Roteiro metodológico para análise multicritério na definição de áreas prioritárias de atuação do Projeto Oásis Brumadinho, através do Sistema de Informações Geográficas Equipe Técnica Fabrício de Araújo Gato Flávio Brant Francisco Mourão Vasconcelos Laís Ferreira Jales Luiz Gustavo Nunes Vieira da Silva Maria Dalce Ricas Mariana Ubaldino Vasconcelos Sumário 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4 2 ANÁLISE MULTICRITÉRIO ............................................................................................... 4 3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 6 3.1 Estruturação do banco de dados ............................................................................ 8 3.1.1 Análise descritiva dos critérios ......................................................................... 9 3.2 Procedimentos técnicos – operacionais ................................................................. 1 4 MAPAS TEMÁTICOS DOS CRITÉRIOS ANALISADOS ........................................................ 3 5 ÁREAS PRIORITÁRIAS ................................................................................................... 19 6 ÁREA PILOTO: SUB-BACIA DO RIBEIRÃO CASA BRANCA ............................................. 21 7 CONSIDERAÇÕES.......................................................................................................... 23 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 25 ANEXO............................................................................................................................. 28 Anexo 1: Justificativa para escolha da área piloto para implantação do Projeto Oásis Brumadinho: a sub-bacia do Ribeirão Casa Branca .................................................... 28 Anexo 2: Justificativa para escolha da segunda área para implantação do Projeto Oásis Brumadinho: sub-bacia do Ribeirão Piedade .................................................... 37 1 INTRODUÇÃO O Projeto Oásis Brumadinho vem sendo desenvolvido desde janeiro de 2012, pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais. Tem como foco principal desenvolver modelo em premiação de proprietários rurais pelos serviços ambientais providos por suas áreas, por meio do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no município de Brumadinho, MG. O presente documento tem por objetivo apresentar as técnicas utilizadas para definição das sub-bacias de maior prioridade, de acordo com as variáveis de influência, para implantação do Projeto, por meio do método de análise multicritério em um sistema de informação geográfica (SIG). Essa estratégia de ação vem sendo apontada como de extrema importância para o planejamento ambiental, trazendo elementos significativos para o processo de tomada de decisão. Foi realizada a sobreposição de mapas com as variáveis analisadas, combinando e transformando dados espaciais em uma resposta para auxiliar na escolha de áreas favoráveis para implantação do projeto, atendendo os critérios estabelecidos. A geotecnologia adequa-se perfeitamente na abordagem do objeto deste trabalho, na medida em que permite a distribuição espacial dos dados, a visualização das relações espaciais, e a identificação dos processos históricos de comportamento dos dados. 2 ANÁLISE MULTICRITÉRIO O procedimento de análise de multicritérios baseia-se no mapeamento de variáveis por plano de informação e na definição do grau de pertinência de cada plano de informação e de cada um de seus componentes de legenda para a construção do resultado final, utilizando-se fatores de ponderação sempre que necessário (MOURA, 2007). A técnica de multicritérios tem sido empregada em diversos estudos relacionados ao planejamento ambiental, devendo ser utilizada em situações nas quais a análise de apenas uma variável não representa a realidade do fenômeno estudado (SANTOS, 2010). Os sistemas de informação geográfica (SIG) têm sido amplamente utilizados para a estruturação e organização de variáveis espaciais na geração de alternativas para seleção de áreas adequadas para determinado estudo. Seu uso justifica-se pelo fato de constituir uma ferramenta que integra, armazena e manipula grandes quantidades de dados armazenados em banco de dados, contendo informações representativas do mundo real, através de coordenadas geográficas, possibilitando realizar análises espaciais (STAR e ESTES, 1991). Através da análise multicritério, pode-se considerar diversos critérios, em simultâneo, na análise de uma situação complexa. O método destina-se a ajudar os tomadores de decisões a integrar diferentes opções nas suas ações, refletindo sobre as opiniões de diferentes atores envolvidos (QREN, 2009). Como forma de ponderação na modelagem espacial, a análise multicritérios é utilizada em conjunto com as técnicas de álgebra de mapas, ou seja, conjunto de procedimentos de análise espacial em geoprocessamento que produz novos dados, a partir de funções de manipulação aplicadas a um ou mais mapas (Tomlin, 1990). De acordo com Câmara et al. (2001), esta visão concebe a análise espacial como um conjunto de operações matemáticas sobre mapas, em analogia aos ambientes de álgebra e estatística tradicional. Os mapas são tratados como variáveis individuais, e as funções definidas sobre estas variáveis são aplicadas de forma homogênea a todos os pontos do mapa. Desta forma, com a análise multicritério e a álgebra de mapas, os valores obtidos pela ponderação podem ser sistematizados e especializados, alcançando o objetivo da análise espacial. Para definir as localidades por meio de análise multicritério, dentro do município de Brumadinho, onde o projeto será desenvolvido, optou-se por dividir o território municipal em sub-bacias hidrográficas, agrupadas em níveis de prioridade, de acordo com o seu grau de conservação e de contribuição para a produção hídrica. Foram destacados os seguintes critérios: localização de áreas de preservação permanente (APP), densidade de drenagem, áreas de proteção de mananciais de abastecimento público, uso e ocupação do solo, potencial erosivo, áreas prioritárias para conservação, proximidade com as unidades de conservação de proteção integral, localização no interior de unidades de conservação de uso sustentável, índice de importância dos fragmentos florestais para conectividade da paisagem, e áreas de ecótono. Todas estas variáveis necessitam de uma representação geográfica mais próxima possível da realidade, de forma a assegurar a consistência de dados em sistemas de apoio à decisão. 3 METODOLOGIA A análise multicritério deste trabalho foi aplicada para o projeto Oasis, no município de Brumadinho, no estado de Minas Gerais (Figura 1). Este município foi escolhido para implantação do projeto pela necessidade do estabelecimento de mecanismos de conservação da biodiversidade na região, focado na conservação de áreas naturais e em seus consequentes benefícios à qualidade e à disponibilidade de água na região. Brumadinho encontra-se localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), na bacia hidrográfica do Rio Paraopeba, e possui as seguintes subbacias: do Ribeirão Ferro-Carvão, Ribeirão dos Marinhos, Ribeirão Casa Branca, Ribeirão Piedade, Águas Claras e Rio Manso. De acordo com o censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população é de 34.013 habitantes. O município é atravessado pela rodovia federal BR-381 (São Paulo-Belo Horizonte). Figura 1: Localização do município de Brumadinho, MG O município apresenta grande importância para a Região Metropolitana de Belo Horizonte devido a seus mananciais de água, possibilitados pela extensão de seu território, pela sua formação geológica/geomorfologia, que configurou um relevo significativamente montanhoso, com a presença de aqüíferos relevantes. Um quarto da água que abastece a região metropolitana vem dos mananciais de Brumadinho e dos municípios vizinhos, através dos sistemas Rio Manso e Catarina, operados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). Na porção norte-sul a leste do município de Brumadinho localiza-se o alinhamento da Serra da Moeda (figura 2), que possui cerca de 70 km de extensão. A Serra da Moeda envolve também os municípios de Nova Lima, Moeda, Itabirito, Belo Vale e Ouro Preto. Insere-se no domínio da Mata Atlântica, em zona de transição com o bioma Cerrado. Nos fundos dos