Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP - 2016 A NATUREZA DA LUZ: UMA PESQUISA DO DECURSO HISTÓRICO PARA A VIGENTE TEORIA LARIOS, G.S1, Buscatti Junior, D.A2 1 Graduando em Licenciatura em Física, IFSP, Campus Birigui ([email protected]) Licenciado em Física e mestre em Educação para a Ciência; docente do IFSP, campus Birigui ([email protected]) Área de conhecimento (Tabela CNPq): Instrumentação Específica de Uso Geral em Física– 1.05.01.06-1 2 Apresentado no 7° Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica do IFSP 29 de novembro a 02 de dezembro de 2016 - Matão-SP, Brasil RESUMO: Este trabalho se baseia em uma pesquisa documental onde é estudada a evolução da natureza da luz, trazendo uma síntese do caminhar histórico da evolução da ciência, buscando as ideias iniciais gregas sobre o que os filósofos explicavam sobre a luz, as discussões do século XVII sobre a natureza da luz ser onda ou partícula, trazendo um percurso histórico que levou a justificar o comportamento ondulatório para a luz. Assim chegando ao século XIX onde se notou que a teoria vigente não explicava mais os dados coletados experimentalmente, surgindo então à necessidade de revê-la e propor uma da qual justificasse todos os fenômenos observados. Discutiremos os fenômenos que não eram explicados pela teoria ondulatória da luz, trazendo as propostas colocadas para justificalos. Trazendo assim uma visão histórica para a presente teoria da natureza da luz. PALAVRAS-CHAVE: natureza da luz; evolução da ciência; história da ciência; física. THE LIGHT OF THE NATURE: A COURSE OF HISTORY SEARCH FOR CURRENT THEORY ABSTRACT: This work is based on desk research where the evolution of the nature of light is studied, bringing an overview of the historical journey of the developments in science, seeking the Greek initial ideas about what philosophers explained about light, the discussions of 17th century about the nature of light is wave or particle, bringing a historical path that led to justify the wave behavior to light. So coming to the 19th century where it was noted that the current theory did not explain more data collected experimentally, emerging then the need to review it and propose which justify all the observed phenomena. We will discuss the phenomena that were not explained by the wave theory of light, bringing the proposals put to justify them. Thus bringing a historical view for the present theory of the nature of light. KEYWORDS: light of nature; developments in science; history of science; physical. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da ciência passa por grandes rupturas até alcançar uma conclusão de pensamentos, onde é possível justificar todos os fenômenos vigentes através de uma teoria. O estudo e trabalho sobre o desenvolvimento científico é importante tanto para formação de professores (PEDUZZI, 2012), quanto para o conhecimento pessoal, pois conscientiza o cidadão que a evolução da ciência é dada pelas pesquisas de varias pessoas empenhadas a resolver um problema, não dando o credito somente um pesquisador que se tornou famosos, desmerecendo o trabalho dos outros cientistas. A história sobre a natureza da luz se passa desde o primórdio da Grécia antiga com as escolas Pitagóricas que questionava o que era luz, dando uma explicação filosófica sensorial sobre o principio da visão. Após a revolução científica surgiu à necessidade de explicar este conceito fazendo o uso da matemática a fim de realizar previsões, utilizando experimentos que comprovavam a repetição do fenômeno em diversas situações (FORATO, 2009). Assim duas teorias eram discutidas, o comportamento ondulatório e corpuscular para a luz. Até o século XVIII a luz era muito bem explicada sendo considerada com onda, mas a partir do século XIX, com o avanço na tecnologia surgiu a necessidade de reformular este pensamento e criar uma teoria que ligasse o comportamento de onda e partícula para a luz. Assim este trabalho trata da evolução da ciência sobre a teoria da natureza da luz, onde estudamos o percurso histórico percorrido para o desenvolvimento desta teoria. