RAZÃO E LIBERDADE NA FILOSOFIA DA HISTÓRIA DE HEGEL1 Carlos Prado2 Resumo: O objetivo do presente artigo é apresentar e analisar os principais pontos em torno da Filosofia da História de Hegel. Sua tese afirma que a História é um processo racional e pré-determinado. Trata-se de uma teodiceia, na qual as civilizações ultrapassaram estágios progressivos e determinados até alcançarem a liberdade. Para a compreensão dessa filosofia da história trataremos de expor conceitos essenciais como, razão, espírito e liberdade. Palavras-chave: Filosofia; História; Razão; Espírito; Liberdade. Abstract: The objective of the present article is to present and to analyze the main points around the Philosophy of the History of Hegel. His thesis argues that history is a rational process and pre-determined. This is a theodicy in which civilizations evolves progressive stages until they reach the liberty. To understand this philosophy of history will try to expose the key concepts such as reason, spirit and liberty. Key-words: Philosophy; History; Reason; Spirit; Liberty. “O homem não é por natureza o que deveria ser; ele só alcança a verdade pelo processo da transformação” (Hegel, 1995, p.351) Introdução Hegel é um dos poucos filósofos que construíram um verdadeiro sistema, que expressa a unidade do todo numa síntese universal. Seu sistema busca explicar tudo, busca a totalidade, o universal. Trata-se de uma visão global de toda a realidade, Recebido em 15/05/2014. Aprovado em 03/08/2014. Graduado em História pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Atualmente é professor do Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: [email protected]. 1 2 Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel elaborada a partir de princípios determinados. Como sucessor direto de Fichte e Schelling, Hegel constrói uma filosofia própria almejando pensar o homem e a sua história, para encontrar o cerne racional do qual brota o devir histórico. Hegel é um filósofo da totalidade e sua filosofia da história é de fundamental importância para que se alcance uma melhor compreensão sobre o seu sistema filosófico. Foi durante os anos em que permaneceu em Iena (1801-1807) que surgiram as primeiras concepções de Hegel sobre a filosofia da história. O esboço desse trabalho aparece em artigos publicados no jornal Crítica da Filosofia, editado por seu colega Schelling. Não obstante, a Filosofia da história de Hegel, foi publicada apenas em 1837. Trata-se de uma obra póstuma que foi editada por seus alunos e discípulos, a partir de notas de aula. A Filosofia da história de Hegel é uma importante obra para a compreensão do desenvolvimento da historiografia, já que sua visão da história apresenta características de várias escolas. As concepções hegelianas sobre a história surgem dialogando com a história teológica e com a história iluminista. Seu pensamento aparece como uma síntese do pensamento histórico que o antecedeu. Hegel traz em suas teses as características marcantes da história cristã, concebendo o desenvolvimento histórico como um plano divino, uma teleologia universal e da história progressista, fundamentada no Esclarecimento e na noção de progresso característica do período moderno. A história no período medieval tem como característica marcante a visão cristã dos acontecimentos. Trata-se de uma história escrita no interior dos mosteiros que apresenta a relação entre os fatos e o divino, sem uma concepção crítica por parte desses historiadores vinculados a Igreja Católica. Por conseguinte, se construiu uma visão teológica da história que compreende o movimento histórico como uma manifestação do projeto de Deus. Essa é uma das principais características da história monástica; a interpretação providencial dos acontecimentos históricos, ou seja, a vontade divina como fator determinante do processo histórico. A partir dessa concepção teológica, monges e bispos buscaram escrever grandes histórias universais.3 3Um dos mais importantes historiadores que se insere nessa tradição é Bousset. Em sua obra Discurso sobre a história universal, a história é tratada como a realização da vontade divina, cabendo ao historiador descrever esse desígnio providencial. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado Posteriormente, os filósofos do século XVII e XVIII se voltam para a história buscando encontrar nela o predomínio da razão e do progresso.4 Voltaire, por exemplo, além de ter contribuído muito para a erudição na escrita e pesquisa histórica, buscou escrever uma história universal a partir da compreensão da evolução das sociedades, da história dos homens. Trata-se de uma história idealista, mas que não é determinada pela vontade divina, mas pela evolução dos costumes e das ideias. Voltaire, assim como outros filósofos iluministas, é um defensor da razão, do homem como determinante de si mesmo e da noção de progresso baseado no esclarecimento. Michelet é outro historiador que busca encontrar um nexo comum na história da humanidade. Na sua obra Introdução à história universal, ele não busca apenas escrever uma história