Universidade de Brasília – Departamento de Antropologia Teoria Antropológica 1 – 135194 – 02/2016 Turma B (seg./qua. 14h às 15h50) Professor Henyo T. Barreto Fº Aluno: Guilherme Oliveira do Espírito Santo Matrícula: 15/0011300 3º Exercício de Avaliação (Prova para casa) Grupo 1 (Questão 4): A partir das elaborações de Mauss em “O Ensaio sobre a Dádiva”, defina ‘fato social total’. No Livro “O Ensaio da Dádiva”, mais precisamente no capítulo de conclusão de sociologia geral e moral, Mauss define o que seria o fato social total (ou geral). Dessa forma, considera-se um fato social total: “Eles põe em ação, em certos casos, a totalidade da sociedade e de suas instituições e, noutros casos, somente um número muito grande de instituições em particular quando essas trocas e contratos dizem respeito sobretudo a indivíduos” (MAUSS, Marcel. In Sociologia e Antropologia. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca das sociedades arcaicas. São Paulo. 2003. Pág 309) Dessa forma, fato social total pode ser definido como fenômenos que fazem a totalidade (ou grande parte) da sociedade e das suas instituições agirem. No entanto, de acordo com Mauss (1925) , esses fenômenos são todos ao mesmo tempo jurídicos, econômicos, religiosos, estéticos, morfológicos e outros, afinal, esses pilares ocorrem durante assembleias, feiras, mercados e outros lugares que tenham relações sociais. Além disso, para Mauss, é muito importante o estudo dos fatos sociais por ter vantagens: generalidade e realidade. Vantagem de generalidade diz respeito à universalidade que esses fatos gerais podem tomar, inclusive mais universais que as diversas instituições ou os temas das instituições. Já a vantagem de realidade diz respeito ao fato de que, com o fato social, consegue-se ver as coisas como realmente elas são, de forma concreta e verdadeira. Grupo 2 (Questão 4): Explique a seguinte formulação de EvansPritchard: “Num certo sentido, todo tempo é estrutural, já que é uma ideação de atividades colaterais, coordenadas ou cooperativas: os movimentos de um grupo”. De acordo com Evans-Pritchard (1940), os Nuer tem uma peculiaridade com relação ao tempo comparada a nossa sociedade ocidental. Essa diferença se define pelo fato de que o tempo é definido de duas formas: Tempo Ecológico e o Tempo Estrutural. O tempo Ecológico é definido por relações com o meio ambiente. Dessa forma, tem uma percepção cíclica dividida em ciclos ecológicos e suas estações. Um exemplo dessas relações com o meio ambiente são as chuvas fortes que ocorrem no fim de setembro e começo de outubro e acabam por modificar as atividades dos nuer, que se voltam para atividades de pesca e acampamento de gado. Já o Tempo Estrutural é caracterizado pelas relações mutuas dentro das relações sociais, e parece ter um sentido progressivo (para um indivíduo que vive no sistema social), que de acordo com o autor, é uma ilusão. Dessa forma, é importante ressaltar que ambos os tempos se referem a acontecimentos que possuem bastante interesse para que a comunidade note esses acontecimentos e os relacione com a sua vida. Já explicado o que seria esse tempo estrutural definido pelo autor, podemos responder o porquê de nesse certo sentido, todo o tempo é estrutural: “Existe, contudo, um ponto onde podemos dizer que os conceitos de tempo cessam de ser determinados por fatores ecológicos e tornam-se mais determinados pelas inter-relações estruturais, não sendo mais um reflexo da dependência do homem da natureza, mas um reflexo da interação de grupos sociais. ” (Evans-Pritchard. Os Nuer. São Paulo: Ed. Perpectiva. 1993 [1940]. Pág. 118) De acordo com o trecho acima, alguns aspectos temporais que seriam caracterizados como tempo ecológico seriam, após um ponto, diminuídos da relação homem-natureza, e mais pensados pelas relações sociais. Dando o exemplo do ano, o autor explica essa situação demonstrando que um dos contextos mais comuns é definir o ano de um acontecimento pela localização que as pessoas da aldeia fizeram o acampamento de estiagem. Isto é, não se define realmente pela data numérica do ano, mas sim pelos acontecimentos e localizações que ocorreram no ano como casamentos, cerimônias, lutas e outros, portanto, atividades entre as pessoas. Além disso, é importante perceber que para Evans-Pritchard (1940), o tempo é pensado de acordo com a localidade quando se trata do espaço estrutural e se torna evidente quando são examinados os nomes dados aos anos pelas tribos. Dessa forma, com a importância das localidades para o ano do povo, os movimentos do grupo são essenciais para a temporalidade dos Nuer. Portanto, Evans-Pritchard formula esse trecho pensando que, de acordo com a forma de que o tempo ecológico se transforma em tempo estrutural (descrito anteriormente), torna-se importante as movimentações e localidades dos grupos em que foram feitas certas atividades sociais durante um tempo. E tudo isso se torna importante para definir a temporalidade de um ano ou outro espaço de tempo. Grupo 3 (Questão 5): Como a Escola Sociológica Francesa (Durkheim, Mauss e outros) elabora a relação entre indivíduo e sociedade? Um dos maiores representantes da Escola Sociológica Francesa, Émile Durkheim, vê essa relação entre indivíduo e sociedade baseada no pensamento de que o homem é considerado um ser formado por duas partes (a individual e a social) que formam a personalidade dele. Dessa maneira, a sociedade se relaciona com o indivíduo de forma que ela se impõe a ele, mas ela não é definida como a junção de todos (somatória de todos os indivíduos) e sim como um pilar que está acima deles. Constatado esse fato, Durkheim explica que a sociedade possui natureza própria e se reproduz por meio do fato social. No texto “As regras do Método Sociológico” o autor define muito bem o que é o fato social, como maneiras de agir, sentir e pensar que tem uma relação com o indivíduo de coercitividade (são impostas ao indivíduo), de generalidade (não ocorrem para um indivíduo específico, mas para o coletivo) e de exterioridade (não são resultado da consciência do indivíduo, portanto são exteriores a ele). Já para Mauss, outro autor importante da escola sociológica, ao estudar a história de como os homens elaboraram o conceito de si mesmos ao longo do tempo, chega à conclusão que a ideia de pessoa não é algo criado de forma inata. Isto é, essa ideia é resultado de um processo de construção social. Portanto, o fato social total é definido por um sistema de relações que possuem um controle simbólico. E esse fato social estabelece a relação entre o indivíduo e a sociedade de forma que os signos são exteriores ao indivíduo (sendo imposto a ele). Além disso, Mauss reflete a respeito do fato da sociedade possuir ideia (formadas pela consciência coletiva) e morfologia (que é o fato da relação das representações coletivas e outras ideias ocorrerem constantemente e, dessa forma, são construídas também socialmente, assim como a ideia do espírito humano).