FORMAÇÃO TERRITORIAL E ECONÔMICA DO BRASIL CONTEÚDOS Capitanias Hereditárias A “economia de arquipélago” Integração econômica e territorial do Brasil AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS Entre 1500 e 1822, o Brasil foi a colônia mais próspera de Portugal. Sua ocupação efetiva só ocorreu em 1534 e, a partir de então, o território brasileiro foi se configurando aos moldes que conhecemos hoje. Figura 1 – Brasil Fonte: Fundação Bradesco Antes mesmo de ser descoberto e ocupado, uma parte considerável do território que hoje se conhece como Brasil já estava definido como terras portuguesas, por meio da assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494. Figura 2 – Tratado de Tordesilhas Fonte: Fundação Bradesco Curiosidade: Durante o período da Expansão Marítima e Comercial, Portugal e Espanha se lançaram ao mar e protagonizaram as grandes “descobertas” das terras americanas. Em 1493, a Igreja Católica propôs uma divisão do novo mundo entre as duas potências, por meio da Bula Inter Coetera. Baseando-se na viagem de Colombo, em 1492, Portugal sabia da existência de novas terras e reivindicou uma nova divisão, que culminou com a assinatura do Tratado Tordesilhas, em 1494. Esse tratado modificou os limites do antigo pacto e determinava que todas as terras descobertas até 370 léguas a oeste da ilha de Cabo Verde pertenceriam à Portugal. As terras que ultrapassassem esses limites seriam de domínio espanhol. O Brasil tem mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de extensão e é um dos maiores países do mundo. Esse território foi se delimitando ao longo de mais de quatro séculos, por meio de inúmeras ocupações expedições e tratados. As últimas fronteiras terrestres brasileiras foram definidas em 1903, com a anexação do Acre (Tratado de Petrópolis) e a concessão de terras para a Bolívia, entre os anos de 1907 e 1909. Capitanias Hereditárias Até 1534, a colônia portuguesa na América era ocupada temporariamente em alguns pontos da faixa litorânea, quando se explorava o pau-brasil. A partir de então, deuse início ao processo de ocupação efetiva do território, com o estabelecimento das Capitanias Hereditárias, enormes faixas de terra que se estendiam do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Figura 3 – Capitanias Hereditárias Fonte: Fundação Bradesco Com as capitanias, o Brasil foi colonizado por portugueses que chegavam à América para ocupar as vastas extensões de terras que haviam sido distribuídas pela Coroa. Apesar delas se estenderem até a linha de Tordesilhas, efetivamente, a colonização ficou bastante restrita ao litoral, uma vez que a produção dos gêneros agrícolas da época ocorria, basicamente, nas áreas quentes e úmidas dos atuais estados do Nordeste. A princípio, o território foi dividido em 15 lotes de terras e concedidos aos capitães donatários, homens de confiança da Coroa, que se dispuseram a investir capitais privados na produção agrícola da colônia. Esse sistema foi responsável por fundar os primeiros núcleos de ocupação na América portuguesa. (Para saber mais sobre a organização das Capitanias Hereditárias, consulte o Tema de Estudo de História do EM: Brasil Colônia: paubrasil, ciclo do açúcar e invasões). Fique atento: os donatários eram homens de confiança da Coroa Portuguesa. Eles eram responsáveis por proteger, arrecadar impostos e promover o desenvolvimento econômico de cada capitania com custos próprios. A recompensa era a própria doação dessas imensas extensões de terras, que poderiam ser passadas aos seus herdeiros. Para beneficiar a ocupação e a diversificação da produção nas capitanias, os donatários as subdividiam em lotes menores e os doavam para colonos. Esses lotes ficaram conhecidos como sesmarias. A colonização do Brasil tinha como propósito enriquecer a Coroa Portuguesa e garantir suas posses no novo continente. Para tanto, deu-se início ao cultivo de cana-deaçúcar, fundamentado na produção para a exportação. As vastas extensões de terras serviam aos propósitos de produção de cana-de-açúcar em larga escala e, logo, os homens de confiança da Coroa tornaram-se importantes senhores de engenhos. Enquanto a extração do pau-brasil foi realizada basicamente pelos indígenas, por meio do escambo, a produção