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho permeia em uma pesquisa documental, onde estudou como foi o avanço do pensamento científico para a formulação da teoria da natureza da luz. Trabalhamos com documentos que faziam o uso da história, montando uma linha de pensamento histórico científica desde os registros existentes sobre a reflexão da natureza da luz nas escolas Pitagóricas, até o surgimento da Mecânica Quântica. Evidenciamos pontos e importantes do pensamento científico, onde houve a necessidade de uma ruptura para a introdução de uma nova teoria, fazendo a datação histórica e nomeando grandes nomes que influenciaram no desenvolvimento científico. RESULTADOS E DISCUSSÃO A natureza da luz é uma questão que vem sendo referida desde a Grécia antiga pelas escolas Pitagórica, com Platão (427-347 a.C.) que acreditava que todos os objetos emitiam pequenas partículas que eram captadas por nossos olhos. Na visão atomística grega, destacava as ideias de Leucipo (480-420 a.C.) e Demócrito (460-370 a.C.) que entendiam a luz como átomos que se deslocavam no vazio, onde a visão era dada pelo fluxo de partículas emitidas pelo objeto e assimiladas pelos olhos, uma formação de imagem totalmente sensorial. Contra a ideia corpuscular, Aristóteles (384-322 a.C.) imaginou que a luz saia de nossos olhos assim como o som saia da boca e chegando aos objetos o tornando visíveis. Segundo SILVA (2001) tínhamos ideias metafísicas tentando explicar o que era luz. As propostas sobre a ótica ficaram abertas até a revolução cientifica no século XVII, quando em 1621 Willebrord Snell (1580-1626) descobriu experimentalmente a lei da refração. Dizendo que um feixe de luz ao penetrar em um meio desvia sua orientação original, mas continuava a se propagar em linha reta (MOURA, 2008). Em 1678 Christiaan Huygens (1629-1695) sugeriu o quanto à luz era desviada da sua trajetória inicial, dependendo da velocidade que a luz atravessa no meio. Ele defendia a teoria ondulatória para luz, e caso sua teoria estivesse correta, quanto maior o índice de refração menor deveria ser a velocidade da luz para um meio mais denso que o ar. Caso a luz se comportasse como partícula, como Isaac Newton havia proposto, quanto maior o índice de refração, maior deveria ser sua velocidade de propagação. A partir do século XVII, os modelos para a natureza da luz, não estavam sendo ideias filosóficas, mas agora como pensamentos físicos voltados a resolver problemas formulando-os e buscando justifica-los. René Descartes (1596-1650) foi um dos primeiros a caracterizar a luz como um problema científico, sustentando-a como uma tendência natural ao movimento ou pressão e que propagava no Éter luminífero com velocidade infinita segundo FORATO (2009 a). Os primeiros artigos de Newton referem-se à natureza atomística da luz, deve-se notar que Hooke era totalmente avesso a teoria corpuscular proposta por Newton. Seus trabalhos publicados no ano de 1672 criticava totalmente a ideia de corpúsculo para a luz. Durante o século XVII os fenômenos óticos permaneciam em constantes debates. Neste período, Newton publicou seus primeiros trabalhos de ótica, “A hipótese da Luz” em 7 de dezembro de 1675, sendo que neste ele deixa algumas duvidas quanto a natureza da luz. A fim de não debater de frente com Hooke, presidente da Royal Society e principal critico de seu trabalho. No terceiro livro Ótica escrito por Newton contam com 31 questões que visam fazer suposições e levantar duvidas a fim de que continuem com seu trabalho. Mostrando ao leitor que ele não poderia ter certeza plena sobre a maturidade da luz, e que isto evitaria conflitos críticos na época. Na segunda metade do século XVIII, os estudos de ótica voltaram dando um toque a mais a hipótese ondulatória. Os trabalhos de Leonard Euler (1707-1783) começaram a constatar problemas na concepção corpuscular newtoniana (massa, volume, força dos corpos para refletir e refratar, conceito de inflexão, entre outros) servindo como estimulo para o ressurgimento de modelos ondulatórios reforçando a teoria de Christiaan Huygens segundo MOURA (2015). Thomas Young (1773-1829) no ano de 1801 demonstrou ondas de luz possui superposição, interferindo uma na outra, o experimento que Young usou é muito famoso e conhecido como “experimento da dupla fenda de Young”. Com ele mediu o comprimento da luz solar, estimada em 570 nm, próximo ao valor atual de 555 nm (SILVA, 2007 a). No ano de 1817 houve um fenômeno que proporcionou determinar outra característica para a luz, em 1808 Étienne Malus (1775-1812), havia descoberto que a luz era polarizada, ou seja, ela tinha lado, até então se tratava a luz como o som, que se propagava de forma longitudinal, mas a partir da descoberta de Malus em 1808, Young para explicar este problema sugeriu que a luz deveria conter uma vibração transversal à direção de propagação. Como tratou SILVA, (2010) no ano de 1850, Foucault (1819-1869) determinou a velocidade da luz em diferentes meios e demonstrou que ela se propaga com menor velocidade quando o meio fosse mais denso, sendo pela equação v=c/n. Assim a teoria corpuscular de Newton era refutada, pois todos os experimentos da época eram explicados partindo para uma teoria corpuscular. Na segunda metade do século XVIII, a eletricidade estava chamando a atenção, análoga a Teoria Gravitacional Universa proposto por Newton, à interação elétrica decaia com o quadrado da distancia, Coulomb publicou dois artigos tratando essa descoberta. Em 