universidade federal do paraná giseli cristina dos passos a

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
GISELI CRISTINA DOS PASSOS
A PRESENÇA DOS IMIGRANTES PORTUGUESES NO PARANÁ NA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX
CURITIBA
2009
GISELI CRISTINA DOS PASSOS
A PRESENÇA DOS IMIGRANTES PORTUGUESES NO PARANÁ NA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX
Monografia apresentada ao curso de Licenciatura
e Bacharelado em História do setor de Ciências
Humanas Letras e Artes da Universidade Federal
do Paraná, como requisito parcial à obtenção do
título de bacharel em História.
a
a
Orientadora: Prof. Dr. . Roseli Boschilia
CURITIBA
2009
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que nas horas mais difíceis me concedeu força e
serenidade para seguir meu caminho e terminar esse trabalho.
A Roseli Boschilia, pela paciência e orientação.
A minha família, mas principalmente a minha mãe e minha avó que me incentivaram
e ajudaram em todos esses anos de estudo.
A todos meus amigos, especialmente a Keslen Andrade, pela preciosa ajuda na
finalização desse trabalho e a Celina Fiamoncini, companheira no estudo da
imigração portuguesa.
Aos funcionários do Arquivo Público do Paraná, Biblioteca Pública do Paraná, Casa
da Memória, Círculo de Estudos Bandeirantes e Museu Paranaense pela
disponibilização das fontes.
Por mares nunca dantes navegados
Andamos nós imigrados
Por terras de não sei quem;
Oh minha terra dorida,
Por ti chorei à partida,
E por ti choro minha mãe.
És a mãe dos portugueses,
Daqueles que tantas vezes
Choraram amargo pranto;
Serás sempre Portugal,
Oh meu país imortal
Espalhado em cada canto.
Madalena Armelim
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar como se deu à dinâmica de
imigração portuguesa para o Paraná, traçando o perfil desses portugueses que se
dirigiam ao estado, na segunda metade do século XIX. Para isso, foram utilizados
como fonte documentos diversos como livros de desembarque de imigrantes no
Porto de Paranaguá entre os anos de 1876-1879 e 1885-1896. Esse recorte de
datas foi oferecido pela própria documentação, a lacuna nos anos de 1880 a 1884 é
proveniente de ausência de dados no local de consulta. Utilizaram-se também os
relatórios de presidentes e vice-presidentes provinciais que cobrem o período de
1854-1889, além das correspondências do Governo que abrangem as datas de
1855-1895. Os autores usados para compreender não só as particularidades ligadas
aos imigrantes portugueses, mas também o panorama sócio-econômico que
favoreceu a vinda desse grupo para o Brasil, foram Scott, Klein, Nadalin, Mendes,
Balhana, Machado e Westphalen. No que se refere especificadamente a análise dos
pedidos de naturalização, fez necessário a realização de leituras teóricas, nesse
sentido a reflexão de Eric Hobsbawm sobre nação e nacionalismo foi essencial.
Palavras-chave:
Naturalização.
Imigração
Portuguesa,
Perfil
do
Imigrante,
Pedidos
de
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................7
1 AS FACES DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O PARANÁ NA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX ......................................................................................10
1.1 PRIMEIRA FACE: A POLÍTICA PORTUGUESA DE EMIGRAÇÃO....................13
1.2 SEGUNDA FACE: A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO BRASILEIRA......................... 16
1.3 TERCEIRA FACE: A IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O PARANÁ..............19
2 NO RASTRO DA HISTÓRIA: A PRESENÇA DOS IMIGRANTES PORTUGUESES
NO PARANÁ NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ......................................23
2.1 IMIGRANTES PORTUGUESES NO PORTO DE PARANAGUÁ NO ÚLTIMO
QUARTEL DO SÉCULO XIX .....................................................................................24
2.2 IMIGRANTES PORTUGUESES NOS RELATÓRIOS DE PRESIDENTES E
VICE-PRESIDENTES PROVINCIAIS.................... ...................................................30
3 IMIGRANTES PORTUGUESES E A SUA PRESENÇA NOS PEDIDOS DE
NATURALIZAÇÃO....................................................................................................35
3.1 PEDIDOS DE NATURALIZAÇÃO: RELATÓRIOS DE PRESIDENTES E VICEPRESIDENTES PROVINCIAIS..................................................................................39
3.2 PEDIDOS DE NATURALIZAÇÃO: CORRESPONDÊNCIA DO GOVERNO .......41
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................45
REFERÊNCIAS..........................................................................................................48
APÊNDICES...............................................................................................................
ANEXOS....................................................................................................................
7
INTRODUÇÃO
No Brasil, a produção historiográfica sobre a imigração é ampla,
diversificada e vem sendo enriquecida por abordagens que analisam aspectos
diferenciados da questão. Os estudos sobre a imigração ibérica vêm instigando
pesquisadores, sendo que a maior parte das pesquisas focaliza o Rio de
Janeiro e São Paulo, onde sem dúvida a presença dos portugueses foi
numericamente significativa e marcante. Já no que tange a produção
historiográfica sobre a imigração no Paraná, percebe-se o enfoque privilegiado
de certos grupos, em particular os italianos e os poloneses. A vinda de
imigrantes portugueses ao Paraná é fenômeno muito pouco conhecido. As
análises ainda são escassas e bastante pontuais.
Com o objetivo de minimizar essa lacuna no que diz respeito à dinâmica
de imigração portuguesa para o Paraná, esse trabalho procura analisar como
se deu esse processo, traçando o perfil desses portugueses que se dirigiam ao
estado, na segunda metade do século XIX. Para isso, foram utilizados como
fonte documentos diversos como livros de desembarque de imigrantes,
relatórios de presidentes e vice-presidentes provinciais e correspondências do
Governo.
A primeira etapa dessa pesquisa consistiu em um trabalho intenso de
levantamento de fontes nas quais fosse possível localizar os imigrantes
portugueses. A primeira fonte consultada foram os livros de registros de
pessoas que desembarcaram no Porto de Paranaguá entre os anos de 18761879 e 1885-1896.
1
Foram utilizados 14 livros, cujo acesso só foi possível por
meio de microfilme. Localizados no Arquivo Público do Paraná.
A segunda fonte documental analisada foram os relatórios de presidentes
e vice-presidentes provinciais que cobrem período de 1854-1889. Num primeiro
momento essa documentação foi acessada a partir dos resumos disponíveis no
acervo da Casa da Memória de Curitiba. Posteriormente consultou-se o
conteúdo dessas fontes integralmente, no Museu Paranaense, Biblioteca
1
Esse recorte de datas foi oferecido pela própria documentação, a lacuna nos anos de 1880 a 1884 é
proveniente de ausência de dados no local de consulta.
8
Pública do Paraná, Círculo de Estudos Bandeirantes, e no Arquivo Público do
Paraná.
E por fim, a terceira fonte consultada foram às correspondências do
Governo. Essa documentação encontra-se no Arquivo Público do Paraná, em
bom estado de conservação, e abrange as datas de 1855-1895, trazendo as
mais variadas informações, dentre as quais as cartas com os pedidos de
naturalização de imigrantes que residiam na província do Paraná.
Antes de analisar as fontes elencadas, no entanto, empreendeu-se um
diálogo com a historiografia para compreender não só as particularidades
ligadas aos imigrantes portugueses, mas também o panorama sócioeconômico que favoreceu a vinda desse grupo para o Brasil, no período
analisado.
Assim, o diálogo com autores como Silvia Volpi Scott, Herbert Klein,
Sérgio Odilon Nadalin, José Sacchetta Ramos Mendes, Altiva Pilatti Balhana,
Brasil Pinheiro Machado e Cecília Maria Westphalen foram fundamentais para
a familiarização com o contexto no quais esses estavam inseridos durante a
segunda metade do século XIX. No que se refere especificadamente à análise
dos pedidos de naturalização, fez necessário à realização de leituras teóricas,
nesse sentido a reflexão de Eric Hobsbawm sobre nação e nacionalismo foi
essencial.
O trabalho que se segue é resultado da conciliação de aspectos teóricos
e metodológicos e foi organizado da seguinte forma. No primeiro capítulo foram
tratados fatores de atração e repulsão envolvidos em movimentos migratórios.
Para isso foram considerados os fatores sociais e econômicos de Portugal e
Brasil no final do século XIX. Buscou-se também compreender as
especificidades da então província do Paraná, cuja promoção da imigração
visava principalmente, ocupar os vazios demográficos.
No segundo capítulo foram analisados livros de desembarque de
imigrantes e os relatórios de presidentes e vice-presidentes provinciais para
definir de forma mais precisa possível o perfil dos portugueses que
desembarcaram no Porto de Paranaguá, além de verificar como alguns
imigrantes portugueses estavam inseridos num conjunto maior de planos que o
governo da época geria para todo o planejamento de imigração do período.
9
No terceiro capítulo contemplam-se os pedidos de naturalização
presentes nos relatórios de presidentes e vice-presidentes provinciais e nas
correspondências do Governo. Procuro-se avaliar a importância desses
pedidos de naturalização para o processo de imigração, bem como, por meio
da análise das cartas com os pedidos de naturalidade buscou-se novamente
traçar o perfil do imigrante português, residente no estado. Após o capítulo três,
procedem-se as considerações finais em que se contemplam as conclusões
principais desse trabalho e a contribuição que se espera ter dado ao estudo
desse tema.
10
1 AS FACES DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O PARANÁ NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
Entre os temas que mais recentemente vem chamando atenção na
produção bibliográfica lusa brasileira está o estudo sobre imigração portuguesa
para o Brasil. Scott afirma que em meados dos anos oitenta havia uma
escassez sobre o assunto, porém uma década depois o vazio relativo
começava a se atenuar, havendo um crescente interesse sobre esta
problemática.2
O período de carência sobre o tema pode ser explicado talvez pela
demora, que houve no sentido da historiografia perceber os portugueses como
imigrantes, e não mais como colonizadores, além de existirem algumas
dificuldades que vão além daquelas que normalmente os estudiosos encontram
ao privilegiar o estudo de grupos imigrantes de outras nacionalidades.
Como se sabe nem sempre os portugueses utilizavam os mesmos
mecanismos de inserção na sociedade receptora que eram empregados pelos
outros imigrantes estrangeiros. O fato de dominarem a língua do país de
acolhimento lhes conferia certa autonomia e vantagem em relação aos demais
imigrantes.
A própria rede informal de solidariedade e amizade que funcionava entre
eles facilitava a sua fixação na sociedade receptora. Os conterrâneos que já
estavam integrados na sociedade de acolhimento mantinham contatos com
aqueles que se dirigiam à nova terra e que, com isso, poderiam dispor do
auxílio dos compatriotas na busca das primeiras acomodações e primeira
oportunidade de trabalho. Isto permite supor que uma parcela significativa dos
recém chegados não passava pelos canais normais de recepção e
encaminhamento destinados aos imigrantes estrangeiros como, por exemplo,
as Hospedarias de Imigrantes.
Acresce-se ainda o fato de que a maioria dos imigrantes de outras
nacionalidades se dirigia, no caso de São Paulo, às fazendas de café no
2
SCOTT, A. S. V. As duas faces da imigração portuguesa para o Brasil. In: Congresso de
Historia Econômica de Zaragoza, 2001, Zaragoza. Disponível em:
http://www.unizar.es/eueez/cahe/volpiscott.pdf. Acesso em 14/10/2007.
11
interior do estado, enquanto que os portugueses na maioria das vezes optavam
por dedicar-se a outras atividades, principalmente o comércio, o que os
conduzia com freqüência a instalar-se em áreas urbanas.
Além disso, uma vez absorvidos pela comunidade, praticamente não
deixavam rastros fáceis de serem recuperados, através da documentação, pois
se tornava difícil distingui-los da população brasileira em geral, e identificá-los
positiva e individualmente como portugueses, devido à semelhança dos nomes
próprios e de família que compartilhavam com a população brasileira.3
Assim um estudo sobre imigração portuguesa no Paraná, ao longo da
segunda metade do século XIX, requer, de início, um entendimento sobre
fatores de atração e repulsão envolvidos em movimentos migratórios, neste
caso compreender em que contexto ocorreu esses movimentos se torna
fundamental.4
Nadalin afirma que migrações são fenômenos sociais, eminentemente
históricos e que o ato de migrar está associado ao cotidiano, à procura de algo
melhor, sempre mais adiante.5
Segundo Andreazza e Nadalin, quando Dona Maria, o príncipe D. João e
a corte abandonaram Portugal, a Europa estava se renovando. Nela ocorriam
transformações tecnológicas, econômicas, políticas e sociais num processo
que culminou na dupla revolução – francesa e industrial.
