw from 1 of 2 applications was recorded as the paw withdrawal threshold. 2.4. Evaluation of motor performance The possible effects of gestational hypothyroidism on motor performance of the offspring was tested using Rota-Rod test (AVS, São Carlos, SP, Brazil) (see Sluka et al., 2001 for details) 50 and a grip strength test (Insight, Ribeirão Preto, SP, Brazil). Grip strength was recorded as the highest value obtained from three consecutive trials. Each trial was performed after five minutes of rest. Rota-rod test was performed only on the 60th PND whereas the grip strength was performed only in 120 days old animals. Males and females were separately analyzed in both tests. 99 2.3. Data analysis Nociceptive and motor tests were analyzed by repeated measures two-way ANOVA with the testing across time as the repeated dependent variable, sex and treatment (OMTD and OWTD) as independent factors. Bonferroni test was used for post hoc analyses. The Student t test measured for the time of eyelid opening, the duration of gestation, the number of pups per dam and body weight of the mothers. The threshold of statistical significance was set at P < 0.05. The results were expressed as mean and standard error of mean. RESULTS In this study, no differences were observed in the duration of the pregnancy and number of offspring delivered by MMI treated mothers in comparison with control. Moreover, eleven days of MMI administration did not alter mother’s body weight (i.e.: 20th GD), when compared to vehicle treated mothers (table 1). Offspring from MMI treated dams showed a delay in the time of eyelid opening (p = 0.02) (fig. 1). The same OMTD also had reduced body weight on the 15th and 30th PND, when compared to OWTD (p < 0.01 and p < 0.001, respectively) (fig. 2). When males and females were analyzed separately on the 60th and 120th PND, body weight was significantly lower only in m-OMTD (fig. 3). Statistical analysis showed significant effects for the treatments, time of testing, and interaction between treatment and time of testing for body weight (2-way ANOVA, p < 0.01). In figure 4, statistical analysis showed significant effects for the treatments and time of testing, but not for interaction between treatment and time of testing for thermal withdrawal latency (2-way ANOVA, p < 0.05). OMTD showed a lower threshold for thermonociception, on the 7th, 15th, 23rd and 30th PND (p <0.001, p < 0.05, p < 0.01, p < 100 0.05, respectively). At 60th PND, only m-OMTD remained hypersensitive (p < 0.05) (fig. 5). In fig. 5, the analysis of these data showed differences for the treatments, but not for sex, and for interaction between treatment and sex (2-way ANOVA, p < 0.05). On the other hand, mechanical threshold (vonFrey test) was not altered at 7th, 15th, 23rd and 30th PND (fig. 6). Similarly, when males and females were analyzed separately on the 60th and 120th PND, no differences were observed (fig. 7). For the Rota-Rod test, motor performance was tested only on the 60th PND, and a reduction was observed only in m-OMTD (p < 0.01) (fig. 8). Similarly, using the grip strength meter, the force exerted on day 120 m-OMTD was lower than m-OWTD (p < 0,05). However, no difference was observed in female rats at both tests (figs. 8 e 9). Statistical analysis showed significant effects for the treatments and sex, and for interaction between treatment and sex for the Rota-Rod test (2-way ANOVA, p < 0.05). On the other hand, for grip test, the analyses showed significant effects for the treatments and sex, but not for interaction between treatment and sex (2-way ANOVA, p < 0.05). DISCUSSION The current evidence demonstrates, for the first time, that the deficiency of THs, exclusively during intra-uterine life, can permanently and differentially affect thermal, but not mechanical nociception. This suggests that hypothyroidism during gestation can change neurocircuitry. This study found that OMTD presented a reduced thermal nociceptive threshold (i.e., thermal hypersensitivity) at all studied ages, except in adult females OMTD. In a previous study, Bruno et al. 2005 8, investigated newborns of hypothyroid dams and adults with hypothyroidism induced by thyroidectomy. 