total, mas também se esforça para encontrar um sentido na história, uma razão. Tal sentido é o que ele chama de “a unidade da história do gênero humano”. Segundo Michelet essa unidade est| presente no confronto permanente entre o homem e a natureza. Por conseguinte, a história nada mais é do que a narração desse combate sem fim. A filosofia da história hegelina dialoga com outras escolas históricas, mas nenhum de seus antecessores foi capaz de desenvolver uma filosofia da história tão completa, da forma como Hegel o fez.5 A concepção hegeliana sobre a história é o exemplo mais marcante daquilo que Heller (1993) chama de “teoria mais elevada”. Ele estabeleceu um esquema teleológico da totalidade histórica, ordenando os eventos e estruturas a partir de uma lógica que confere unidade universal. A história se desenvolve como continuidade não apenas temporal, mas também lógica. A resposta àSinnfrage (qual o sentido da existência humana?) é o ponto de partida e o fim dessa filosofia da história. Preocupado em revelar a essência do homem, a filosofia da história de Hegel desvenda ao mesmo tempo, o “enigma” da história e da existência humana. Razão e história 4Segundo Caire-Jabinet (2003, p. 84): “Os filósofos do século XVIII como Montesquieu e Voltaire escrevem a história da “civilizaç~o” com a finalidade de compreender sua época. Nessa perspectiva, a história é posta a serviço da noção de progresso rumo ao qual a humanidade tenderia no futuro”. 5 “Em lugar nenhum est| melhor representada, do que na filosofia da história de Hegel, a absoluta prioridade da história mundial como totalidade que tudo engloba. Totalidades culturais (o espírito dos povos ou Volksgeist) s~o meras expressões parciais do espírito do mundo e incorporam “est|gios” de seu “desdobramento” (HELLER, 1993, p.298). 338 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel Hegel inicia sua exposição considerando os diferentes tipos de abordagem histórica. Em sua concepção existem três formas de tratar a história: a história original, a história refletida e a propriamente filosófica. Segundo Hegel, a primeira forma, a história original, se reduz à descrição e tradução dos feitos e acontecimentos do presente. Tal abordagem histórica não contém um grande alcance histórico, mas apenas descreve épocas breves, trata-se de representar o tempo presente elaborando narrativas e textos informativos sobre os acontecimentos que os historiadores vislumbram diante de seus olhos. Heródoto e Tucídides são as maiores expressões desse tipo de abordagem histórica pouco abrangente e irreflexiva. O segundo tipo de abordagem histórica é a refletida que, ao contrário da original, ultrapassa o tempo presente. A história refletida se divide em quatro tipos distintos: 1) a história geral aborda a totalidade da história de um povo; 2) a história pragmática trata do ensino e de reflexões morais e é utilizada na formação ética das crianças; 3) a história crítica julga a veracidade e a credibilidade de outras narrativas históricas; 4) a história conceitual já busca uma perspectiva geral e, portanto, constitui uma transição para a história universal. O terceiro gênero é a filosófica. Hegel afirma que ao contrário dos tipos de abordagens anteriores, que se submetem e ficam presos ao real existente e seus dados factuais, “{ filosófica são atribuídas ideias próprias, que a especulação produz por si mesma, sem considerar o que realmente existe” (1995, p.16). A tarefa da história filosófica é produzir uma explicação para os acontecimentos e fatos históricos que são independentes desses dados e os antecedem conceitualmente. Hegel (1995, p.17) afirma que “a história parece estar em contradiç~o com a atividade filosófica”, pois a história propriamente dita atém-se ao existente factualmente e separa a realidade do pensamento. Por sua vez, a filosofia submete a história ao pensamento de acordo com um sistema racional. Kervégan (2008, p. 109) aponta que, “Segundo Hegel, apenas para o filósofo h| um sentido na história, pois somente ele compreende que a racionalidade do realizado corresponde { efetividade racional”. Segundo essa interpretaç~o, a história n~o deve ficar presa aos fatos, não deve se contentar em narrar e descrever as atividades humanas. A história só pode ser realmente entendida se caminhar ao lado do pensamento filosófico que vai além da descrição empírica dos acontecimentos. Hyppolite (1983, p.29) acrescenta que “Hegel n~o se fixa pelo acontecimento histórico, Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado procura compreender o seu sentido profundo e descobrir uma evolução de valores sob uma mudança de instituições”. Para Hegel, a filosofia da história deve levar o pensamento para a história e encontrar o seu nexo racional, pois os acontecimentos históricos não estão desconexos, isolados e individuais, mas estreitamente ligados e racionalmente ordenados. A filosofia hegeliana deixa claro que “a raz~o governa o mundo, e que, portanto, a história universal é também um processo racional”(1995, p.17). Hegel é uma das mais importantes expressões da filosofia da Aufklärung, fortemente influenciado pela revolução francesa e pelo ideal do mundo moderno ordenado racionalmente.Sua filosofia afirma que “a raz~o não é tão impotente ao ponto de ser apenas um ideal, um simples dever-ser, que não existiria na realidade, [...]