vales e encostas inferiores ocorrem florestas, enquanto em altitudes superiores a 1.000m, onde se concentram solos litólitos e afloramentos rochosos, tem-se a ocorrência da vegetação campestre, demarcando a linha da cumeada e encostas mais elevadas das diversas serras regionais. Formas savânicas (cerrado) podem ser observadas bordejando a floresta ou permeando ambientes campestres. Figura 2: Imagem de satélite do município de Brumadinho, evidenciando a Serra da Moeda 3.1 Estruturação do banco de dados Para estruturação do banco de dados, foram utilizadas imagens de satélites ortorretificadas do satélite Rapideye fornecidas pelo Instituto Estadual de Floresta – IEF/MG, no qual foi possível gerar um mosaico de imagens da região de Brumadinho. As imagens correspondem ao mês de junho de 2010. O sistema Rapideye é formado por um sensor multiespectral de 5 bandas (azul entre 440 e 510 nm, verde entre 520 e 590 nm , vermelho entre 630-685 nm, red-edge entre 690 e 730 nm e infravermelho próximo entre 760 e 850 nm). Sua resolução espacial é de 5 metros, mas com capacidade de imagear grandes áreas, adquirindo até 4,5milhões de km² por dia (Felix et al, 2009). O tratamento e análise dos dados foram realizados através do software ArcGIS, versão 9.3 (ESRI, 2009). Foi utilizado também o Sistema Global de Posicionamento – GPS, modelo Garmim eTrex Legend para captação de pontos estratégicos para percepção da paisagem regional e para aferição das informações obtidas em campo. Foi utilizada a projeção UTM (Universal Transversa de Mercator) e datum SAD69 (South America Datum). Informações sobre os planos de informações utilizados na análise multicritério, para definição da sub-bacia de maior adequabilidade para implantação do Projeto Oasis Brumadinho, serão descritas a seguir. 3.1.1 Análise descritiva dos critérios Os modelos baseados em decisão multicritério são indicados para problemas onde existam vários critérios de avaliação. Sendo assim, foram definidos dez critérios que apresentassem um bom direcionamento para indicação das subbacias do município de Brumadinho, justificando a implantação do Projeto Oasis em sua primeira etapa. O cadastro de propriedades rurais será realizado por sub-bacias que estiverem dentro das áreas de maior prioridade de acordo com os critérios em análise. O levantamento de dados cartográficos para representação dos critérios estabelecidos se fez necessário para a geração de mapas temáticos e posteriormente para o cruzamento das informações obtidas. Os planos de informação levantados foram: Áreas de Preservação Permanente (APP) Para delimitar as APPs, conforme a Resolução do CONAMA n° 303/2002 (CONAMA, 2002), utilizou-se a metodologia indicada por Louzada et al. (2010) e Peluzio et al. (2010). Para este trabalho, foi considerado de igual importância às APPs, a classe especial consideradas como Áreas de Uso Restrito (AUR), definida no Art10° do Código Florestal (Lei n°4.771 de 15 de setembro de 1965), que determina como não permitido a derrubada de florestas, situadas em áreas de inclinação entre vinte e cinco a quarenta e cinco graus, só sendo toleradas a extração de toros, quando em regime de utilização racional, que vise rendimentos permanentes. A resolução define como APP de topo de morro as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação à base. Para delimitação espacial desta APP utilizou-se um modelo digital de elevação (MDE) originário da missão de mapeamento do relevo terrestre SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), que foram pósprocessadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) através do projeto TOPODATA, com aproximadamente 30 metros de resolução. A identificação de morros e montanhas é feita invertendo-se o MDE, sendo os topos identificados como depressões, determinando assim, a direção de fluxo e fluxo acumulado para a bacia invertida. Com isso, ao se fazer a análise hidrológica, os topos de morro foram demarcados pela linha do acúmulo de água. Para cada depressão, identifica-se a respectiva bacia de contribuição, cujo contorno representará, então, a base do morro ou montanha. Após a seleção de cada elevação do terreno que satisfazia os critérios mencionados, os valores de altimetria, e assim com a indicação dos seus topos e a suas respectivas bases delimitaram-se as áreas equivalentes ao seu terço superior. A geração do MDE invertido objetiva ajustar o mapa pra possibilitar a demarcação dos topos de morro, utilizando as ferramentas de hidrologia. As APP de cursos d’água são definidas como uma largura de trinta metros e APP de nascentes são definidas como um raio mínimo de cinquenta metros. Para delimitação espacial destas áreas, utilizou-se a base de dados fornecida pelo IGAM de hidrografia de Minas Gerais; e a ferramenta de análise de proximidade do SIG (buffer), que gera subdivisões geográficas bidimensionais na forma de faixas, cujos limites externos possuem uma distância fixa x e limites internos são formados pelos limites da expressão geográfica em exame, no caso os atributos representando a hidrografia e nascentes do município. As APP de encosta são definidas, conforme resolução, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive. Com as ferramentas do SIG, foi possível delimitar estas áreas através do modelo digital de elevação, selecionado as áreas de inclinação a partir de 45 graus. Densidade de drenagem Para definição da densidade de drenagem utilizou-se os dados da rede hidrográfica fornecido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas, que possui essa base ottocodificada, em escala 1:100.000 para todo o estado de Minas Gerais. As superfícies de densidade delimitadas a partir do SIG são eficientes para mostrar a concentração das localizações de linhas, no caso, o curso d’água. A ferramenta utilizada estima a quantidade de rede hidrográfica por unidade de área a partir de características de polilinha que caem dentro de um raio em torno de cada célula (pixel), sendo esta a definição de densidade de drenagem seguida neste relatório. No mapa gerado, atribuíram-se as classes alta, média e baixa em relação à densidade de drenagem. Proteção de áreas de mananciais de abastecimento público Foi utilizada a base de dados fornecida pelo Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CIBAPAR), no qual dispõe dos pontos de captação de água de abastecimento público da Prefeitura Municipal de Brumadinho e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). A Lei 10.793/1992 define o limite territorial das áreas destinadas à proteção dos mananciais, considerando para tal aquelas situadas à montante do ponto de captação destinado ao abastecimento público e cujas águas estejam ou venham a estar classificadas na Classe Especial e na Classe I da Resolução nº 20, de 18 de junho de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA e na Deliberação Normativa nº 10, de 16 de dezembro de 1986, do Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM. Para este trabalho, considerou-se, portanto, importante delimitar estas áreas situadas à montante dos pontos de captação de água para abastecimento público, a fim de priorizar e enfatizar a importância de conservação das mesmas. Com isso, a partir do SIG, foi realizada uma vetorização manual a partir destes pontos e atribuindo menores custos à estas áreas, por representarem maior adequabilidade para escolha das sub-bacias a serem contempladas pelo Projeto Oásis. Uso e ocupação do solo A classificação de uso e ocupação do solo deste trabalho foi desenvolvida pelo Instituto Estadual de Florestas em parceria com a Universidade Federal de Lavras, em escala de 1: 150.000, através de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, os tipos de cobertura foram dividido nas seguintes classes temáticas para o município de Brumadinho: mineração, urbanização, água, floresta estacional, eucalipto, cerrado, campo rupestre e campo. As classes temáticas estão disponíveis no banco de dados geográfico do Inventário Florestal de Minas Gerais: Espécies arbóreas da flora nativa (2008). No mapeamento foram utilizadas 35 cenas do satélite Landsat, coletadas através dos sensores TM e ETM+, retratando três épocas do ano - primavera, verão e inverno (MELLO, 2009). De acordo com Mello (2009) a acurácia do mapeamento do inventário em todo o Estado de Minas Gerais foi de 87,29%, 81,74% e 