PRIMEIRO SEMINÁRIO NACIONAL DE CONTROLE DE RISCO EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS NAS ENCOSTAS URBANAS RECIFE, DE 24 A 27 DE AGOSTO DE 2003. A FORÇA METROPOLITANA E A EXPECTATIVA FRENTE OS RUMOS DA POLÍTICA NACIONAL Saúdo em nome dos prefeitos dos municípios da Região Metropolitana do Recife, a todos que compõem a mesa, Senhor Ministro das Cidades, Olívio Dutra, Senhor Governador do Estado Jarbas Vasconcelos, saúdo aos profissionais que participam desse seminário, aos representantes comunitários, as ONGs e a todos que moram e trabalham nos morros deste País. A nossa região metropolitana do Recife, por acumular imensos contrastes sociais e pela integração técnica e política, vem consolidando conquistas e fórmulas no enfrentamento do problema da habitabilidade nas favelas alagadas e nas encostas de risco nos morros. Somos 14 municípios, com fortes contrastes sociais e com diferentes níveis de problemas, que precisam de soluções rápidas e continuadas. Não nos dobramos as nossas diferenças, muito pelo contrário, temos buscado através da integração metropolitana resolver nossos problemas. Consolidamos o CONDERME (Conselho de Desenvolvimento Metropolitano) como elo aglutinador de forças políticas e técnicas, mas esta articulação não tem sido suficiente para resolver os problemas que se apresentam na forma e na intensidade que precisamos. Temos trabalhado sempre com certa defasagem entre a demanda gerada pela carência das populações mais pobres e nossa capacidade de atendê-la. É verdade que já avançamos muito nesses últimos anos. Fizemos um Diagnóstico Integrado do Problema e construímos um Manual de Orientações Técnicas que será lançado hoje, nesta solenidade. Alguns dos nossos municípios metropolitanos já trabalham com modelos de gestão integrada, tanto com um monitoramento permanente para evitar novas ocupações em áreas com riscos de desabamentos, como com trabalhos de urbanização e tratamento das encostas. Experimentamos programas habitacionais de interesse social, alguns dos quais totalmente subsidiados, outros viabilizados em parceria com a população ou com créditos rotativos; sempre respeitando a identidade comunitária e as singularidades locais, criando e aglutinando fórmulas e esforços, na perspectiva inatingível da universalização do acesso a este direito básico por todos os níveis da população. Neste ponto, estamos certos de trabalhar no mesmo sentido do Governo Federal, cuja grande bandeira é a universalização dos direitos básicos, tendo a habitabilidade e a qualidade de vida como um dos pilares essenciais, respaldos pela geração de renda e inclusão social dos bolsões de pobreza. A realização desse Seminário aqui no Recife, nos dá a oportunidade de intercâmbio com outras experiências para subsidiar a definição de políticas públicas que respaldem a decisão do governo federal de eleger a inclusão social como eixo do desenvolvimento de um país para todos, reforçando as experiências que os nossos municípios da RMR há muito vêm empreendendo. Neste esforço, é importante registrar que não basta ampliar recursos financeiros, temos que trabalhar a partir de uma nova lógica, um novo paradigma. Defendemos que o controle de riscos nos morros urbanos só será equacionado de forma adequada quando tratado de maneira integrada e continuada, com políticas claras de prevenção e intervenções compartilhadas com as comunidades e com respaldo técnico competente que seja apropriado pela população. Não queremos aqui colocar apenas o pleito e o valor da conta, queremos apoio para consolidar e ampliar as conquistas da nossa experiência, construída ao longo dos últimos anos, envolvendo as prefeituras, o Estado, a universidade, organizações da sociedade civil e comunidades. O que esperamos é que esta prática de gestão compartilhada, dos recursos municipais, estaduais, federais, seja transformada em política pública permanente, para que possamos construir em áreas de risco, um programa de melhoria da habitabilidade, com intervenções integradas, desde a prevenção da ocupação, ao tratamento da habitabilidade nos morros de forma sistêmica. Lembramos que, pela nossa experiência, a solução desses problemas parte da valorização e do respeito às fórmulas construídas em escala local. A diversidade de nossa experiência na Região Metropolitana do Recife, aonde cada município vai encontrando seus próprios caminhos se constitui num aprendizado importante com relação à forma de organização institucional, às novas tecnologias, aos sistemas de financiamento que compreendem desde os créditos popularizados e