101 Contrarily to our findings, they show that young and old animals (respectively, at 14th and 420th PND) presented reduced thermal sensitivity at the Tail-Flick test. But conversely, at 60th PND, these animals were more sensitive to thermal noxious stimulus. The contradictory findings may be, at least in part, due to the differences between the protocols used for the induction of hypothyroidism. In the present study, MMI administration was restricted to gestation period, whereas others’ studies (including Bruno’s and colleagues studies) maintained the animals in low THs plasma level even after birth 1,8,15 . In addition, Bruno and colleagues, in 2005 7 , showed that hyperthyroidism induced by intraperitoneal injection of high dose of L-thyroxine (T4) in male rats was able to differently affect thermal sensitivity in an age-dependent manner. Interestingly, these authors report a shift in the threshold for thermal sensitivity during the life. Whereas experimental hyperthyroidism reduced thermal sensitivity at 5th PND, it was increased at 60th and 330th PND. Interestingly, in an unprecedented way, this study showed that mechanical sensitivity, measured through vonFrey test, was not affected at all studied ages in OMTD. No other studies have assessed mechanical sensitivity in offspring of hypothyroid dams. Thus, further studies are needed to validated these finding and elucidate the underlying mechanism. We found that locomotor performance and muscle force were reduced in OMTD, but only in adult males. Again, females were not affected. Because the motor system is one important component of the response observed in the nociceptive tests used in this study12,47, we tested how hypothyroidism can affect motor performance and the grip force. Interestingly, despite the reduction in motor function observed in male OMTD, they were able to remove their tails faster than control when exposed to noxious thermal stimulus. This finding reinforces the hypothesis that thermal nociception is facilitated in 102 this animals. However, the lack of difference in mechanical sensitivity may be, at least in part, compensated by the decrease in the motor performance. Thus, we cannot ensure that the mechanical sensitivity is not anyhow affected by EGH. The reduction in motor performance observed in this study is in agreement with other studies using distinct protocols for the induction of hypothyroidism 6,46 . Previous studies demonstrated that the lack of THs during pregnancy determines functional deficit of the cerebellum of the offspring. Hasebe et al. 2008 24, showed that pups born by hypothyroid dams spent less time at the platform of Rota-Rod apparatus. Other studies showed that lower THs plasma levels can affect the cerebellum in different manners 11,29,32,36,43,55 . For example, whereas the number of Purkinje cells are not altered, cerebellar maturation is permanently affected. There is an abnormal organization of the dendritic tree, persistent hypoplasia of the dendritic field and decrease in the density of dendritic spines. Further Sinha et. al., 2009 49 showed that hypothyroidism during gestation decreases BDNF expression in the cerebellum of the offspring at different ages of development. BDNF increases the survival and differentiation of neuronal circuitry in the cerebellum 33. Taken together, these findings indicate that any of the components of the motor control circuit, including proprioceptive sensitivity, peripheral and central neural pathways and ending on muscles, may be affected by THs deficiency during the intrauterine life. All the changes we found in mature male OMTD (i.e. higher thermal sensitivity, lower motor performance and reduced muscle force) were not found in female OMTD. It is possible that protective factors are present in females and could be related either directly or indirectly to sexual hormones. It has been shown by several authors that hypothyroidism can differentially alter BDNF expression in a sex-dependent manner in the cerebellum, such that males show a larger decrease in BDNF 22,27,40,53 . Estrogen is a 103 recognized inducer of BDNF expression in the brain of rats 19,23,56 , and thus could explain