açucareira baseou-se na economia escravista, e foi responsável direta pelo desembarque de aproximadamente 5 milhões de africanos, tomados como escravos na África e vendidos aos senhores de engenho no Brasil. Estava estabelecido o sistema de plantation, que se valeu da tríade: monocultura para exportação, produção em grandes propriedades (os latifúndios) e exploração da mão de obra, para obtenção de lucro. Além da economia açucareira, que dinamizou as áreas litorâneas da atual região Nordeste, a criação de gado e a produção de outros gêneros agrícolas para subsistência, também contribuíram para a efetivação da ocupação do espaço brasileiro e sua expansão territorial. Essas atividades complementares se desenvolviam basicamente em áreas mais afastadas do litoral, especialmente, nas áreas de brejos do Sertão e do Agreste. A “economia de arquipélago” O Brasil se inseriu na economia capitalista como uma próspera colônia de Portugal, que fornecia bens primários e matérias-primas para sua metrópole (e, mais tarde, para a Inglaterra). Mesmo após a independência, em 1822, o país manteve sua tradição agroexportadora, com uma organização econômica apoiada nos ciclos econômicos. Até 1930, já no século 20, ocorreram três grandes ciclos – açúcar, ouro e café – que, juntamente com outras atividades secundárias, como a pecuária, amparavam-se em atender as demandas do mercado externo. Observe o esquema: Figura 4 – Ciclos econômicos Fonte: Fundação Bradesco Da economia colonial, até as primeiras décadas do século 20, a economia brasileira era pautada no modelo agroexportador e o território do país era bastante fragmentado, com regiões econômicas praticamente autônomas e pouco integradas entre si e com poucas trocas de mercadorias. Observe o mapa: Figura 5 – Organização econômica do Brasil até o século 19 Fonte: Fundação Bradesco Por possuir uma economia pouco integrada, afirma-se que, durante o modelo agroexportador, o Brasil organizava-se tal como um “arquipélago”. Isso significa dizer que existiam diversas áreas especializadas na produção de um ou mais produtos primários para exportação, cada uma com dinâmicas econômicas próprias e com vínculos mais estreitos com os países que comercializavam com elas, do que com as demais regiões brasileiras. Além disso, não havia redes de transporte (como as ferrovias) e comunicação eficazes que interligassem essas áreas. As poucas que existiam eram ineficientes e, basicamente, conseguiam de atender apenas o escoamento dos produtos agrícolas para os portos. Os principais ciclos econômicos tiveram seus auges em tempos e espaços distintos. Em razão disso, reforça-se a ideia de que até 1930, não havia uma economia efetivamente voltada para o mercado interno. O ciclo do açúcar prosperou entre os séculos 16 e 17, no Nordeste. Já o ciclo do ouro teve seu auge no século 18, no interior dos atuais estados de Minas Gerais e Goiás. Em contrapartida, o café viveu o auge de seu ciclo na segunda metade do século 19 e no início do século 20, tendo o estado de São Paulo como centro econômico. É importante ressaltar que, mesmo com o declínio de um ciclo econômico, a atividade que ele desempenhava não era extinta. Isto é, mesmo com a prosperidade das regiões auríferas e cafeeiras, a cana-de-açúcar continuava a ser produzida no Nordeste, contudo, não era mais o carro-chefe da economia brasileira. Assim, apesar de não estarem diretamente interligados, todos os ciclos (bem como suas economias complementares) contribuíram para o processo de formação territorial e econômica do Brasil, dinamizando novos espaços e, sobretudo, contribuindo para o processo de ocupação, delimitação e consolidação das fronteiras nacionais. Nos séculos 16 e 17, o cultivo da cana, a produção açucareira e a criação de gado contribuíram para o início da ocupação efetiva da colônia. Com as invasões holandesas e a crise da produção açucareira no Brasil, os engenhos instalados no Nordeste entraram em decadência, agravando o declínio do chamado ciclo do açúcar. (Para saber mais sobre o ciclo do açúcar e as invasões holandesas, consulte o Tema de Estudo de História do EM: Brasil Colônia: pau-brasil, ciclo do açúcar e invasões). Mesmo sem deixar de produzir e exportar a mercadoria, a atividade perdeu