83,31%, determinados pelos coeficientes Exatidão Global, Kappa e Tau, respectivamente. Assim, foram necessárias adequações das informações deste mapeamento para melhorar a precisão dos dados e inserção de alterações recentes no uso e ocupação do solo de Brumadinho. Potencial erosivo O plano de informação representando o potencial erosivo foi desenvolvido através de análise multicritério utilizando os seguintes critérios; - Declividade: para gerar esta informação da área de estudo foram considerados dados da missão SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), que foram pós-processadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) através do projeto TOPODATA, com aproximadamente 30 metros de resolução. - Solo: para este plano, foi utilizado a base de dados desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), Universidade Federal de Lavras e Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM) em escala 1:600000. - Geologia: os dados utilizados para elaboração deste plano foram desenvolvidos pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, em escala 1: 1000000. - Uso e ocupação do solo: mesmo dado detalhado no item anterior. A definição dos custos (Tabela 1) atribuídos a estes critérios seguiram os trabalhos de Soares-Filho et al. (2010) e Santos (2008). Os valores variaram de 1 a 5, em que valores mais elevados indicam maior susceptibilidade erosiva. Tabela 1: Custos e pesos atribuídos para definição do potencial erosivo de Brumadinho USO E OCUP. DO SOLO GEOLOGIA SOLO DECLIVIDADE Critérios Classes 0-5 5-8 8-10 10-30 30-47 >47 Cambissolo háplico Neossolo Latossolo Vermelho-Amarelo Argiloso vermelho-amarelo Metamórfica (Itabirito) Ignea Metamórfica (xisto) Metamórfica (Ortognaisse) Metamórfica (Gnaisse) Sedimentares Metamórfica (Filito) Água Campo Campo rupestre Cerrado Floresta Est. Semidec. Mont. Mineração Urbanização Custos 1 2 2 3 4 5 4 2 1 3 1 2 3 3 3 4 5 0 3 2 3 1 3 0 Pesos 0,3 0,25 0,2 0,25 O resultado obtido no cruzamento destas variáveis indicou o potencial erosivo do município de Brumadinho, classificados por categorias de susceptibilidade alta, média e baixa. Áreas prioritárias para conservação - PROBIO Os dados que definem as áreas prioritárias foram fornecidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), que realizou durante os anos de 1997 e 2000 uma série de workshops para a definição de áreas prioritárias para conservação nos biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos, e na Zona Costeira e Marinha (MMA, 2012). Estes encontros fizeram parte do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira, conhecido como PROBIO. O primeiro Mapa das Áreas Prioritárias foi definido pelo Decreto nº 5.092/2004 e instituído pela Portaria nº 126/2004 do MMA. Em 2006, iniciou-se o processo de atualização das áreas prioritárias para a conservação e um novo mapa foi reconhecido pela Portaria n°9, de 23 de janeiro de 2007, do Ministério do Meio Ambiente. Proximidade às Unidades de Conservação de Proteção Integral e áreas localizadas em Unidades de Conservação de Uso Sustentável Foi utilizado o mapeamento das unidades de conservação do estado de Minas Gerais, desenvolvido pelo IEF/MG. A classificação inclui áreas de proteção integral e áreas de uso sustentável, conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –SNUC, instituído pela Lei 9.985/2000 (BRASIL, 2000). Índice de importância dos fragmentos florestais para conectividade da paisagem Para gerar um plano de informação que caracterizasse o critério definido como áreas possíveis de serem integradas em um corredor ecológico, optou-se por fazer uso de uma métrica de conectividade. O índice em questão foi o Índice Integral de Conectividade (IIC), desenvolvido juntamente com outros índices e disponíveis no software Conefor Sensinode 2.2 (SAURA e TORNÉ, 2009), o qual foi utilizado para o cálculo. Este índice (Equação 1) baseia-se na teoria dos grafos, que define o fragmento florestal como um nó; se uma paisagem existem conexões entre todos os nós, então esse conjunto de nós é chamado de grafo. O software chama de componentes o conjunto de nós conectados, portanto, quanto menor o número de componentes em uma paisagem, mais conectada ela estará (URBAN e KEITT, 2001). (1) Onde n é o total de fragmentos florestais na paisagem, ai e aj são os atributos (neste caso, áreas em hectares) dos fragmentos i e j , AL é o atributo da paisagem máxima (neste caso, área total da paisagem em hectares), nlij é o número de conexões entre a menor distância (neste caso euclidiana) dos fragmentos i e j. Quando os fragmentos não estão conectados, o numerador da equação é igual a 0 (nlij = ∞). O índice IIC foi fundamentado na abordagem de disponibilidade de habitat, ou seja, considera qualquer fragmento, mesmo quando não conectado estruturalmente, como um lugar onde possa existir conectividade. Os resultados variam de 0 a 1, sendo os valores mais elevados indicando maior conectividade. O produto gerado com o cálculo deste índice, indicando a proximidade dos fragmentos florestais do município de Brumadinho, foi espacializado através do SIG, classificando os valores indicados pelos índices em alta, média e baixa, de acordo com a importância dos fragmentos para conectividade da paisagem. Áreas de ecótono Para a definição destes ecótonos foram utilizadas a sobreposição das imagens do Google Earth e do satélite Rapideye, mapa de solo, geologia, hipsométrico e o mapa de uso e ocupação do solo. Assim, foi possível definir as áreas de transição e suas características, tendo também auxílio dos trabalhos de campo realizados. 3.2 Procedimentos técnicos – operacionais Através do sistema de informações geográficas, foi realizada uma combinação de informações cartográficas sobre as principais variáveis de influência para escolha das sub-bacias que serão priorizadas para o cadastramento de propriedades rurais interessadas em serem beneficiadas pelo Projeto Oasis Serra da Moeda Brumadinho, através do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Estas variáveis ambientais serão integradas com base em valores de importância atribuídos a cada uma. Foi gerada a imagem matricial de custos dos critérios analisados para posteriormente ser realizada a sobreposição de todas estas informações. Os custos variaram de 1 a 3, em que classes com maior viabilidade para implantação do projeto terão menores valores, e os maiores custos destinarão às classes de menor adequabilidade. No caso deste trabalho atribuiu-se a mesma importância para cada variável, sendo assim, foi realizado com a álgebra de mapas a soma dos planos de informação, sem ter necessidade de aplicar a média simples ponderada nesta etapa. Assim, foi possível gerar a imagem matricial de custo total, no qual demonstra a representação do mapa final, objetivo da análise multicritério. Os custos atribuídos (Tabela 2) foram baseados nos conhecimentos dos especialistas envolvidos neste projeto e nos trabalhos de Bates e Jones (2007), Ferrari et al. (2012), Martins et al. (1998), Soares-Filho et al. (2010) e Santos (2008). Tabela 2: Custos e pesos atribuídos aos critérios em análise Critérios de priorização das áreas a serem escolhidas para implantação do Projeto Oásis Serra da Moeda Brumadinho Critérios Áreas de preservação permanente Densidade de drenagem Áreas de proteção dos mananciais de abastecimento público Uso e ocupação do solo Potencial erosivo Áreas prioritárias do PROBIO Proximidade às UC Proteção Integral Propriedades localizadas dentro de UC Uso Sustentável Índice de importância dos fragmentos florestais para conectividade da paisagem Áreas de ecótono Classes Custos Pesos Presença 1 0,1 Ausência 2 Alta 1 Média 2 0,1 Baixa 3 Presença 1 0,1 2 Ausência Campo 2 Campo rupestre 1 Cerrado 1 Floresta 1 0,1 Mineração 3 Urbanização 3 Água 2 Alto 3 Médio 2 0,1 Baixo 1 Presença 1 0,1 Ausência 2 Alta 1 0,1 Baixa 2 Presença 1 0,1 Ausência 3 Alta 1 Média 2 0,1 Baixa 3 Presença 1 0,1 Ausência 3 4 MAPAS TEMÁTICOS DOS CRITÉRIOS ANALISADOS Áreas de Preservação Permanente (APP) Na Figura 3 são indicadas as áreas de preservação permanente de topo de morro, cursos d’água, nascentes e encostas, que foram mapeadas no limite do município de Brumadinho, com os recursos disponíveis nos sistemas de informações geográficas. A presença destas APPs recebeu, na análise multicritério, custos