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Diagnóstico por Ultra-som de
Dioctophyma renale em Cães
Ultrasound Diagnosis of Dioctophyma renale in Dogs
Luis Cardoso Alves - Médico Veterinário – Mestre - Professor adjunto
das disciplinas de Semiologia, Clínica e Diagnóstico por imagem, curso
de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Marcio Aurélio da Costa Teixeira - Médico Veterinário – Professor
adjunto da disciplina de Diagnóstico por Imagem , curso de Medicina
Veterinária da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Maria Tereza C. Queirolo - Médica Veterinária – Mestre - Professora
adjunta da disciplina de Parasitologia, curso de Medicina Veterinária
da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Maria Inês Witz - Médica Veterinária – Mestre - Professora adjunta
da disciplina de Cirurgia, curso de Medicina Veterinária da Universidade
Luterana do Brasil – ULBRA
(4)
(5)
Jairo Ramos De Jesus - Médico Veterinário – Residente do Hospital
Veterinário da Ulbra
(6)
Caroline Golin Porto - Acadêmica de Medicina Veterinária – ULBRA,
Estágiaria do setor de Diagnóstico por Imagem
(7)
Renata Marques - Acadêmica de Medicina Veterinária – ULBRA,
Estágiaria do Laboratório de Parasitologia
Endereço para correspondência: Luis Cardoso Alves. Av. Carlos Gomes, 531/203 - Boa Vista Porto Alegre /RS - 90.480-003 - e-mail: [email protected]
RESUMO
Dentre os meios auxiliares de diagnóstico a ultra–sonografia vem
caracterizando-se como rápida, segura e não invasiva. Neste estudo é
realizada uma breve revisão sobre a ultra-sonografia de rins normais,
abordando técnica do exame, equipamentos e são relatados dois casos
onde os cães portadores de Dioctophyma renale, foram submetidos a
exames ultra-sonogáficos, e nefrectomia do rim parasitado. As imagens
Veterinária em foco
Canoas
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da ultra-sonografia foram comparadas macroscopicamente com os
achados na cirurgia. Concluiu-se que os aspectos ecográficos do rim
parasitado podem ser identificados por ultra-sonografia. Portanto é este,
um método seguro, rápido e não invasivo para o diagnóstico de
Dioctophyma renale em cães.
Palavras-chave: cão, ultra-som, Dioctophyma renale.
ABSTRACT
Among the auxiliary methods of diagnostic, the ultrasound is getting credit because it is qualified as fast, safe and no invasive. The present article
a breef revision about the use of ultrasound on normal kidneys, including
the methodology of examination and the required equipment, and also
are reported two cases where the host dogs of the Dioctophyma renale
were submited to ultrasound exames, and nephrectomy of the parasited
kidney. The ultrasound images were compared with the surgery findings.
It was possible to conclude that echography aspects of the parasited kidney, not found in the consulted bibliography, can be identified by ultrasound examination. Therefore, this is a safe, fast and no-invasive method
to confirm the diagnosis of Dioctophyma renale in dogs.
Key words: dog, ultrasound, Dioctophyma renale.
INTRODUÇÃO / REVISÃO
A avaliação renal por ultra-sonografia, é indicada como um procedimento de rotina de primeira escolha para esse fim, pois permite informações
anatômicas relacionadas com tamanho, contorno e arquitetura do órgão
(GREEN, 1996). Na realização do exame para a maioria dos casos não é
necessário a utilização de tranqüilizantes, sendo suficiente a contenção
mecânica com o paciente em decúbito dorsal ou lateral em uma mesa
(MUZZI, 1997). Para a obtenção de um bom exame é fundamental a realização de tricotomia em toda região abdominal, principalmente regiões
abdominais laterais e paracondríaca direita, avançando cranealmente um
ou dois espaços intercostais. Dependendo do tamanho do animal são indicados transdutores lineares ou convexos com freqüência entre 3,5 a 7,5
mega hertz (Mhz). O exame é realizado por varredura com o transdutor,
em cortes perpendiculares e sagitais ao maior eixo do corpo, após a aplicação de gel condutor na área de estudo. A identificação de alguns órgãos tais como bexiga, baço, estômago e fígado, servem como janela acústica para localização dos rins. Na maioria dos cães o rim esquerdo localiza-se na região abdominal lateral esquerda, dorsal ao polo ventral do baço,
e caudal ao estômago; o rim direito encontra-se na região paracondríaca
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direita, caudal ao fígado e sob o arco costal. Na ecografia a capsula renal
aparece como uma fina linha ecogênica, a cortex é hipo- ecogênica, a
medular não é ecogênica, e a pelve aparece ecogênica na área central do
órgão ( NYLAND & MATTON 1995 ). Segundo MITTLESTAEDT (1992) a
função renal não pode ser diretamente correlacionada com o tamanho
ou ecogenicidade do órgão, entretanto achados inespecíficos tais como
irregularidade no contorno, pouca definição cortico-medular podem ser
observados na falha renal crônica.