força, obrigando a Coroa Portuguesa a investir na exploração de outro produto. Já nessa época, incentivou-se o cultivo de outros gêneros como algodão e tabaco, bem como a exploração das chamadas “drogas do sertão” (guaraná, cacau, castanha-do-pará, baunilha, urucum, etc.), na Amazônia, como alternativa às especiarias encontradas nas Índias. Na mesma época, também se intensificaram as expedições pelo interior do território, conhecidas como entradas e bandeiras. Saiba mais: as entradas e as bandeiras foram expedições pelo interior do Brasil, patrocinadas com recursos da Coroa Portuguesa e com capital privado, respectivamente. O aprisionamento de indígenas, a captura de escravos, a busca por drogas do sertão e metais preciosos foram as principais motivações dessas viagens. As entradas e as bandeiras partiam da Vila de São Paulo de Piratininga (atual São Paulo) e foram motivadas pela crise da produção açucareira da região. As primeiras expedições foram as bandeiras de caça a índios e escravos africanos fugidos, organizadas por colonos falidos. Com o dinheiro recebido nas vendas e recompensas pelas capturas, os bandeirantes – como ficaram conhecidos – organizavam novas expedições, cada vez mais distantes, inclusive ultrapassando os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Nessas viagens, muitos deles encontraram ouro de aluvião (nos leitos dos rios), o que também motivava a organização de novas expedições, inclusive financiadas pelas Coroa Portuguesa. As expedições de caça ao ouro e outros metais preciosos, atingiram os atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, que mais tarde tornaram-se grandes centros de produção aurífera do ciclo do ouro brasileiro. (Para saber mais sobre os bandeirantes, consulte o Tema de Estudo de História do EM: Brasil Colônia: bandeirantes, ciclo do ouro e revoltas). A interiorização dos domínios portugueses promovida pelas entradas e bandeiras, mesmo tendo ultrapassado os domínios estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, inicialmente, não gerou uma crise diplomática com a Coroa Espanhola, que estava especialmente interessada em colonizar e explorar as regiões auríferas dos povos incas e astecas (atuais territórios do Peru e do México). Figura 6 – Expansão territorial promovida pelos bandeirantes Fonte: Fundação Bradesco Somente em 1750, após alguns conflitos e acordos (que não foram respeitados), Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri de 1750, que redefiniu os novos limites territoriais do Brasil. Quando a crise da produção açucareira atingiu praticamente toda a economia colonial, entre o final do século 17 e início do século 18, o Nordeste perdeu seu dinamismo e parte de sua população. Em contrapartida, a descoberta de ouro e diamante nas regiões de Minas Gerais e Goiás, deu início ao ciclo do ouro e atraiu pessoas da colônia e novos imigrantes da metrópole portuguesa, modificando a configuração socioespacial do Brasil. (Para saber mais sobre o ciclo do ouro, consulte o Tema de Estudo de História do EM: Brasil Colônia: bandeirantes, ciclo do ouro e revoltas). Saiba mais: Apesar de parecerem menos importantes, as atividades econômicas complementares – como a pecuária – deram grande dinamismo ao processo de ocupação do território brasileiro. Durante o ciclo do ouro, por exemplo, alguns núcleos de povoamento surgiram no caminho por onde as tropas de gado passavam. Essas tropas vinham da região Sul e do vale do rio São Francisco, com a intenção de abastecer as áreas mineradoras com carne e couro. Figura 7 – Quadro "Rancho Grande (dos Tropeiros)", de Benedito Calixto, de 1921 Fonte: Benedito Calixto In: Wikimedia Commons Durante o ciclo do ouro, os condutores das tropas, conhecidos como tropeiros, transportavam no lombo dos cavalos, mulas e burros, os gêneros necessários para abastecer os grandes centros mineradores, como Vila Rica (atual Ouro Preto), que floresceriam no interior do Brasil. As longas viagens exigiam períodos de paradas; com isso, muitas famílias estabeleciam pequenos povoados no caminho e dedicavam-se ao comércio e ao cultivo de gêneros agrícolas para atender os viajantes. A cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, tornou-se um importante núcleo de povoamento