Estudo de 15 casos de dioctophyma renale na região de

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XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
ESTUDO DE 15 CASOS DE DIOCTOPHYMA RENALE NA REGIÃO DE
PELOTAS-RS
STUDY OF 15 CASES IN DIOCTOPHYMA RENALE PELOTAS-RS REGION
¹VALLE, B. D. S. ; ¹SAPIN, C. F.; ¹SILVA-MARIANO, L. C.; ¹FIALHO-XAVIER, A.
G.;¹RAPETTI, J.; ¹GRECCO, F. B.
¹FVET- Universidade Federal de Pelotas-RS
[email protected]
PALAVRAS CHAVES: Rim; Cães; Parasita
INTRODUÇÃO
O Dioctophyma renale é o maior nematóide conhecido, também chamado de verme
renal gigante, é cosmopolita e a infecção em cães é relatada em diversas partes do
mundo, apesar de ser considerada incomum. No entanto, em algumas regiões há
números crescentes de casos ao longo dos anos, principalmente próximo a locais com
populações ribeirinhas (Monteiro et al., 2002).
O parasita é encontrado frequentemente no rim direito, mas também pode ser observado
no rim esquerdo, livre na cavidade abdominal, cavidade torácica, ureteres, bexiga e
tecido subcutâneo. O homem assim como os carnívoros, adquire o D. renale através da
ingestão de carne crua de peixes parasitados pela forma larval infectante (Verocai et al.,
2009; Figueiredo et al., 2013). Ainda existe o questionamento de outras fontes de
infecção para cães errantes, como roedores domésticos, que vivem em locais próximos a
água onde se reproduzem com êxito. A infecção de ratazanas pode estar envolvida na
rota de contaminação dos animais que se alimentam do que estiver disponível nos locais
onde passam (Silva, 1994).
As infecções causadas pelo D. renale, podem ser assintomáticas ou ocasionar sinais
clínicos como cólicas renais e hematúria. O diagnóstico é através da identificação dos
ovos em urinálise, achados acidentais em procedimentos cirúrgicos e necropsias.
Exames de imagem, como a ultrassonografia, são usados para avaliação da cápsula e da
arquitetura renal, o método em corte transversal dos rins pode sugerir a presença do D.
renale, importante no diagnóstico precoce e tratamento da dioctofimose (Brandão,
2012). O tratamento é a nefrectomia (Brun, 2002; Gomes, 2007).
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O objetivo desse estudo é descrever 15 casos de D. renale em cães na região de PelotasRS, através da análise de dados do Laboratório regional de diagnóstico da Faculdade de
Veterinária (FV) da Universidade Federal de Pelotas-RS.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado uma análise dos protocolos de encaminhamento de materiais de 15 cães
com diagnóstico de parasitismo por D. renale e que vieram a óbito ou foram submetidos
a nefrectomia. As necropsias e os exames histopatológicos foram realizados no
Laboratório Regional de Diagnóstico da FV da UFPel-RS no período de 2011 a 2015.
Os fragmentos de órgãos e tecidos foram fixados em formalina a 10%, clivados e
processados rotineiramente, seccionados a 3µ e corados com hematoxilina e eosina.
RESULTADOS
O estudo foi realizado no período de 2011 a 2015, no qual o LRD recebeu 2.631
materiais de cães, sendo 584 necropsias, 1920 biópsias e 117 órgãos. Os materiais
analisados eram provenientes de animais que foram atendidos e avaliados clinicamente
no hospital de clínicas veterinárias (HCV) da Universidade Federal de Pelotas-RS e
representaram 0,57% do total de materiais do período, dos órgãos recebidos, 3,41%
representaram casos de dioctofimose, e 1,9% das necropsias. Dos 15 cães deste estudo,
quatro passaram por nefrectomia e 11 foram recebidos para avaliação post mortem. Em
alguns casos foram achados incidentais de necropsia.
Em relação à raça dos animais acometidos, 12 eram sem raça definida, um labrador, um
poodle e um pit bull. Totalizaram nove machos e seis fêmeas, com idades de dois a seis
anos. Os principais sinais clínicos descritos nos protocolos foram dor abdominal, apatia
e anorexia. Os quatro cães submetidos à nefrectomia tiveram essa indicação com base
nas imagens obtidas no exame ultrassonográfico que indicavam a presença do parasita.
Nas 11 necropsias realizadas as principais lesões encontradas afetavam o rim direito e
eram caracterizadas por atrofia do parênquima, fibrose da cápsula e presença do parasita
que por uma vez afetava ambos os rins.
DISCUSSÃO
No presente trabalho foi observado o predomínio do parasitismo renal, e em um caso o
parasita foi encontrado em ambos os rins. A localização dos parasitas adultos nos
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hospedeiro definitivo pode estar relacionada com o local de penetração das larvas no
trato digestivo, podendo seguir até o fígado, rim esquerdo, rim direito, ou livres na
cavidade abdominal (Verocai et al., 2009; Silveira et al., 2015).
Os animais se infectam através da ingestão de carne de peixe crua ou pouco cozida e de
anelídeos aquáticos infectados com a forma larval. Alguns autores ressaltam o acesso
dos animais parasitados a ambientes aquáticos e sua relação com a transmissão do D.
renale (Monteiro et al., 2002). Nas cidades que se encontram localizadas à margem de
rios os cães errantes são os mais afetados devido ao acesso as áreas contaminadas e ao
peixe cru pelas atividades de pesca dos moradores, favorecendo a alta ocorrência de
infecção nos cães (Silveira et al., 2015), corroborando com o presente trabalho, pois a
cidade de Pelotas encontra-se banhada pela Laguna dos Patos e por dois arroios com
grande colônia pesqueira. Segundo Ferreira et al. (2010), trabalhos mostrando
diagnóstico e tratamento de pacientes com a infecção ainda são escassos e geralmente
são relatos únicos, o que difere de outros autores que relataram um número expressivo
de casos em seus trabalhos (Kommers, 1999; Silveira et al., 2015).
A prevalência do D. renale na região sul do Rio Grande do Sul é crescente, segundo
Sapin et al. (2016) de 1978 a 2014 foram relatados 16 casos, enquanto no presente
trabalho foram relatados 15 casos nos últimos cinco anos. Ainda, segundo os autores, a
casuística de lesões no trato urinário no LRD/UFPel durante esse período foi de 4,0%.
Neste estudo podemos observar dioctofimose em 3,41% dos órgãos recebidos. Esse
resultado deve-se provavelmente ao uso da ultrassonografia como aliado no diagnóstico
precoce, sendo possível realizar o tratamento através da nefrectomia (Brun, 2002;
Silveira et al., 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico de D. renale em 0,57% do total de materiais recebidos no período e
3,41% dos órgãos recebidos. Esta casuística mostra um aumento no diagnóstico da
parasitose nos últimos anos. A associação com a ultrassonografia provavelmente
contribuiu para esse resultado, o que mostra a importância do diagnóstico precoce e a
investigação da presença do parasita nas populações suscetíveis.
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REFERÊNCIAS
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