. Ela é o conteúdo infinito, toda essência e verdade” (1995, p.17). A filosofia da história hegeliana afirma que o mundo é governado racionalmente, pois a razão está na história, e esta, por sua vez, não está entregue ao acaso e a improvisações aleatórias. Por conseguinte, o papel do filósofo é buscar nos acontecimentos e ações que parecem isolados, o seu estreito nexo racional.6 O objeto analisado por Hegel é a história universal e seu problema é descobrir as leis que regem o devir histórico, leis que não apenas dirigem, mas que se revelam na própria história. Hegel não está preocupado com a história particular, com os eventos, estruturas e conjunturas históricas, mas com a história em seu conjunto, em sua totalidade.Segundo argumenta Heller (1993, p.259), “A filosofia da história n~o nos “conta histórias”; nem satisfaz nossa curiosidade como a historiografia. N~o nos leva a entrar em comunicação com o passado”. A filosofia da história n~o narra os fatos, nem descreve acontecimento, pelo contrário, ela busca ordenar ou reordenar o processo histórico de modo coerente e lógico, a fim de encontrar um sentido, uma razão, uma tendência universal na história. Para Hegel (1995, p.18), “o estudo da história universal resultou e deve resultar em que nela tudo aconteceu racionalmente, que ela foi a marcha racional e necessária do espírito universal”. Segundo essa concepç~o, a história universal tem sido uma teodiceia, na qual os fatos históricos ocorrem obedecendo a uma providência divina e, portanto, necessária e inevitavelmente para a reconciliação do espírito consigo mesmo. É preciso refletir um pouco sobre o conceito de teodiceia em Hegel, pois para ele, esse conceito 6“Apreender as transformações do espírito do mundo, adaptar o pensamento ao devir espiritual, tal é em primeiro lugar o objetivo de Hegel” (HYPPOLITE, 1983, p.29). 340 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel não está separado ou em contradição com a racionalidade. Kervégan (2008, p. 108) argumenta que: (...) em Hegel esse tema tem sentido bem diverso do que nos românticos, enquanto em Novalis ou Schlegel a afirmação do sentido teológico da história visa humilhar as pretensões da razão esclarecida, a teodiceia histórica de Hegel desenvolve uma racionalidade. Em Hegel, a providência aparece dotada de razão. Se em outros filósofos do mesmo período, a racionalidade aparece como uma negação do teológico, Hegel não compreenderá que o plano divino e a razão estejam em oposição. Para ele, a providência é a própria manifestação da racionalidade que governa o mundo. Hyppolite (1983) afirma que a posição que Hegel assume em relação à história e à razão traz à discussão os conceitos depositividade e destino. A positividade aparece como o que é dado e se impõe ao homem pelo exterior mediante coação e autoridade. Por conseguinte, a ideia de destino traz à tona a influência da tragédia grega que aparece na filosofia hegeliana como a manifestação do espírito. O destino é o espírito que se manifesta e se revela na história, do interior para o exterior, revelando a fortuna de um indivíduo ou de um povo. A história para Hegel é trágica, pois se a comédia é o homem se elevando e fugindo do seu destino, por sua vez a tragédia é o homem reconhecendo e se reconciliando com o destino.7 A filosofia da história não lida apenas com o passado, mas também como presente e com o futuro. A história é concebida como o autodesdobramento de categorias inerentes à humanidade e à história. O logos está na história, se manifesta nela e, portanto, o futuro é, necessariamente, o desfecho de uma lógica, necessária e interna. A unidade entre logos e história possibilita que desde o começo se vislumbre o fim, pois o resultado já está no presente, no começo, como pressuposto. O processo histórico apenas o revela, reconciliando o espírito consigo mesmo. Segundo argumenta Heller (1993, p. 258), “A filosofia contém o É e o Deve da história, o presente é visto como um ponto de mutação. O presente incorpora o passado histórico e também é o berço do futuro”. O É compreende o passado, ou seja, o que a história revelou ser até o presente, o Deve indica o futuro, o novo, trata-se do deve ser da história, do seu destino. A filosofia da história de Hegel é caracterizada por uma necessidade lógica que abarca o determinismo universal e a teleologia. Por conseguinte, “Compreender o espírito de um povo, o seu destino, n~o consiste, com efeito, em justapor singularidades históricas, mas em penetrar o seu sentido; o destino não é uma força brutal, é interioridade que se manifesta na exterioridade, revelação da vocação do indivíduo” (HYPPOLITE, 1983, p. 48). 