e eixo econômico que se estabeleceu nos arredores de uma feira de muares, objetos de couros, instrumentos e ferramentas, para atender os tropeiros do sul do país. Esse dinamismo permitiu o crescimento da cidade, o desenvolvimento de outras atividades comerciais e o surgimento das primeiras indústrias locais. No auge do ciclo do ouro, a população residente na colônia cresceu e o número de núcleos de povoamento no interior aumentou. A busca por metais preciosos exigia a permanência dos exploradores por longos períodos nas áreas de extração de minérios. O crescimento do comércio, especialmente de produtos para abastecer essa população, também contribuiu para o crescimento das vilas. À época, Vila Rica (atual Ouro Preto) chegou a ser o núcleo de povoamento com maior concentração populacional da América Latina. (Para saber mais sobre o crescimento urbano no interior do Brasil, consulte o Tema de Estudo de Geografia do EM: Espaço Urbano: o processo de urbanização no Brasil). Em termos práticos, as atividades econômicas financiadas pela Coroa Portuguesa e pelos capitais privados dos colonos promoveram uma expansão da América portuguesa para além de seus limites estabelecidos em 1494. Isto é, a fronteira econômica de Portugal era muito mais ampla e, há muito tempo, havia ultrapassado a linha do Tratado de Tordesilhas. Muitas dessas áreas brasileiras foram efetivamente incorporadas à economia colonial e aos interesses de Portugal. Da mesma forma, tanto Portugal quanto Espanha haviam reconhecido violar o Tratado de Tordesilhas, em outros territórios coloniais na Ásia. Para resolver esse impasse, foi firmado, em 1750, o Tratado de Madri, que previa a adoção de novos critérios para a delimitação dos domínios territoriais das duas potências europeias. Segundo esse tratado, os limites coloniais espanhóis e portugueses passariam a ser definidos por meio do princípio do Uti Possidetis (direito de posse), isto é, os domínios territoriais seriam delimitados a partir da definição daquele que primeiro ocupou e fixou residência e trabalho na região. Figura 8 – Tratado de Madri (1750) Fonte: Fundação Bradesco Foi por esse mecanismo que Portugal ampliou os limites da colônia e, consequentemente, delineou-se os contornos territoriais aproximados do Brasil atual. Já no século 19, após a independência, a “ação colonizadora” promovida durante o Segundo Reinado, voltou-se para o sul do país. Nessa época, incentivou-se a vinda de imigrantes europeus para atender as demandas de mão de obra, após o fim do tráfico negreiro e, especialmente, ocupar territórios com grandes vazios demográficos que existiam na região. Um dos primeiros grupos que chegou ao Brasil e fundou colônias foram os alemães, que se instalaram, sobretudo, nos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A imigração italiana também se destacou, e no fim do século 19, esse grupo já representava o maior contingente de imigrantes europeus que desembarcava no Brasil. O governo incentivou a criação de colônias agrícolas fundamentadas no sistema de apropriação de terras, por meio da colonização oficial ou particular. Nessa época, esse sistema também foi implantado em outras regiões, mas foi no sul do país que ele ganhou força. Franceses, espanhóis, holandeses, eslavos e ucranianos também migraram para o Brasil ao longo do século 19, contribuindo para o desenvolvimento de atividade agrárias e comerciais e também para a fundação e desenvolvimento de inúmeras cidades. Com a compra do Acre, em 1903, e a assinatura de tratados com Colômbia, Equador e Bolívia, nos primeiros anos século 20, o Brasil definiu seus contornos terrestres atuais. Apesar da posse da terra, da delimitação e da consolidação das fronteiras, faltava ao país, já no século 20, a efetiva ocupação das regiões Centro-Oeste e do Norte do Brasil, que só foi verdadeiramente realizada, a partir de 1960 e 1970. Curiosidade: A anexação do Acre, em 1903, e a concessão de terras para a Bolívia, entre os anos de 1907 e 1909, foram as últimas redefinições das fronteiras terrestres do Brasil; contudo, as fronteiras de um país não são definidas apenas no continente. Além dessas, e da delimitação do espaço aéreo, os países banhados por mares e oceanos ainda possuem fronteiras