the sex differences between male and female rats. Contrary to our results, vanWijk et al., 200854, showed that hypothyroidism reduces the grip performance in male and female preweaning offspring (14 days old rats). It is likely that the lack of sex differences at 14 days is because gonadal hormones are not being highly produced at this stage. Interactions between ovarian hormones with THs in the brain are also possible 22,27,40,53. Thus, together this study support the hypothesis that females are more protected to the development of motor dysfunctions than males, when hypothyroidism is present during gestation. Despite the reduction in THs concentrations, our findings demonstrated that this protocol did not to alter dam’s body weight. Similarly, van Wijk et al. 2008 showed no changes in body weight by using a different protocol 54. These are considered valuable findings once they suggested that in spite of thyroid hypofunction, the experimental protocol used in the present study did not lead to apparent signs of hypothyroidism. Thus, it seems to be a good model to mimic subclinical hypothyroidism that usually occurs in pregnant women. In addition, corroborating data from Pancieira et al. 2007 38 , the present data showed no differences in the duration of gestation of hypothyroid and euthyroid mothers. The current study agrees with prior studies showing that neither the number of newborns and abortions were affected by hypothyroidism 9, despite a high correlation between hypothyroidism, miscarriage and stillbirth 25. However, beside the already mentioned differences in thermal nociception and motor performance, we found other important changes in OMTD. OMTD presented lower body weight from 15th PND overall experimental period. However, adult females 104 OMTD were again protected, and their body weights were similar to controls. The time required to eyelid opening was longer in OMTD, as found by others 44,48. In conclusion, we demonstrated for the first time that experimental hypothyroidism exclusively during gestation increases thermal but not mechanical nociception. Interestingly, the higher thermal sensitivity was maintained during the adulthood, but only in adult males OMTD. Similarly, only mature m-OMTD had reduced motor performance and grip force. Therefore, males OMTD were more intensely sensitive than females to gestational hypothyroidism, suggesting a sexual dimorphism of this disorder. Further studies are necessary in order to elucidate the mechanisms by which hypothyroidism during gestation is able to interfere with the programming of the processing of nociceptive stimulus, as well as the origin of the sex differences observed in this study. Acknowledgments We thank Mr. Osvaldo Andrade Santos for the technical support, as well as Sheyla Santos de Oliveira, Danilo Menezes Santos de Jesus, Vanessa Cibelle Barbosa de Carvalho, Leonardo Silva Santos and Danielle Pereira Gaujac, all students at the Laboratory of Basic and Behavioral Neuroendocrinology at the Federal University of Sergipe, for the animal care. We also thank Dr. Alan Kim Johnson, from the University of Iowa, for the kind donation of the drug used in this work to induce hypothyroidism (methymazole). Disclosures This work was supported by grants from the National Council of Technological and Scientific Development (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 105 Tecnológico/CNPq/Brazil) and the Research Supporting Foundation of State of Sergipe (Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe/FAPITEC-SE). REFERENCES 1. Ahmed OM, Abd El-Tawab SM, Ahmed RG: Effects of experimentally induced maternal hypothyroidism and hyperthyroidism on the development of rat offspring: I. The development of the thyroid hormones-neurotransmitters and adenosinergic system interactions. Int J Dev Neurosci 28:437-454, 2010 2. Akbari Z, Rohani MH, Behzadi G: NADPH-d/NOS reactivity in the lumbar dorsal horn of congenitally hypothyroid pups before and after formalin pain induction. Int J Dev Neurosci 27:779-787, 2009 3. Al-Chaer ED, Kawasaki M, Pasricha PJ: A new model of chronic visceral hypersensitivity in adult rats induced by colon irritation during postnatal