3
Ibidem, p. 3.
4
A tese de que o processo migratório decorre da interação dos fatores de atração e repulsão
foi desenvolvida principalmente por H. Jerôme, na década de 1940. Segundo esta posição,
a imigração não se processa apenas pela decisão de abandonar, a pátria de origem, mas
sim pela imposição simultânea de duas condições:
1- Que a situação dentro do país de origem torne-se intolerável ou, pelo menos, que ela
apresente-se como tal para o provável imigrante.
2- Que o outro país ofereça à imaginação do futuro imigrante uma resposta a esta situação,
prometendo-lhe a possibilidade de começar uma vida nova e de ter chance de obter aquilo
que lhe é negado em seu próprio país.
JERÔME, H. Migration and bussines cycle. In: CITROEN, N. A. Les migrations
internacionales. Paris: Librairie de medicis, 1947, p. 22. Apud: ANDREAZZA, M. L. O
paraíso das delicias: um estudo da imigração ucraniana. Curitiba: Aos quatro ventos, 1999,
p. 72
5
NADALIN, S. O. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba: SEED,
2001, p.9.
12
Nesse contexto, ocorreu a transição demográfica6, que causou um
crescimento geral da população européia, ainda essencialmente rural. Tal
crescimento, associado às alterações nas relações agrícolas, favorecia a idéia
de migrar para as cidades ou de “fazer a América”. Isto porque, no campo, os
cercamentos7 e a exploração agrícola em latifúndios expulsavam os homens
das terras em que, tradicionalmente, trabalhavam. Nas cidades, esta população
torna-se mão-de-obra barata para as fábricas que floresciam. E a
industrialização, antes restrita à Inglaterra, avançava pelo continente,
oferecendo, no início péssimas condições de vida aos trabalhadores. Expulsos
do campo, necessitando de trabalho, estes grupos sociais eram obrigados não
só a aceitar baixos salários, exaustivas jornadas de trabalho, mas também
viver em centros urbanos cada vez mais super povoados e pauperizados. O
empobrecimento também alcançava os artesãos urbanos, cujas oficinas não
suportavam a concorrência das fábricas.
O desenvolvimento do capitalismo também se traduziu na melhoria das
condições de transporte terrestre e marítimo. O trem permitia a ligação das
áreas rurais com grandes centros, e os navios cada vez maiores e mais
velozes, eram postos a serviço das migrações internacionais. Por essas
razões, as diversas ondas emigratórias européias do século passado, que
atingiram seu apogeu na passagem do século XIX para o XX, acompanharam o
avanço do capitalismo industrial e da transição demográfica. Do Noroeste
europeu, abrindo-se em leque para Sul e o Leste, combinando-se com
motivações regionais, a emigração se encaminhou para América e outras
partes do mundo diferentes nacionalidades. Não foi coincidência, então, que os
primeiros europeus não portugueses que chegaram ao Brasil fossem de origem
6
Passagem de um sistema demográfico de alta natalidade e alta mortalidade para um
regime de baixa mortalidade e natalidade.
7
Cercamento: Processo ocorrido na Europa, entre os séculos XV e XVIII, de substituição do
cultivo comunitário, em campos abertos, pelo cultivo em campos cercados decorrente da
adoção de formas capitalistas de exploração agrícola. Com os cercamentos, foi possível a
introdução de novas técnicas agrícolas, mas, evidentemente, os camponeses mais pobres,
que viviam da exploração comunitária dos campos abertos, não tiveram condições de
sobreviver na área rural.
13
anglo-germânica, seguindo-se os imigrantes italianos e eslavos, e depois, em
sua maioria, portugueses e espanhóis.8
Começaremos analisando como se deu o processo de emigração
especificamente em Portugal, englobando os fatores de repulsão e as políticas
migratórias.
1.1 PRIMEIRA FACE: A POLÍTICA PORTUGUESA DE EMIGRAÇÃO
A emigração tem sido apresentada como uma permanência estrutural da
sociedade portuguesa desde o início da expansão colonial no século XV. A
expansão ultramarina portuguesa brota no seio de um reino periodicamente
posto em risco. Num Estado submetido à pressão política espanhola e, mais
tarde, à coerção econômica inglesa. Neste contexto, a Coroa lusitana engendra
um expansionismo preventivo, engatilhado para ganhar territórios do além-mar
que poderiam vir a ser ocupado pelo reino espanhol. Assim os desclassificados
do
reino:
deserdados,
marginais
urbanos,
comerciantes
cripto-judeus,
bastardos da pequena nobreza, funcionários, militares, baixo clero secular, se
deslocavam até a periferia para colonizar as terras conquistadas. Estes,
durante toda a história de Portugal, como metrópole, iam a busca de um novo
espaço, por vezes paradisíaco, sobretudo, alimentando esperanças e ilusões
de melhoria de vida.9
De fato, a imigração de lusitanos em direção a esta parte da América
nunca cessou. Confundiu-se com a conquista e a colonização, intensificou-se
após a independência e adentrou o século XX.
Dentre as principais correntes migratórias da Europa para o Brasil, Klein
afirma que a portuguesa foi a mais longa e, ao final, a mais significativa
numericamente. Ao contrário de outros emigrantes europeus, os portugueses
dirigiram-se primeiramente ao Brasil. Do início do século XIX até a década de
8
ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. Imigrantes no Brasil: Colonos e Povoadores.
Curitiba: Nova Didática, 2000, pp. 27-28.
9
ALENCASTRO, L. F. de. A economia política dos descobrimentos. In: NOVAES, A. A
descoberta do homem e do mundo. Rio de Janeiro: Companhia das letras, 1998, pp. 193198.
14
1950, mais de quatro quintos de todos os emigrantes lusos que saíram
legalmente de seu país vieram para o Brasil. Esta emigração provinha das Ilhas
Atlânticas dos Açores e as Províncias Setentrionais do território português
continental; nestas províncias incluíam-se tanto as costeiras (Minho, Porto e
Beira Litoral) como as do interior (Trás os Montes e Beira Alta). Eram as mais
importantes áreas de emigração, pois enfrentavam desde há muito tempo
problemas de altas taxas de fecundidade, predomínio de um sistema de
pequenas propriedades, heranças com partilhas estritas e redes de relações
sociais fortemente estruturadas oferecendo assim os fatores básicos de
impulso para a emigração.10
Para Klein, durante grande parte dos séculos XIX e XX o Brasil mantevese como principal área de interesse para a emigração portuguesa por diversas
razões fundamentais. O idioma comum, os vínculos históricos entre a exmetrópole e a ex-colônia, salários mais altos e melhores oportunidades
econômicas, além de complexas e duradouras relações econômicas e
comerciais e uma comunidade local de negociantes dominada por portugueses,
que fizeram com que os emigrantes lusos vissem no Brasil um objeto muito
desejado.11
Lobo acrescenta que já em finais da década de 1850, inicia-se a
introdução do capitalismo no meio agrário, notadamente no Alentejo e Ribatejo,
formando companhias que se lançaram na grande agricultura comercial. O
Estado estimulava as transformações, contribuindo para a mecanização do
campo. A abolição dos vínculos feudais sobre as terras (1863) e a restrição ao
livre uso dos pastos comuns e baldios (Código Civil de 1867) facilitaram a
exploração rural capitalista e provocaram um declínio do padrão de vida dos
pequenos proprietários rurais e da mão-de-obra do campo, que não podiam
usufruir plenamente dos pastos, bosques e água comuns que passaram a
serem vedados.12
10 KLEIN, H. A Integração Social e Econômica dos Imigrantes Portugueses no Brasil no Fim do
Século XIX e no Início do Século XX. Revista Brasileira de Estudos de População. São
Paulo, v.6, n.2, jul/dez 1998, pp. 17-18.
11 Ibidem, p. 19.
12 LOBO, E. M. L. Imigração Portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 15.
15
A expansão econômica assentava-se sobre o aumento rápido do setor
primário exportador. A crise vinícola do norte de Portugal (1886-1888), a
abolição da escravatura no Brasil e a nova política da república criavam uma
conjuntura favorável à emigração portuguesa. Esta representava uma fuga a
proletarização do país de origem. Forçada pela crescente fragmentação e
desaparecimento da pequena propriedade no Norte.13
A emigração também era uma forma de fuga a obrigação ao serviço
militar que representava grande prejuízo para a população rural, afastando o
trabalhador do campo.14
A dificuldade de acesso a terra, a limitada oportunidade de trabalho
urbano, em virtude do lento processo de instalação do capitalismo, a precária
condição de vida e de saúde pública, o risco do serviço militar no país natal,
faziam o emigrante enfrentar a exploração nos preços da passagem, os riscos
da travessia do oceano em condições de falta de higiene, espaço e
alimentação adequados, os abusos dos agentes e companhias de engajamento
nos preços dos transportes e nos contratos de trabalho, a dificuldade de
controle do cumprimento das leis e contrato no Brasil, pelos cônsules
portugueses.15
Sobre o perfil do emigrante português, Lobo declara, era o do camponês
das aldeias do Norte, que já estava semi proletarizado, trabalhando em
atividades artesanais, manufatureiras e industriais nas cidades próximas ou
nas oficinas rústicas do campo que entraram em declínio com a emigração.
Uma parcela dos emigrantes era composta de artesãos, de caixeiros e de
operários já desligados do campo. Os profissionais liberais e artistas
representavam proporção ínfima do total desse grupo. Geralmente o emigrante,
adulto, do sexo masculino, partia individualmente com o objetivo de enriquecer
rápido e voltar para a família e a aldeia e reconquistar um torrão do solo natal.
O emigrante português, como não era subsidiado, não trazia família.16
13
Ibidem, pp 15-16.
14
Ibidem, p. 17.
15
Ibidem, p. 19.
16
Ibidem, p. 21.
16
Oficialmente, para Pereira, Portugal optou por uma tolerância da
emigração legal e clandestina que a mantém num nível razoável, permitindo a
diminuição do excedente demográfico e garantindo o envio das remessas de
dinheiro, que os emigrantes regularmente mandavam as suas famílias, e que
eram de fundamental importância financeira para o país. Essa complacência
era de grande valor para reduzir o risco, pois o aumento da emigração podia
afetar as migrações internas de trabalhadores, que constituíam um alicerce
fundamental das grandes explorações situadas ao Sul do Tejo.17
1.2 SEGUNDA FACE: A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO BRASILEIRA
Nadalin afirma que a transferência da Corte Portuguesa e a
transformação da colônia brasileira em Reino Unido a Portugal e Algarves teria
provocado a entrada de cerca de 50.00 portugueses no Brasil. E, mais
importante, favoreceram o estabelecimento de políticas de colonização
realizadas com outros imigrantes europeus. Num primeiro momento, que
poderia ser banalizado entre os anos de 1808 a 1850, essas políticas foram
norteadas apenas pela idéia de ocupar os vazios populacionais do território,
continuando ações nesse sentido já empreendidas no século XVIII.
A tendência de privilegiar a vinda de camponeses da Europa Central
manteve-se durante boa parte do século XIX, estimulada pela lei de 1820 e
pela liberdade de culto promovida com a Constituição de 1824. A soma desses
dispositivos legais favoreceu o ingresso, entre 1819 e o ano da Independência,
de quase 2.300 europeus, cuja maioria veio do centro da Europa. Agregando
os anos de 1823 a 1849, esse quantitativo saltaria para algo em torno de
22.000 imigrantes.18
Porém,
fracassos
em
muitos
empreendimentos
colonizadores
provocaram críticas às iniciativas governamentais, no setor da colonização. Em
consequência, foi proibida, por lei de 15 de dezembro de 1830, a realização de
17
PEREIRA, M. H. A política portuguesa de emigração (1850-1930). São Paulo: Edusc,
2002, pp. 82-83.
18
NADALIN, op. cit. p. 65.
17
quaisquer despesas públicas com o estabelecimento de núcleos coloniais e,
nova fase, porém, de estímulo à imigração teve início em 1834 quando, pelo
Ato Adicional ficou entregue à competência dos governos provinciais a
iniciativa de “promover e estimular em colaboração com o poder central, o
estabelecimento de colônias”.
