Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo História da loucura e dos tratamentos da saúde mental no Brasil Gabriel Melo Costa1, Natalia Birelo Aparecido2, Diogo Comitre3, Valdinéia Gomes Maciel4 1 Instituto Federal de São Paulo – Campus Boituva (IFSP) Av. Zélia de Lima Rosa N°100, Portal dos Pássaros, CEP 18550-00 – Boituva – SP – Brasil [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract: This article explores the theme of madness history in Brazil and mental health treatments in the country, revealing the facts on this subject started in the colonial period with the arrival of the Portuguese to the present day. The article also includes what difficulties the government to manage costs and appropriate treatments for patients, taking into account that many of these were hospitalized with the goals of not belong to the same social environment that the public considered "healthy", representing the social segregation between "sick" and "normal." Key-Words: history of madness in Brazil, treatment of mental health in Brazil Resumo: Este artigo explora a temática da história da loucura no Brasil e dos tratamentos de saúde mental no país, revelando os fatos acerca deste tema que se iniciaram no período colonial com a vinda dos portugueses até a atualidade. O artigo conta ainda quais as dificuldades do governo em gerir custos e tratamentos adequados para os pacientes, levando em consideração que muitos destes eram internados com o objetivos de não pertencerem ao mesmo meio social que o público considerado “saudável”, representando a segregação social entre “enfermos” e “normais.” Palavras-Chave: histórico da loucura no Brasil, tratamento da saúde mental no Brasil 1. Introdução Analisando a temática das políticas públicas em saúde mental, podemos considerar que a história da psiquiatria no Brasil é parte de um “processo de asilamento” (AMARANTE, 1994, p. 74). Até a vinda da família real para a América portuguesa não havia segregação espacial dos sujeitos considerados “loucos”. A partir da chegada da corte portuguesa teve início uma série de transformações urbanas e sanitária na cidade do Rio de Janeiro, começando-se a pensar na higienização da cidade, excluindo e segregando os diferentes nos porões das cadeias. Com a proposta de tratar a loucura no Brasil Imperial, surgiu o primeiro hospício a partir do Decreto n°82, de julho de 1841, assinado por D. Pedro II, o que deu origem, 82 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo em 1852, ao Hospício Pedro II, localizado então na praia Vermelha, na cidade do Rio de Janeiro (AMARANTE, 1995). A partir desse episódio teve início no Brasil um período de exclusão e marginalização dos doentes mentais, que foram gradativamente tolhidos da convivência social. Essas instituições manicomiais eram verdadeiros depósitos nos quais os “indesejáveis” eram descartados e escondidos dos olhos da sociedade. Assim, foram sendo definidos critérios subjetivos e desumanos para definir quem poderia ou não conviver com seus iguais. Nesse sentido, a sociedade brasileira passou a considerar normal o tratamento manicomial, introjetando que o lugar da loucura era no hospício/manicômio. Dessa forma, foram criados dois problemas: aqueles considerados saudáveis perderam a capacidade de conviver com as diferenças e passaram a ser intolerantes em relação aos problemas mentais; ao passo que, os que foram alvos dessas políticas estiveram privados de sua liberdade e do convívio social, passando a viver em um local que pouco ajudava no tratamento de suas dificuldades, ou até mesmo agravava o quadro encontrado no início de sua internação. Este artigo faz parte de um projeto de extensão de caráter informativo, com o objetivo de disseminar a história da loucura no Brasil, mostrando ao público o quão errado era o julgamento e o tratamento da época para com essas pessoas, persistindo até a atualidade em alguns locais. Neste projeto está sendo desenvolvido um documentário com informações sobra a história da loucura, as dificuldades e o preconceito que os enfermos sofriam por não terem acesso ao convívio social. O lugar escolhido para ser nosso objeto de estudo foi à cidade de Sorocaba, que é um dos maiores polos manicomiais da América Latina; além do Rio de Janeiro, que foi por muito tempo a capital federal e centro de referência nas políticas de saúde mental. 2. 