menores, indicando maior adequação para escolha das sub-bacias a serem inicialmente beneficiadas com a implantação do projeto. A classe especial entre 25 e 45 graus que não permite derrubada de florestas, definida no Código Florestal, também está representada no mapa, por ter sido considerada neste trabalho com importância semelhante às da presença de APP para análise multicritério. Em áreas com declividades acima de 25°, a suscetibilidade à erosão é extremamente forte e o uso agrícola não é recomendado, sob pena de serem totalmente erodidas. Figura 3: Áreas de Preservação Permanente As áreas de preservação permanente podem ser cobertas ou não por vegetação nativa, desde que tenham a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. As APPs foram criadas com a finalidade de proteger ecossistemas frágeis, e principalmente a biodiversidade, áreas de recarga hídrica e áreas suceptíveis à erosão do solo, garantindo assim condições essenciais à manutenção da qualidade de vida. O município de Brumadinho, por possuir encostas mais elevadas das diversas serras regionais, apresenta grande quantidade de topo de morro delimitada como APPs. Densidade de drenagem A figura 4 apresenta a densidade de drenagem no município de Brumadinho. A região possui diversos sistemas de vale por onde fluem e escoam águas superficiais na forma de córregos, riachos, rios, incluindo também lagos e lagoas neste fluxo, que são drenadas para partes mais baixas até atingir o nível base. Figura 4: Densidade de drenagem As áreas que apresentaram maior concentração de cursos d’água receberam, na análise multicritério, valores menores, indicando maior adequação no momento de tomada de decisão para escolher as sub-bacias a serem beneficiadas com a implantação do Projeto Oásis Brumadinho, através dos proprietários interessados em participar do sistema por pagamento de serviços ambientais. A alta disponibilidade hídrica faz com que a rede de drenagem do município de Brumadinho seja marcada por cursos d'água perenes. Devido a fatores físicos, há o favorecimento da formação de muitas nascentes na região que é drenada por rio permanentes, afluentes da bacia do Rio Paraopeba, que é um dos mais importantes tributários do Rio São Francisco. Na figura 5 é ilustrado a disposição da rede hidrográfica em relação a altimetria do município. Figura 5: Altimetria Áreas de proteção de mananciais de abastecimento público Foi atribuída maior prioridade para implantação do Projeto Oásis Serra da Moeda Brumadinho, nas áreas que se encontram localizadas à montante dos pontos de captação de água de abastecimento público (Figura 6). Estas áreas indicam maior adequação no momento de escolha das propriedades que serão beneficiadas pelo sistema por pagamento de serviços ambientais. Figura 6: Áreas de proteção de mananciais de abastecimento público O município tem importância para todos municípios vizinhos, pois possui mananciais que abastecem a região metropolitana, através dos sistemas Rio Manso e Catarina, operados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). Os mananciais de abastecimento público de Brumadinho e municípios vizinhos abastecem quase 4 milhões de habitantes, evidenciando a importância de conservação dessas áreas. Uso e ocupação do solo Nas últimas décadas o município de Brumadinho sofreu rápidas alterações no uso e ocupação do solo. A proximidade de Belo Horizonte, o acesso facilitado pelas rodovias BR-040 e BR-381 e suas belezas naturais atraiu para o município condomínios horizontais para uma população de alta renda, loteamentos para uma população de baixa renda e inúmeros pequenos chacreamentos para o uso em finais de semana. Uma das atividades econômicas que promovem alterações no uso e ocupação do solo de Brumadinho numa intensidade menor é a mineração, onde tem sido observada a minimização dos impactos ambientais devido à atuação da sociedade civil organizada. As classes do uso e ocupação do solo (Figura 7) foram divididas em sete, são elas: campo, campo rupestre, cerrado, floresta, mineração, urbanização e água. A urbanização e a mineração apresentam os maiores custos em relação aos outros itens. Estas ocupações do solo encontram-se bastante espacializada no município. A mineração ocorre preferencialmente nos depósitos de ferro das serras que circundam o município - Serra da Calçada, Serra da Moeda, Serra dos Três Irmãos e Serra de Itatiaiuçu. Já a urbanização adensada, ocorre na sede municipal, em seu entorno e em condomínios horizontais localizados nas proximidades da Serra da Moeda. A presença de remanescentes florestais recebeu o menor custo, por ser bem favorável na escolha das propriedades a serem cadastradas no Projeto. Outras classes de vegetação tiveram valores intermediários, pois também são adequadas no momento de decisão para os critérios a serem atendidos no Projeto. Figura 7: Uso e ocupação do solo Potencial erosivo O modelo de susceptibilidade erosiva, conforme descrito na metodologia, resultou da integração dos diversos temas ambientais, conforme a figura 8. Figura 8: Variáveis utilizadas na análise multicritério para definição do potencial erosivo do município de Brumadinho – A: Declividade, B: Solos, C: Geologia, D: Uso e Ocupação do Solo A declividade possui maior interferência na vulnerabilidade erosiva, por isso foi atribuído peso mais elevado em relação às outras variáveis. As faixas de maiores declividades situam-se nas linhas de cumeadas em uma faixa norte-sul na porção leste do território, correspondendo ao alinhamento da Serra da Calçada e Serra da Moeda; e leste-oeste na porção norte, ao longo do alinhamento das serras dos Três Irmãos e Itatiaiuçu. As menores inclinações coincidem com as terras mais baixas e mais próximas do Rio Paraopeba onde estão assentadas as atividades rurais em Brumadinho. A caracterização pedológica de Brumadinho aponta para os seguintes tipos de solo, segundo a Classificação de Solos do estado de Minas Gerais: - Cambissolo Háplico: este perfil localiza-se em terço inferior de encosta, relevo ondulado. A liotogia compõe-se principalmente de filitos sericíticos, filitos grafitosos, itabiritos, dolomitos e quartzitos sericíticos finos e grossos. O material no qual o solo se desenvolveu é um substrato advindo do intemperismo e retrabalhamento da litologia. Este perfil apresenta maior susceptibilidade erosiva, por isso atribuiu-se custos maiores. - Latossolo Vermelho-Amarelo: localizado em terço médio de encosta, em área de relevo ondulado. Este perfil está inserido no domínio dos gnaisses graníticos. Possui maior resistência em relação ao potencial erosivo, por isso recebeu valores mais baixos na análise multicritério. - Argissolo Vermelho-Amarelo: caracterizada pela grande quantidade de argila em profundidade. Na superfície, o teor é baixo. São solos profundos a pouco profundos, bem a moderadamente drenados, ocorrendo ocasionalmente solos rasos, com transição abrupta. A velocidade de infiltração da água é rápida na superfície, contribuindo para erosão do solo. - Neossolo Litólico: sua litologia compõe-se de quartzitos ferruginosos, filitos ferruginosos e quartzitos cataclásticos. O material de origem é advindo do substrato resultante do intemperismo de tal litologia. O perfil localiza-se em terço médio de encosta em área regionalmente dominada por relevo forte ondulado. A descrição acima dos tipos de solos baseou-se no trabalho de Souza (2006). Sobre a geologia, pode se dizer que Brumadinho está inserido em uma área que integra o denominado Quadrilátero Ferrífero, apresentando variabilidade na geomorfologia. Observa-se o predomínio nas terras baixas de morfologia em morros policonvexos sobre litologias granítico-gnaissíticas; e das formações metamórficas (ortognaisse). Todos estes fatores de influência na susceptibilidade erosiva, juntamente com a variável de uso e ocupação do solo (descrita no item anterior), gerou o produto indicado na figura 9. Figura 9: Potencial erosivo Com a figura é possível verificar que a susceptibilidade erosiva do município concentra-se na região norte-sul, a leste; e leste-oeste, ao norte. Estas áreas receberam custos maiores, por não serem tão adequadas para escolha das propriedades que estiverem nas sub-bacias a serem implantadas o Projeto Oásis Brumadinho. Áreas prioritárias para conservação - PROBIO Os dados do MMA foram recortados