O que se estava também a discutir eram as vantagens de se renovar o
trabalho, “manchado pela escravidão”. Cada vez mais, as idéias liberais
permeavam-se às pragmáticas necessidades de se encontrar um meio resolver
a crise de mão-de-obra que se avizinhava com as gradativas restrições
internacionais ao tráfico.
Para Nadalin de modo geral os defensores das colônias imigrantes de
povoamento,
herdando
antigas
idéias
de
preenchimento
de
vazios
demográficos permeadas dos desejos de implantar colônias de abastecimento
fundadas no trabalho livre e familiar, sofriam a feroz oposição dos cafeicultores
paulistas, donos do poder econômico e político da nação.
Mas paradoxalmente, avigoravam-se a consciência abolicionista e a
denúncia do regime servil. Assim, no momento em que todo sistema produtivo
de café exigia fortalecimento do escravismo, foram iniciadas a campanha
abolicionista e a promulgação de leis que em encaminhavam a extinção do
regime. Em seu conjunto, a que primeiramente atingiu os cafeicultores foi a Lei
Euzébio de Queiroz, em 1850, ao proibir o tráfico de escravos para o Brasil. O
problema de quem trabalharia nos cafezais passou a configurar-se, em
conseqüência, como uma questão econômica que afetava a própria
sobrevivência nacional.
Num primeiro momento, os cafeicultores encontraram uma solução
comprando escravos em outras regiões do país, o que resultou em grandes
lucros aos donos de pequenos plantéis e às províncias, dado o aumento geral
do preço da escravaria. O comércio interno de escravos, ao mesmo tempo em
que aliviaria nas províncias cafeicultoras o impacto das leis abolicionistas, nas
demais provocou carestia geral. Os escravos remanejados para os cafezais
eram, anteriormente, empregados na produção local de gêneros de
subsistência.
Essas crises deram o fundamento para as orientações da política
imigratória adotada na segunda metade do século XIX. A primeira delas
18
consistiu no incentivo à imigração de europeus para substituir os escravos no
trabalho nos latifúndios cafeeiros, a outra visou, sobretudo, incrementar a
imigração para resolver o problema alimentar do país, estabelecendo
imigrantes em pequenas propriedades voltadas à produção de gêneros
alimentícios.19
De acordo com Balhana, Machado e Westphalen, foram tomadas em
consideração, nesse caso, as condições peculiares das diversas províncias,
como a do Paraná, onde não existiam grande propriedades rurais exigindo
mão-de-obra assalariada em larga escala. Corre, assim paralelas duas
orientações e duas práticas imigratórias, no Brasil, uma oficial quando o
Governo cria ainda núcleos coloniais de estrangeiros, e outra particular, mas
estimulada por favores governamentais que visa à obtenção de trabalhadores
agrícolas para as grandes fazendas. Tal situação a primeira vista paradoxal,
era na verdade resultante da contradição da conjuntura, ou seja, a carência de
mão-de-obra para a agricultura de exportação e a necessidade de pequenas
propriedades produtoras da lavoura de subsistência. Esta última orientou a
política imigratória paranaense.20
Segundo Klein, a imigração portuguesa ocorreu independente dos vários
subsídios que explicam a emigração de outros europeus ao Brasil. Colônias
agrícolas e subsídios para o transporte marítimo de imigrantes para a
cafeicultura envolveram alguns trabalhadores portugueses, mas a maioria
destes veio às suas próprias custas, alheios a tais incentivos, muitos dos
portugueses que aqui vinham, já tinham estreitas ligações e contatos
duradouros no Brasil, o que significava familiaridade e extensas e
desenvolvidas redes de relações para os emigrantes portugueses, que poucas
dificuldades tiveram para integrar-se à economia brasileira.
No século XIX, houve um fluxo tão intenso de imigrantes portugueses
entrando no setor comercial urbano do Brasil, que foi, algumas vezes, descrito
como imigração de caixeiros. A despeito da importância deste novo estilo de
trabalho, os portugueses permaneceram provavelmente como mais urbano dos
19
20
NADALIN, op. cit. pp. 67-69
BALHANA, A. P.; MACHADO, B.P.; WESTPHALEN, C.M. História do Paraná (V.I.)
Curitiba: Graphipar, 1934, pp. 158-161.
19
novos grupos de imigrantes, pelo menos durante a primeira geração de recém
chegados.21
Os portugueses estavam altamente concentrados em centros urbanos e
foram sempre numericamente significativos em relação à população total das
duas maiores cidades, constituindo o grupo estrangeiro dominante no Rio de
Janeiro e marcando expressiva presença entre os não brasileiros em São
Paulo.22Assim sendo para Lobo, além de o Brasil oferecer as vantagens da
mesma língua e religião, os salários eram mais altos no Rio de Janeiro e em
São Paulo (os dois mercados de mão-de-obra mais dinâmicos do Brasil) do
que em Portugal.23
1. 3 TERCEIRA FACE: A IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O PARANÁ
A partir da segunda metade do Oitocentos, a nova província, recém
emancipada de São Paulo, tinha sua economia ancorada na atividade
ervateira. Nessa conjuntura, com a erva-mate em expansão, notadamente
voltada para o mercado externo, havia forte demanda por mão-de-obra que se
direcionasse para economia de subsistência. Assim o governo procurou
incentivar a imigração de colonos "morigerados e laboriosos" que estivessem
dispostos a cultivar os vastos campos da província.
Ao lado de grandes contingentes imigratórios, formados, sobretudo por
colonos eslavos e italianos, estavam os imigrantes alemães e portugueses.
Estes últimos, porém, ao contrário dos demais grupos de imigrantes que eram
trazidos com amparo do governo brasileiro e direcionados para a área rural,
chegavam de forma espontânea e preferiam permanecer no espaço urbano,
atuando na área de comércio e serviços.24
21
KLEIN, op. cit. pp. 19 e 20.
22
KLEIN, op. cit. p.21.
23
LOBO, op. cit. p. 19.
24
BOSCHILIA, R. A. Sociedade Portuguesa em Curitiba: Um Projeto Identitário (1878-1900).
In: MATOS, M.I.; SOUSA, F. de; HECKER, A. (org.s). Deslocamentos e histórias: os
portugueses. Bauru, São Paulo: Edusc, 2008, pp. 344-345.
20
Tal área estava em crescente aumento, já que, a quinta comarca da
Província de São Paulo, ou já, Província do Paraná em 1853, vivia um intenso
desenvolvimento urbano, seja pela crescente economia do mate, seja pelo
aumento crescente de consumidores, como os novos imigrantes que chegavam
a todo o momento.
No final do século XIX, o Paraná já não poderia ser considerado uma
zona inóspita, já que se encontrava “consideravelmente expandido, com a
fundação de diversos povoados e concessão de terras a baixo preço” 25
Segundo Balhana, os resultados satisfatórios alcançados na colonização
das cercanias de Curitiba atraíram ainda maior afluência de reimigrantes de
outras regiões do Paraná e mesmo de outras Províncias, os quais se
dispersaram pelas colônias já existentes, ou formaram colônias particulares, ou
ingressaram nas atividades artesanais e industriais da cidade.26
Magalhães informa que a importância política da imigração no Paraná é
de duas ordens: a primeira, pelo povoamento do território, diversificação das
atividades econômicas e decisiva contribuição à urbanização, fatores que
cooperam para o crescimento das receitas públicas; a segunda, de se formar
no Paraná, como no resto da região Sul, como um todo, a primeira classe
média do país (composta por pequenos proprietários rurais, artesãos e
comerciantes), segmento que, pela sua simples presença, concorre para a
democratização da propriedade e do poder. Distintos em seus interesses, com
os grandes proprietários pressionariam, pelo direito de votar e de ser votado,
pela concessão de direitos plenos aos cidadãos, pela universalização da escola
pública, pelo aumento salarial e imprensa alternativa formadora de opinião.27
Westphalen e Balhana, em estudo realizado, a partir da genealogia
paranaense escrita por Francisco Negrão, mostram que das dezesseis
famílias-tronco que se constituíram no século XIX, quinze eram oriundas de
Portugal e das Ilhas Portuguesas. De modo semelhante às análises realizadas
em outros estados, as autoras mostram uma forte discrepância entre o número
25
NADALIN, op. cit. p. 84.
26
BALHANA, A. P.; MACHADO, B. P.; WESTPHALEN, C. M. História d Paraná. Curitiba:
Editora Grafipar, 1969, p. 168.
27
MAGALHÃES, M. B. de. Paraná: política e governo. Curitiba: SEED, 2001, p.32.
21
de homens e de mulheres de origem portuguesa que emigraram para o
Paraná. Porém, diferente da situação encontrada em outros estados como Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pará, os dados censitários indicam a
baixa representatividade de portugueses (2.9%) entre os demais imigrantes
presentes na população do Paraná.
No entanto, cabe lembrar que, a despeito da baixa representatividade
numérica os imigrantes portugueses e seus descendentes ocupavam lugar
privilegiado no comércio e indústria paranaense, repetindo aqui o mesmo
comportamento adotado em outros núcleos urbanos do país, onde o grupo
estava plenamente inserido junto á sociedade local. 28
As autoras destacam, no entanto, que o trabalho realizado por Francisco
Negrão refere-se a características de apenas uma parte dessa comunidade de
portugueses, a classe mais alta. Assim, o censo realizado no Paraná em 1872,
que contempla de forma mais ampla de portugueses instalados no estado,
aponta para a existência de 534 imigrantes portugueses na região, sendo que
esse número ainda irá elevar-se em 3% em 1900, totalizando 504 indivíduos.
Ao longo do século XX esse número continuou a subir, e em 1920 foram
registrados 1.808 portugueses. A partir dessas informações fornecidas por
Westphalen e Balhana sobre os dados levantados por Francisco Negrão e
pelos censos de 1872, 1900 e 1920, podemos concluir que os portugueses que
imigraram para o Paraná, principalmente Curitiba e Paranaguá, guardavam
características comuns aos portugueses nos demais estados brasileiros. A
maioria deles vinha da região Norte de Portugal, e o número de homens era
superior ao de mulheres.
Para Fiamoncini é importante destacar que a constatação da existência
de portugueses instalados nessa região desde longa data pode explicar, em
parte, as motivações dos imigrantes do final do século XIX em vir para cá.29
Sendo assim, em seguida serão abordadas as pistas que as fontes
históricas consultadas deixam em relação à presença desses imigrantes
28
WESTPHALEN, C.; BALHANA, A. P. Portugueses no Paraná. In: LOPES, R. L. (Org.)
Cultura e poder: Portugal – Brasil no século XX. Curitiba: Juruá, 2003, pp. 28-33.
29
FIAMONCINI, C. Imigração, Cultura e Identidade: portugueses e o comércio em Curitiba
no final do século XIX. 81 pp. Monografia (Bacharel em História) – Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
22
portugueses em fins do século XIX, seus perfis e como estavam inseridos num
projeto de governo para colonização do Estado paranaense.
23
2 NO RASTRO DA HISTÓRIA:
A PRESENÇA DOS IMIGRANTES
PORTUGUESES NO PARANÁ NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
No Brasil, a produção historiográfica sobre a imigração é ampla,
diversificada e vem sendo enriquecida por abordagens que analisam aspectos
diferenciados da questão. Os estudos sobre a imigração ibérica vêm instigando
pesquisadores, sendo que a maior parte das pesquisas focaliza o Rio de
Janeiro e São Paulo, onde sem dúvida a presença dos portugueses foi
numericamente significativa e marcante. Já no que tange á produção
historiográfica sobre imigração no Paraná, percebe-se o enfoque privilegiado
de certos grupos, em particular os italianos. A vinda de imigrantes portugueses
ao Paraná na segunda metade do século XIX é fenômeno muito pouco
conhecido. As análises ainda são escassas e bastante pontuais.30
Desse modo, tratar o problema da imigração portuguesa para o Paraná
comporta um maior nível de dificuldade. Sendo assim, está pesquisa busca
indícios de como esse processo ocorreu. Sendo utilizado como primeira fonte
documental os livros de registros de pessoas que desembarcaram no Porto de
Paranaguá entre os anos de 1876-1879 e 1885-1896.31
Para a redação desse capítulo foram utilizados os documentos
encontrados em 14 livros, cujo acesso só foi possível por meio de microfilme.