7 Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado o futuro não é um enigma, ele não é desconhecido, afinal, está pressuposto no passado. O futuro é o destino, é a revelação de uma necessidade lógica e interna da própria história. A determinação da razão ou a natureza do espírito Após esclarecer que a história universal é dirigida por um princípio racional, Hegel expõe a determinação desse princípio. Trata-se de analisar a determinação em si da razão, ou seja, trata-se de revelar a determinação do espírito que governa o mundo. A razão ou espírito é definido como substância, conteúdo, matéria ativa e consciente para sua própria atividade. Se “a raz~o é o pensar livre e determinante de si mesmo” (HEGEL, 1995, p. 19), ela não se constitui externamente, pois ela é pura inquietude, atuação e produção que se alimenta de si mesma. Os pressupostos que coordenam sua atividade incessante não são encontrados nos fatos exteriores, mas nela mesma, na própria interioridade do espírito.“O espírito [...] n~o possui a unidade fora de si, ele a encontrou. Ele é em si mesmo e por si mesmo. A matéria tem a sua substância fora de si; o espírito é o ser por si mesmo” (HEGEL, 1995, p. 24). Ao definir a natureza do espírito, Hegel (1995, p. 23) diz claramente que “a subst}ncia, a essência do espírito, é a liberdade”. E se o espírito parece ter outras propriedades, “a filosofia, ensina-nos que todas as propriedades do espírito só existem mediante a liberdade, são todas apenas meios para a liberdade, todas procuram e a criam”. A filosofia especulativa de Hegel n~o deixa dúvidas de que “a liberdade é a única verdade do espírito”. A substância que rege o mundo e produz o devir histórico se revelando na própria história é a liberdade. Ela é a natureza e essência que conduz a história universal por diversos estágios, que são etapas necessárias para a reconciliação do espírito, ou seja, para a que cada homem se torne consciente dessa substancialidade. O espírito, como foi dito, é em si e por si. Sua unidade e substância não se encontram na exterioridade, mas na sua interioridade, pois o espírito está em si mesmo. Essa é a natureza da liberdade, é a sua independência. A independência de outro, de algo externo, que não está em si mesmo é o que caracteriza o homem livre. Quando sou dependente de outro que não sou eu, me relaciono com algo fora de mim e não sou por mim mesmo, não sou livre, pois, segundo Hegel (1995, p. 24), “eu sou livre quando estou em mim mesmo. Esse estar em si mesmo do espírito é a autoconsciência, a consciência de si mesmo”. 342 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel Hegel determina que a conscientização e objetivação da liberdade é o nexo racional que governa a história universal. O progresso na consciência da liberdade é fio condutor das transformações históricas, das ações e acontecimentos que pareciam estar desconexos. “A história universal começa com o objetivo geral de que o conceito seja satisfeito em si, quer dizer, como natureza; ele é o instinto inconsciente interior mais profundo, e todo trabalho da história universal é trazê-lo { consciência” (HEGEL, 1995, p. 29). As grandes civilizações representam estágios necessários que o espírito precisou ultrapassar para o homem adquirir a consciência de que é livre e transformar essa consciência, ainda subjetiva, em realidade. A filosofia de Hegel (1995, p. 67) afirma que “a história universal é, de maneira geral, a exteriorizaç~o do espírito no tempo, enquanto a natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço” A história universal aparece para Hegel como o processo no qual o espírito que abandona a si mesmo se reconhece e se desenvolve no tempo e no espaço, retornando a si mesmo. A liberdade em si mesma, enquanto substância do espírito é a única finalidade da história racionalmente ordenada. Todas as realizações da história universal convergiram para esse objetivo, para o autorreconhecimento do espírito. Segundo escreve Nóbrega (2005, p. 71), “A História toda se torna como que uma espécie de striptease do Espírito, se revelando a si próprio, tomando consciência e posse de si por uma liberdade cada vez maior.” A ideia de liberdade não é algo original do sistema e da filosofia da história hegeliana. Em todas as filosofias da história a liberdade é tomada como essência do homem, como a substância do espírito. Os filósofos que buscaram desvendar uma tendência universal na história, seja ela fundamentada no progresso, no retrocesso ou no eterno retorno, apresentam a liberdade como o nexo racional que conduz o processo histórico. Com o processo de ascensão da burguesia, a liberdade transformou-se em um valor supremo, transformou-se em bandeira de uma classe social, por conseguinte, esse processo se refletiu na filosofia do período. Os conceitos de liberdade, progresso e racionalização são característicos da Aufklärung, da filosofia iluminista e burguesa. Ao Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado refletir historicamente sobre a existência humana, ao buscar revelar a “natureza” dos seres humanos, os filósofos acabaram por ontologizar a ideia de liberdade.8 É preciso frisar que as filosofias da história - e a hegeliana não é uma exceção refletem sobre o passado, mas não são obras