no limite do município de Brumadinho, atribuindo valores de custos de adequação para escolha das áreas para implantação do Projeto, indicando àquelas áreas que são classificadas como prioritárias, de acordo com o PROBIO (Figura 10). Para este critério, as classes criadas apresentam custo maior para a presença da área prioritária para a conservação e menor para a ausência. Estas áreas prioritárias para a conservação ocorrem no município de Brumadinho nos alinhamentos e entorno das serras que compõem o Quadrilátero Ferrífero – Serra da Calçada, Serra da Moeda e Serra dos Três Irmãos. Figura 10: Áreas prioritárias PROBIO/MMA O município de Brumadinho encontra-se em parte inserido em uma das áreas prioritárias para a conservação. De acordo com o MMA (2007), esta área prioritária no qual o município se inseriu recebeu o nome de Quadrilátero Ferrífero (Ma 353), que está no Bioma Mata Atlântica, apresentando uma área de 7267,505 Km². A categoria no qual o município s einsere é classificada como “extremamente alta”, indicando a necessidade de criação de unidades de conservação e implantação de corredor ecológico. Proximidade às Unidades de Conservação de Proteção Integral e áreas localizadas em Unidades de Conservação de Uso Sustentável Brumadinho destaca-se por possuir diversas unidades de conservação apresentando extensas áreas com restrições ambientais impostas pelas leis e decretos que as criaram (Figura 11). Unidades de conservação, conforme o SNUC/2000), são definidas como o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” No município encontram-se as seguintes unidades de conservação de proteção integral: Parque Estadual Serra do Rola Moça e uma pequena porção do Monumento Natural Serra da Moeda. Estas áreas tem como função preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na Lei do SNUC/2000. Na categoria de uso sustentável, com objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais, encontram-se as seguintes unidades: Área de Proteção Ambiental (APA) de Igarapé, APA do Rio Manso, APA Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Inhotim, RPPN Mata do Jequitibá, e RPPN Sítio Grimpas. Figura 11: Unidades de Conservação Com os dados estabelecidos das unidades de conservação, foi possível gerar os planos de informações apresentados na figura 12, indicando as áreas de influência, de acordo com a proximidade, das unidades de conservação de proteção integral. Também é apresentado o mapa mostrando a ocorrência das unidades de uso sustentável. Estas áreas indicam mais uns critérios utilizados na análise para definição das subbacias que serão implantadas o Projeto Oásis Brumadinho. Com isso, receberam custos menores, por serem favoráveis para escolha das áreas na tomada de decisão. Figura 12: Planos de informação gerados: A - Áreas de influência de Unidades de Conservação de Proteção Integral; B - Presença das Unidades de Conservação de Uso Sustentável Índice de importância dos fragmentos florestais para conectividade da paisagem A métrica de conectividade utilizada para indicar a proximidade dos fragmentos florestais foi espacializada e apresentada na Figura 13. É importante considerar estes dados, já que o município apresenta a consideráveis fragmentos remanescentes de vegetação nativa, com importância fundamental para aumentar a conectividade entre as áreas naturais localizadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça com outros fragmentos de ambientes naturais, especialmente aqueles localizados no alinhamento do Sinclinal Moeda. Figura 13: Importância dos fragmentos florestais para conectividade da paisagem A região apresenta rica composição florística e diversas espécies na lista de risco de extinção. Associada aos expressivos remanescentes de vegetação nativa e ainda aos extensos afloramentos rochosos, canyons e abrigos naturais, existe uma fauna bastante diversificada, com grande número de espécies já escassas na maior parte do território mineiro. Dentre as espécies ainda ocorrentes na área há várias inseridas nas listas brasileira e estadual de espécies ameaçadas de extinção e nas listas de espécies endêmicas. Os índices analisados indicam os fragmentos mais prováveis de serem integrados a um corredor ecológico, devido a proximidade entre eles. A possibilidade de manter uma conexão destes fragmentos favoreceria a conservação de espécies de fauna e flora na região, possibilitando o fluxo entre as espécies e mantendo suas populações no médio e longo prazo. Áreas de ecótono Segundo Cassini (2012), ecótonos é a região de transição entre dois ecossistemas e nesta área de transição encontra-se grande número de espécies e, por conseguinte, grande número de nichos ecológicos. No município de Brumadinho os fatores abióticos, como solo, geologia e clima são os principais responsáveis por formar estas áreas de transição. Vasconcelos et al (2010), concluíram em estudo realizado em Brumadinho que as linhas de pedras controlam o avanço da floresta, observando que em diversos pontos de cerrado as linhas de pedra afloravam praticamente até a superfície. Observa-se na área de estudo que o afloramento rochoso e linhas de pedras são os principais responsáveis pela transição do cerrado para o campo. Em locais de ocorrência e afloramento dos itabiritos e hematitas temos a transição para os campos ferruginosos. Brumadinho está situado no domínio fitofisionômico da floresta estacional semidecidual em uma forte transição para o cerrado. Favorecida pelas características do ambiente transicional entre estes diferentes domínios geomorfoclimáticos, as fitofisionomias, aliadas ao uso e ocupação do solo, estabelecem um verdadeiro mosaico territorial no espaço municipal do município. Através da metodologia descrita neste relatório, delimitaram-se algumas áreas evidenciando duas principais tipos de transição em Brumadinho: floresta estacional semidecidual com cerrado; e floresta estacional semidecidual, cerrado e campo rupestre (Figura 14). Os dados espaciais representando a presença de áreas de ecótono no município receberam custos menores, por indicarem maior prioridade de conservação destas áreas. Figura 14: Áreas de ecótono 5 ÁREAS PRIORITÁRIAS O mapa de áreas prioritárias para implantação do Projeto Oásis Brumadinho (Figura 15) foi elaborado a partir das variáveis descritas nos itens anteriores, que, através do sistema de informações geográficas, foram reclassificadas, ponderadas e somados os valores de pixel das imagens matriciais geradas. Figura 15: Áreas prioritárias para implantação do Projeto Oásis Brumadinho O mapa final foi reclassificado em categorias alta, média e baixa, em relação à priorização de áreas. É possível analisar que a sub-bacia do Ribeirão Casa Branca apresentou áreas com maior priorização que se adequam a todos critérios avaliados para implantação do projeto. Esse resultado corrobora com a justificativa da escolha desta sub-bacia como área piloto do Projeto Oásis Brumadinho (Anexo 1). Propriedades interessadas, que apresentarem características favoráveis e atenderem os requisitos do projeto, serão cadastradas em um banco de dados para posterior valoração dos itens e por fim, serão premiadas através do sistema de pagamento por serviços ambientais. A sub-bacia do Ribeirão Piedade também apresentou áreas significativas para serem priorizadas na tomada de decisão para escolha da segunda sub-bacia a ser atendida pelo projeto. Nesta área também será realizado o cadastro de propriedades interessadas em ser beneficiadas com o projeto (Anexo 2). Com a análise do mapa, pode destacar em seguida as sub-bacias do Rio Manso e Ribeirão dos Marinhos como as áreas com maior adequação para implantação do projeto. A análise multicritério, objeto deste relatório, demonstrou ser um instrumento eficaz na identificação de áreas aptas a ser implantado o Projeto Oásis Brumadinho. Isto porque foi capaz de conjugar a análise integrada das variáveis ambientais e sua confrontação com a realidade de campo. 