marítimas. A “Amazônia Azul” é uma vasta área do Oceano Atlântico sob jurisdição e soberania do Brasil. Até 2010, o território marítimo brasileiro era composto pela faixa do mar territorial, isto é, 12 milhas náuticas (ou 22 quilômetros) a partir da linha da costa, e pela Zona Economia Exclusiva, que se localiza na faixa entre 12 e 200 milhas náuticas. Na primeira faixa, o país é totalmente soberano; e, nas 188 milhas restante, é detentor de todos os recursos vivos e não vivos da água, do solo e do subsolo. No ano de 2004, seguindo o modelo da Rússia, o Brasil apresentou um plano de levantamento e ampliação de sua plataforma continental para 350 milhas ou 648 km de largura a partir da linha da costa. O pedido foi negado para os dois países. Contudo, mesmo sem aval da ONU, em 2010, o Brasil estendeu sua fronteira marítima de 200 para 350 milhas, e passou a controlar aproximadamente 4,5 milhões de km 2 do Oceano Atlântico na região que hoje chamamos de “Amazônia Azul”. O pedido foi pautado na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, que permite que países reivindiquem direitos sobre o oceano a até 350 milhas náuticas de sua costa, para além da Zona Econômica Exclusiva, de 200 milhas. Figura 9 – Proposta de ampliação da fronteira marítima brasileira Fonte: Wikimedia Commons Integração econômica e territorial do Brasil O dinamismo da atividade cafeeira, na segunda metade do século 19 e no início do século 20, novamente provocou uma reordenação espacial das atividades econômicas no Brasil. A produção do café, concentrada majoritariamente no interior de São Paulo, modernizou a região e, mais tarde, incentivou o crescimento da produção industrial, a partir da década de 1930. Foi o acúmulo de capitais provenientes do café que proporcionou a proliferação de inúmeras fábricas de bens de consumo não duráveis, como vestimentas, chapéus, velas, sapatos e alimentos, na capital paulista. As mudanças provocadas pelo sucesso do setor cafeeiro e o crescimento das atividades industriais, proporcionaram o crescimento econômico e a modernização das grandes cidades do Sudeste. Em contrapartida, outras regiões, como o Nordeste, não conseguiram acompanhar tal dinamismo. A transição de um modelo econômico agroexportador para um modelo urbanoindustrial marcou a consolidação do mercado interno e integração do território nacional. Com a indústria, a economia brasileira, pela primeira vez, voltava-se “para dentro”, isto é, o mercado interno passava a ser o principal destino das mercadorias produzidas aqui. Vale destacar que as crises internacionais e as guerras contribuíram para a diminuição das exportações brasileiras, levando os governos a pensar em alternativas para evitar que a crise mundial também se alastrasse pelo país. Assim, a produção industrial voltada para o abastecimento interno foi a principal solução. Até então, a economia brasileira era basicamente agrícola voltada para a exportação. Foi somente com a consolidação da indústria no país, que essa estrutura se modificou, haja visto que a atividade industrial foi capaz de integrar a economia brasileira e formar um mercado verdadeiramente nacional, tendo no Sudeste o polo centralizador da maior parte da produção e da geração de riqueza. A ampliação das redes de comunicação e da malha rodoviária, especialmente nos governos de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e na Ditadura Militar (1964-1985), também foi fundamental para esse processo de integração, uma vez que elas facilitaram a circulação das pessoas e, sobretudo, das mercadorias, pelo território. Vale destacar, todavia, que essa integração, em nenhum momento significou a eliminação das desigualdades regionais. Isto é, a industrialização, a modernização e o crescimento econômico do Brasil, a partir da segunda metade do século 20, não reduziram as desigualdades entre a população brasileira. O declínio da produção açucareira, por exemplo, e a ausência de um novo produto que garantisse a força econômica que o Nordeste possuía no período colonial, fizeram dessa, uma região de repulsão populacional, especialmente após o crescimento urbanoindustrial do Sudeste. Especialmente nas décadas de 1950 e 1960, muitas das famílias que saíram das regiões mais pobres do