Localizados no Arquivo Público do Paraná, essas fontes contém os nomes de
vários imigrantes de diferentes etnias, que por muitas vezes se repetem. Essa
repetição ocorre devido ao fato de alguns imigrantes terem sido registrados em
diferentes locais, como por exemplo, no próprio porto ou em hospedarias
próximas, por diferentes funcionários e em momentos diversos.
Esses livros trazem diversas informações como: navio condutor, nome do
imigrante, idade, estado civil, religião, profissão, procedência, ano de chegada
e saída, destino, entre outros. Tais fontes foram analisadas a fim de tentar
30
Sobre o assunto ver: BOSCHILIA, op. cit. pp. 344-345; FIAMONCINI, op. cit. 81 pp.
31
Esse recorte de datas foi oferecido pela própria documentação. Cabe esclarecer que a
lacuna nos anos de 1880 a 1884 é proveniente de ausência de dados no local de consulta.
Ver anexo 1.
24
traçar o perfil desses imigrantes portugueses que se dirigiram oficialmente ao
Paraná.
Tal estudo é importante uma vez que o transporte de emigrantes
transformou-se, no último quartel do século XIX, num dos principais negócios,
envolvendo diversos países europeus.32
A segunda fonte documental elencada foram os relatórios de presidentes
e vice-presidentes provinciais que cobrem período de 1854-1889, oferecendo
pistas de como alguns imigrantes portugueses estavam inseridos num conjunto
maior de planos que o governo da época geria para todo o planejamento de
imigração do período. Num primeiro momento essa documentação foi
acessada a partir dos resumos disponíveis no acervo da Casa da Memória de
Curitiba. Posteriormente consultou-se o conteúdo dessas fontes integralmente,
no Museu Paranaense, Biblioteca Pública do Paraná, Círculo de Estudos
Bandeirantes, e no Arquivo Público do Paraná.33
2.1 IMIGRANTES PORTUGUESES NO PORTO DE PARANAGUÁ NO
ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XIX
Para entender a presença dos imigrantes portugueses no Paraná no
período de análise é necessário fazer um recuo temporal para dialogar com a
historiografia produzida sobre o território paranaense no período anterior à
emancipação política.
Bacellar em trabalho sobre os reinóis na população paulista às vésperas
da independência nos dá pistas importantes sobre o Paraná do início do século
XIX, lembrando que este era naquele período ainda quinta comarca da
província de São Paulo.34 O autor afirma, que pouco temos de concreto no que
diz respeito aos portos de embarque e desembarque. Mesmo assim, podemos
32
MARTINS, I.L. Registro de imigrantes: estratégias de pesquisa. In: MATOS, M.I.; SOUSA, F.
de; HECKER, A. (org.s). Deslocamentos e histórias: os portugueses. Bauru, São Paulo:
Edusc, 2008, pp. 15-25.
34
BACELLAR, C. de A. P. Os reinóis na população ás vésperas da Independência. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS DA ABEP, 12., 2000, Caxambu.
Anais do XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP, Caxambu, 2000,
pp. 1-26. Disponível em : http:// www.abep.nepo.unicamp.br/. Acesso em: 20/02/2008.
25
considerar que o Porto tenha sido o grande centro de embarque, enquanto o
Rio de Janeiro o grande ponto de chegada.
Desembarcados no Rio de Janeiro, e passados a São Paulo por via
marítima (Santos) ou terrestre, os portugueses buscavam a instalação nas vilas
esparsas por toda a capitania. A escolha da vila não era aleatória. Pelo
contrário, havia nítida preferência pelas vilas portuárias, ou relacionadas a
grandes rotas comerciais.
Em números absolutos, as maiores colônias portuguesas encontravamse em São Paulo (147 indivíduos), Curitiba (81), São Sebastião (73), Lorena
(65), Santos (60) e Paranaguá (57). Significativamente, são três os grandes
portos (São Sebastião, Santos e Paranaguá), duas vilas em rotas comerciais
significativas (Curitiba e Lorena) e o principal centro de comercialização do
açúcar (São Paulo).
No início do século XIX tanto Curitiba como Paranaguá aparecem com
destaque na presença maciça de portugueses. Paranaguá era importante
ponto de apoio à política de ocupação e defesa dos territórios da Coroa contra
os castelhanos. Assim as zonas inóspitas do Sul, no atual Estado do Paraná
onde o comércio e as lutas de fronteira se confundiam acabavam por promover
o enriquecimento rápido dos portugueses ali estabelecidos.35
Assim, seguindo esse caminho, tanto a região litorânea do atual Paraná,
como Curitiba se desenvolviam, sempre com a presença dos portugueses, que
à medida que o século XIX avançava, já tinham outros motivos de atração
nestas determinadas partes. Como, por exemplo, a economia do mate, que ao
seu redor havia criado as indústrias complementares, as fábricas de barrica e
surrões de couro para acondicionamento da exportação, e um sistema de
transporte que empregava muita gente, como também, o comércio que se
desenvolvia em Curitiba, à medida que novos imigrantes chegavam.
Considerando os livros de desembarque de imigrantes no Porto de
Paranaguá, no período de análise, os registros oficiais apontam o número de
57 imigrantes, desses apenas dois imigrantes afirmam não terem vindo do Rio
de Janeiro, declarando terem vindo, um no ano de 1888 de Santos, e o outro
no ano de 1891 de Montevidéu. Tais dados confirmam que as informações
dadas por Bacellar ainda podem ser utilizadas no último quartel do século XIX,
35
Ibidem, pp. 6-7.
26
ou seja, que esses imigrantes portugueses acabavam passando inicialmente
pelo Rio de Janeiro para depois se dirigir a outras regiões do Brasil, como o
Paraná.
Os nomes de alguns navios condutores, ou seja, os nomes de alguns
navios que transportavam esses imigrantes dos portos de origem até
Paranaguá eram: Rio Paraná, Rio Pardo, Ladario, Desterro, Rio Negro, Paraná,
Vapor Rio Grande, Vapor Pelotas e Victoria.
A partir da análise dos documentos, pode-se aferir que esses imigrantes
portugueses estão distribuídos da seguinte forma (Ver tabela 1). Cabe lembrar
que os anos que ficaram fora da tabela não apresentam nomes de imigrantes
portugueses.
TABELA 1: Imigrantes chegados ao Porto de Paranaguá por ano e sexo.
Ano
Homens
Mulheres
1886
2
0
1887
4
0
1888
9
0
1889
2
1
1890
6
5
1891
5
2
1892
2
0
1895
9
4
1896
4
2
Total
43
14
Fonte: Livros de Desembarque de Imigrantes no Porto de Paranaguá entre os
anos de 1876-1879 e 1885-1896, Arquivo Público do Paraná.
27
Verifica-se a chegada de imigrantes portugueses entre os anos de 1886
a 1896, o que entra em acordo com Klein, de que Portugal tornou-se um dos
principais exportadores europeus de população, tanto no século XIX como no
XX. De fato, estimou-se que entre 1886 e 1969, só a emigração legal absorveu
no mínimo 50% do excedente de nascimentos em relação às mortes da
população residente portuguesa.36
Pode-se verificar uma predominância de homens nesses dados,
representando ¾ do total. Nessa direção, Matos assegura que a emigração
portuguesa foi a princípio, no século XIX, prioritariamente masculina. E que as
práticas dos homens chegarem primeiro, vindo na procura de resolver
problemas que deixavam em Portugal, dívidas, por exemplo, visava criar
condições posteriores para chamar os familiares ou retornar, pode ser
identificada como uma prática preventiva, para a hipótese de fracasso e/ou
uma estratégia para enfrentar o desconhecido.37
No que se refere à presença feminina, há confirmação dos dados
expostos por toda a historiografia já analisada nesse trabalho, pois elas
equivalem a apenas ¼ de toda essa imigração. Essas mulheres são
geralmente adultas e casadas acompanhando os maridos ou crianças junto
com suas famílias. Nesse sentindo, Klein afirma que dada à longevidade e a
autonomia da imigração lusa, não é de surpreender que as divisões sexual e
etária dos imigrantes portugueses estivessem mais próximas do perfil daqueles
europeus que se dirigiam para a Argentina e os Estados Unidos, do que a de
outros grupos imigrantes chegados ao Brasil com passagens subsidiadas. A
tendência dos portugueses, muito mais do que a das outras nacionalidades
européias era a de vir na condição de homens adultos solteiros, sendo poucas
as esposas e filhos que os acompanhavam.38
Como conseqüência, o contingente português tendeu a ter uma
proporção maior de homens solteiros, que aquela presente em outros grupos
36
KLEIN, op. cit. p. 19.
37
MATOS, M. I. de. Entre o lar e o balcão: mulher imigrante. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL: A VEZ E A VOZ DA MULHER EM PORTUGAL E NA DIÁSPORA, 1,
2005, Berkeley, p. 34. 1 CD-ROM.
38
KLEIN, op. cit. p.21.
28
europeus quanto asiáticos. Este movimento de homens, tanto casados como
solteiros foi tão sistemático que o Norte de Portugal ficou bastante conhecido,
em termos de Europa, pela predominância de mulheres em todas as atividades
agrícolas tradicionais.39
Referente à idade desses imigrantes portugueses, ela tem uma variante
entre 2 a 67 anos de idade, com assiduidade de homens solteiros e adultos em
sua grande maioria.
Verificam-se três casos específicos onde se pode identificar, dentre esses
imigrantes portugueses, a presença de grupos familiares, sendo que um deles,
a família Martins, que chegou em Paranaguá no ano de 1890, tinha quatro
integrantes: José de 39 anos, casado; Isabel de 36 anos, casada e as crianças
Emilio e Antonio de 6 e 2 anos respectivamente. A família não declarou o
destino, porém deu entrada na hospedaria no dia 20 de agosto, permanecendo
apenas um dia no local. Essa família, provavelmente, é fruto de uma união
tardia, pois a diferença de idade entre os pais e os filhos é considerável.
A segunda família, Nascimento, chegou ao Paraná no ano de 1895, tendo
seis integrantes: José de 41 anos, casado; Maria Anna de 35 anos, casada; as
crianças Herminia, Julia e Maria de respectivamente 14, 10 e 2 anos de idade.
Além desses cinco membros, os registros nos mostram a presença de um
sexto integrante, José Manoel da Costa Nascimento de 32 anos, solteiro,
provavelmente irmão de José. Todos alegavam serem agricultores. Essa
família declarava como local de destino Jaguariayva, cidade do Paraná,
próxima a São Paulo.
O que mais chama atenção é que a família Nascimento deu entrada na
hospedaria no dia 4 de junho, porém no dia 8 de junho José, o pai da família,
morreu na hospedaria, por motivos que não foram possíveis de serem
localizados na fonte em questão, o restante da família acaba por permanecer
até o dia 17 de junho na hospedaria, só então seguindo para seu destino.
Apesar da fonte não informar os motivos da morte do pai da família,
verifica-se que esse morre apenas quatro dias após dar entrada na hospedaria,
levando a crer, que o mesmo possa ter adquirido algo no navio que o conduziu
de Portugal ao Brasil. A historiografia a respeito informa que o transporte de
39
Ibidem, pp. 17-18.
29
emigrantes não respeitava muito as normas de higiene e de lotação, e que por
vezes era chamada de “indústria de transporte de gado humano”.40
Surpreende o fato da mãe da família ter seguido seu destino e não ter
voltado a Portugal, mesmo após o falecimento do marido, e com três crianças
sob sua responsabilidade. Talvez a presença do cunhado a tenha incentivado,
ou mesmo as esperanças de um futuro melhor para seus filhos no Brasil, pois
ainda existia uma verdadeira mitologia da imigração, que alimentava o sonho
de emigrar e viver melhor em novas terras.
Por fim, a terceira família, Santa, é identificada no ano de 1896, com cinco
integrantes, sendo eles: Joaquim de 37 anos; as crianças Maria, Joaquim e
Manoel, de respectivamente, 14, 12 e 11 anos de idade e Joaquina de 67 anos.
Todos se declaravam agricultores e tinham a cidade de Morretes como destino.
Essa família não tem a presença da mãe, apenas do pai, provavelmente
viúvo, acompanhado da mãe idosa e dos filhos menores. Verifica-se a pouca
diferença de idade entre o pai e o filho mais novo, o que levaria a crer, levando
em consideração a possibilidade estatística da época, que a mãe dessa família
poderia ter morrido no parto do filho mais novo, como fator da precariedade dos
cuidados médicos da época nas aldeias portuguesas.