2.1. Caracterização do Problema História da Loucura no Brasil O suporte e assistência aos enfermos na época colonial do Brasil era extremamente preocupante. A maior parte do suporte (atendimentos), era realizada por pessoas que tinham conhecimentos em outras áreas ao em vez da medicina. Naquela época não existiam pessoas com conhecimento e experiência direcionadas a psiquiatria, porém alguém ou alguma instituição teria que realizar esse suporte para estas pessoas. Restou então, aos hospitais da Santa Casa de Misericórdia cuidar dos doentes que estavam em situação de completo abandono, tornando esses hospitais como se fossem albergues para pessoas com problemas psiquiátricos que não tinham apoio ou ajuda familiar para a sua melhora. (SÁ JÚNIOR, 2007). Esse quadro preocupante começou a mudar, quando ocorreram fatos e descobertas que influenciaram no avanço do conhecimento, tornando a medicina mais semelhante aos paradigmas de suporte assistencial da atualidade. Destaca-se entre as influências mais importantes permitindo o avanço da medicina brasileira na área psiquiátrica, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Inclusive uma das reformas mais importantes e que serviram de modelo para mudanças no suporte psiquiátrico 83 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo surgiu da França. Nessa reforma estava previsto que todo e qualquer tipo de suporte que fora prestado aos enfermos era de responsabilidade médica e estatal. Dessa forma, surge no Brasil a assistência psiquiátrica pública. (SÁ JÚNIOR, 2007). O Brasil estava em uma forte transição econômica, socioeconômica e política. A mudança da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a abertura de portos, o início de atividades econômicas e educacionais e a independência refletiram em diversos aspectos do desenvolvimento do país, entre eles a assistência psiquiátrica (SÁ JÚNIOR, 2007). Com o desenvolvimento em status acelerado e o início da urbanização, diversas mudanças e soluções para problemas diários surgiram, ao passo que foram expostos novos problemas. Umas dessas mudanças propostas era a necessidade de criação de hospitais psiquiátricos no Brasil, porém essa necessidade vinha com o objetivo de “resolver” um outro problema no diz que respeito ao suporte e assistência psiquiátrica. A ideia de se criar um ambiente para o recolhimento das pessoas consideradas “loucas”, serviu apenas para retira-las do convívio urbano com outras pessoas consideradas normais. A escolha do local com nome de praia vermelha, para a construção do Hospício do Pedro II em 1841, era de localização totalmente afastada do centro urbano, o que evidenciava a segregação dos enfermos com o resto do sociedade (JORGE, 1999). A República surge em 1889 e com ela o novo nome do hospício: Hospício Nacional de Alienados, através do Decreto n° 206ª, de 15 de fevereiro de 1890, ficando sob encargo do governo federal, desvinculando-se a Santa Casa de Misericórdia. No mesmo ano da mudança de administração do Hospício foi criado e instituída a Assistência Médica Legal aos Alienados, as Colônias de São Bento e a Colônia de Conde Mesquita, todas para enfermos do sexo masculino (JORGE, 1999). Essas Colônias existiam como válvula de escape para a superlotação do Hospício, oferencendo um tratamento baseado em atividades trabalhistas, principalmente na área de agropecuária e artesanatos. Porém, nem tudo progrediu ou desenvolveu-se como o esperado. Acerca de 1902 foi aberto um inquérito para investigar diversas irregularidades presentes no Hospício Nacional de Alienados, composta por um grupo de médicos que sugeriram diversas mudanças na administração do hospital (JORGE, 1999). Como consequência, o professor Dr. Juliano Moreira foi nomeado á Diretor da Assistência Médico Legal aos Alienados. Sua monografia possuía as seguintes palavras: Conhecendo por tel-os frequentado ou visitado, os melhores manicomios do Velho Mundo, muito desejaria o novo Director chegar a obter do Poder Legislativo verba sufficiente para a construcção de um novo asylo-colonia, onde fossem attendidas todas as exigências da psyquiatria moderna (Moreira, 1905, apud Anônimo, 1922, p. 544). (...) Excusado é em insistir em que o Hospício de modo algum bastará ás necessidades da Assistência a Alienados do Distrito Federal. Excusado é também esperdiçar palavras para demonstrar que as colonias agricolas são um excellente