development. Gastroenterology 119:1276-1285, 2000 4. Bauer M, Whybrow PC: Thyroid hormone, neural tissue and mood modulation. World J Biol Psychiatry 2:59-69, 2001 5. Bernal J: Thyroid hormones and brain development. Vitam Horm 71:95-122, 2005 6. Bogo V, Hill TA, Young RW: Comparison of accelerod and rotarod sensitivity in detecting ethanol- and acrylamide-induced performance decrement in rats: review of experimental considerations of rotating rod systems. Neurotoxicology 2:765-787, 1981 7. Bruno AN, Fontella FU, Crema LM, Bonan CD, Dalmaz C, Barreto-Chaves MLM, Sarkis JJF: Hyperthyroidism changes nociceptive response and ecto-nucleotidase activities in synaptosomes from spinal cord of rats in different phases of development. Comp Biochem Physiol A Mol Integr Physiol 140:111-116, 2005 8. Bruno AN, Pochmann D, Ricachenevsky FK, Fontella FU, Bonan CD, Dalmaz C, Barreto-Chaves MLM, Sarkis JJF: Nociceptive response and adenine nucleotide hydrolysis in synaptosomes isolated from spinal cord of hypothyroid rats. Neurochem Res 30:1155-1161, 2005 9. Calvo R, Obregón MJ, Ruiz de Oña C, Escobar del Rey F, Morreale de Escobar G: Congenital hypothyroidism, as studied in rats. Crucial role of maternal thyroxine but not of 3,5,3’-triiodothyronine in the protection of the fetal brain. J Clin Invest 86:889-899, 1990 10. Calzà L, Aloe L, Giardino L: Thyroid hormone-induced plasticity in the adult rat brain. Brain Res Bull 44:549-557, 1997 11. Clos J, Legrand J: Effects of thyroid deficiency on the different cell populations of the cerebellum in the young rat. Brain Res 63:450-455, 1973 12. Darbra S, Balada F, Garau A, Gatell P, Sala J, Marti-Carbonell MA: Perinatal alterations of thyroid hormones and behaviour in adult rats. Behav Brain Res 68:159164, 1995 106 13. Dussault JH, Ruel J: Thyroid hormones and brain development. Annu Rev Physiol 49:321-334, 1987 14. Edmondson EA, Bonnet KA, Friedhoff AJ: The effect of hyperthyroidism on opiate receptor binding and pain sensitivity. Life Sci 47:2283-2289, 1990 15. El-Bakry AM, El-Gareib AW, Ahmed RG: Comparative study of the effects of experimentally induced hypothyroidism and hyperthyroidism in some brain regions in albino rats. Int J Dev Neurosci 28:371-389, 2010 16. Fitzgerald M, Jennings E: The postnatal development of spinal sensory processing. Proc Natl Acad Sci U S A 96:7719 -7722, 1999 17. Fowden AL, Forhead AJ: Endocrine mechanisms of intrauterine programming. Reproduction 127:515 -526, 2004 18. Gärtner R: Thyroid diseases in pregnancy. Curr Opin Obstet Gynecol 21:501-507, 2009 19. Gibbs RB: Treatment with estrogen and progesterone affects relative levels of brainderived neurotrophic factor mRNA and protein in different regions of the adult rat brain. Brain Res 844:20-27, 1999 20. Glinoer D: The systematic screening and management of hypothyroidism and hyperthyroidism during pregnancy. Trends Endocrinol Metab 9:403-411, 1998 21. Gopalkrishnan P, Sluka KA: Effect of varying frequency, intensity, and pulse duration of transcutaneous electrical nerve stimulation on primary hyperalgesia in inflamed rats. Arch Phys Med Rehabil 81:984-990, 2000 22. Graupner G, Zhang X-kun, Tzukerman M, Wills K, Hermann T, Pfahl M: Thyroid Hormone Receptors Repress Estrogen Receptor Activation of a TRE. Mol Endocrinol 5:365 -372, 1991 23. Haraguchi S, Sasahara K, Shikimi H, Honda S-I, Harada N, Tsutsui K: Estradiol Promotes Purkinje Dendritic Growth, Spinogenesis, and Synaptogenesis During Neonatal Life by Inducing the Expression of BDNF. Cerebellum 2011 Dec 24 [Epub ahead of print] 24. Hasebe M, Matsumoto I, Imagawa T, Uehara M: Effects of an anti-thyroid drug, methimazole, administration to rat dams on the cerebellar cortex development in their pups. Int J Dev Neurosci 26:409-414, 2008 25. Hetzel BS, Mano MT: A Review of Experimental Studies of Iodine Deficiency During Fetal Development. J Nutr 119:145 -151, 1989 26. Joffe RT, Sokolov ST: Thyroid hormones, the brain, and affective disorders. Crit Rev Neurobiol 8:45-63, 1994 27. Kia HK, Krebs CJ, Koibuchi N, Chin WW, Pfaff DW: Co‐expression of estrogen and thyroid hormone receptors in individual hypothalamic neurons. J Comp Neurol 437:286-295, 2001 28. Klein