historiográficas, pois são elaboradas a partir do presente e em benefício deste. Trata-se de uma filosofia fundamentada em determinada visão do mundo e com intenções práticas. O compromisso de Hegel é com a legitimidade da sociedade burguesa, com a legitimação do Estado moderno. A história universal de Hegel reflete e encontra o nexo racional no passado, pré-determina o futuro e, mais do que isso, sustenta o presente. Todas as filosofias da história estão pautadas na história do agora e se voltam para o passado, para a compreensão da existência humana com os pés fixos no presente. Hegel é herdeiro da revolução francesa, do iluminismo e da racionalização e sua filosofia reflete exatamente o seu tempo. O indivíduo na história Uma vez determinada à natureza do espírito, Hegel se preocupa em investigar os meios de realização desse princípio, ou seja, como a liberdade se produz no mundo se revelando na própria história. A liberdade até agora foi analisada apenas como um princípio geral e abstrato. O espírito que governa o curso da história universal aparece como algo interior e verdadeiro, mas que ainda é subjetivo, não tem existência. Já no segundo momento a ideia se realiza.Hegel afirma que o meio para a realização objetiva “é a vontade, a própria atividade humana. Apenas por meio dessa atividade é que esse conceito e as suas próprias determinações serão concretizadas, pois eles não vigoram diretamente por si mesmos” (1995, p. 27). O Espírito só pode se manifestar na história por meio da atividade humana, a liberdade é um conceito interior e só ganha existência, mediante as ações dos homens. Na filosofia da história hegeliana, o homem não tem uma vida meramente contemplativa, mas ativa. A história aparece como resultado da sua própria atividade. Todas as filosofias da história enfrentam uma contradição interna que parece insolucionável. Trata-se do dilema entre liberdade e necessidade. Como pode a história ser ao mesmo tempo resultado da ação livre da atividade humana e a realização de um 8“Argumentou-se que a liberdade é a ideia de valor consensualmente aceita em nossa idade moderna. Em consequência, a liberdade também é a ideia de valor consensualmente aceita por todas as filosofias da história” (HELLER, 1993, p.271). 344 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel plano universal? Por um lado, a história é apresentada como a realização da vontade dos indivíduos, mas por outro, como o autodesdobramento de uma lógica interna. Ora, se a liberdade é o Telos da história, não há liberdade na história. A ação humana passa a ser caracterizada como mera manifestação de leis históricas universais.A teleologia, a necessidade universal e a lógica interna, características de todas as filosofias da história, contradiz a ideia de liberdade, negam a livre ação do homem. Ora, os homens fazem história, são sujeitos históricos ou são simplesmente objetos na história? Vejamos a sofisticada resposta de Hegel para essa contradição.9 Hegel (1995, p. 27) afirma claramente que o que direciona a aç~o humana “é a necessidade, o instinto, a tendência e a paix~o do homem.” A vontade subjetiva é o fator que atua e exterioriza a ideia que é interior. A atividade humana, meio pelo qual o Espírito se exterioriza e ganha existência, é uma atividade na qual o homem busca satisfação. A ação humana é sempre direcionada a um objetivo, a um fim em particular, no qual o homem se empenha para alcançar um proveito determinado que lhe agrade. Em uma passagem poética, Hegel (1995, p. 28) afirma que “nada de grande acontece no mundo sem paixão”.10 A atividade humana é caracterizada como livre, subjetiva, orientada por convicções próprias. O homem não atua preso a um interesse geral, mas em última instância, o empenho de sua atividade tem por objetivo sua própria satisfação, sua atividade carrega conscientemente um conteúdo particular e não geral. O homem não tem consciência da necessidade histórica, sua ação não é dirigida por um princípio maior. Não obstante, afirma Hegel, que mesmo uma atividade dirigida a um objetivo particular, alcança algo mais abrangente, algo que não estava na consciência do autor que a realiza. Mesmo os grandes homens da história, os indivíduos históricos universais, como Alexandre da Macedônia, Júlio César e Napoleão, cujos fins particulares carregam a substância da vontade universal, n~o tinham a consciência da ideia. Esses “administradores do Espírito”, n~o tinham a consciência de que sua atividade carregava em si, a manifestaç~o do espírito universal. Por conseguinte, a filosofia hegeliana responde ao dilema, “(...) por um lado afirmam a história como resultado da aç~o humana e de outro lado a alienam desta ação, tratando-a como mero objeto. (...) Vale mencionar que esta contradição interna foi resolvida uma única vez, a saber: na filosofia da história de Hegel” (HELLER, 1993, p.279). 10 “Paix~o é o lado subjetivo, formal, da energia, da vontade e da atividade, no qual o conteúdo ou o objetivo ainda permanecem indeterminados. O mesmo se encontra na própria convicção, no próprio pensamento e na própria consciência. Sempre depende do conteúdo de minha convicção, do objetivo da minha paix~o, se um ou outro é de natureza verídica” (HEGEL, 1995, p. 29). 