orientados tecnicamente, até incentivos a multiplicação de modelos de parcerias nos processos de construção. Para isso, queremos alterações profundas das relações dos municípios com governo federal, sobretudo aquelas que permitam maior flexibilidade dos usos dos recursos em função das singularidades locais; flexibilidade com controle social. Queremos instituições federais cujos programas sejam capazes de compreender as realidades locais e que interajam com as prefeituras e as demais instâncias envolvidas na solução do problema abolindo de forma radical a excessiva burocracia e os modelos tecnocráticos de enfrentar o problema. É fundamental que os órgãos e instituições tenham capilaridade em todo o país, mas, além disso, é preciso sensibilizá-los para a gravidade das questões sociais, para a necessidade de respeito às soluções e iniciativas locais e, sobretudo é preciso prepará-los para a extrema complexidade do enorme desafio que têm pela frente. Queremos mais recursos sim, mas, sobretudo queremos programas com regras claras e permanentes. Queremos respaldo institucional, financeiro e científico com a necessária flexibilidade para continuar atuando com tecnologias alternativas que além de serem mais baratas permitem uma maior apropriação por parte da comunidade. Nesta cruzada, o primeiro pilar a ser construído diz respeito à relação entre Municípios, Estados e União. A institucionalização de canais sistemáticos de interlocução é indispensável ao fortalecimento das cidades, à aproximação e à apropriação pelo Governo Federal do País real que se expressa nas realidades locais. Outro foco prioritário é a escala de atuação. A dimensão do problema, sobretudo nas áreas mais populosas, exige atuações mais vigorosas respaldadas com dotações específicas no Orçamento Geral da União e dos Estados, superando a dependências e as limitações das emendas parlamentares. É preciso consolidar fundos de habitabilidade com investimentos definidos para a urbanização das áreas habitadas pelas populações mais pobres em função dos contingentes populacionais envolvidos. Não seria fora de propósito seguir o exemplo dos sistemas e fundos de saúde e de educação, garantindo atuação permanente frente à questão, incentivando consórcios municipais que apontem para ações integradas por região. Só a integração das políticas públicas voltadas para a urbanização e geração de renda poderá garantir a eficácia e a efetividade da atuação governamental no enfrentamento do desafio da inclusão. Esse é um esforço que os municípios estão habituados a realizar, premidos pelas exigências das pressões locais, mas que historicamente não tem respaldo nos Estados e, sobretudo nas instâncias federais, por estarem estas mais afastadas das referências concretas da realidade local. Por esta razão esse é um desafio que precisa ser mais cuidado ao nível dos governos estaduais e municipais. Apesar do reconhecimento dos avanços obtidos, é preciso registrar a necessidade de reforçar a formação profissional das equipes municipais como ponto de partida para desenvolvimento institucional dos municípios; ao mesmo tempo é preciso fazer um grande esforço de capacitação permanente da própria população. Este esforço, com respaldos científicos, técnicos e metodológicos, servirá para estimular e difundir soluções apropriadas e, ao mesmo tempo, deverá consolidar a participação da população. Tudo isso se traduziria na maior efetividade das intervenções publicas submetidas a um maior controle social. Finalmente, fica registrada neste depoimento, a intenção dos prefeitos da RMR de ampliar sua colaboração com o Governo do Estado e com o Governo Federal através de uma articulação efetiva. Na nossa intenção, essa articulação poderia se traduzir de maneira concreta pela iniciativa conjunta de constituição de um Grupo de Trabalho especial, por ato do Ministério das Cidades e com a participação dos municípios da RMR e do governo Estadual, com a tarefa de apresentar, no mais curto prazo, uma proposta de ação integrada para equacionar os problemas de risco em encostas habitadas na Região Metropolitana do Recife. Nesta perspectiva, esse Grupo de Trabalho estaria fazendo um esforço piloto de traduzir as conclusões deste Seminário em Programas e Projetos que iriam demonstrar a viabilidade das políticas públicas aqui sugeridas para o enfrentamento das condições de risco em áreas de morros habitadas. Estaríamos partindo do discurso para a prática, consolidando um pólo articulador com as demais regiões do país. Muito Obrigado. Os Prefeitos dos Municípios da Região Metropolitana do Recife.