AH, Meltzer S, Kenny FM: Improved prognosis in congenital hypothyroidism treated before age three months. J Pediatr 81:912-915, 1972 29. Koibuchi N, Chin WW: Thyroid hormone action and brain development. Trends Endocrinol Metab 11:123-128, 2000 30. Koibuchi N, Yamaoka S, Chin WW: Effect of altered thyroid status on neurotrophin 107 gene expression during postnatal development of the mouse cerebellum. Thyroid 11:205-210, 2001 31. Koromilas C, Liapi C, Schulpis KH, Kalafatakis K, Zarros A, Tsakiris S: Structural and functional alterations in the hippocampus due to hypothyroidism. Metab Brain Dis 25:339-354, 2010 32. Lauder JM, Altman J, Krebs H: Some mechanisms of cerebellar foliation: effects of early hypo- and hyperthyroidism. Brain Res 76:33-40, 1974 33. Lu B, Figurov A: Role of neurotrophins in synapse development and plasticity. Rev Neurosci 8:1-12, 1997 34. Mogil JS, Chesler EJ, Wilson SG, Juraska JM, Sternberg WF: Sex differences in thermal nociception and morphine antinociception in rodents depend on genotype. Neurosci Biobehav Rev 24:375-389, 2000 35. Morreale de Escobar G, Obregon MJ, Escobar del Rey F: Fetal and maternal thyroid hormones. Horm Res 26:12-27, 1987 36. Mussa GC, Mussa F, Bretto R, Zambelli MC, Silvestro L: Influence of thyroid in nervous system growth. Minerva Pediatr 53:325-353, 2001 37. Nambiar V, Jagtap VS, Sarathi V, Lila AR, Kamalanathan S, Bandgar TR, Menon PS, Shah NS: Prevalence and impact of thyroid disorders on maternal outcome in asianIndian pregnant women. J Thyroid Res 2011Jul 17 [Epub ahead of print] 38. Panciera DL, Purswell BJ, Kolster KA: Effect of short-term hypothyroidism on reproduction in the bitch. Theriogenology 68:316-321, 2007 39. Pasquini JM, Adamo AM: Thyroid hormones and the central nervous system. Dev Neurosci 16:1-8, 1994 40. Pfaff DW, Freidin MM, Wu-Peng XS, Yin J, Zhu YS: Competition for DNA steroid response elements as a possible mechanism for neuroendocrine integration. J Steroid Biochem Mol Biol 49:373-379, 1994 41. Porterfield SP: Vulnerability of the developing brain to thyroid abnormalities: environmental insults to the thyroid system. Environ Health Perspect 102(Suppl 2):125130, 1994 42. Porterfield SP, Hendrich CE: The role of thyroid hormones in prenatal and neonatal neurological development--current perspectives. Endocr Rev 14:94-106, 1993 43. Rabié A, Patel AJ, Clavel MC, Legrand J: Effect of thyroid deficiency on the growth of the hippocampus in the rat. A combined biochemical and morphological study. Dev Neurosci 2:183-194, 1979 44. Rohani MH, Akbari Z, Behzadi G: Congenital hypothyroidism alters formalininduced pain response in neonatal rats. Int J Dev Neurosci 27:53-57, 2009 45. Ruda MA, Ling QD, Hohmann AG, Peng YB, Tachibana T: Altered nociceptive neuronal circuits after neonatal peripheral inflammation. Science 289:628-631, 2000 46. Rustay NR, Wahlsten D, Crabbe JC: Influence of task parameters on rotarod performance and sensitivity to ethanol in mice. Behav Brain Res 141:237-249, 2003 47. Sala-Roca J, Martí-Carbonell MA, Garau A, Darbra S, Balada F: Effects of chronic dysthyroidism on activity and exploration. Physiol Behav 77:125-133, 2002 108 48. Sawin S, Brodish P, Carter CS, Stanton ME, Lau C: Development of Cholinergic Neurons in Rat Brain Regions: Dose-Dependent Effects of Propylthiouracil-Induced Hypothyroidism. Neurotoxicol Teratol 20:627-635, 1998 49. Sinha RA, Pathak A, Kumar A, Tiwari M, Shrivastava A, Godbole MM: Enhanced neuronal loss under perinatal hypothyroidism involves impaired neurotrophic signaling and increased proteolysis of p75(NTR). Mol Cell Neurosci 40:354-364, 2009 50. Sluka KA, Kalra A, Moore SA: Unilateral intramuscular injections of acidic saline produce a bilateral, long-lasting hyperalgesia. Muscle Nerve 24:37-46, 2001 51. Stagnaro-Green A, Akhter E, Yim C, Davies TF, Magder L, Petri M: Thyroid disease in pregnant women with systemic lupus erythematosus: increased preterm delivery. Lupus 20:690-699, 2011 52. Stoffel EC, Ulibarri CM, Craft RM: Gonadal steroid hormone modulation of nociception, morphine antinociception and reproductive indices in male and female rats. Pain 103:285-302, 2003 53. Tang H-Y, Lin H-Y, Zhang