VIDA & ARTE DIÁRIO DA REGIÃO Sábado, 4 de outubro de 2014 / 7C Posso tomar meu café da manhã? Gisele Bortoleto [email protected] Nem toda coleta para exame de sangue precisa mais ser feita com até 12 horas de jejum. Laboratórios de todo o País, aos poucos, começam a não exigir mais o jejum prolongado para a maioria dos exames laboratoriais. Mas o que era para parecer simples, na verdade, tem causado insegurança nos pacientes, que não entendem porque, afinal, alguns laboratórios exigem jejum para alguns exames, enquanto outros apenas tempo reduzido ou até dispensam o jejum. Hoje, já existem mais de 4 mil exames diferentes. Isso se tornou possível graças aos novos equipamentos e métodos que permitem que a alimentação não interfira no resultado da maioria dos testes. A controvérsia já deixou as portas dos laboratórios e Stock images/Divulgãção Laboratórios de todo o País buscam novo consenso sobre exigência de jejum antes dos exames. Avanço da tecnologia já possibilita um cenário em que a alimentação não interfere no resultado dos testes ganhou as esferas institucionais. O assunto jejum vem sendo discutido desde o ano passado e foi tema de debate novamente este ano no Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, realizado na primeira quinzena de setembro, no Rio de Janeiro. Uma comissão composta por médicos patologistas, grupos de classe e laboratórios de todo o País está sendo formada pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) para tentar se chegar a um consenso e estabelecer diretrizes científicas, com base nos protocolos adotados hoje pelos laboratórios, de acordo com os equipamentos e processos utilizados para a realização desses exames. A ideia é chegar a um consenso que simplifique a vida de médicos, laboratórios e pacientes. Por que se exige jejum? “Na maioria dos exames, não existe a necessidade do jejum e, sim, numa minoria de casos”, explica o médico Manoel Cavalcanti de Albuquerque, do Laboratório Hemat, em Rio Preto. No entanto, quando os médicos pedem exames, incluem na relação os que ainda exigem a restrição temporária da alimentação. Para evitar que a coleta do sangue seja feita duas vezes, prevalece, então, no “paco- te”, o jejum, por conta dos exames para os quais tal condição ainda é necessária. “Temos uma relação no laboratório dos exames que necessitam ou não de jejum, o que possibilita que o paciente, se não for o caso, possa escolher o melhor horário para fazê-los e evitar o movimento dos horários de pico, como os da manhã”, explica. Os únicos que exigem jejum, segundo o médico, são os exames de glicose, triglicérides e vitamina C. (GB) Menos tempo de espera Ainda que nem todos os laboratórios tenham eliminado o jejum, muitos já diminuíram o período para duas, três ou quatro horas, dependendo do exame. É o caso do Fleury Medicina e Saúde, em São Paulo. A maioria pode ser feita apenas com três ou quatro horas sem ingerir alimentos – uma boa notícia para quem quiser aproveitar para realizar procedimentos em horários alternativos, como no período de almoço ou no fim do dia, por exemplo. Nairo Sumita, assessor médico na área de bioquímica da clínica do Fleury, explica que o período clássico de 12 horas foi definido com base no tempo máximo que uma pessoa normal levaria para metabolizar todo o alimento ingerido na última refeição. Os valores de referência dos exames foram estabelecidos com base em um grupo de pessoas nesse estado de jejum. Mas, hoje, é sabido que cada pessoa tem um metabo- lismo diferente e, por isso, atualmente, a maioria dos exames pede no mínimo até três horas de jejum. “Isso porque entendemos que, em média, uma pessoa já metabolizou grande parte do alimento ingerido nesse período”, diz Sumita. Entre os exames mais solicitados pelos médicos, a maioria pode ser realizada no Fleury com jejum de três horas, como hemograma, creatinina, ácido úrico, T4 livre, T4 e T3. Em algumas situações especiais, o médico pode solicitar exames duas horas após a refeição: são os denominados exames em estado pós-prandial, por exemplo, muito comuns em pacientes diabéticos para controle do nível de glicose após a alimentação. Nesse caso, o médico faz a solicitação por escrito. Para dosagem de glicose para diagnóstico de diabetes, o jejum mínimo ainda é de oito horas. Já para o perfil lipídico é de 12 horas, devido à dosagem de triglicérides. (GB) COMO É HOJE ■ COMO ERA ANTES ■ ■ ■ ■ ■ Exames que não exigem jejum ■ ■ ■ ■ Exames que ainda exigem jejum ■ ■ ■ ■ ■ ■ Recomendações importantes Para todos os exames, nunca deixe de se alimentar por mais de 14 horas. “Nada mais pode ser coletado depois desse tempo, porque o organismo usa sua reserva e começa a queimar gordura, proteína, alterando os parâmetros laboratoriais”, alerta Sumita. Além disso, vale lembrar que, para a dosagem do perfil lipídico, é preciso evitar atividade física vigorosa por 24 horas antes do exame, e não ingerir bebidas alcoólicas nas 72 horas que antecedem a coleta de sangue. “O jejum é estritamente necessário em exames relacionados diretamente ao processo de digestão, como glicemia e triglicerídeos”, explica Rafael Jácomo, diretor técnico do Laboratório Sabin. Nestes casos, a coleta fora do período adequado pode levar a resultados que não são, de fato, clinicamente significativos”, completa . (GB)