meio de assistencia a insanos. Portanto, a citada reforma está a impor-se. A economia que advirá para o Estado, as vantagens therapeuticas para os doentes, a possibilidade de restringir a população do 84 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo Hospicio, tudo está a pugnar por esse desideratum" (Moreira, 1905, apud Anônimo, 1922, p. 539). Neste mesmo período o governo recebeu duras críticas pelos Frades da Ordem de São Bento, principalmente pelo então Diretor Geral Professor Dr. Juliano Moreira com relação das condições precárias das instalações. Como o terreno onde se localizava a Colônia de São Bento era de propriedade dos Frades, o governo decidiu adquirir a fazenda do Engenho Novo, localizada em Jacarepaguá com o intuito de construir uma nova colônia e receber os pacientes da Ilha do Governador (JORGE, 1999). Como os recursos destinados a área psiquiátrica não acompanharam o crescimento da população enferma que residiam em colônias e hospícios, em razão de uma superlotação de mulheres no Hospício Nacional, foi criada através do Decreto de 11 de julho de 1911 a Colônia de Alienadas com terreno cedido pela Marinha. (Jorge, Marco Aurélio Soares, 1977, pag. 117 adiante). A colônia iniciou-se com capacidade para 200 mulheres, com a percepção do primeiro Diretor Dr. Simplício de Lemos Braule Pinto de uma lotação acelerada, no ano seguinte a capacidade de atendimento foi dobrada. Deste modo a colônia surge única e exclusivamente para resolver o problema de superlotação do Hospício Nacional (JORGE, 1999). Na realidade, a grande verdade que pairava sobre aquele época, era a de isolar os doentes mentais com o resto da sociedade e dos grandes centros urbanos. Mesmo que a justificativas fossem de criar melhores condições e um ambiente adequado para a reabilitação dos enfermos, as colônias e hospícios se deterioravam e lotavam com o tempo, há de se destacar que parte deste problema vinha do modelo manicomial da época, e da falta de recursos necessários que eram disponibilizados pelo governo. Nesse sentido, a própria justificativa de que o isolamento do convívio social era explicado por um ambiente adequado para o tratamento fica difícil de ser sustentada; isso porque os manicômios não possuem nenhum equipamento, máquina ou tecnologia específica que não possa ser encontrado fora dele (JORGE, 1999). O Dr. Braule Pinto, diretor da colônia de alienadas falaceu em 18 de setembro de 1918 e com ele suas ideias e paradigmas de administração da colônia. Assume então o Dr. Gustavo Riedel, que impõe uma série de modificações na instituição e influencia muito no modelo de assistência psiquiátrica do país naquele momento. Uma de suas iniciativas, foi a criação do primeiro ambulatório psiquiátrico da América Latina em 1918 com nome de Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro. (Sampaio, 1988), a criação do primeiro serviço aberto do Brasil que tinha como objetivo um estudo mais aprofundado do doente promovendo um acompanhamento genético, a Assistência Hetero-Familiar com ajuda do Dr. Juliano Moreira e uma escola de enfermagem (JORGE, 1999). A Assistência Hetero-Familiar tinha como objetivo principal o corte de gastos públicos e diminuição da população interna. Esse serviço foi implantado em 1921 com a construção de 11 pequenas casas onde viveriam as enfermeiras e suas famílias, em cada casa poderiam ser hospedadas até dois enfermos, o ponto interessante deste projeto e que os enfermos que ali moravam iniciavam um convívio social com pessoas que não faziam parte da mesma realidade que eles. Porém o projeto não teve continuidade e foi 85 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo abandonado, os dados históricos não permitem apontar quando o projeto foi descontinuado (JORGE, 1999). Em 1938, Adauto Botelho assume a direção da Assistência aos Alienados, instaura mudanças na Colônia de Alienadas no Centro Psiquiátrico do Engenho Novo, local onde receberiam os doentes do Hospício Nacional de Alienados. Com isso, o Centro Psiquiátrico tinha como objetivo receber os doentes do Hospício (JORGE, 1999). Em 1974 é implantado o Plano de Pronta Ação pelo Ministério da Previdência e Assistência Social. Assim, toda e qualquer assistência médica referente a saúde pública analisada antes pelo INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Deste modo, somente trabalhadores registrados que tinham