Nordeste, fugindo da escassez de água, dos graves problemas sociais e da falta de empregos e oportunidades, migraram para as regiões industriais do Sudeste, especialmente, São Paulo e Rio de Janeiro. Nessa época, além das indústrias, a construção civil atraiu mão de obra de várias regiões do país para essas cidades. Foi nesse período que a urbanização se intensificou no Sudeste e as grandes cidades começaram a crescer em um ritmo intenso. A expansão de indústrias, rodovias e outras obras de infraestrutura empregaram muitos desses nordestinos que chegavam às grandes cidades em busca de melhores condições de vida. Assim, o crescimento econômico concentrado no Sudeste, na verdade, contribuiu para a ampliação das diferenças socioeconômicas do país. Mesmo com a modernização econômica, o Brasil continuou marcado por graves problemas sociais. Se, por um lado, o desenvolvimento industrial ampliava as disparidades regionais, por exemplo, entre Sudeste e Nordeste; por outro, esse mesmo processo também provocava o aumento das desigualdades entre ricos e pobres do próprio Sudeste. ATIVIDADES 1. Quais atividades econômicas possibilitaram a conquista e a ocupação do interior do território durante o período de colonização do Brasil? 2. (FUVEST – 2014) Após o Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual Portugal e Espanha dividiram as terras emersas com uma linha imaginária, verifica-se um “descobrimento gradual” do atual território brasileiro. Tendo em vista o processo da formação territorial do País, considere as ocorrências e as representações abaixo: Ocorrências: I. Tratado de Madrid (1750); II. Tratado de Petrópolis (1903); III. Constituição da República Federativa do Brasil (1988) / consolidação da atual divisão dos Estados. Representações: Associe a ocorrência com sua correta representação: 3. O processo de formação econômica e territorial do Brasil caracterizou-se pelo predomínio, até o início do século 20, de atividades agroextrativistas distribuídas em regiões distintas e que pouco mantinham relações de troca ou de dependência. Com o avanço da industrialização, após 1930, ocorreu um processo gradual de integração do território nacional. Dentre as principais causas que explicam esse processo de integração econômica temos a) o desenvolvimento da agricultura e a assinatura do Tratado de Madri. b) o aumento populacional urbano e a anexação do território do Acre. c) a redução das exportações e o cancelamento do Tratado de Tordesilhas. d) o fortalecimento do mercado interno e a ampliação da malha rodoviária. e) a imposição de tarifas de exportação e a construção de hidrelétricas. LEITURA COMPLEMENTAR As drogas do Sertão Ao longo da colonização, observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho não apenas para o conhecimento de novos espaços, mas também para a existência de várias plantas, frutas e raízes que compunham a nossa vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas também foi de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades curativas e culinárias das chamadas “drogas do sertão”. Antes que a nossa colonização se efetivasse, a partir de 1530, toda a Europa tinha grande interesse nas especiarias vendidas nas Índias. As ervas, frutos, raízes e sementes do mundo oriental serviam para a preparação de remédios, a fabricação de manufaturas e o tempero da comida. No século XV, o advento das grandes navegações – lideradas pelas nações ibéricas – objetivava a conquista de uma rota que ligasse a Europa aos comerciantes indianos, tamanho era o interesse por esses produtos. Envolvidos em tal projeto, os portugueses acabaram conquistando uma rota de chegada ao Oriente por meio da circunavegação da África. Tal rota, apesar de cumprir o seu objetivo, acabou não sendo economicamente viável por conta do grande tempo gasto na viagem e a concorrência de outros povos que já comercializavam com os indianos. Dessa forma, a possibilidade de se vender e consumir as especiarias em Portugal acabou não sendo concretizada. Nos séculos XVI e XVII, a exploração da região amazônica acabou surgindo como uma solução para o papel econômico anteriormente desempenhado pelas especiarias indianas. Afinal, esse espaço do território colonial acabou se mostrando rico em