Alguns dos livros estudados nos trazem a informação dos dias de
permanência desses imigrantes em hospedarias próximas ao porto de
Paranaguá, ou mesmo, em enfermarias. O que pode ser concluído é que esses
imigrantes ficavam muito pouco tempo nesses alojamentos entrando e saindo
de um dia para o outro, com raras exceções.
Quanto aos destinos com maiores destaques pode-se citar: Paranaguá,
Morretes, Antonina, Curitiba e Jaguariayva. Tirando este último que foi o
destino exposto pela família Nascimento, os outros locais também confirmam
dados passados por Bacellar, pois tanto a região litorânea do Paraná, como
Curitiba já eram pólos de residência de portugueses há tempos pela sua
dinâmica política e econômica citadas inicialmente.
Dentre as demais informações que ainda podem ser localizadas a partir
de
análise
dos
livros
com
informações
dos
imigrantes
portugueses
desembarcados no Porto de Paranaguá, verificamos dados referentes à
religião desses imigrantes, sendo que a grande maioria se declarava católica,
40
PEREIRA, op. cit. p. 40.
30
algo natural se levarmos em consideração toda a história do catolicismo
português.
Consta-se ainda que dos imigrantes que declaravam sua profissão a
grande maioria afirmava ser agricultor, tendo apenas um caso de imigrante, no
ano de 1892, que se declarava operário. O que confirma os dados trazidos
pela historiografia sobre o assunto que informa que esses imigrantes eram de
origem rural.
Matos destaca que não houve um único padrão de deslocamento, muitos
imigrantes eram chefes de família, vieram bem antes de seus familiares que
ficaram aguardando em Portugal; outros vieram ainda quando crianças ou
jovens; em outros casos, a família nuclear veio junta, e, mas em alguns deles
não permaneceram unidas no novo contexto ou nunca se encontraram e/ou
não voltaram a se constituir.
Gerando toda uma complexidade de situações vivenciadas: os
deslocamentos, os diferentes projetos familiares e as estratégias para
concretizá-los, numa trama de valores envolvendo escolhas, re-orientações,
conflitos
familiares,
geracionais,
de
gênero,
provocando
exploração,
rompimentos, tensões, mas também solidariedades, laços de conterraneidade
e afetividades na nova terra. 41
2.2 IMIGRANTES PORTUGUESES NOS RELATÓRIOS DE PRESIDENTES E
VICE-PRESIDENTES PROVINCIAIS
Os relatórios de presidentes e vice-presidentes do Paraná são fontes
importantes para o entendimento de várias questões referentes ao estado, e
por isso foram analisados a fim de encontrar pistas sobre esses imigrantes
portugueses que para cá se dirigiam.
Balhana, Machado e Westphalen utilizam esses relatórios como principal
fonte para escrever uma das mais importantes obras sobre história do Paraná,
e indagam que ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração se
41
MATOS, op. cit. p. 34.
31
destinava a suprir a carência da mão-de-obra na grande lavoura de exportação,
no Paraná, a não ser a eventual introdução de trabalhadores para obras
públicas, sobretudo construção de estradas, o problema imigratório foi desde
logo colocado no sentido de criar-se uma agricultura de abastecimento. 42
Em exame aos relatórios, foi encontrado um apresentado pelo
presidente Francisco Liberato de Mattos, em 07 de janeiro de 1858, que
trabalhava com a questão de operários de estrada e o abordava da seguinte
maneira:
Seja, porém este ou aquele o meio, porque se tenha de resolver o
problema da colonização, é fora de dúvida que os recursos da
província não bastarão para atingir e esse fim. Felizmente os poderes
do Estado habitarão o Governo do Imperial com amplos meios, para
cuidar deste ramo do serviço a que o mesmo governo acaba de dar
valioso impulso, celebrando com a Associação um contrato pelo qual
se obriga a importar avultado número de colonos.
Autorizaram dois negociantes Forruja Leite e Mendes do Rio de
Janeiro a engajarem 50 colonos portugueses como simples operários
na Estrada da Graciosa ou em qualquer serviço. Aguardando
43
resultado disso.
Balhana, Machado e Westphalen dizem que a década de 1870,
principalmente na administração de Adolpho Lamenha Lins, o programa
governamental foi dinamizado, com a localização de colônias agrícolas nas
proximidades dos centros urbanos, com o objetivo de colocá-las junto aos
mercados consumidores.44
Em relatório apresentado por este presidente em 15 de fevereiro de
1876, descreve-se a seguinte passagem:
Colônia Euphrasina criada pela empresa Pereira Alves Bendaszeslai
e Cia que contratou com o governo imperial a introdução de 4000
imigrantes na província. O núcleo esta situado na margem da baía de
Paranaguá próximo a Antonina e Paranaguá. Os terrenos são muito
férteis e os colonos poderão cultivá-los facilmente. A população da
colônia é de 118 habitantes e compreende colonos de várias
nacionalidades: basco-francês, basco-espanhol, francês, suíço,
lombardo, português, alemão, africano, brasileiro. Ainda necessitam
42
BALHANA, op. cit. p. 162.
43
Relatório do Presidente Francisco Liberato de Mattos, apresentado na abertura da
Assembléia Legislativa Provincial, em 7 de janeiro de 1858, pp. 21-22. Curitiba, Tipografia
Paranaense, 1858.
44
BALHANA, op. cit. p. 163.
32
ser construídos a capela, o cemitério e a escola.
original)
45
(sem grifo no
Em análise as fontes acima constata-se que no momento imediatamente
após a chegada ao Brasil os imigrantes portugueses estavam presentes, em
menor número, em diferentes atividades produtivas. Foram encontrados vários
documentos mostrando a presença deles em obras públicas como construção
da Estrada da Graciosa, importante ligação entre Curitiba e Antonina,
inaugurada em 1873, bem como no trabalho em colônias agrícolas como a
Euphrasina criada pela empresa Pereira Alves Bendaszeslai e Cia.
Nesse mesmo relatório, há ainda informações sobre o movimento no
Porto de Paranaguá, durante o ano anterior, ou seja, em 1885, que trazem os
seguintes elementos:
Entradas
De fora do Império:
Brasileiros 21
Portugueses 1
De outras nações 517
Libertos 1
Sub Total 540
De dentro do Império:
Brasileiros 578
Portugueses 42
De outras nações 1058
Libertos 3
Escravos 32
Sub Total 1713
Total: 2253
Saídas
Para fora do império:
Brasileiros 20
Portugueses 2
De outras nações 101
Libertos 1
Sub Total 124
Para dentro do Império:
Brasileiros 612
Portugueses 75
45
Relatório do Presidente Adolpho Lamenha Lins, apresentado a Assembléia Legislativa do
Paraná, em 15 de fevereiro de 1876, pp. 90-92. Curitiba, 1876.
33
De outras nações 296
Libertos 10
Escravos 92
Sub total 1085
Total 1209
46
Constata-se que apenas um imigrante português entrou pelo Porto de
Paranaguá de fora do país, porém temos a entrada de 42 imigrantes
portugueses de dentro do Império, o que demonstra que a reimigração
portuguesa era grande, tanto no sentindo interno como no sentido externo, pois
temos a saída de 75 portugueses para fora do estado nesse mesmo ano.
Existem outros relatórios que fornecem dados sobre os números de
portugueses presentes na província do Paraná, a exemplo um apresentado
pelo presidente Luiz Alves L. de Oliveira Bello, em 22 de agosto de 1884, que
traz as seguintes informações:
Segundo apontamentos fornecidos pelo agente oficial de colonização
em Antonina entraram na província durante o primeiro semestre do
corrente ano 657 estrangeiros sendo: 345 polacos, 131 italianos, 101
alemães, 28 portugueses, 21 austríacos, 13 espanhóis, 8 turcos, 6
franceses, 2 norte-americanos e 2 argentinos; portanto mais da
metade de origem polonesa.
Saíram no mesmo período 466, sendo eles: 226 italianos, 72 polacos,
70 alemães, 34 portugueses, 14 franceses, 12 espanhóis, 12
ingleses, 11 austríacos, 8 turcos e 7 russos.
Desses retirantes, muitos não estavam estabelecidos na indústria
agrícola, eram trabalhadores da estrada de ferro Paranaguá a
Curitiba, e como essa empresa reduziu em larga escala o seu
pessoal de serviço, por estarem concluídas, as grandes obras de sua
linha, os operários voltaram para o Rio de Janeiro, seguindo outros
47
para o Rio da Prata, em demanda de serviço de sua profissão.
A fonte acima fornece dados consideráveis sobre a presença de
imigrantes portugueses na província do Paraná em 1884, ano no qual esses
imigrantes não aparecem nos registros oficiais como desembarcados no Porto
de Paranaguá, o que leva crer que muitos desses imigrantes, obviamente
tinham outras rotas, que não o próprio porto.
A próxima fonte a ser abordada são os pedidos de naturalização de
imigrantes portugueses no Paraná, presentes tanto nas correspondências do
46
Ibidem, p. 14
47
Relatório do Presidente Luiz Alves L. de Oliveira, apresentado em 22 de agosto de 1884.
34
governo (1855-1895), como nos relatórios de presidentes e vice-presidentes
provinciais (1854-1889), já abordados nesse capítulo. Esses registros são mais
um instrumento de análise do perfil desses imigrantes, que acabaram por fixar
moradia no Estado em algum momento de suas vidas.
35
3 IMIGRANTES PORTUGUESES E A SUA PRESENÇA NOS PEDIDOS DE
NATURALIZAÇÃO
Para entendermos o contexto ao qual estão inseridos esses pedidos de
naturalização é importante acompanharmos algumas elucidações de Ribeiro
que diz que a Independência do Brasil foi realizada ao redor dos interesses de
grupos sociais do Centro-Sul, que desenharam os contornos da cidadania
brasileira e construíram gradativamente uma determinada identidade nacional
ao mesmo tempo em que procuraram forjar as bases do Estado Imperial.48
Inicialmente, alguns esclarecimentos registrados por E. Hobsbawm se
fazem necessários, o mesmo observou que termo “Nação” não tinha o mesmo
significado no início e no fim do XIX, tampouco o termo nacionalismo. Para ele,
na tradição ibérica a palavra “Nação” referia-se ao conjunto de habitantes de
uma província, país ou reino. Não se considera a existência de um centro
comum, governo ou Estado até fins do século XIX.49
Levando-se
em
consideração
as
observações
acima,
podemos
compreender por que, no início do XIX e na época da emancipação, os
nascidos no Brasil eram chamados de “Portugueses do Brasil”, “Portugueses
da América” ou simplesmente, “Brasileiros”. Tais designações apontavam para
o pertencimento a uma Nação única portuguesa, que era a Mãe de todos os
habitantes
dos
quatro
cantos
dos
domínios
reconhecimento das especificidades regionais.
lusitanos,
apesar
do
50
Feita a emancipação definitiva do Brasil, era tarefa urgente marcar a
diferença entre a recente Nação brasileira e a antiga Nação portuguesa, da
mesma maneira que era preciso forjar a nacionalidade brasileira distinta da
portuguesa. Centrados nessa preocupação maior giravam dois aspectos
fundamentais daquele momento.
48
RIBEIRO, S. G. O tratado de 1825 e a construção de uma determinada identidade nacional:
os seqüestros de bens e a Comissão Mista Brasil-Portugal. In: CARVALHO, J. M. de (org.).
Nação e Cidadania no Império: Novos Horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2007, p. 397.
49
HOBSBAWM, E. Nação e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidades. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990. pp. 27-28.
50
RIBEIRO, op. cit. p. 397.
36
O primeiro dizia respeito à cidadania em país que havia acabado de se
tornar independente, incluindo aí os direitos à participação política e os direitos
civis, entendidos como direitos e obrigações individuais que deveriam ser
preservados em código civil específico.