6 ÁREA PILOTO: SUB-BACIA DO RIBEIRÃO CASA BRANCA Para o início dos primeiros trabalhos de campo do projeto Oásis Brumadinho foi definida uma área piloto. Para a escolha da área, foram utilizados critérios técnicos, tendo-se como diretriz inicial, limitar uma superfície territorial não muito extensa, em função das metas estabelecidas e dos recursos financeiros disponíveis. A escolha da área piloto foi fundamentado em critérios técnicos que visam a conservação de áreas naturais e a produção de água. Destacamos a prioridade para conservação, a extensão da cobertura vegetal nativa e a existência de expressiva malha de cursos d’água, importantes na formação de mananciais que abastecem a região metropolitana de Belo Horizonte. A partir da escolha da área piloto, localizada na sub-bacia hidrográfica de Casa Branca, foi realizado um minucioso cadastro das características socioambientais das propriedades rurais inseridas (Figura 16 e 17). Estas propriedades foram triadas e após a realização de reuniões e encontros periódicos eles serão premiados pelo projeto. Figura 16: Propriedades cadastradas na área piloto do Projeto Oásis Brumadinho Figura 17: Proprietários cadastrados na primeira etapa do Projeto Oásis Brumadinho 7 CONSIDERAÇÕES A utilização da ferramenta SIG nos processos de indicação de áreas prioritárias tem se mostrado eficiente, contribuindo para o desenvolvimento de modelos como o proposto neste relatório. A incorporação de técnicas de decisão multicritério para o aprimoramento dos resultados obtidos no SIG tem trazido inúmeros benefícios para as avaliações do planejamento das medidas a serem tomadas visando a conservação da paisagem. O modelo proposto é aplicável em qualquer sistema ou região com a substituição dos dados correspondentes à área desejada, compondo assim um novo banco de dados. Além disso, novos critérios, pesos e parâmetros podem ser incorporados ao trabalho sem prejuízo da modelagem aqui proposta. Com a análise dos critérios pré-estabelecidos, foi possível considerar a aptidão em razão de importância das variáveis, definindo assim, as sub-bacias a serem priorizadas na implantação do Projeto Oásis Brumadinho. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 4.771 de 15/09/1965. Institui o novo Código Florestal Brasileiro, Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1965. ______. Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, parágrafo 1º, incisos I,II,III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. 2000. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 5 maio 2011. ______. Ministério de Meio Ambiente. Decreto nº 5.092, de 21 de maio de 2004, define regras para identificação de áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade, no âmbito das atribuições do Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2004/decreto/d5092.htm>. Acessado em: 25 de julho de 2012. ______. Ministério de Meio Ambiente. Portaria nº 126, de 27 de maio de 2004. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/port126.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2012. ______. Ministério e Meio Ambiente. Portaria n.º 9, de 23 de janeiro de 2007. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/zoneamento-ambiental/wp-content/files/portaria9.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2012. BATES, W.; JONES, A. Least-Cost Corridor Analysis for Evaluation of Lynx Habitat Connectivity in the Middle Rockies. The Utah Office of the Nature Conservancy. 2007. CAMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (Ed.). Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001. 344p. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/>. Acesso em 24 jul. 2012. CASSINI, S. T. Ecologia: conceitos fundamentais. Disponível em: <http://www.inf.ufes.br/~neyval/Gestao_ambiental/Tecnologias_Ambientais2005/Ecologia/CON C_BASICOS_ECOLOGIA_V1.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2012. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução n° 303, de 20 de março de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de áreas de preservação permanente. Diário Oficial da União, 13 de maio de 2002. DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DE MINAS GERAIS (DER-MG). Base cartográfica do sistema viário de Minas Gerais. Belo Horizonte: DER-MG, 2011. ESRI - Environmental Systems Research Institute, Inc. ArcGIS 9.3. 2009. FELIX, I. M.; KAZMIERCZAC, M. L.; ESPINDOLA, G.M. RapidEye: a nova geração de satélites de Observação da Terra. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 7619-7622. FERRARI, J. L.; SILVA, S. F.; SANTOS, A. R.; GARCIA, R. F.; Corredores ecológicos potenciais na subbacia hidrográfica do córrego Horizonte, Alegre - ES, indicados por meio de SIG. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.7, n.1, p. 133-141, 2012. INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS (IGAM). Base Ottocodificada dos cursos d'água de Minas Gerais. Belo Horizonte: IGAM, 2011. INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS DE MINAS GERAIS (IEF). Base de dados cartográficos do projeto de mapeamento e inventário da flora e dos reflorestamentos de Minas Gerais. Belo Horizonte: IEF, 2009. ______. Base de dados cartográficos das unidades de conservação de Minas Gerais. 2011. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE). TOPODATA: Banco de dados geomorfométricos do Brasil. 2011. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/topodata/>. Acesso em: 25 jul. 2012. QREN. 2009. A avaliação do desenvolvimento socioeconómico, Manual técnico II: Métodos e Técnicas Instrumentos de Enquadramento das Conclusões da Avaliação: Análise Multicritério. Disponível em: <http://www.observatorio.pt/item1.php?lang=0&id_channel=16&id_page=548>. Acesso em: 25 jul. 2012. Prefeitura Municipal de Brumadinho. Plano Diretor de Brumadinho. 2011. LOUZADA, F.L.R.O.; VIEIRA, M.V.M.; PELUZIO, T.M.O.; SAITO, N. M.; SOUZA, S. M.; SANTOS, A. R. 2010. Utilização de SIG na determinação de APP em topo de morro na microrregião de planejamento do Pólo Linhares, ES. Disponível em: < http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/0142_0280_01.pdf >. Acesso em 24 jul. 2012. Universidade Federal de Viçosa; Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais; Universidade Federal de Lavras; Fundação Estadual do Meio Ambiente. Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente. Mapa de solos do Estado de Minas Gerais. 2010.Mapeamento Geológico do estado de Minas Gerais. 2003. Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG). Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Mapa geológico do estado de Minas Gerais. 2003. MARTINS, A. K. E.; NETO, A. S.; MENEZES, I. C.; BRITES, R. S.; SOARES, V. P.; Metodologia para indicação de corredores ecológicos por meio de um sistema de informações geográficas. Anais IX Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Santos, Brasil, INPE, p. 611-620, 1998. MELLO, J. M. ; BRITO, A. ; CARVALHO, L M T ; ACERBI JÚNIOR, F. W. ; SILVEIRA,E.M.O. Validação do mapeamento da flora nativa e dos reflorestamentos de Minas Gerais. In: XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2009, Natal. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2009. p. 2831-2838. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Dados espaciais de áreas prioritárias para conservação do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica. Disponível em: http://blog.mma.gov.br/biodiversidade2010/2010/08/20/areasprioritarias-para-conservacao-da-biodiversidade-brasileira/. Acesso em: 27 de jul. 2012. MOURA, A. C. M. 2007. Reflexões metodológicas como subsídio para estudos ambientais baseados em análise multicritério. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, INPE, p.2899-2906. PELUZIO, T. M. O.; SANTOS, A. R.; FIEDLER, N. C.; Mapeamento de áreas de preservação permanente no ArcGIS 9.3. Alegre, CAUFES, 58 p. 2010. Portaria MMA n°9, de 23 de janeiro de 2007. Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas. – Brasília: MMA, 2007. SANTOS, E. P. Simulações do potencial erosivo frente a mudanças climáticas em Mato Grosso/BR: Experimentos a partir de técnicas de geoprocessamento e mapeamentos disponíveis na Internet. Monografia (Especialização em Geoprocessamento) – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, 2008. SANTOS, A. A. 2010. Geoprocessamento aplicado à identificação de áreas de fragilidade ambiental no parque estadual da Serra do Rola Moça. Monografia (Especialização em Geoprocessamento). Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Disponível em: <http://www.csr.ufmg.br/geoprocessamento/publicacoes/AMANDA.