uma porcentagem do seu salário descontada para o INPS, é que tinham direito a assistência médica. (Jorge, Marco Aurélio Soares, 1977, pag. 117 adiante). Na assistência mental no Rio de Janeiro, não existiam leitos de internação próprios do INPS, o INPS contratava clínicas para reserva de leitos dos pacientes. A partir desse período os hospitais do Ministério da Saúde passaram a atender basicamente este tipo de público (JORGE, 1999). No final da década de 70 e início da década de 80 o país iniciava um período onde a redemocratização possui grande importância. Paralelo a isso a economia beirava a recessão, o que induziu a uma crise previdenciária.Com a continuidade progressiva da crise econômica, iniciou-se o processo de reformulação da política de saúde entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência Social, visando, em tese, o corte de gastos públicos e a melhoria da qualidade de assistência da população (JORGE, 1999). Aproximadamente em março de 1980 foi criada a Comissão Inter Ministerial de Planejamento e Coordenação (CIPLAN). No ano de 1981 foi criada também o Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária (CONASP). Um grande trunfo proposto pela CONASP que teve grande importância nas possíveis mudanças políticas na área de assistência social, foi o Plano de Reorientação que buscava o planejamento de recursos e previsibilidade orçamentária, integração dos ministérios, regionalização e hierarquização dos serviços entre outras mudanças. Este projeto foi proposto em 23 agosto de 1982 (JORGE, 1999). A partir deste projeto, surgiu-se outro muito importante: o Programa de Reorientação da Assistência Psiquiátrica Previdenciária, elaborada em Dezembro de 1982. Este projeto mostrava claramente que o modelo manicomial da época não era o modelo mais correto a ser aplicado e seguido (JORGE, 1999). Apesar de toda pressão e crítica ao modelo da época, o objetivo do projeto era a diminuição da participação médica no tratamento e na diminuição dos procedimentos hospitalares, faltava ainda iniciativas ou projetos para a descentralização do aparato manicomial (JORGE, 1999). No final da década de 1990 os movimentos sociais, com destaque ao Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil, denunciaram a situação de confinamento e violência estabelecida nos manicômios, mascarada por uma política de tratamento, que foi comparada a um campo de concentração. Várias ações e debates permitiram que as políticas fossem modificas para tornar o tratamento mais humanizado, como por 86 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo exemplo, a Lei n° 10.216/01, que “redirecionou o modelo da assistência, regulamentou o cuidado especial com a clientela internada há longos anos e previu possibilidade de punição para a internação involuntária, arbitrária ou desnecessária” (BRASIL, 2001). Apesar dessas conquistas, muitos entraves ainda são encontrados a despeito das novas diretrizes, pois existem, ainda, alguns polos manicomiais que sustentam préconceitos e desinformação sobre o tema, como é o caso do município de Sorocaba/ SP. A importância deste projeto está no caráter de discutir essa temática e contribuir para a materialização da defesa dos direitos humanos e a formação libertadora, crítica e inquietante (Freire, 1978), tanto dos alunos do Instituto, quanto dos demais jovens e adultos convidados a refletir sobre a problemática proposta por este projeto. 2.2 História dos Tratamentos de Saúde Mental no Brasil 2.2.1 Convulsoterapias Tratamento na qual o paciente era submetido à indução de convulsões por inalação de cânfora indicado para o tratamento dos quadros de psicóticos, baseada na crença de que a epilepsia e a psicose seriam moléstias antagônicas e excludentes, por volta de 1600. Houve ainda diversas tentativas: inocular parasitas da malária em pacientes terminais, choque insulínico em pacientes agitados, convulsões com o cardiazol entre outros que obtiveram resultados razoáveis. (Ministério da Saúde, Memória da Loucura). 2.2.2 Eletroconvulsoterapia Em 1937, os pesquisadores Ugo Cerletti e Lucio Bini utilizaram a passagem de corrente elétrica no cérebro que provocavam uma convulsão generalizada. Essa técnica foi bastante utilizada muito por causa da sua fácil aplicação, porém desapareceu rapidamente com o fim da Segunda Guerra mundial na Europa, no Brasil ele foi abolida por volta da década de 80. (Ministério da Saúde, Memória da Loucura). 