O segundo referia-se à organização do Estado, que deveria atender a
interesses bem delimitados da classe dominante do Sul (Sudeste) que teria
levado a cabo a emancipação como separação política total. Nesse sentindo, o
reconhecimento da Independência brasileira por outras potências fazia-se
fundamental.51
Hobsbawm informa que não há meio de informar um observador como
distinguir a priori uma Nação de outras entidades, que muitas tentativas se
estabeleceram em critérios objetivos sobre a existência de nacionalidade, ou
de explicar por que certos grupos se tornam “Nações” e outros não,
freqüentemente foram feitos com base em critérios simples como a língua ou a
etnia ou em uma combinação de critérios como a língua, o território comum, a
história comum, os traços culturais comuns e outros mais, mas é sempre
possível descobrir exceções. 52
Esse autor informa que uma alternativa para uma definição objetiva de
Nação é uma definição subjetiva seja ela coletiva (seguindo a frase de Renan:
“uma nação é um plebiscito diário”), seja individual, à moda austro-marxista de
se considerar a “nacionalidade” como passível de aderir às pessoas, onde elas
vivessem, sobretudo se estas decidissem exigi-la.53
Mendes diz que há uma singularidade nas leis e nas diretivas políticas
quando essas abordam a presença do cidadão português no Brasil a partir de
1822, quando o processo de emancipação atingiu seu ponto incontornável.
Ocorrência extraordinária nos Estados nacionais das Américas, o destaque ao
antigo
colonizador no ordenamento
jurídico
brasileiro
traduziu-se
em
singularidade que o distingue legalmente de outros estrangeiros. A história da
cidadania no Brasil tem, assim, um capítulo que versa diretamente sobre os
51
Ibidem, pp. 397-398.
52
HOBSBAWM, op. cit. pp. 14-15.
53
Ibidem, pp. 16-17.
37
lusos após a independência, e de como as noções de inclusão/exclusão desse
grupo nacional foram tratadas pelo legislador.54
Esse autor diz que ao longo dos séculos XIX e XX, um conjunto de atos
públicos buscou facilitar aos portugueses a imigração e fixação no território do
Brasil, a aquisição da nacionalidade e o exercício de direitos. Fundando-se em
pressupostos de afinidade lingüística, cultural, religiosa e até mesmo racial,
legislativo e executivo privilegiaram o lusitano em vários aspectos, de regra de
povoamento a leis trabalhistas. Diretrizes consulares buscaram facilitar a
concessão de vistos de entrada e promover sua imigração para o país. De
modo indireto ou de forma explícita, seis das sete constituições brasileiras
favoreceram o português, numa recorrência ao ex-colonizador sem paralelo no
direito comparado.55
As justificativas a instituições de tais dispositivos evocam como
argumento central à afinidade existente entre o Brasil e Portugal, expressa com
freqüência por uma terminologia de parentesco (filial, fraternal), em que
ressaltam supostos laços de família e de sangue entre lusos e brasileiros. A
metáfora da “grande família portuguesa” tem se mostrado um traço contínuo na
linguagem de relacionamento dos dois países. Seu uso toma impulso no
contexto específico de formação do Estado brasileiro e na vigência da
monarquia, quando ramos da mesma casa dinástica ocupavam os tronos de
ambos os países.
Mendes informa que o emprego de termos de parentesco na retórica que
instrui a produção legislativa sobre os portugueses é um elemento freqüente na
documentação parlamentar brasileira. O fenômeno ultrapassa o período
imperial e adentra a era republicana, ressurgindo nos processos constituintes,
em discursos de deputados e senadores. Suas recorrências são diversas.56
A busca por definir o estatuto dos lusos domiciliados no Brasil na época
da Independência gerou uma base de princípios que norteou o debate. A
imigração portuguesa, dali para frente, foi marcada por aquele substrato. Seus
54
MENDES, J. S. R. Lei e etnicidade no Brasil: entre a lusofobia e o favorecimento jurídico
dos portugueses. Artigos e ensaios. São Paulo, v. 61, n. 2, 2009, p. 1. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo Acesso em 05/06/2009.
55
Ibidem, pp. 1-2.
56
Ibidem, p. 2.
38
fundamentos, no campo da instituição e do exercício de direitos, compõem um
longo percurso que envolve o estrangeiro ou, mais precisamente, as formas
para admissão e permanência no país.
O desenvolvimento dos direitos civis e políticos no Brasil envolveram,
desde cedo, o dilema sobre estatuto das pessoas nascidas fora do país, nele
domiciliadas. Em diversos momentos, os portugueses estiveram no centro da
discussão, deslocados da categoria de súditos da antiga metrópole para um
diferente patamar. Na gênese do Estado nacional, diante do reposicionamento
dos lusos, vieram à tona duas questões até ali inéditas à realidade brasileira: a
imigração sistemática e a condição jurídica do estrangeiro.
A primeira lei de imigrantes, sancionada em janeiro de 1823, destinavase apenas aos naturais de Portugal que desembarcassem no país com
intenção de permanecer. Todos eles, caso jurassem fidelidade ao Império,
receberiam “foro de cidadão”, segundo os termos do decreto. Chama atenção a
facilidade com que os adventícios seriam admitidos à nacionalidade brasileira.
O critério de adesão era de ordem política e só postulado aos portugueses. Aos
estrangeiros de outras origens, que àquela época já aportavam no Brasil,
deveriam ser aplicadas as regras de naturalização do período do Reino Unido
com Portugal, que vigoraram até 1832.
A condição jurídica do português no Brasil foi definida com a
Constituição do Império, de março de 1824, A carta considerou brasileiros os
nascidos em Portugal e suas possessões, domiciliados nas províncias
brasileiras na época em que se proclamou a independência em cada uma
delas, e que aderiram à nova ordem expressamente, ou de maneira tácita, pela
continuidade de sua residência. Não foi um ato de naturalização coletiva, e sim
de admissão originaria a nacionalidade. O significado daquela medida foi que o
primeiro ordenamento fixou o lusitano residente no país em uma espécie de
limbo entre o nacional e o estrangeiro.57
A primeira lei de naturalização, sancionada em outubro de 1832, teve o
objetivo declarado de facilitar ao estrangeiro obter nacionalidade e integrar-se
ao Império. Pensava-se seria uma maneira de promover a vinda de “gente
branca e industriosa”. A concessão de naturalidade foi então concebida como
instrumento para atrair europeus e promover sua integração à cidadania, ainda
57
Ibidem, pp. 2-3.
39
que o seu exercício pleno, direito ao sufrágio, por exemplo, estivesse restrito ao
homem livre detentor de patrimônio. No mesmo sentindo, diretrizes expressas
nas
legislações
editadas
no
Segundo
Reinado
buscaram
facilitar
a
naturalização. Mendes lembra que tais provisões tornaram-se objeto de crítica
antilusitana, pois a maior parte dos que solicitavam a naturalidade brasileira
eram portugueses, como demonstra quase uma centena de decretos de
naturalização individual, ou de pequenos grupos, sancionada entre 1865 e
1889.58
Sendo assim, em seguida será analisado como o poder executivo do
Paraná se portava em relação aos pedidos de naturalização em fins do século
XIX, e quais informações essas fontes trazem em relação aos imigrantes
portugueses.
3.1 PEDIDOS DE NATURALIZAÇÃO: RELATÓRIOS DE PRESIDENTES E
VICE-PRESIDENTES PROVINCIAIS
O relatório apresentado pelo presidente Alfredo de Taunay em 03 de
maio de 1886 traz as seguintes informações:
Dando a devida atenção à tão momentosa questão, bem possuído de
todas as elevadas conseqüências que a ela prendem, e de
conformidade com o espírito da lei vigente de naturalização, n. 3149
de 30 de outubro de 1882, que modificou, de modo mais benéfico e
generoso, o decreto n. 1950 de 12 de julho de 1870, expedi, a 30 de
setembro do ano passado, isto é, no dia seguinte àquele em que
tomara conta da administração da província, o seguinte ato:
O presidente da província, dando a máxima importância à completa
comunhão de sentimentos dos filhos do país com os valiosos
elementos imigratórios, por serem todos eles colaboradores,
igualmente interessados, no rápido desenvolvimento da riqueza
nacional, convida os imigrantes localizados nessa província que
desejam obter cartas de naturalização e assim concorrer, já como
cidadãos brasileiros, para o progresso da pátria, a enviarem seus
59
requerimentos à Secretaria do Governo Provincial.
58
59
Ibidem, p. 4.
Relatório do Presidente Alfredo de Taunay, apresentado em 03 de maio de 1886. Ver anexo
2.
40
Tal passagem deixa clara a importância dada aos pedidos de
naturalização, e como os imigrantes em geral eram vistos como valiosos
colaboradores do desenvolvimento da pátria. O presidente informa em
passagem posterior que o processo de concessão das cartas de naturalização
eram muito simplificadas, e que as facilidades que a última lei determinou
tinham impulsionado este “importante serviço”, mas que ainda havia a
presença de penosas formalidades que muitas vezes atrapalham o processo.
Nessa mesma carta o presidente informa que até fins de abril já se
havia recebido 240 pedidos de naturalização, dos quais 11 eram de
portugueses, que ficavam atrás apenas dos poloneses com 88 pedidos,
alemães e italianos com 22 cada e dos russos com 14.
Na década de 1880 os relatórios dos presidentes de província traziam
diversos relatos sobre os pedidos de naturalização, nesse sentindo em relatório
apresentado, por um dos antecessores de Taunay, o presidente Carlos A. de
Carvalho em 26 de maio de 1883 pode-se verificar a presença de imigrantes
portugueses nos pedidos de naturalização. Nesse ano eles eram 11 ao todo, e
ficavam atrás apenas dos alemães com 59 pedidos e dos austríacos com 13.
Os pedidos de naturalização em 1883 marcaram um total de 104 solicitações.60
No ano de 1887 vemos a presença marcante desses imigrantes
portugueses com 6 solicitações de naturalização ficando atrás novamente dos
imigrantes alemães com 34 pedidos e dos italianos com 8 pedidos. Ao todo
foram concedidas 54 cartas de naturalização pelo então presidente de
província Joaquim D’Almeida Faria Sobrinho.61
Os portugueses tinham uma ligação histórica com o Brasil, um língua
comum e uma cultura muito parecida em diversos aspectos, porém em fins do
século XIX esses já não tinham mais seu status de colonizador, ficavam lado a
lado em condições com outros imigrantes que entravam na província, nesse
sentido fazia-se necessário reafirmar sua intenção de imigrante colaborador
para crescimento da nação, pois já não estava tão evidente o “laço” que uniam
portugueses e brasileiros como antes da independência.
60
Relatório do Presidente Carlos A. de Carvalho, apresentado em 26 de maio de 1883.
61
Relatório do Presidente Joaquim D’Almeida Faria Sobrinho, apresentado em 29 de
dezembro de 1887.
41
3.2 PEDIDOS DE NATURALIZAÇÃO: CORRESPONDÊNCIA DO GOVERNO
A correspondência do Governo encontra-se no Arquivo Público do
Paraná, em bom estado de conservação, e abrange as datas de 1855-1895,
trazendo as mais variadas informações, dentre as quais as cartas com os
pedidos de naturalização de imigrantes que residiam na província do Paraná.
Em análise a essa fonte foram encontrados 46 cartas62 com pedidos de
naturalização de imigrantes portugueses entre os anos de 1878-1892. Esses
registros mostram os nomes, idade, procedência, estado civil, quantidade de
filhos, profissão, religião, residência, dentre outras informações pertinentes ao
estudo do perfil desses imigrantes na província do Paraná.
Segue pequena transcrição de um pedido feito no ano de 1883:
José Francisco Abrantes, natural de Lisboa no Reino de Portugal, de
55 anos de idade, negociante, professando a religião católica,
residente no lugar de Vista Nova distrito de Vila de Guarakessaba,
casado com Rita Maria do Espírito Santo (...) achando-se no Brasil
desde antes do seu casamento, de cujo matrimonio existem 8 filhos
de nomes: Anna, de 21 anos de idade (...), tomando-lhe o juramento
de fidelidade na forma de legislação vigente.
63
Paranaguá 17 de janeiro de 1883 .
Apesar da carta acima informar que o imigrante era de Lisboa a
historiografia sobre imigração portuguesa é unânime em afirmar que de todas
as regiões de Portugal, a região Norte é a que mais se destaca no envio de
imigrantes, as mais variadas partes do mundo, durante o século XIX.
Em exame às cartas de naturalização podem-se confirmar essa
informação, pois as procedências com maior destaque são: Cidade do Porto,
Província do Minho, Província do Douro e Conselho de Braga, além das Ilhas
dos Açores.