9 Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado afirmando que a atividade humana, os desejos e paixões, principalmente dos grandes homens, se identificam com a lei universal do desenvolvimento histórico. Hegel (1995, p. 33) destaca que “os grandes homens buscavam apenas a própria satisfação e não satisfazer os outros”. Mas a satisfaç~o dos grandes homens n~o é a mesma dos homens comuns. Os grandes homens buscam uma satisfação superior, buscam grandes feitos históricos, a glória e a eternidade, enquanto que os homens comuns se satisfazem na vida privada. Por isso, as ações dos grandes homens, chamados por Hegel de “guias das almas” tem um car|ter universal e superior {s ações do homem comum. Hegel enfatiza o papel desses homens, porque é a esfera política que conduz os movimentos históricos. Por fim, os sujeitos históricos mundiais são identificados como os mais poderosos agentes históricos, que ao realizarem suas ambições pessoais, conduzem a história a um patamar mais elevado.11 Portanto, os indivíduos históricos atuam na história segundo as determinações de sua vontade subjetiva que visa um fim particular, todavia, suas ações livres e inconscientemente têm um alcance muito maior, se tornando expressão da vontade do espírito universal.12 São fins particulares desejados que alcançam fins universais inconscientes, resultado da busca de glórias histórico-universais dos “administradores do espírito universal”. Para Hegel é justamente quando os homens atuam livremente, buscando sua satisfação, sua realização pessoal que seus desejos coincidem com a necessidade, com a lógica interna do desenvolvimento histórico. O curso progressivo da história O exame da história universal nos revela que os homens e as civilizações são momentos transitórios. Homens nascem e morrem, impérios surgem e desaparecem. A história não é estática, pronta e acabada, mas ela é movimento e mudança permanente, puro devir. Analisando o devir histórico, Hegel percebeu que o curso da história “Alexandre da Macedônia conquistou parte da Grécia e depois a Ásia: portanto foi impelido pela mania de conquistas. Ele agiu graças à sua obsessão pela glória, pela conquista, e a prova de que foi movido por essas obsessões é que fez exatamente aquilo que lhe trouxe a glória” (HEGEL, 1995, p. 34). 12 “De fato é a Raz~o quem dirige a História. E existe uma “astúcia da Raz~o”, utilizando os homens da História universal, imbuídos que são, regra geral, da sede do poder da glória, da ambição, para através disto que eles buscaram restar para a humanidade uma liberdade maior, um estágio superior de civilizaç~o em que eles n~o pensaram” (NÓBREGA, 2005, p. 71). 11 346 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel universal é fundamentalmente progressivo, ou seja, o espírito racional que governa e se revela na história traz em si a noção de progresso. Segundo Hegel (1995, p. 53), “h| muito que as mudanças que ocorrem na história são caracterizadas igualmente como um progresso para o melhor, o mais perfeito”. E acrescenta que a história revela “uma capacidade real de transformação, e para melhor – um impulso de perfectibilidade”. Assim a história como movimento racional avança passando por diversos estágios em direção à liberdade, ultrapassando o imperfeito em direção ao perfeito. Apesar das transformações históricas serem múltiplas, Hegel encontra neles um elemento unificador e racional que é a objetivação da liberdade. Dessa forma, a história avança progressivamente em direção a um fim, a um objetivo absoluto, que é a reconciliação do Espírito consigo mesmo, realização da liberdade. Trata-se de uma evolução progressiva, que ultrapassando estágios determinados avança em direç~o a realizaç~o do Espírito. “A história universal representa, pois a marcha gradual da evolução do princípio cujo conteúdo é a consciência da liberdade” (HEGEL, 1995, p. 55). Cada estágio histórico representa um momento do desenvolvimento do Espírito, ou seja, representa um nível determinado de consciência da liberdade. Contudo, essa marcha histórica não ocorre de maneira contínua, unidimensional e sem interrupções, Hegel também afirma que o progresso pode ser suspenso por determinados períodos, como o foi durante o período medieval, diante do autoritarismo da Igreja Católica.13 O curso da história foi dividido por Hegel em quatro estágios: 1) o mundo oriental é a etapa mais primitiva do espírito, na qual apenas um sabe e se reconhece como livre; 2) o mundo grego é o estágio onde a consciência da liberdade alcança uma maior abrangência, mas é ainda imperfeito e, só alguns homens são livres; 3) o mundo romano, também apresenta uma liberdade restrita, privilégio de alguns; 4) o mundo germânico é a etapa final do progresso histórico, inaugurada pelo cristianismo e alcançando a formação do Estado moderno é a sociedade onde todos os homens são livres como tais. Somente no mundo germânico o Espírito completou seu desenvolvimento e a liberdade pôde se realizar. Cada civilização representa um novo 13Kervégan (2008, p. 107) afirma que Hegel “Concebe a história como terreno onde a liberdade racional se afirma ao se objetivar. Todavia, o progresso histórico não ocorre de modo linear, mas segundo um processo dialético que concebe amplo espaço às figuras da negatividade. É esse o sentido da astúcia da razão: a razão somente se desenvolve historicamente ao colocar as paixões a serviço de um designo que ninguém, exceto a filosofia, pode formular.” Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado momento do despertar do Espírito, suas leis, seu regime político, seu direito, representam um momento do Espírito na história universal. O mundo germânico é o espírito do mundo moderno, é a reconciliação do espírito consigo mesmo, ou seja, é a realização da liberdade. No Estado moderno, todos os homens são livres. Trata-se da realização no espírito como existência orgânica em si. Mas Hegel deixa claro que tal processo de reconciliação do espírito, não ocorreu sem encontrar dificuldades em seu percurso. O mundo germânico surge como uma continuação do mundo romano, pois deles adotaram a religião cristã como um sistema dogmático pronto. Mas o cristianismo que traz em seu interior a liberdade subjetiva do indivíduo afastou-se dos seus próprios princípios durante a Idade Média. Segundo Hegel (1995, p. 293), durante o período medieval, “A liberdade crist~ tornou-se o contrário de si mesma, tanto sob o aspecto religioso como no temporal, na mais cruel servid~o”. Assim, a liberdade do espírito só pôde alcançar a realidade com o advento da reforma. “O princípio crist~o passou pela tremenda disciplinaç~o da cultura, e pela Reforma lhes foram devolvidas a sua verdade e a sua realidade” (1995, p. 293). No período medieval a Igreja tornou-se extremamente autoritária, abusando de seu poder e domínio. Mas o essencial é que ela se tornou exterior. O perdão dos pecados era oferecido aos homens em troca de dinheiro, como algo sensível e externo. O que fez a Reforma de Lutero foi devolver a interioridade aos indivíduos. Cristo não está presente como forma exterior, mas pode ser alcançado pela fé e pela comunhão. A doutrina luterana rompe com a católica, apenas no sentido em que acaba com aquela relação de exterioridade. Os princípios da Reforma são fundados na interioridade, onde cada homem pode determinar a sua consciência, reafirmando que o homem pode ser livre por si mesmo. Hegel (1995, p. 346) destaca que na doutrina luterana “se encontra o novo e último lema em torno do qual os povos se reúnem: a bandeira do espírito livre, que em si mesmo está na verdade – e só nela.” O processo da reforma revigorou a verdadeira substância do pensamento, fazendo renascer a consciência do livre espírito. Mas o conceito de liberdade não se manifestou prontamente logo após reforma. Houve um processo de adaptação do Estado, do direito, da propriedade, do governo e da constituição ao conceito da livre vontade. Partindo da reconciliação do espírito na interioridade do sujeito, ela avançou para uma reconciliação exterior, se manifestando nas leis. Por conseguinte, a Reforma 348 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel resultou em diversas transformações na formação estatal. Os princípios da Igreja Protestante tiveram que travar lutas para ganhar existência política. E afirma Hegel que quem travou essa batalha em nome da liberdade, não foram os alemães, mas os franceses. O espírito da liberdade começou a agitar as mentes dos franceses contra as injustiças e os privilégios. Por conseguinte, a revolução francesa surgiu proclamando a liberdade e a igualdade, construindo o Estado moderno e dando existência ao espírito universal, estabelecendo a consciência da liberdade. Por fim, Hegel (1995, p. 363) afirma que, “Com esse princípio formalmente absoluto chegamos ao último estágio da história, ao nosso mundo, aos nossos dias”. Ao descrever o curso da história universal fica evidente a noção de progresso apontada por Hegel. Progressivamente a história foi se desenvolvendo como que de maneira similar ao sol, que nasce no oriente e se põe no ocidente. “A história universal vai do leste para o oeste, pois a Europa é o fim da história, e a Ásia é o começo” (HEGEL, 1995, p. 93). O espírito que está na história e se revela nela, percorreu vários estágios necessários, do mundo oriental ao mundo germânico, e mediante as transformações históricas, o espírito reconheceu suas determinações e os homens tomaram consciência e realizaram a liberdade. Contudo, é importante destacarmos o significado do conceito de fim da história usado por Hegel. Se a história é um desenvolvimento racional até a consciência da liberdade, então parece claro que seu objetivo já teria se realizado no Estado moderno e que, portanto, a história teria chegado ao fim. Contudo, Hegel (1995, p. 78-79) afirma em uma passagem que, “A América do Norte ainda est| sendo desbravada”, e que ela aparece como “a terra do futuro”, e mais adiante acrescenta: “Cabe { América abandonar o solo sobre o qual se tem feito