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2012. STAR, J.;ESTES, J. 1991. Geographic Information Systems: an Introduction. Englewoods Cliffs, New Jersey. Urban, D. L. and Keitt, T. H. 2001. Landscape connectivity: a graph-theoretic perspective. – Ecology 82: 1205 – 1218. SAURA, S.; TORNÉ, J. Conefor Sensinode 2.2: a software package for quantifying the importance of habitat patches for landscape connectivity. Environmental Modelling and Software, v. 24, p. 135-139, 2009. SOARES-FILHO, B. S.; CARMO, V.A.; NOGUEIRA, W.J. Metodologia de elaboração da carta do potencial erosivo da bacia do Rio das Velhas (MG). Geonomos, v. 6, n.2, p. 45-54, 2010. SOUZA, C. G. Caracterização de solos nos arredores da Serra Três Irmãos e da Serra da Moeda: Quadrilátero Ferrífero/MG. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Minas Gerais. 2006. TOMLIM, D. Geographic information systems and Cartographic Modeling. Prentice Hall, New York, 1990. VASCONCELOS V. V., VASCONCELOS C. V., VASCONCELOS D. M. Caracterização de fito-ambientes de Cerrado e de Mata Atlântica por meio do estudo de linhas de pedra e paleossolos. Geografia Ensino&Pesquisa, Santa Maria, v. 14, n. 3, p. 06 17, jul./dez. 2010 ANEXO Anexo 1: Justificativa para escolha da área piloto para implantação do Projeto Oásis Brumadinho: a sub-bacia do Ribeirão Casa Branca DEFINIÇÃO DE ÁREA PILOTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO OÁSIS SERRA DA MOEDA BRUMADINHO - MG Conforme descrito na metodologia, foi definida uma área piloto para a implantação do projeto. Para a escolha da área, foram utilizados critérios técnicos, tendo-se com diretriz inicial, limitar a área a uma superfície territorial não muito extensa, em função das metas estabelecidas e dos recursos financeiros disponíveis. Entre os critérios definidos para a seleção da área piloto, destacam-se: Ocorrência de grande variedade de ambientes naturais, representativos de toda a extensão territorial do município de Brumadinho e adjacências. Existência de expressiva cobertura vegetal nativa, com a presença de grande variedade de tipologias florísticas. Ocorrência de fauna representativa, com registro de espécies raras e ameaçadas de extinção. Existência de áreas expressivas para a recarga hídrica. Densidade de drenagem (existência de expressiva malha de cursos d’água e nascentes). Presença de mananciais de água para o abastecimento público. Inserção em zonas de amortecimento de unidades de conservação de proteção integral. Inserção em unidades de conservação de uso sustentável. Importância para a constituição de corredores de biodiversidade entre unidades de conservação e remanescentes de vegetação nativa relevantes para a região. Existência de um número expressivo de pequenos e médios proprietários rurais que residem em seus terrenos e deles retirem parte significativa de suas rendas. Menor índice de urbanização. Ocorrência de grandes extensões de áreas com maior declividade. Utilizou-se ainda como critério, a suscetibilidade da área à ocorrência de incêndios, registrados por dados históricos, cujas causas estão fortemente relacionadas à utilização agropecuária do solo, com a adoção do fogo como instrumento de manejo. Considerando que a opção de planejamento do uso e ocupação do solo e de gestão de recursos naturais utilizando o recorte territorial das bacias hidrográficas tem ganhado força nas últimas décadas, em função de permitir uma abordagem integrada quanto aos aspectos dos meios físico, biótico e socioeconômico, decidiu-se também por utilizar a divisão do espaço geográfico do projeto em sub-bacias hidrográficas para a escolha da área piloto. Esta opção é ainda mais justificada pelo fato do projeto ter como um de seus objetivos maiores a busca de mecanismos de proteção dos recursos hídricos. Considerando o conjunto destes critérios, decidiu-se por indicar a sub-bacia do Ribeirão Casa Branca como área piloto, escolha esta baseada nos seguintes aspectos: 1. O ribeirão Casa Branca tem suas cabeceiras em trechos das serras do Rola Moça, da Calçada, da Moeda e Três Irmãos (Mapa 1), parte das quais estão inseridas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça. A sub-bacia do ribeirão Casa Branca encontra-se, em sua quase totalidade, inserida na zona de amortecimento dessa Unidade de Conservação de proteção integral e inteiramente na Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana – APA Sul RMBH (Mapa 2). MAPA 1 MAPA 2 2. A sub-bacia escolhida apresenta extensa rede de nascentes e cursos d’água. Várias destas fontes de água são utilizadas como mananciais para o abastecimento público, sendo algumas delas operados pela Copasa – Cia de Saneamento de Minas Gerais e outras mantidas de forma autônoma, pelas comunidades abrangidas. Os mapas 3 e 4 apresentam os pontos de captação para abastecimento humano MAPA 3 MAPA 4 3. A área possui expressivos remanescentes de vegetação nativa, de importância fundamental para aumentar a conectividade entre as áreas naturais localizadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça com outros fragmentos. Destacam-se aí, no sentido Leste-Oeste, as áreas naturais situadas ao longo da Serra dos Três Irmãos (em especial, aquelas das fazendas Jangada e Córrego do Feijão, ambas da empresa Vale). Na área, encontra-se em estudo a criação do Refúgio de Vida Silvestre da Jangada, abrangendo não somente terrenos da empresa, mas de outros proprietários rurais. No sentido Norte–Sul, ao longo da Serra da Moeda, ocorrem também importantes remanescentes de matas de galeria, cortadas por campos altimontanos. Neste trecho, está em curso a proposta de criação do Monumento Natural Ruínas do Forte, abrangendo também terrenos da Vale. Os alinhamentos montanhosos das serras dos Três Irmãos e da Moeda, onde se localizam as cabeceiras dos principais formadores do ribeirão Casa Branca, constituem a duas mais importantes alternativas de conectividade ambiental do Parque Serra Estadual da Serra do Rola Moça com remanescentes de vegetação nativa em sua zona de amortecimento. O mapa 5, elaborado com base no mapeamento da cobertura vegetal do Estado de Minas Gerais IEF (2008), destaca a distribuição das tipologia florestais nativas. Ressalta-se que grande parte das formações campestres nativas, distribuídos pelos altos de serras e por suas encostas, não foi destacada, em função da escala do mapeamento. MAPA 5 4. Associada à extensa cobertura vegetal nativa ocorre na sub-bacia uma fauna bastante expressiva, com registros de várias espécies consideradas raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. Entre os mamíferos podem ser citados como ameaçados em Minas Gerais espécies como Tamandua tetradactyla (tamanduá-bandeira), Calicebus personatus (macaco-sauá), Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), Puma concolor (onça-parda), Leopardus wiedii (gato-do-mato), Leopardus pardalis (jaguatirica), Lontra longicauda (lontra) e Pecari tajacu (cateto). Entre as aves destacam-se as espécies Leucopternis lacernulata (gavião-pomba), Harpyhaliaetus coronatus (Águia-cinzenta), Spyzaetus tyrannus (gavião-pega-macaco), sendo as duas primeiras consideradas ameaçadas para todo o Brasil e a última para Minas Gerais. 5. Há na área um conjunto de propriedades rurais de pequeno e médio porte, onde seus titulares ainda desenvolvem atividades agropecuárias e, em muitos casos, dependem da renda gerada para o sustento próprio. Para este grupo de proprietário, os instrumentos de remuneração por serviços ambientais têm um potencial de resultados positivos extremamente altos. 