Quanto à residência desses imigrantes no Paraná os maiores destaques
são para as regiões litorâneas como Paranaguá, Morretes e Antonina; e
62
Desses 46 pedidos, devem ser considerados em números gerais, para análise do perfil
desses imigrantes, apenas 45, pelo motivo que dois desses 46 pedidos são da mesma
pessoa, o senhor José Pereira Linhares que possui duas solicitações de naturalização a
primeira em 13/01/1878 e a segunda em 10/09/1878.
63
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 701. Ver anexo 3.
42
Curitiba e arredores. O que repete as informações dadas pela primeira fonte
analisada, nesse trabalho, que trazia as informações dos imigrantes
desembarcados no Porto de Paranaguá, que citavam essas mesmas regiões
como destino. Porém podem-se encontrar outras regiões, em caráter de
exceção, como a Vila Rio Negro, Vila de Ponta Grossa e sertão de
Guarapuava, representado em citação abaixo:
Manoel Jerônimo Figueredo, súdito português, natural da cidade do
Porto, negociante e residente no Rio dos Patos sertão de
Guarapuava a mais de 15 anos.
64
Curitiba, 5 de janeiro de 1886.
Referente ao tempo de moradia, desses imigrantes no Brasil, a maioria
informa estar no Império há mais de 15 anos pelo menos. Outros não informam
a data correta dizendo apenas estarem “há muito tempo”. Todavia, o tempo de
moradia registrado nos pedidos varia de 2 a mais de 35 anos, exemplificado na
seguinte passagem:
Joaquim Pinto de Almeida natural da cidade do Porto, de 60 anos de
idade, proprietário, professando a religião católica, residente na
cidade do Paranaguá, casado com Maria José Bittencourt de
Almeida, natural da cidade do Rio de Janeiro, de cujo matrimonio
existem 4 filhos achando-se no Brasil a mais de 35 anos.
65
Paranaguá, 2 de janeiro de 1883.
Outro dado que merece destaque é o tempo que esses imigrantes
levavam para solicitar à naturalização que era de 15 anos, ou mais.
Dos 46 pedidos analisados, apenas 28 imigrantes declararam suas
idades, sendo que desses a maior parte tinha mais de 30 anos. Levando-se em
conta o período que esses imigrantes estavam no Brasil pode-se verificar que o
perfil etário desses coincide com os dados fornecidos pela historiografia, que
informa que os imigrantes eram em sua maioria homens, jovens e solteiros. A
exemplo, o senhor Domingos José Esteves, com 56 anos, alegava ser
residente no Império desde1854, fazendo seu pedido de naturalização no ano
64
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 793.
65
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 701.
43
de 1882, ou seja, esse imigrou para Brasil quando tinha apenas 28 anos de
idade.66
Segundo a documentação analisada, dos 20 imigrantes que declararam
seu estado civil67, 17 atestaram serem casados, no momento do pedido de
naturalização. Destes, 8 informaram serem casados com brasileiras e 9
declararam apenas serem casados. Todavia, vale lembrar que também foram
localizadas cartas onde o declarante, embora não confirmasse a nacionalidade
de sua esposa, informava estar no Brasil desde antes do casamento o que leva
a crer que esse tivesse se casado no Brasil com uma brasileira descendente de
portugueses, como exemplo:
Antonio da Costa Soares, natural de Portugal, de 35 anos de idade,
negociante estabelecido na cidade de Paranaguá, professando a
religião católica, casado com Maria Brígida da Costa, como mostra a
certidão, cujo matrimonio existem 4 filhos (...) todos professando a
religião católica e residindo no Brasil desde antes de seu casamento,
quer naturalizar-se cidadão brasileiro e (...) mandar-lhe passar a
respectiva carta de naturalização, tomando-lhe o juramento de
fidelidade e a declaração necessária (...)
68
Paranaguá, 26 de dezembro de 1882.
Desse modo, pode-se afirmar que dos imigrantes que declararam seu
estado civil, tem-se 11 imigrantes casados com brasileiras, somando-se com os
que declararam estarem no Brasil desde antes do seu casamento, para um
total de 17 que informaram serem casados, ou seja, a maior parte era
efetivamente casada com brasileiras. O que não entra em acordo com dados
apresentados por Klein e que são referentes ao Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo esse autor os portugueses eram surpreendentemente endógenos
quando casavam. Seja por causa do constante fluxo imigratório, seja por causa
de problemas específicos de integração social com uma população que
crescentemente desprezava-os por serem imigrantes pobres, os portugueses
de início, casavam-se menos com brasileiros do que quaisquer outros
66
67
68
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 679.
Do total, 25 imigrantes não declaravam seu estado civil e 3 declararam serem solteiros.
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 679.
44
europeus, sendo suplantados nestes padrões de casamentos endogâmicos
apenas pelos japoneses.69
Em relação aos descendentes, apenas 11 declararam a quantidade de
filhos, cuja média girava em torno de 4:
Diz Francisco César Espínola, de 55 anos de idade, natural do Reino
de Portugal, ilha Fayal, dentista, professando a religião católica,
residente em Morretes à rua do Comércio, casado com Maria
Leocádia Pereira Espínola, de 40 anos de idade cujo matrimonio
existem 5 filhos (...), reside na mesma cidade a mais de 2 anos.
70
Curitiba, 24 de setembro de 1885.
Em análise às fontes foram localizadas 19 cartas onde se verifica a
profissão desses imigrantes. Desses, 14 informavam serem negociantes, o que
confirma os dados trazidos pela historiografia, que afirma que, apesar desses
serem em sua maior parte de origem rural, esses preferiam atividades
comerciais. Embora num primeiro momento, esses pudessem ser encontrados,
em menor número em várias atividades, como especificado no segundo
capítulo desse trabalho, a sua maioria estava realmente envolvida em
atividades urbanas. Assim, embora inicialmente se submetessem a diferentes
ramos de trabalho, assim que estavam fixados na sociedade de acolhimento
buscavam atuar em áreas ligadas ao comércio e aos serviços.
Enfim, a realização dessa pesquisa teve como objetivo demonstrar como
se deu o processo de inserção do imigrante português no estado do Paraná,
durante a segunda metade do século XIX, buscando problematizar questões
ligadas à historiografia existente sobre o assunto.
69
KLEIN, op. cit. p. 27
70
Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 764.
45
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal desse trabalho foi contribuir no sentido de minimizar a
lacuna de estudos no que diz respeito à dinâmica de imigração portuguesa
para o Paraná. Para tanto, procurou-se analisar como se deu esse processo,
traçando o perfil desses portugueses que se dirigiam ao estado, na segunda
metade do século XIX. A partir do levantamento das várias fontes utilizadas
nessa pesquisa foi possível ampliar o conhecimento acerca desse grupo
imigrante.
A análise da primeira fonte nos permitiu inferir o número de 57 lusos
desembarcados no Porto de Paranaguá, entre os anos de 1886 a 1896, desses
apenas dois deles afirmavam não terem vindo do Rio de Janeiro, o que marca
uma forte reimigração desses.
Pôde-se verificar uma predominância de homens nesses dados,
representando ¾ do total. Referente à presença feminina elas equivalem a
apenas ¼ de toda essa imigração Essas mulheres eram geralmente adultas e
casadas acompanhando os maridos ou crianças junto com suas famílias.
Verificam-se ainda três casos específicos onde se pode identificar, dentre
esses imigrantes portugueses, a presença de três famílias imigrantes.
Referente à idade desses imigrantes portugueses, existe uma variante
entre 2 a 67 anos de idade, com assiduidade de homens solteiros e adultos em
sua grande maioria. O que entra em acordo com a historiografia sobre o
assunto que assegura que a emigração portuguesa foi a princípio, no século
XIX, prioritariamente masculina. E que as práticas dos homens chegarem
primeiro, vindo na procura de resolver problemas que deixavam em Portugal,
dívidas, por exemplo, visava criar condições posteriores para chamar os
familiares ou retornar.
Quanto aos destinos com maiores destaques foram localizados:
Paranaguá, Morretes, Antonina, Curitiba e Jaguariayva. Tirando este último que
foi o destino exposto por uma família, os outros locais também confirmam
dados passados pela historiografia, pois tanto a região litorânea do Paraná,
como Curitiba já eram pólos de residência de portugueses há tempos pela sua
dinâmica política e econômica o que contribuía para a fixação de novos
46
imigrantes lusos, pois os conterrâneos que já estavam integrados na sociedade
de acolhimento mantinham contatos com aqueles que se dirigiam à nova terra
e que, com isso, dispunham do auxílio dos compatriotas na busca das
primeiras acomodações e primeiras oportunidades de trabalho.
Consta-se ainda que dos imigrantes que declaravam sua profissão a
grande maioria se afirmava como agricultor, tendo apenas um caso de
imigrante, no ano de 1892, que se declarava operário. O que reforça todo
parecer que esses imigrantes eram provenientes de regiões rurais.
Os exames dos relatórios de presidentes e vice-presidentes provinciais
mostraram que no momento imediatamente após a chegada ao Brasil os
imigrantes portugueses estavam presentes, em menor número, em diferentes
atividades produtivas. Como em obras públicas como construção da Estrada da
Graciosa, importante ligação entre Curitiba e Antonina, inaugurada em 1873,
bem como no trabalho em colônias agrícolas como a Euphrasina criada pela
empresa Pereira Alves Bendaszeslai e Cia.
Já no que diz respeito cartas de naturalização presentes nos relatórios
de presidentes e vice-presidentes provinciais e nas correspondências do
Governo verificou-se uma grande importância dada a esses pedidos e como os
imigrantes
em
geral
eram
vistos
como
valiosos
colaboradores
do
desenvolvimento da pátria.
Foram encontradas 46 cartas com pedidos de naturalização de
imigrantes portugueses, o que comprova que imigração desses para o Paraná
era importante se comparados com outros grupos. Em análise a essas cartas
de naturalização pôde-se confirmar a informação, como a historiografia já
informava, que de todas as regiões de Portugal, a região Norte é a que mais se
destaca nos pedidos, durante o século XIX, e que esses imigrantes tinham uma
preferência por fixar moradia nas regiões litorâneas do Estado, como
Paranaguá, Morretes e Antonina, além de Curitiba e arredores. O que entra em
acordo com a primeira fonte analisada nesse trabalho.
Referente ao tempo de moradia desses imigrantes no Brasil a maior
parte informa estar no Império há mais de 15 anos pelo menos. Pode-se
verificar que o perfil etário desses coincide com os dados já fornecidos pelos
estudos sobre o tema, que informa que no momento da imigração os
portugueses eram em sua maioria homens, jovens e solteiros. Outro dado que
47
merece destaque é o tempo que esses imigrantes levavam para solicitar à
naturalização que era de 15 anos, ou mais.
No entanto, no que se refere ao comportamento endogâmico do grupo,
com relação ao casamento, a documentação mostra que o perfil dos imigrantes
portugueses radicados no Paraná se diferencia do modelo descrito pela
historiografia tradicional que diz que esses se casavam menos com brasileiros
do que quaisquer outros europeus, sendo suplantados nestes padrões de
casamentos endogâmicos apenas pelos japoneses, pois a maioria informava
ser casada com brasileiras.
Das cartas analisadas onde se verifica a profissão desses imigrantes, a
maior parte informava ser negociante, o que confirma os dados, que apesar
desses imigrantes serem em sua maioria de origem rural esses preferiam
atividades comerciais. Assim, embora inicialmente se submetessem a
diferentes ramos de trabalho, assim que estavam fixados na sociedade de
acolhimento buscavam atuar em áreas ligadas ao comércio e aos serviços.
Concluí-se, ao finalizar esse trabalho, que não está dado como
encerrado as possibilidades de pesquisa contidas na documentação abordada,
e que o próprio objeto desse trabalho, a imigração portuguesa ainda guarda
muitas possibilidades a serem exploradas.
48
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M.I.; SOUSA, F. de; HECKER, A. (org.s). Deslocamentos e histórias: os
portugueses. Bauru, São Paulo: Edusc, 2008, pp. 15-25.
MATOS, M. I. de. Entre o lar e o balcão: mulher imigrante. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL: A VEZ E A VOZ DA MULHER EM PORTUGAL E NA
DIÁSPORA, 1, 2005, Berkeley, p. 34. 1 CD-ROM.