2.2.3 Lobotomia Tratamento cirúrgico na qual o médico destruía a substância branca dos lobos temporais do cérebro, provocando uma mudança na personalidade do paciente. Essa técnica era indicada em casos extremos provocando sempre uma deterioração cerebral irreversível. Os avanços da psicofarmacologia determinaram a abolição da técnica. No Brasil a técnica foi abolida em 1955. (Ministério da Saúde, Memória da Loucura). 2.2.4 Psicofarmacologia Por volta da década de 50, com o avanço das pesquisas na área da psiquiatria, aumentou o uso de novos medicamentos para o tratamento de doenças mentais. Em 1952, os pesquisadores franceses Jean Delay e Pierre G. obtiveram um resultado satisfatório com o tratamento de doenças mentais com uma substância chamada a clorpromazina, testada anteriormente por Henri-Marie Laborit, produzindo uma hibernação. A ação psicofarmacológica que reduzia a agitação motora, a atividade alucinatória e delirantes, chamada de neurolepsia inaugurou uma nova fase da psiquiatria. (Ministério da Saúde, Memória da Loucura). 87 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo 3. Fundamentação Teórica Este projeto está ancorado no referencial teórico da desinstitucionalização (SARACENO, 1998), do Breve Histórico da Psiquiatria no Brasil: do período colonial á atualidade (SALVADOR DE MIRANDA, 2007), do engenho de dentro (MARCOS AURELIO SOARES, 1997), do loucos pela Vida: A Trajetória da Reforma Psiquiatria no Brasil (AMARANTE, 1995). Compreende-se a importancia do estudante (re)-conhecer e confrontar com as diversas formas de invalidação e negação das pessoas com desabilidades (SARACENO, 1999). Nesse proceso, considerando OLIVER; NICÁCIO (1999) há necessidade: da superação das instituições asilares, da transformação das estruturas institucionais existentes e da produção de projetos territoriais de atenção que possam contemplar os procesos de singularização e da validação da dimensão interativa entre pessoas e contextos (p. 61). Diante de tantos paradoxos, um deles está relacionado às políticas de intervenção no campo da saúde mental. O municipio de Sorocaba/SP conta com quatro hospitais psiquiátricos e na região mais três hospitais oferecem vagas para internação. Há que se destacar que a média de leitos SUS disponibilizados nessa região varia de 220 a 536 e especificamente na cidade de Sorocaba é de 1396 leitos, acrescido de 1403 leitos correspondentes à região, que significa um total de 2799 leitos. Considerando as internações de longa permanência nesses hospitais, temos como resultado o número de 2219 pessoas que se tornaram moradoras, sendo que 1039 correspondem ao município de Sorocaba. Esta situação determina uma ocupação de 79% de leitos SUS por moradores na região (Censo Psicossocial, 2008). A maioria dos hospitais psiquiátricos deste Distrito é de natureza privada, havendo apenas um que é gerido por entidade beneficente sem fins lucrativos. No hospital psiquiátrico Vera Cruz ficou comprovada a situação de abandono dos pacientes, uma grande parte deles não tem nenhum documento, além de que “90 pessoas se encontram internadas há mais de 10 anos, e outras 15 há mais de 30 anos” (Censo realizado em hospital psiquiátrico, 2014). Ainda, é importante analisar o índice de mortalidade nessas instituições, que corresponde a 118% maior do que a dos outros dezenove manicômios do Estado de São Paulo, com mais de 200 leitos e que significa uma morte a cada três dias, conforme a pesquisa apresentada pelo prof. Marcos Garcia (http://www.use.ufscar.br/news/professor-do-campus-sorocaba-recebe-premio-porpesquisa-sobre-mortes-em-hospitais-psiquiatricos). 4. Metodologia No início do projeto, coordenadores e bolsistas discutiram sobre o modelo de saúde mental no Brasil ao longo da história, refletindo sobre os objetivos do projeto, a saber: a eficácia dos tratamentos em saúde mental e a humanização da questão da loucura, além da necessidade de convivermos com as diferenças. 