O objetivo deste estudo é descrever os aspectos ecográficos de dois casos
observados na rotina do Hospital Veterinário da ULBRA, onde os cães eram
portadores de Dioctophyma renale.
RELATO DO CASO
Em novembro de 2000 e maio de 2001, dois cães adultos, pesando aproximadamente 10 kg, machos, de rua, foram recolhidos pela disciplina de
Parasitologia para estudo de ecto e endoparasitas. Na triagem o exame
parasitológico de urina revelou a presença de ovos de Dioctophyma renale.
Os animais foram submetidos a exames ultra – sonográficos, posteriormente submetidos a nefrectomia do rim parasitado.
Para os exames ultra- sonográficos foram utilizados dois aparelhos, um
Toshiba modelo SONOLAYER SAL 55 AS, equipado com transdutores, um
setorial de 3,5 Mhz, linear de 2,4 Mhz, e um linear de 7,5 Mhz, congelador
de imagem e gravação da mesma em filme de RX. O outro um PERCEPTION ULTRASOUD modelo GPS 5000, possui um transdutor convexo de 3,5
Mhz, um linear de 7,5 Mhz, congelador de imagem e vídeo printer. Com o
animal contido em uma mesa, após a tricotomia e colocação de gel condutor, os animais foram submetidos a exames por varredura abdominal,
com os transdutores disponíveis.
RESULTADOS NOS DOIS CASOS
Os transdutores que permitiram as melhores imagens foram os lineares
com freqüência de 7,5 Mhz.
O rim esquerdo foi localizado na região abdominal lateral esquerda, e o
direito na região paracondríaca direita.
Nas imagens ecográficas do rim esquerdo foram identificadas a cápsula,
ecogênica e bem definida, sem irregularidades, região cortical hipoecogênica, região medular não ecogênica, e pelve renal ecogênica, todas estruturas com interfaces bem definidas (figura 1).
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Figura 1 – Imagem ecográfica do rim esquerdo c- cápsula,
r- região cortical, m- região medular p– pelve
Na suposta zona de localização do rim direito não foi observada uma imagem ecográfica semelhante a descrita acima para o rim esquerdo. Foi identificado na região paracondríaca direita uma massa, quase o dobro do tamanho do rim esquerdo, com uma cápsula externa ecogênica, e em seu
interior dois padrões de ecogenicidade: hora foram visualizadas várias estruturas com círculos externos hiper- ecogênicos e em seu interior círculos
não ecogênicos (figura 2) ; e mudando a posição do transdutor foram visualizadas uma camada linear interna não ecogênica contígua a duas camadas lineares externas hiper- ecogênicas em alguns cortes (figura 3).
Figura 2 - Imagem ecográfica do Dioctophyma renale no rim direito
c – capsula t – cortes transversais do parasita
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Figura 3 – Imagem ecográfica do Dioctophyma renale no rim direito
T- corte transversal dos parasitas L- corte longitudinal nos parasitas
Os animais foram encaminhados à cirurgia onde foi confirmado a presença de dois parasitas (um macho e uma fêmea) no interior do rim direito, totalmente destruído, restando apenas a cápsula renal (fig 4).