a história universal”. Essas passagens deixam claro que a história para Hegel não chegou a um fim, ele não é o teórico do fim da história. Sobre o fim da história em Hegel, Kervégan (2008, p. 30-31) afirma que: Primeiramente é preciso evitar um mal-entendido concernente à equivocidade da palavra “fim”. Ela pode significar “termo” (que em alemão corresponde a das Ende) ou “propósito” (der Zweck); um propósito objetivo (telos), e não aquele que qualquer um persegue. [...] Mas “termo” evidentemente, n~o significa que a história cessaria, que não aconteceria mais nada, que o próprio acontecimento não teria mais vez. [...] Hegel quer, sobretudo dizer, o que conduz ao segundo significado, que a história mundial tem,para o filósofo, um teloscorrespondente ao que chama de Estado moderno. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351. Carlos Prado Afinal o espírito é inquietude, é movimento, devir permanente. Hegel afirma que a América do Norte pode trazer um novo desenvolvimento do espírito. Mas o que significa abandonar o solo da história universal? Esse é um enigma que Hegel não respondeu e não se preocupou em tentar responder, pois apenas o devir histórico poder| trazer essa resposta, n~o o filósofo. Hegel (1995, p. 79) diz que: “Por ser a terra do futuro, a América não nos interessa aqui, pois no que diz respeito à história, nossa preocupaç~o é com o que foi e com o que é”. Considerações finais As críticas mais recorrentes a Filosofia da História de Hegel é a de que sua interpretação não encontra sustentação na própria história. Assim, a filosofia hegeliana teria se afastado em demasia dos acontecimentos e dados concretos e criado mundos idealizados a partir de sua própria consciência interior. Critica-se Hegel por ter realizado adaptações históricas de acordo com a constituição do seu sistema. A filosofia da história hegeliana encontraria fragilidade na sua própria base história, pois se constituiria como um sistema idealizado sem raízes na própria realidade histórica. Hyppolite descreve uma das principais críticas dirigidas à Hegel. Seguindo sua interpretação,a reconciliação entre o espírito subjetivo e o espírito objetivo pode não ter se realizado plenamente na história. Sobre o problema da reconciliação Hyppolite (1983 p. 110) diz: “Subsiste no seu pensamento uma ambiguidade. É que a reconciliaç~o do espírito subjetivo e do espírito objetivo, síntese suprema do sistema, não é talvez integralmente realiz|vel.” O Espírito Absoluto e o Espírito do Povo não teriam se reconciliado perfeitamente após a revolução francesa. A história do século XIX e XX, manchada por grandes guerras e massacres, teria deixado evidente que a liberdade dos homens ainda é uma liberdade restrita e abstrata. Além disso, o conceito da racionalidade que dirige e governa a história teria sucumbido diante dos problemas e contradições elementares do mundo capitalista dirigido pelo mercado. Hyppolite (1983 p. 107) afirma que “Hegel n~o propõe nenhuma soluç~o para a crise do mundo moderno. Opõe unicamente o quadro da sociedade civil ao que apresenta o liberalismo. A liberdade assim atingida não é verdadeira, apesar de ser necess|ria”. 350 Razão e liberdade na Filosofia da História de Hegel No século XX, as histórias universais caíram em desuso e perderam seu valor científico. Historiadores e filósofos n~o buscam mais desvendar o “enigma” da história, pois reconhecem que esse enigma oculto, simplesmente não existe. Não se pode desvendar para onde a história marcha, pois a história, simplesmente, não marcha. A filosofia da história hegeliana é herdeira da história cristã e da história iluminista, também é carregada de preconceitos e eurocentrismo, isso fica evidente ao colocar a Europa como telos, termo da história e ao excluir a África e as civilizações americanas pré-colombianas da história. Contudo, como afirmava o próprio Hegel é impossível que uma filosofia ultrapasse o seu mundo, assim como é tolo imaginar que um filósofo escape ao seu tempo. Tais concepções que parecem estranhas para a história e filosofia escritas na atualidade constituíam a visão característica de uma época, da qual Hegel era parte integrante. Não obstante, apesar desses limites, consideramos a filosofia da história de Hegel, fundamental para a compreensão do mundo contemporâneo. Não importa o juízo que façamos da sua visão, racional e progressista da história, sua obra continua sendo fundamental e indispensável para historiadores e filósofos. BIBLIOGRAFIA CAIRE-JABINET, MARIE-PAULE. Introdução à historiografia. Bauru: EDUSC, 2003. HEGEL, G. W. F. Filosofia da história. UNB: Brasília, 2005. HELLER, Agnes. Uma teoria da história. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1993. HYPPOLITE. Introdução à filosofia da história de Hegel. Lisboa: Edições 70, 1983. KERVÉGAN, Jean-François. Hegel e o hegelianismo. Edições Loyola: São Paulo, 2008. NÓBREGA, Francisco P. Compreender Hegel. Vozes: Petrópolis, 2005. ROSENFIELD, Denis L. (Editor). Estado e política: a filosofia política de Hegel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 336-351.