MENDES, J. S. R. Lei e etnicidade no Brasil: entre a lusofobia e o
favorecimento jurídico dos portugueses. Artigos e ensaios. São Paulo, v. 61, n.
2, 2009, p. 1. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo Acesso em
05/06/2009.
NADALIN, S. O. Paraná: ocupação do território, população e migrações.
Curitiba: Editora UFPR, 2001.
50
PEREIRA, M. H. A Política Portuguesa de Emigração (1850 – 1930). Bauru:
Editora Edusc, 2002.
RIBEIRO, S. G. O tratado de 1825 e a construção de uma determinada
identidade nacional: os seqüestros de bens e a Comissão Mista Brasil-Portugal.
In: CARVALHO, J. M. de (org.). Nação e Cidadania no Império: Novos
Horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, pp. 395-420.
SCOTT, A. S. V. As duas faces da imigração portuguesa para o Brasil. In:
Congreso de Historia Económica de Zaragoza, 2001, Zaragoza. Disponível em:
http://www.unizar.es/eueez/cahe/volpiscott.pdf. Acesso em 14/10/2007.
WESTPHALEN, C. M.; BALHANA, A. P.. Portugueses no Paraná. In: LEITE, R.
L. (Org). Cultura & Poder: Portugal – Brasil no século XX. Curitiba: Editora
Juruá, 2003, pp. 23-35.
FONTES
CORRESPONDÊNCIAS DO GOVERNO DO PARANÁ. 1855-1895 Curitiba:
Arquivo Público do Paraná.
LIVROS DE REGISTROS DE DESEMBARQUE DE IMIGRANTES NO PORTO
DE PARANAGUÁ. 1876-1879 e 1885-1896. Curitiba: Arquivo Público do
Paraná.
RELATÓRIOS DE PRESIDENTES E VICE-PRESIDENTES PROVINCIAIS.
1854-1889. Curitiba: Casa da Memória de Curitiba, Museu Paranaense,
Biblioteca Pública do Paraná, Círculo de Estudos Bandeirantes e Arquivo
Público do Paraná.
51
APÊNDICES
1. Tabela com as informações relevantes presentes nos livros de registros de
desembarque de imigrantes no Porto de Paranaguá 1876-1879 e 1885-1896.
52
53
54
55
56
2. Tabela com informações relevantes dos pedidos de naturalização de portugueses presentes
nas Correspondências do Governo da Província do Paraná (1878-1892)
Registro
Data do
Pedido
13/01/1878
Sobrenome
Nome
Linhares
José
Pereira
Ap 551 p.
12
10/09/1878
Linhares
José
Pereira
Ap 625
1881
Picanço
Ap 642
28/02/1881
Gama
Manuel da
Cunha
Antonio
Ignácio
Vieira da
Ap 679 p.
70
26/12/1882
Esteves
Ap 679 p.
58
22/12/1882
Ap 679 p.
22
Ap 679 p.
192
Ap 557 p.
57
Idade Estado Civil
52
Casado com
uma
brasileira
desde 1843
Naturalidade Filhos
Súdito
Português
4 filhos
Profissão
Religião
Residente Observação
Católica
Residente
na Villa do
Rio Negro,
estando no
Brasil
desde
1837.
(Lapa)
Católica
Ilha da
Graciosa
Cidade do
Porto
Católica
42
Casado com
brasileira
Domingos
José
56
Casado
Traz dos
Montes
6 filhos
Católica
Santos
Cláudio
Fernandes
dos
41
Casado com
Clara de
Araujo
Massarellos
6 filhos
Católica
26/12/1882
Soares
Antonio da
Costa
35
Casado com
Maria Brígida
da Costa
4 filhos
Negocian Católica
te
30/12/1882
Duarte
Joaquim
Teixeira
Porto
Directoria da
Secretaria de
Estado dos
Negócios do
Império, Rio
de Janerio,
de Ordem do
Conselheiro
Ministro e
Secretario de
Estado de
Negócios do
Império,
inclusa a
carta Imperial
pela qual foi
naturalizado
o súdito
português
José Pereira
Linhares (...)
depois de
prestado
juramento e
pago
respectivo
sello.
Católica
Católica
Estabeleci
do no
Brasil há
mais de 20
anos.
(Curitiba)
Residente Juramento a
no Império Câmara
desde
Municipal
1854
Residente
em
Cutinga –
Paranaguá
No Brasil
desde
antes do
seu
casamento
Residindo
no Brasil
desde
antes de
seu
casamento
–
Paranaguá
Residindo
nessa
Província
a muitos
57
Ap 701
02/01/1883
Almeida
Joaquim
Pinto
60
Casado com
Maria José
Bittencourt
de Almeida,
natural da
cidade do
Rio de
Janeiro
Porto
4 fihos
Proprietá Católica
rio
Ap 701
05/01/1883
Rodrigues
Luiz
Ventura
42
Villa Monção, 2 filhas
Província do
Minho
Proprietá Católica
rio e
Negocian
te
Ap 701
13/01/1883
Costa
Manoel
Marques
54
ano
s
Casado com
Maria Correa
da Graça de
24 anos
natural desta
cidade
(Morretes)
Casado em
05/02/1848
com Maria
Rosa da
Costa
Villa da Feira Sem
filhos
Proprietá Católica
rio e
negocian
te
Ap 701
17/01/1883
Abrantes
José
Francisco
55
Ap 702
13/02/1883
Martins
34
Ap 702
?/03/1883
Pereira
Joaquim
Alves
Martins
Eduardo
Torres
Ap 702
09/04/1883
Vieira
Antonio
Ignácio
45
Ap 704 p.
185
?/08/1883
Pinto
Eduardo
da Costa
20
Porto
Ap 704 p.
224
?/08/1883
Borges
José da
Silveira
46
Ilha de São
Jorge
30
Casado com Lisboa
Rita Maria do
Espírito
Santo
Freguesia
Conselho de
Braga
Lisboa
8 filhos
Negocian Católica
te
anos –
Villa de
Ponta
Grossa
Residente
na cidade
de
Paranaguá
achandose no
Brasil há
mais de 35
anos
Residente
em
Morretes
Residente
em
Paranaguá
achandose no
Brasil
desde
antes de
seu
casamento
Residente
em
Guarakess
aba,
achandose no
Brasil
desde
antes do
seu
casamento
Católica
Dirige o
Colégio
de N. S.
da
Concei
ção
Católica
Residente
no Brasil
há 7 anos,
nesta
cidade a 3
anos
Católica
No Brasil
há mais de
2 anos.
Residente
na cidade
de
Paranaguá
achandose no
Brasil há
mais de 15
anos.
Residente
na cidade
de
Paranaguá
achandose no
Católica
Negocian Católica
te
(...) direitos e
regalias de
cidadão
brasileiro
vem fundado
na lei n 1950
de 2 de julho
de 1871 e
art. 14 da lei
número]
3140 de 30
de outubro
de 1882
58
Brasil há
mais de 17
anos.
Ap 705 p.
81
Ap 704 p.
258
2/?/1883
Silva
Manoel
Pereira da
Nicolau
Pitta
46
22/08/1883
Barbosa
Ap 704 p.
166
28/08/1883
Gomes
Antonio
Henrique
42
Ap 704 p.
163
29/08/1883
Ribeiro
Antonio
Cardoso
56
Ap 705 p.
31
01/09/1883
Paiva
Francisco
José
43
Ap 731
07/02/1884
Mattos
José Luis
Ap 734
12/08/1884
Martins
Manoel
Francisco
55
Casado com
Guilhermina
Maria Amaral
natural desta
cidade.
(Paranaguá)
Freguesia de Sem
Nossa
filhos
Senhora de
Louro
Proprietá Católica
rio e
Negocian
te
Ap 734
14/08/1884
Lima
Antonio
José
72
Solteiro
Porto
1 filho
Proprietá Católica
rio e
Negocian
te
Ap 734
19/08/1884
Ferreira
José de
Mattos
Porto
1 filho
de 58
anos
Católica
Ap 764
06/09/1885
Paiva
Antonio
Jose Dias
Ap 764
14/09/1885
Costa
Manoel
Pinto
Ap 764
16/09/1885
Lopes
Manoel
Ferreira
32
Província do
Douro
Viana de
Castela
Negocian Católica
te
Capitão Católica
de Navio
Conselho de
Oliveira de
Azevedo
Negocian Católica
te
Casado com São (?) de
D. Maria da
Cubellas
Costa
Ribeiro,
natural desta
cidade
(Paranaguá)
Santa
Marinha de
Arosa
4 filhos
Negocian Católica
te
Artista
Casado
Católica
Negocian Católica
te
Proprietá Católica
rio e
Negocian
te
Casado com
mulher
brasileira
Negocian Católica
te
Residente
em
Paranaguá
achandose no
Brasil há
mais de 15
anos.
Achandose no
Brasil há
mais de 30
anos –
Paranaguá
Residindo
na cidade
de
Paranaguá
Residente
em
Paranaguá
achandose no
Brasil há
mais de 18
anos.
Morador
da Villa de
Arraial
Queimado,
residindo
no Império
há 38
anos.
Residente
na cidade
de
Paranaguá
achandose no
Brasil há
21 anos
Residente
na cidade
de
Paranaguá
achandose no
Brasil há
40 anos
mais ou
menos
Paranaguá
Residente
há mais de
2 anos
nesta
cidade Morrestes
Há muitos
anos
residente
no Brasil
59
Ap 764
24/09/1885
Espínola
Francisco
César
55
Casado com
Maria
Leocádia
Pareira
Espínola de
40 anos de
idade
Ilha Fayal
5 filhos
Ap 793
05/01/1886
Figueredo
Manoel
Jerônimo
Ap 776
26/02/1886
Barbosa
João de
Almeida
Católica
Ap 776
28/02/1886
Silva
Bernardo
Marques
da
Católica
Ap 794
03/03/1886
Sousa
Antonio
José de
Sampaio e
Católica
Ap 776
13/03/1886
Silva
Católica
Ap 796
14/08/1886
Braga
João
Almeida
Barbosa
da
José
Francisco
Ribeiro
Ap 797
14/09/1886
Silva
Manoel
José da
Ap 797
17/09/1886
Couto
João
Moreira
Ap 797
27/09/1886
Silva
Antonio
Manuel
Ap 799
19/11/1886
Ferreira
Alberto
Ap 827
?/?/1887
Soares
Luis
31
Solteiro
Ap 827
27/09/1887
Guedes
Rodrigo
Lourenço
Pereira de
Mattos
33
Casado
Ap 818
?/?/1887
Luciroga
Ap 852
28/09/1888
Pereira
José de
Andrade
Manoel
Gomes
Porto
Dentista
Católica
Negocian Católica
te
Casado com
uma mulher
brasileira
Diverso
s filhos
Católica
Casado
Com
filhos de
28 anos
de
idade
Católica
Católica
23
Casado
Católica
Católica
Ilha de
Madeira
Católica
Católica
Residente
em
Morretes,
na mesma
cidade há
mais de 2
anos
Residente
no Rio dos
Patos
(sertão de
Guarapuav
a) há mais
de 15 anos
Residente
no Império
do Brasil
há 30 anos
– Campo
Largo
Reside
neste
Império há
mais de 2
anos –
Campo
Largo
Residente
no Brasil
há mais de
2 anos –
Campo
Largo
Campo
Largo
Residindo
no Brasil
desde
1852.
Residente
nesta
capital há
mais de 2
anos Curitiba
Residindo
no Brasil
há mais de
2 anos.
Residente
nesta
capital há
mais de 2
anos
Residente
nesta
cidade Curitiba
Residente
nesta Villa
(?)
Residente
há 8 anos
nesta
Província
– São
José
Católica
32
Solteiro
Católica
Residente
no Brasil
há mais de
2 anos e
60
Ap 876
04/07/1889
Santos
Pedro
Camilo
Ap 967
30/08/1892
Garset
Eduardo
Almeida
Católica
26
Católica
atualmente
nesta
cidade Curitiba
Residente
na cidade
de
Antonina
Residente
em
Antonina
61
ANEXOS
1. Livro de registro de desembarque de imigrantes no Porto Paranaguá. 1895. Curitiba: Arquivo
Público do Paraná. (p. 37)
62
2. Relatório do Presidente Alfredo de Taunay, apresentado em 03 de maio de 1886. (p. 64)
63
3. Correspondência do Governo, presente no Arquivo Público do Paraná, ap. 701. (p. 101)
64
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