1819, Christian Oersted observou que cargas elétricas em movimento geram um campo magnético e em 1831, Michael Faraday mostrou que o fluxo magnético variável gerava campo elétrico. Nascendo as equações fundamentais do eletromagnetismo. Na segunda metade do século XIX James Clerk Maxwell, fez uma síntese dessas equações e por simetria percebeu a ausência de um termo entre elas. Esse termo permitiu demonstrar que o campo elétrico e magnético satisfazem equações de ondas e propagam com a velocidade da luz. Assim interpretando que a luz visível é um caso particular de onda eletromagnética. Em 1886, Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894) realizou experimentos que confirmaram a previsão de Maxwell (Silva, 2007 b). Mas em 1887, Hertz em seus estudos com a luz, evidenciou um problema do qual não conseguiu explicar usando a luz como onda, este problema se manteve em aberto até o inicio do século XX. Em 1900, Max Planck estudando a radiação emitida por um corpo negro, propôs que a luz não era continua igual se diziam anteriormente, ela deveria ser entendida como quantas de energia, não distribuída uniformemente no espaço. Assim Planck propôs para a radiação uma constante h que explicava os resultados experimentais obtidos no experimento de Corpo negro. Partindo da hipótese de Planck dos quantas de energia, Einstein em 1905 propôs que a luz possuía uma energia proporcional a multiplicação da constante de Planck pela frequência da onda, sendo então E=hf. Conseguiu explicar o fenômeno visto inicialmente por Hertz, usando uma hipótese de que a luz era quantizada (ROSA, 2004). A explicação de Planck e Einstein por mais que seja satisfatória em explicar os resultados experimentais, foi contrariada, pois no século XX a teoria ondulatória para a luz estava muito bem explicada e fundamentada. No ano de 1915, Robert A. Millikan confirmou experimentalmente as equações propostas por Einstein para explicar o efeito fotoelétrico. Compton nos anos de 1922 e 1923 obteve fortíssimos resultados que contrariavam a natureza na luz em seus estudos com Raios X, em 1912, Whalter Friedrich e Paul Kinipping observaram a natureza ondulatória para os raios X de baixa intensidade, incidindo em um cristal obtiveram uma rede de difração. Compton estudou o espalhamento de Raios X incidindo eles em um material, era esperado que o mesmo comprimento de onda incidido fosse coletado no espalhado, mas não se tinha obtinha este resultado, a onda espalhada mudava de amplitude conforme mudava o angulo de incidência, isso seria possível somente se houvesse interação destes raios com a matéria, este fenômeno ficou conhecido como Efeito Compton (SILVA, 2015). No ano de 1922, Louis de Broglie iniciou seu trabalho para explicar a possível dualidade da luz. Em seu primeiro artigo considerou como uma partícula relativística com massa não nula, e assim explicou todos os conceitos consolidados pela ondulatória usando a luz como partícula (DE BROGLIE, 1922). Em 1923, de Broglie consolidou um caráter vibracional as partículas, assim adotando que todo corpo que possui momento de inercia, possui junto a ele, um comprimento de onda associado. Explicando não somente todos os parâmetros ondulatórios utilizando partículas, como associando o movimento de qualquer partícula a uma onda, finalizando sua teoria sobre a dualidade onda-partícula (DE BROGLIE, 1923). Hoje a luz é compreendida com um caráter dual, onde, ora é onda, ora partícula, dependendo do que se queira analisar. Em suma, percebemos que o avanço científico é um processo demorado e depende do avanço tecnológico, e vice versa, assim como a aceitação de uma nova teoria deve ser muito bem embasada explicando todos os fenômenos que a antecedem, passando por longos anos de debate até sua aceitação. CONCLUSÕES Concluímos que a evolução da ciência é um processo longo que envolve discussões e rupturas, observamos através deste estudo que a tecnologia evolui junto à ciência, e quando atingimos um ponto onde os resultados experimentais não são mais explicáveis surge à necessidade de rever a teoria vigente a vim de buscar erros ou reformula-la, ou seja, a ciência esta em constante evolução. Perceber que propor uma nova teoria não é um processo simples, ela deve contem resultados experimentais que apresente repetições em diversas condições, possuindo uma formulação matemática que justifique os resultados a fim de prevê-los. O desenvolvimento da ciência não é um conhecimento gerado através de um pesquisador, percebemos neste trabalho que diversos pesquisadores buscavam explicações para o mesmo fenômeno e que todos contribuíram para a evolução do conceito. REFERÊNCIAS DE BROGLIE, L. Les quanta, la théorie cinétique des gaz et le principe de Fermat. 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