88 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo Após essa etapa os alunos desenvolveram um roteiro que está sendo utilizado como parâmetro para as entrevistas. A maior parte das entrevistas já foram realizadas e vários atores que promovem a saúde mental foram ouvidos, além de usuários da rede de saúde pública, familiares dos mesmos e membros da comunidade. O mapeamento dos entrevistados foi construído conjuntamente entre todos participantes do projeto, a escolha levou em consideração a diversidade de interlocutores influenciadas pelas diversas experiências e dos papéis que ocupam no eixo da saúde mental. O próximo passo após a coleta do material audiovisual, é a edição e produção das cenas, que já teve início no mês de maio. As diferentes câmeras, vídeo e áudio já foram sincronizados. Ainda falta fazermos os recortes para a edição final de acordo com o roteiro. As temáticas escolhidas para o roteiro, foram as que melhor elucidaram o problema, ou seja a institucionalização da doença mental nos hospícios psiquiátricos e a produção de moradores reféns a lógica manicomial, especificamente no município de Sorocaba e região. A equipe que compõe este projeto, participa ativamente de todas a etapas realizadas até o presente momento, ou seja, da elaboração do projeto de pesquisa, construção do roteiro, produção das entrevistas, edição da entrevistas e geração das cenas. Após a finalização do documentário, espera-se que o mesmo possa ser utilizado como instrumento de reflexão e conscientização em instituições de ensino, através de debates entre a comunidade acadêmica. 5. Estado Atual do Trabalho ou Resultados O projeto segue em desenvolvimento pleno. O levantamento sobre a história da loucura e das políticas públicas voltadas para a saúde mental já foi produzido, juntamente com os agentes considerados importantes e ao mesmo tempo estavam envolvidos na gestão e no trabalho na área da saúde mental. A maioria das entrevistas já foram gravadas e as imagens das câmeras já foram sincronizadas com o áudio. A decupagem do material já foi realizada, restando executar os cortes para a edição de acordo com o roteiro já finalizado. Também é preciso selecionar as músicas que irão compor a trilha sonora, assim como gravar imagens que ilustrarão o conteúdo da entrevista, além das referências externas que serão inseridas. Etapas essas já definidas no cronograma para o segundo semestre. 6. Conclusão O documentário explora a temática da Saúde Mental, revelando a situação dos hospitais psiquiátrica da região do município de Sorocaba/SP, considerado o maior polo de institucionalização da doença mental no país. O modelo de tratamento proposto é da hospitalização das pessoas enfermas, culturalmente conhecidas como “loucas”. A partir 89 Anais do I Simpósio Interdisciplinar de Tecnologias na Educação [SInTE] – IFSP Câmpus Boituva 24 a 26 de junho de 2015 – Boituva SP – Capital Nacional do Paraquedismo da crítica desse modelo, procuraremos discutir a situação da hospitalização a partir diretrizes de desinstitucionalização que ocorreram em outros municípios. Além produção do documentário, o vídeo terá um caráter educativo, no sentido desmistificar a loucura, discutir o respeito ás diferenças e estimular uma postura tolerância e de defesa do direito de liberdade e cidadania (PITTA, 2001). de da de de Espera-se que ao final do projeto o material produzido fique a disposição do instituto federal como um todo, podendo ser inscrito em congressos que abordem o tema extensão bem como abordem a temática específica deste. O material poderá ser exibido mesmo com o término do projeto, pois o mesmo ficará disponível e poderá servir de apoio para demais projetos que seguirem a mesma linha e formato realizado neste. Além disso, espera-se que o material produzido sirva como reflexão para o público sobre a vida dos doentes mentais e a correta forma de tratamento que a sociedade precisa ter com estas pessoas. Referências CERLETTI, Ugo;; BINI, Lucio. “Memória da Loucura: Eletroconvulsoterapia” . Site do Ministério da Saúde, online, Disponível: http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/tratamentos.html. Acesso em: 22/04/2015. DELAY, Jean; G. Pierre. “Memória da Loucura: Psicofarmacologia”. Site do Ministério da Saúde, online, Disponível: http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/farmaco.html. Acesso em: 23/04/2015. FERNANDES, Flora. (2009) “História da Psiquitria no Brasil”, https://psicologado.com/psicopatologia/psiquiatria/historia-da-psiquiatria-no-brasil JORGE, Marco Aurelio Soares. (1999). A Casa d'Engenho: sobre a constituição de um serviço de atenção diária em saúde mental. Cadernos IPUB (UFRJ), Rio de Janeiro, v. 14, p.205213. 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