6. A área escolhida apresenta uma forte tradição de queima como instrumento de manejo do solo. As queimadas são praticadas tanto para renovação de pastagens, como para limpeza do solo agrícola. Para ilustrar esta situação, apresenta-se, no mapa 6, os registros de focos de calor no ano de 2011 (INPE, 2012). MAPA 6 Procurou-se, no processo de escolha da área piloto, apoiar-se na utilização de critérios relacionados aos impactos ambientais provocados, mormente pelas atividades agropecuárias de pequenos e médios produtores rurais, sobre a diversidade de ambientes naturais, a significativa cobertura vegetal nativa, a riqueza em biodiversidade e especialmente sobre a existência de expressiva malha de cursos d’água usada como mananciais para o abastecimento público. A partir do desenvolvimento do trabalho nessa área piloto, espera-se obter elementos suficientes para a adaptabilidade da metodologia de valoração e premiação por serviços ambientais do Projeto Oásis Brasil da FGB para o município de Brumadinho. Assegurando uma melhor reaplicabilidade desta experiência piloto em outras sub-bacias hidrográficas localizadas no município. Neste processo pretende-se forjar conhecimentos técnicos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) a serem reproduzidas escalas cada vez maiores no Estado de Minas Gerais, através do envolvimento de instituições públicas e privadas. Anexo 2: Justificativa para escolha da segunda área para implantação do Projeto Oásis Brumadinho: sub-bacia do Ribeirão Piedade DEFINIÇÃO DA BACIA DO RIBEIRÃO PIEDADE COMO ÁREA DE SEGUNDA PRIORIDADE PARA A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO OÁSIS BRUMADINHO, - MG Após a conclusão das atividades de cadastro de proprietários rurais na bacia do ribeirão Casa Branca, definida como área piloto para o desenvolvimento da primeira etapa de realização dos trabalhos, decidiu-se por ampliar as atividades para outro segmento da área de abrangência do projeto, escolhido como perímetro de segundo nível de prioridade, de acordo com os critérios de importância previamente estabelecidos. Além dos critérios de escolha utilizados para a definição da área piloto, utilizaram-se outros que se somaram aos primeiros. Listam-se a seguir, os critérios então definidos para a primeira etapa e os que foram considerados especificamente para a segunda área. Inserção em área considerada prioritária para conservação da biodiversidade (PROBIO/MMA) Ocorrência de grande variedade de ambientes naturais, representativos de toda a extensão territorial do município de Brumadinho e adjacências. Existência de expressiva cobertura vegetal nativa, com a presença de grande variedade de tipologias florísticas. Ocorrência de fauna representativa, com registro de espécies raras e ameaçadas de extinção. Existência de áreas expressivas para a recarga hídrica. Densidade de drenagem: existência de expressiva malha de cursos d’água e nascentes. Presença de mananciais de água utilizados no abastecimento público. Inserção em zonas de amortecimento de unidades de conservação de proteção integral. Inserção em unidades de conservação de uso sustentável. Importância para a constituição de corredores de biodiversidade entre unidades de conservação e remanescentes de vegetação nativa relevantes para a região. Existência de um número expressivo de pequenos e médios proprietários rurais que residem em seus terrenos e deles retiram parte significativa de suas receitas. Menor índice de urbanização. Ocorrência de grandes extensões de áreas com maior declividade. Maior incidência de incêndios florestais, registrados por dados históricos, cujas causas estão fortemente relacionadas à utilização agropecuária do solo, com a adoção do fogo como instrumento de manejo. Todos estes critérios foram considerados na primeira etapa dos trabalhos realizados. Para a segunda etapa que agora se inicia, acrescentam-se justificativas relacionadas à proximidade entre as duas áreas, com vantagens relacionadas aos seguintes aspectos: Menor dispersão de esforços, evitando-se a pulverização dos resultados obtidos. Maior possibilidade de que os proprietários rurais a serem agora contatados, por estarem em área vizinha ao primeiro perímetro escolhido, já tenham tomado conhecimento do projeto, através da divulgação “boca a boca” por pessoas que foram envolvidas. Este fato torna mais fácil o processo de convencimento de novos parceiros. Conveniente ressaltar a opção pela adoção do recorte territorial de bacias hidrográficas na delimitação do novo espaço a ser trabalhado. A adoção dessa abordagem metodológica tem sido cada vez mais utilizada em trabalhos que envolvem ações de planejamento do uso e ocupação do solo e de gestão de recursos naturais, pelo fato de permitir uma análise integrada quanto aos aspectos dos meios físico, biótico e socioeconômico. Considerando o conjunto destes critérios, decidiu-se por indicar a bacia do ribeirão Piedade como o perímetro de segundo nível de importância no desenvolvimento do projeto, escolha esta baseada nos seguintes aspectos: 7. O ribeirão Piedade tem suas principais cabeceiras na Serra da Moeda (Mapa 1), parcialmente inserida na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Sua bacia encontra-se ainda parcialmente inserida na Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana – APA Sul RMBH (Mapa 2). 8. Vários cursos d’água formadores do ribeirão Piedade são utilizados para o abastecimento público de localidades como Piedade do Paraopeba, Carneiros, Suzana, Aranha, Sapé, Palhano, Melo Franco, Córrego de Alma, Marques, além de vários condomínios residenciais e de lazer. Algumas destas redes de abastecimentos são operadas pela Copasa – Cia de Saneamento de Minas Gerais ou pela prefeitura de Brumadinho e outras mantidas, de forma autônoma, pelas comunidades abrangidas. 9. A área possui expressivos remanescentes de vegetação nativa, de importância fundamental para aumentar a conectividade entre as áreas naturais localizadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça com outros fragmentos de ambientes naturais, especialmente aqueles localizados no alinhamento do Sinclinal Moeda (destaque às unidades de conservação de proteção integral Monumento Natural da Serra da Moeda e Estação Ecológica de Aredes). A área envolve ainda importante trecho da citada serra, proposto para a criação do Monumento Natural da Serra da Calçada, em discussão na Assembléia Legislativa mineira. Enfatiza-se que esta área constitui uma das mais importantes alternativas de conectividade ambiental do Parque Serra Estadual da Serra do Rola Moça com remanescentes de vegetação nativa em sua zona de amortecimento. O mapa 4, elaborado com base no mapeamento da cobertura vegetal do Estado de Minas Gerais IEF (2008), destaca a distribuição das tipologias florestais nativas. Ressalta-se que grande parte das formações campestres nativas, distribuídos pelos altos de serras e por suas encostas, não foi destacada, em função da escala do mapeamento. 10. A exemplo da bacia do ribeirão Casa Branca, a área definida como prioritária nesta segunda fase do projeto apresenta expressiva fauna, associada à diversidade de ambientes e aos extensos remanescentes de vegetação natural. Há registros, na bacia no ribeirão Piedade, de várias espécies consideradas raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. Entre os mamíferos podem ser citados como ameaçados em Minas Gerais espécies como Tamandua tetradactyla (tamanduá-bandeira), Calicebus personatus (macaco-sauá), Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), Puma concolor (onça-parda), Leopardus wiedii (gato-do-mato), Leopardus pardalis (jaguatirica), Lontra longicauda (lontra) e Pecari tajacu (cateto). Entre as aves destacam-se as espécies Leucopternis lacernulata (gaviãopomba), Harpyhaliaetus coronatus (Águia-cinzenta), Spyzaetus tyrannus (gavião-pega-macaco), sendo as duas primeiras consideradas ameaçadas para todo o Brasil e a última para Minas Gerais. 11. A exemplo do que corre na bacia do ribeirão Casa Branca, existe na bacia do ribeirão Piedade um conjunto de propriedades rurais de pequeno e médio porte, onde seus titulares ainda desenvolvem atividades agropecuárias e, em muitos casos, dependem da renda gerada para o sustento próprio. Para este grupo de proprietário, os instrumentos de remuneração por serviços ambientais apresentam potencial de resultados positivos extremamente alto. 12. Também como na bacia do ribeirão Casa Branca, a área ora escolhida apresenta uma forte tradição de queima como instrumento de manejo do solo. As queimadas são praticadas tanto para renovação de pastagens, como para limpeza do solo agrícola. ANEXOS Mapa 1: Mapa hipsométrico da bacia do ribeirão Piedade, destacando a localização das serras do Rola Moça, da Calçada, da Moeda e Três Irmãos Mapa 2: Mapa indicativo da localização da bacia do córrego Piedade, em relação às unidades de conservação existentes e Área Prioritária para a Conservação da Biodiversidade na região de Brumadinho/MG Mapa 3: Mapa da rede hidrográfica do município de Brumadinho, destacando as sub-bacias abrangidas pela área de desenvolvimento do Projeto Oásis Mapa 4: Mapa de uso e ocupação do município de Brumadinho/MG, destacando a sub-bacia do ribeirão Piedade