S, Davis FB, Davis PJ: Thyroid hormone causes mitogen-activated protein kinase-dependent phosphorylation of the nuclear estrogen receptor. Endocrinology 145:3265-3272, 2004 54. Wijk N van, Rijntjes E, Heijning BJM van de: Perinatal and chronic hypothyroidism impair behavioural development in male and female rats. Exp Physiol 93:1199-1209, 2008 55. Xiao Q, Nikodem VM: Apoptosis in the developing cerebellum of the thyroid hormone deficient rat. Front Biosci 3:A52-57, 1998 56. Zhu YS, Yen PM, Chin WW, Pfaff DW: Estrogen and thyroid hormone interaction on regulation of gene expression. Proc Natl Acad Sci U S A 93:12587-12592, 1996 109 FIGURE LEGENDS Table 1. Effects of MMI treatment on the duration of pregnancy, number of newborns per dam, and maternal weight at days 0 and 20 of gestation. Data are shown as means ± SEM. No differences were found. Figure 1. Effect of EGH on the time of eyelid opening in offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=24; and OWTD = offspring from water-treated dams, n = 22). Data are shown as means ± SEM. (*) p < 0.05, compared to control. Figure 2. Effect of EGH on the body weight of offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=24; and OWTD = offspring from water-treated dams, n = 22). Data are shown as means ± SEM. (**) p<0.01 or (***) p <0.001, compared to the control group. PND: postnatal day. Figure 3. Effect of EGH on the body weight of 60 and 120 days old male and female offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=9 males and n=9 females; and OWTD = offspring from water-treated dams, n=13 males and n=8 females). PND: postnatal day. (**) p <0.01, compared to respective control. Data are shown as means ± SEM. Figure 4. Effect of EGH on the threshold for thermal sensitivity measured through TailFlick test at 7th, 15th, 23rd and 30th postnatal day (PND) in offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=23; and OWTD = offspring from water-treated dams, n = 20). Data are shown as means ± SEM. (*) p <0.05 or (**) p <0.01 or (***) p<0.001 compared to respective control. Figure 5. Effect of EGH on the threshold of thermal sensitivity in 60 days old male and female offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=11 males and n=12 females; and OWTD = offspring from water-treated dams, n=13 males and n=9 females). PND: postnatal day. . (*) p <0.05 or (**) p<0.01 or (***) p< 0.001 compared to respective control. Data are shown as means ± SEM. Figure 6. Effect of EGH on the threshold for mechanical sensitivity measured through vonFrey test at 7th, 15th, 23rd and 30th postnatal day (PND) in offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=24; and OWTD = offspring from water-treated dams, n = 22). No differences were found. Data are shown as means ± SEM. Figure 7. Effect of EGH on the threshold of mechanical sensitivity in 60 and 120 days old male and female offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=9 males and n=9 females; and OWTD = offspring from water-treated dams, n=13 males and n=9 females). PND: postnatal day. No differences were found. Data are shown as means ± SEM. 110 Figure 8. Effect of EGH on the locomotor performance in 60 days old male and female offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=11 males and n=13 females; and OWTD = offspring from water-treated dams, n=12 males and n=9 females). PND: postnatal day. (**) p <0.01, compared to respective control. Data are shown as means ± SEM. Figure 9. Effect of EGH on the grip strength (Grip Strength Meter) in 120 days old male and female offspring (OMTD = offspring from MMI-treated dams, n=9 males and n=9 females; and OWTD = offspring from water-treated dams, n=13 males and n=9 females). PND: postnatal day. (*) p < 0.05, compared to respective control. Data are shown as means ± SEM. 111 TABLE Table 1 Groups Days of gestation Number of newborns per dam Maternal BW (g) at day 0 of gestation Maternal BW (g) at day 20 of gestation Euthyroid dams 21±0.2 (n=5) 7,6±0.9 196.4±13.8 239±17.7 Hypothyroid dams 22± 0.2 (n=7) 9.1±0.9 197.5±12.2 227±12.7 112 FIGURES Figure 1 Figure 2 113 Figure 3 Figure 4 114 Figure 5 Figure 6 115 Figure 7 Figure 8 116 Figure 9 118 ANEXO A 119