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informática
CORREIO BRAZILIENSE
Brasília,terça-feira,27 de novembro de 2007
Editor: Renato Ferraz//[email protected]
e-mail: [email protected]
Tel: 3214 1184
DOR DE CABEÇA, CANSAÇO CRÔNICO, FALTA DE APETITE SEXUAL? SE VOCÊ ACHA QUE ESSES SÃO APENAS MALEFÍCIOS CAUSADOS PELO ÁLCOOL OU
CIGARRO, CUIDADO: OS CULPADOS PELOS SINTOMAS ACIMA AGORA PODEM SER O CELULAR, O COMPUTADOR E ATÉ O CONTROLE REMOTO
Paulo H. Carvalho/CB
A ERA DO
CÁSSIO E SEUS COMPANHEIROS
ELETRÔNICOS: ANSIEDADE,
DESESPERO E CANSAÇO
TECNOESTRESSE
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E
Ao pensar que viver longe da tecnologia seria a
única a forma de tratamento, o comerciante Carlos
de Andrade*, 32 anos, relutava em procurar ajuda.
“Não podia ficar sem navegar um dia. Quando a internet caía, eu suava frio. Mas também não queria
perder minha esposa”, relembra. Prestes a pedir a
separação, a esposa de Carlos, Joana de Andrade*,
30 anos, descobriu que, ironicamente, poderia usar
o instrumento de vício do marido a seu favor e entrou em contato com a Clínica da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Lá os viciados
em internet podem ser tratados por e-mail, sem se
identificar. “O atendimento eletrônico não exclui o
atendimento pessoal. A finalidade é sensibilizar e
orientar o paciente a buscar uma psicoterapia”, explica a coordenadora do projeto, Rosa Sarah.
Os casos variam de acordo com a época, mas a
maior parte tem relação com traições online, jogos digitais e, claro, o excesso de tempo que as pessoas passam na rede. “Quando há preocupação com o tempo
que alguém fica conectado, dificilmente é o próprio
doente, mas alguém próximo que entra em contato
conosco”, conta Rosa. “Não há um padrão de ajuda.
Cada caso reportado é avaliado de forma individual, e
recebe um tratamento diferenciado”. O grupo trabalha com assuntos ligados à tecnologia desde 1995.
Para Joana, o auxílio eletrônico foi fundamental
para tratar o marido e salvar o casamento. “Depois
da orientação online, ele finalmente procurou um
psiquiatra. Hoje, ele tem consciência de que não é
preciso abandonar a tecnologia e, sim, aprender a
conviver com ela”, diz Joana.
*NOME FICTÍCIO PARA PRESERVAR A IDENTIDADE DA FONTE
LEIA MAIS SOBRE TECNOESTRESSE NA
PÁGINA 4
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le vive cercado por uma parafernália eletrônica. Um computador para baixar desenhos japoneses e games, laptop para conversar com os amigos no MSN e bisbilhotar
o Orkut, além de aparelho de som, televisão, guitarra elétrica, celular, iPod. Esses são os companheiros inseparáveis, mas também responsáveis
por momentos de angústia do funcionário público
Cássio Ferreira Magalhães, 28 anos. Há algumas
semanas, quando faltavam 5% para terminar o
download de um programa, Cássio ficou desesperado com a possibilidade da conexão da internet
cair e decidiu ficar acordado até o fim do processo.
“A ansiedade e o desespero me consomem diariamente. Vivo cansado e com dores de cabeça. Mas
não tem jeito, não abro mão da tecnologia. Eu preciso estar atualizado”, diz ele. “Cheguei ao ponto
de desligar o celular para ninguém me achar”, revela a tática usada para afastar os amigos.
Ainda não é possível precisar ao certo quantos
eles são, mas em uma sociedade onde a demanda
por informação é crescente, o número de pessoas
com estresse tecnológico, assim como Cássio, aumenta na mesma velocidade em que produtos
tecnológicos são despejados no mercado. Um
dos problemas identificados é a tendência dos
aparelhos eletrônicos ficarem cada vez mais
compactos e integrarem várias funções simultâneas: checar e-mail, acessar a web, telefonar. A
exposição massiva e constante à informação em
tempo real exige enorme disciplina por parte de
quem os utiliza. Do contrário, as seqüelas podem
ser graves. “Com a internet, por exemplo, as pessoas não têm noção do total de informação disponível. Por isso, começam a usar os recursos
tecnológicos sem ter um foco e têm dificuldade
de limitar e controlar o uso da tecnologia. Algumas precisam tomar remédio controlado tamanha ansiedade”, ressalta a professora e psicóloga
do Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília (UnB), Suely Sales Guimarães.
Segundo uma pesquisa realizada pela Internacional Stress Management Association (Isma-BR),
que ouviu 1,2 mil profissionais entre 25 e 55 anos,
de Porto Alegre e São Paulo, 60% dos entrevistados
apresentaram sintomas de um tecnoestressado.
Desconfortos como dor de cabeça, cansaço crônico, falta de apetite sexual, insônia e ansiedade estão entre as conseqüências apontadas no levantamento feito pela Isma. Dos entrevistados, 83% disseram sofrer de ansiedade, 63% reclamaram de
cansaço crônico (constante), 22% indicaram falta
de apetite sexual e somente 18% conseguiram reduzir o uso da tecnologia. “Trata-se de um fenômeno mundial e bastante preocupante, já que a
maioria das pessoas não consegue relacionar os
sintomas ao uso da tecnologia por falta de conhecimento”, alerta Ana Rossi.
O empresário Luis Benebez, 45 anos, só percebeu os malefícios causados pelo uso do celular e
do notebook quando afetou o relacionamento
com a família. “Estava sempre cansado e nervoso,
mas achava que era estresse do dia-a-dia. Depois
do tratamento, descobri que a tecnologia criava
uma ansiedade diária de informação e eu acabava
brigando com a minha ex-mulher e meu filho”,
conta. Após um ano de tratamento com psicólogo,
Luis agora desliga o celular antes de dormir e usa o
notebook somente no horário de expediente.
“Consegui organizar meu tempo e, hoje, fico mais
tempo com a família, faço esportes e aumentei minha produtividade no trabalho”, diz.
I-1
DA REDAÇÃO
SINTOMAS DE UM
TECNOESTRESSADO
Físicos
Dores musculares nas costas,
nos ombros, no pescoço, nos
braços
Dor de cabeça
Disfunções do sono (insônia,
sono agitado, pesadelos)
Falta de concentração
Emocionais
Frustração
Raiva
Irritação
Comportamentais
Isolamento social
Disfunção sexual
(perda de libido)
Falta de iniciativa
(passividade)
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