Figura 4 – Dioctophyma renale parasitas recuperados do rim direito à
cirurgia
No primeiro cão, foram identificados também mais dois parasitas (um
macho e uma fêmea) livres na cavidade abdominal, além de lesões granulomatosas nos ligamentos dos órgãos abdominais, posteriormente confirmadas em exame histopatológico como ovos do parasita. Esses achados
não foram observados no exame ecográfico.
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DISCUSSÃO
A obtenção das melhores imagens com os transdutores lineares com 7,5
Mhz de freqüência, é justificada pelo tamanho dos cães (pequenos) pois a
freqüência mais alta apesar de possibilitar menor capacidade de penetração, o que não é necessário em animais pequenos, permite uma melhor
definição de imagem. Com relação ao formato do transdutor (linear) foi o
único disponível, por outro lado, em nossa experiência observamos vantagem no uso de transdutores convexos para exame da cavidade abdominal.
A presença de estruturas circulares hipo-ecogênicas menores envoltas por
áreas circulares hiper-ecogênicas, e ou camadas lineares hipo-ecogênicas
limitadas externamente por camadas lineares ecogênicas, contornadas
todas por uma cápsula ecogênica, encontradas nos locais onde deveria
estar o rim direito, parece ser suficiente para o diagnóstico de Dioctophyma renale por ultra-sonografia, pois não foi encontrado até o momento
na literatura, patologia com características ecográficas semelhantes. Também não foi encontrado, na literatura consultada, referência da ultrasonografia como meio de diagnóstico para esse fim. CORWIN & NAHM
(1997) referindo-se às possibilidades de diagnóstico citam a presença de
ovos na urina (se os parasitas adultos estão no rim), laparotomias, ou
necrópsia, e a radiografia. O exame posterior do parasita permitiu concluir que a área ecogênica mais externa corresponde a camada muscular,
e a parte interna não ecogênica corresponde ao aparelho digestivo visualizados respectivamente em cortes perpendiculares e sagitais.
Nos dois casos o rim esquerdo apresentou aparência ecográfica normal, e
os parasitas encontravam-se no rim direito. DUNN, (1978) relata que no
hospedeiro definitivo o parasita migra na cavidade abdominal para o fígado e posteriormente ao rim, sem uma explicação para o fato que estatisticamente apenas um rim é parasitado, preferentemente o direito. KOMMERS
et al (1998) afirma que em 81,2% dos cães necropsiados foram encontrados um ou mais parasitas no rim direito, e em 18,7% os mesmos foram
observados na cavidade abdominal. FORTES (1993) adicionalmente informa que os parasitas adultos além de serem encontrados no rim direito, são
também, mais raramente observados no peritônio, fígado e testículos.
CONCLUSÃO
Baseado neste estudo conclui-se que a imagem obtida pela ultra-sonografia abdominal é única, típica, permitindo distinção entre Dioctophyma
renale e as patologias renais descritas até o momento. Trata-se, portanto
de um método seguro, rápido, e não invasivo que pode ser rotineiramente
utilizado para o diagnóstico de Dioctophyma renale adulto em cães.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORWIN R. M. & NAHM J. disponível em http:/web.missouri.edu/~vmicrorc/Nematoda/EnoplidsDrenale.htm Acessado em 20/04/2001. Published by RM Corwin and Julie Nahm, University of Missouri College of
Veterinary Medicine 1997.
DUNN, A. M. Veterinary Helminthology. 2ed. London: Willian Heinemann
Medical Books, 1978.
FORTES, E. Parasitologia Veterinária. 2ed. Porto Alegre : Sulina, 1993.
GREEN, R. W. Small animal ultrasound. Phyladelphia: Lippincott – Haven,
1996.
KOMMERS, G. D. et al Dioctofimose em cães. Ciência rural UFSM, v. 28, n
3, p. 517-522, 1998.
MITTLESTAEDT, C. General ultrasound. New York: Churchill Livingstone,
1992.
NYLAND, T. G. & MATTON ,J .S. Veterinary diagnostic ultrasound. Philadelphia: W. B. Sauders, 1995.
MUZZI, L.A. et al Ultra-sonografia da próstata em cães. Clínica Veterinária, ano II, n. 11, 1997
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