frutas, sementes, raízes e outras plantas que tinham finalidades medicinais e culinárias. Cacau, cravo, guaraná, urucum, poaia e baunilha foram alguns dos produtos que ficaram conhecidos como as tais “drogas do sertão”. Na maioria das vezes, a extração das drogas do sertão era feita pelas missões jesuítas que se localizavam no interior do território e aproveitavam da mão de obra indígena disponível. Paralelamente, os bandeirantes, em suas incursões pelo interior, também realizavam essa mesma atividade com o objetivo de vender esses produtos na região litorânea. De modo geral, a extração das drogas do sertão atendia demandas provenientes tanto do mercando interno, como do mercado externo. RAINER, Sousa. As drogas do Sertão. Brasil Escola. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/historiab/as-drogas-sertao.htm>. Acesso em: 28 jun. 2016. 15h50min. REFERÊNCIAS CALIXTO, Benedito In: WIKIMEDIA COMMONS. Rancho Grande (dos Tropeiros). Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CALIXTO_de_Jesus,_Benedicto._Rancho_Gran de_(dos_Tropeiros).jpeg>. Acesso em: 28 jun. 2016. 11h45min. FUVEST. Vestibular 2014 – 1ª Fase. Prova de Conhecimentos Gerais. Disponível em: <http://www.fuvest.br/vest2014/provas/prova_fuv2014_1fase.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2016. 11h40min. OLIVEIRA, Rinaldo T.; SANTOS, Francisco K. O início da formação territorial brasileira: uma reflexão sobre o território em Suape. Revista de Geografia da UFPE. Recife: UFPE, 2014. Vol. 31, nº 3. Disponível em: <http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/view/928/616>. Acesso em: 29 jun. 2016. 11h40min. RAINER, Sousa. As drogas do Sertão. Brasil Escola. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/historiab/as-drogas-sertao.htm>. Acesso em: 28 jun. 2016. 15h50min. WIKIMEDIA COMMONS. Proposta de ampliação da fronteira marítima brasileira. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Br%C3%A9sil_- _ZEE_et_plateau_continental.jpeg>. Acesso em: 28 jun. 2016. 14h45min. GABARITO 1. Durante a colonização do Brasil, as atividades responsáveis pela ocupação do território, para além da faixa litorânea, foram a captura de índios e escravos fugidos e, mais tarde, a busca por ouro, realizadas pelos bandeirantes. A busca pelas “drogas do sertão”, na Amazônia, e a mineração, durante o ciclo do ouro, também promoveram uma intensa ocupação do interior do território. Além disso, ao longo de todo o período colonial, a pecuária foi responsável por abrir caminhos e criar núcleos de ocupação no interior do Brasil. 2. Alternativa A. Comentário: Os mapas mostram diferentes momentos do processo de formação territorial, delimitação dos domínios portugueses e, mais tarde, definição das fronteiras do Brasil, já enquanto um país independente. A imagem A faz referência ao Tratado de Madri (1750), que foi assinado por Portugal e Espanha e anulou o Tratado de Tordesilhas. A assinatura desse, baseou-se no princípio do Uti Posseditis. A imagem C, por sua vez, faz referência ao Tratado de Petrópolis (1903), que foi assinado entre Brasil e Bolívia e anexou o território do Acre ao Brasil. Já a imagem E refere-se à organização das divisas estaduais, já com os Estados do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Roraima e Amapá, isto é, posterior à Constituição de 1988. 3. Alternativa D. Comentário: Com o processo de industrialização, a economia brasileira priorizou atender o mercado interno. Assim, a transição de um modelo econômico agroexportador para um modelo urbano-industrial marcou a consolidação do mercado interno e integração do território nacional. Até 1930, a economia brasileira era basicamente agrícola voltada para a exportação. Foi somente com a consolidação da indústria no país, que essa estrutura se modificou, com a formação de um mercado verdadeiramente nacional, tendo no Sudeste o polo centralizador da maior parte da produção e da geração de riqueza. A ampliação das redes de comunicação e da malha rodoviária, especialmente nos governos de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e na Ditadura Militar (1964-1985), também foi fundamental para esse processo de integração, uma vez que elas facilitaram a circulação das pessoas e, sobretudo, das mercadorias.